Material Educacional para profissionais de saúde Informação de Segurança sobre reações de hipersensibilidade graves associadas à utilização de ® Abacavir Sandoz (abacavir) Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Este material educacional fornece recomendações para limitar ou prevenir o risco de reações de hipersensibilidade (RHS) ao abacavir durante o uso deste medicamento. Antes de se iniciar o tratamento, deve ser realizada uma pesquisa da presença do alelo HLA-B*5701 em qualquer doente infetado pelo VIH. O alelo HLA-B*5701 é o único marcador farmacogenético identificado que está, consequentemente, associado ao diagnóstico clínico de uma reação de hipersensibilidade (RHS) ao abacavir. Contudo, o alelo HLA-B*5701 nem sempre está presente em doentes com reações suspeitas de hipersensibilidade ao abacavir. O abacavir não deve ser utilizado em doentes que se saiba possuírem o alelo HLA-B*5701. O médico deve assegurar-se de que o doente está bem informado relativamente à reação de hipersensibilidade, salvaguardando a importância de remover o Cartão de Alerta incluído na embalagem e de o conservar sempre consigo. Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Reação de Hipersensibilidade Grave ao abacavir Reação idiossincrática Observada em aproximadamente 5% dos doentes nos vários estudos clínicos Clinicamente bem caracterizada Sintomas indicativos de envolvimento multissistémico. Em quase todas as reações de hipersensibilidade ocorrerá febre e/ou erupções cutâneas como parte da síndrome Resolve-se com a descontinuação do abacavir Diagnóstico é complicado, devido a: Apresentação variável com sintomas não específicos Uso concomitante de outros antirretrovirais, cujos perfis de acontecimentos adversos se sobrepõem Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Tempo decorrido até ao início da reação de hipersensibilidade grave ao abacavir Os sintomas da reação de hipersensibilidade ocorrem geralmente nas primeiras seis semanas de tratamento com abacavir A mediana do tempo decorrido até ao início dos sintomas foi de 11 dias após início do tratamento com abacavir. No entanto, estas reações podem ocorrer em qualquer altura durante a terapêutica Os doentes devem ser cuidadosamente monitorizados, especialmente durante os dois primeiros meses de tratamento com abacavir. Deve ser realizada uma consulta de duas em duas semanas Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Sinais e sintomas importantes associados à reação de hipersensibilidade Os doentes devem contactar imediatamemte o seu médico a fim de determinar se devem ou não descontinuar o abacavir, em caso de: Ocorrência de erupção cutânea, OU Ocorrência de 1 ou mais sintomas de, pelo menos, DOIS dos grupos mencionados abaixo: Grupo 1: febre (~80%) Grupo 2: náuseas, vómitos, diarreia, dor abdominal ( > 50%) Grupo 3: cefaleia, fadiga extrema, dor, mal-estar generalizado (~50%) Grupo 4: Outros sintomas: respiratórios (dispneia, tosse, dor de garganta), da mucosa e muscoloesqueléticos (~30%) Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Dados do Exame Objetivo e dos Testes Laboratoriais Dados do exame objectivo 1) Alterações laboratoriais possíveis Febre Hematológicas: linfopenia e trombocitopenia Erupção cutânea: urticária, maculopapular Elevação das enzimas hepáticas (AST / ALT) Lesões das mucosas (faringite, conjuntivite) Aumento da creatinina sérica e da creatina fosfoquinase Linfadenopatia Raio-X do tórax normal ou infiltrados bilaterais ou lobulares difusos 1. Hetherington et al. Clin Ther. 2001;23:1603-1614. Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Fatores de risco clínico para a reação de hipersensibilidade ao abacavir A variante HLA-B*5701 é mais frequente nos doentes com uma suspeita de reação de hipersensibilidade ao abacavir do que nos outros, independentemente da raça Não relacionados com o número de células CD4+, carga viral ou dosagem Tem sido demonstrado que, consequentemente, não há nenhum risco aumentado com um inibidor de protease ou um NNRTI O risco de uma reação de hipersensibilidade diminui em: Doentes de origem africana Doentes com experiência de tratamento ou doentes de categoria C, segundo a classificação dos CDC Doentes do sexo masculino A frequência e apresentação clínica são semelhantes em crianças e adultos Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 O Alelo HLA-B*5701 e a hipersensibilidade ao abacavir O risco de ocorrência de uma reação de hipersensibilidade é maior nos indivíduos em que o alelo HLA-B*5701 está presente do que nos indivíduos em que aquele marcador farmacogenético não está presente O teste para deteção da variante HLA-B*5701, que se realiza apenas uma vez, identifica os doentes com maior risco de desenvolver uma reação alérgica grave Os testes farmacogenéticos prospetivos realizados por rotina resultaram numa redução acentuada da hipersensibilidade ao abacavir Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Recomendações para o rastreio da variante HLA-B*5701 Num contexto em que estejam disponíveis métodos de rastreio validados, o médico deve efetuar o rastreio da variante HLA-B*5701 em todos os doentes infetados pelo VIH que não tenham sido expostos anteriormente ao abacavir O diagnóstico clínico de suspeitas de reações de hipersensibilidade ao abacavir deve ser a base para a tomada de decisões clínicas Em doentes tratados com abacavir, o rastreio da variante HLA-B*5701 para determinação do risco de hipersensibilidade ao abacavir nunca deverá substituir uma vigilância clínica adequada ou a monitorização do doente Se não puder ser excluída hipersensibilidade ao abacavir, este deverá ser permanentemente descontinuado, independentemente dos resultados do rastreio da variante HLA-B*5701 O rastreio é também recomendado antes da reintrodução de abacavir em doentes cuja condição da variante HLA-B*5701 seja desconhecida e que tenham previamente tolerado abacavir Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Controlo clínico das reações de hipersensibilidade ao abacavir (RHS) Independentemente do status HLA-B*5701 do doente, o tratamento com abacavir TERÁ de ser interrompido imediatamente devido a suspeita ou confirmação de uma reação de hipersensibilidade O atraso na interrupção do tratamento com abacavir após o início da reação de hipersensibilidade pode provocar um agravamento dos sintomas e pode levar imediatamente a uma condição potencialmente fatal A reação de hipersensibilidade ao abacavir deve ser clinicamente controlada de acordo com os sintomas e a sua gravidade O abacavir ou qualquer medicamento que contenha abacavir NUNCA PODERÃO ser reintroduzidos em doentes que tenham interrompido a terapêutica devido a uma RHS Se não se puder diferenciar uma doença aguda de uma RHS, deve-se interromper o tratamento com abacavir Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Controlo clínico das reações de hipersensibilidade ao abacavir (RHS) Reintroduzir abacavir após uma RHS resulta no retorno rápido dos sintomas (em poucas horas). Esta recorrência é geralmente mais grave do que a apresentação inicial e poderá incluir hipotensão potencialmente fatal e morte O tratamento com abacavir deve ser permanentemente descontinuado, mesmo que não se possa excluir hipersensibilidade Deve ser pedido aos doentes que tenham sofrido uma RHS que devolvam o medicamento restante, para evitar que o tomem acidentalmente ou o reintroduzam A reintrodução do fármaco pode causar uma reação mais rápida e mais grave, que poderá ser fatal. A reintrodução do fármaco está contraindicada Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade Três casos são apresentados para exemplificar reações de sensibilidade ao abacavir: Caso nº 1 Características típicas de reação de hipersensibilidade ao abacavir Homem de 33 anos em tratamento com didanosina 400 mg/dia, lamivudina 150 mg, duas vezes por dia, abacavir 300 mg, duas vezes por dia, indinavir 800 mg, duas vezes por dia, ritonavir 100 mg, duas vezes por dia e nevirapina 200 mg, duas vezes por dia (depois de um período de indução de 2 semanas de 200 mg/dia), desenvolveu uma ligeira erupção cutânea nos seus braços após uma semana e meia Isto foi atribuído à nevirapina; no entanto, o fármaco foi continuado e a erupção cutânea desapareceu após alguns dias. Durante as semanas seguintes, o doente queixou-se de uma ligeira náusea. Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade Depois de 7,5 semanas, subitamente desenvolveu os seguintes sintomas: Temperatura (40°C) Diarreia Dor de garganta Dor abdominal Úlceras nos lábios superiores e inferiores O exame físico revelou: Aumento dos gânglios linfáticos no pescoço Duas úlceras nos lábios Cavidade oral e garganta estavam normais O baço estava dilatado e doloroso Ausência de erupção cutânea Os exames complementares de diagnóstico revelaram uma contagem de glóbulos brancos (WBC) de 1,1 x 109 /l com <10% granulócitos Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade Decisão clínica: Existindo a suspeita de uma reação alérgica, o tratamento com abacavir foi interrompido Após 2 dias, a temperatura normalizou, a dor abdominal e os outros sintomas desapareceram, no entanto, desenvolveu um eritema generalizado que também diminuiu em 2 dias, sem tratamento específico A contagem de neutrófilos começou a aumentar 2 dias após a interrupção do abacavir e normalizou após 9 dias Assim, este caso ilustra a importância da vigilância clínica no diagnóstico de uma reação de hipersensibilidade ao abacavir, uma vez que neste caso o doente não apresentou erupção cutânea que ocorre em 3% dos doentes tratados com abacavir e os sintomas apareceram de forma tardia, após 7,5 semanas de tratamento. Normalmente, os sintomas aparecem em 6 semanas após início do tratamento com abacavir. Sankatsing, Sanjay UC, Prins, Jan M. Agranulocytosis and fever seven weeks after starting abacavir. AIDS Dec 2011; 15(18): 2464‐65 Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade Caso nº 2 Nunca reintroduzir abacavir em doentes que tenham interrompido a terapêutica devido a reação de hipersensibilidade Após uma semana de iniciar a terapêutica com abacavir 300 mg duas vezes por dia com nelfinavir, o doente de 46 anos, do sexo masculino, desenvolveu: Febre súbita Náuseas Arrepios Desconforto abdominal Mialgia Falta de ar 24 horas após o início dos sintomas, foi internado no hospital Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade Os exames físicos e os exames laboratoriais estavam normais, com as seguintes observações: Temperatura 40ºC Saturação de oxigénio - 90% Pressão arterial de 100/60 mm Hg TC de tórax – Normal Ausência de erupção cutânea Sangue, urina, saliva - Normais Abacavir foi interrompido no internamento e a sua temperatura desceu 24 horas depois Foi dito ao doente para não reintroduzir abacavir 12 dias após a interrupção de abacavir, o doente reintroduziu o fármaco sem indicação médica Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade O doente foi encontrado inconsciente em casa algumas horas mais tarde No internamento, o doente encontrava-se em choque com: Dificuldade respiratória Pressão venosa central 10 cm Febre 40ºC Confusão Erupção cutânea generalizada Mialgia Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade Todos os exames realizados estavam normais, sem evidência de infeção Foi feito o diagnóstico de choque anafilático e o doente foi tratado com solução salina IV, dobutamina, adrenalina, furosemida e esteroides. A pressão arterial voltou ao normal, a erupção cutânea desapareceu com descamação das extremidades A síndrome do desconforto respiratório agudo e a insuficiência renal mais tarde agravaram, levando à morte 22 dias depois. Leila E, Lioter, Yves J et al. Abacavir rechallenge has to be avoided in case of hypersensitivity reaction. AIDS Jul 1999; 13(11): 1419 Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade Caso nº 3 Reação de hipersensibilidade ao abacavir pode ocorrer em doentes com rastreio da variante HLA-B*5701 negativo Um doente do sexo masculino, de Taiwan, de 31 anos iniciou a terapêutica HAART com um esquema de efavirenz, lopinavir/ritonavir, estavudina e abacavir Após uma semana de tratamento, subitamente desenvolveu: Febre 38ºC Arrepios Exantema maculopapular generalizado Cefaleia Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Estudos de caso de reações de hipersensibilidade As análises ao sangue mostraram uma contagem de glóbulos brancos (WBC) de 0,7 x 109 /l e uma contagem absoluta de neutrófilos (ANC) de 0,2 x 109 /l Todas as investigações para causas de febre foram negativas Suspeitou-se de reação de hipersensibilidade ao abacavir e este foi descontinuado Todos os sintomas desapareceram em 2 dias e o ANC aumentou ao longo dos dias seguintes A genotipagem demonstrou que o doente era HLA-B*5701 negativo Truchis P, Mathez D, Abe E, et al. Abacavir induced agranulocytosis in two Taiwanese patients tested HLA‐B*5701 negative. AIDS 2011; 24(8) Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 Comunicação de suspeitas de reações adversas: No caso de qualquer suspeita de reações adversas associadas à utilização de Abacavir Sandoz, estas devem ser rapidamente comunicadas, através dos seguintes contactos: Sandoz Farmacêutica, Lda Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 10 E, Taguspark, 2740-255 Porto Salvo Telf: +351 21 196 40 00 [email protected] Para saber mais ou para rever as informações mais atualizadas por favor consulte o Resumo das Características do Medicamento (RCM) de Abacavir Sandoz® (abacavir) em: http://www.infarmed.pt/infomed/inicio.php Versão 1 aprovada pelo Infarmed, IP em 23 de agosto de 2016 SDZ/14/06.16 INFARMED, I.P. Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil, 53 1749-004 Lisboa Telefone: 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800 222 444 (gratuita) Fax: 21 798 73 97 E-mail: [email protected]