Depois dos espanhóis, ''Portugal fica sob ocupação Carla Caixinha 0 economista Landeira de Vaz considera, em entrevista à Renascença, que a crise europeia está relacionada com a "ilusão de prosperidade". 0 do Instituto de Ecoprofessor Superior nomia e Gestão, que lançou um livro sobre a crise - "A Insustentável Leveza do Euro" -, argumenta que há países na Europa que estão num "estado de ocupação política", incluindo Portugal. uma ameaça de catástrofe, porque há também mas problemas por resolver, não me parece que haja, da parte das entidades europeias, capacidade de os resolver. É um modelo em que o siste- Renascença - Um artigo recente no admite o fim da "The Economist" Zona Euro. É possível evitar esta si- e privada, pois os bancos estão extremamente endividados, assim É as e os como particulares. empresas um problema de dívida geral: a origem da crise é o excesso de volume de crédito concedido à economia - Estados, particulares e empresas. Renascença - Vivemos no fio na navalha. De quem é a culpa? JLV - Não é propriamente uma questão de culpa. É uma questão modelo, que através do excesso de crédito criou uma ilusão de prosperidade assente em dívida, que alguma vez tinha de aca- Jorge tuação? Jorge Landeiro de Vaz - Penso que sim, mas o sistema financeiro e os mercados tinham de ser profundamente reformados, porque a origem da crise está em ambos. Existem quatro cavaleiros deste apocalipse e, se não forem atacados, podem levar ao colapso. Em primeiro lugar, a concentração bancária, que promove a teoria do "too big to fail", ou seja, não se deixam falir os bancos - nós levámos isso ao cúmulo, não deixando falir o BPN. Depois, os paraísos fiscais: aumentam a dívida pública, porque há fuga fiscal e branqueamento de capitais. Há, ainda, a questão da titularização e, por último, do sistema. a desregulação Então o modelo euroRenascença futuro? tem peu JLV - 0 modelo europeu está a fazer Neste momento, um caminho. paira ma financeiro e os mercados têm um fundamental e, enquanto isso não se alterar, o modelo tem em si os 0 problema gérmenes da destruição. não é apenas de um problema de dívipapel da pública bar. Ao longo do meu livro, alerto para de haver limites para a a necessidade dívida. A própria União Europeia tem um limite para dívida soberana de 60% do PIB, que nunca deveria ter sido superado. O problema do líderes europeus, que aparecem todos ao dias a falar sobre a Europa, é que não estão a pensar nela, mas nos seus nos tratados países. Não há uma estratégia, pode levar à tal desagregação. o que da UE" Renascença - O curo está em crise. Qual a maior ameaça? JLV - Vivemos efectivamente a époleveza do curo. ca da insustentável A moeda única está em causa neste momento, porque os mercados estão contra a especular persistentemente as dívidas soberanas e as dos próprios bancos, pois estes ficaram sem crédito no mercado interbancário logo em 2008. A maior ameaça para o curo são os mercados: nos próximos meses, a Itália vão coloa e a Espanha França, car no mercado uma soma superior à do Fundo de Estabilização Financeira - 425 mil milhões - e os mercados estão à espera disso para subir os juros e realizar milhões. Ao fazerem isso, tordas nam insuportável o financiamento dívidas desses países. Se a Zona Euro acabar a Europa, deixa de contar como tal no concerto das nações. Seria péssimo para a geopolítica e geoeconomia do mundo. Até os Estados Unidos precisam da Europa face à emergência de outras potências. Renascença - A proposta franco-alemã de uma espécie de acordo Shengen para o curo - para acelerar o procesintegração fiscal e orçamental, não vincularia todos os Estados que - pode dar origem a uma Europa a várias velocidades? JLV - A Europa a várias velocidades já existe. A partir do momento em que as agências de rating classificam uns como "lixo" e outros como "triplo A", em termos de acesso aos mercados fiso de nanceiros, já há uma Europa a várias velocidades. Por exemplo, a Portugal e à Grécia está completamente vedada a de se financiarem. possibilidade Renascença - A presença da troika nos países em maior dificuldade é sinónimo de salvação? JLV - Estamos numa fase histórica. Quando Klaus Regling, gestor do Fundo Europeu de Estabilização Financeide ra, propôs que até ao reembolso 75% dos créditos concedidos fique uma troika permanente nos países que estão a receber ajuda, evidentemente que isto é um estado de ocupação política. Portugal já foi ocupado: 60 anos pelos espanhóis, alguns pelos franceses e ingleses. E agora fica sob a ocupação da União Europeia ou do Banco Central Europeu. Mas nem nós, nem a Grécia, nem a Irlanda conseguimos pagar os créditos. A economia não tem meios, mesmo reduzindo os povos à miséria. Renascença - Como vê a relação de Portugal com a União Europeia? JLV - Infelizmente, começou a ser de mão estendida. Nós temos necessidade de cerca de 20 mil milhões de euros todos os anos de fluxos financeiros e não internamente produzir que nos obriga a procurar financiamento externo. Se os mercados se fecham, porque a nossa dívida é considerada "lixo", então só temos duas torneiras abertas: uma é a do Fundo de Estabilidade Financeira da Europa e outro é do Banco Central Europeu conseguimos - um défice para os bancos. Renascença - Era inevitável pedirmos ajuda externa? 0 resgate era inevitável, pois chegámos a uma situação de catástrofe Acho que os govere de insolvência. nantes devem alterar o modelo económico e pedir à troika que nos ajude JLV - neste processo, pois apenas estão a ser as questões financeiras e as económicas não se vêem em cima da mesa. Era importante que existisse um da ecofundo para o desenvolvimento de forma eliminarmos a uma nomia, parte substancial da dependência extemais de metade rior, pois importamos do que comemos e importamos energia. Agora corremos o risco, com este tratadas pacote, de a economia colapsar. Renascença - E possível ao país dar a volta? JLV - Se acontecer o milagre de haver muito petróleo, gás e riquezas naturais, que permitam à economia dar a volta, sim. Ou então negociarmos uma espécie de plano Marshall para apoiar o sector industrial e de produção agrícola. Lembro que a Europa subsidiou, em determinada altura, o fecho de fábricas e o abate de barcos de pesca. Cereais já praticamente não produzimos e chegámos a ser quase auto-suficientes. Temos de alterar o nosso modelo económico radicalmente e eliminar a dependência face ao exterior.