Controle integrado da ferrugem da folha da aveia - PPGAgro

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
CONTROLE INTEGRADO DA FERRUGEM DA
FOLHA EM AVEIA
LAUDIR JORGE BALLICO
Dissertação apresentada à Faculdade
de Agronomia e Medicina Veterinária
da UPF, para obtenção do título de
Mestre em Agronomia – Área de
Concentração em Fitopatologia
Passo Fundo, março de 2002
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
CONTROLE INTEGRADO DA FERRUGEM DA
FOLHA EM AVEIA
LAUDIR JORGE BALLICO
Orientador: Prof. Ph.D. Carlos Alberto Forcelini
Co-Orientador: Prof. Dr. Elmar Luiz Floss
Dissertação apresentada à Faculdade
de Agronomia e Medicina Veterinária
da UPF, para obtenção do título de
Mestre em Agronomia – Área de
Concentração Fitopatologia
Passo Fundo, março de 2002
ii
iii
iv
Agradecimentos
- A Deus
“Grande foram as lutas, maiores as vitórias.
Sempre esteve comigo. Muitas vezes pensei que este
momento nunca chegaria.
Queria recuar ou parar, no entanto, Tu sempre estavas
presente, na alegria ou tristeza, fazendo da derrota uma
vitória, da fraqueza uma força, com Tua ajuda venci.
A emoção é forte não cheguei ao fim, mas o início de
uma longa caminhada. Por isso digo: obrigado porque o
Senhor me ajudou.”;
-
À coordenação do curso de pós-graduação da FAMV/UPF por ter
me concedido esta oportunidade;
-
Aos professores (as)
Minha homenagem e gratidão pela amizade, carinho e
respeito, ou pelo simples convívio desses anos trocando
experiências em comum.
Em especial ao professor Carlos A. Forcelini, pela
orientação, amizade e companheirismo no decorrer desse
período;
-
À Capes, pela bolsa concedida;
-
À minha esposa Maria de L. Nunes, pelo carinho e atenção nos
bons e maus momentos;
-
Ao amigo e colega Gustavo R. Funck, pela convivência que
tivemos;
-
À minha família, pelo incentivo e apoio;
-
Aqueles que, de uma maneira ou outra, contribuíram para a
realização desta conquista.
A todos, o meu muito obrigado.
v
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS .................................................................... VI
RESUMO...........................................................................................9
ABSTRACT.....................................................................................11
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO ...........................................................................13
2. REVISÃO DA LITERATURA.....................................................17
2.1. Caracterização da cultura da aveia .............................................17
2.2. Importância econômica da cultura da aveia................................17
2.3. Moléstias da cultura da aveia .....................................................18
2.4. Ferrugem da folha .....................................................................19
2.5. Métodos de controle para a ferrugem da folha............................21
2.5.1. Controle integrado ..................................................................21
2.5.2. Utilização de fungicidas em parte aérea ..................................22
2.5.3. Resistência completa (qualitativa)...........................................23
2.5.4. Resistência parcial (quantitativa) ............................................24
2.5.5. Misturas de cultivares .............................................................26
2.5.6. Tratamento químico de sementes ............................................28
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................30
CAPÍTULO II
CONTROLE INTEGRADO DA FERRUGEM DA FOLHA DA
AVEIA.............................................................................................37
CAPÍTULO III
TRATAMENTO DE SEMENTES E DE PARTE AÉREA COM
FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM DA
FOLHA DA AVEIA ........................................................................59
CAPÍTULO IV
MISTURA DE CULTIVARES DE AVEIA PARA O
CONTROLE DA FERRUGEM DA FOLHA ...................................78
CAPÍTULO V
CARACTERIZAÇÃO DE GENÓTIPOS DE AVEIA QUANTO
A COMPONENTES DE RESISTÊNCIA PARCIAL À
FERRUGEM DA FOLHA ...............................................................97
CAPÍTULO VI
CONCLUSÕES .............................................................................117
vi
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO II
1. Área abaixo da curva de progresso da ferrugem em cultivares
de aveia em função do tratamento químico das sementes e da
parte aérea. FAMV/UPF, 2000.....................................................46
2. Área abaixo da curva de progresso da ferrugem da folha em
cultivares de aveia em função da dose e época de aplicação de
fungicida em parte aérea. FAMV/UPF, 2000 ...............................47
3. Rendimento de grãos em cultivares de aveia em função do
tratamento químico das sementes e da parte aérea.
FAMV/UPF, 2000 .......................................................................48
4. Rendimento de grãos em cultivares de aveia em função da dose
e época de aplicação de fungicida em parte aérea. FAMV/UPF,
2000 ............................................................................................49
5. Área abaixo da curva de progresso da ferrugem em cultivares
de aveia em função do tratamento químico das sementes e da
parte aérea. FAMV/UPF, 2001.....................................................50
6. Área abaixo da curva de progresso da ferrugem da folha em
cultivares de aveia em função da dose e época de aplicação de
fungicida em parte aérea. FAMV/UPF, 2001 ...............................51
CAPÍTULO III
1. Severidade inicial e final da ferrugem da folha da aveia em
função do tratamento de sementes e de parte aérea com
fungicidas. FAMV/UPF, 2000 .....................................................67
2. Taxa de progresso diário (rL) área abaixo da curva de progresso
da ferrugem (AACPF), rendimento de grãos, peso do hectolitro
(PH) e peso de mil grãos (PMG) de aveia em função do
tratamento de sementes com o fungicida fluquinconazole.
FAMV/UPF, 2000 .......................................................................68
3. Taxa de progresso diário (rL), área abaixo da curva de
progresso da ferrugem (AACPF), rendimento de grãos, peso do
hectolitro (PH) e peso de mil grãos (PMG) de aveia em função
vii
do tratamento de sementes (fluquinconazole) e de parte aérea
(propiconazole + ciproconazole), com diferentes doses de
fungicida. FAMV/UPF, 2000.......................................................69
4. Severidade inicial (yi) e final (yf), taxa de progresso (rL) e área
abaixo da curva de progresso da ferrugem (AACPF) da folha
da aveia em função do tratamento de sementes com fungicida.
FAMV/UPF, 2001 .......................................................................70
CAPÍTULO IV
1. Severidade inicial (yi) e final (yf), taxa diária de progresso (rL) e
área abaixo da curva de progresso da ferrugem da folha
(AACPF) em cultivos puros ou mistos de aveia. FAMV/UPF,
2000 ............................................................................................86
2. Rendimento, peso do hectolitro (PH) e peso de mil grãos
(PMG) a partir de cultivos puros ou mistos de aveia.
FAMV/UPF, 2000 .......................................................................87
3. Severidade inicial e final, taxa diária de progresso e área abaixo
da curva de progresso da ferrugem da folha (AACPF) em
cultivos puros ou mistos de aveia. FAMV/UPF, 2001 .................88
CAPÍTULO V
1. Número de pústulas (NP), área média de pústula (AP), número
de esporos por pústula (NEP), severidade inicial (yi) e final
(yf), taxa de progresso (rL) e área abaixo da curva de progresso
da ferrugem da folha (AACPF) em genótipos de aveia, sob
infecção natural a campo. FAMV/UPF, 2000.............................108
2. Número de pústulas (NP), área média de pústula (AP), número
de esporos por pústula (NEP), severidade inicial (yi) e final
(yf), taxa (rL) e área abaixo da curva de progresso da ferrugem
da folha (AACPF) em genótipos de aveia sob infecção natural
a campo. FAMV/UPF, 2001 ......................................................109
3. Análise de correlação entre componentes de resistência à
ferrugem da folha e variáveis epidêmicas da ferrugem da folha,
em genótipos de aveia cultivados a campo. FAMV/UPF, 2000
e 2001........................................................................................110
viii
4. Duração do período latente (PL), área média de pústula (AP),
número de esporos por pústula (NEP) e número de pústulas
(NP) da ferrugem da folha em genótipos de aveia sob
inoculação em câmara de crescimento. FAMV/UPF, 2001.........111
1
CONTROLE INTEGRADO DA FERRUGEM DA FOLHA DA
2
AVEIA. Passo Fundo, 2002. 115p.
3
Agronomia / Fitopatologia) – Faculdade de Agronomia e Medicina
4
Veterinária, Universidade de Passo Fundo.
Dissertação (Mestrado em
5
6
Autor: LAUDIR JORGE BALLICO
7
Orientador: CARLOS ALBERTO FORCELINI
8
Co-Orientador: ELMAR LUIZ FLOSS
9
RESUMO
10
11
Visando otimizar o controle da ferrugem da folha causada pelo
12
fungo Puccinia coronata Corda f. sp. avenae Eriks, estratégias para o
13
manejo da moléstia foram avaliadas em experimentos conduzidos na
14
FAMV/UPF em
15
suscetibilidade à ferrugem foram combinados com o tratamento de
16
sementes com fungicidas sistêmicos e esquemas de aplicação de
17
fungicida em parte aérea (doses, número e épocas de aplicação).
18
Avaliou-se também o controle da moléstia através de misturas de
19
cultivares e procedeu-se à caracterização de genótipos de aveia em
20
relação a componentes de resistência quantitativa. O cultivar UPF 18
21
sempre apresentou os menores valores de área abaixo da curva de
2000
e
2001.
Cultivares
com
diferente
10
1
progresso da ferrugem (AACPF) e o maior rendimento de grãos.
2
Neste cultivar, a AACPF não diferiu em função da dose do fungicida
3
(75, 150 ou 300 mL/ha) usada no primeiro tratamento. Aplicações
4
iniciadas quando do aparecimento das primeiras pústulas resultaram
5
em AACPFs menores em relação ao limiar de dano econômico (LDE
6
= 15% de incidência foliar). O tratamento de sementes reduziu a
7
intensidade inicial da ferrugem e seu progresso diário; AACPF e
8
aumentou
9
complementado com aplicações foliares de fungicida. As misturas de
10
cultivares mostraram-se vantajosas apenas em relação ao cultivo puro
11
de genótipos muito suscetíveis, como UPF 16 e UFRGS 14.
12
genótipos de aveia avaliados indicaram a existência de variabilidade
13
genética para resistência quantitativa, embora apenas o número de
14
pústulas tenha se correlacionado significativamente com a AACPF.
15
Alguns genótipos (UPF 14, UPF 92122, UPF 92156 e UPF 94235)
16
apresentaram menor intensidade de ferrugem em ambos os anos, o que
17
pode indicar a presença de resistência quantitativa à ferrugem da
18
folha. A combinação de cultivares menos suscetíveis com o
19
tratamento de sementes otimiza o controle da ferrugem da folha em
20
parte
o
aérea
rendimento
e
pode
de
reduzir
grãos,
a
principalmente
necessidade
de
quando
Os
fungicidas.
1
INTEGRATED CONTROL OF OAT CROW RUST OF THE LEAF
2
OF THE OAT. Step Fund, 2002. 115p. Dissertation (Master's Degree
3
in Agronomy / Fitopatologia) - Faculdade de Agronomia e Medicina
4
Veterinária, Universidade de Passo Fundo.
5
6
Author: LAUDIR JORGE BALLICO
7
Adviser: CARLOS ALBERTO FORCELINI
8
Co-adviser: ELMAR LUIZ FLOSS
9
10
ABSTRACT
11
Aiming to improve the control of crown rust of oats, caused by
12
the fungus Puccinia coronata Corda f. sp. avenae Eriks, disease
13
control strategies were evaluated in several experiments carried out at
14
the FAMV/UPF, in 2000 and 2001. Oat cultivars varying in
15
susceptibility to crown rust were assessed for disease control and grain
16
yield under different programs of seed treatment and foliar sprays of
17
fungicides (rates and timing of application). Additional experiments
18
were performed to evaluate the control of rust through cultivar
19
mixtures and to characterize oat genotypes regarding components for
20
quantitative resistance. The cultivar UPF 18 had the lowest values for
21
the area under the disease progress curve (AACPF) and the highest
12
1
grain yields. In this cultivar, the AACPF did not differ among rates of
2
fungicide (75, 150, or 300 mL/ha) used at the first spray. The
3
AACPFs for spray applications initiated at the first pustule stage were
4
lower than those begun at the economic damage threshold (foliar
5
incidence = 15%). The seed treatment reduced the initial disease
6
severity, the epidemic rate, the AACPF, and increased grain yield,
7
especially when the seed treatment was followed by foliar applications
8
of fungicides. The cultivar mixtures were advantageous only over
9
single crops of very susceptible cultivars (UPF 16 and UFRGS 14).
10
Some oat genotypes showed genetic variability for resistance
11
components, although only the number of pustules per area correlated
12
significantly with AACPF. The genotypes UPF 14, UPF 92122, UPF
13
92156, and UPF 94235 had low disease severity in both years, which
14
may indicate the presence of quantitative resistance to crown rust. In
15
conclusion, the combination of less susceptible cultivars with seed
16
treatment improves the chemical control of crown rust and may reduce
17
the need for fungicides.
1
2
3
4
5
CAPÍTULO I
6
7
8
1. INTRODUÇÃO
9
A aveia branca (Avena sativa L.) é um dos cereais de
10
inverno mais cultivados no sul do Brasil. A produção brasileira de
11
grãos de aveia aumentou de 38.962 toneladas (1976) (Floss et al.,
12
1997) para 330.748 toneladas em 2001 (IBGE, 2002), representando
13
um crescimento de 849%. Os maiores produtores são os estados do
14
Rio Grande do Sul e Paraná. Além do aumento em área cultivada e
15
rendimento de grãos, a aveia teve uma evolução significativa quanto à
16
qualidade de seus grãos (Floss et al., 1999).
17
A ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia coronata
18
f.sp. avenae, é a moléstia mais prejudicial à cultura da aveia no sul do
19
Brasil. Em condições climáticas favoráveis à ocorrência da ferrugem,
20
cultivares suscetíveis podem ter sua produtividade reduzida de 50%
21
(Martinelli et al., 1994) a 95 % (Forcelini et al., 1999).
14
1
A medida mais eficaz para o controle da ferrugem da folha
2
em cultivares suscetíveis é o uso de fungicidas, em uma ou mais
3
aplicações na parte aérea por ciclo (Forcelini & Reis, 1997). Essa
4
prática tem permitido obter grãos de qualidade, alcançar rendimentos
5
superiores a 3000 Kg. ha-1 e manter a estabilidade da cultura
6
(Forcelini et al., 1999; Michel et al., 1998; Picinini & Fernandes,
7
1994).
8
Apesar do seu custo, aproximadamente US$ 30,00/ha por
9
aplicação (Picinini & Fernandes, 1994), o uso de fungicidas em aveia
10
é técnica e economicamente viável. Contudo, a adoção de outras
11
medidas de controle pode reduzir a necessidade do controle químico,
12
principalmente em sistemas de produção de baixo custo ou, mais
13
recentemente, em cultivos orgânicos.
14
Uma dessas medidas de controle é a utilização da
15
resistência parcial à ferrugem da folha, também conhecida como
16
quantitativa. A resistência parcial pode ser complementada com o uso
17
de fungicidas em quantidades (dose ou número de aplicações)
18
reduzidas, como originalmente preconizado por Fry (1975 e 1978)
19
para o controle da requeima em batata. Em aveia branca, em razão da
20
existência de genótipos com reação diferencial à ferrugem (Chaves &
21
Martinelli, 1997; Chaves et al., 1999; Thomé et al., 1999; Barbosa et
15
1
al., 2000), a combinação entre resistência parcial e controle químico
2
pode representar boas perspectivas para um controle mais racional da
3
moléstia.
4
O uso de misturas de cultivares pode ser outra estratégia
5
para o manejo da ferrugem da folha a partir de genótipos suscetíveis.
6
As misturas promovem diluição da quantidade de hospedeiro
7
suscetível a uma determinada raça do patógeno e formam barreira à
8
disseminação do inóculo entre hospedeiros geneticamente distintos
9
(Van Der Plank, 1968). No Brasil, os trabalhos com aveia nesta linha
10
de pesquisa foram iniciados por Eichler et al. (1989 e 1991) e
11
continuados por Michel et al. (1997) e Martinelli & Buss (1999).
12
Contudo, nenhuma mistura de cultivares é ainda recomendada ou
13
utilizada a campo.
14
A utilização do tratamento de sementes com fungicidas
15
sistêmicos, de longo efeito residual, pode auxiliar no controle da
16
ferrugem. Apesar de resultados pouco satisfatórios obtidos em aveia
17
por Martinelli (1996), Michel et al. (1998), Martinelli & Roesch
18
(1999) e Forcelini et al. (1999), a utilização do novo fungicida
19
fluquinconazole, recentemente avaliado em trigo por Picinini &
20
Fernandes (1999 e 2001), pode viabilizar essa estratégia de controle,
21
cujos
objetivos
são
atrasar
a
epidemia
e
reduzir
o
seu
16
1
desenvolvimento, podendo diminuir a necessidade de fungicidas em
2
parte aérea.
3
Neste trabalho, teve-se como objetivo principal otimizar o
4
controle da ferrugem da folha da aveia através da integração das
5
estratégias de manejo disponíveis. Especificamente, visou-se: i)
6
avaliar genótipos de aveia com relação à disponibilidade de
7
componentes de resistência parcial à ferrugem da folha, ii) estudar
8
esquemas de tratamento envolvendo fungicidas (doses, números,
9
épocas e critérios de aplicação) e cultivares com diferentes reações à
10
moléstia, iii) avaliar misturas de cultivares suscetíveis como estratégia
11
para o manejo da ferrugem e iv) estudar a integração do tratamento
12
químico de sementes com o de parte aérea.
17
1
2. REVISÃO DA LITERATURA
2
3
2.1. Caracterização da cultura da aveia
4
A aveia é um cereal de clima temperado, originário da Ásia
5
e Mediterrâneo, hoje largamente distribuído nas mais diferentes
6
regiões do mundo em razão de sua grande variabilidade genética
7
(Coffman, 1977). No Brasil, as principais espécies cultivadas são a
8
aveia branca (Avena sativa L.) e a aveia preta (A. strigosa Schreb)
9
(Goellner & Floss, 2001). A aveia branca é hexaplóide e destina-se
10
basicamente à produção de grãos de alta qualidade industrial,
11
caracterizada pelo maior tamanho da cariopse, alto peso do hectolitro
12
e alta percentagem de grãos descascados em relação ao grão inteiro
13
(rendimento industrial) (Goellner & Floss, 2001).
14
15
2.2. Importância econômica da cultura da aveia
16
Em nível mundial, a aveia é cultivada em todos os
17
continentes e em um grande número de países. A ex-União Soviética é
18
o país com a maior área cultivada com aveia (9.471.000 hectares),
19
apresentando uma produção de 10.916.000 toneladas (Agricultural
20
Statistics, 1997).
21
A aveia é cultivada no Brasil, segundo a literatura, desde
18
1
1600. Apesar de ser o nono país em produção, ainda está longe de ser
2
um grande produtor (Matzenbacher & Michel, 1999). A produção
3
brasileira de grãos de aveia aumentou de 38.962 toneladas (1976)
4
(Floss et al., 1997) para 330.748 toneladas em 2001 (IBGE, 2002),
5
representando um crescimento de 849%. Os maiores produtores são os
6
estados do Rio Grande do Sul e Paraná. Juntos, em 2001, estes
7
representaram uma área cultivada de 234.114 ha, com uma produção
8
de 318.663 toneladas, correspondendo a 96,3% da produção brasileira
9
(IBGE, 2002).
10
A demanda de aveia no Brasil também tem aumentado nos
11
últimos anos, passando de 48.946 toneladas (1970) para 169.074
12
toneladas em 1997, representando um crescimento de 435% no
13
período. No entanto, a importação de aveia, que representava 47% em
14
1970, passou para apenas 0,07% em 1997 (Goellner & Floss, 2001).
15
16
2.3. Moléstias da cultura da aveia
17
As moléstias da cultura que merecem maior atenção são a
18
ferrugem da folha (Puccinia coronata Cda f. sp. avenae) (Fraser &
19
Led), a ferrugem do colmo (P. graminis Pers. F. sp. avenae) (Eriks. &
20
Henn), a mancha do halo (Pseudomonas syringae pv. coronafaciens)
21
(Elliot), o nanismo-amarelo (Barley yellow dwarf virus), o carvão
19
1
(Ustilago avenae) (Pers.) e a helmintosporiose (Pyrenophora avenae)
2
(Ito & Kunib.) forma perfeita de (Drechslera avenae) (Eidam) Sharif.
3
Outras moléstias, como a septoriose (Septoria avenae A. B. Frank), a
4
antracnose da aveia (Colletrotrichum graminicola Ces.), o oídio
5
(Erisiphe gramines DC. f. sp avenae Em Marchal) e a podridão
6
comum de raízes (Geamanomices graminis Sacc), também têm
7
ocorrido no Brasil, porém com pouca freqüência (Forcelini e Reis,
8
1997). A ferrugem da folha é a moléstia que ocorre com maior
9
intensidade, causando maiores prejuízos e sendo fator limitante ao
10
desenvolvimento da cultura.
11
12
2.4. Ferrugem da folha
13
A ferrugem da folha é causada pelo fungo Puccinia
14
coronata f.sp. avenae. Em condições climáticas favoráveis à
15
ocorrência da moléstia, cultivares suscetíveis podem ter sua
16
produtividade reduzida de 50% (Martinelli et al., 1994) a 95 %
17
(Forcelini et al., 1999). Em regiões com períodos de molhamento
18
foliar
19
completa seu ciclo em 7 a 10 dias, sendo, portanto, uma moléstia
20
policíclica (Matzenbacher & Michel, 1999).
21
6 horas e temperaturas médias entre 16 a 18 ºC, a moléstia
Os sintomas da ferrugem nas plantas de aveia são
20
1
facilmente observados através de pústulas amarelo-alaranjadas,
2
distribuídas principalmente na lâmina das folhas, podendo ocorrer
3
também nas bainhas foliares, no colmo e nas espiguetas, quando a
4
infecção for muito severa. A infecção tem início na fase de
5
perfilhamento, podendo prolongar-se até a maturação (Matzenbacher
6
& Michel, 1999).
7
O patógeno pertence à família Pucciniaceae, ordem
8
Uredinales e classe Basidiomycotina. As pústulas jovens produzem
9
uredósporos unicelulares de forma esférica ou ovalada, de coloração
10
amarelo-laranjada e diâmetro de 20-32 µm. Os uredósporos são
11
facilmente disseminados pelas plantas, germinam em temperaturas de
12
2 a 33 ºC, com ótimo entre 18 a 22 ºC, e umidade relativa de 100%
13
(Forcelini & Reis, 1997).
14
Em regiões de clima quente, o fungo persiste, de uma
15
estação para outra, através da contínua produção de uredósporos, os
16
quais são disseminados pelo vento a até 2.000 km de distância.
17
Infecções iniciadas a partir de eciósporos produzidos sobre o
18
hospedeiro intermediário (Rhamnus cathartica) não ocorrem no Brasil
19
em virtude da ausência desta espécie nas diferentes regiões (Forcelini
20
& Reis, 1997).
21
21
1
2
2.5. Métodos de controle para a ferrugem da folha
3
O sucesso no controle da maioria das moléstias de plantas
4
requer o conhecimento detalhado da etiologia, do ciclo de vida de
5
cada organismo envolvido, do seu comportamento na planta e da
6
epidemiologia destes na interação entre os patógenos, o ambiente e o
7
hospedeiro. A manutenção da incidência e da severidade das moléstias
8
abaixo de um nível que não resulte em perda econômica é um grande
9
desafio para o controle das moléstias de plantas. De uma maneira
10
geral, dada a complexidade dos fatores envolvidos, há a necessidade
11
de se usar mais de um método para alcançar o controle eficiente. Daí
12
ser necessária a combinação de vários métodos, quer sejam físicos,
13
mecânicos, culturais, genéticos, legislativos, químicos e biológicos,
14
para se otimizar o controle e, conseqüentemente, alcançar o máximo
15
em produtividade e qualidade, sem reflexos negativos para o meio
16
ambiente (Zambolim et al., 1997).
17
18
2.5.1. Controle integrado
19
Nas décadas de 50 e 60, surgiu um conceito mais amplo de
20
controle de agentes nocivos (Bergamin Filho & Amorim, 1996), ao
21
qual se denominou “controle integrado”, definido originalmente como
22
1
“o controle aplicado de pragas que combina e integra os controles
2
químico e biológico” (Stern et al., 1959). Este conceito se tornou mais
3
abrangente com o passar do tempo, até chegar à definição adotada
4
pela FAO: “Controle integrado é definido como um sistema de manejo
5
de organismos nocivos que utiliza todas as técnicas e métodos
6
apropriados da maneira mais compatível possível para manter as
7
populações
8
econômica” (FAO, 1968).
em níveis abaixo daqueles que causam injúrias
9
10
2.5.2. Utilização de fungicidas em parte aérea
11
Atualmente, existem poucas opções de controle da ferrugem
12
da folha da aveia. A maioria dos cultivares, em maior ou menor grau,
13
é suscetível à moléstia (Comissão ..., 2000). Desse modo, o controle
14
da ferrugem vem se resumindo ao uso de fungicidas, em uma ou duas
15
aplicações na parte aérea por ciclo (Forcelini & Reis, 1997). O
16
conceito é recomendado quando a incidência foliar (percentagem de
17
folhas com sintomas da moléstia) alcançar 15 a 20% a partir do
18
afilhamento (Comissão ..., 2000). No entanto, para Forcelini et al.
19
(1999 e 2000), o uso de fungicida nos estágios iniciais da epidemia
20
(primeiras pústulas) é tecnicamente útil, além de economicamente
21
viável, visto que proporciona redução do inóculo inicial e atraso no
23
1
começo da epidemia (Forcelini & Berger, 1998).
2
O controle químico da ferrugem em parte aérea tem
3
permitido melhorar a qualidade dos grãos, alcançar rendimentos
4
superiores a 3000 kg. ha-1 e manter a estabilidade da cultura (Picinini
5
& Fernandes, 1994; Michel et al., 1998 e Forcelini et al., 1999).
6
Contudo, cada aplicação de um fungicida sistêmico eficaz para o
7
controle da moléstia pode onerar os custos de produção em até US$
8
30,00/ha (Picinini & Fernandes, 1994). Portanto, outras estratégias de
9
controle que permitam reduzir a necessidade de fungicidas terão
10
grande impacto na redução dos custos de produção e na viabilização
11
da cultura.
12
13
2.5.3. Resistência completa (qualitativa)
14
Cultivares resistentes constituem o método de controle mais
15
racional, pois não implicam aumento de custos, nem danos ao meio
16
ambiente. Além disso, a resistência genética dos cultivares
17
proporciona boa proteção à cultura, assegurando a expressão do
18
potencial de rendimento (Cruz et al., 2001). Contudo, este tipo de
19
resistência tem permanecido eficiente por pouco tempo antes que o
20
patógeno a supere (Federizzi & Stuthman, 1998 e Ohm & Sharner,
21
1992). A suscetibilidade dos genótipos de aveia decorre da grande
24
1
variabilidade de patógenos no sul da América do Sul, a qual se
2
manifesta através de várias raças, que sobrepõem os genes maiores de
3
resistência a partir do uso comercial dos cultivares (Federizzi &
4
Stuthman, 1998 e Martinelli et al., 1998). Dessa forma, a busca por
5
novas fontes de resistência à ferrugem da folha se faz necessária,
6
principalmente aquelas de caraterística quantitativa.
7
8
2.5.4. Resistência parcial (quantitativa)
9
Uma estratégia para reduzir o uso de fungicidas na cultura
10
da aveia branca é a utilização da resistência parcial à ferrugem da
11
folha, também conhecida como quantitativa, a qual tem sido
12
observada em alguns genótipos (Chaves & Martinelli, 1997; Chaves et
13
al., 1999; Thomé et al., 1999 e Barbosa et al., 2000). Sendo
14
geralmente poligênica, a resistência parcial pode ser efetiva contra a
15
maioria das raças do patógeno e ter duração mais longa. Do ponto de
16
vista epidemiológico, a resistência parcial reduz a taxa de progresso
17
da moléstia, resultando em epidemias menos severas e danos menores
18
(Berger, 1977). Porém, a obtenção desse tipo de resistência é
19
complexa e sofre alta influência do ambiente (Chaves et al., 2001).
20
Os componentes da resistência parcial que reduzem a taxa
21
do progresso da moléstia compreendem: i) o número e tamanho das
25
1
lesões, ii) a quantidade de propágulos formados em cada lesão e iv) a
2
duração do período latente (Parlevliet, 1979). Essas variáveis podem
3
ser determinadas por meio de inoculações e avaliações da reação da
4
planta em condições controladas. Através de simulação em
5
computador, verifica-se que aumentos na duração do período latente
6
produzem redução significativa no progresso da epidemia (C. A.
7
Forcelini1 comunicação pessoal).
8
Os genótipos selecionados a campo devem ser submetidos a
9
testes em condições controladas para avaliação dos componentes de
10
resistência, de maneira que a expressão da característica seja
11
confirmada, excluindo-se a possibilidade de a resistência observada a
12
campo ser reflexo da baixa freqüência de raças virulentas do patógeno
13
(Chaves et al., 2001). Para Barbosa et al. (2000), no sul do Brasil,
14
onde as condições do ambiente são altamente propícias ao
15
desenvolvimento da moléstia, são ainda necessárias maiores
16
informações a respeito dos fatores envolvidos na expressão da
17
resistência parcial.
18
Em cultivares com resistência parcial, o controle da
19
ferrugem pode ser complementado com o uso de fungicidas em doses
20
reduzidas ou em aplicações menos freqüentes. Essa estratégia foi
1
Forcelini, C. A. Professor de Fitopatologia da Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária/UPF.
26
1
originalmente utilizada por Fry (1975 e 1978) para o controle da
2
requeima da batata, causada pelo fungo Phytophthora infestans, e
3
depois expandida para outros patossistemas (Forcelini, 1997). Em
4
aveia branca, Forcelini et al. (1999) observaram que a utilização do
5
cultivar UPF13, menos suscetível à ferrugem da folha que o cultivar
6
UPF16, permitiu reduzir a quantidade de fungicida aplicada em 22%,
7
sem comprometer o rendimento de grãos. Em razão da existência de
8
cultivares com níveis de resistência mais elevado, essa redução no uso
9
de fungicidas poderia ser ainda maior.
10
11
2.5.5. Mistura de cultivares
12
Outra estratégia de avaliação quanto ao manejo da moléstia
13
é o uso de misturas de cultivares (Michel et. al., 1997; Martinelli &
14
Buss, 1999). Os mecanismos pelos quais misturas de cultivares
15
reduzem a severidade das moléstias incluem i) diluição da quantidade
16
de hospedeiro suscetível a uma determinada raça do patógeno, ii)
17
formação de uma barreira à disseminação do inóculo entre
18
hospedeiros geneticamente distintos e iii) ocorrência de interações
19
entre genótipos diferentes do patógeno com a planta (Van Der Plank,
20
1968).
21
O uso de misturas de cultivares não é novo em agricultura.
27
1
Nos Estados Unidos, alguns experimentos datam do início do século
2
XX (Warburton, 1915), ao passo que, em outros países, misturas são
3
sistemas tradicionais na agricultura (Wolfe, 1985b). Misturas de
4
cultivares têm sido objeto de estudo em arroz (Chin & Husin, 1982;
5
Jennings & Jesus, 1968), aveia (Eichler et al., 1989 e 1991; Jensen,
6
1952; Mahamood et al., 1991; Martinelli & Buss, 1999; Shorter &
7
Frey, 1979; Michel et. al., 1997 e 1998), cevada (Abbott et al., 2000;
8
Clay & Allard, 1969;
9
Hengstmann, 1987; Wolfe & Barrett, 1976) e trigo (Akanda & Mundt,
10
1996 e 1997; Alexander et al., 1986; Baker, 1977; Finckh & Mundt,
11
1992; Mundt et al., 1996; Ram et al., 1989; Sharma & Dubin, 1996;
12
Walsh & Noonan, 1998). No Brasil, os primeiros trabalhos com
13
misturas de cultivares de aveia foram realizados por Eichler et al.
14
(1989 e 1991).
Chin & Wolfe, 1984; Dreiseitl, 1998;
15
Embora a ocorrência de diferentes raças do patógeno
16
(Martinelli & Buss, 1999) e a dificuldade de se encontrar cultivares de
17
aveia com características agronômicas semelhantes representem
18
adversidades à utilização dessa técnica, a obtenção de misturas de
19
cultivares de aveia compatíveis e eficazes pode promover a
20
estabilização da cultura frente à moléstia (Michel et al., 1997). Nos
21
últimos anos, novos cultivares de aveia foram desenvolvidos, o que
28
1
representa possibilidades adicionais para o estudo de misturas.
2
2.5.6. Tratamento químico de sementes
3
A integração do tratamento químico de sementes com o de
4
parte aérea também pode ser outra estratégia no controle da ferrugem.
5
No sentido mais tradicional, o tratamento de sementes visa controlar
6
patógenos associados às sementes ou protegê-las daqueles presentes
7
no solo (Menten, 1996). Com o advento de modernos fungicidas
8
sistêmicos, tem sido possível, também, proteger as plantas contra
9
patógenos que afetam os órgãos aéreos nos estádios iniciais de
10
desenvolvimento da cultura (Reis, 1976; Forcelini & Reis, 1988).
11
Dessa forma, o tratamento de sementes pode atrasar o início da
12
epidemia, reduzir seu progresso inicial e sua intensidade final (Berger,
13
1977).
14
Em aveia, o tratamento de sementes visando à proteção da
15
parte aérea contra a ferrugem da folha tem sido avaliado ao longo dos
16
anos. Apesar dos resultados pouco satisfatórios obtidos por Forcelini
17
et al. (1999), Martinelli (1996), Martinelli & Roesch, (1999) e Michel
18
et al. (1998) em trabalhos anteriores, o lançamento de novos
19
fungicidas com longo efeito residual, como o fluquinconazole,
20
recentemente avaliado em trigo por Picinini & Fernandes (1999 e
21
2001), pode permitir a viabilização dessa estratégia de controle, cujo
29
1
papel epidemiológico é o de atrasar a epidemia e reduzir o seu
2
desenvolvimento. Em termos práticos, isso pode representar redução
3
da necessidade de fungicidas em parte aérea.
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36
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
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26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
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1
2
3
4
5
6
CAPÍTULO II
7
8
9
INTERAÇÃO ENTRE GENÓTIPOS E TRATAMENTO
10
QUÍMICO NO CONTROLE DA FERRUGEM DA
11
FOLHA EM AVEIA
12
13
Laudir J. Ballico, Carlos A. Forcelini & Elmar L. Floss
14
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária
15
Universidade de Passo Fundo
16
Caixa Postal 611, 99001-970, Passo Fundo, RS.
17
RESUMO
18
19
Dois
experimentos
foram
conduzidos
no
campo
20
experimental da FAMV/UPF, em 2000 e 2001, para avaliar o controle
21
da ferrugem da folha da aveia pela integração do tratamento químico
38
1
com cultivares de diferente suscetibilidade à moléstia. Ambos os
2
experimentos constaram de quatro cultivares, com e sem tratamento
3
de sementes (fluquinconazole, 100 g i.a./ha), quatro doses de
4
aplicação em parte aérea (ciproconazole + propiconazole, 0, 75, 150 e
5
300 mL p.c./ha) e duas épocas para início dos tratamentos (primeiras
6
pústulas e limiar de dano econômico). O tratamento de sementes
7
reduziu a área abaixo da curva de progresso da ferrugem (AACPF) e
8
aumentou o rendimento de grãos, em plantas com ou sem aplicação
9
em parte aérea. O cultivar UPF 18 sempre apresentou as menores
10
AACPFs e o maior rendimento de grãos, evidenciando sua menor
11
suscetibilidade à ferrugem.
12
sementes, a AACPF não diferiu em função da dose do fungicida (75,
13
150 ou 300 mL/ha) usada no primeiro tratamento. A AACPF sempre
14
foi menor quando o tratamento foi realizado no aparecimento nas
15
primeiras pústulas. A antecipação do tratamento permitiu controle da
16
ferrugem com menor quantidade de fungicida. O intervalo de tempo
17
entre o aparecimento das primeiras pústulas e o alcance do limiar de
18
dano econômico foi de seis dias. Em geral, os maiores rendimentos
19
foram obtidos em plantas com sementes tratadas e pulverizadas com a
20
dose normal de fungicida quando do aparecimento das primeiras
21
pústulas. A combinação de cultivares menos suscetíveis com o
Neste cultivar, com tratamento de
39
1
tratamento de sementes pode flexibilizar o controle da ferrugem da
2
folha em parte aérea.
3
4
ABSTRACT
5
Two field experiments were carried out at the FAMV/UPF,
6
in 2000 and 2001, to evaluate the control of crown rust of oats through
7
the combination of chemical treatments and less susceptible cultivars.
8
Both experiments included four oat cultivars, with or without seed
9
treatment (fluquinconazole, 100 g a.i./ha), four rates of fungicide
10
(ciproconazole + propiconazole, 0, 75, 150, and 300 mL c.p./ha), and
11
two action thresholds (first rust pustules and economic damage
12
threshold = LDE). The seed treatment reduced the area under the
13
disease progress curve (AACPF) and increased grain yield in both
14
sprayed and non-sprayed plants. The less susceptible cultivar UPF 18
15
always had the lowest AACPFs, provided the highest grain yield, and
16
did not differ in AACPF among rates of fungicide (75, 150, or 300
17
mL/ha) at the first spray. The spray of fungicide at the first pustules
18
resulted in lower AACPFs and enabled rust control with lower
19
fungicidal rates. The time interval between the first pustule stage and
20
the LDE averaged six days. Overall, higher yields were obtained with
21
seed treatment and spray of the full rate of fungicide (300 mL/ha) at
40
1
the first pustules. Also, the use of less susceptible cultivars such as
2
UPF 18 can make the chemical control of crown rust more flexible.
3
INTRODUÇÃO
4
5
A ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia coronata
6
Corda f. sp. avenae Eriks, é a moléstia mais prejudicial à cultura da
7
aveia no sul do Brasil. Em condições climáticas favoráveis à
8
ocorrência da ferrugem, cultivares suscetíveis podem ter sua
9
produtividade reduzida de 50% (Martinelli et al., 1994) a 95 %
10
(Forcelini et al., 1999). Atualmente, a maioria dos cultivares, em
11
maior ou menor grau, é suscetível à moléstia (Comissão ..., 2000).
12
Esse fato decorre da presença de várias raças do patógeno no sul da
13
América do Sul, as quais têm sobreposto os genes de resistência dos
14
cultivares pouco tempo após seu uso comercial (Martinelli et al.,
15
1998).
16
A medida mais eficaz para o controle da ferrugem em
17
cultivares suscetíveis é o uso de fungicidas em uma ou mais
18
aplicações na parte aérea por ciclo (Forcelini & Reis, 1997). Essa
19
prática tem permitido obter grãos de qualidade, alcançar rendimentos
20
superiores a 3000 Kg. ha-1 e manter a estabilidade da cultura
21
(Forcelini et al., 1999; Michel et al., 1998; Picinini & Fernandes,
41
1
1994). Contudo, cada aplicação de um fungicida sistêmico eficaz para
2
o controle da moléstia pode onerar os custos de produção em até US$
3
30,00/ha (Picinini & Fernandes, 1994).
4
Uma estratégia para diminuir a necessidade de fungicidas
5
na cultura da aveia branca é a utilização da resistência parcial à
6
ferrugem da folha, também conhecida como quantitativa, a qual tem
7
sido observada em alguns genótipos (Chaves & Martinelli, 1997;
8
Chaves et. al., 1999; Thomé et. al., 1999). A resistência parcial pode
9
ser complementada com o uso de fungicidas em número menor de
10
aplicações ou em doses reduzidas. Essa estratégia foi originalmente
11
utilizada por Fry (1975 e 1978) para o controle da requeima da batata,
12
causada pelo fungo Phytophthora infestans. Em aveia branca,
13
Forcelini et al. (1999) observaram que a utilização do cultivar UPF13,
14
menos suscetível à ferrugem da folha que o cultivar UPF16, permitiu
15
reduzir a quantidade de fungicida aplicada em 22%, sem comprometer
16
o rendimento de grãos. Em razão da existência de cultivares com
17
níveis de resistência mais elevados, a redução no uso de fungicidas
18
poderia ser maior.
19
Outra estratégia de avaliação quanto ao manejo da moléstia
20
é o uso do tratamento de sementes com fungicidas sistêmicos, visando
21
à proteção da parte aérea contra a ferrugem da folha. Apesar dos
42
1
resultados pouco satisfatórios obtidos por Forcelini et al. (1999),
2
Martinelli (1996), Martinelli et al. (1999) e Michel et al. (1998) em
3
trabalhos anteriores, o lançamento de novos fungicidas com longo
4
efeito residual, como o fluquinconazole, recentemente avaliado em
5
trigo por Picinini & Fernandes, (1999 e 2001), pode permitir a
6
viabilização dessa estratégia de controle, cujo papel epidemiológico é
7
o de atrasar a epidemia e reduzir o seu desenvolvimento. Em termos
8
práticos, isso pode representar redução significativa na necessidade de
9
fungicidas em parte aérea.
10
Este trabalho teve como objetivo avaliar o controle da
11
ferrugem da folha e o rendimento de grãos de aveia através da
12
integração de esquemas de aplicação em parte aérea (dose, número e
13
época de aplicação) com diferentes cultivares e o tratamento de
14
sementes com fungicida.
15
16
MATERIAL E MÉTODOS
17
O experimento, conduzido em 2000, foi constituído de 64
18
tratamentos, sendo quatro cultivares de aveia branca, com e sem
19
tratamento de sementes, e quatro doses diferentes de fungicidas na
20
parte aérea, aplicados em dois níveis distintos de severidade da
21
ferrugem. O delineamento experimental constituiu-se de um fatorial
43
1
(4 × 2 × 4 × 2), com as parcelas casualizadas em blocos. Cada
2
tratamento foi representado por três parcelas, com cinco linhas de 5 m
3
de comprimento, espaçadas entre si por 20 cm. A semeadura foi
4
realizada em 22/6, de forma direta, com adubação de semeadura com
5
300 kg. ha-1 da fórmula (5-25-25) e cobertura com 30 Kg. ha-1 de
6
nitrogênio aplicados na forma de uréia, aos 35 dias após a semeadura.
7
Foram utilizados os cultivares UPF13, UPF 16 e UPF 18 e a
8
linhagem UPF 93203-4, todos de aveia branca. As sementes foram
9
tratadas com o inseticida tiametoxam (Cruiser), a 35 g i.a./100 kg de
10
sementes. Metade das sementes de cada genótipo foi também tratada
11
com fungicida fluquinconazole (Palisade) na dose de 100 g i.a./100
12
kg de semente.
13
propiconazole + ciproconazole (Artea), nas doses de 0, 75, 150 e 300
14
mL p.c./ha, a um volume de calda de 150 L/ha. As aplicações tiveram
15
início nas primeiras pústulas ou quando atingida a incidência foliar de
16
15%, a qual corresponde ao limiar de dano econômico para o controle
17
da ferrugem da folha da aveia (Comissão ..., 2000).
Na parte aérea foi utilizada a mistura fungicida
18
O progresso da ferrugem da folha foi avaliado através da
19
severidade, com base em escala diagramática disponível em
20
Calpouzos et al. (1976), a partir das folhas de cinco colmos coletados
21
em 12/9, 18/9, 25/9, 2/10, 9/10, 17/10 e 28/10, em parcelas individuais
44
1
de cada tratamento. Os dados de doença foram utilizados para
2
determinar a taxa de progresso da epidemia (rL) (Berger, 1988) e a
3
área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) (Campbell &
4
Madden, 1990).
5
Por ocasião da colheita em 15/11/00, as sementes foram
6
desaristadas, limpas e pesadas para quantificar o rendimento
7
quantitativo (kg. ha-1) e qualitativo (peso do hectolitro - PH e peso de
8
mil grãos - PMG) de grãos. Os dados de doença e rendimento foram
9
submetidos à análise de variância e à comparação de médias pelo teste
10
de Tukey a 5% de significância, utilizando o programa SAS (6.12,
11
ambiente Windows). Procedeu-se também análise de regressão para o
12
fator doses do fungicida em parte aérea, utilizando o programa
13
PLOTITW (ambiente Windows).
14
O experimento conduzido em 2001 correspondeu a 40
15
tratamentos, sendo quatro cultivares de aveia branca (UPF16, UPF 18,
16
UPF 19 e UPF 20), com e sem tratamento de sementes, e três doses (0,
17
150 e 300 mL. p.c. ha-1) de fungicida na parte aérea, aplicados nos
18
dois momentos descritos acima.
19
constituiu-se de um fatorial 4 × 2 × 3 × 2, com as parcelas
20
casualizadas em blocos. Cada tratamento constou de quatro parcelas
21
com cinco linhas de 5 m de comprimento, espaçadas entre si por 20
O delineamento experimental
45
1
cm. A semeadura foi em 8/6, de forma direta, com adubação de
2
semeadura de 300 kg. ha-1 da fórmula (5-25-25) e cobertura com 30
3
kg. ha-1 de nitrogênio, aplicados na forma de uréia aos 35 dias após a
4
semeadura. As sementes foram tratadas com o inseticida tiametoxam,
5
a 49 g i.a./100 kg de sementes. As avaliações de severidade da
6
ferrugem foram realizadas em 12/8, 20/8, 27/8 e 3/9. Por causa da
7
destruição das plantas por granizo em 9/9, as avaliações foram
8
encerradas.
9
RESULTADOS
10
11
Ano 2000
12
A ferrugem ocorreu com maior intensidade no mês de
13
outubro, em razão do aumento do inóculo do patógeno na área
14
experimental e da ocorrência de temperaturas mais elevadas e chuvas
15
mais freqüentes (Embrapa Trigo, 2001).
16
A área abaixo da curva de progresso da ferrugem (AACPF)
17
(Tabelas 1 e 2) variou significativamente em função dos cultivares, do
18
tratamento de sementes, da dose e da época de aplicação do
19
tratamento em parte aérea. O cultivar UPF 18 sempre apresentou as
20
menores AACPFs, evidenciando sua menor suscetibilidade à
21
ferrugem. Em relação ao tratamento em parte aérea, a AACPF foi
46
1
inversamente
proporcional
à
dose
de
fungicida
utilizada,
2
especialmente nos genótipos mais suscetíveis (UPF 13, 16 e 93203/4).
3
Proporcionalmente, as maiores diferenças em AACPF entre sementes
4
tratadas e não tratadas ocorreram quando as plantas foram também
5
submetidas à aplicação de fungicidas em parte aérea.
6
No cultivar UPF 18, com tratamento de sementes, a AACPF
7
não diferiu em função da dose do fungicida (75, 150 ou 300 mL. ha-1)
8
usada no primeiro tratamento.
9
10
11
Tabela 1. Área abaixo da curva de progresso da ferrugem em
cultivares de aveia em função do tratamento químico das
sementes e da parte aérea. FAMV/UPF, 2000
Área abaixo da curva de progresso da ferrugem
Doses de fungicida na parte aérea (mL. ha-1) 1
0
75
150
300
12
13
14
15
16
17
18
Genótipos
Sementes não tratadas
UPF13
10,22 a33
2,16 abc
1,67 ab
0,75 a
UPF16
10,34 ab
3,48 abc
1,16 ab
0,58 a
UPF 93203/4
11,34 ab
1,92 abc
1,53 ab
0,37 a
UPF18
3,04 ab
0,36 abc
0,14 ab
0,21 a
Médias
8,74
1,98
1,13
0,48
C.V. (%)
14,44
34,70
55,76
69,60
Sementes tratadas2
UPF13
9,20 abc
1,35 ab
0,63 ab
0,42 a
UPF 93203/4
9,77 abc
0,97 ab
0,59 ab
0,39 a
UPF16
12,14 abc
1,17 ab
0,61 ab
0,34 a
UPF18
1,63 abc
0,18 ab
0,38 ab
0,10 a
Médias
8,19
0,92
0,55
0,31
C.V. (%)
18,67
43,83
23,89
64,40
1
Primeira aplicação com doses variáveis; segunda aplicação com dose normal (300
mL. ha-1).
2
Fluquinconazole a 100 g p.c./100 kg de sementes.
3
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre pelo teste de Tukey a 5% de
signigicância e análise de regressão não significativa para efeito de doses do
fungicida (75, 150 e 300 mL. ha-1).
47
1
A época da primeira aplicação de fungicida (Tabela 2)
2
também influenciou no controle da ferrugem. A AACPF sempre foi
3
menor quando o tratamento foi realizado no aparecimento nas
4
primeiras pústulas. Comparando-se as AACPFs entre 75 mL. ha-1 (PP)
5
e 150 mL. ha-1 (LDE), ou entre 150 mL. ha-1 (PP) e 300 mL. ha-1
6
(LDE), verifica-se que a antecipação do tratamento permitiu controle
7
igual ou superior da ferrugem com menor quantidade de fungicida.
8
9
10
Tabela 2. Área abaixo da curva de progresso da ferrugem da folha em
cultivares de aveia em função da dose e época de aplicação
de fungicida em parte aérea. FAMV/UPF, 2000
Genótipos e épocas
de aplicação
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Área abaixo da curva de progresso da ferrugem
Doses de fungicida na parte aérea (mL. ha-1) 1
0
75
150
300
Primeira pústulas
UPF 93203/4
10,69 a3b
1,02 ab
0,80 ab
0,43 abc
UPF13
10,22 ab
1,02 ab
0,46 ab
0,32 abc
UPF16
11,82 ab
2,04 ab
0,51 ab
0,21 abc
0,14 ab
0,15 ab
0,09 abc
UPF18
2,52 ab
Médias
8,81
1,06
0,48
0,26
C.V. (%)
19,93
9,28
53,43
45,11
LDE 2
UPF13
9,20 ab
2,48 ab
1,83 ab
0,85 ab
UPF16
10,67 ab
2,61 ab
1,26 ab
0,71 ab
UPF 93203/4
10,42 ab
1,87 ab
1,33 ab
0,34 ab
UPF18
2,16 ab
0,31 ab
0,38 ab
0,22 ab
Médias
8,11
1,82
1,20
0,53
C.V. (%)
18,37
7,52
53,33
58,71
1
Primeira aplicação com doses variáveis; segunda aplicação com dose normal (300
mL. ha-1).
2
Limiar de dano econômico: corresponde à incidência foliar de 15%.
3
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância e análise de regressão não significativa para efeito de doses do
fungicida (75, 150 e 300 mL. ha-1).
O intervalo de tempo entre o aparecimento das primeiras pústulas e o
48
1
alcance do limiar de dano econômico foi de seis dias.
2
O rendimento de grãos (Tabelas 3 e 4) também variou em
3
função dos fatores testados. Em geral, os maiores rendimentos foram
4
obtidos em plantas com sementes tratadas e pulverizadas com 300
5
mL. ha-1 de fungicida quando do aparecimento das primeiras pústulas.
6
O cultivar UPF 18 sempre obteve o maior rendimento de grãos,
7
independentemente do uso de fungicidas na semente ou parte aérea.
8
9
10
Tabela 3. Rendimento de grãos em cultivares de aveia em função do
tratamento químico das sementes e da parte aérea.
FAMV/UPF, 2000
-1
Rendimento de grãos (Kg. ha )
Doses de fungicida na parte aérea (mL. ha-1) 1
0
75
150
300
11
12
13
14
15
16
17
18
19
Genótipos
Sementes não tratadas
UPF18
3648 a3b
4895 ab
5128 abc
5124 abc
UPF13
2444 ab
4392 ab
4533 abc
4930 abc
UPF16
2821 ab
4168 ab
4342 abc
4710 abc
4037 ab
3974 abc
4322 abc
UPF 93203/4
2570 ab
Médias
2871
4373
4494
4772
C.V. (%)
8,39
8,53
6,74
3,41
Sementes tratadas2
UPF18
3834 ab
5053 abc
5036 abc
5364 abc
4714 abc
5182 abc
5227 abc
UPF13
3115 ab
UPF16
2876 ab
4355 abc
4630 abc
4877 abc
UPF 93203/4
2576 ab
4047 abc
4394 abc
4220 abc
Médias
3100
4542
4811
4922
C.V. (%)
10,83
7,92
6,87
5,05
1
Primeira aplicação com doses variáveis; segunda aplicação com dose normal (300
mL. ha-1).
2
Fluquinconazole a 100 g pc./100 kg de sementes.
3
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre pelo teste de Tukey a 5% de
significância e análise de regressão não significativa para efeito de doses do
fungicida (75, 150 e 300 mL. ha-1).
O aumento no rendimento de grãos apenas em função do tratamento
49
1
de sementes foi de 229 kg. ha-1 nas plantas sem aplicação em parte
2
aérea e de 150 (300 mL. ha-1) a 169 (75 mL. ha-1) e 317 kg. ha-1 (150
3
mL. ha-1) nas demais. Na média dos quatro cultivares, o rendimento de
4
grãos foi proporcionalmente à dose do fungicida aplicado em parte
5
aérea. Para as doses de 75 e 150 mL. ha-1, houve vantagem dos
6
tratamentos iniciados nas primeiras pústulas (Tabela 4) em relação ao
7
LDE.
8
9
10
Tabela 4. Rendimento de grãos em cultivares de aveia em função da
dose e época de aplicação de fungicida em parte aérea.
FAMV/UPF, 2000
Genótipos e épocas
de aplicação
11
12
13
14
15
16
17
18
19
-1
Rendimento de grãos (Kg. ha )
Doses de fungicida na parte aérea (mL. ha-1) 1
0
75
150
300
Primeira pústulas
UPF18
3755 a3bc
5215 ab
5153 abc
5156 abc
UPF13
2680 abc
4550 ab
4967 abc
4973 abc
UPF16
2912 abc
4593 ab
4650 abc
4775 abc
UPF 93203/4
2488 abc
4227 ab
4360 abc
4209 abc
Médias
2959
4646
4783
4778
C.V. (%)
8,40
8,44
4,53
4,75
LDE 2
UPF18
3727 ab
4733 ab
5010 ab
5332 abc
UPF13
2879 ab
4555 ab
4747 ab
5184 abc
UPF16
2786 ab
3930 ab
4322 ab
4813 abc
UPF 93203/4
2658 ab
3857 ab
4007 ab
4333 abc
Médias
3013
4269
4522
4916
C.V. (%)
12,84
6,47
10,03
4,64
1
Primeira aplicação com doses variáveis; segunda aplicação com dose normal (300
mL. ha-1).
2
Limiar de dano econômico: corresponde à incidência foliar de 15%.
3
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância e análise de regressão não significativa para efeito de doses do
fungicida (75, 150 e 300 mL ha-1).
Ano 2001
50
1
Em 2001, os sintomas da ferrugem apareceram aos 53 dias
2
após a semeadura, aproximadamente um mês mais cedo em relação ao
3
experimento do ano anterior. Este fato pode ser atribuído às
4
temperaturas mais amenas verificadas nos meses de julho e
5
agosto/2001 (Embrapa Trigo, 2001).
6
7
8
Tabela 5. Área abaixo da curva de progresso da ferrugem em
cultivares de aveia em função do tratamento químico das
sementes e da parte aérea. FAMV/UPF, 2001
Área abaixo da curva de progresso da ferrugem
Doses de fungicida na parte aérea (mL. ha-1) 1
0
150
300
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Cultivares
Sementes não tratadas
UPF 19
2,34 b3cd
0,70 ab
0,55 ab
UPF 16
3,20 abcd
0,59 ab
0,37 ab
0,24 ab
0,21 ab
UPF 18
0,35 abcd
UPF 20
1,46 accd
0,32 ab
0,21 ab
Médias
1,84
0,46
0,34
C.V. (%)
13,20
32,51
41,32
Sementes tratadas2
UPF 16
0,94 abcd
0,48 ab
0,38 abc
UPF 19
0,68 abcd
0,39 ab
0,33 abc
UPF 20
0,45 bccd
0,21 ab
0,23 abc
UPF 18
0,15 abcd
0,16 ab
0,15 abc
Médias
0,56
0,31
0,27
C.V. (%)
23,87
34,65
37,85
1
Primeira aplicação com doses variáveis; segunda aplicação com dose normal (300
mL. ha-1).
2
Sementes tratadas com fuquinclonazole 100 g. p.c./100 kg de sementes.
3
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância e análise de regressão não significativa para efeito de doses do
fungicida (150 e 300 mL ha-1).
Em 2001, a chuva de granizo ocorrida em 9/9 destruiu as
18
plantas e limitou o número de avaliações a quatro, realizadas no
19
período de 12/8 a 3/9. Dessa forma, não foi possível fazer uma análise
51
1
do efeito do tratamento em parte aérea.
2
Verificou-se, novamente, efeito do tratamento de sementes,
3
reduzindo a AACPF, principalmente nas plantas que não receberam
4
aplicação em parte aérea. Entre os cultivares, o UPF 18 apresentou a
5
menor quantidade de ferrugem, seguido pelo UPF 20.
6
7
8
Tabela 6. Área abaixo da curva de progresso da ferrugem da folha em
cultivares de aveia em função da dose e época de aplicação
de fungicida em parte aérea. FAMV/UPF, 2001
Cultivares e épocas de
aplicação
9
10
11
12
13
14
15
16
Área abaixo da curva de progresso da ferrugem
Doses de fungicida na parte aérea (mL. ha-1) 1
0
150
300
Primeira pústulas
UPF 19
1,49 a4b
0,54 ab
0,43 ab
UPF 20
0,96 ab
0,35 ab
0,31 ab
UPF 16
2,07 ab
0,52 ab
0,27 ab
UPF 18
0,25 ab
0,24 ab
0,25 ab
Médias
1,19
0,41
0,31
C.V. (%)
69,20
42,96
39,88
LDE 2
UPF 16
2,07 ab
0,56 ab
0,48 ab
UPF 19
1,53 ab
0,55 ab
0,45 ab
UPF 20
0,96 ab
0,19 ab
0,14 ab
UPF 18
0,25 ab
0,17 ab
0,11 ab
Médias
1,20
0,36
0,30
C.V. (%)
68,12
35,67
32,16
1
Primeira aplicação com doses variáveis; segunda aplicação com dose normal (300
mL ha-1).
2
Aplicação no limiar de dano econômico: corresponde à incidência foliar de 15%.
3
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância e análise de regressão não significativa para efeito de doses do
fungicida (150 e 300 mL ha-1).
DISCUSSÃO
17
Segundo Berger (1977), as várias medidas de controle
18
utilizadas para o manejo de epidemias de moléstias de plantas são
52
1
direcionadas à redução do inóculo inicial, à diminuição da taxa de
2
progresso da moléstia e ao encurtamento do tempo de exposição da
3
planta hospedeira ao patógeno.
4
utilizada, uma estratégia de controle pode atuar em mais de um destes
5
processos, exercendo assim um impacto duradouro sobre a epidemia.
Dependendo do modo como é
6
Nestes experimentos com ferrugem da folha da aveia, com a
7
utilização de diferentes cultivares, tratamento de sementes e de parte
8
aérea, procurou-se integrar as vantagens de cada uma destas
9
estratégias para um controle mais eficaz da ferrugem. Verificou-se
10
que o tratamento de sementes exerceu maior efeito sobre a taxa de
11
progresso da epidemia, embora, em alguns casos, também tenha
12
havido redução do inóculo inicial.
13
cultivar UPF 18 determinou que a ferrugem ocorresse mais tarde e
14
tivesse uma evolução mais lenta.
A menor suscetibilidade do
15
Com relação ao uso de fungicidas na parte aérea, o seu
16
efeito nos componentes da epidemia depende de como e quando o
17
tratamento é utilizado. Tradicionalmente, a aplicação de fungicidas é
18
realizada após a constatação de determinado nível de ferrugem nas
19
plantas. Dessa forma, a atuação do produto se dá apenas sobre a taxa
20
de progresso de a moléstia (Fry 1977 e 1982). Se a aplicação é
21
realizada antes da moléstia completar o seu primeiro ciclo ou onda
53
1
epidêmica, o controle químico também atua atrasando o início da
2
epidemia e diminuindo a quantidade inicial da doença, além de
3
proporcionar melhor controle dos poucos propágulos existentes nos
4
estágios iniciais da epidemia (Forcelini & Berger, 1998). Esses fatos
5
explicam o melhor controle da ferrugem e o maior rendimento de
6
grãos obtidos com o início da aplicação dos fungicidas quando do
7
aparecimento das primeiras pústulas. Entre esta fase da ferrugem e o
8
alcance do LDE (incidência foliar de 15%), transcorreram apenas seis
9
dias, o que não deve comprometer o efeito residual do fungicida.
10
Tecnicamente, em aveia, duas aplicações de fungicida
11
exercem maior efeito sobre a ferrugem e o rendimento de grãos do que
12
uma aplicação (Forcelini et al., 1999; Martinelli, 1996). Na prática,
13
por razões de economia, os produtores podem adotar apenas um
14
tratamento por safra, localizado-o nos estádios correspondentes à
15
emissão da panícula ou floração plena. Nestas situações, a adição de
16
um tratamento com uma dose menor de fungicida, no aparecimento
17
dos primeiros sintomas pode ter grande valia no manejo da ferrugem
18
da folha.
19
Nos experimentos em aveia, verificou-se que as doses
20
menores de fungicida proporcionaram controle satisfatório da
21
ferrugem, semelhante àquele apresentado pela dose recomendada do
54
1
produto utilizado (300 mL/ha). Contudo, houve uma tendência de
2
aumento do rendimento de grãos com aumento da quantidade de
3
fungicida utilizado em parte aérea. É possível que, neste caso, a
4
presença de outras moléstias fúngicas, como a helmintosporiose, tenha
5
afetado o rendimento de grãos nos tratamentos com menor doses de
6
fungicida.
7
Outra alternativa para controlar a ferrugem nos seus
8
estágios iniciais pode ser o tratamento de sementes com fungicidas
9
sistêmicos. Em trabalho realizado por Martinelli (1996), esta prática
10
permitiu retardar em 15 dias o início do tratamento na parte aérea. As
11
menores quantidades de ferrugem e os maiores rendimentos de grãos
12
foram obtidos com a combinação do tratamento de sementes com o da
13
parte aérea. Em outros trabalhos (Forcelini et al., 1999; Martinelli &
14
Roesch, 1999), sob condições climáticas altamente favoráveis à
15
ferrugem da folha (ano de 1998), o efeito do tratamento de sementes
16
não foi significativo.
17
A maioria dos trabalhos com tratamento de sementes de
18
aveia foi realizada com o fungicida triadimenol, tradicionalmente
19
empregado para o controle de oídio em trigo e cevada (Forcelini,
20
1994). Os trabalhos conduzidos com aveia em 2000 e 2002 utilizaram
21
o fungicida fluquinconazole, também triazol, porém com translocação
55
1
mais lenta. Este fato pode determinar efeito residual mais longo e
2
explicar os bons resultados obtidos com trigo por Picinini &
3
Fernandes (2001) em aveia.
4
No cultivar UPF 18, menos suscetível à ferrugem, o
5
tratamento de sementes pode ser suficiente para controle da moléstia e
6
produção de grãos, especialmente em anos mais frios e/ou secos,
7
menos favoráveis ao desenvolvimento da moléstia. Em cultivares
8
mais suscetíveis, o tratamento de sementes deve ser complementado
9
com aplicação na parte aérea.
10
O cultivar UPF 18 foi o mais produtivo nas diferentes
11
situações estudadas, mostrando-se apropriado a diferentes condições
12
de cultivo, com ou sem o uso de fungicidas. Dessa forma, este cultivar
13
pode ser indicada para sistemas de produção que visem otimizar o
14
ganho através de rendimento elevados, com o uso de todos os insumos
15
disponíveis para a cultura, ou através da redução de custos,
16
suprimindo o tratamento com fungicida.
17
Individualmente, o efeito da aplicação foliar de fungicida
18
sobre o controle da ferrugem e sobre o rendimento foi o mais
19
pronunciado, sendo seguido pelo uso do cultivar UPF 18 e pelo
20
tratamento de sementes.
21
obtidos com a integração de ambas as estratégias.
Contudo, os resultados máximos foram
56
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
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32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
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57
1
2
3
4
5
6
7
8
9
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37
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41
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58
1
2
3
4
5
6
7
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29
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Experimentais Porto Alegre: UFRGS, 1999. p.115–117.
1
2
3
4
5
6
7
CAPÍTULO III
8
9
TRATAMENTO DE SEMENTES E DE PARTE AÉREA COM
10
FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM DA
11
FOLHA DA AVEIA
12
13
Laudir J. Ballico, Carlos A. Forcelini & Elmar L. Floss
14
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de
15
Passo Fundo, Caixa Postal 611, 99001-970, Passo Fundo, RS.
16
17
RESUMO
18
Em experimentos conduzidos na FAMV/UPF, em 2000 e
19
2001, avaliou-se o potencial do tratamento de sementes de aveia com
20
o fungicida sistêmico fluquinconazole no controle da ferrugem da
21
folha e no rendimento de grãos. O fungicida foi aplicado às sementes
60
1
em doses variáveis (320, 360, 400, 440 e 480 g/100 kg) do produto
2
comercial. Posteriormente, as plantas foram submetidas a duas
3
aplicações de fungicida (propiconazole + ciproconazole) em parte
4
aérea, sendo a primeira realizada com 25, 50, 75 e 100% da dose
5
normal do produto. O tratamento de sementes reduziu a taxa de
6
progresso da ferrugem de 0,47 para 0,17 unidade/dia (em 2000), a
7
intensidade inicial da moléstia de 0,5 para 0,02% (em 2001) e a área
8
abaixo da curva de progresso da ferrugem de 11,7 para 4,4, o que
9
incrementou o rendimento de grãos em 417 a 603 kg. ha-1.
Na
10
combinação de tratamento de sementes com aplicações foliares de
11
fungicida, o rendimento médio de grãos foi 1902 kg. ha-1 superior ao
12
do tratamento testemunha. Esses resultados indicam uma nova
13
perspectiva para inclusão do tratamento de sementes em sistemas
14
integrados visando à maior eficácia no controle da ferrugem da folha e
15
à obtenção de altos rendimentos de grãos.
16
17
ABSTRACT
18
In field trials performed at the FAMV/UPF, in 2000 and
19
2001, the seed treatment with the systemic, long residual, fungicide
20
fluquinconazole was assessed regarding its effects on crown rust
21
control and on oat grain yield. The fungicide was applied onto seeds
61
1
at 320, 360, 400, 440, and 480 g/100 kg of its commercial
2
formulation. Later, the plants were sprayed twice with a mix of the
3
fungicides propiconazole + ciproconazole, the first spray being carried
4
out with 25, 50, 75, and 100% of the usual fungicidal rate. The seed
5
treatment slowed the epidemic rate from 0.47 to 0.17 units/day,
6
reduced the initial disease severity from 0.5 to 0.02%, diminished the
7
area under the disease progress curve from 11.7 to 4.4, and increased
8
grain yield in 417 to 603 kg. ha-1. The combination of seed treatment
9
with foliar sprays increased yield even more (1902 kg. ha-1) over the
10
control plots.
These results prospect the inclusion of the seed
11
treatment in integrated control programs aiming to control crown rust
12
more efficiently and to obtain higher oat grain yields.
13
14
INTRODUÇÃO
15
A aveia branca (Avena sativa L.) é um dos cereais de
16
inverno mais cultivados no sul do Brasil (Floss et al., 1999). Contudo,
17
a ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia coronata f.sp.
18
avenae, reduz significativamente o rendimento de grãos. Em
19
condições climáticas favoráveis à ocorrência da moléstia, a
20
produtividade pode ser reduzida entre 50% (Martinelli et al., 1994) e
21
95% (Forcelini et al., 1999). Atualmente, a maioria dos cultivares, em
62
1
maior ou menor grau, é suscetível à ferrugem da folha (Comissão...,
2
2000).
3
A medida mais eficaz para o controle da moléstia em
4
cultivares suscetíveis é o uso de fungicidas, em uma ou mais
5
aplicações na parte aérea por ciclo (Forcelini & Reis, 1997). Essa
6
prática vem permitindo melhorar a qualidade dos grãos, alcançar
7
rendimentos superiores a 3000 kg. ha-1 e manter a estabilidade da
8
cultura (Forcelini et al., 1999; Michel et al., 1998; Picinini &
9
Fernandes, 1994). Contudo, cada aplicação de um fungicida sistêmico
10
eficaz para o controle da moléstia pode onerar os custos de produção
11
em até US$ 30,00/ha (Picinini & Fernandes, 1994). Portanto, outras
12
estratégias de controle que reduzam a necessidade de fungicidas na
13
parte aérea podem ter grande impacto na diminuição dos custos de
14
produção da cultura.
15
O tratamento de sementes, no sentido mais tradicional, visa
16
controlar patógenos associados às sementes ou protegê-las daqueles
17
presentes no solo (Menten, 1996).
18
fungicidas sistêmicos, também tem sido possível proteger as plantas
19
contra patógenos que afetam os órgãos aéreos nos estádios iniciais de
20
desenvolvimento da cultura (Reis, 1976; Forcelini & Reis, 1988).
21
Dessa forma, o tratamento de sementes pode atrasar o início da
Com o advento de modernos
63
1
epidemia, reduzir seu progresso inicial e diminuir sua intensidade final
2
(Berger, 1977). Em termos práticos, isso pode representar economia
3
de aplicações de fungicidas em parte aérea.
4
Em aveia, o tratamento de sementes visando à proteção da
5
parte aérea contra a ferrugem da folha tem sido avaliado ao longo dos
6
anos. Embora essa técnica seja recomendada oficialmente (Comissão,
7
2000), seu benefício é discutível em face dos resultados pouco
8
satisfatórios obtidos por Forcelini et al. (1999), Martinelli (1996),
9
Martinelli & Roesch, (1999) e Michel et al. (1998).
10
Recentemente, Picinini & Fernandes (2001) verificaram que
11
o tratamento de sementes de trigo com o fungicida fluquinconazole,
12
controlou a mancha bronzeada e a ferrugem da folha por um período
13
de até cem dias, demonstrando seu longo efeito residual. Por esse
14
motivo, novos experimentos foram conduzidos na FAMV/UPF para
15
avaliar o potencial do tratamento de sementes no controle da ferrugem
16
da folha da aveia, em combinação com esquemas de reduzido uso de
17
fungicida em parte aérea.
18
19
MATERIAL E MÉTODOS
20
Os experimentos foram instalados no campo experimental
21
da FAMV/UPF, em 22/6/2000 e 8/6/2001, sob semeadura direta sobre
64
1
restos culturais de soja, em área de rotação de culturas com trigo ou
2
cevada. Em ambos os anos, as unidades experimentais mediram 1 × 5
3
m, sendo constituídas por cinco linhas espaçadas entre si por 0,2 m. O
4
delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com três
5
repetições. Utilizou-se o cultivar de aveia UPF 16, o qual é altamente
6
suscetível à ferrugem da folha. A adubação e os tratos culturais foram
7
realizados conforme recomendado para a cultura (Comissão..., 2000).
8
Em 2000, foram avaliados trinta tratamentos,
que
9
corresponderam a combinações de seis doses (0, 320, 360, 400, 440 e
10
480 g pc/100 kg) do fungicida fluquinconazole (Palisade, 25 PM®) em
11
tratamento de semente e cinco esquemas de aplicação da mistura
12
propiconazole + ciproconazole (Artea 33 CE®) na parte aérea. Na
13
primeira aplicação em parte aérea (16/9), quando a incidência da
14
ferrugem atingiu 15%, foram utilizadas doses variáveis do fungicida
15
(0, 75, 150, 225 e 300 mL pc./ha). Na segunda aplicação (8/10),
16
utilizou-se a dose única de 300 mL pc. ha-1 em todas as parcelas,
17
exceto nas testemunhas não tratadas.
18
Em 2001, foram sete tratamentos na semente, seis com
19
fluquinconazole (0, 320, 360, 400, 440 e 480 g pc/100 kg) e um com
20
triadimenol (Baytan 15 SC®) (270 mL pc./100 kg), e três na parte
21
aérea, que corresponderam a zero, uma e duas aplicações de
65
1
propiconazole + ciproconazole a 300 mL. ha-1. A primeira aplicação
2
de fungicida foi realizada em 24/8, quando a incidência foliar da
3
ferrugem atingiu 15%.
4
destruição das plantas por chuva de granizo ocorrida em 9/9. Em
5
ambos os anos, todas as sementes foram tratadas com o inseticida
6
tiametoxam (Cruiser®), a 12,5 g (2000) e 17,5 g (2001) de i.a./100 kg
7
de sementes.
A segunda foi suspensa em função da
8
As avaliações da severidade da ferrugem da folha foram
9
realizadas em folhas coletadas de cinco colmos por parcela, em 17/9,
10
28/9, 5/10 e 28/10/00, ou 13/8, 20/8, 1/9 e 7/9/01. A severidade da
11
moléstia foi determinada através de análise visual das folhas, com
12
base em escala diagramática proposta por Calpouzos et al. (1976). Os
13
dados de severidade foram utilizados para determinar a taxa de
14
progresso da epidemia (rL) (Berger, 1988) e a área abaixo da curva de
15
progresso da ferrugem (AACPF) (Campbell & Madden, 1990). Por
16
ocasião da colheita, em 15/11 (2000), os grãos foram desaristados,
17
limpos e pesados para determinação do rendimento quantitativo (kg.
18
ha-1) e qualitativo (peso do hectolitro - PH e peso de mil grãos - PMG)
19
de grãos. As variáveis relativas à doença e ao rendimento foram
20
submetidas a análises de variância, de regressão e por contrastes
21
ortogonais.
66
1
RESULTADOS
2
3
Ano 2000
4
Em 2000, a primeira avaliação da ferrugem da folha ocorreu
5
em 17/9. Nesta data, a severidade média foliar (Tabela 1) variava de
6
0,03 a 0,06%, não havendo diferenças significativas por conta do
7
tratamento de sementes utilizado. Até 5/10, a moléstia manteve-se em
8
níveis baixos, com severidades iguais ou menores que 1%. O maior
9
progresso da ferrugem ocorreu no mês de outubro, em função do
10
aumento do inóculo do patógeno na área experimental e, sobretudo, da
11
ocorrência de temperaturas mais elevadas e chuvas mais freqüentes
12
(Embrapa Trigo, 2001). Nas plantas sem tratamento na semente e na
13
parte aérea, a severidade atingiu 100%.
14
O tratamento de sementes influenciou significativamente (P
15
≤ 0,05) as variáveis relacionadas à intensidade da ferrugem e ao
16
rendimento de grãos (Tabela 2). Embora não tenha havido atraso no
17
início da moléstia, as plantas originadas de sementes tratadas
18
apresentaram taxas de progresso diário da epidemia e AACPFs
19
menores que a testemunha. Esse efeito resultou em rendimento de
20
grãos e PH mais elevados.
21
67
1
2
3
Tabela 1. Severidade inicial e final da ferrugem da folha da aveia em
função do tratamento de sementes e de parte aérea com
fungicidas. FAMV/UPF, 2000
Doses na semente
1
4
5
6
Doses em parte aérea
2
(g pc/100 kg)
(mL pc/ha)
0
0
0
75
0
150
0
225
0
300
320
0
320
75
320
150
320
225
320
300
360
0
360
75
360
150
360
225
360
300
400
0
400
75
400
150
400
225
400
300
440
0
440
75
440
150
440
225
440
300
480
0
480
75
480
150
480
225
480
300
1
Fluquinconazole (25 PM)
2
Propiconazole + ciproconazole (33 CE)
Severidade (%)
Inicial (17/9)
0,04
0,04
0,04
0,03
0,04
0,06
0,06
0,06
0,06
0,06
0,05
0,04
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,04
0,04
0,04
0,04
0,04
0,04
0,04
0,04
0,04
0,04
Final (28/10)
100,0
14,3
9,5
3,7
3,5
63,7
4,2
4,7
3,7
3,0
34,2
5,5
5,6
2,8
2,1
55,7
3,8
3,4
3,2
3,4
62,0
8,0
4,0
3,0
3,0
41,7
4,8
4,0
3,0
2,8
7
Entre as doses do fungicida fluquinconazole (320 a 480 g),
8
a variação existente não chegou a ser significativa, embora se tenha
9
observado que as doses maiores tenderam a apresentar melhor
10
controle da moléstia (menor AACPF). Considerando-se a média das
68
1
diferentes doses e sua diferença em relação à testemunha, o tratamento
2
de sementes reduziu a AACPF em 62% e aumentou o rendimento de
3
grãos em 23%.
4
5
6
7
8
Tabela 2. Taxa de progresso diário (rL) área abaixo da curva de
progresso da ferrugem (AACPF), rendimento de grãos,
peso do hectolitro (PH) e peso de mil grãos (PMG) de
aveia em função do tratamento de sementes com o
fungicida fluquinconazole. FAMV/UPF, 2000
Fungicidas e doses
(pc/100 kg)
9
10
11
rL
(unid/dia)
AACPF
(unid)
Rendimento
(Kg. ha-1)
PH
(g/100 L)
PMG
(g)
Testemunha
0,47
11,7
2585
41,3
21,8
Fluquinconazole 320
0,20
7,4
3561
46,8
23,7
Fluquinconazole 360
0,17
4,0
3050
44,4
23,5
Fluquinconazole 400
0,17
4,0
3002
43,9
22,5
Fluquinconazole 440
0,18
5,1
3212
42,6
23,3
Fluquinconazole 480
0,14
1,6
3117
46,0
23,2
1
0,0001
0,0001
0,043
0,007
0,268
P
1
Para comparação entre testemunha e fluquinconazole; entre doses do fungicida, a
variação não foi significativa por análise de regressão.
12
A aplicação do fungicida em parte aérea (Tabela 3) também
13
controlou a ferrugem e aumentou o rendimento de grãos
14
significativamente. A taxa média de progresso da moléstia, por
15
exemplo, foi de 0,11 unidades/dia nas plantas tratadas contra 0,32 nas
16
sem fungicida. A AACPF média, por sua vez, foi 94% menor nas
17
plantas com fungicida. O controle da ferrugem manteve o rendimento
18
médio de grãos por hectare em 1586 kg (4380 – 2794) acima da
19
testemunha e impediu que o PH fosse mais reduzido pela moléstia.
20
Também para a aplicação em parte aérea não houve diferenças
69
1
significativas entre os esquemas utilizados, os quais envolveram doses
2
diferenciadas na primeira aplicação.
3
4
5
6
7
8
9
Tabela 3. Taxa de progresso diário (rL), área abaixo da curva de
progresso da ferrugem (AACPF), rendimento de grãos,
peso do hectolitro (PH) e peso de mil grãos (PMG) de
aveia em função do tratamento de sementes
(fluquinconazole) e de parte aérea (propiconazole +
ciproconazole), com diferentes doses de fungicida.
FAMV/UPF, 2000
rL
Fungicidas
(pc/ha)
(unid/dia)
Semente não tratada
Testemunha
0,47
AACPF
(unid)
PH
Rendimento
(Kg. ha-1)
(g. 100 L-1)
PMG
(g)
11,67
2585
41,3
21,8
75
0,13
0,50
4041
50,0
25,9
150
0,12
0,34
4316
51,2
27,2
225
0,11
0,43
4433
52,0
26,2
300
0,10
0,42
4303
53,0
27,6
Médias
0,19
2,67
3936
49,5
25,7
Semente tratada (400 g pc/100 kg)
10
11
12
Testemunha
0,17
3,96
3002
43,9
22,5
75
0,11
0,47
4363
51,9
28,2
150
0,10
0,41
4617
52,1
29,5
225
0,10
0,38
4553
50,8
27,5
300
0,10
0,41
4415
50,7
28,2
Médias
0,12
1,13
4190
49,9
27,2
P1
0,0001
0,0001
0,286
0,633
0,515
1
Para interação tratamento de semente × parte aérea. Variações entre doses de
fungicida não significativas por análise de regressão.
13
A interação entre o tratamento de sementes e o de parte
14
aérea foi significativa para as variáveis taxa de progresso da ferrugem
15
e AACPF, significando que o controle desempenhado pelo último foi
16
otimizado pelo tratamento das sementes.
70
1
Ano 2001
2
Em 2001 (Tabela 4), a ferrugem da folha ocorreu mais
3
cedo e teve um desenvolvimento inicial mais rápido que aquele
4
observado em 2000.
5
severidade foi realizada 35 dias antes em 2001 (13/8) que em 2000
6
(17/9).
7
8
9
10
Tabela 4. Severidade inicial (yi) e final (yf), taxa de progresso (rL) e
área abaixo da curva de progresso da ferrugem (AACPF) da
folha da aveia em função do tratamento de sementes com
fungicida. FAMV/UPF, 2001
Fungicidas
11
12
13
14
15
16
Exemplificando, a primeira avaliação de
G PC/
100 kg
yi
(%)
yf
(%)
rL1
(unid/dia)
AACPF 2
(unid)
Testemunha
0,50
24,2
0,17
6,4
Fluquinconazole
320
0,02
8,1
0,26
3,2
Fluquinconazole
360
0,02
8,6
0,26
3,5
Fluquinconazole
400
0,02
8,5
0,26
3,6
Fluquinconazole
440
0,01
5,8
0,27
3,0
Fluquinconazole
480
0,01
6,6
0,27
3,0
Triadimenol
270
0,04
10,2
0,25
3,7
1
Não significativo por análise de regressão das doses de fluquinconazole ou por
contrastes ortogonais entre testemunha e tratamentos.
2
Significativo para os contrastes ortogonais testemunha × fluquinconazole (P =
0,021) e testemunha × triadimenol (P = 0,039); não significativo para análise de
regressão das doses de fluquinconazole.
17
Nas plantas de sementes não tratadas, a severidade já era de
18
24,2% em 7/9. As temperaturas ocorridas em 2001 foram mais
19
elevadas que em 2000 (Embrapa Trigo, 2001), o que favoreceu o
20
aparecimento mais precoce da moléstia.
21
Novamente a quantidade total de ferrugem (AACPF)
71
1
(Tabela 4) foi reduzida significativamente pelo tratamento de
2
sementes com fluquinconazole (P = 0,021) ou triadimenol (P = 0,038).
3
Neste caso, porém, a taxa de progresso da moléstia não diferiu entre
4
tratamentos e testemunha, sendo as diferenças em AACPF atribuídas
5
às variações na quantidade inicial da moléstia. Não houve diferenças
6
significativas entre fungicidas ou entre doses do fluquinconazole.
7
Com a destruição das plantas ocorrida em 9/9/01, as avaliações foram
8
encerradas, razão pela qual não são apresentados resultados relativos
9
ao tratamento em parte aérea.
10
11
12
DISCUSSÃO
O tratamento de sementes exerceu efeito diferenciado sobre
13
as epidemias da ferrugem da folha.
Em 2000, o tratamento
14
determinou um progresso mais lento da moléstia, evidenciado por
15
taxas diárias significativamente menores. Em 2001, possivelmente
16
porque a ferrugem ocorreu mais cedo, verificou-se redução da
17
intensidade inicial da moléstia, que variou de 0,5%, na testemunha,
18
para 0,01 a 0,04% nas plantas de sementes tratadas. Em trabalhos
19
anteriores (Forcelini et al., 1999; Martinelli, 1996; Martinelli &
20
Roesch, 1999; Michel et al., 1998), apenas a redução da taxa de
21
progresso da moléstia tinha sido observada.
72
1
Embora ambos os efeitos sobre a epidemia sejam desejáveis
2
do ponto de vista do seu manejo, a redução da intensidade inicial da
3
moléstia pode ter um impacto menor, uma vez que o progresso futuro
4
da mesma pode compensar esta diferença.
5
plantas oriundas de sementes tratadas apresentaram taxas maiores
6
(média de 0,26) que a da testemunha sem fungicida (0,17 unidade).
7
Plaut & Berger (1981) observaram comportamento semelhante em
8
outras moléstias policíclicas, como a ferrugem do feijoeiro, a mancha-
9
parda do amendoim e a podridão por Botrytis em begônia, e
10
atribuíram o rápido aumento da epidemia à maior quantidade de sítios
11
sadios disponíveis para infecção nas plantas com menor intensidade
12
de moléstia.
13
necessária a complementação do tratamento de sementes com o de
14
parte aérea.
De fato, em 2001, as
Por esse motivo, em cultivares suscetíveis, torna-se
15
A menor diferença em rendimento de grãos, atribuída ao
16
tratamento de sementes, foi de 417 kg. ha-1 (3002 para 2585 kg. ha-1).
17
Isso corresponde a um valor aproximado de R$ 50, se considerado o
18
preço de R$ 0,12 por quilo de grão de aveia. Dessa forma, se o custo
19
do tratamento de sementes for inferior a este valor, esta estratégia de
20
controle pode tornar-se técnica e economicamente vantajosa ao
21
produtor de grãos de aveia.
Além disso, em cultivares menos
73
1
suscetíveis à ferrugem da folha, é possível que o tratamento de
2
sementes possa ser suficiente para um controle satisfatório da
3
moléstia.
4
Em função do número menor de infecções, o tratamento de
5
sementes otimiza o desempenho do fungicida aplicado em parte aérea,
6
promovendo melhor controle da ferrugem. Exemplificando, na
7
comparação entre as doses de fungicida aplicados em parte aérea, a
8
diferença em rendimento de grãos entre a menor e a maior dose foi de
9
262 kg. ha-1 na condição sem tratamento de sementes e de 52 kg. ha-1
10
na condição com tratamento.
Isso significa que o menor
11
desenvolvimento inicial da ferrugem da folha, promovido pelo
12
tratamento de sementes, pode flexibilizar a aplicação em parte aérea,
13
permitindo a sua realização com menor quantidade de produto ou
14
alguns dias mais tarde em relação a uma situação sem tratamento de
15
sementes. Na combinação de tratamento de sementes mais o de parte
16
aérea, o rendimento de grãos foi 1902 kg. ha-1 superior ao da
17
testemunha.
18
O tratamento de sementes com fluquinconazole foi
19
recentemente avaliado por Picinini & Fernandes (2001) em trigo. Aos
20
104 dias após a semeadura, os autores verificaram que a severidade da
21
ferrugem da folha era ≤ 18% nas plantas de sementes tratadas com o
74
1
fungicida e ≥ 62% em outros tratamentos comparativos. Ainda, as
2
diferenças em rendimento de grãos variaram de 749 a 1426 kg. ha-1 a
3
mais que o tratamento testemunha.
4
Os resultados obtidos nos trabalhos em aveia não são tão
5
expressivos como os relatados em trigo, porém indicam o potencial do
6
tratamento de sementes como uma estratégia para controle da
7
ferrugem, especialmente dentro de um sistema de manejo integrado da
8
moléstia, visando à obtenção de altos rendimentos de grãos.
75
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
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76
1
2
3
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1
2
3
4
5
6
CAPÍTULO IV
7
8
MISTURA DE CULTIVARES DE AVEIA PARA O CONTROLE
9
DA FERRUGEM DA FOLHA
10
11
Laudir J. Ballico, Carlos A. Forcelini & Elmar L. Floss
12
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de
13
Passo Fundo, Caixa Postal 611, 99001-970, Passo Fundo, RS.
14
15
RESUMO
16
Como uma alternativa não química para o controle da
17
ferrugem da folha em cultivares de aveia suscetíveis à moléstia,
18
misturas de cultivares foram avaliadas em dois experimentos
19
conduzidos na FAMV/UPF, em 2000 e 2001.
20
cultivares OR 2, UPF 16, UFRGS 14 e UFRGS 15, puros ou em
21
combinações de três ou quatro. Quanto ao controle da ferrugem e ao
Utilizaram-se os
79
1
rendimento de grãos, as misturas mostraram-se vantajosas em relação
2
ao cultivo puro de cultivares muito suscetíveis, como o UPF 16 (2000
3
e 2001) e o UFRGS 14 (2000). A maior parte deste efeito esteve
4
associada à inclusão do cultivar OR 2, que foi menos suscetível à
5
moléstia. O sucesso desta estratégia de controle mostra-se limitado
6
pelo pouco conhecimento das raças do patógeno ocorrentes na região
7
e dos genes de resistência presentes nos cultivares disponíveis.
8
ABSTRACT
9
10
As an attempt to control crown rust in susceptible oats,
11
cultivar mixes were evaluated in two field experiments carried out at
12
the FAMV/UPF, in 2000 and 2001. The oat cultivars OR 2, UPF 16,
13
UFRGS 14, and UFRGS 15 were cropped alone or in combinations of
14
three or four. The cultivar mixes increased disease control and grain
15
yield over very susceptible cultivars such as UPF 16 (2000 and 2001)
16
and UFRGS 14 (2000).
17
inclusion of the cultivar OR 2, which is less susceptible to crown rust.
18
The success of the cultivar mixes as a strategy for crown rust control
19
has been limited by the lack of information on the prevalent pathogen
20
races and the genes for resistance carried by the available oat
21
cultivars.
Most of these effects were due to the
80
INTRODUÇAO
1
A ferrugem da folha da aveia, causada pelo fungo Puccinia
2
3
coronata
f.sp.
avenae,
tem
sido
responsável
por
prejuízos
4
significativos ao rendimento e à qualidade de grãos. Sob condições
5
climáticas favoráveis à ocorrência da moléstia, cultivares suscetíveis
6
podem ter seu rendimento reduzido de 50% (Martinelli et al., 1994) a
7
95% (Forcelini et al., 1999).
8
Atualmente, a maioria dos cultivares, em maior ou menor
9
grau, é suscetível à ferrugem da folha (Comissão, 2000). Esse fato
10
decorre da presença de várias raças do patógeno no sul da América do
11
Sul, as quais têm sobreposto os genes de resistência dos cultivares
12
(Martinelli et al., 1998). Por esse motivo, o controle da ferrugem da
13
folha requer o uso sistemático de fungicidas em uma ou duas
14
aplicações por safra (Forcelini & Reis, 1997).
15
Uma alternativa para estabilizar a produção de grãos de
16
aveia, sem o uso de fungicidas, seria o uso de populações
17
heterogêneas, principalmente na forma de mistura de cultivares com
18
genes de resistência distintos. Segundo Van Der Plank (1968),
19
misturas de cultivares reduzem a quantidade de doença por i) diluir a
20
quantidade de hospedeiro suscetível a uma determinada raça do
21
patógeno, ii) formar uma barreira à disseminação do inóculo entre
81
1
hospedeiros geneticamente distintos e iii) permitir a ocorrência de
2
interações entre genótipos diferentes do patógeno com a planta.
3
O uso de misturas de cultivares não é novo em agricultura.
4
Nos Estados Unidos, alguns experimentos datam do início do século
5
XX (Warburton, 1915), ao passo que, em outros países, misturas são
6
sistemas tradicionais na agricultura (Wolfe, 1985b). Misturas de
7
cultivares têm sido objeto de estudo em arroz (Chin & Husin, 1982;
8
Jennings & Jesus, 1968), aveia (Eichler et al., 1989 e 1991; Jensen,
9
1952; Mahamood et al., 1991; Martinelli & Buss, 1999; Mundt &
10
Leonard, 1985; Shorter & Frey, 1979; Michel et. al., 1997 e 1998),
11
cevada (Abbott et al., 2000; Clay & Allard, 1969; Chin & Wolfe,
12
1984; Dreiseitl, 1998; Hengstmann, 1987; Wolfe & Barrett, 1976) e
13
trigo (Akanda & Mundt, 1996 e 1997; Alexander et al., 1986; Baker,
14
1977; Finckh & Mundt, 1992; Mundt et al., 1996; Ram et al., 1989;
15
Sharma & Dubin, 1996; Walsh & Noonan, 1998).
16
No Brasil, os primeiros trabalhos com misturas de cultivares
17
de aveia foram realizados por Eichler et al. (1989 e 1991). Os autores
18
não obtiveram resultados consistentes, o que foi atribuído à estreita
19
base
20
Posteriormente, Michel et al. (1998) realizaram estudos combinando
21
misturas de cultivares com o tratamento de sementes com fungicidas
genética
dos
cultivares
componentes
das
misturas.
82
1
sistêmicos de longo efeito residual. Dependendo da mistura, o tempo
2
requerido para a ferrugem da folha atingir 5% de severidade variou de
3
nove (sem tratamento de sementes) a 13 dias (com tratamento).
4
A composição genética das misturas possui um papel
5
importante no seu desempenho. Martinelli (1990) sugere que misturas
6
nas quais os componentes são suscetíveis à maioria dos isolados, ou
7
dividem os mesmos genes de resistência, provavelmente possuirão
8
pouco efeito. Por outro lado, misturas nas quais os componentes
9
possuem diferentes genes do tipo "cultivar-específico", escolhidos de
10
acordo com o conhecimento da dinâmica da população do patógeno,
11
serão mais estáveis no controle da moléstia e no aumento do
12
rendimento de grãos.
13
Embora a ocorrência de raças diferentes do patógeno e a
14
dificuldade de se encontrar cultivares com características agronômicas
15
semelhantes representem adversidade à utilização dessa técnica
16
(Martinelli & Buss, 1999), a obtenção de misturas compatíveis e
17
eficazes pode promover a estabilização da cultura frente à moléstia,
18
principalmente em cultivos nos quais o uso de fungicidas não é
19
desejável.
20
desenvolvidos, o que representa possibilidades adicionais para o
21
estudo de misturas. Por esse motivo, em 2000 e 2001, experimentos
Nos últimos anos, novos cultivares de aveia foram
83
1
foram conduzidos na FAMV/UPF para avaliar o potencial de misturas
2
de cultivares de aveia no controle da ferrugem da folha.
3
4
MATERIAL E MÉTODOS
5
Os experimentos foram conduzidos em 2000 e 2001 no
6
campo experimental da FAMV/UPF, sob condições de semeadura
7
direta e rotação de culturas com trigo ou cevada. O delineamento
8
experimental constou de parcelas casualizadas em blocos, com quatro
9
repetições, sendo cada parcela constituída de cinco linhas de 5 m,
10
distanciadas entre si por 0,2 m. A semeadura ocorreu em 22/6 (2000)
11
e 8/6 (2001), sendo utilizadas sementes tratadas com o inseticida
12
tiametoxam (Cruiser®) (12,5 a 17,5 g i.a./100 kg de sementes). A
13
adubação de semeadura e a de cobertura foram realizadas conforme
14
indicações para a cultura da aveia (Comissão..., 2000).
15
Os dez tratamentos avaliados corresponderam aos cultivares
16
1. UPF 16, 2. UFRGS 14, 3. OR 2 e 4. UFRGS 15, bem como às
17
misturas 5. UPF 16 + OR 2 + UFRGS 14, 6. UPF 16 + OR 2 +
18
UFRGS 15, 7. UPF 16 + UFRGS 14 + UFRGS 15, 8. OR 2 + UFRGS
19
14 + UFRGS 15, 9. UPF 16 + OR 2 + UFRGS 14 + UFRGS 15 e 10.
20
UPF 16 + OR 2 + UFRGS 14 + UFRGS 15. O tratamento 10 foi
21
submetido a aplicações dos fungicidas propiconazole + ciproconazole
84
1
(Artea) (75 + 24 mL i.a. ha-1), sendo duas em 2000 (16/9 e 7/10) e
2
uma em 2001 (30/8).
3
A severidade da ferrugem da folha foi determinada a partir
4
de amostras de folhas coletadas em cinco plantas por parcela, em 20/9,
5
28/9, 5/10 e 19/10/2000, e 15/8, 22/8, 1/9 e 7/9/2001. Utilizou-se a
6
escala diagramática disponível em Calpouzos et al. (1976). Os dados
7
de severidade foram utilizados para determinar a taxa de progresso da
8
epidemia (rL) (Berger. 1988) e a área abaixo da curva de progresso da
9
ferrugem (AACPF) (Campbell & Madden, 1990). Após a colheita
10
(15/11/2000), os grãos foram desaristados, limpos e pesados para
11
determinação do seu rendimento, peso do hectolitro (PH) e peso de
12
mil grãos (PMG).
13
submetidas à análise de variância e à comparação de médias pelo teste
14
de Tukey a 5% de significância.
As variáveis de doença e rendimento foram
15
RESULTADOS
16
17
Ano 2000
18
A ocorrência da ferrugem da folha foi intensa em 2000. A
19
severidade (Tabela 1) da moléstia variou de 0,02% em 20/9 a 67% em
20
19/10, resultando em taxas de progresso diário de até 0,291
21
unidades/dia.
Individualmente, os cultivares de aveia diferiram
85
1
quanto à intensidade de ferrugem (P ≤ 0,05). A taxa de progresso da
2
epidemia (rL) (Tabela 1) apresentou variação de 0.291 (UFRGS 15) a
3
0.263 (UFRGS 14), 0.260 (UPF 16) e 0.195 (OR 2), sendo a taxa do
4
cultivar OR 2 menor, estatisticamente, que as dos demais. A mistura
5
dos cultivares UPF 16, OR 2 e UFRGS 15 reduziu o progresso da
6
moléstia em relação aos cultivares UPF 16 e UFRGS 15, mas não em
7
relação aos demais (UFRGS 14 e OR 2).
8
A AACPF (Tabela 1) variou de 1,12 (OR 2) a 4,93 (UFRGS
9
15), 7,71 (UFRGS 14) e 9,08 (UPF 16) unidades e diferiu
10
significativamente entre cultivares. O cultivar OR 2 demonstrou ser o
11
menos suscetível, tendo apresentado AACPF igual à mistura dos
12
quatro cultivares que foi submetida a duas aplicações de fungicida.
13
Comparativamente aos cultivos puros de UPF 16 e UFRGS 14, as
14
misturas de cultivares reduziram a AACPF significativamente, o que
15
não ocorreu em relação ao UFRGS 15 e ao OR 2.
16
O rendimento de grãos (Tabela 2) foi baixo (1125 kg. ha-1)
17
em materiais suscetíveis, como o UPF 16, e máximo (2710 kg. ha-1)
18
no tratamento que envolveu aplicações de fungicida. A redução de
19
1585 kg. ha-1 no rendimento de grãos representa boa parte do dano
20
quantitativo
21
Individualmente, o cultivar OR 2 apresentou rendimento (2479 kg. ha-
associado
com
a
ocorrência
da
ferrugem.
86
1
1
2
3
4
5
Tabela 1. Severidade inicial (yi) e final (yf), taxa diária de progresso
(rL) e área abaixo da curva de progresso da ferrugem da
folha (AACPF) em cultivos puros ou mistos de aveia.
FAMV/UPF, 2000
6
7
8
9
) superior ao dos demais (1125 a 1890 kg. ha-1).
Cultivares ou misturas
yi
(%)
yf
(%)
rL
(unid/dia)
AACPF
(unid)
UPF16
0,11
67,0
0,260 abc1
9,08 a
UFRGS14
0,11
67,0
0,263 ab
7,71 b
UPF16-OR2-UFRGS14
0,08
56,0
0,254 abc
6,25 c
UPF16-UFRGS14-UFRGS15
0,09
47,0
0,241 abc
6,07 c
UFRGS15
0,02
44,0
0,291 a
4,93 d
OR2-UFRGS14- UFRGS15
0,05
38,0
0,250 abc
4,56 d
UPF16-OR2-UFRGS14- UFRGS15
0,09
43,0
0,241 abc
4,52 d
UPF16-OR2-UFRGS15
0,08
23,0
0,208 bcd
2,47
e
OR2
0,04
9,0
0,195
cd
1,12
f
UPF16-OR2-UFRGS14-UFRGS15-F*
0,04
3,0
0,152
d
0,34
f
C.V. (%)
11,83
9,23
1
Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si por Tukey a 5% de
significância.
* Fungicida
10
A mistura dos cultivares UPF 16, OR 2 e UFRGS 14
11
apresentou rendimento de grãos estatisticamente semelhante ao do
12
tratamento com aplicação de fungicida.
13
O peso de mil grãos (PMG) (Tabela 2) variou em função do
14
cultivar, da combinação de cultivares e da aplicação de fungicida.
15
Entre cultivares, o PMG foi menor no OR 2 (18,1 g) e maior no
16
UFRGS 14 (26,7 g). As misturas que envolveram este último cultivar
17
também tenderam a apresentar PMGs maiores. As duas aplicações de
87
1
fungicida na combinação de UPF 16, OR 2, UFRGS 14 e UFRGS 15
2
elevaram o PMG em 5 g.
3
influenciado apenas pelo uso do fungicida. Na ausência deste, o PH
4
não diferiu significativamente entre os cultivares e suas diferentes
5
misturas.
6
7
8
Tabela 2.
O peso do hectolitro (Tabela 2) foi
Rendimento, peso do hectolitro (PH) e peso de mil grãos
(PMG) a partir de cultivos puros ou mistos de aveia.
FAMV/UPF, 2000
Rendimento
(Kg. ha-1)
2710 a1
2479 abc
PMG
(g)
26,8 abcd
18,1 abcd
PH
(kg.100 L-1)
48,3 a
40,8 b
UPF16-OR2- UFRGS14
2298 abc
22,0 abcd
39,9 b
OR2-UFRGS14-UFRGS15
2218 abc
22,3 abcd
37,6 b
UPF16-OR2-UFRGS14-UFRGS15
1964 abc
21,8 abcd
40,2 b
UPF16-UFRGS14-UFRGS15
1941 abc
24,3 abcd
38,9 b
UPF16-OR2-UFRGS15
1927 abc
21,3 abcd
37,5 b
UFRGS14
1890 abc
26,7 abcd
36,3 b
UFRGS15
1703 abc
21,9 abcd
36,4 b
UPF16
1125
20,3 abcd
34,1 b
Cultivares ou misturas
UPF16-OR2-UFRGS14-UFRGS15-F*
OR2
d
9
10
11
C.V. (%)
14,8
6,4
7,7
1
Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si por Tukey a 5% de
significância.
* = Fungicida
12
13
Ano 2001
14
Em 2001 (Tabela 3), a ferrugem da folha ocorreu mais cedo
15
(15/8) e desenvolveu uma severidade máxima de 23,7% em 7/9,
16
quando as avaliações foram encerradas em razão da destruição das
17
plantas por chuva de granizo, que ocorreu em 9/9. Em função do curto
88
1
período de avaliação, a AACPF máxima atingiu 2,77 unidades, apesar
2
de as taxas de progresso da moléstia terem sido elevadas (0,19 a 0,371
3
unidades/dia).
4
5
6
7
Tabela 3. Severidade inicial e final, taxa diária de progresso e área
abaixo da curva de progresso da ferrugem da folha
(AACPF) em cultivos puros ou mistos de aveia.
FAMV/UPF, 2001
8
9
10
11
Cultivar ou mistura
yi
(%)
yi
(%)
rL
(unid/dia)
UPF 16
0,48
23,7 0,234abcd1 2,77 abcdef
AACPF
(unid)
UPF 16 - UFRGS 14 - UFRGS 15
0,06
16,3
0,319 abcd
1,96 abcdef
UPF 16 - OR 2 - UFRGS 14 -UFRGS 15
0,04
17,8
0,366 abcd
1,77 abcdef
UFRGS 15
0,38
10,3
0,191 abcd
1,51 abcdef
UPF 16 - OR 2 - UFRGS 14
0,15
15,2
0,268 abcd
1,34 abcdef
UFRGS 14
0,03
16,4
0,371 abcd
1,23 abcdef
UPF 16 - OR 2 - UFRGS 15
UPF 16-OR 2-UFRGS 14-UFRGS 15–F*
OR 2 - UFRGS 14 - UFRGS 15
0,35
0,30
0,06
09,3
10,8
07,4
0,190 abcd
0,206 abcd
0,276 abcd
1,06 abcdef
1,03 abcdef
0,96 abcdef
OR2
0,01
02,0
0,293 abdd 0,28 abcdef
CV (%)
8,17
13,90
1
Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si por Tukey a 5% de
significância.
*F = Fungicida
12
Os resultados obtidos em 2001 foram semelhantes aos do
13
ano anterior, com a AACPF sendo maior no cultivar UPF 16 e menor
14
no OR 2. As misturas envolvendo este cultivar tenderam a apresentar
15
menor AACPF e, com exceção da com quatro cultivares, não
16
diferiram do tratamento que envolveu o uso de fungicida.
17
89
DISCUSSÃO
1
2
As misturas de cultivares testadas em 2000 e 2001
3
mostraram-se vantajosas (AACPFs menores) apenas em relação a
4
materiais altamente suscetíveis, como o UPF 16 (2000 e 2001) e o
5
UFRGS 14 (2000). Grande parte deste efeito deveu-se à inclusão, nas
6
misturas, do cultivar OR 2, que demonstrou ser o menos suscetível à
7
ferrugem da folha.
8
compartilhar de uma mesma base genética para resistência à moléstia,
9
o que poderia explicar o pequeno efeito das populações heterogêneas,
10
como já salientado por Eichler et al. (1989 e 1991) e Martinelli
11
(1990). Nesse sentido, o sucesso de estratégias de controle como
12
essas depende da identificação das principais raças que ocorrem na
13
região e da obtenção de cultivares com genes diferentes para
14
resistência a estas raças. Porém, um fator que deve ser considerado é
15
se esses genes estão em cromossomos separados ou no mesmo grupo
16
de ligação. Neste caso, deve ser considerado a distância gênica a qual
17
influenciará a porcentagem de recombinação génica (Ramlho et. al.,
18
2000)
Exceto este cultivar, os demais parecem
19
Segundo Mundt & Leonard (1986), o efeito das misturas
20
sobre a intensidade de uma moléstia é proporcional à participação do
21
cultivar resistente, quando for o caso.
Assim, misturas com três
90
1
cultivares seriam preferíveis àquelas com quatro, uma vez que a
2
participação do material resistente seria de 33,3% no primeiro e de
3
25% no segundo esquema de combinação. Considerando-se a AACPF,
4
os resultados obtidos em 2001 corroboram essa tendência, o que não
5
ocorreu em 2000, quando duas misturas com três cultivares tiveram
6
desempenho inferior à de quatro materiais. Possivelmente, além da
7
fração correspondente ao cultivar resistente, há de se considerar
8
também a heterogeneidade promovida pelos demais materiais
9
integrantes das misturas. Esse comportamento parece estar em acordo
10
com o que afirmam Browing & Frey (1969), segundo os quais a
11
redução na intensidade da moléstia em uma mistura é maior que a
12
proporção do material resistente presente na mesma.
13
Analisando-se em conjunto as taxas de progresso da
14
ferrugem e as AACPFs, verifica-se que, em 2000, AACPFs menores
15
corresponderam a taxas também menores. Já, em 2001, ocorreram
16
interações diferenciais entre as variáveis, com alguns cultivares ou
17
misturas apresentando AACPFs baixas, com taxas altas. Neste caso, é
18
possível que o efeito de barreira tenha interferido apenas na infecção
19
inicial (aloinfecção), não exercendo efeito sobre os ciclos secundários
20
(auto-infecção) da ferrugem, que determinaram rápido progresso da
21
moléstia e as respectivas taxas elevadas. Contudo, Zadoks & Schein
91
1
(1979) afirmam que o efeito de barreira das multilinhas ou misturas de
2
cultivares reduz tanto a aloinfeção quanto a auto-infeção.
3
Apesar dos resultados pouco satisfatórios obtidos com as
4
misturas testadas, a sua utilização pode representar uma alternativa
5
para a produção de grãos de aveia sem o uso de fungicidas, em razão
6
do custo ou da opção por cultivos orgânicos, por exemplo. Caso
7
sejam conhecidas as raças de P. coronata predominantes na região e
8
identificados genes de resistência, levando-se em conta a distância
9
gênica dos mesmos nos cultivares, torna-se possível compor misturas
10
com maior diversidade genética e, certamente, mais eficazes.
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7
CAPÍTULO V
8
9
CARACTERIZAÇÃO DE GENÓTIPOS DE AVEIA QUANTO A
10
COMPONENTES DE RESISTÊNCIA PARCIAL À
11
FERRUGEM DA FOLHA
12
13
Laudir J. Ballico, Carlos A. Forcelini & Elmar L. Floss
14
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de
15
Passo Fundo, Caixa Postal 611, 99001-970, Passo Fundo, RS.
16
17
RESUMO
18
Em experimentos conduzidos na FAMV/UPF, em 2000 e
19
2001, genótipos de aveia foram analisados quanto à presença de
20
componentes de resistência parcial à ferrugem da folha, causada pelo
21
fungo Puccinia coronata f.sp. avenae. Inicialmente, 36 (2000) e 28
22
(2001) genótipos foram caracterizados em relação ao tempo (ti), em
98
1
dias para o aparecimento da ferrugem, a severidade inicial (yi) e final
2
(yf), a taxa de progresso da moléstia (rL), a área abaixo da curva de
3
progresso da ferrugem (AACPF), a área (AP) e o número de pústulas
4
(NP) por centímetro quadrado, assim como o número de uredósporos
5
por pústula (NEP). Em câmara de crescimento, os genótipos foram
6
inoculados com suspensões mistas de esporos coletados no campo e
7
avaliados quanto à AP, NP, NEP e à duração do período latente (PL).
8
A média e a amplitude de variação para NP, AP e NEP foram 3,33
9
(0,32 a 8,86), 0,47 (0,25 a 0,80) e 555 (29 a 1649) em 2000; 2,06
10
(0,21 a 4,99), 0,30 (0,06 a 0,50) e 668 (96 a 4412) em 2001,
11
respectivamente. Em câmara de crescimento, o NP médio foi 2,22
12
(0,6 a 5,53); a AP, 0,33 (0,16 a 0,57); o NEP, 320 (108 a 590) e o PL,
13
8,37 (7,50 a 9,50). Os resultados obtidos indicam a existência de
14
variabilidade genética para os componentes de resistência, embora
15
apenas
16
significativamente com a AACPF. Alguns materiais apresentaram
17
AACPF variável em 2000 e 2001, ao passo que os genótipos UPF 14,
18
UPF 92122, UPF 92156 e UPF 94235 apresentaram intensidade de
19
ferrugem baixa em ambos os anos, o que pode indicar resistência
20
estável à ferrugem da folha.
21
o
número
de
pústulas
tenha
se
correlacionado
99
1
ABSTRACT
2
In experiments carried out at the FAMV/UPF, in 2000 and
3
2001, oat genotypes were evaluated regarding the presence of
4
components of partial resistance to crown rust, caused by the fungus
5
Puccinia coronata f.sp. avenae. Initially, 36 (2000) and 28 (2001)
6
genotypes were characterized according to the time for epidemic onset
7
(ti), the initial (yi) and final (yf) disease severity, the epidemic rate
8
(rL), the area under the disease progress curve (AACPF), the area
9
(AP) and the number of pustules (NP) per square centimeter, as well
10
as the number of uredospores per pustule (NEP). In the growth
11
chamber, the oat genotypes were inoculated with a mix of uredospores
12
collected in the field and evaluated regarding the AP, NP, NEP, and
13
the duration of the latent period (PL) for the disease. The mean and
14
the range values for NP, AP, and NEP were 3.33 (0.32 to 8.86), 0.47
15
(0.25 to 0.80), and 555 (29 to 1649) in 2000, 2.06 (0.21 to 4.99), 0.30
16
(0.06 to 0.50), and 668 (96 to 4412) in 2001, respectively. In the
17
growth chamber, the mean NP was 2.22 (0.60 to 5.53), the AP 0.33
18
(0.16 to 0.57), the NEP 320 (108 to 590), and the PL 8.37 (7.50 to
19
9.50). These results may indicate the presence of genetic variability
20
for the various resistance components, although only the number of
21
pustules provided significant correlation with AACPF. While some
100
1
materials showed variable AACPF in 2000 and 2001, the genotypes
2
UPF 14, UPF 92122, UPF 92156, and UPF 94235 presented low
3
disease values in both years, which may indicate the presence of
4
partial resistance to crown rust.
5
6
INTRODUÇÃO
7
A ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia coronata
8
f.sp. avenae, é a moléstia mais prejudicial à cultura de aveia no sul do
9
Brasil. Em condições climáticas favoráveis à ocorrência da ferrugem,
10
cultivares suscetíveis podem ter sua produtividade reduzida de 50%
11
(Martinelli et al., 1994) a 95 % (Forcelini et al., 1999). Atualmente, a
12
maioria dos cultivares, em maior ou menor grau, é suscetível à
13
ferrugem da folha (Comissão...., 2000).
14
A suscetibilidade dos genótipos de aveia decorre da grande
15
variabilidade do patógeno no sul da América do Sul, a qual se
16
manifesta através de várias raças, que sobrepõem os genes maiores de
17
resistência, a partir do uso comercial dos cultivares (Federizzi &
18
Stuthman, 1998; Martinelli et al., 1998). A utilização de genótipos
19
com resistência parcial, portanto, pode ser a alternativa para um
20
controle mais duradouro da ferrugem, visto que há variação entre
21
cultivares em condições de campo (Martinelli et al., 1998; Chaves et
101
1
al., 2001; Thomé et al., 1999). Porém, a obtenção desse tipo de
2
resistência é complexa e sofre alta influência do ambiente (Barbosa et
3
al., 2000).
4
Os principais componentes da resistência parcial estão
5
relacionados ao número e ao tamanho das lesões, à quantidade de
6
propágulos formados em cada lesão e à duração do período latente da
7
moléstia (Parlevliet, 1979). Epidemiologicamente, essas variáveis
8
agem sobre a intensidade inicial e a taxa de progresso diário da
9
moléstia, reduzindo a sua intensidade total. Através de simulação em
10
computador, verifica-se que aumentos na duração do período latente
11
produzem redução significativa no progresso da epidemia (C. A.
12
Forcelini1, comunicação pessoal).
13
Os genótipos selecionados a campo devem ser submetidos a
14
testes em condições controladas para avaliação dos componentes de
15
resistência, de maneira que a expressão da característica seja
16
confirmada. Desta forma, exclui-se a possibilidade de a resistência
17
observada a campo ser reflexo da baixa freqüência de raças virulentas
18
do patógeno (Chaves et al., 2001). Para Barbosa et al. (2000), no sul
19
do Brasil, onde as condições do ambiente são altamente propícias ao
20
desenvolvimento da moléstia, são ainda necessárias maiores
1
Forcelini, C. A. Professor de Fitopatologia da Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária/UPF.
102
1
informações a respeito dos fatores envolvidos na expressão da
2
resistência parcial.
3
Neste
trabalho,
teve-se
como
objetivo
avaliar
a
4
disponibilidade de resistência parcial à ferrugem da folha em
5
genótipos de aveia, através de inoculações controladas e sob
6
condições naturais de infecção no campo. Os materiais selecionados
7
poderão ser promovidos a experimentos em controle integrado da
8
ferrugem da folha, nos quais a resistência parcial pode ser combinada
9
com esquemas envolvendo o uso reduzido de fungicidas.
10
MATERIAL E MÉTODOS
11
12
Os
experimentos
foram
estabelecidos
no
campo
13
experimental da FAMV/UPF, em 2000 e 2001, sob semeadura direta
14
sobre restos culturais de soja, em área de rotação de culturas com trigo
15
ou cevada.
16
inteiramente casualizadas, constituídas de cinco (2001) ou dez linhas
17
(2000) de 5 m, distanciadas entre si por 0,2 m. A semeadura ocorreu
18
em 22/6 (2000) e 8/6 (2001), sendo utilizadas sementes tratadas
19
apenas com o inseticida tiametoxam (Cruiser®) (12,5 g i.a. em 2000;
20
17,5 g i.a./100 kg de sementes em 2001). As adubações de semeadura
21
e de cobertura foram realizadas conforme indicações para a cultura da
O delineamento experimental constou de parcelas
103
1
aveia (Comissão..., 2000).
2
Os tratamentos avaliados corresponderam aos genótipos de
3
aveia representados nas Tabelas 1 (2000) e 2 (2001). A severidade da
4
ferrugem da folha, a campo, foi determinada a partir de amostras de
5
folhas coletadas de cinco colmos por parcela, em 20/9, 28/9 e
6
5/10/2000, e 13/8, 21/8, 1/9 e 7/9/2001.
7
diagramática disponível em Calpouzos et al. (1976). Os dados de
8
severidade foram utilizados para determinar as intensidades inicial (yi)
9
e final (yf), a taxa de progresso da epidemia (rL) (Berger, 1988) e a
10
área abaixo da curva de progresso da ferrugem (AACPF), variável que
11
integraliza a intensidade da moléstia ao longo do período avaliado
12
(Campbell & Madden, 1990).
Utilizou-se a escala
13
Os quatro experimentos com inoculação controlada foram
14
conduzidos em casa-de-vegetação (dois) e câmara-de-crescimento
15
(dois), com plantas cultivadas em substrato de solo de lavoura, contido
16
em vasos plásticos com capacidade para três litros. Os vasos, cada
17
qual com cinco plantas, foram distribuídos ao acaso. A semeadura
18
ocorreu em 6/8, 6/9 e 17/10/01 (dois experimentos). Todas as
19
sementes foram tratadas com o inseticida tiametoxam (12,5 g i.a./100
20
kg de sementes). Os tratamentos avaliados corresponderam aos
21
genótipos de aveia representados na Tabela 2. A temperatura no
104
1
interior da casa-de-vegetação foi monitorada diariamente, através de
2
um termômetro de máxima e mínima, ao passo que a da câmara-de-
3
crescimento foi mantida constante a 22 ºC.
4
O inóculo misto utilizado nestes experimentos constou de
5
uredosporos coletados de folhas com pústulas, a partir dos 28
6
genótipos cultivados a campo em 2001. Após remoção com bomba de
7
vácuo, os esporos foram acondicionados em pequenos frascos de vidro
8
e armazenados em geladeira. Após as inoculações, realizadas em 9/10
9
(6000 esporos/mL), 17/10 (8000 esporos), 12/11 (22000) e 21/11
10
(14900), as plantas foram cobertas com sacos plásticos, para 24 horas
11
de câmara úmida. A duração do período latente da ferrugem foi
12
determinada a partir do surgimento da primeira pústula com esporos.
13
Dez dias após cada inoculação, quantificaram-se o número de pústulas
14
(NP) por centímetro quadrado, a área média das pústulas (AP) e o
15
número de esporos por pústula (NEP).
16
As variáveis NP, AP e NEP também foram quantificadas a
17
partir de folhas (bandeira) coletadas em cada genótipo, a campo, em
18
2000 e 2001. De cada amostra (genótipo), oito porções de folha, com
19
10 cm de comprimento, foram retiradas, lavadas, incubadas a 25 ºC
20
(24 horas) e lavadas novamente (100 mL de água destilada) para
21
obtenção de suspensões de esporos. As mesmas porções foram
105
1
avaliadas quanto ao número e ao tamanho das pústulas, utilizando-se
2
lupas de mão graduadas. Por último, determinou-se a área das porções
3
através de um medidor de área foliar digital.
4
Os resultados obtidos para cada variável foram comparados,
5
entre os genótipos, através de estatística simples, utilizando-se a
6
média e o desvio-padrão como parâmetros. Os componentes de
7
resistência (PL, NP, AM, e NEP) foram submetidos a análises de
8
correlação com os da epidemia (yi, yf, rL e AACPF).
9
RESULTADOS
10
11
Entre os 36 genótipos avaliados a campo em 2000 (Tabela
12
1), verificou-se grande variação para os componentes número de
13
pústulas (NP), área média da pústula (AP) e número de esporos por
14
pústula (NEP). Os valores médios foram 3,33 para NP, 0,47 mm2 para
15
AP e 555 para NEP. Para ambas as variáveis, alguns valores se
16
situam abaixo ou acima de um desvio-padrão da média, diferenciando
17
os materiais. O NEP apresentou a maior amplitude de variação, com
18
números de 29 a 1649 uredosporos. A partir da análise dos resultados
19
obtidos em 2000, alguns genótipos mais suscetíveis, como UPF 1, 4,
20
5, 13, 17, 92137-B, 93203 e 93204, foram suprimidos das avaliações
21
seguintes.
106
1
Em 2001 (Tabela 2), as avaliações a campo foram
2
realizadas mais cedo (13/8 a 7/9) e, talvez por isso, as médias para NP
3
(2,06) e AP (0,3) tenham sido menores que as observadas em 2000.
4
Contudo, o número de esporos por pústulas foi maior (668 vs. 555),
5
indicando, possivelmente, uma condição mais favorável à esporulação
6
do patógeno. Para um mesmo componente de resistência, verificou-
7
se, novamente, grande variação entre os genótipos.
8
A análise de correlação (Tabela 3) dos componentes de
9
resistência NP, AP e NEP com as variáveis epidêmicas yi, yf, rL e
10
AACPF, para 2000 e 2001, mostra que apenas o número de pústulas
11
por centímetro quadrado influenciou significativamente (P ≤ 0,05) a
12
intensidade da ferrugem.
13
correlação só foi significativa entre NP e NEP, e apenas no
14
experimento de 2000.
Entre os componentes de resistência, a
15
Sob condições controladas de inoculação (Tabela 4), avaliou-
16
se também a duração do período latente da ferrugem, ou seja, o
17
intervalo de tempo entre a inoculação e o aparecimento da primeira
18
pústula ativa (com uredosporos). O PL variou de 7,5 a 9,75 dias, com
19
média de 8,37. A área média da pústula e o número de esporos por
20
pústulas foram menores em relação aos observados a campo.
21
número de pústulas por centímetro quadrado foi o único componente
O
107
1
que apresentou variação significativa entre genótipos pelo teste de
2
Tukey. Neste aspecto, o UPF 16 foi mais suscetível que os genótipos
3
UPF 7, UPF 92137, UPF 94235, UPF 93AL204, UPF 6, UPF 86243,
4
UPF 92135, UPF 92153 e UPF 92156.
5
108
1
2
3
4
5
6
Tabela 1. Número de pústulas (NP), área média de pústula (AP),
número de esporos por pústula (NEP), severidade inicial
(yi) e final (yf), taxa de progresso (rL) e área abaixo da
curva de progresso da ferrugem da folha (AACPF) em
genótipos de aveia, sob infecção natural a campo.
FAMV/UPF, 2000
Genótipos
UPF 4
UPF93203
UPF93204
UPF5
UPF13
UPF1
UPF92152
UPF16
UPF17
UPF10
UPF8
UPF11
UPF20
UPF92137-B
UPF9
UPF92135
UPF6
UPF89AL186
UPF7
UPF92137
UPF2
UPF12
UPF92151
UPF15
UPF93AL204
UPF92134
UPF18
UPF3
UPF92150
UPF92153
UPF92122
UPF94235
UPF19
UPF92156
UPF14
UPF86246
Média
Média – DP (i)
Média + DP (s)
NP/
AP
cm2
(mm2)
6,36 s 0,45
8,86 s 0,40
7,68 s 0,40
2,59
0,40
5,74 s 0,80 s
5,33
0,40
0,82 i 0,40
4,50
0,40
5,54 s 0,65 s
2,64
0,40
5,86
0,40
2,18
0,40
2,90
0,50
5,00
0,45
3,95
0,45
5,18
0,40
1,37
0,45
1,84
0,60 s
3,66
0,45
4,10
0,45
1,55
0,80 s
1,72
0,80 s
2,08
0,45
5,10
0,25 i
2,48
0,40
3,17
0,40
1,69
0,45
1,44
0,40
1,27
0,40
1,02 i 0,40
1,78
0,40
1,22 i 0,40
4,71
0,60 s
1,91
0,45
1,77
0,55
1,04 i 0,40
3,33
0,47
1,27
0,35
5,39
0,59
NEP
(unid)
666
675
444
668
552
702
1580 s
475
587
822
29 i
371
1044 s
255
729
1105 s
48 i
474
255
338
68 i
893
315
451
38 i
474
452
1284 s
769
1649 s
642
32 i
320
35 i
686
46 i
555
143
967
yi
yf
rL
AACPF
(%)
(%) (unid/dia) (unid)
0,10 i 19,50 s
0,358 s
0,976 s
0,08
9,50 s
0,324 s
0,593 s
0,04
6,42 s
0,372 s
0,435 s
0,13 s 5,87
0,260
0,413 s
0,08
6,06
0,300
0,308
0,09
4,06
0,264
0,289
0,06
3,50
0,274
0,257
0,257
0,244
0,10 s 3,95
0,07
3,56
0,278
0,218
0,09
2,15
0,220
0,176
0,08
2,27
0,232
0,172
0,03
2,30
0,308 s
0,166
0,08
2,36
0,229
0,154
0,03
2,65
0,312 s
0,145
0,08
2,12
0,220
0,125
0,03
2,08
0,297
0,122
0,07
1,43
0,212
0,105
0,06
1,57
0,227
0,102
0,03
1,84
0,286
0,092
0,07
1,53
0,233
0,083
0,05
0,51
0,161 i
0,082
0,03
0,98
0,246
0,075
0,165 i
0,075
0,11 s 1,06
0,02
1,03
0,266
0,071
0,03
1,21
0,247
0,069
0,03
1,10
0,230
0,066
0,10 s 0,94
0,159 i
0,064
0,08
0,93
0,169 i
0,058
0,03
0,74
0,222
0,053
0,04
0,81
0,204
0,052
0,02 i 0,55
0,230
0,042
0,04
0,55
0,189
0,042
0,04
0,38
0,151 i
0,039
0,07
0,41
0,123 i
0,032
0,05
0,40
0,158 i
0,028
0,01 i 0,32
0,215
0,023
0,06
2,68
0,24
0,17
0,03
0,00
0,18
0,00
0,09
6,22
0,30
0,36
109
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Tabela 2. Número de pústulas (NP), área média de pústula (AP),
número de esporos por pústula (NEP), severidade inicial
(yi) e final (yf), taxa (rL) e área abaixo da curva de
progresso da ferrugem da folha (AACPF) em genótipos de
aveia sob infecção natural a campo. FAMV/UPF, 2001
Genótipos
NP/
cm2
UPF 92135
UPF 16
UPF 8
UPF 19
UPF15
UPF 2
UPF 89 AL186
UPF 10
UPF 3
UPF 92153
UPF 92151
UPF12
UPF 11
UPF 9
UPF 86243
UPF 93AL204
UPF 20
UPF 6
UPF 92150
UPF 92152
UPF 92122
UPF 92134
UPF 18
UPF 92137
UPF 94235
UPF 7
UPF 92156
UPF 14
Média
Média – DP (i)
Média + DP (s)
3,87 s
4,99 s
2,84
4,14 s
2,99
3,31
1,78
3,52 s
1,25
4,03 s
2,65
3,61 s
3,55 s
0,89
2,65
1,47
2,29
0,27 i
0,58 i
0,22 i
0,75
1,17
0,99
0,56 i
1,64
0,36 i
1,10
0,21
2,06
0,63
3,49
AP
(mm2)
NEP
(unid)
Ti
(dias)
0,06 i
0,16
0,48 s
0,36
0,36
0,42
0,43
0,50 s
0,50 s
0,29
0,42
0,43
0,45
0,29
0,29
0,29
0,50 s
0,40
0,09 i
0,14 i
0,36
0,29
0,22
0,13 i
0,08 i
0,06 i
0,08 i
0,35
0,30
0,15
0,45
173
54
685
54
393
66 s
96
54
395
54
351
54
331
54
250
66 s
267
54
591
54
251
66 s
348
54
234
54
235
54
432
54
441
54
537
54
4412 s 54
797
66 s
559
54
562
66 s
374
66 s
189
54
1058
54
1330
66 s
406
66 s
1282
66 s
1731 s 54
668
58
0
52,1
1498
63,5
yi
(%)
0,10 s
0,15 s
0,02
0,08
0,05
0,02
0,06
0,02
0,02
0,14 s
0,05
0,05
0,01
0,02
0,01
0,01
0,10 s
0,01
0,01
0,01
0,08
0,01
0,03
0,05
0,02
0,01
0,04
0,01
0,04
0
0,08
yf
rL
AACPF
(%) (unid/dia) (unid)
29,0 s
21,5 s
20,1 s
15,6 s
12,7
10,3
8,80
7,22
7,50
8,25
5,49
5,90
5,10
6,40
2,90
2,52
2,86
2,60
2,10
1,90
1,12
2,10
1,16
1,76
0,83
0,89
0,85
0,50
6,70
0
13,8
0,240
0,207
0,285 s
0,218
0,227
0,254 s
0,203
0,239
0,240
0,166
0,190
0,193
0,251 s
0,233
0,228
0,222
0,135 i
0,223
0,215
0,211
0,106 i
0,215
0,147 i
0,143 i
0,149 i
0,180
0,123 i
0,157
0,2
0,16
0,24
2,20 s
2,16 s
1,97 s
1,49 s
1,07
1,03
0,81
0,78
0,74
0,72
0,55
0,50
0,45
0,38
0,28
0,22
0,20
0,18
0,15
0,15
0,15
0,13
0,12
0,11
0,08
0,07
0,06
0,03
0,6
0
1,25
110
1
2
3
Tabela 3. Análise de correlação entre componentes de resistência e
variáveis epidêmicas da ferrugem da folha em genótipos
de aveia cultivados a campo. FAMV/UPF, 2000 e 2001
AP (mm2)
NEP
yi
yf
rL
AACPF
0,27
-0,40
-0,21
0,59
0,71
0,37
-0,07
-0,18
-0,05
0,06
0,33
-0,03
-0,17
-0,28
-0,17
-0,24
-0,21
-0,17
0,52
-0,29
2000
NP/cm2
2
AP (mm )
NEP
yi
yf
rL
0,53
2001
NP/cm2
2
AP (mm )
NEP
yi
yf
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
-0,05
-0,09
0,15
0,61
0,66
0,63
-0,07
0,02
-0,03
-0,14
-0,05
0,10
0,12
0,14
0,14
0,42
-0,08
0,46
0,67
0,98
rL
0,69
Dados de 36 genótipos em 2000 e 28 em 2001; NP = número de pústulas; AP = área
média de pústula; NEP = número de esporos por pústula; yi e yf = severidade inicial
e final da ferrugem da folha; rL = taxa diária de progresso da ferrugem da folha e
AACPF = área abaixo da curva de progresso da ferrugem da folha.
Os coeficientes de correlação em negrito são significativos a P ≤ 0,05.
111
1
2
3
4
5
Tabela 4. Duração do período latente (PL), área média de pústula
(AP), número de esporos por pústula (NEP) e número de
pústulas (NP) da ferrugem da folha em genótipos de aveia
sob inoculação em câmara de crescimento. FAMV/UPF,
2001
PL
AP
NEP
NP/
(dias)
(mm2)
(unid)
Cm2
UPF16
7,75
0,42
312
5,53 a1
UPF12
7,75
0,40
220
3,55 ab
UPF19
7,75
0,31
236
3,30 ab
UPF3
7,75
0,53 s
252
3,10 ab
UPF9
7,75
0,37
590 s
3,05 ab
UPF2
9,00
0,41
201
2,75 ab
UPF10
8,50
0,46 s
512 s
2,73 ab
UPF11
8,25
0,55 s
463 s
2,70 ab
UPF89AL186
8,25
0,57 s
281
2,63 ab
UPF20
8,75
0,31
373
2,55 ab
UPF92150
7,75
0,32
140 i
2,38 ab
UPF92152
9,00
0,24
283
2,30 ab
UPF92134
7,75
0,29
357
2,25 ab
UPF92122
8,00
0,20 i
225
2,20 ab
UPF14
8,25
0,21 i
342
2,08 ab
UPF15
8,00
0,19 i
260
2,08 ab
UPF92151
9,50 s
0,17 i
221
1,98 ab
UPF18
9,25 s
0,25
244
1,90 ab
UPF8
7,75
0,38
271
1,88 ab
UPF92156
9,50 s
0,39
534 s
1,80 ab
UPF92153
8,50
0,32
404
1,48 ab
UPF92135
9,75 s
0,27
395
1,40 ab
UPF86243
7,75
0,40
396
1,38 ab
UPF6
7,50
0,18 i
259
1,33 ab
UPF93AL204
8,25
0,38
299
1,33 ab
UPF94235
9,25 s
0,40
522 s
0,98 ab
UPF92137
7,75
0,16 i
273
0,93 ab
UPF7
9,25 s
0,32
108 i
0,60 ab
Media
8,37
0,33
320
2,22
Média – DP (i)
7,68
0,22
199
1,46
Média + DP (s)
9,06
0,44
441
2,98
CV (%)
15,79/ ns
55,85/ ns
64,33/ ns
61,02
1
Médias de quatro experimentos; valores seguidos pela mesma letra não diferem
entre si pelo teste Tukey a 5%;
Genótipos
6
7
8
9
112
DISCUSSÃO
1
2
Entre os componentes de resistência avaliados nos ensaios a
3
campo, o NEP foi o que apresentou maior variação, o que pode ser
4
devido a diferenças de idade de pústula ou de suscetibilidade dos
5
genótipos à ferrugem.
6
correlação significativa entre a área da pústula e a quantidade de
7
esporos nela produzidos. Exemplificando, entre 29 e 1649 esporos
8
foram contados a partir de pústulas de um mesmo tamanho (0,4 mm2).
9
A correlação da quantidade de esporos foi significativa e negativa (-
10
0,4 em 2000) com o número de pústulas, indicando que a produção
11
individual de uredósporos é menor à medida que o número de lesões
12
aumenta.
As análises realizadas não mostraram
13
A área da pústula e o número de esporos também não se
14
correlacionaram significativamente com a AACPF, o que sugere uma
15
menor influência destes sobre o desenvolvimento da moléstia. Em
16
trabalhos realizados por Chaves & Martinelli (1997) e Thomé et al.
17
(1999), os autores observaram certa correlação entre baixas ASCPFs e
18
pústulas de pequeno tamanho, o que não ocorreu em estudos
19
posteriores conduzidos por Chaves et al. (1999).
20
A ausência de correlação da área de pústula e do número de
21
esporos por pústula com os componentes da epidemia (yi, yf, rL e
113
1
AACPF) sugere que, individualmente, os mesmos não influenciam a
2
ocorrência da moléstia.
3
mesmos com outros mecanismos de resistência seja significativa.
Porém, é possível que a interação dos
4
Individualmente, apenas o número de pústulas influenciou
5
na intensidade da ferrugem a campo, o que é compreensível na medida
6
em que a quantidade de pústulas é o principal determinante da
7
severidade. Essa constatação poderia simplificar o processo de
8
avaliação e seleção de genótipos, uma vez que não haveria
9
necessidade de determinações mais demoradas, como AP e NEP.
10
Todos os genótipos inoculados em câmara de crescimento,
11
em maior ou menor grau, mostraram-se suscetíveis à ferrugem. Esse
12
comportamento pode indicar que o inóculo misto utilizado continha
13
esporos de diferentes raças, ou que a base genética para resistência dos
14
cultivares e linhagens era realmente estreita.
15
Em relação à duração do período latente, a média obtida
16
neste trabalho (8,37 dias) foi dois dias mais longa que a verificada
17
para o mesmo patossistema por Chaves & Martinelli (1997) (6,3 dias).
18
É possível que tal variação seja devida à temperatura de incubação das
19
plantas, ou ao critério utilizado para definição do período latente,
20
informações não disponíveis no trabalho dos autores citados.
21
Comparando-se as AACPFs entre anos, verifica-se que
114
1
alguns genótipos se alternaram, ora entre os mais suscetíveis, ora entre
2
os menos suscetíveis. Outros, como UPF 14, 92122, 92156 e 94235,
3
apresentaram consistência quanto à baixa intensidade de ferrugem,
4
comportamento este que poderia indicar a presença de genes menores,
5
conferindo resistência mais estável ao cultivar.
6
Os resultados obtidos neste trabalho indicam a presença de
7
variabilidade genética para os componentes de resistência parcial à
8
ferrugem da folha, embora apenas o número de pústulas por
9
centímetro quadrado tenha se correlacionado significativamente com a
10
área abaixo da curva de progresso da ferrugem.
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36
37
38
39
40
41
42
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33
34
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1
2
3
4
5
CAPÍTULO VI
6
7
CONCLUSÕES
8
9
A integração de cultivares menos suscetíveis com o
10
tratamento de sementes e a aplicação de fungicida em parte aérea
11
melhorou o controle da moléstia e incrementou o rendimento de grãos.
12
Em anos menos favoráveis à ferrugem da folha, esta integração pode
13
permitir a utilização de menos quantidade de fungicida na aplicação
14
inicial.
15
Em
cultivares
suscetíveis,
torna-se
necessária
a
16
complementação do tratamento de sementes com o de parte aérea. Nos
17
demais, é possível que o tratamento de sementes possa ser suficiente
18
para um controle satisfatório da ferrugem ou se necessite de uma
19
quantidade menor de fungicida na parte aérea.
20
Em geral, aplicações do fungicida em parte aérea realizadas
21
no início do aparecimento da moléstia são mais vantajosas, pois
118
1
facilitam a logística da aplicação e apresentam resultados mais
2
satisfatórios no controle da ferrugem.
3
Possivelmente, a estreita base genética para resistência à
4
moléstia possa explicar os resultados pouco satisfatórios obtidos pelas
5
misturas. Mostra-se necessário o conhecimento mais detalhado dos
6
genes efetivos de resistência disponíveis nos cultivares que irão
7
compor as misturas.
8
Existe variabilidade genética para resistência quantitativa, a
9
qual poderá ser confirmada através de experimentos em rede, em anos
10
e locais diferentes.