PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR PARA O CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 1. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO “Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação” Mário Quintana Série 3ª 1.1. Número de aulas semanais 2 Apresentação da Disciplina Educação só é de qualidade quando tem como ponto de partida e ponto de chegada a prática social, sobre a qual deve estar fundada uma relação dinâmica entre esta e a escolha de conteúdos. Por isso, é preciso ter consciência de que nenhum professor pode e deva trabalhar os conteúdos que quer, deve trabalhar aquilo que está definido na proposta da escola, e esta, a escola, deve estar comprometida com aqueles conteúdos que acrescentam algo de significativo na compreensão da realidade e no posicionamento críticocriterioso diante da mesma. Ensinar e aprender aquilo que é significativo para o aluno, não é trabalhar com aquilo que lhe agrada, mas com aquilo que se faz necessário, e por isso é significativo, à prática social e pedagógica. Por isso, o enfoque aos conteúdos deve estar voltado para a compreensão da base histórico-social da existência humana. A função da Filosofia não é prescritiva. Ela não é um consultório de receitas para cura. Ela é uma ferramenta para que descubramos as soluções necessárias. E estas soluções não se dão por acaso, mas a partir da postura filosófica que se adota, e do engajamento que se desenvolve a partir dela. Trabalha com o fundamento (princípios, causas e condições) das realidades, e aqui especificamente da educação, mas trabalha também com a significação e a finalidade. Enquanto a filosofia de modo geral se pergunta pela relação entre o ser o pensamento, na educação ela se perguntará pelo que é a educação e pelo que tem fundamentado o pensamento educacional: o que é o ser da educação? Como esse ser se expressa no pensamento educacional nos mais diferentes momentos históricos? Qual é a realidade da educação? O mundo (as realidades) são sempre idéia e matéria. A forma de responder à relação entre as duas definem matrizes (concepções norteadoras) que vão priorizar ora a idéia, ora a matéria. Estamos então diante do idealismo e do materialismo, duas das matrizes decisivas do pensamento filosófico.A filosofia ensinada nas escolas em os cursos de formação de professores tem seguido mais tendência a seguir uma direção idealista, mesmo que às vezes sob verniz materialista., até por conta de um processo de naturalização que é própria deste tipo de idéia. No materialismo o pensamento é obrigado a dar lugar para o social e o biológico. O materialismo que interessa à nossa proposta é o materialismo científico. Nele se adota uma perspectiva histórico-dialética no modo de produção da existência como elemento fundante da realidade histórica. A aí apresenta-se o trabalho como elemento fundamental no processo de desenvolvimento da história. O materialismo científico se apresenta enquanto dialético e também como histórico. O MATERIALISMO HISTÓRICO parte da produção material como explicativa o ser do homem. O modo de via material condiciona o social, o político, o intelectual. Os fenômenos econômicos explicam a história. É uma teoria da história a partir da definição dos modos de produção. Os conceitos e as idéias do materialismo histórico não devem ser entendidos como uma ideologia, mas como uma ferramenta para entender como surgem, evoluem e entram em decadência os mais variados modos de produção que a história produziu e que produzirá, servindo como instrumental para definir posicionamentos frente ao processo de exploração a que o homem é submetido. É uma Filosofia que tem como princípio básico a dialética fundamentada na matéria e no pensamento que desta nasce como realidades portadoras de uma dinâmica de mudança que se dá a partir dos contrários. Materialismo é explicar os fenômenos a partir de suas contradições e de sua realidade material. O ponto de partida e de chegada em Fundamentos Filosóficos da Educação será o Marxismo ou Materialismo Dialético (Karl Marx (1818-1883). Para Marx, a matéria evolui dialeticamente, isto é, pela superação de sucessivas contradições ou tensões, passando de uma tese para uma antítese e desta para uma síntese. A síntese que reassume em si os elementos positivos da tese e da antítese. Esse processo evolutivo seria uma lei imanente, que presidiria as suas transformações, desde a matéria primitiva, origem de tudo que existe, até uma sociedade justa e democrática, que seria o vértice para o qual caminharia toda a história e que daria sentido a toda evolução. O materialismo dialético é a teoria do conhecimento que produz as ferramentas terminológicas e os conceitos necessários à ciência materialismo histórico. A dialética tem sua origem na explicação do movimento de transformação das coisas. Assim, ela se fundamenta na contradição que gera o constante devir da realidade (luta dos opostos). A consciência é determinada pelo social, e na convicção de que não existe fato em si, mas fato contextualizado. Senso o homem é produtor de si mesmo e de sua realidade: a humanização depende d e seu trabalho que define a construção da sua história. A causa do desenvolvimento dos fenômenos é interna (em suas contradições). O movimento é a essência da realidade. Teoria e prática se interferem e se influenciam mutuamente. A consciência é determinada pelo social. Ciência do movimento no pensamento, na matéria e na história. Não existe fato em si, mas fato contextualizado. O homem é produtor de si mesmo e de sua realidade: a humanização depende do trabalho (construção da sua história). O movimento de contradição se dá nas coisas, na história. A causa do desenvolvimento dos fenômenos é interna (em suas contradições). O movimento é a essência da realidade. Teoria e prática se interferem e se influenciam mutuamente. É uma concepção dinâmica de homem, sociedade e de relação entre as coisas e realidades que possibilitará à educação exercer a sua função social, porque matéria e pensamento são cúmplices.(Marx e Engels). Esta opção é que permitirá superar o pensamento positivista que se instalou nas relações pedagógicas e que transformou a educação em algo estático / congelado; exata, submissa; com incapacidade técnica e política de reação, de oposição ao que é relativo, de manutenção do status quo, de verdades absolutas, da supremacia da prova, de eliminação o contraditório. É a possibilidade real da flexibilidade e da descoberta, de avanços através das contradições, de mudanças, de evolução.... [da projeção do que se sonha. Libertar da alienação. (Ludwig Feuerbach). Ancorados nesta filosofia adotamos a abordagem Histórico-Cultural, fundamentada no pensamento de Lev S. Vygotsky (1986-1934). Vygotsky viu nos métodos e princípios do materialismo dialético a solução dos paradoxos científicos fundamentais com que se defrontassem seus contemporâneos. Um ponto central desse método é que todos os fenômenos sejam estudados como processos em movimento e em mudança. Em termos do objeto da psicologia, a tarefa do cientista seria a de reconstruir a origem e o curso do desenvolvimento do comportamento e da consciência. Não só todo fenômeno tem sua história, como essa história é caracterizada por mudanças qualitativas e quantitativas. Essas opções direcionam para uma Pedagogia Histórico-Crítica. Nesta Pedagogia, a criança é vista como um ser concreto, concebida em função da classe social a que pertence e da análise de sua condição de vida: econômica, social e cultural. O professor é aquele que direciona e conduz o processo ensino-aprendizagem, comprometendo-se com a criança e sua realidade social e interagindo com ela na construção do conhecimento. Os conteúdos culturais e universais, acumulados historicamente e produzidos socialmente, que servem de instrumento para a criança conhecer, criticar e refletir sobre a realidade (apropriação para superação). Na formação do educador se privilegiará questões que impactam na sua formação como: a reflexão científica que deverá trabalhar conhecimentos que levem à compreensão dos processos da natureza e da sociedade, visando superar o senso comum, conceitos dogmáticos, idéias obscurantistas através da conquista de informações mais adequadas da ciência e do método científico. a reflexão ético-política dos valores morais e espirituais (pensamento, entendimento, concepções) como produção social, desmistificando e desmascarando idéias que seguem a lógica da reprodução capitalista e promove o individualismo-consumismo-corrupção-desagregação social; estendendo-se à função da mídia na formação da consciência, difusão e formação de valores idéias e comportamentos; a reflexão ambiental que coloque o humano como parte integrante da natureza enquanto relação que afeta a sociedade humana, a vida humana, num contexto de exploração capitalista e de sobrevivência do humano comprometida; a reflexão ético-cultural que resgate as especificidades históricas da memória e tradição dos diversos grupos sociais através de uma prática pedagógica produtora de novos conhecimentos a partir de culturas distintas e do acesso aos bens culturais de qualidade produzidos pela sociedade humana. 1.2. Objetivos • Desenvolver comportamento responsável como garantia de qualidade da vida coletiva; • Reconhecer que a consciência e o conhecimento são produções histórico-sociais; • Desmistificar idéias transmitidas pela lógica da reprodução capitalista e direcionamento consciente da educação para que não se esvaziem seus sentidos, a função da escola e do professor; • Reconhecer a prática pedagógica como produtora de novos conhecimentos, bem como a identificação dos elementos culturais necessários ao processo de humanização; • Promover a interlocução entre padrões culturais distintos adotando uma prática pedagógica coerente com os elementos culturais necessários ao processo de humanização; • Reconhecer o caráter social da cultura erudita e popular por constituírem-se de elementos singulares e universais; • Resgatar as especificidades históricas da memória e da tradição dos diversos grupos sociais; • revitalizar a discussão e a prática a respeito da função social da escola na forma ético-política verdadeiramente humana. Conteúdos por Semestre 1º SEMESTRE para a construção de uma sociedade Conceito, importância e metodologia da Filosofia. A atitude filosófica (a reflexão crítica). Mito e Filosofia. Clássicos da Filosofia: Os pré-socráticos e os sofistas. Os principais filósofos gregos: Sócrates, Platão e Aristóteles; e suas concepções de educação, sociedade, mundo, homem. Os principais períodos da História da Filosofia. As fontes do conhecimento: O Empírico e o Racionalismo. As bases do pensamento moderno: Descartes (a ciência positiva), Locke (a experiência) e Kant (síntese do empirismo e do racionalismo). As bases do pensamento contemporâneo: Comte e Durkhein (o positivismo), Hegel (o conhecimento universal), Sartre (o existencialismo) e Hussel (a fenomenologia). A concepção dialética da filosofia: Marx e Engels (materialismo histórico e dialético). As relações de trabalho e poder (trabalho e alienação). 2º SEMESTRE A Filosofia da Educação enquanto reflexão. O homem como ser histórico. Educação como redenção, reprodução e transformação da sociedade. As teorias socialistas, crítico-reprodutivistas, progressistas e construtivistas. A abordagem histórico-cultural de Vigotsky. Tendências pedagógicas na prática escolar: pedagogia liberal, tradicional, renovada progressista, renovada não-diretiva e tecnicista. Pedagogia progressista libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. Os novos pensadores da Educação e suas teorias: Morin, Perrenoud, Coll, Nóvoa, Hernández e Toro. Encaminhamento Metodológico Em coerência com os princípios metodológicos propostos, os procedimentos metodológicos deverão estar orientados pelos princípios da dialética: Tudo se relaciona: nada é isolado. Tudo se transforma por contradição – negação – superação. Nada é eterno. A mudança quantitativa provoca uma mudança qualitativa. Unidade e luta dos contrários (dialética da natureza, da história e do conhecimento). É uma teoria engajada. Não pode ser confundida com teoria do reformismo ou ideológica. Os conteúdos deverão ser trabalhados de uma forma crítica e dinâmica, interligando teoria, prática e realidade, mantendo uma coerência aos fundamentos teóricos propostos, onde estes não podem ser vistos isoladamente. Critérios de Avaliação Partimos do pressuposto de que verificar não é avaliar, pois o ato de verificar consiste simplesmente em coletar informações, enquanto a ação avaliativa é mais subjetiva, haja vista que compreende coleta, análise e síntese dos dados, acrescida de atribuição de valor. Importante registrar que, por ser um processo contínuo, deverá conduzir a retomada de caminhos, se necessário. Desta forma, o professor utilizar-se-á do resultado da avaliação não apenas para aferir notas, mas para reformular seu planejamento, adotando estratégias e procedimentos diversificados, visando superar as lacunas diagnosticadas. Evidenciamos que a expressão escrita (provas) é o instrumento mais utilizado no processo avaliativo. Todavia, há que se considerar que apenas um instrumento não é capaz de identificar o conhecimento adquirido pelo aluno, por isso o professor deverá propiciar diversificadas oportunidades para que o aluno expresse seu conhecimento. A avaliação será, portanto, diagnóstica, formativa e somativa, acontecendo em todos os momentos do processo de ensino-aprendizagem, por meio de apresentação de trabalhos e mini-aulas, produção de materiais, exposições e seminários (nos quais será observado os aspectos sócio-afetivos), provas objetivas com questões dissertativas ou em forma de teste, aula do erro, além da auto-avaliação. A recuperação de estudos também permeará o processo, no sentido do resgate de conteúdos que não foram devidamente apropriados. A reavaliação é outra oportunidade que é ofertada no término do período letivo. No processo avaliativo os aspectos qualitativos prevalecerão sobre os quantitativos. Contudo, devido a exigência de nosso sistema educacional, haverá aferição de notas ao final de cada semestre. Referências Bibliográficas ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Temas de filosofia. São Paulo: Moderna, 1992. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1997. BRASIL/MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LBDEN. Brasília: MEC, 1996. BUZZI, Arcângelo. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1989. CHAUÍ, Marilena. Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15. ed. P. 36-37São Paulo: Paz e Terra, 2000. GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática. 1994. GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnicas de redação: o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 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