A Macroeconomia da Moderna Economia

Propaganda
A Macroeconomia da Moderna Economia
EDMUND S. PHELPS*
“O expressionismo estava enraizado na nova experiência de vida metropolitana
que transformou a Europa entre 1860 e 1930. É uma expressão visionária de
sentir-se à deriva, animado, aterrorizado em um mundo acelerado, incompreensível.”
-- Jackie Wullschlager, “The Original Sensationalists”, Financial Times
A moderna economia começou a suplantar a economia tradicional em diversas
nações na segunda metade do século dezenove e, em muitas outras mais, na segunda
metade do século vinte. Um sistema em que eram típicos o auto-emprego e o autofinanciamento deu lugar a um sistema de empresas com vários negócios e instituições
correspondentes. Foi essa a “grande transformação” sobre a qual historiadores e
sociólogos, assim como comentaristas de negócios, se debruçaram e escreveram volumes e
mais volumes. A economia moderna, onde plenamente adotada, foi, de fato extremamente
transformadora, no caso das nações1, mas muito menos para a economia enquanto área de
estudo.
Se existe uma linha condutora em minhas publicações, particularmente no presente
trabalho, essa linha é a de que eu tentei assinalar a natureza distinta da moderna economia. 2
Que natureza é essa?
I. As Economias Modernas e a Moderna Economia
Muitos dos primeiros contrastes entre os dois tipos de economia foram traçados
pelos sociólogos. Dizia-se que a economia tradicional se assentava em uma comunidade de
conhecidos entre si, empenhados em apoiarem-se mutuamente – numa Gemeinschaft –, ao
passo que a moderna economia era vista como baseada nos negócios, com a pessoas

Este artigo é uma versão revista de uma conferência feita por Edmund S. Phelps, em Estocolmo, no dia 10
de dezembro de 2006, quando recebeu o Prêmio em Ciências Econômicas do Banco da Suécia em Memória
de Alfred Nobel. O artigo está protegido por direitos autorais da Fundação Nobel 2006 e é publicado aqui, no
número de junho de 2007 da American Economic Review, sob permissão da Fundação Nobel. A tradução é de
Renato Mayer com revisão de Claudio M. Considera
*
Professor da Cátedra McVickar de Economia Política e Diretor do Centro de Estudos do Capitalismo e da
Sociedade, Instituto da Terra, Universidade de Colúmbia. Pelas discussões relacionadas a esta palestra,
algumas das quais remontam a décadas, sou grato a Philippe Aghion, Max Amarante, Amar Bhide, Jean-Paul
Fitoussi, Roman Frydman, Pentti Kouri, Richard Nelson e Richard Robb. Raicho Bojilov e Luminita Stevens
deram criativo apoio na pesquisa.
1
Várias nações européias enfrentaram crescente oposição ao modernismo no século dezenove e trataram, no
período entre guerras, de manietar suas modernas economias com as instituições de um sistema “corporativo”
do século vinte de licenças, consultas para autorização e vetos, tornando os negócios sujeitos e subservientes à
comunidade e ao estado.
2
Esta retrospectiva enfatiza os meus principais trabalhos relacionados à informação incompleta e ao
conhecimento incompleto. Isso deixa de fora inúmeros artigos, inclusive aqueles sobre acumulação de
riqueza em condições de risco e sobre o viés poupador de fatores na mudança tecnológica.

N.T.: A tradução de Gemeinschaft é associação, sociedade, comunidade.
1
concorrendo umas com as outras – ou seja, em Gesellschaft (Ferdinand Tönnies, 1887)3
A hierarquia social poderia contar numa economia tradicional, mas não numa economia
moderna (Weber, 1921-22). Verdadeiros ou não, esses contrastes sociológicos obviamente
não implicavam uma revisão fundamental dos modelos econômicos padrão.
Os contrastes econômicos entre os dois sistemas foram traçados pelos historiadores
econômicos.
Uma economia tradicional é uma economia de rotina. No caso
paradigmático, a gente do campo vem periodicamente trocar os seus produtos pelos artigos
da cidade. As perturbações, quando existem, não são causadas por essas pessoas e se
situam fora do seu controle: temperatura, chuva e outros choques exógenos. Uma
economia moderna é marcada pela viabilidade da mudança endógena: a modernização traz
uma miríade de arranjos, desde direitos expandidos de propriedade a leis societárias e
instituições financeiras. Isso abre a porta para os indivíduos se engajarem em novas
atividades na área de financiamento, desenvolvimento e comercialização de novos produtos
e métodos – as inovações comerciais. A emergência desse “capitalismo”, como Marx o
denominou, deslanchou na Europa e na América uma longa era de acelerada inovação
desde aproximadamente 1860 a 1940; ondas posteriores de inovação vieram a ocorrer a
partir daí. As inovações efetuadas foram exitosas o bastante a ponto de gerar uma rápida
mudança econômica cumulativa.
Alguns teóricos pioneiros, em sua maioria do período entre guerras, perceberam o
espírito inovador comercial e a mudança econômica em curso como capaz de produzir
impactos sistêmicos que modificaram a experiência do público com a economia.

A inovação gera incertezas. O resultado futuro de uma ação inovadora cria
ambigüidade:4 aplica-se a lei das “conseqüências não antecipadas” (Robert K.
Merton, 1936); os empresários agem com base em seus “estados de ânimo”,
conforme exposto por John Maynard Keynes (1936); na visão de Friedrich Hayek
(1968), as inovações são deslanchadas primeiro, sendo o benefício e o custo
“descobertos” depois. A inovação em si e as mudanças que causa tornam o futuro
cheio de incerteza knightiana (Frank H. Knight, 1921) também para os não
inovadores. Finalmente, já que a inovação e a mudança ocorrem de forma desigual
de lugar para lugar e de atividade econômica para atividade econômica, existe
também uma incerteza em relação ao presente: o que está acontecendo em outras
partes, do qual muita coisa não se observa e do qual não dá para observar sem se
estar lá. Assim, mesmo se cada ator na economia moderna tiver o mesmo
entendimento (“modelo”) de como a economia trabalha, não se pode supor que o
entendimento dos outros seja igual ao nosso. Com a modernização, então, perde-se

N.T.: Geselslchaft traduz-se por companhia, empresa organizada.
Tönnies escreve sobre a “anonimidade” dos que transacionam no mundo da Gesellschaft, isto é, do
capitalismo. Trata-se de uma observação correta da concorrência perfeita clássica. Contudo, em minha obra
sobre as economias modernas, o empresário, o financista, o gerente, o empregado e o cliente não são
exatamente anônimos. As empresas adquirem empregados que são identificáveis e não substituíveis; as
empresas conhecem seus clientes e estes o seu fornecedor; e por aí vai.
4
Ambigüidade e vagueza entraram em uso com os artigos de Daniel Ellsberg (1961) e William J. Fellner
(1961).

N.T.: “Animal spirits” no original em inglês.
3
2
um outro traço da economia tradicional – o senso comum de que prevalece um
entendimento comum a todos.5

A inovação também transforma os empregos. Conforme observou Hayek (1948),
até mesmo os empregados no mais baixo grau da hierarquia possuem um
conhecimento específico difícil de ser transmitido aos outros, de modo que as
pessoas têm que trabalhar em colaboração. Gerentes e trabalhadores foram,
também, estimulados pelas mudanças e desafiados a resolver os novos problemas
que surgiam. Alfred Marshall (1892) escreveu que o emprego era, para muitas
pessoas, o principal objeto de seus pensamentos e a fonte de seu desenvolvimento
intelectual. Gunnar Myrdal (1932) escreveu que “a maioria das pessoas que se
situam numa condição econômica razoavelmente boa obtêm mais satisfação
enquanto produtores do que como consumidores”.
Com o século vinte já avançado, a economia, enquanto área de estudo ou ciência,
não havia ainda realizado sua transição para o moderno. A teoria econômica formal,
fundada no micro, permaneceu neoclássica, fundamentada nos idílios pastorais de Ricardo,
Wicksteed, Wicksell, Böhm-Bawerk e Walras, até os anos 1950. O projeto de Samuelson
de corrigir, esclarecer e ampliar a teoria colocou em foco seus pontos fortes6, como
também suas limitações: ele apartou-se do caráter distintivo da economia moderna – sua
incerteza endêmica, ambigüidade, diversidade de crenças, especialização do conhecimento
e resolução de problemas. Em conseqüência, não pôde capturar, ou endogeneizar, os
fenômenos observáveis endêmicos à moderna economia: a inovação, as ondas de
crescimento acelerado, as grandes flutuações na atividade dos negócios, os desequilíbrios,
o intenso engajamento dos empregados e o desenvolvimento intelectual dos trabalhadores.
Os melhores e mais brilhantes dentre os neoclássicos perceberam esses defeitos, mas lhes
faltava a microteoria para tratar deles. Para ter uma resposta de como as forças ou a
política monetária impactavam o nível de emprego, recorreram a construções mais ou
menos improvisadas sem qualquer microeconomia por trás, como a curva de Phillips ou
mesmo os preços fixos, ou a modelos nos quais todas as flutuações são meramente
distúrbios aleatórios em torno de uma média fixa.
Após alguns anos como neoclássico no início de minha carreira, comecei a construir
modelos que abordam esses fenômenos modernos. Assim também o fizeram vários outros
jovens economistas durante aquela década de fermento acadêmico, os anos 1960.7 Em
5
Não pretendo sugerir que a economia moderna tenha levado a um aumento líquido no risco total, tanto
mensurável como não. Meu sentimento é que muito do enorme ganho alcançado na produtividade deve-se
mais à modernização do que ao avanço científico e que este ganho, por sua vez, permitiu a mais e mais
participantes assumirem empregos que oferecem menores perigos físicos e riscos morais. As inovações
financeiras ajudaram a reduzir os riscos criados pela modernização. É plausível que as vastas variações na
atividade dos negócios que o capitalismo impõe não sejam piores do que as ondas de fome e doença que
afligiam as economias tradicionais.
6
Pode-se dizer que seu livro-texto de 1948 e o seu Foundations, de 1947, deram início a uma Restauração
que salvou a herança da economia dos keynesianos radicais, institucionalistas e behavioristas da época.
7
Espíritos assemelhados que prepararam e adubaram o campo ou campos próximos nos anos 1960 incluem
Robert Clower, Robert Aumann, Brian Loasby, Armen Alchian, Axel Leijonhufvud, Richard Nelson, Sidney
Winter, Arthur Okun e William Brainard. A eles se juntaram, nos anos 1970 e 1980, Roman Frydman, Steven
3
Yale e na Rand, em parte pelos meus professores William Fellner e Thomas Schelling,
adquiri certa familiaridade com os conceitos modernistas da incerteza knightiana, das
probabilidades keynesianas, do “know-how” privado de Hayek e do conhecimento pessoal
de M. Polanyi. Tendo até certo ponto assimilado esta perspectiva modernista, passei a ver
a economia de ângulos diferentes dos da teoria neoclássica.8 Eu poderia tentar incorporar
ou refletir em meus modelos o que faz um empregado, gerente ou empresário: reconhecer
que a maioria está empenhada em seu trabalho, formar expectativas e desenvolver crenças,
resolver problemas e ter idéias. Tentar colocar essa gente em meus modelos econômicos
tornou-se o meu projeto.
II. As Expectativas em Modelos de Atividade
A determinação do desemprego numa economia moderna constituiu a minha
principal área de pesquisa de meados dos anos 1960 até o final da década de 1970 e,
novamente, entre meados dos anos 1980 até o início dos 1990. A questão primária que
guiava minha pesquisa inicial era básica: por que uma onda de “demanda efetiva”, ou seja,
um fluxo de dinheiro para comprar bens, causa um aumento na produção e no emprego,
conforme pressuposto no grande livro de Keynes (1936)? Por que não simplesmente um
salto nos preços e salários monetários?
Surgiu imediatamente uma outra questão: como poderia haver desemprego
involuntário positivo em condições de equilíbrio, mais precisamente, ao longo de qualquer
caminho de equilíbrio? A resposta que meu modelo implica é que, se não houvesse
desemprego positivo, se generalizaria de tal maneira a prática de empregados largarem o
emprego que cada firma entraria em disputa com as outras para pagar mais a fim de cortar
as elevadas despesas com treinamento que decorrem de uma alta rotatividade. Segundo
meu ponto de vista, o argumento não se fundava na premissa da “informação assimétrica”,
de que um trabalhador poderia esconder de seu empregador a sua propensão a deixar a
empresa. (Os empregadores podem conhecer melhor quais taxas esperar de abandono de
emprego do que os próprios empregados.) Fundava-se na impossibilidade de um contrato
proteger o empregador de todas as desculpas que o empregado poderia alegar para deixar o
emprego. Há também as práticas abusivas que empregadores podem impor aos
empregados para forçarem-nos a demitir-se. Em uma economia moderna, portanto, os
contratos são não escritos, por conseguinte informais, ou, quando escritos, não são
inteiramente desprovidos de ambigüidade.
Minha abordagem da relação entre a “demanda (efetiva)” e a atividade econômica
partiu da observação que, diante de todo tipo de inovações e mudanças, o mercado da
economia moderna não era apenas “descentralizado”, como gostavam de dizer os
economistas neoclássicos. As crenças e respostas de cada ator na economia são
descoordenadas: o deus ex-machina de Walras, o grande leiloeiro de toda a economia, é
uma figura inaplicável à moderna economia, onde boa parte da atividade é movida pela
Salop, Brian Arthur, Mordecai Kurz e Martin Shubik. Nas décadas de 1990 e 2000, Amar Bhidé e Alan
Kirman fizeram parte do grupo e tanto Thomas Sargent como Michael Woodford testaram suas águas.
8
Introduzi menos desses conceitos modernistas nos modelos do que retirei algumas propriedades
neoclássicas para que os modelos se apresentassem mais compatíveis com o pensamento moderno.
4
inovação e na qual as inovações passadas nos deixaram uma vasta diferenciação de bens.
Isso levou ao ponto de que as expectativas dos indivíduos e, por conseguinte, seus planos,
possam vir a ser inconsistentes. Daí, as expectativas de algumas ou de todas as pessoas
serem incorretas, uma situação a que Marshall e Myrdal chamam de desequilíbrio.9
Assim, a economia – digamos que, para efeito de simplicidade, seja uma economia
fechada – poderia se encontrar com freqüência em situações nas quais cada firma (ou uma
preponderância de firmas) tem a expectativa corrente de que as outras firmas estão
remunerando os empregados a uma taxa menor do que ou, eventualmente, maior do que a
taxa de remuneração dela. No primeiro caso, cada firma acredita, que, ao escolher a sua
escala de pagamentos, está pagando mais (e levando a melhor com isso) do que as outras.
Em meu primeiro modelo, tendo um mercado de trabalho capaz de entrar em
desequilíbrio (Phelps, 1968a), o efeito de uma tal subestimação das taxas de salário fixadas
em outras partes é o de comprimir a taxa de salário que cada uma dessas firmas calcula
como tendo que precisar pagar para conter a saída de empregados em um nível suficiente
de modo a minimizar seu custo total (dado o atual nível de produção): a soma de seus
custos com a folha de pagamento mais os custos da rotatividade da mão-de-obra. Em
termos de uma construção posterior, a “curva de salários” é rebaixada pela subestimação,
pelas firmas, do que será o salário pago pelas suas concorrentes.10 Esse rebaixamento da
curva de salários serve para baixar as curvas de custo das firmas, por conseguinte, para
baixar os preços e, por meio do bloco monetário do modelo de 1968, para aumentar a
produção (o que se consegue, num primeiro momento, pela transferência dos empregados
do treinamento para a produção); o emprego gradualmente se expande graças à menor saída
de empregados, gerada pelas expectativas dos empregados de que os salários nas outras
firmas são mais baixos do que naquela onde está trabalhando. Posteriormente, as firmas
podem vir a aumentar as contratações (partindo do nível inicialmente reduzido) em
resposta aos custos reduzidos e, conseqüentemente, a maiores margens de lucro. O que
parecia ser um modelo simples revelou-se rapidamente pleno de sutilezas, de modo que
muito poucos alunos conseguiram dominá-lo em sua plenitude. Contudo, o ponto de que as
expectativas contam para os salários, preços e a atividade econômica, este tem sido bem
compreendido. A economia é estimulada quando há subestimação dos salários pagos pelas
concorrentes e quando as firmas subestimam os preços de suas concorrentes nos mercados
do consumidor (Phelps e Sidney G. Winter Jr., 1970). De forma similar, a economia é
puxada para baixo quando ocorre a superestimação.
O que aconteceria nesta economia, com o seu potencial de desequilíbrio e, digamos,
seu grau aumentado de desequilíbrio, caso a demanda agregada se deslocasse para um
patamar mais alto?11 Estudei com freqüência um choque de dispêndio não identificado no
9
Presumivelmente, forças aleatórias podem vir salvar a situação, mas as expectativas ainda assim seriam
incorretas ex ante. Em minha modelagem, sempre excluí tais forças aleatórias em benefício da clareza -mas essas forças são a essência do modelo novo clássico.
10
Ver Carl Shapiro e Joseph E. Stiglitz (1984). Guillermo Calvo e Phelps (1983) derivaram uma curva de
salários em um contexto de contratação formal.
11
Sempre estive consciente de que, na versão do modelo na qual todas as firmas estão prontas a, sem mais
aquela, fazer subir preços e salários monetários, tal atitude não implicando custos, um choque de demanda
em alguns casos poderia teoricamente não ter qualquer efeito sobre as quantidades e os preços relativos.
Tome um anúncio súbito, pelo banco central, de que se está duplicando imediatamente a oferta de moeda. Se
5
setor privado que operava no sentido de aumentar a velocidade da moeda e, se o banco
central se mostrasse lento na resposta, empurraria tanto o nível de preços como o nível dos
salários monetários para patamares correspondentemente mais altos, fosse logo ou em um
processo mais arrastado. Eu supunha que este choque de velocidade seria neutro em
relação às quantidades e aos preços relativos, se e quando as firmas e os trabalhadores
formassem expectativas corretas das respostas do salário monetário e dos preços ao
deslocamento para cima no preço da demanda.12 No entanto, as firmas e os trabalhadores
não têm como perceber tal neutralidade logo no início.
O que se segue daí? Meus modelos implicavam o seguinte:13 toda firma infere
erroneamente, como ocorre com freqüência, que todo ou grande parte do aumento da
demanda que ela observa é única para o seu caso; assim, ao decidir de quanto aumentar os
seus salários, é levada a subestimar o aumento das taxas de salário nas outras firmas. Da
mesma forma, toda firma do mercado do consumidor, ao decidir de quanto aumentar seu
preço, é levada a subestimar a extensão do aumento do preço pelas outras firmas. Como
resultado, a firma eleva seu preço relativamente ao que crê que os outros estão fazendo,
mas de pouco – de menos que o faria se não subestimasse o aumento em outras partes e de
menos que o aumento em seu preço de demanda; da mesma forma, aumenta os salários que
paga de pouco – também de menos que o faria caso não subestimasse o aumento
promovido pelas outras firmas. Eu acrescento que a “incerteza” poderia induzir a uma
“resposta cautelosa, gradual, quanto à decisão sobre os salários da firma” (Phelps, 1968a, p.
688).14
Com relação às quantidades: o aumento, para cada firma, da demanda dos
consumidores acionado pelo choque de velocidade leva a firma a perceber que, no nível
inicial de preços e de produção, pode vender mais agora sem ter que baixar o seu preço. A
firma, que antes se mostrava indiferente acerca de um pequeno aumento da produção,
percebe a lucratividade contida em um aumento, de modo que passa a elevar sua
produção.15 Daí, há um aumento no estoque máximo de empregados prontos e habilitados
para o trabalho que a firma manteria como um todo, e, portanto, um aumento imediato em
seu número de vagas. Correspondentemente, a menor saída do emprego gerada por
percepções de um melhor salário relativo não é razão para a firma contratar mais
vagarosamente, de modo que há expansão do emprego. Quanto à resposta em termos de
esse choque for muito público (no sentido de que não pode ser desconhecido por ninguém) e suas
conseqüências de conhecimento comum, e se for neutro para os valores de equilíbrio, então, nos modelos que
eu estava estudando, resultarão na imediata duplicação dos salários monetários e dos preços, mantendo-se
sem alterações tanto a produção como o nível de emprego. Keynes (1936) também observou implicitamente
essas exceções.
12
Isso significa que, qualquer que seja o caminho de equilíbrio do emprego a partir do estado inicial da
economia, o choque de velocidade é neutro em relação a aquele caminho de equilíbrio e a qualquer outro
caminho de equilíbrio, quer tenha sido alcançado, quer não.
13
Refiro-me aqui a uma fusão do meu artigo de 1968 com o de Phelps-Winter (1970) e trabalho em cima de
análises e comentários contidos em Phelps et al. (1970), Phelps (1972a) e Phelps (1979).
14
Seria incorreto inferir que os efeitos sobre a quantidade dos deslocamentos da demanda efetiva estão
presentes porque uma espécie de “rigidez” dos salários é imposta ao final. Haverá, de todas as maneiras,
efeitos sobre a quantidade, embora menores e talvez menos prolongados.
15
Se, como em meu artigo de 1968, cada firma elevasse seu preço totalmente de modo a equilibrar o mercado
no nível inicial de produção, a maior margem de lucro produziria o mesmo efeito.
6
contratação, há um problema. A firma poderia buscar na reserva de desemprego qualquer
quantidade de novos empregados, mas a obtenção de um empregado pronto e habilitado
para o trabalho requer desviar empregados atualmente na produção para dar ao novo
recrutado o treinamento específico para aquele trabalho. Ao aumentar a produção, no
entanto, a firma efetivamente tira empregados do treinamento para colocá-los na produção.
Em conseqüência, o aumento na contratação tem que esperar até que a queda nas saídas
tenha permitido à firma restaurar e, então, aumentar a sua equipe de treinamento.16
O acima exposto trata dos efeitos de impacto do deslocamento da demanda. Seguese um processo de ajustamento. Em meus modelos, a firma iria, em algum ponto, observar
que o seu aumento cumulativo de preço não lhe custara qualquer erosão da base de
consumidores que havia esperado e que seu aumento de salários não lhe estava trazendo
nenhuma redução na taxa de saída do emprego, conforme chegara a esperar. Além do
mais, acompanhando o impacto inicial do choque de velocidade sobre os preços de
demanda, qualquer firma que oferecesse um sortimento especializado de artigos
experimentaria um aumento secundário em seu preço de demanda (no nível inicial de
produção), uma vez que os aumentos iniciais de preço, todos mais ou menos da mesma
magnitude, geralmente não têm o efeito substituição que havia preocupado a firma quando
de sua avaliação das primeiras respostas. Devido a todo este “aprendizado”, as firmas
elevarão seus preços e salários novamente, trazendo os níveis de preços e salários mais
perto dos seus níveis de equilíbrio. Mesmo se as expectativas da taxa de inflação
permanecerem iguais a zero, os preços e os salários seguirão se elevando até que a
magnitude do desequilíbrio – o hiato do aumento proporcional cumulativo do nível de
preços em relação ao aumento proporcional da velocidade – tenha-se erodido a ponto de
desaparecer. Ao longo deste caminho, a redução da subestimação do salário reverte a
diminuição das saídas do emprego que alimentavam a expansão do emprego, deixando que
a drenagem da reserva de desemprego provoque uma elevação líquida da taxa de saídas; e a
redução da subestimação, tanto do preço como do salário, retira o desejo das firmas de um
nível de emprego elevado, de modo que a contratação de empregados não aumenta de
maneira a compensar o maior atrito. Assim, o atrito elimina o aumento no número de
empregados agora vistos como supérfluos. O nível de preços, assim como o salário real e o
emprego, são todos levados aos seus novos valores de repouso. Esta recuperação
representa “restabelecer o equilíbrio”, no sentido de que as expectativas de aumento
cumulativo do nível de salários e do nível de preço são alinhadas aos aumentos efetivos.
(No entanto, o ponto de partida, que é também ponto de repouso, poderia não ser um
equilíbrio pleno em termos de expectativas, uma vez que as expectativas dos níveis de
preços e de salários podem estar consideravelmente distantes da referência em ambas as
condições.)
No entanto, meu artigo de 1968 sugeria que, a partir de cada nível de emprego
aumentado (tal como aqueles níveis alcançados durante a expansão), existe um caminho de
equilíbrio de volta ao estado inicial, um caminho no qual não apenas desaparece a
subestimação do aumento nos salários e nos preços, mas, além disso, o aumento esperado
do nível de salários e do nível de preços se iguala ao aumento real. Ao longo de tal
16
Acertos de horas-extra com os empregadores são, naturalmente, uma outra forma de poupar e até aumentar
a equipe de treinamento de modo a permitir uma acelerada nas contratações.
7
caminho, o desemprego, baixo no momento (mas em declínio), é contrabalançado
continuamente pelo nível de vagas para emprego, baixo no momento (mas em declínio), de
modo que as firmas não estão tentando pagar a seus empregados nem mais nem menos que
as outras.17 Nesse ponto, o modelo subseqüente de Robert E. Lucas Jr. (1972) diferiu do
meu trabalho, no sentido de que traz a implicação rígida de que, em seguida às
perturbações do período corrente considerado por Lucas, a economia salta imediatamente
para o equilíbrio em conseqüência dele ter imposto “expectativas racionais”.18 Em meu
modo de pensar, os participantes do mercado poderiam a qualquer momento ser capazes de
andarem na corda bamba do caminho de equilíbrio, se é que isso existe, que conduz de
onde eles estão no momento ao seu estado inicial; mas, de forma geral, não se pode supor
que encontrem seu rumo ao longo de tal caminho.
A. Relação com as “Expectativas Racionais”
A estrutura acima não é um modelo fechado. Não provê um estado estacionário
integralmente determinado e nem tem a intenção de fazê-lo. O nível corrente de vagas tem
um componente estrutural endógeno que é uma função do que os gerentes e
administradores imaginam ser o valor correto (isto é, o preço sombra) de admitir um outro
empregado; e esse preço sombra é variável, não determinado pelo modelo. Se aquele valor
der um salto, devido a impressões de alguns ou de todos os empresários de que as
perspectivas futuras se abrilhantaram, o aumento de vagas e de contratações ganhará ritmo,
aparentemente de forma inesperada.19 Este traço salva o modelo de ser um aparato
mecânico que não deixa margem à inovação e à mudança estrutural resultante.20
17
Ao longo deste caminho, o nível esperado dos salários monetários é sempre aquele necessário, dado o nível
esperado de preços, para o “equilíbrio do mercado de trabalho”, e o nível esperado dos preços é sempre
aquele tal que, dado o nível esperado dos salários, satisfaça a condição para o “equilíbrio do mercado de
produtos”. Uma análise explícita desse caminho de equilíbrio para um modelo não monetário sem um
mercado do consumidor é encontrada em Hian Teck Hoon e Phelps (1992). Uma análise desse caminho para
fazer de um mercado do produto um mercado do consumidor pode ser encontrada em Phelps, Hoon e Gylfi
Zoega (2005) e em Hoon e Phelps (a ser publicado).
Deve-se acrescentar que, para o equilíbrio do mercado de trabalho, existe ainda uma outra condição e uma
equação correspondente. A firma deve acertar o preço sombra que atribui ao fato de ter mais um outro
empregado pronto e habilitado para o trabalho, para assim acertar o cálculo de suas vagas de emprego. Isso
implica que a firma tenha expectativas corretas sobre o nível para o qual estão caminhando os salários de
mercado no próximo período, o que, por sua vez, significa expectativas corretas acerca da taxa pela qual os
salários nas outras firmas vão se elevar no futuro próximo e não apenas do seu nível corrente.
18
Esse é o salto para um ponto no modelo de Lucas, análogo ao salto para um estreito caminho de equilíbrio
em qualquer outro modelo. No modelo de período de Lucas, há um período de Lucas: antes do seu final,
nenhum dado nacional está disponível e, ao seu final, todos os dados nacionais já se encontram publicados.
Em meus modelos de tempo contínuo, pode haver dados defasados da inflação de salários, etc, mas não dos
níveis de salários e certamente não dos níveis nas firmas que servem de padrão de comparação. (Com efeito,
as firmas podem formar associações para partilhar entre si tais dados e os trabalhadores podem formar
sindicatos; eu tinha em mente, porém, uma economia de “livre mercado” sem qualquer dessas intervenções.)
19
A teoria “geral” de Keynes foi generalizadora em considerar as maneiras de ver dos empresários como
sujeitas a idas e vindas, como arbitrárias. A arbitrariedade dessas visões é vista como importante para o
contrato de salário das firmas em Calvo e Phelps (1977).
20
A projeção do modelo do caminho futuro „da economia depende da constância da parte endógena da função
de vagas, embora o caminho efetivo possa muito bem ser perturbado por mudanças exógenas nas vagas de
emprego.
8
No modelo, em sua melhor interpretação, as firmas, ao imaginarem sua meta
desejada em termos de salários, têm que formar expectativas do salário médio pago pelas
concorrentes sem se beneficiarem da publicação recente (e menos ainda da adoção) dessas
taxas especiais de salários.21 Assim, de um modo geral, o mercado de trabalho tateia não
rumo ao equilíbrio, no qual se crê que o salário pago pelas concorrentes seja igual ao
salário real, mas sim, rumo a uma espécie de equilíbrio sucedâneo, no qual as expectativas
podem, digamos, subestimar o nível efetivo de salários (Phelps , 1972). Então, o ponto de
repouso do desemprego, dada a mesma taxa de vagas de emprego, fica abaixo daquele
nível constante, compatível com o equilíbrio (das expectativas). (É claro que o hiato entre
a percepção e a realidade varia.)
E, por último, mas não menos importante, postular o equilíbrio das expectativas
racionais não é inadequado apenas como forma de fechar o modelo no mesmo sentido que
postular uma escolha racional é considerado inadequado: o que é inapropriado é impô-lo
ao modelo. Em uma economia altamente inovativa e, por conseguinte, sujeita a mudanças,
as firmas – mesmo as firmas que atuam na mesma atividade econômica e na mesma
localização – estão todas pensando diferentemente. De modo que uma firma não teria
motivos para considerar, como faz implicitamente a teoria das expectativas racionais, que
“uma vez que eu fiz o cálculo de que devo elevar meus salários de tantos por cento, deveria
agora levar em conta que meus concorrentes planejam fazer o mesmo, de modo que devo,
agora, ajustar mais ainda o meu aumento de salário...” Esse tipo de raciocínio indutivo
para se chegar às expectativas corretas é inaplicável. Essa foi a tese defendida na minha
participação (Phelps, 1983) no volume editado por Frydman-Phelps em 1983.
De uma forma mais fundamental, o público não pode formar “expectativas
racionais” sobre futuras distribuições de probabilidades quando o futuro está sendo criado
neste momento por novas idéias e pelos conseqüentes planos de empresários aos quais o
público não tem acesso e dos quais os próprios empresários não têm certeza (Calvo e
Phelps, 1977). Se as firmas estiverem engajadas em atividade criativa, “fazer regressões”
com os dados do passado não dará à firma uma previsão aplicável do que essas firmas estão
planejando fazer, qualquer que seja seu campo de ação (ver Frydman e Michael D.
Goldberg, a ser publicado). Ao se compreender as probabilidades de Keynes-Fellner para
uso em condições de incerteza, atribui-se menos peso às projeções históricas do que as
firmas estão dispostas a fazer quando se percebe que elas preparam uma surpresa.
Assim, se me perguntarem se minha teoria foi superada pelo modelo de Lucas, eu
diria que, se uma economia possui dinamismo, de tal modo que novas incertezas afluem
incessantemente a partir de suas atividades inovativas e sua estrutura está sempre
cambiando, o conceito de equilíbrio das expectativas racionais não se aplica e que um
modelo de uma economia tal que imponha este conceito não pode absolutamente
representar o mecanismo de flutuações de tal economia.
21
Em algumas passagens, em meus artigos, admite-se que o nível médio de salários seja conhecido, como se
tivesse sido publicado recentemente, mas somente em um modelo com variações com um salário fixo por
determinado intervalo de tempo no futuro. (Esse ponto consta na p. 701 em Phelps, 1968a.) Se assim não for,
o salário não é conhecido, mas inferido a partir das evidências circunstanciais reveladas pela realidade.
9
B. Relação com o Modelo de Friedman de 1968
A teoria acima da “taxa natural” e seus desvios causados por deslocamentos e
perturbações mal compreendidas é freqüentemente vista como essencialmente idêntica a
aquela apresentada por Milton Friedman (1968). Os dois modelos são então tratados como
descobertas simultâneas da mesma coisa. Na verdade, representam a descoberta de dois
fenômenos distintos. O de Friedman é um modelo da taxa natural de participação da força
de trabalho, ao passo que o meu é um modelo da taxa natural de desemprego. Uma miríade
de diferenças deriva dessa distinção. Por exemplo, no primeiro modelo, um aumento não
percebido na demanda é um desvio indesejado do equilíbrio concorrencial, enquanto que
no meu esse aumento serve para moderar um volume geralmente oneroso de desemprego
involuntário (Mais abaixo, comentarei brevemente uma política monetária voltada para
manter elevado o nível de emprego.)
C. Relação com o Keynesianismo
Houve quem gentilmente comentasse que este trabalho e o texto correlato no
volume intitulado Microfoundations (Phelps et al., 1970) eram “revolucionários”
(Pissarides, 2006; Samuelson, 2006). Dois comentários, todavia, urgem serem feitos aqui.
Um é que o meu tipo de modelagem micro-macro deixou de pé alguns dos fundamentos
básicos de Keynes: os deslocamentos da demanda efetiva, mesmos os “neutros”, têm,
tipicamente, impacto sobre a atividade dos negócios. Além disso, o nível de preços e o
nível dos salários monetários não são perfeitos para equilibrar os mercados.22 Por outro
lado, minha pesquisa subseqüente, endogeneizando a taxa natural de desemprego, me levou
a dissociar-me, desde então, de algumas outras partes fundamentais da posição keynesiana
quanto a políticas.
D. Uso na Teoria da Política Monetária Ótima
A primeira aplicação desse arcabouço de expectativas a ser publicada foi na
modelagem de uma política ótima para a inflação (Phelps, 1967).23 Foi uma reação à
emergente aplicação da curva de Phillips (Alban William Phillips, 1958) na modelagem da
taxa “ótima” de inflação (Okum, 1965). Houve ocasiões nas quais este texto de 1967 me
pareceu ter sido ultrapassado pela regra de Taylor com base nas expectativas racionais
(John B. Taylor, 1993, 1999). No entanto, meu artigo continuou a gerar frutos nos estudos
das desinflações históricas (Sargent, 1999). O comitê do Prêmio Nobel (2006) citou minha
pesquisa abrangendo a elaboração de políticas a partir de uma perspectiva intertemporal.
Por isso, eu gostaria de abordar aquele artigo e este será o principal assunto da próxima
seção.
22
Os estudiosos da questão ressuscitaram para publicação póstuma (Keynes, 1983) um rascunho de capítulo
de Keynes, com o título “A Economia sem Coordenação”, e James Tobin, o principal keynesiano norteamericano, escreveu que a teoria de Keynes tratava do “desequilíbrio das expectativas” (Tobin, 1975).
23
Trata-se de um artigo escrito na London School of Economics nos primeiros meses de 1966 antes de eu
passar a abordar as questões da dinâmica de salários e da dinâmica de preços nos trabalhos de 1968 e 1970.
10
III. Política para Modificar Expectativas Indesejadas
Meu trabalho inicial em políticas a partir de um ponto de vista intertemporal tratou
da política fiscal em uma economia sem moeda. Em Phelps (1965), minha premissa era de
que, em geral, o público poderia esperar que o valor presente descontado de suas
obrigações tributárias “pelo ciclo de vida” fosse inferior ao que se previa. (Eu citava David
Ricardo em defesa, alguns anos antes de que o termo “ricardiano” viesse a denotar aquilo
que ele mesmo rejeitava.) O resultado, de acordo com o modelo ali presente, seria um
excesso de demanda por bens de consumo e uma suboferta de mão-de-obra para a
economia de mercado. Uma política de “neutralidade fiscal” alinharia as obrigações
tributárias esperadas ao longo de um ciclo de vida em termos de valor presente às despesas
e transferências que o governo esperava fazer. Se o público não possuísse expectativas
racionais, as alíquotas tributárias seriam estabelecidas acima ou abaixo do que, de outra
maneira, seria necessário para manter a neutralidade. Foi assim que nasceu o pensamento
de que as expectativas do mercado são relevantes para a oferta e que podem ser
indesejáveis, de modo que uma política “ótima” deveria corrigir tais expectativas.
A premissa chave do artigo de 1967 era que as expectativas do público quanto à
taxa de inflação poderiam ser indesejavelmente elevadas e que a única forma pela qual as
autoridades governamentais poderiam induzir o público a baixar suas expectativas era
desapontar tais expectativas forçando a taxa real de inflação a ficar abaixo da taxa esperada
de inflação – até que a taxa esperada baixasse ao nível aceitável. Uma outra premissa era
que a inflação inesperada leva a um nível de emprego acima do natural e que a desinflação
inesperada traz o nível de emprego para abaixo do natural, ou seja, acima do desemprego
natural; assim, a “desinflação”, como eu a batizei mais tarde, geraria um custo de transição:
o custo, econômico e social, de uma inchação transitória da taxa de desemprego para além
da taxa natural, o que poderia se efetivar caso as autoridades renunciassem a ratificar as
expectativas correntes de inflação, mantendo a demanda efetiva de modo a fazer prevalecer
a taxa natural de desemprego. Essas idéias estavam, então, embutidas em uma estrutura
formalmente semelhante ao familiar modelo de acumulação ótima de capital de Frank P.
Ramsey (1928). A taxa esperada de inflação, x, assume o papel da variável relevante
representada pelo estoque de capital no modelo de Ramsey; o desvio da taxa real de
inflação f, de x, é análogo ao desvio do consumo em relação à renda. Nessa exploração, a
variável de política era a fiscal – o nível de demanda gerado pelo tamanho do orçamento
equilibrado, o qual mantém constante a dívida pública – e a política monetária estabilizava
a demanda por investimento de modo a manter constante o estoque de capital. A análise
(feita em 1966) não avançava com facilidade e, em meu livro posterior (Phelps, 1972a),
escrito em 1969-70, o problema foi simplificado: a política de inflação era conduzida pela
autoridade monetária e da política fiscal esperava-se que viesse a neutralizar os impactos
sobre o capital e a dívida pública. Em resumo, o problema é encontrar a função de política
f (x) que maximiza a integral de utilidade possivelmente descontada sujeita à equação
diferencial dx/df =  (f – x), sendo  uma pseudoconstante positiva.
Os resultados: se a taxa esperada de inflação for maior do que (ou menor do que) o
nível do ponto de repouso que uma política ótima deve forçar para baixo, de modo que haja
um hiato a ser preenchido, uma política ótima vai sempre requerer levar a taxa de inflação
para abaixo da taxa correntemente esperada, não importa o ganho de curto prazo. Quanto
11
maior o excesso inicial da taxa esperada de inflação em relação ao seu ponto de repouso,
naturalmente, maior será o tamanho do desvio ótimo da inflação real em relação à inflação
esperada e, por conseguinte, maior o aumento inicial no nível de desemprego. Quanto
menor a taxa de desconto da utilidade, menor é a meta para o ponto de repouso para a taxa
esperada de inflação e maior o tamanho ótimo do hiato negativo inicial – maior, então, o
sofrimento de curto prazo e o ganho de longo prazo. Quanto mais custoso for o menor
nível de emprego, menor será o desvio inicial ótimo – menor, então, o desvio ótimo do
nível de desemprego em relação a seu nível natural e, por conseguinte, menor a velocidade
da desinflação.
Olhando para trás, pode ser que o meu artigo de 1967 tenha sido o pai do que veio a
ser chamado de metas de inflação.24 Eu estava ciente, todavia, de uma complicação no
caminho de uma caracterização tão simples de uma política monetária ótima. Nas últimas
páginas de um texto não condensado para discussão, do qual foi extraído o artigo publicado
(Phelps, 1966c), eu examinava um modelo mais rico no qual a taxa de desemprego, u,
move-se lentamente (como no meu artigo de 1968) e é, portanto, uma variável relevante
adicionada em paralelo à taxa esperada de inflação. A função de política ótima f (x, u),
então, não conduz, em geral, a taxa esperada de inflação monotonicamente rumo a seu
nível do ponto de repouso. Uma taxa inicial de desemprego muito acima ou muito abaixo
de seu nível natural pode levar a taxa ótima de inflação para cima ou para baixo da taxa
esperada de inflação, mesmo se esta última estiver correntemente em seu nível do ponto de
repouso. Mas essa taxa esperada, mais cedo ou mais tarde, retornará a seu ponto de
repouso quando a taxa de subemprego caminhar para seu ponto de repouso, a taxa natural
de desemprego. A regra da taxa de juros, tornada famosa por Taylor (1993), tem o mesmo
caráter, embora derive de uma política otimizadora em um tipo diferente de problema – a
estabilização ótima da inflação e das taxas de desemprego em tono de suas médias sob
expectativas “racionais”.
Poderia ser dito também que meus trabalhos de 1967 e os posteriores plantaram a
idéia de que a função do banco central é o de administrar as expectativas inflacionárias – a
idéia de que se o banco central vai monitorar e estabilizar a taxa esperada de inflação, a
taxa real de inflação não sairá fora de controle por muito tempo. Deslocamentos
paramétricos podem levar o nível de preços para um caminho diferente, mas não alterarão
de modo permanente a taxa tendencial de crescimento do nível de preços. (Eu mesmo
tinha achado isso inicialmente.) Numa economia que opera em condições de conhecimento
imperfeito das perspectivas futuras da economia, há sempre a possibilidade de que o banco
central cometa um erro sério de estimativa da taxa natural de juros reais. Nesse caso, a
regra da taxa de juros do banco central não começa com o termo constante correto do qual
a taxa de juros reais fixada pelo banco se desvia em resposta a uma discrepância entre a
taxa esperada de inflação e a meta para a taxa. Se a taxa natural de juros reais for
subestimada enquanto tudo o mais estiver perfeitamente medido e avaliado, o banco fixará
sua taxa real de juros em um nível demasiadamente baixo para manter a inflação no nível
pretendido (Phelps, 2006b).
24
Talvez a primeira regra para a taxa de juros tenha sido a de William G. Dewald e Harry G. Johnson (1963),
mas sua regra não conduz qualquer variável, tal como a taxa de inflação, na direção de um nível estabelecido
como meta. Nem tampouco o fazem as regras propostas de oferta de moeda.
12
Eu faria ainda um outro comentário com base no conhecimento imperfeito dos
participantes. Alguns advogados das expectativas racionais queixam-se das expectativas
que são adaptativas, como no meu modelo de 1967 (Lucas, 1976). A discussão da
“estabilização de rotina” no capítulo 8 do meu livro de 1972 reconhece que as expectativas
não serão adaptativas de nenhuma maneira rígida face a repetições idênticas da mesma
experiência e que aquelas travaram luta durante um tempo com o que fazer. (O coeficiente
não poderia ser um parâmetro genuíno, fixado de desinflação a desinflação.) No entanto,
este ponto não é suficiente para estabelecer a propriedade do postulado das expectativas
racionais.25 As economias dinâmicas não têm jogos idênticos repetidos (“uma pessoa
nunca fica no mesmo rio no mesmo lugar por mais de uma vez”, como dizem os chineses),
há diversidade de opiniões nos mercados e um responsável por políticas não se enquadra
em um dentre determinado conjunto de tipos. (Até mesmo Paul Volcker teve que trabalhar
por sua credibilidade.) Keynes acreditava que as expectativas dos agentes do mercado se
atinham ao modelo mais recente até que houvesse provas em contrário suficientes para a
ruptura daquele modelo e a abertura de caminhos para um novo modelo e expectativas
radicalmente diferentes. A equação das expectativas adaptativas é uma aproximação de tal
processo.
IV. Modelos Estruturalistas das Variações e Deslocamentos da Taxa Natural
As longas variações e os grandes deslocamentos da taxa de desemprego sem
inflação ou desinflação crescente que têm sido observadas nas últimas décadas nos países
da OCDE – e, no que toca à questão, as formidáveis diferenças na taxa de desemprego
verificadas entre os países – sugerem que forças poderosas têm tido impactos sobre o
próprio caminho do desemprego natural. Com efeito, muitos estudiosos das primeiras
décadas do século vinte procuraram explicar os booms de expansão e as crises em termos
de forças reais do mercado e não de forças monetárias. Qualquer explicação adequada do
fracasso da taxa de desemprego em voltar ao seu nível de antes do período do mercado em
alta, em meados dos anos 1920, com quase toda a certeza vai requerer uma teoria para
“endogeneizar” a taxa natural.
Uma teoria não-monetária do (caminho da) taxa de desemprego natural começou a
ser desenvolvida nos anos 1980 sobre os mesmos modelos de treinamento dos empregados
e de mercado do consumidor que eu havia utilizado nos anos 1960. Uma exploração
austera nessa direção (Calvo e Phelps, 1983) concentrou-se na preferência temporal e na
riqueza, mas não admitia o desemprego. Alguns modelos de dois países (Jean-Paul
Fitoussi e Phelps, 1986, 1988) enfocaram as taxas de juros intercontinentais e as taxas de
câmbio, mas omitiram a taxa natural. Modelos de economia aberta e fechada, com as
características desejadas, vieram a público em uma série de textos investigativos de 1988 a
1992 e em um volume (Phelps, 1994), com a ajuda substancial de HianTeck Hoon e Gylfi
25
Tive o prazer de explorar, com John Taylor e, mais tarde, com Guillermo Calvo a modelagem
neokeynesiana com base nas expectativas racionais da determinação do salário e do emprego em pesquisa
realizada em Columbia, nos anos 1970 (ver Phelps e Taylor, 1975, e Phelps, 1978). Contudo, não acredito
que a premissa de expectativas racionais seja satisfatória ou mesmo claramente preferível ao uso de certo
modo flexível das expectativas adaptativas.
13
Zoega.26 Era uma maneira de reescrever a macroeconomia mais radical do que a minha
pesquisa micro-macro do final dos anos 1960. A teoria demonstrava como a riqueza, em
relação aos salários após os impostos e à produtividade, tem um impacto na propensão a
deixar o emprego e, por conseguinte, na curva salários-incentivos; a taxa real mundial de
juros, as perspectivas futuras e algumas outras forças influenciam o preço sombra que as
firmas atribuem a seus ativos comerciais – empregado ou cliente; e esses impactos trazem
perturbações ou alteram permanentemente a própria taxa natural (Phelps, 1994). Eu adorei
essa teoria. Ela retrata os aumentos na taxa real intercontinental de juros como
contracionários, contrariamente ao modelo keynesiano de Hicks-Mundell-Flemming (no
qual a “velocidade” é estimulada) e ao modelo neoclássico de Hicks-Lucas-Rapping (no
qual é aumentada a oferta de mão-de-obra). Uma depreciação real da taxa de câmbio,
causada por eventos intercontinentais sobre um conjunto de parâmetros levaria à contração,
gradualmente atenuada por um ganho de consumidores, contrariamente ao que pensava
Keynes.
Esta teoria suplementar esclarece como três forças estruturais nos anos 1930 podem
ter empurrado para cima a taxa de desemprego natural. 27 Primeiro, o espectro da guerra
pairava sobre os Estados Unidos, tanto quanto sobre a Europa, na segunda metade dos anos
1930, o que deve ter inibido a atividade de investimento, inclusive a aquisição de novos
empregados (Phelps, 2006c). Segundo, o Ato de Seguridade Social (SSA) reduziu os
salários após os impostos, o que, por sua vez, reduziu a riqueza privada – um efeito que se
anulava, mas que criou “riqueza social”, a qual tem efeitos contracionários líquidos (Hoon
e Phelps, 1996; Hoon, 2006).
Finalmente, meus modelos de estudo dos “booms estruturais” demonstraram que o
súbito surgimento de novas perspectivas de inovação, elevando os preços sombra, induziria
as firmas a contratar e treinar um maior número de empregados numa antecipação do
aumento de produtividade; sua chegada efetiva eleva o custo de oportunidade do
investimento em empregados e clientes (Fitoussi et al., 2000; Phelps e Zoega, 2001). Nesta
abordagem, a elevação da produtividade nos anos 1930 não foi, em ampla medida, uma
força expansionária: foi, sim, o fruto antecipado de um boom anterior de investimentos e
amplamente contracionária. Para mim, isso foi um trabalho revelador, pois via o bom
funcionamento da economia capitalista como guiado por forças não visíveis e visionárias
emergindo da criatividade e da oportunidade da gente de negócios – forças que não se pode
imaginar que obedeçam a qualquer fórmula estocástica estacionária (Phelps, 2006b)28 – e,
na verdade, a nenhuma fórmula estocástica pré-determinada (Frydman e Goldberg, 2007).
26
Alguns dentre os muitos artigos daquele período e seus posteriores desenvolvimentos incluem Hoon e
Phelps (1992), Phelps (1992), Zoega (1993), Hoon e Phelps (1997), Phelps e Zoega (1997) e Phelps e Zoega
(1998). Entre os precursores estão Phelps (1972b) e Steven C. Salop (1979).
27
Vale mencionar que as extraordinárias mudanças técnicas ao longo de toda a década devem ter aumentado
o desemprego “fricativo”, muito embora este esteja fora dos meus modelos.
28
Há um toque de expectativas racionais na minha suposição de que, após uma mudança na estrutura da
economia ou da perspectiva futura, os preços e quantidades seguem um caminho de perfeita previsão.
Contudo, essa previsão está condicionada à ausência de mudanças posteriores no futuro, ao passo que o
modelo não garante que tais mudanças não venham a ocorrer. Os agentes da economia podem estar muito
bem conscientes da possibilidade de que o futuro não abrigará mudanças posteriores. Mas eles desconhecem
quais mudanças de parâmetro devem ser antecipadas e quais serão os seus efeitos. Isso pode ser apenas uma
aproximação grosseira da ignorância do futuro, mas pode ser melhor do que não ter nenhuma aproximação.
14
Resumindo: a teoria completada da atividade que incorpora a modelagem do
desemprego natural na modelagem dos anos 1960 acima descrita diz que o nível de
emprego aumenta de uma maneira ou de ambas – a maior demanda efetiva eleva o nível de
emprego do seu atual caminho de equilíbrio e os salários monetários efetivos crescem
acima do seu caminho esperado ou um deslocamento para cima do emprego natural
empurra para cima o nível efetivo de emprego, embora menos do que o aumento natural, e
os salários efetivos são levados para abaixo de seu caminho esperado. Nos últimos 30
anos, o foco de atenção deslocou-se dos movimentos e variações da demanda efetiva sob o
pressuposto tácito de que a taxa natural de subemprego tinha se movido pouco e na direção
dos deslocamentos e variações da própria taxa natural sob o pressuposto tácito de que a
demanda efetiva não é um problema, ao menos quando o banco central dispuser de uma
política monetária. Não teríamos chegado a esse nível de entendimento se não fosse pela
evolução tanto dos elementos monetários como estruturalistas da teoria completa.
V. O Negócio do Crescimento
Na teoria neoclássica, os objetos da teoria não eram o esforço e a iniciativa humana
como os conhecemos, mas tão somente “preços e quantidades”. Havia uma desconexão da
história e das humanidades. A teoria neoclássica do crescimento se caracterizava por ela
não ter gente. Explicava a acumulação e o investimento de capital físico, mas a força
motriz nessa história – os aumentos do conhecimento denominados “tecnologia” – cai
exogenamente, como o maná do céu – e a seleção entre novas tecnologias se dá
instantaneamente, sem custo e sem erro. Embora de fato crucial para o crescimento, o
papel humano em uma vasta gama de atividades, envolvendo administração e gerência,
julgamento, avaliação, intuição e criatividade, está ausente.
Em nenhuma outra parte esse caráter da teoria neoclássica fica mais evidente do que
na teoria da poupança nacional. O modelo de Ramsey (1928) é um primor de exemplo e
um outro foi o meu modelo neoclássico de acumulação de riqueza com risco (Phelps,
1962). Na Universidade da Pensilvânia, julguei que poderia ser algo produtivo parar de
fazer modelos da nação como uma espécie de “agente único” que vivesse infinitamente e
imaginar, ao invés, uma seqüência de gerações de pessoas conectadas por legados e
heranças. O artigo de Phelps e Robert A. Pollack (1968) solucionou o problema de quanto
cada geração pouparia numa situação de “equilíbrio do jogo” e confirmou que há mais
coisas envolvidas na decisão de poupar do que considerações tecnocráticas: a taxa de
preferência temporal e a taxa de retorno da poupança. O egoísmo de cada geração também
conta (ver também Phelps, 1973).29
Em um outro artigo, explorei a idéia de que o progresso tecnológico requer a
alocação de pessoas em pesquisa (Phelps, 1966b). Uma função de progresso técnico
descrevia a relação entre a taxa de progresso tecnológico e a dimensão da atividade de
pesquisa. É admissível que, quanto maior o insumo de pesquisa mantido ao longo dos
anos, mais rápida será a ascensão da variável tecnologia. No entanto, a taxa proporcional
de progresso diminui, mesmo se o ganho absoluto por unidade de tempo estiver
29
Mais tarde, David Laibson (1997) aplicou a teoria a uma pessoa que tivesse no futuro diferentes eus em
relação ao eu atual.
15
aumentando. Comecei investigando se um grau maior de esforço de pesquisa ao longo do
tempo poderia afastar a diminuição da taxa de progresso. Descobri que, com uma
especificação adequada da função do progresso, o crescimento exponencial do insumo para
pesquisa levaria gradualmente ao crescimento exponencial da variável tecnologia. Isso
levou rapidamente à revelação de duas implicações, ambas instigantes.
Uma implicação óbvia era que, quanto mais alto o nível do caminho de crescimento
exponencial do insumo para pesquisa, maior seria o nível do caminho de crescimento
exponencial ao qual se aplicaria o caminho da variável tecnologia.. Para um noviço,
poderia parecer, assim, que, quanto maior o empenho que a sociedade põe em pesquisa,
tanto melhor. Mas os economistas também se preocupam com o consumo – e, de fato,
alguns só se preocupam com isso. Elaborei um modelo simples no qual o consumo era
produzido (usando-se a tecnologia corrente) por toda a população que não fazia pesquisa.
Encontrei que, até um certo ponto, quanto maior a razão insumo para pesquisa /insumo
para não pesquisa, maior o nível a que se aplicaria o caminho de consumo. Mas, passado
aquele ponto, aumentos posteriores nessa razão diminuiriam, na verdade, o consumo, de
vez que o ganho obtido na tecnologia não pagaria o custo de desviar mão-de-obra da
produção de bens de consumo. Essa aí foi mais uma Regra de Ouro para a minha coleção
dessas regras (Phelps 1961, 1966a). O estranho é que se poderia atribuir um número àquela
razão. E é igual a um, ou seja, um pesquisador para cada um produtor.
A outra implicação era que uma população maior forneceria um número maior para
pesquisa e, portanto, permitiria ascender a um caminho tecnológico superior (Phelps,
1968b). As aplicações históricas são óbvias. Se não fosse o grande aumento populacional
que começou no século dezoito e que somente agora vem perdendo impulso, o número de
cérebros conseguiria realizar apenas uma pequena proporção do colossal avanço
tecnológico dos últimos dois séculos. Podemos, assim, ser gratos à explosão da população
– minha Proposição Mozart, conforme veio a ser chamada. Sob esta lógica, o crescimento
no século vinte e um será mais acelerado do que no século vinte.
Ninguém que estivesse no limiar do século dezoito poderia ter previsto que a
população iria explodir ou ter conhecimento de qual era a probabilidade de tal “regime”.
Ninguém poderia ter antecipado que a função do progresso continuaria mantendo a
pesquisa tão produtiva em avanços tecnológicos. Isso nos recorda que a incerteza
knightiana paira sobre a maior parte das coisas importantes e que podem ocorrer séculos de
previsões subestimadas.
“Pesquisa” e “tecnologia” neste contexto são menos restritas do que se poderia
supor. Tecnologia inclui as montanhas de roteiros originais empilhados na Metro Goldwyn
Mayer, dos quais se podem fazer filmes, assim como as invenções de Wagner e Stravinsky,
que inspiraram os compositores que os sucederam. No entanto, há duas limitações do foco
na “pesquisa”. Uma, da qual estava bem consciente nos anos sessenta, era de que novas
tecnologias não são absorvidas sem custo na economia de mercado, de modo que a
passagem da invenção à inovação não é imediata e nem inteiramente passível de acontecer.
É preciso um empresário do tipo schumpeteriano para resolver os problemas que surgem no
desenvolvimento e na comercialização de uma inovação; são necessários administradores
do tipo Nelson-Phelps para solucionar o problema da avaliação dos prováveis ganhos com
16
a inovação, se é que os há; requerem-se consumidores do tipo Amar Bhidé para dar uma
solução ao problema de avaliar os ganhos, se é que existem, de levar a inovação para casa;
e, enfim, carece-se de financistas do tipo Marschak-Nelson que saibam fazer melhor do que
escolher aleatoriamente na hora de decidir quais empresários devem ser apoiados em suas
iniciativas. Em suma, uma aldeia inteira é necessária para que uma inovação seja
desenvolvida, aperfeiçoada, lançada e adotada.
O artigo de Richard R. Nelson e Phelps (1966) não foi escrito na terminologia de
Ellsberg e dos axiomas de Savage, mas trata da ambigüidade. O administrador de um
vinhedo, confrontando um novo inseticida, poderia nem ter idéia do que seriam o “valor
esperado” do benefício e o custo de usá-lo – ou de qual seria a probabilidade de sucesso de
sua adoção – se não tivesse uma certa formação em ciências básicas e humanas. Um tanto
de conhecimento de engenharia, química e outros campos amplia a capacidade do
administrador de avaliar um produto ou técnica nova e assim reforçar a sua auto-confiança
para incentivá-lo a avaliar inovações que, de outra forma, ignoraria.30
Em Phelps (2000, 2005), argumentei que a Europa Continental está mal preparada
para ser uma plataforma de lançamento de inovações inusitadas como as da revolução da
Internet pela carência de administradores do tipo Nelson-Phelps – e de consumidores
dispostos a ousar como os do tipo Bhidé – devido à escassez de educações universitárias.
(Como foi possível ao Continente agarrar-se às coisas americanas durante seus Anos
Gloriosos? Essas coisas já eram bastante antigas para representarem alguma novidade.)
De maneira semelhante, Bhidé e Phelps (2005) argumentam que o vasto aprendizado que
administradores, gerentes e consumidores têm pela frente é um peso à inovação de sucesso
na China. Se não fosse assim, o investimento e a demanda do consumidor seriam ambas
mais fortes, o excedente em conta corrente menor e o crescimento mais acelerado.
A outra severa limitação da visão da pesquisa era, naturalmente, a de que é a gente
do mundo dos negócios que constitui os que concebem o grosso das inovações em uma
economia capitalista. Capitalismo é o domínio de Hayek. Numa economia assim, diz
Hayek, há uma “divisão do conhecimento” entre diferentes pessoas – não apenas
informação dispersa (“conhecimento dos preços correntes”), mas, de modo crucial, knowhow disperso quanto a “como as mercadorias podem ser obtidas e usadas”31 (Hayek, 1937).
30
O artigo foi ignorado durante o reinado das expectativas racionais, a partir de meados dos anos 1970. Mas
“alguns poucos bons homens”, preocupados em compreender o mundo, o recuperaram (Robert J. Barro e
Xavier Sala i Martin, 1997; Philippe Aghion e Peter Howitt, 1998). Os resultados de regressões calculadas
por Jess Benhabib e Mark M. Spieger (1994) também ressuscitaram a tese de Nelson-Phelps. Ali, uma versão
mais grosseira da tese de Nelson e Phelps, na qual toda a educação (até mesmo o ensino primário) é útil para
avaliar e absorver inovações derrotou a tese de Becker e Mincer de que toda educação (inclusive a educação
superior) cabe na função de produção como um fator de aumento do insumo de trabalho bruto. A glória não
durou muito, pois Alan B. Krueger e Mikael Lindahl (2001) encontraram erros e concluíram que a tese
Nelson-Phelps não se aplicava bem à Europa do pós-guerra. Minha réplica foi de que o Continente tinha,
diante de si, pouca novidade real quando tentava, nos anos 1960 e 1970, equiparar-se à tecnologia dos EUA,
de modo que não requeria qualquer administrador do tipo Nelson-Phelps. Além disso, é a educação superior
que é crucial para a equiparação e não a educação total.
31
O equilíbrio intertemporal, acrescenta ele, provavelmente sem necessidade, resulta em que as expectativas
inevitavelmente formadas pelas firmas sejam consistentes, mas não resulta em que todo o conhecimento
relevante tenha sido obtido.
17
Os empresários de Hayek acham-se em constante esforço para ampliar seu conhecimento
em alguma área onde o conhecimento é escasso ou não existente a fim de verificar se
podem desenvolver alguma coisa comercialmente vendável que ninguém mais tenha
concebido antes. Isso é criatividade – adquirir idéias que ninguém mais tem (ou que
possivelmente venha a ter sem realizar a necessária exploração). Posteriormente, esboçou
um modelo de como o empresário empreendedor, sem realmente saber o seu valor
comercial, tem que lançar a inovação no mercado para “descobrir” o seu valor, se é que
tem algum.32
Tentei, nos últimos anos, elaborar e aplicar a teoria da inovação de Hayek. Um
artigo recente formaliza a teoria da inovação com o artifício teórico de uma feira periódica
na qual se encontram empresários e financistas e fazem acordos, a despeito da informação
incompleta (Phelps, 2006d). Fui igualmente feliz ao chegar a algumas conclusões
empíricas: a presença ou ausência de importantes instituições financeiras, tais como a bolsa
de valores, parece ter grande importância para a presteza como uma economia se apropria
de uma oportunidade inovativa (Phelps e Zoega, 2001). Além do mais, vários atributos da
cultura econômica de um país servem para estimular os empresários e, num sentido mais
amplo, a incentivá-los, oferecendo-lhes uma força de trabalho disposta e um mercado
receptivo a suas inovações (Phelps, 2006a, ver Tabelas 1, 2a, 2b e 3). Enveredei
principalmente na direção do argumento de que, nas economias avançadas de qualquer
maneira, o mecanismo e a descoberta da inovação conforma de maneira ampla a
experiência e as recompensas da participação ativa na economia.
VI. A Boa Economia: Inovativa e Inclusiva
Meu interesse na economia moderna e minha familiaridade com a sabedoria
existente acerca da realização do homem me atraíram nas últimas duas décadas para a
questão da boa economia. Esse não era um território inteiramente novo para mim. Ao
apontar que a “discriminação estatística”, a qual priva os indivíduos de oportunidades e
reduz seus incentivos para se prepararem e fazerem melhor, é absolutamente natural na
presença dos custos de informação, eu sugeria que é difícil evitar a estereotipagem e que
uma economia ideal está fora do alcance (Phelps, 1972c). Em trabalhos sobre a moralidade
nos mercados, argüi que um pouco de altruísmo inibe vários atos anti-sociais, os quais,
dada a informação assimétrica, o mecanismo de mercado e a legislação não conseguem
impedir (Phelps, 1973). O livro de John Rawls (1971) me animou a explicar aos
economistas sua concepção de “justiça econômica” (Phelps, 1973a; Phelps, 1985) e a
aplicar (ele preferia “testar”) essa concepção em modelos de tributação com informação
imperfeita (Phelps, 1973b; Janusz A. Ordover e Phelps, 1975). Conforme observado, essas
idéias, em cada caso, se assentavam em uma ou mais imperfeição da informação. No
entanto, esses modelos e o modelo de Rawl da economia assumiram, também, uma visão
austera das fontes de satisfação humana, uma visão herdada da economia clássica. Esses e
32
Enfeitando um pouco uma observação feita por Amar Bhidé, o chefe de cozinha schumpeteriano opera em
sua cozinha para acertar a receita exata que foi pedida, ao passo que o chefe de cozinha hayekiano, não tendo
muita idéia do que agradaria aos comensais, faz experimentos com seus clientes (ver Hayek, 1961 e
conferência de 1968).
18
outros modelos clássicos nos deixaram sem concepções de uma boa economia adequada às
possibilidades modernas.
TABELA 1 – NECESSIDADES CLÁSSICAS OU VALORES NO TRABALHO
(Percentagem de respondentes reportando cada necessidade)
__________________________________________________________________________________________
Oportunidades
Trabalho
Assumir
Receber ordens
Concorrer com os
`a iniciativa
interessante
responsabilidades
outros
_____________________________________________________________________________________________
Estados Unidos
52%
69%
61%
1,47
1,11
Canadá
54%
72%
65%
1,34
1,01
Grã-Bretanha
45%
71%
43%
1,32
0,57
França
38%
59%
58%
1,19
0,67
Itália
47%
59%
54%
1,04
0,48
Alemanha
59%
69%
57%
1,13
1,21
G7 ex-Japão
49%
67%
56%
1,21
0,8
_____________________________________________________________________________________________
Obs.: Resultados dos levantamentos retirados de World Values Surveys 1981-2004, Ronald Inglehart et al..
“Receber ordens” e “concorrer com os outros” são medidos numa escala de 0 a 2,2 (sendo este o valor mais
alto).
É axiomático que o que uma pessoa concebe como uma boa economia depende de sua
concepção de uma vida boa. Para João Calvino (1536), a vida boa consistia de trabalho árduo e
acumulação de riqueza. Para Hayek (1944) e Friedman (1962), vida boa era uma vida de
liberdade. O apelo do trabalho e da liberdade pode significar que estes são requisitos para uma
vida boa.33 Mas qual é a sua substância, qual a sua essência?
Numa conferência de 2003, propus que é uma carreira de desafios e de desenvolvimento
pessoal o que compõe a essência de uma vida boa (Phelps, 2007). Comentou-se que esta é uma
visão “muito americana”. Em minha réplica, comecei por lembrar que esta visão é a teoria
clássica do que seja uma boa vida, uma teoria que se originou na Europa: Aristóteles declarou que
as pessoas em toda parte desejam expandir seus horizontes e “descobrir seus talentos”. O
personagem da Renascença Benvenuto Cellini descreveu as alegrias da criatividade e da
realização das ambições pessoais em sua autobiografia. Nos tempos do barroco, Miguel de
Cervantes e William Shakespeare dramatizaram a busca individual – uma visão moral a que
Jacques Barzun e Harold Bloom denominaram vitalismo. Essa visão se reflete, em uma certa
medida, em Thomas Jefferson e Voltaire, entre outras figuras do Iluminismo, e é interpretada
pelos filósofos pragmáticos William James e Henri Bergson.34 A “auto-realização” em Abraham
Maslow e em Rawls refere-se, em ambos os autores, a tudo isso, como também as “capacitações”
33
Em todo caso, essas concepções de uma boa economia não são ricas o suficiente para fornecer uma
economia política para nossos tempos. O calvinismo mostra-se compatível com o socialismo de mercado
com propriedade privada. À parte o imposto de renda negativo de Friedman e as várias exceções da obra dos
anos do meio da vida de Hayek, ambos se apresentam mais entusiasmados com uma economia de livre
mercado – governo pequeno e concorrência atomizada – do que com as oscilações especulativas e o
expansivo comercialismo do capitalismo de hoje (nos lugares onde prospera).
34
O filósofo francês Henri Bergson foi guindado à fama nos anos que antecederam imediatamente a Primeira
Grande Guerra com seu livro que afirmava a prevalência do “tornar-se” sobre o “ser” e do livre arbítrio sobre
o determinismo.
19
e o “fazer coisas” de Amartya Sen (1995). Esse conceito de realização humana obviamente difere
da teoria da felicidade de Jeremy Bentham ou de “bem-aventurança” e não precisa estar
correlacionado a uma felicidade reportada.35
TABELA 2A – ORGULHO E SATISFAÇÃO DERIVADOS DO EMPREGO (EM UMA ESCALA DE 1
A 10) E O NÚMERO REPORTADO DE PESSOAS SATISFEITAS (EM PERCENTUAL)
_____________________________________________________________________________________
Envolvimento com o
emprego (orgulho
derivado do emprego)
Satisfação com o Sente satisfação Sente satisfação Satisfação
emprego
com a vida
com a vida
resultante
familiar
com a vida
fora de casa
______________________________________________________________________________
Estados Unidos
9,7
7,8
81%
87%
75%
Canadá
9,0
7,9
84%
89%
79%
Grã-Bretanha
9,3
7,4
74%
85%
63%
França
5,7
6,8
59%
72%
46%
Itália
6,7
7,3
71%
81%
61%
Alemanha
6,0
7,0
71%
76%
66%
Japão
7,3
n.d.
53%
62%
44%
______________________________________________________________________________________________
Obs.: Resultados dos levantamentos retirados de Human Beliefs and World Values, Ronald Inglehart et al..
TABELA 2B – EVIDÊNCIAS CIRCUNSTANCIAIS E OUTROS INDICADORES DE DESEMPENHO
_____________________________________________________________________________________
Força de trabalho
Força de trabalho Emprego em
masculina em %
feminina em %
% da força
da população
da população
de trabalho
masculina em idade feminina em idade - 2003 de trabalhar - 2003 de trabalhar - 2003
Remuneração Produção de
do trabalho
mercado por
por trabalhador hora em
- 1996 1992
______________________________________________________________________________
Estados Unidos
85%
70%
94%
US$ 31.994
100
Canadá
85%
69%
92%
US$ 23.75 1
-Grã-Bretanha
85%
67%
95%
US$ 22.008
73
França
76%
61%
90%
US$ 24.1 92
92
Itália
76%
45%
91%
US$ 21.822
-Alemanha
79%
62%
91%
US$ 23.946
92
______________________________________________________________________________________________
Obs.: Homens na força de trabalho como % da população masculina em idade de trabalhar e o emprego como % da
força de trabalho são computados para o ano de 2003 (OECD); a remuneração do trabalho por trabalhador é
computada como a razão entre a compensação total e a força de trabalho a partir de dados de 1996 (Extended Penn
World Tales); a produção de mercado por hora trabalhada é dada para o ano de 1992 (Solow e Baily, 2001).
35
Sei que alguns pesquisadores recentes em felicidade chegaram à conclusão que, alcançado um certo nível,
as nações não ganham felicidade adicional ao acumularem maior riqueza com a qual são capazes de gerar
maior renda. (Isso soa um pouco como a regra de ouro da acumulação de ativos.) Essa conclusão, mantenhase ou não ela firme, não implica que haja algum nível de saciedade das gratificações clássicas. Sugere apenas
que, após um certo ponto, uma renda maior não impulsiona a satisfação das necessidades clássicas.
20
TABELA 3 – MEDIDAS DO DINAMISMO DA ECONOMIA
______________________________________________________________________________________
Liberdade para tomada
de decisões no trabalho
Rotatividade Patentes concedidas Intensidade de P & D
das firmas
por pessoa em idade ajustada para a estrutura
listadas
de trabalhar
da indústria
______________________________________________________________________________
Estados Unidos
7,4
118%
3,7
2,9
Canadá
7,2
106%
1,3
1,8
Grã-Bretanha
7,0
65%
0,8
1,9
França
6,4
79%
0,9
2,2
Itália
6,7
63%
0,4
1,0
Alemanha
6,1
42%
1,5
2,2
______________________________________________________________________________________________
Obs.: “Liberdade para tomada de decisões no trabalho” está medida em uma escala de 1 a 10, sendo 10 a mais alta;
média para o período 1990/1993 (Human Beliefs and World Values, Ronald Inglehart et al.); “rotatividade das firmas
listadas” representa o número de saídas e entradas no Índice Nacional de Ações do MSCI para cada país, no período
de 2001 a 2006, como percentual do número de firmas em 2001; os dados de patentes são uma média para 19902003 (da Organização Mundial da Propriedade Intelectual); “intensidade de pesquisa e desenvolvimento ajustada para
a estrutura da indústria” é o percentual médio de valor agregado por setor de atividade econômica adicionado em
1999-2002, usando-se a estrutura industrial do G7 (OCDE).
Se essa é a substância da vida boa, a boa economia é a que parece promover vidas
“vitalistas”. A que produz o estímulo, o desafio, o empenho, o domínio, a descoberta e o
desenvolvimento que, em conjunto, compõem a vida boa.
Há também os reclamos de justiça. Os que estão socialmente em desvantagem têm o
direito à inclusão na economia e também na sociedade. Na perspectiva de Rawls (1971), a
inclusão significa que os menos privilegiados devam se inserir pelo trabalho na economia formal
em condições que lhes favoreçam perspectivas de auto-realização: uma remuneração
suficientemente boa (e falta de emprego suficientemente pouco freqüente) para lhes permitir
operar como cônjuges, pais, cidadãos e membros da comunidade. A economia de Rawls, sendo
em ampla medida clássica, não dá espaço para a auto-realização alcançada com a vida de
negócios. Em minha discussão, vi que muitas e, talvez, a maioria das pessoas extraem uma
profunda satisfação em tomar parte no que é a instituição central de uma sociedade
economicamente avançada, a saber, a economia com seus negócios, e que, para as minorias, um
emprego assim representa a espinha dorsal da integração social (Phelps, 1997). Além do mais,
em uma sociedade que tem uma cultura vitalista do trabalho, que valoriza o desafio mental, a
responsabilidade organizacional e a iniciativa individual, não é impossível que mesmo o trabalho
de mais baixo nível contribua para a auto-realização; desse modo, um elevado grau de inclusão
pode ser algo ainda mais valorizado em uma economia que ofereça carreiras vitalistas. (O que
eu digo abaixo não depende disso.) Em suma: uma boa economia também promove a inclusão.
Um país pode promover tanto a vitalidade como a inclusão, equipando sua economia
com os mecanismos corretos. Nosso entendimento teórico da moderna economia, não obstante
seu estado rudimentar, e o grosso das evidências empíricas sugerem decisivamente que carreiras
de vitalidade requerem uma economia que gera mudanças e progresso adiante e que tal
21
dinamismo econômico é melhor atendido por um sistema de instituições e mecanismos como os
do capitalismo – regulado e desregulado conforme necessário a fim de prover uma alta taxa de
inovação comercialmente exitosa de empresários, financistas e consumidores sem coordenação
entre si. Nosso entendimento teórico dos padrões de incentivos e da observação empírica sugere
decisivamente que a inclusão é atendida mais eficientemente por incentivos fiscais – um sistema
de subsídios públicos ao emprego de baixos salários, como também de subsídios à educação
clássica de modo a atrair trabalhadores marginalizados para o setor formal da economia, reduzir
suas taxas de desemprego e aumentar a sua remuneração.36
Serão a vitalidade e a inclusão incompatíveis, o ganho de um representando perdas do
outro? Duas falácias surgiram aqui no caminho do consenso em favor da ação. No ocidente,
muitos acreditam, não sei com base em qual fundamento, que uma política fiscal dirigida a uma
inclusão econômica de largo alcance bloquearia substancialmente um dinamismo econômico
amplo e, conseqüentemente, uma sociedade vitalista. Venho argumentando que, pelo contrário,
subsídios ao emprego adequadamente concebidos restaurariam a cultura burguesa, reviveriam a
ética do auto-apoio e ampliariam a prosperidade nas faixas sociais de baixo salário. Isso
propiciaria o dinamismo de um país, e não o debilitaria, como também fortaleceria o apoio
popular às instituições capitalistas (Phelps, 1997).
Muitos outros acreditam que o dinamismo de uma economia empresarial prejudica os
trabalhadores menos aquinhoados. Meu argumento é de que o dinamismo econômico opera no
sentido de aumentar a inclusão. Uma atividade empresarial mais intensa empurra indiretamente
para cima tanto aqueles que já desfrutam bastante da vida boa e – até um certo ponto, de alguma
maneira – também aqueles trabalhadores em desvantagem, tomados enquanto um grupo. O
dinamismo resultante, a taxa acelerada de inovação comercialmente exitosa, cria empregos em
novas atividades e, ao fazê-lo, puxa os menos aquinhoados para trabalhos melhores e mais bem
pagos. Uma olhada na experiência à nossa volta na atual década sugere que os menos
aquinhoados sofreram um fracasso agudo no processo de inclusão em economias que se
mostraram resistentes à inovação. Maior empreendedorismo tende também a servir aos menos
aquinhoados de forma direta ao tornar os seus empregos menos pesados e perigosos – e talvez até
mais atraentes. Uma economia inovativa não tem nada de injusto, uma vez que ajuda tanto os que
estão numa situação boa como aqueles que estão numa situação pior.
Atualmente, na Europa, um grande número de países está em busca de uma rota de
maior prosperidade geral e maior inclusão econômica dos grupos desprivilegiados. Há um debate
em andamento entre, de um lado, aqueles neoclássicos que prefeririam enfatizar mais recursos
para a economia (mais tecnologia ou mais capital humano) como um meio de elevar a produção e
o emprego e, de outro, os modernizadores que favorecem uma estratégia de atrair os recursos
existentes para a atividade da inovação e para a atividade geral dos negócios por meio de reformas
da legislação trabalhista, da legislação societária e do setor financeiro.
_________________________________________________________________________
36
Rawls (1971) argumenta em favor de avançar nesta direção tão longe quanto possível. Eu incluiria aqui que a
justiça rawlsiana em uma economia moderna deve considerar as perspectivas de auto-realização dos elementos
empresariais tanto quanto dos trabalhadores de salário mais inferior. Mas não vou tratar disso aqui.
22
Minha conclusão é de que uma economia moralmente aceitável deve possuir
dinamismo suficiente para tornar o trabalho amplamente atraente e remunerador e deve ter
bastante de justiça, se o dinamismo somente não for capaz de atender a essas metas, de modo a
assegurar a mais ampla inclusão.
REFERÊNCIAS
Aghion, Philippe, Roman Frydman, Joseph Stiglitz e Michael Woodford. 2003. “Edmund
S. Phelps and Modern Macroeconomics.” Em Knowledge, Information, and Expectations in
Modern Macroeconomics: In Honor of Edmund S. Phelps, ed. Philippe Aghion, Roman Frydman,
Joseph Stiglitz e Michael Woodford, 3–22. Princeton: Princeton University Press.
Aghion, Philippe e Peter Howitt. 1998. Endogenous Growth Theory. Cambridge, MA: MIT
Press.
Barro, Robert J., e Xavier Sala-i-Martin. 1997.“Technological Diffusion, Convergence, and
Growth.” Journal of Economic Growth, 2(1):1–26.
Barzun, Jacques. 1962. “From the Nineteenth Century to the Twentieth.” Em Chapters in
Western Civilization, Vol. II, ed. Contemporary Civilization Staff of Columbia College,
441–64. Nova York: Columbia University Press.
Barzun, Jacques. 2000. From Dawn to Decadence: 500 Years of Western Cultural Life.
Nova York: HarperCollins.
Benhabib, Jess, e Mark M. Spiegel. 1994. “The Role of Human Capital in Economic
Development: Evidence from Aggregate Cross-Country Data.” Journal of Monetary Economics,
34(2): 143–73.
Bergson, Henri. 1911. Creative Evolution. Trad. Arthur Mitchell. Nova York: Henry Holt.
Bhide´, Amar, e Edmund S. Phelps. 2005. “A Dynamic Theory of China-U.S. Trade,” Center
on Capitalism and Society Working Paper 04.
Bloom, Harold. 1994. The Western Canon: The Books and School of the Ages. Nova York:
Harcourt Brace.
Bloom, Harold. 2002. Genius: A Mosaic of One Hundred Creative Minds. Nova York: Warner
Books.
Calvin, John. 1536. Institutes of the Christian Religion. Trad. Henry Beveridge. Repr. Grand
Rapids, MI: W.B. Eerdmans Publishing Company,1975.
Calvo, Guillermo A., e Edmund S. Phelps.1977. “Indexation Issues: Appendix.” CarnegieRochester Conference Series on PublicPolicy, 5: 160–68. Repr. em Edmund S. Phelps, Studies in
23
Macroeconomic Theory, Vol.1: Employment and Inflation. Nova York: Academic Press, 1979.
Calvo, Guillermo, e Edmund S.Phelps. 1983. “A Model of Non-Walrasian General Equilibrium:
Its Pareto Inoptimality and Pareto Improvement.” Em Macroeconomics, Prices and Quantities:
Essays in Memory of Arthur M. Okun, ed. James Tobin. Washington, DC: Brookings Institution
Press.
Dewald, William G., e Harry G. Johnson. 1963. “An Objective Analysis of the Objectives of
American Monetary Policy, 1952-61.” Em Banking and Monetary Studies, ed. Deane Carson,
171–189. Homewood, Il: Richard Irwin.
Ellsberg, Daniel. 1961. “Risk, Ambiguity, and the Savage Axioms.” Quarterly Journal of
Economics, 75(4): 643–69.
Fellner, William J. 1961. “Distortion of Subjective Probabilities as a Reaction to Uncertainty.”
Quarterly Journal of Economics,75(4): 670–89.
Fitoussi, Jean-Paul, David Jestaz, Edmund S. Phelps, e Gylfi Zoega. 2000. “Roots of the
Recent Recoveries: Labor Market Reforms or Private Sector Forces?” Brookings Papers on
Economic Activity, 1: 237–311.
Fitoussi, Jean-Paul, e Edmund S. Phelps. 1986. “Causes of the 1980s Slump in Europe.”
Brookings Papers on Economic Activity, 2: 487–513.
Fitoussi, Jean-Paul, e Edmund S. Phelps. 1988. The Slump in Europe: Reconstructing Open
Economy Theory. Oxford: Blackwell.
Friedman, Milton. 1968. “The Role of Monetary Policy,” American Economic Review, 58 (1):
1–17.
Friedman, Milton. 1962. Capitalism and Freedom. Chicago: University of Chicago Press.
Frydman, Roman, e Edmund S. Phelps. 1983. “Introduction.” Em Individual Forecasting
and Aggregate Outcomes: „Rational Expectations‟ Examined, ed. Roman Frydman e
Edmund S. Phelps. Nova York: Cambridge University Press.
Frydman, Roman, e Michael D. Goldberg. A ser publicado. Imperfect Knowledge Economics:
Exchange Rates and Risk. Princeton:Princeton University Press.
Hayek, Friedrich. 1937. “Economics and Knowledge,” Economica, 4(13), pp. 43-54.
Repr. em Friedrich Hayek, Individualism and Economic Order. Chicago: University of
Chicago Press, 1948.
Hayek, Friedrich A. 1944. The Road to Serfdom. Londres: Routledge.
24
Hayek, Friedrich. 1945. “The Use of Knowledge in Society,” American Economic Review,
35(4): 519-30. Repr. em Friedrich Hayek, Individualism and Economic Order. Chicago:
University of Chicago Press, 1948.
Hayek, Friedrich. 1961. “The Non Sequitur of the „Dependence Effect,‟” Southern Economic
Journal, 27(4): 346-48. Repr. em E. S.Phelps, ed., Private Wants and Public Needs, W.W.
Norton & Co., 1962.
Hayek, Friedrich A. 1978. “Competition as a Discovery Procedure.” Repr. em Friedrich Hayek,
New Studies in Philosophy, Economics and the History of Ideas. Chicago: University of Chicago
Press. (Orig. pub. em 1968.)
Hoon, Hian Teck. 2006. “Payroll Taxes, Wealth and Employment in Neoclassical Theory:
Neutrality or Non-neutrality,” Texto apresentado na Conferência da CESIFO-CCS, Veneza.
Hoon, Hian Teck, e Edmund S. Phelps. 1992. “Macroeconomic Shocks in a Dynamized
Model of the Natural Rate of Unemployment.” American Economic Review, 82(4): 889–900.
Hoon, Hian Teck, e Edmund S. Phelps. 1996. “Payroll Taxes and Vat in a Labor-Turnover
Model of the ‟Natural Rate.‟” InternationalTax and Public Finance, 3(3): 369–83.
Hoon, Hian Teck, e Edmund S. Phelps. 1997. “Growth, Wealth and the Natural Rate: Is the
Jobs Crisis a Growth Crisis?” European EconomicReview, 41(3-5): 549–57.
Hoon, Hian Teck, e Edmund S. Phelps. A ser publicado. “Future Fiscal and Budgetary Shocks,”
Journal of Economic Theory.
Inglehart, Ronald. 2006. World Values Surveys 1981-2004. Ann Arbor: University of Michigan
Press.
Keynes, John Maynard. 1921. A Treatise on Probability. Londres: Macmillan.
Keynes, John Maynard. 1936. The General Theory of Employment, Interest and Money.
Londres: Macmillan.
Keynes, John Maynard. 1937. “The General Theory of Employment,” Quarterly Journal
of Economics, 51.
Keynes, John Maynard. 1983. The Collected Works of John Maynard Keynes. Londres:
Macmillan para a Royal Economic Society.
Knight, Frank H. 1921. Risk, Uncertainty and Profit. Boston: Houghton Mifflin.
Krueger, Alan B., e Mikael Lindahl. 2001. “Education for Growth: Why and for Whom?”
Journal of Economic Literature, 39(4): 1101–36.
25
Laibson, David. 1997. “Golden Eggs and Hyperbolic Discounting.” Quarterly Journal of
Economics, 112(2): 443–77.
Lucas, Robert E., Jr. 1972. “Expectations and the Neutrality of Money.” Journal of Economic
Theory, 4(2): 103–24.
Lucas, Robert E., Jr. 1976. “Econometric Policy Evaluation: A Critique.” Carnegie-Rochester
Conference Series on Public Policy, 1: 19–46.
Lucas, Robert E., Jr., e Leonard A. Rapping. 1969. “Real Wages, Employment, and Inflation.”
Journal of Political Economy, 77(5):721–54.
Marshall, Alfred. 1892. Elements of Economics. Londres: Macmillan.
Merton, Robert K. 1936. “The Unanticipated Consequences of Purposive Social Action.”
American Sociological Review, 1(6): 894–904.
Myrdal, Gunnar. 1932. The Political Element in the Development of Economic Theory. Trad. por
Paul Streeten. Repr., Londres: Routledge,1953.
Nelson, Richard R. e Phelps, Edmund S. 1966.“Investment in Humans, Technological
Diffusion,and Economic Growth,” AmericanEconomic Review, 56(2): 69-75. Repr. em Ronald
A. Wykstra, ed., Human Capital Formation and Manpower Development. Nova York: Free Press,
1971.
Okun, Arthur M., ed. 1965. The Battle against Unemployment. Nova York: W. W. Norton
and Company.
Ordover, Janusz. A., e Edmund S. Phelps. 1975. “Linear Taxation of Wealth and Wages
for Intragenerational Lifetime Justice: Some Steady-State Cases.” American Economic
Review, 65(4): 660–73.
Phelps, Edmund S. 1961. “The Golden Rule of Accumulation: A Fable for Growthmen.”
American Economic Review, 51 (4): 638–43.
Phelps, Edmond S. 1962. “The Accumulation of Risky Capital.” Econometrica, 30(4): 729–
43.
Phelps, Edmund S. 1965. Fiscal Neutrality toward Economic Growth. Nova York: McGrawHill.
Phelps, Edmund S. 1966a. Golden Rules of EconomicGrowth. New York: W.W. Norton and
Company.
Phelps, Edmund S. 1966b. “Models of Technical Progress and the Golden Rule of Research,”
Review of Economic Studies, 33(2): 133–45.
26
Phelps, Edmund S. 1966c. “Optimal Employment and Inflation over Time.” Yale University,
Cowles Foundation Discussion Paper 214.
Phelps, Edmund S. 1967. “Inflation Expectations and Optimal Unemployment over Time.”
Economica, 34(135): 254–81.
Phelps, Edmund S. 1968a. “Money Wage Dynamics and Labor Market Equilibrium.”
Journal of Political Economy, 76(4): 687– 711. Repr. em Panayotis G. Korliras e Richard
S. Thorn, eds., Modern Macroeconomic:Major Contributions to Contemporary Thought.
Nova York: Harper and Row, 1979.
Phelps, Edmund S. 1968b. “Population Increase.” Canadian Journal of Economics, 1(3): 497–
518.
Phelps, Edmund S. 1972a. Inflation Policy and Unemployment Theory. Nova York: W. W.
Norton and Company.
Phelps, Edmund S. 1972b. “Money, Public Expenditure and Labor Supply.” Journal of
Economic Theory, 5(1): 69–78.
Phelps, Edmund S. 1972c. “The Statistical Theory of Racism and Sexism.” American Economic
Review, 62(4): 659–61.
Phelps, Edmund S., ed. 1973a. “Introduction.” Em Economic Justice. Harmondsworth, UK:
Penguin Books.
Phelps, Edmund S. 1973b. “Taxation of Wage Income for Economic Justice.” Quarterly
Journal of Economics, 87(3): 331–54.
Phelps, Edmund S. 1978. “Disinflation without Recession: Adaptive Guideposts and Monetary
Policy,” Weltwirtschaftliches Archiv, 100(2). Repr. em Edmund S. Phelps, Studies in
Macroeconomic Theory. Vol. 1: Employmentand Inflation. Nova York: Academic Press, 1979.
Phelps, Edmund S., ed. 1979. “Introduction: Developments in Non-Walrasian Theory,” Em
Studies in Macroeconomic Theory, Volume 1: Employment and Inflation. Nova York: Academic
Press.
Phelps, Edmund S. 1983. “The Trouble with Rational Expectations and the Problem of Inflation
Stabilization,” Em Individual Forecasting and Aggregate Outcomes: „Rational Expectations‟
Examined, ed. Roman Frydman e Edmund S. Phelps. Cambridge: Cambridge University Press.
Phelps, Edmund S. 1985. Political Economy: An Introductory Text. Nova York: W. W. Norton
and Company.
27
Phelps, Edmund S. 1992. “Consumer Demand and Equilibrium Unemployment in a Working
Model of the Customer-Market Incentive-Wage Economy.” Quarterly Journal of Economics,
107(3): 1003–32.
Phelps, Edmund S. 1994. Structural Slumps: The Modern Equilibrium Theory of Unemployment,
Interest, and Assets. Em colaboração com Hian Teck Hoon, George Kanaginis, e Gylfi Zoega.
Cambridge, MA: Harvard University Press.
Phelps, Edmund S. 1997. Rewarding Work: How to Restore Participation and Self-Support to
Free Enterprise. Cambridge MA: Harvard University Press.
Phelps, Edmund S. “Europe‟s Stony Grounds for the Seeds of Growth.” Financial Times, 9 de
agosto de 2000.
Phelps, Edmund S. 2006a. “Economic Culture and Economic Performance: What Light is Shed
on the Continent‟s Problem?” Texto apresentado na Conferência da CESIFO-CCS, San Servolo,
Veneza.
Phelps, Edmund S. 2006b. “Employment, Asset Prices and Monetary Policy,” Texto apresentado
na Festschrift para Axel Leijonhufvud, UCLA, Los Angeles, CA.
Phelps, Edmund S. 2006c. “Prospective Shifts, Speculative Swings: „Macro‟ for the TwentyFirst Century in the Tradition Championed by Paul Samuelson.” Em Samuelsonian Economics
and the Twenty-First Century, ed. Michael Szenberg, Lall Ramrattan, e Aron A. Gottesman.
Oxford: Oxford University Press.
Phelps, Edmund S. 2006d. “Toward a Model of Innovation and Performance: Along the Lines of
Knight, Keynes, Hayek and M. Polanyý´.” Texto apresentado na Conferência do Max Planck
Institut-Kauffman Foundation, Tegernsee, Munich.
Phelps, Edmund S. 2006e. “Understanding the Great Changes in the World: Gaining Ground and
Losing Ground since World War II.” Palestra no Congresso Mundial da Associação Econômica
Internacional, 28 de agosto – 2 de setembro de 2005, Marrakech, Capitalism and Society, 1(2),
2006. Jornal Eletrônico do Center on Capitalism and Society, BE Press.
Phelps, Edmund S. 2007. “The Economic Performance of Nations: Prosperity Depends on
Dynamism, Dynamism on Institutions.” Conferência sobre Emprendedorismo, Inovação e
Mecanismo de Crescimento em Economias de Livre Mercado (Nov. 2003). Em Eytan Sheshinski,
ed., The Growth Mechanism of Free Enterprise Economies, Princeton: Princeton University Press.
Phelps, Edmund S., et al. 1970. Microeconomic Foundations of Employment and Inflation
Theory. Nova York: W. W. Norton and Company.
Phelps, Edmund S., e Robert A. Pollak. 1968. “Second-Best National Saving and GameEquilibrium Growth.” Review of Economic Studies, 35(2):185–99.
28
Phelps, Edmund S., e John B. Taylor. 1977. “Stabilizing Powers of Monetary Policy Under
Rational Expectations.” Journal of Political Economy, 85(1): 163–90.
Phelps, Edmund S., e Sidney G. Winter, Jr.,1970. “Optimal Price Policy under Atomistic
Competition.” In Microeconomic Foundations of Employment and Inflation Theory, ed. Edmund
S. Phelps et al. Nova York: W. W. Norton and Company.
Phelps, Edmund S., e Gylfi Zoega. 1997. “The Rise and Downward Trend of the Natural Rate.”
American Economic Review, 87(2): 283–89.
Phelps, Edmund S., e Gylfi Zoega. 1998. “Natural-Rate Theory and OECD Unemployment.”
Economic Journal, 108(448): 782-801.
Phelps, Edmund S., e Gylfi Zoega. 2001. “Structural Booms.” Economic Policy: A European
Forum, 32: 83–114.
Phelps, Edmund S., Hian Teck Hoon, e Gylfi Zoega. 2005. “The Structuralist Perspective on
Real Exchange Rate, Share Price Level and Employment Path: What Room is Left for Money?”
In Monetary Policy and Unemployment: the U.S., Euro-Area and Japan, ed. Willi Semmler, 107–
32. Londres: Routledge.
Phillips, Alban William. 1958. “The Relation between Unemployment and the Rate of Change
of Money Wage Rates in the United Kingdom,1861–1957.” Economica, 25(100): 83–99.
Pissarides, Christopher. Citado em The Independent, Londres, 10 de outubro de 2006
Ramsey, Frank P. 1928. “A Mathematical Theory of Saving.” Economic Journal, 38(152): 543–
59.
Rawls, John. 1971. A Theory of Justice. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Salop, Steven C. 1979. “A Model of the Natural Rate of Unemployment.” American Economic
Review, 69(1): 117–25.
Samuelson, Paul A. 1947. Foundations of Economic Analysis. Cambridge, MA: Harvard
University Press.
Samuelson, Paul A. 1948. Economics: An Introductory Analysis. New York: McGraw-Hill.
Samuelson, Paul A. Citado no Chicago Sun Times, Chicago, 10 de outubro de 2006.
Sargent, Thomas J. 1999. The Conquest of American Inflation. Princeton: Princeton University
Press.
Sen, Amartya. 1995. Inequality Reexamined. Nova York: W. W. Norton and Company.
Shapiro, Carl, e Stiglitz, Joseph E. 1984. “Equilibrium Unemployment as a Worker Discipline
29
Device.” American Economic Review, 74(3): 433–44.
Solow, Robert M., e Martin N. Bailey. 2001. “International Productivity Comparisons Built
from the Firm Level.” Journal of Economic Perspectives, (15)3: 151–72.
Taylor, John B. 1993. “Discretion versus Policy Rules in Practice.” Carnegie-Rochester
Conference Series on Public Policy, 39(0): 195–214.
Taylor, John B. ed. 1999. Monetary Policy Rules. Chicago: University of Chicago Press.
Tobin, James. 1975. “Keynesian Models of Recession and Depression.” American Economic
Review, 65(2): 195-202.
Tönnies, Ferdinand. 1887. Gemeinschaft und Gesselschaft. Viena.
Weber, Max. 1921-22. Economy and Society. Traduzido
Gesellschaft.Berkeley: University of California Press, 1978.
de
Wirtschaft
Zoega, Gylfi. 1993. A Structural Model of Equilibrium Unemployment: Theory, Empirical
Testing and Dynamic Simulation. Tese de Doutorado, Columbia University.
30
und
31
Download