AS PLANTAS PRAGUICIDAS

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AS PLANTAS PRAGUICIDAS:
ALTERNATIVA PARA O CONTROLE DE PRAGAS DA AGRICULTURA
Maria Lúcia Saito
JAGUARIÚNA,
ABRIL
2004.
Das milhares de espécies vegetais que existem, muitas produzem
substâncias que atuam como atraentes ou repelentes de outros organismos.
São substâncias que têm atividades biológicas e que foram desenvolvidas
pelas plantas ao longo de sua existência, tendo sido útil para garantir a sua
sobrevivência.
As substâncias são conhecidas também como metabólitos
secundários das plantas, e, por terem atividade, após estudos específicos,
vêm sendo utilizadas como medicinais, inseticidas, repelentes,
antimicrobianas, entre outros.
Nas plantas, algumas dessas substâncias atraem insetos e pássaros,
que atuam como polinizadores ou disseminadores das sementes. Outras
substâncias podem repelir ou intoxicar insetos e/ou outros herbívoros,
protegendo as plantas contra seus agressores. São essas substâncias que
cada vez mais vêm sendo alvo de estudos para o desenvolvimento de
praguicidas ecologicamente menos problemáticos.
Já existem algumas plantas cujos princípios ativos foram
exaustivamente estudados e experimentados, e podemos citar como
exemplos clássicos, o piretro, o timbó, o nim, o fumo, citronela, alho,
pimenta, entre outros.
ALGUNS EXEMPLOS CLÁSSICOS
O estudo dos princípios ativos extraídos das flores do piretro
(Chrysanthemum cinerariaefolium), as piretrinas, tem dado origem a muitas
substâncias análogas, mais eficientes como inseticidas, que vêm sendo
sintetizadas e comercializadas há mais de uma década. A molécula original
foi modificada para possibilitar a aplicação no campo, e melhorar seu
desempenho como inseticida. Essas substâncias resultantes dessas
modificações moleculares são conhecidas como piretróides, e recebem
nomes comerciais diversos, como por exemplo bioaletrina, biorresmetrina,
transpermetrina,
deltametrina,
cipermetrina,
ciflutrina,
flumetrina,
fenpropatrin, cialotrina, bifentrina, teflutrina, cialotrina, bifentrina, entre
outros.
O uso do fumo (Nicotiana tabacum) é bastante conhecido, e vem
sendo utilizado como inseticida caseiro, pela ação tóxica da nicotina nos
insetos. A nicotina é extraída principalmente das folhas. Na prática,
costuma-se utilizar o fumo em corda, que é triturado e extraído com
solução hidroalcóolica ou aquosa para borrifar as plantas atacadas por
insetos.
São conhecidas como “timbó”, espécies de plantas que contém
substâncias que os indígenas utilizavam para intoxicar peixes. Com esse
nome popular, são conhecidas algumas espécies do gênero Derris,
Lonchocarpus e Tephrosia. Principalmente da raiz dessas plantas, é extraída
a ‘rotenona’, o princípio ativo ao qual foi atribuído atividade piscicida e
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também inseticida. A síntese dessa substância já é mais elaborada, não
sendo viável comercialmente, e, neste caso, as raízes das plantas foi
bastante comercializada como inseticidas.
Mais recentemente, vem sendo propagada a utilização da planta
conhecida como “nim” (Azadirachta indica, da família das Meliáceas), que é
de origem asiática, e o seu cultivo vem sendo disseminada por outros
continentes. No Brasil já existem plantações dessa árvore em algumas
regiões, como nordeste, centro-oeste e sul do país. Como seu princípio
ativo é uma molécula complexa, de difícil síntese, aplica-se os extratos das
folhas ou frutos, como inseticida. O fruto é a parte mais rica em princípios
ativos, mas sua produção é limitada. Já existem produtos comerciais à base
do nim, para aplicação em controle de insetos.
SUBSTÂNCIAS VOLÁTEIS
Uma classe de substâncias que tem merecido muita atenção, são a
das substâncias que fazem parte do óleo essencial de algumas plantas. Os
óleos essenciais ou óleos voláteis estão presentes nas plantas aromáticas e
podem apresentar atividade atraente, repelente, e até tóxica a insetos e
microorganismos.
Exemplo do uso desses óleos já são observados no nosso dia-a-dia,
como é o caso do óleo da “citronela”, como repelente de insetos. Esse óleo
tem como componente principal, a substância “citronellal”, presente em
algumas espécies de plantas. As mais ricas nessa substância, é o “capim
citronela” (Cymbopogon nardus e C. winterianus) e uma espécie de
eucalipto, o Eucaliptus citriodora, mas pode ser encontrada em menor
concentração, também em outras espécies, de outras famílias de plantas.
Outras substâncias que têm sido empregadas para controle de
insetos e microorganismos e que fazem parte da composição de óleos
essenciais de plantas, são por exemplo, os α- e β-pinenos presentes nos
óleos extraídos da resina de pinheiro (Pinus sp), o nerol extraído do óleo
essencial do capim limão (Cymbopogon citratus), o limoneno do óleo da
casca do fruto de diversas espécies de Citrus (laranja, limão), e algumas
substâncias obtidas de plantas utilizadas como condimento alimentar, como
o eugenol do cravo da índia (Eugenia caryophyllata), o mentol da hortelã
(Mentha piperita), a piperina da pimenta-do-reino (Piper nigrum) e as
substâncias sulfuradas obtidas do extrato do alho (Allium sativum).
Algumas plantas consideradas “invasoras”, como a erva-de-santamaria (Chenopodium ambrosioides), o mentrasto (Ageratum conyzoides)
também produzem substâncias aromáticas que tem apresentado alguma
bioatividade. Ao lado desses exemplos, milhares de plantas vêm sendo
experimentadas para avaliação de atividades pesticidas, pois é grande a
procura por novas moléculas, e, principalmente por aquelas moléculas que
causem menores impactos toxicológicos ou ambientais.
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É importante alertar, no entanto, que por menor que seja a toxicidade
dessas substâncias, testes toxicológicos são sempre necessários, pois se
tratam de substâncias com atividade biológica, e, o uso de doses
inadequadas ou a forma de aplicação podem causar problemas. Além dos
testes toxicológicos para mamíferos, testes de fitotoxicidade também são
necessários, para não comprometer as plantas de cultivo.
Existem substâncias em alguns óleos essenciais que são fitotóxicas,
podendo danificar ou até matar algumas plantas. Essa característica é
utilizada algumas vezes, para desenvolver herbicidas, tendo como modelo,
essas substâncias. Um exemplo de herbicida com o esqueleto químico
semelhante a substância extraída de óleo essencial de plantas, é a
cinmetilina, cuja molécula é semelhante ao do eucaliptol, extraído de folhas
de eucalipto.
Produtos destinados ao controle de pragas à base de óleos essenciais
já estão sendo comercializados, principalmente no exterior, e muitos deles
se tratam de uma mistura de diversos óleos. A pesquisa ainda vem
trabalhando numa melhor formulação para essas substâncias,
principalmente para contornar o problema da volatilidade e da conseqüente
perda da ação em pouco tempo.
A utilidade das plantas, para o controle de pragas, não se limita
apenas na utilização das substâncias delas obtidas ou de seus extratos.
Essas substâncias ativas podem quase sempre ser utilizadas como modelos
para síntese de novos princípios ativos. Os conhecimentos adquiridos com
os mecanismos de defesa das plantas têm auxiliado no desenvolvimento de
métodos de controle de pragas menos agressivos ao ambiente. Muitos
desses princípios ativos têm ação específica para alguns grupos de
organismos, sem afetar outros, e essa característica é importante para
controlar apenas os organismos nocivos.
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