L.F. Verissimo [email protected] Leia outras colunas em zerohora.com/verissimo E/I As aventuras da família Brasil – Iminência... – Você quer dizer “eminência”. – O quê? – Você disse “iminência”. O certo é “eminência”. – Perdão, senhor. Sou um servo, um réptil asqueroso, um nada. Uma sujeira no seu sapato de cetim. Mas sei o que digo. E eu quis dizer “iminência”. – Mas está errado! Nossa vontade não altera a correção gramatical. O tratamento certo de um rei é “eminência”. – Não duvido da sua eminência, senhor, mas o senhor também é iminente. Uma iminência eminente. Ou uma eminência iminente. – Em que sentido? – No sentido filosófico. – Você tem dois minutos para se explicar, antes que eu o mande para o calabouço, onde vão os bobos insolentes. – Somos todos iminentes, senhor. Vivemos num eterno devir, sempre às vésperas de alguma coisa, nem que seja só o próximo segundo. Na iminência do que virá: o almoço ou a morte. À beira do nosso futuro como de um precipício, no qual despencaremos ou alçaremos voo. A iminência é o nosso estado natural. Pois o que somos nós, todos nós, se não expectativas? – Você, então, se acha igual a mim? – Nesse sentido, sim. Somos coiminentes. – Com uma diferença. Eu estou na iminência de mandar açoitá-lo por insolência, e você está na iminência de apanhar. – O senhor tem esse direito hierárquico. Faz parte da sua eminência. – Admita que você queria dizer “eminência” e disse “iminência”. E recorreu à filosofia para esconder o erro. – Só a iminência do açoite me leva a admitir que errei. Se bem que... – Se bem que? – Perdão. Sou um verme, uma meleca, menos que nada. Um cisco no seu santo olho, senhor. Mas é tão pequena a diferença entre um “e” e um “i”, que o protesto de vossa eminência soa como prepotência, o que não fica bem num rei. Eminência, iminência, que diferença faz uma letra? – Ah, é? Ah, é? Uma letra pode mudar tudo. Um emigrante não é um imigrante. – É um emigrante quando sai de um país e um imigrante quando chega em outro, mas é a mesma pessoa. – Pois então? Muitas vezes a distância entre um “e” e um “i” pode ser um oceano. E garanto que você terá muitos problemas na vida se não souber diferenciar ônus de ânus. – Isso são conjunturas. – Você quer dizer “conjeturas”. – Não, conjunturas. – Não é “conjeturas” no sentido de especulações, suposições, hipóteses? – Não. “Conjunturas” no sentido de situações, momentos históricos. – Você queria dizer “conjeturas” mas se enganou. Admita. – Eu disse exatamente o que queria dizer, senhor. – Você errou! – Não errei, iminência. – Eminência! Eminência! – Está bem, o senhor ganhou... Majestade. + COLUNISTAS DESTA EDIÇÃO [email protected] 04 Fernanda Zaffari BAGÉ NO MUNDO O clássico churrasco gaúcho feito em Bagé estrela uma série de gastronomia do YouTube, a Finding Grilltopia, que faz parte de campanha da Hellmann’s. 2 05 Fernando Eichenberg 23 Cristina Bonorino TRAJES POLÊMICOS No verão em que a França celebra os 70 anos do biquíni, todas as atenções se voltaram para o burkini,vestuário islâmico proibido em várias praias francesas. ZERO HORA SÁBADO E DOMINGO, 20 E 21 DE AGOSTO DE 2016 CANDIDATO, E A ÁGUA? Sem dúvida,uma preocupação dos cidadãos precisa ser a honestidade do candidato.Contudo, a posição dele sobre aquecimento global e ecologia nos afeta diariamente. 23 Ismael Caneppele ELEIÇÃO E MELANCOLIA Quando o novo polui ouvidos para ganhar votos, constata-se a manutenção do mesmo.O que já foi novidade,hoje tenta ganhar no berro. EDITOR Ticiano Osório [email protected] Conheça as newsletters de ZH: zhora.co/ newsletterzh Receba,no seu e-mail,links para os conteúdos do DOC e conheça o cardápio de newsletters de ZH. Durante a Olimpíada do Rio, Paulo Germano está escrevendo diariamente na penúltima página de ZH EDITOR-ASSISTENTE Carlos André Moreira [email protected] CAPA Arte de Gonza Rodríguez sobre foto de Mateus Bruxel DIAGRAMAÇÃO Amanda Khal de Souza, Nádia Toscan e Paola Gandolfo Acesse a versão digital do caderno em zhora.co/ cadernodoc