Nova Reportagem no Jornal Impresso Estado de Minas

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VEÍCULOS
MITSUBISHI L200 TRITON
Fabricante orienta concessionários a trocar gratuitamente reservatório de combustível
que solte película anticorrosiva e provoque entupimento do filtro, mas algumas cobram
Tanque cheio de problemas
PEDRO CERQUEIRA
A Mitsubishi admitiu que, no fim
de 2008, orientou a sua rede de concessionárias a substituir o tanque de
combustível das unidades da L200 Triton que estejam soltando a película
anticorrosiva, que ocasiona o entupimento do filtro. Esse é um caso típico
de recall branco, quando uma empresa efetua a troca de um componente
defeituoso de algum produto desde
que o cliente a procure relatando determinada falha, em vez de convocar
todos. Essa falta de transparência deixa os clientes confusos e permite que
algumas concessionárias se aproveitem da situação para tentar faturar.
De acordo com Reinaldo Muratori,
diretor de engenharia da Mitsubishi,
se ficar constatado que o tanque está
apresentando problemas, a troca deve ser realizada gratuitamente. Mas
não é o que está ocorrendo. Como a
Triton do gestor de custos Leonardo
Silva Prado já não estava em garantia,
inicialmente a concessionária Via Jap
queria cobrar pela troca do tanque. Já
para Rafael Monteiro, cuja picape vinha apresentando o sintoma clássico
de perda de potência, a solução oferecida pela Mit Car foi a limpeza do coletor de admissão. Ambos só conseguiram a troca gratuita do tanque depois
de enviar cartas ao Estado de Minas.
Outra forma de as concessionárias
aproveitarem dessa situação é o semnúmero de filtros de combustível que
vêmsendosubstituídos.Ora,seaorientação é substituir o tanque de combustível das unidades que apresentarem
entupimento crônico do filtro, por que
alguns proprietários do modelo chega-
PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS
ram a trocar o componente por até sete vezes? “Temos 140 concessionárias
em todo o país. Por mais que a gente se
esforce em aperfeiçoar, a qualidade do
atendimento depende muito da administração de cada uma delas”, tenta justificar Muratori.
COMBUSTÍVEL Mas, diferente do que
afirmou o funcionário da Oficina da
Via Jap, de que existe um tipo de tanque que apresenta o problema e outro
que é de boa qualidade, a explicação
dada pela Mitsubishi foi outra. “Não
existem tanques diferentes e sim
combustíveis de boa e má qualidade”,
explica o diretor de engenharia da
Mitsubishi, atribuindo a culpa ao
combustível usado em determinadas
regiões do país. “Conheço pessoas que
usam outros modelos, também a diesel, e não passam por esse problema.
Eles deviam usar um filtro e um tanque compatíveis com a qualidade do
nosso combustível”, argumenta o
dentista Paulo Cardoso, que já precisou recorrer à concessionária sete vezes devido à obstrução do filtro.
O advogado Edilson Francisco da
Silva também se cansou de ouvir que
o combustível que usava era o responsável pelos problemas que ocorreram logo aos mil quilômetros rodados. Na terceira vez que o veículo começou a falhar, Edilson solicitou à
concessionária uma declaração, por
escrito, dizendo que o problema estava relacionado à qualidade do diesel,
pois ele iria acionar o posto em que
abastecia. “Cientes das implicações judiciais que isso ia causar, lógico que
não emitiram nenhum documento”,
conta. Apesar disso, o advogado tem
Via Jap quis cobrar de Leonardo Prado pelo tanque da picape já fora de garantia
em mãos um documento em que a
Tokyo (concessionária de Brasília) relata: “Desplacamento do revestimento interno do tanque de combustível
causando entupimento do tanque de
combustível”, que seria a causa da
perda de potência da picape.
Segundo o fabricante japonês,
frente às mais de 25 mil L200 Triton
produzidas, são poucas as unidades
que apresentam o problema. Apesar
de afirmar isso, a Mitsubishi não sabe
informar quantos tanques foram
substituídos até agora. Isso sem contar os vários casos em que as concessionárias se negam a trocar o tanque.
Difícil também é convencer Edilson
Francisco da Silva disso. Ele organizou
um grupo com 22 proprietários do
modelo que sofrem com o mesmo
problema. “Trocamos narrações, documentos e discutimos as melhores
medidas a serem tomadas. No momento, estamos preparando uma peça judicial para cobrar nossos direitos”, conta o advogado.
MAIS CASOS Novos casos de proprietários do modelo que apresentam esse
problema crônico brotam a cada dia. O
farmacêutico Djalma Godinho, de Mutum, região do Rio Doce, conta que a
cada 2 mil quilômetros rodados precisa visitar uma concessionária para trocar o filtro. Luiz Osvaldo Cifuentes
Gonçalves, de Campos dos Goitacazes
(RJ), também precisou trocar o filtro
aos 7 mil quilômetros. “Ouvi falar na
concessionária Sendai, em Vitória (ES),
disse, que em alguns casos estão reduzindo em 2cm o pescador do tanque de
combustível”, conta o engenheiro.
Na terceira vez que a picape do auditor Dalton Palhares chegou à Via Jap
com os sintomas clássicos de obstrução, o filtro foi substituído por um da
L200 Outdoor. Ao contatar a Mitsubishi para saber se isso traria alguma
implicação, foi chamado para trocar o
tanque. Paulo Cardoso conta que sua
Triton também usou o filtro da Outdoor, instalado na concessionária
Tokyo. Mas, de acordo com Reinaldo
Muratori, as duas picapes têm tecnologias diferentes e a Triton exige uma
qualidade de filtragem melhor. O uso
do filtro da Outdoor na Triton pode
ocasionar algum problema.
E AGORA? Apesar de a Mitsubishi admitir o problema, seus clientes estão
absolutamente desamparados. Além
do risco de rodar num veículo que pode perder potência justamente na hora que o motorista precisa, como numa ultrapassagem, e tirando também
o aborrecimento de ficar a pé enquanto o veículo adquiriu cadeira cativa na
concessionária, ficam muitas dúvidas:
mesmo com a troca do tanque, se o
motorista continuar usando o suposto combustível ruim o problema vai
persistir? Não existe uma padronização nos procedimentos adotados nesse caso, que vão desde a simples troca
do filtro, passam pela troca do tanque
e podem ir até a troca de todo o sistema de injeção? E como ficam os veículos que já não estão em garantia?
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