A natureza como o Outro de diferentes partes: uma discussão sobre

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REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y
CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98
Vol. XV, nº 854, 5 de enero de 2010
[Serie
documental de Geo Crítica. Cuadernos Críticos
de Geografía Humana]
A NATUREZA COMO O OUTRO DE DIFERENTES PARTES: UMA
DISCUSSÃO SOBRE RATZEL E ALTERIDADE
Leo Name
Doutor em Geografia, PPGG/IGEO-UFRJ
Professor do Departamento de Geografia da PUC-Rio
A natureza como o Outro de diferentes partes: uma discussão sobre Ratzel e alteridade (Resumo)
Tendo como referência trechos de Antropogeografia e As raças humanas, de Ratzel, pretendo discutir o
determinismo ambiental como discurso científico e ao mesmo tempo prática de dominação. Parto do
princípio de que o determinismo ambiental apresenta a natureza como o Outro, isto é, um objeto de
investigação em alteridade máxima, estabelecendo-se relações recíprocas de dominação e sujeição em
relação aos seres humanos. Dessa forma, delimitou-se o objeto central da geografia clássica, até hoje
relevante: a “relação entre o homem e o meio”. Ao mesmo tempo, configurou-se uma estratégia
discursiva que utilizava a ciência como forma legitimadora do projeto colonial, na medida em que as
colônias e seus povos “primitivos” puderam ser entendidos como diferentes partes de uma natureza
diferente, distante e débil, a ser dominada pelos exploradores europeus.
Palavras-chave: determinismo ambiental, alteridade, natureza, Ratzel, colonização
Nature as the Other of different parts: a discussion of Ratzel and otherness
Having as reference some parts of Ratzel’s Anthropogeography and The History of Mankind, the article
aims to discuss the environmental determinism as both a scientific discourse and a form of domination.
As the point of departure, the article proposes that the environmental determinism presents Nature as the
Other, i.e. as an object of investigation of maximum otherness, establishing reciprocal relationships of
domination and subjugation in regards to the human beings. The article argues that this how Classical
Geography ended up delineating “the relationship between man and environment as its object. At the
same time, a discursive strategy which used science as a tool of legitimating the colonial enterprise was
built: the colonies and their “primitive” peoples could be understood as different parts of a different
nature, distant and weak, to be dominated by the European explorers.
Key words: enviromental determinism, otherness, nature, Ratzel, colonization
Paira certo senso comum, apesar de camuflado sob alguma pompa científica, a respeito da figura do
geógrafo alemão Friedrich Ratzel: determinista, darwinista, evolucionista, positivista, imperialista e
racista são algumas das denominações comumente ouvidas a seu respeito. Como aponta Carvalho
(1997), são comuns os reducionismos e simplificações do pensamento ratzeliano, que em alguns casos é
resumido apenas à lembrança dos possíveis equívocos cometidos pelo pensador alemão, ao teorizar
sobre as relações homem-natureza, ou ao defender suas crenças sobre a evolução dos processos
civilizatórios. No bojo destas acusações, delineiam-se duas figuras de Ratzel: no primeiro caso, ele teria
sido um determinista ambiental incorrigível; no segundo, um anti-evolucionista adepto de teses
combatidas e desgastadas, como as do difusionismo, ou acertadamente condenadas, como as da
superioridade civilizatória dos brancos caucasianos.
No que diz respeito ao determinismo, na historiografia da disciplina, Ratzel de fato está associado aos
discursos e práticas do determinismo ambiental, e isto parece ser mais um motivo que seus detratores
comumente encontram para desqualificá-lo, bem como suas obras[1]. Há de se estranhar tal fato, já que
a geografia é disciplina que passou por diversas fases de determinismo – além do ambiental, há o
marxista da geografia econômica, o matemático da “revolução” quantitativa e o psicológico da geografia
comportamental. Mas como aponta Gomes (2000, p. 188) é sempre o nome de Ratzel o que é invocado
em relação a este tema. Talvez porque ele tenha sido o fundador da discussão, na geografia, desta
relação (de sujeição e/ou adaptação) do homem com tudo aquilo que não é o homem: seu ambiente , seu
meio... a natureza!
A esse propósito, após enumerar uma série de citações aparentemente deterministas e extraídas da obra
de Ratzel, Horacio Capel (1981) afirma que tais sentenças e outras parecidas podem, sem dúvida
alguma, reforçar a idéia de um Ratzel puramente determinista. Mas que isto se deve a
descontextualização das mesmas, o que ofusca um pensamento muito mais complexo: “Ratzel não é um
determinista, já que aceita a capacidade do homem, em um certo nível de desenvolvimento e
organização, de modificar os mesmos elementos do meio natural” (p. 285). Já Schaefer (1988 [1953].)
vai mais além, pois segundo o autor, é perfeitamente válido investigar a influência que o ambiente físico
exerce, seja de forma positiva, seja como fator limitante, sobre o processo social. Neste sentido, o
determinismo geográfico não seria algo que, necessariamente, deveria receber censura por parte de
geógrafos ou demais cientistas. Para ele, esta forma de determinismo atribui a variáveis geográficas o
mesmo papel no processo social que o marxismo, por exemplo, atribui às variáveis econômicas. A
espacialidade e a economia tomadas como o todo da explicação do processo social seria, portanto, um
exagero grosseiro de uma concepção mais profunda. Especificamente sobre Ratzel, Schaefer afirma que
este foi o primeiro geógrafo a pensar de forma original e criativa a questão entre os condicionantes
espaciais e a sociedade. E que do mesmo modo que ocorreu a Marx, poder-se-ia dizer que ele não era
tão exagerado quanto foram seus discípulos posteriores, como Sanple[2] (1911) e Huntington (1915).
Quanto às opiniões ratzelianas sobre os processos civilizatórios, um olhar mais atento pode perceberque
Ratzel foi provavelmente um dos primeiros cientistas a se debruçar sobre a diferença entre os povos de
forma valorativa, mais de cem anos antes de se tornar lugar-comum nas ciências sociais e,
particularmente, na geografia, o discurso sobre a pluralidade de culturas distribuídas pelo mundo. Na
virada do século XIX para o XX a separação entre homem e natureza se caracterizava por uma via
romântica, que misturava curiosidade científica com prazer e admiração estética, praticamente um
desejo de sujeitar-se aos desígnios ambientais. Ratzel abraçou fortemente esta perspectiva, mesmo que
estivesse interessado numa geografia positiva. Dentro desta lógica cartesiana da separação entre sujeito
e objeto, o homem se contrapõe a uma natureza externa, denominada como seu “entorno”, seu
“ambiente” ou seu “meio”, e produz e contempla uma “paisagem”, uma escala de apreensão e
representação. Ratzel criou a tensão sintética desta alteridade, ainda bastante permanente, pois ao
mesmo tempo em que colocou a natureza como agente externo de extrema influência sobre o homem,
ligou o mesmo intrinsecamente ao solo em que habita e sobretudo circula, parte desta natureza que, se
recebe maior conceituação e está mais evidente na sua Geografia Política[3], tem bastante relevância
em sua Antropogeografia. Paralelamente, o autor desenvolve a noção de civilização, que junto com seu
refinado uso de uma matriz biológica e das suas considerações sobre tempo e história, são, como tentarei
mostrar mais à frente, parte de uma perspectiva de relativização da sujeição.
Com este artigo, viso a demonstrar que o determinismo ambiental é um discurso científico que apresenta
a natureza como o Outro. Em outras palavras, no enquadramento cartesiano da geografia como ciência
moderna, a natureza foi eleita como um objeto de investigação posicionado em alteridade máxima e,
assim, a “relação entre o homem e o meio” tornou-se a questão preponderante, ainda hoje relevante.
Argumentarei, também, que ao mesmo tempo configurou-se uma estratégia discursiva que utilizava a
ciência como forma legitimadora do projeto colonial, na medida em que as colônias e seus povos
“primitivos” puderam ser entendidos como diferentes partes de uma natureza diferente, distante e débil,
a ser dominada pelos exploradores europeus.
Na primeira parte do artigo, alinharei meus argumentos à discussão pós-colonial na geografia. Pois
trazer à tona a obra ratzeliana é útil para se evidenciar o próprio momento atual da disciplina, que tem se
debruçado, em grande medida a partir de uma nova leitura de autores clássicos e da conseqüente adesão
de novas posturas, sobre o quanto a disciplina sempre esteve comprometida com práticas de dominação.
Na segunda parte do trabalho, analisarei trechos de Antropogeografia e As raças humanas, de modo a
clarear como tais questões se apresentam no discurso de Ratzel, seja pela proximidade com o
determinismo ambiental, seja por um surpreendente teor do que hoje chamaríamos de relativismo
cultural.
A geografia e a natureza em sua máxima alteridade
Segundo Marc Brosseau (1997), a tão controversa “condição pós-moderna” trouxe conseqüências
contundentes para a geografia, pois todas as nuanças e imprecisões que carrega trouxe consigo um
questionamento sobre os limites do saber e sua aplicabilidade universal. Na geografia, como em outras
ciências sociais, tal questionamento se manifestou através da adoção de novas estratégias discursivas e
posicionamentos autorais, de inovações terminológicas e conceituais e, sobretudo, da análise e do
questionamento do discurso científico em si.
Linda McDowell (1995) já apresentou o ataque de teóricos feministas, pós-estruturalistas, pós-modernos
e pós-coloniais aos discursos humanista-liberal e marxista-socialista, que mesmo quando advogando
sobre eqüidade de direitos, justiça social e progresso, carregam na noção genérica de “indivíduo” um
ponto de vista bastante particular: ocidental, masculino, heterossexual e burguês. Segundo a autora, as
“grandes narrativas” destes discursos supostamente universais na verdade excluiriam as experiências
particulares das mulheres, gays, colonizados, loucos, prisioneiros e outros “desviantes” da sociedade.
Este movimento foi acompanhado de perto por alguns geógrafos que desde a década de oitenta e ainda
com mais intensidade nos anos noventa se interrogaram então sobre o papel ativo da linguagem e dos
discursos geográficos que elaboram e comunicam idéias sobre os ambientes, lugares, paisagens, regiões
e cidades. Para McDowell, esta situação de extrema contestação dentro dos estudos sociais é
particularmente positiva para a geografia, pois a necessidade de se reavaliar a ciência em função de uma
pluralidade de conhecimentos e culturas, além de uma diversidade de “verdades”, coincidiu com o
interesse pela diferenciação espacial de longa data foco da análise geográfica (p. 285).
Em outras palavras, o momento autal é de profundas discussões e contestações, tendo como base uma
tomada de consciência de que se a geografia, como qualquer ciência, é uma prática social e sobretudo
política, ela necessariamente é parte da cultura (Peet, 1985, p. 309), ou melhor, de uma cultura ocidental,
necessariamente eurocêntrica, e como tal está sujeita a discriminar outros “padrões de
cultura” (Benedict, s.d. [1934]) que organizam e dão inteligibilidade ao mundo de outra maneira.
Todas estas intensas deconstrução e reconstrução geográficas acabaram por direcionar o olhar, também,
para os fundadores da geografia. A geografia foi alçada ao estatuto científico em momento avançado da
colonização e é contemporânea à fase neo-imperialista da partilha da África. Nesse sentido, contou com
autores como Humboldt, Ritter, Passarge, Ratzel, Ellen Semple, Vidal de La Blache e Mackinder, que
além de estarem “equivocados no momento em que acreditaram que o melhor caminho para atingir a sua
meta era construir a teoria de uma ciência do homem sobre uma base analógica estabelecida nas ciências
naturais” (Santos, 2002 [1978], p. 43), direta ou indiretamente abraçavam o projeto imperialista vigente,
tendo para isto graus diferenciados de determinismo ambiental em seus discursos, comprometendo
politicamente suas formulações teóricas.
Esta questão vai interessar particularmente aos geógrafos que se dizem ligados ao pós-colonialismo
(Crush, 1994; Driver, 2001; Jackson & Jacobs, 1996; Nash, 2002; Robinson, 2003; Sidaway, 2000),
campo do saber que, tendo como bases primordiais as discussões de Said (1990 [1977], 1995 [1993]),
constitui um fundamental ponto de partida para o questionamento das categorias do pensamento
ocidental e de suas conseqüências. Tais autores têm forte filiação à crítica literária, à antropologia, à
história e à geografia, e possuem um discurso político bem mais evidente do que os de outras correntes
integrantes do chamado “cultural turn”. Eles apontam: a ligação direta do Imperialismo da Europa com
o capitalismo monopolista e com a conseqüente necessidade de se criar colônias em uma relação de
exploração de matérias-primas e mão-de-obra; o quanto o projeto da colonização européia teria sido um
ato de violência geográfica pelo qual estas outras terras além-mar – de natureza exuberante e em
situação máxima e literal de alteridade, por contarem com uma enorme distância espacial – foram
exploradas, reconstruídas, renomeadas e controladas (Crush, op. cit., p. 337); e, finalmente, apontam
também o fato de que a geografia da época teria sido um importante instrumento político, uma disciplina
que diante do mundo já conhecido e dominado em sua totalidade, via de regra formulava conceitos e
teorias de diferenciação dos ambientes, lugares e paisagens, sempre em comparação à Europa e por isso
mesmo úteis na hierarquização dos espaços em escala global, definindo assim superiores e inferiores,
avançados e primitivos, dominantes e dominados, e “graus de civilização” – expressão utilizada por
Ratzel – que justificavam as práticas coloniais. Se tal movimento evidentemente não foi exclusivo da
geografia, traduziu-se como discurso espacial, de literal mapeamento do mundo, que era a base de sua
criação da disciplina[4].
A geografia, portanto, era uma das práticas de representação do projeto colonial, envolvidas por sua vez
com demais práticas, de dominação. Como tal vinha acompanhada com intenção e necessidade de
autenticidade (Livingstone, 1998), precisando por isso estabelecer um sistema de representações –
necessariamente etnocêntrico – do mundo, do Outro e do mundo do Outro. A geografia colaborou
fortemente na interiorização, através de um viés científico, os espaços, povos e culturas não-europeus e
apontavam a sua necessidade de evolução a partir do contato com os exploradores. Mais importante
para a geografia era o fato de que o determinismo ambiental também legitimava a nova ciência que
tentava se afirmar, dando-lhe um objeto de investigação singular e a possibilidade de se descobrir leis
universais, tão caras ao positivismo vigente. Era, portanto, duplamente útil.
Embutida no discurso cartesiano da geografia como disciplina estava a idéia de que a Natureza,
localizada na longínqua terrae incognita não-européia era o Outro, que ao mesmo tempo em que agia
sobre o homem (significativamente inferiorizando o habitante das colônias e tornando mais apto à
vitória o explorador europeu) também deveria ser dominado, junto com suas diferentes partes
integrantes – fauna, flora, recursos naturais como um todo e, é claro, os povos “primitivos”. Este
raciocínio hegemônico ganhava cores, pesos e variações de acordo com a abordagem de cada autor, em
sua relação com o contexto social da época e com outras ciências.
Os cientistas da época, é bom lembrar, estavam sob a influência da polissemia de desenhos, pinturas,
descrições e relatos sobre as colônias e seus habitantes que viajantes europeus de diversos – naturalistas,
artistas, religiosos e burocratas – faziam desde os fins do século XV e que eram então reproduzidos
tecnicamente em diversos meios (científicos e populares). A descoberta das terras além-mar, de fato,
ajudou no avanço de ciências como a botânica e a zoologia que, a partir da classificação de novas
espécies e da sua comparação com as do Velho Mundo, ganhou maior densidade analítica. Mas deve-se
estar atento ao fato de que tamanho desenvolvimento científico se deu em grande parte sob a influência
de um enorme choque visual que a descoberta destas novas terras por certo causou. Pois seja Colombo
ou um explorador séculos adiante, ao pisar nelas pela primeira vez, o europeu entrava em contato com
um meio físico muito diferente daquele de seu continente. O olhar ocidental estava de fato vendo algo
muito novo e foi justamente este olhar estupefato que classificou plantas, animais, as diferenças de cor
de pele, vestimentas, hábitos, cultos e objetos dos “selvagens”, partes integrantes de uma natureza
reproduzida em paisagens pintadas e descritas que, como na conceituação de Berque (1998 [1984]),
continham marcas bem diferentes da paisagem européia e por isto mesmo eram matriz discursiva para a
disseminação da distinção entre o Ocidente e o resto do mundo. Paisagem e raça faziam parte do mesmo
lado da moeda: eram dados visuais, que tratavam literalmente da superfície, respectivamente da natureza
e do ser humano. A popularização dos relatos de viagens e das pinturas de paisagens pelos exploradores
contribuiu para que a avaliação destes dados superficiais fosse postulada como verdade, e por isso se
transformassem literalemte em pré-conceitos que invadiram a ciência, comprometendo inclusive
possíveis observações in loco.
É preciso lembrar, ainda, que a ciência da época, como um todo, estava sob o paradigma biológico.
Após a publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin (2004 [1854]), a biologia passou ao
estatuto de matriz conceitual de todo o pensamento científico vigente. Darwin criou uma tensão no
pensamento sobre a natureza: por um lado, ele a descrevia como um sistema de interdependência entre
os seres que estavam em permanente luta pela sobrevivência, e atestava que somente os mais fortes de
cada espécie sobreviveriam a este embate – o mais forte o seria a partir do desenvolvimento individual,
relativamente aleatório, que transmitido por descendência causava então uma evolução da espécie; por
outro lado, Darwin também punha o homem dentro deste sistema, ou seja, como uma parte integrante da
natureza. Antes, em 1809, Lamarck já havia elaborado teorias sobre a evolução das espécies: no
chamado “transformismo”, os indivíduos de uma espécie se adaptariam à ação e às transformações do
meio em que vivem, criando assim um hábito, transmitido por descendência. Legado ao esquecimento
por muito tempo, o lamarckismo foi redescoberto ao final do século XIX, sendo adaptado por Darwin,
que lhe retirou a visão estática da natureza e o isolamento das espécies, trazendo à tona novas visões
sobre dinâmica e interdependência.
Como apontado por Stodart (1966), a geografia herdou de Darwin a noção de história, em um sentido
evolutivo. Além disso, transferiu o embate entre os seres e a seleção natural para o embate dos seres
humanos entre si, no contexto colonial em que emergia como ciência moderna: pois se a biologia dizia
que o sobrevivente era aquele mais forte, evidentemente este era o europeu, não o nativo. Entretanto foi
Lamarck quem influenciou a geografia com mais contundência. Junto com outros cientistas sociais
como Durkheim, Mauss e Weber, geógrafos como Vidal de La Blache e Demangeon adotaram uma
visão neolamarckiana de adaptabilidade em escala regional (Archer, 1993).
Mas o uso dessas matrizes biológicas não fez de maneira alguma o discurso geográfico abandonar o
Romantismo sobre a Natureza. O que se tinha era uma tensão entre a contemplação jubilosa e a inclusão
do ser humano dentro do sistema darwinista. Ao europeu dava-se a chance da separação entre sujeito e
objeto, condição facilitadora da exploração colonial, mas de maneira alguma o “homem primitivo” se
dissociava da natureza que lhe era circundante. Dele era praticamente retirada qualquer singularidade de
seu estatuto humano, sendo fundido e confundido com a natureza jovem e débil. E, tanto como esta, se
torna algo a ser dominado e explorado pelo europeu mais forte, que vai utilizar tanto a força bruta
quanto a ciência para tal fim.
Ratzel costuma ser associado mais diretamente ao nome de Darwin, mas isto é uma simplificação
grosseira: não só ele fez vários elogios a Lamarck e sua obra, como também criticou Darwin, em As
raças humanas, chegando a lhe apontar uma “pretensiosa e atrevida teoria da evolução”. Na verdade,
como qualquer cientista social do período, ele irá abraçar em grande medida os pensamentos
contraditórios de seu período, mas é de extrema importância perceber sua singularidade – por vezes até
mesmo transgressão – frente às práticas que os caracterizavam.
Ratzel: a Natureza como o Outro de diferentes partes
Ratzel deve ser avaliado no contexto de seu tempo: é impossível desvencilhar sua obra do fato de se
tratar de um alemão de fins do século XIX, burguês, que se formou em universidade. A Alemanha se
unificou tardiamente, chegando atrasada à corrida colonialista, mas o novo Estado contava com uma
burguesia ascendente intelectualizada que, fosse pela literatura ou pela ciência, dava coesão ao
sentimento nacionalista. Ratzel, desde criança, manifestara interesse pela botânica, estudou
farmacêutica na adolescência e na universidade se dedicou à zoologia. Tinha, portanto, a veia
naturalista que o paradigma biológico e positivista do período em que escreveu exigia. O gosto pela
geografia e pela etnologia foi desenvolvido e aguçado em suas viagens à Itália, França, Hungria, Estados
Unidos, México e Cuba, dentre outros lugares, como correspondente no jornal “Kölnische Zeitung” – o
roubo de seu precioso microscópio o fez ter que se dedicar a uma atividade remunerada que, em longo
prazo, desviou sua atenção da zoologia para a geografia. A nova nação alemã precisava saber como
eram as demais nações, e contou com um grande repórter em Ratzel. Extremamente nacionalista, Ratzel
não hesitou em ir, em 1869, voluntariamente combater na guerra franco-prussiana, como também nove
anos mais tarde, já como professor universitário, em fundar a Associação de Munique para a Defesa dos
Interesses Alemães no Exterior e, em 1882, participar da fundação da Sociedade Colonial. Pois Ratzel
pertencia a um grupo de intelectuais que acreditava que a recente criação do império alemão unificado
não era suficiente para garantir a sobrevivência da nação, defendendo portanto a aquisição de colônias, o
que só viria a ocorrer de fato em 1884.
Todas essas nuanças da biografia de Ratzel[5] podem ser percebidas em sua obra. O interesse pelo
ambiente geográfico é, antes de tudo, o interesse de um naturalista. Sua avaliação dos povos da terra é,
por certo, de alguém que considera certa superioridade do povo alemão. Ratzel era um burguês que
conseguiu sua ascensão a partir de seu intelecto e o utilizou tanto como força política quanto como fator
de avaliação dos outros povos, pois sábia era aquela civilização que sabia pensar sobre como
transformar a Natureza. Cumpre esclarecer, porém, que a interpretação que se segue não é, de maneira
alguma, um trabalho de rebaixamento do autor: avaliarei pequenos trechos de Antropogeografia e de As
raças humanas tentando deixar à mostra, sim, os desvios políticos que as teorias de Ratzel continham,
mas sem desconsiderar sua complexidade e originalidade, e tendo a consciência de que o autor era
apenas uma das vozes da geografia que naquele período iam nesta direção.
Pode-se dizer, como argumenta Moraes, (op. cit., p. 9-10) que a obra ratzeliana Antropogeografia trata
de quatro assuntos inter-relacionados: a ação das condições ambientais sobre o homem, a distribuição
das sociedades humanas sobre o globo, o estudo da difusão dos povos sobre o espaço e, finalmente, a
formação dos territórios. Ratzel inicia sua Antropogeografia admitindo que as raízes dos temas de sua
obra estão na Antigüidade. Cita Hipócrates, relatando seu conhecimento sobre a influência do clima
sobre os povos, bem como Estrabão e seu discurso sobre a singularidade dos lugares. Disserta também
sobre os vários outros autores que anteriormente já teriam tratado do tema da influência das condições
naturais sobre o homem – Montesquieu, Voltaire, Buffon, Kant, Forster, Pallas, Zimmermann, Herder e
até mesmo Karl Ritter - , mas chama a atenção o que diz a respeito de Lamarck:
“com o vasto conhecimento que possuía do mundo orgânico, ... tentou expressar no seu conceito de devir aquilo que
hoje chamamos de adaptação, fazendo deste um de seus conceitos fundamentais. Segundo Lamarck as grandes
mudanças que se verificam nas condições externas produzem grandes alterações nas ações da vida. Se as novas
necessidades se tornam permanentes, os organismos assumem novos hábitos ou realizam novas ações que se tornam
habituais ... Com as modificações da habitação da posição geográfica, do clima, do alimento, dos hábitos de vida,
vemos do mesmo modo a alteração das dimensões dos organismos, de sua forma, da proporção das partes, cor,
espessura, elasticidade etc. Lamarck, como mais tarde Darwin, considera já então as plantas e os animais domésticos
como os melhores exemplos destas mutações; mas ele ainda considera como um reflexo da ilimitada variedade das
condições externas toda a múltipla variedade de animais e vegetais” (Ratzel, 1990a [1882-1891], p. 42, grifos do
autor).
Estava estabelecida a filiação de Ratzel a Lamarck e sua hierarquização (superior) em relação a Darwin.
Chama à atenção, também, a diferenciação que Ratzel faz do “milieu”, de Lamarck, em relação ao
“ambiente geográfico”, de Buffon: ele adverte que autores posteriores aos dois não perceberam tal
diferença por terem considerado apenas o conteúdo físico abordado por Lamarck, tendo assim que
inapropriadamente recorrer a conceitos paralelos como “millieu intellectuel” (como fez Comte, por
exemplo). Nota-se que esta criticada separação entre natural e social foi exatamente aquela que mais
tarde muitos geógrafos fariam em sua conceituação de meio (meio social versus meio natural, por
exemplo) e que, em grande medida, é responsável pela cisão cada vez mais aguda e irreversível entre
geografia física e geografia humana. Para Ratzel, tal cisão seria equivocada, pois o conceito
desenvolvido por Lamarck era espacial, e, por isso mesmo, poderia conter analogicamente as forças das
relações entre a humanidade e o solo, ou seja, compreender a amplitude do território (ibid., p. 46). Em
outras palavras, embora Ratzel abandone o termo “milieu” logo no início do trabalho, substituindo a
maior parte das vezes por “natureza”, “ambiente geográfico” ou “ambiente natural” é importante
perceber que, seja qual for a nomenclatura utilizada, o objeto de sua obra é algo ao mesmo tempo
considerado físico e social. Mais precisamente, o ambiente geográfico é uma relação de fatores
indissociáveis, mais precisamente de reação e adaptação. Se o homem de Ratzel com certeza está
sujeito às determinações da Natureza como um Outro, também estava sujeito às adaptações que toda
relação pressupõe, podendo rejeitar as vontades deste Outro e até mesmo transformá-las a seu favor.
Hoje tão acusado de determinista, Ratzel surpreende por justamente ter atacado o que considerava um
“determinismo simplista”. Acusava a afirmação de que “o homem é produto de seu ambiente” como
obscura e exagerada e alguns teóricos de simplesmente não considerarem as escalas de tempo na
causalidade das determinações, antecipando discussões cada vez mais presente em geografia sobre a
necessidade de análises diacrônicas dos fenômenos. Foi bastante cauteloso ao falar sobre a possibilidade
do clima mudar direta e imediatamente o físico-biológico do ser humano, afirmando não haver
evidências quanto a isso (Id., 1914 [1882-1891, p. 532). Argumentou, também, ser necessário se
estabelecer a duração de cada uma das influências da Natureza sobre o homem, e sua permanência (Id.,
1990a [1882-1891], p. 55), mais uma vez revelando preocupações com o fator do tempo na análise
geográfica.
A Natureza, como o Outro desta relação conturbada, exerceria sua influência no espaço e sobretudo no
tempo. Mas se todos os povos estão sujeitos a esta determinação ambiental, como explicar então a
diferença de povos que vivem em condições naturais extremamente semelhantes? Esta era a principal
crítica daqueles que se contrapunham ao determinismo ambiental, mas Ratzel também os considerava
simplistas, por da mesma forma não considerarem o tempo em suas avaliações. Como eles, o autor
também estava atento às diferenças dos povos, mas não cria que isto provava uma ausência de influência
da natureza sobre os mesmos.
Ratzel recorreu à biologia para explicar suas idéias. Para ele, as diferenças entre os povos submetidos às
mesmas condições ambientais eram explicadas por dois fatores correlacionados, a variabilidade e a
hereditariedade: “a primeira produz as modificações, a segunda transmite depois à descendência” (p.
60). Assim como a girafa do exemplo de Lamarck tinha ao longo do tempo seu pescoço espichado pela
ação do meio em conjunto com sua necessidade de se adaptar ao mesmo, os povos submetidos a uma
influência duradoura do seu ambiente geográfico adquiririam também modificações, transmitidas
geração após geração. Mas não se deveria se focar apenas o ambiente imediato de cada povo, mas sim,
todos os ambientes de sua história:
“Devemos renunciar totalmente a reconstruir a essência de um povo apoiando-nos em considerações sobre o
ambiente físico que o circunda se não podemos saber há quanto tempo ele vive naquele ambiente. A vida breve e
agitada dos povos através da história e do presente faz com que estes povos não possam jamais nos fornecer bons
exemplos para representar as influências diretas de seu ambiente ... Quando dizemos: ‘este povo é produto do
território em que habita’, esquecemos que sobre esse povo se manifestam as influências hereditárias de muitos
territórios que já foram habitados por seus progenitores. A influência do ambiente atual pode ser demonstrada
apenas se se admite que um povo permaneça na sua sede atual o tempo necessário para que as influências deste
possam ser exercidas sobre sua natureza física e intelectual de modo profundo e duradouro” (ibid., p. 68-69, grifos do
autor).
Os povos, formados por entidades vivas – os seres humanos, animais como quaisquer outros – teriam
seu desenvolvimento e diferenciação atrelados aos desígnios de sua biologia. Esta diferenciação se
referiria principalmente à maneira como cada povo se adaptou às mesmas condições naturais, como
modificou a natureza, lançou sobre ela técnicas e instrumentos que desenvolveu, dela tirar proveito para
manutenção de sua vida. Tal variabilidade aconteceria através do tempo, por hereditariedade. O animal
homem, inserido em seu povo, se relacionaria com o conjunto de todas as forças ambientais que ficou
sujeito ao longo de sua existência e, pelo sangue, herdaria as condicionantes de todos os ambientes de
seus antepassados, transmitindo-as, junto com as suas, a seus descendentes.
Nota-se que Ratzel, para poder explicar as diferenças entre povos, modificou os pesos da relação de
alteridade entre homem e natureza. Se a natureza exerce influência sobre o homem, ela se torna bem
menos relevante na medida em que se considera o tempo. Não importa, para ele, que diferentes povos
habitem condições naturais semelhantes: Ratzel, aqui, foi totalmente antropocêntrico, subjugando o
destino e a História dos povos à biologia da espécie humana. Técnicas, artefatos, utensílios, modos de
subsistência e marcas sobre a paisagem – ou seja, a tradicional noção geográfica da manifestação da
cultura – fazem-se e mantêm-se no tempo através das linhagens – e é por isto que a temática da presença
ou ausência de isolamento geográfico dos povos estava para Ratzel diretamente ligada à presença ou
ausência de miscigenação. A biologia, aqui, de forma original, é o que produz os particularismos
culturais, relativizando as determinações ambientais e a conseqüente sujeição do ser humano à
Natureza. Surpreendentemente, a biologia é um fator interno ligado às contingências, mesmo que do
pensamento de Ratzel, analisado em conjunto, evidencie seu caráter positivista lógico, de grande teor
determinista.
A visão implícita de cultura em Ratzel era praticamente oposta, então, àquela explícita em seu
conterrâneo Franz Boas, autor de extrema importância que, com formação de geógrafo, colaborou
ativamente na formação e transformação da antropologia americana. Boas por todo tempo exigiu um
recorte geográfico limitado (Boas, 2004b [1896]) e a relativização dos fatores biológicos, e formulava
suas teorias tendo como foco inicial as semelhanças de adaptações ao ambiente – vários povos de
diversos lugares terem chegado aos mesmos arco e flecha, por exemplo – sugerindo os acasos do devir
histórico e a difusão territorialmente delimitada do conhecimento como fatores explicativos. Ratzel, ao
contrário, valorizava a difusão[6] dos povos sobre o globo, sem limites territoriais, e seu foco estava nas
diferenças causadas pela influência que o ambiente exercia sobre os aspectos biológicos do homem, por
isso mesmo transmitidos ao longo do tempo. Os dois conseguiam detectar diferenças culturais,
valorizavam tempo e história e priorizavam o recorte espacial, mas em vias completamente diferentes.
Logo no início de As raças humanas Ratzel afirma que
... “assim como há muito tempo se costuma tratar a fundo somente os povos que atingiram a civilização mais
elevada, como se apenas estes representassem a humanidade e fizessem parte da história universal, do mesmo modo
a etnologia, se pretende realizar seu objetivo, deve se voltar com muito maior atenção aos estratos mais profundos,
negligenciados, da humanidade. Mas a isto se acrescenta ainda o desejo de não considerar apenas superficialmente
este conceito de humanidade, tal como se explica entre os povos civilizados, que se sobrepõem a todos, em lugar de
conhecer precisamente nestes estratos inferiores os pontos de transição que conduziram aos desenvolvimento mais
elevados de hoje. A etnologia não nos deve representar apenas o ser, mas também o devir da humanidade, na
medida em que este devir deixou suas marcas na íntima variedade desta” (Ratzel, 1990b [1882-1891], p. 108, os
grifos são meus).
Por um lado, os “povos de civilização mais elevada” aos quais Ratzel se refere são evidentemente os
europeus – e, provavelmente, dentre esses, o povo alemão – e, com isto, há uma nítida hierarquização da
Europa colonizadora frente aos outros povos do globo; por outro lado, o geógrafo alemão também acusa
indiretamente a existência de um outro eurocentrismo, que faz com que só se dê importância e
relevância analítica justamente a apenas estes mesmos povos ditos superiores em civilização. Ratzel
relativiza, aqui, a universalidade da história, dotando os povos “inferiores” de uma outra história que
também faz parte e descreve a humanidade (mesmo que saibamos que ela tenha sido escrita a partir do
ponto de vista específico dos conquistadores). Contemporâneos à Conferência de Berlim que resultou
na partilha formal da África, seus escritos eram mediados por intenções claras em relação às colônias
européias, sobretudo alemãs, espalhadas mundo afora, de onde sempre chegavam relatos, pinturas,
paisagens e daguerreótipos, corroborando para a visualização do mosaico multifacetado de hábitos e
costumes distribuídos pelos continentes. Ratzel deu a estas diferenças importância fundamental, uma
questão que soa bastante contemporânea, ao mesmo tempo em que cai no discurso evolucionista,
rebaixando-os.
As raças humanas foi de fato uma obra prioritariamente de etnologia, não de geografia, e seus objetos
eram os “povos” ou “raças”, termos que à época se confundiam, já que localização geográfica, hábitos e
composições anatômica e biológica eram tratados como fatores correlacionados. Ratzel, porém, fazia
questão de descartar a raça, como componente biológico, de sua discussão, tratando das diferenças entre
os povos a partir do conceito de civilização, que desenvolveu:
“Os chineses e os mongóis pertencem à mesma raça, e no entanto que diferença de civilização! ... Segundo
investigações recentes parece que alguns dos ainos, os habitantes autóctones das ilhas setentrionais do Japão, estão
mais próximos da raça caucasiana do que da mongol. E todavia eles são um povo natural e são considerados como
tais até pelos japoneses que são mongóis. A raça por si não tem nada a ver com o patrimônio de civilização” (ibid.,
p. 128, grifos meus).
Se em Antropogeografia Ratzel discutia as diferenças dos povos vivendo sob as mesmas condições
naturais a partir da hereditariedade, tratando cultura e tradição como fatores de linhagem, portanto
sangüíneos, em As raças humanas, quando poderia enveredar ainda mais para o paradigma biológico, o
autor surpreende por diferenciar os povos por fatores culturais.
Ratzel defendeu nesta obra a idéia de que os graus de civilização eram aquilo que diferenciariam o que
chamava de “povos naturais” e “povos civilizados”[7]. Os povos naturais teriam recebido tal
denominação não por estarem em uma relação harmônica com a natureza que os cercava, mas sim por
serem totalmente subjugados aos seus desígnios. Já os povos civilizados, ao contrário, seriam aqueles
que teriam passado “da completa dependência daquilo que a natureza oferece espontaneamente à
exploração consciente de seus produtos mais essenciais para o homem por meio do trabalho” (ibid., p.
131). O que estava em jogo, nesta classificação, era a capacidade racional de se transformar a natureza,
e não a de descartá-la:
“A civilização não é propriamente independência da natureza no sentido de uma separação completa, mas no sentido
de uma união mais multíplice e mais ampla. O camponês que acumula trigo no fundo é tão dependente do seu campo
quanto o é o indiano que recolhe dos pântanos o seu arroz aquático ... [P]ara o camponês esta dependência é menos
grave ... porque ele foi bastante prudente em recolher provisões, enquanto qualquer vento forte que lance à água as
espigas de arroz atinge o indiano de modo vital. Não nos tornamos completamente livres da natureza pelo fato de a
explorarmos e estudarmos mais a fundo ... Precisamente em razão da nossa civilização estamos hoje unidos à
natureza mais intimamente do que todas as gerações que nos precederam” (ibid., p. 122-123, grifos meus).
Como em Antropogeografia, o autor continuava tratando de uma relação de alteridade entre o homem e
tudo aquilo que não é humano, a natureza. Mas em As raças humanas, a natureza é um fator que explica
as diferenças entre todas as suas partes – os povos colonizados em alteridade em relação aos europeus.
Assim, não é para o autor surpreendente “ouvir um viajante africano que, falando de um bando de
bosquímanos em posição de defesa diante de um forasteiro, ... não vê neles mais do que um bando de
chimpanzés ou orangotangos fugitivos”, sendo possível também considerar o fato de que “existem
europeus tão decaídos moralmente a ponto de serem inferiores aos australianos, ... [pois] esta atitude
deplorável de ser ou de se tornar semelhante aos animais diz respeito a todos os homens”(p. 127).
A originalidade de Ratzel estava no fato de que em As raças humanas ele realizava uma hierarquia
civilizatória que rompeu com o evolucionismo simples, justamente por se filiar a um determinismo
ambiental que era muito mais complexo que em outros autores e até mesmo do que aquele presente em
Antropogeografia. Diferente da antropologia que, inicialmente, estabeleceu uma evolução cultural
linear que tinha seu nível mais baixo nos “selvagens” ou “primitvos” (povos colonizados) e terminava
nos “civilizados” (europeus), Ratzel previa que todos poderiam evoluir e ter retrocessos de evolução:
... “esta estratificação não deve ser entendida no sentido de que ela constitua os estágios de desenvolvimento
imediatamente abaixo de nós, e pelos quais tivemos que passar, mas antes no sentido de que ela é composta tanto de
elementos que permaneceram imóveis quanto de elementos que foram abandonados e que regrediram. Há portanto
nos povos naturais um forte núcleo de qualidades positivas ... O conceito negativo, que vê somente aquilo que a eles
falta em comparação conosco, é um juízo pouco inteligente” (ibid., p. 133).
A classificação “povo natural” não designava um estágio primitivo do “povo civilizado”: Ratzel admitia,
mesmo sem explicitar, desenvolvimentos aleatórios e paralelos, dotados das histórias particulares de
cada povo, que definiriam o estágio em que se encontravam. Ele chega a dizer que “a nossa civilização
é para nós a civilização” (ibid., p. 133, grifos meus), acrescentando em seguida que “[c]ada povo tem
como sua uma soma de cognições e de potências que representa a sua civilização” (p. 133, o grifo aqui é
do autor!), o que o coloca numa perspectiva de relativismo cultural que hoje se traduz através de um
claro ataque às raízes eurocêntricas do conhecimeto. Ao mesmo tempo, Ratzel descartou uma
inferioridade de dotes mentais nos povos naturais e explicou seu “atraso” pelo fato de se encontrarem
em regiões onde havia muitas qualidades naturais, como nos trópicos, ou por se localizarem em limites
extremos do ecúmeno – regiões muito frias ou muito quentes, ilhas solitárias, montanhas fechadas e
desertos –, em ambos os casos havendo um impedimento do que chamou de meios de civilização –
agricultura, utensílios, armas, língua, religião etc. Nesse sentido, pode-se dizer que relações
deterministas entre o homem e a Natureza como estas tinham o papel, em As raças humanas, de frear
um relativismo exagerado que potencialmente a obra continha:
“É evidente que a riqueza, ou os chamados bens da natureza, que lhe poupam [aos povos naturais] certos trabalhos e
circunstâncias diversas que seriam necessários, são os menos adequados a produzir este resultado [o alto grau de
civilização], como o calor, que torna tão mais simples a fabricação das cabanas e o vestir-se na zona tropical que na
zona temperada” (ibid., p. 136).
Está claro que Ratzel valorizava certa pluralidade que torna sua obra bastante relevante, merecedora de
atenção neste momento de cultural turn que a ciência vem passando, particularmente a geografia. Mas
também está evidente o desvio político que sua obra continha, ou seja, o tal comprometimento com a
colonialidade que os críticos pós-coloniais tanto acusam fazer parte de sua obra. Pois se a classificação
de Ratzel é dinâmica, demonstrando desenvolvimentos paralelos aos quais aparentemente não trata com
desprezo, diferenciação tão complexa terá como resultado final a mesma classificação da zona
temperada como locus por excelência para o pleno desenvolvimento, pois foi nesta região em que,
segundo o autor, as condições ambientais teriam sido favoráveis para o desenvolvimento de técnicas que
fizeram o homem gradativamente saber dominar a natureza.
Mas surpreendentemente Ratzel retorna à biologia para descrever as possibilidades de avanço de graus
de civilização para os povos colonizados:
... “podemos falar de uma absorção das partes menos evoluídas pelas mais evoluídas ... A única coisa que talvez
possa consolar um pouco no desaparecimento geral dos povos naturais é a certeza de que a maior parte destes com o
processo de miscigenação é lentamente elevada de grau. Na verdade se repete de bom grado como um pretenso
axioma da experiência antiga que nos produtos das miscigenações se reproduzem preferencialmente as piores
qualidades dos genitores; mas basta lançar um olhar para ver que nas duas Américas e na África os mulatos, os
mestiços e os mestiços árabe-negros marcham à frente dos indígenas e dos negros. A miscigenação, uma vez
iniciada, se estende cada vez mais; toda nova infusão de sangue da raça superior nivela as diferenças de graus ...
Desse modo a difusão da civilização se nos apresenta como um processo de expansão dos povos civilizadores sobre a
Terra, que vai se acelerando a partir de si mesmo e tem o fim e o propósito, a esperança e o desejo de realizar, de
modo cada vez mais completo, a pressuposta unidade do gênero humano” (ibid., p. 120-121).
Neste trecho, Ratzel contraditoriamente valorizou a questão racial, no sentido biológico, e volta a falar
de uma (única) unidade, apesar de em outros momentos da obra ter focado justamente uma pluralidade a
ser estudada. Trata-se de uma estratégia discursiva evidente que objetiva apresentar o colonizador como
um ente benevolente e por isso mesmo necessário, que traz para as novas terras a evolução das raças, a
perfeita justificativa que o povoamento das colônias precisava. Mas é absolutamente surpreendente,
para não dizer transgressor, ver que Ratzel defendia abertamente a mistura de etnias apenas algumas
décadas antes da ascensão da Alemanha Nazista de Hitler. Por mais que politicamente repreensível
possam ser tais declarações, Ratzel neste momento estava muito mais perto da Coroa Portuguesa e sua
política de “branqueamento da população”, no Brasil, do que do Terceiro Reich. Pois se tanto ele
quanto Hitler estavam interessados em uma evolução biológica que chegaria a uma única raça, enquanto
o estadista queria alcançá-la a partir de uma pretensa pureza, o cientista a vislumbrava a partir de uma
fusão biológica das diferentes partes da natureza, isto é, através da miscigenação progressiva que no
futuro ocasionaria uma raça, produto de misturas de vários povos e lugares, portanto universal.
Considerações finais
A escolha de Ratzel como figura central deste trabalho teve como objetivo esclarecer pontos-chave
relativos à alteridade da natureza como objeto da geografia e suas conseqüências éticas e políticas. Mas
também visa a apontar que a leitura de Ratzel pode surpreender pressupostos – para não dizer
preconceitos – sobre sua figura que a própria disciplina difunde: se o geógrafo alemão de fato possuía
discurso determinista, o mesmo estava longe de ser simplista. Ratzel não abraçava completamente o
darwinismo e o evolucionismo. Ao contrário, foi cauteloso em utilizá-los em suas teorizações, e assim
como Vidal de La Blache e toda a escola francesa clássica, tinha uma filiação muito mais forte ao
lamarckismo: enquanto Lamarck serviu à teoria lablachiana como referência para a definição dos
gêneros de vida, serviu a Ratzel como parte de seu raciocínio sobre graus de civilização. No fundo,
tratavam do mesmo fato: as maneiras sob as quais o homem transformava a natureza.
Ratzel, com certeza, também desenvolve argumentos racistas, mas não no sentido que entendemos
contemporaneamente, mas sim através de uma hierarquização biológica que traz caso a caso a história
de um povo. Seu uso da matriz biológica era parte de um processo de relativização: ele cria na
possibilidade de avanço e retrocesso de todos os povos e defendia a miscigenação.
Ele também era positivista, mas sem deixar de possuir uma visão romântica da natureza; e, por fim, era
imperialista – talvez a única acusação verdadeiramente com propósito a seu respeito, sem grandes
possibilidades de contestação –, filiado à Sociedade Colonial, na Alemanha, desviando politicamente
suas teorizações em favor de uma política colonial. Mas Ratzel não era o único geógrafo do período a
utilizar sua ciência em favor do projeto de dominação europeu, o que, se não justifica o desvio, ao
menos o contextualiza.
A Natureza desde o início foi o objeto da geografia. Ao mesmo tempo positivista e naturalista, a
separação cartesiana entre sujeito e objeto da disciplina dicotomizou fortemente o homem em relação ao
ambiente em que vive, uma separação que já existia no senso comum e em outras abordagens científicas
do Ocidente. Por isso, como tentei demonstrar, é preciso ter cautela em associar o determinismo
ambiental, que por certo potencializa esta dicotomia, diretamente ao período colonial. Como discurso,
mesmo que científico, o determinismo ambiental está inserido dentro de inúmeras práticas que dão
inteligibilidade ao mundo, no seu caso específico, àquelas que secularmente visavam à dominação de
uma natureza que se confundia com os territórios colonizados.
Ratzel deixou bastante clara esta questão, na medida em que usava homogeneização e diferenciação com
os mesmos objetivos: hierarquizar os outros povos sempre em posição inferior à Europa. Mas o mesmo
autor se mostra surpreendente na maneira que expunha essa estratégia ao mesmo tempo científica e
política: sua teoria contestava fortemente hegemonias científicas como o darwinismo e o evolucionismo
linear, além do senso comum europeu em relação à pureza da raça branca caucasiana ou sobre os
estágios de cultura. Mesmo que tenha chegado ao mesmo resultado, politicamente comprometido,
alcançado por determinismos mais simplistas, ou seja, a legitimação de uma hegemonia européia –
cultural, política, econômica e militar, ou seja, em seu “processo civilizador” –, Ratzel guarda
singularidades expressivas que devem ser consideradas. E jamais esquecidas.
Notas
[1] Para este artigo, estão sendo considerados os seguintes textos: toda a primeira parte do primeiro volume de
Anthropogeographie (1882-1891), na verdade o trecho mais teórico da obra; também a primeira parte, teórica, de
Völkerkunde (1882-1891), que quer dizer literalmente “Etnologia”, mas foi traduzido para o italiano, o espanhol e o
português como As raças humanas.
[2] É preciso se relativizar, também, as críticas a Ellen Semple, pois talvez a autora seja, como Ratzel, vítima de
abordagens estereotipadas. Apesar de sempre desvalorizada na geografia, na sociologia urbana, sobretudo na Escola
de Chicago, autores como Robert Park, costumam dar para a obra de Ellen Semple peso fundamental, destacando-a
como inspiradora para a conformação “ecologia humana” ou “ecologia urbana”.
[3] Segundo Parker (2000), a Geografia Política de Ratzel teve mais impacto na França do que sua
Antropogeografia, tanto que foi o próprio Vidal de La Blache quem fez uma resenha para a obra nos Annales. Após
sua morte prematura, entretanto, os pesquisadores da escola francesa contraporão a idéia vidalina de nação – o
resultado da relação entre o genre de vie com o milieu – às concepções de organismo vivo e espaço vital, concebidas
por Ratzel. De forma implícita, estabelecer-se-á uma dicotomia entre uma suposta geopolítica irracional, ratzeliana,
considerada contaminada politicamente por pressupostos ideológicos de associação com o Estado, e uma suposta
geografia política racional e academicamente “pura”, vidalina. Neste sentido, se Raffestin (1981) critica certa
equivalência que Ratzel teria feito entre o Estado e a sociedade organizada, fator que permearia e contaminaria
politicamente toda sua obra (sobretudo em suas inter-relações com as suas possíveis intenções políticas), Farinelli
(2000) se opõe veementemente a esta descrição do geógrafo alemão como um cientista a serviço de ideais estatais.
Para ele, o paradoxo trágico de Ratzel foi ter tentado “reconciliar o conhecimento geral com a sua subordinação ao
interesse do Estado” Ratzel teria sido “o último indivíduo, na geografia, a querer servir tanto à sociedade quanto ao
Estado, e foi portanto, um indivíduo em crise” (p. 951)
[4] Neste sentido, não faltam críticas às geografias inglesa (Livingstone, 1994, 1999, 2003), espanhola (Capel, 1994),
italiana (Gambi, 1994), francesa (Heffernan, 1994; Souberyan, 1994) e alemã (Sandner & Rössler, 1994).
Particularmente em relação às duas últimas, fica evidente que o esforço de Febvre (19991 [1922]) em dicotomizar as
figuras de Vidal de La Blache e Ratzel na oposição entre possibilismo e determinismo ignorou completamente as
semelhanças destes autores em sua postura perante o Novo Mundo colonizado e, mais ainda, o fato de que se havia
um determinismo ambiental nas teorias de Ratzel havia o determinismo tecnocultural na noção de gêneros de vida de
Vidal de La Blache. Para Mercier (1990), “a identificação [por Febvre] do pensamento do geógrafo alemão no
determinismo visava não somente à descrição de seu conteúdo, mas também, e talvez sobretudo, a estigmatizar os
erros que a partir dela podem se detectar” (p.599). Para garantir o triunfo de Vidal sobre Ratzel, o crítico atribuiu ao
francês a paternidade de uma doutrina, o “possibilismo” – jamais enunciada por La Blache e termo jamais
pronunciado pelo mesmo – cuja principal qualidade era justamente invalidar esse falacioso determinismo. Diante
disso, por tanto querer colocar os dois geógrafos contrapostos, Febvre não rendeu justiça nem a um, nem a outro.
(Mercier, 1985, p. 213).
[5] Para Sanguin (1990), “infelizmente, muitos geógrafos apreenderam não mais que algumas frases de Ratze, sem
apreciar seu contexto” (p. 580) e isto confere um extremo reducionismo à obra ratzeliana que só pode ser combatido
justamente a partir de uma leitura do autor em constante comparação com sua própria trajetória acadêmica e pessoal.
Nesse sentido, na impossibilidade de se aprofundar questões sobre a biografia de Ratzel, indico os trabalhos de
Martins (1993), Sandner & Rössler (op. cit.) e Sauer (1971).
[6] Segundo Sauer (op. cit.. p. 245-246), o foco na difusão dos povos em Ratzel tem origem no seu contato com o
etnólogo Moritz Wagner, que a partir de uma pesquisa de campo na América Central desenvolveu a teoria de que a
evolução dos povos era conseqüência da sua migração para novos habitats: para ele, era a partir da dispersão que
haveria a necessidade de mudanças das idéias. Ratzel se apropria desta conceituação no que diz respeito à difusão
cultural que teoriza, mas Wagner ressoou muito mais na antropologia que na geografia.
[7] “Naturvölker” e “Kulturvölker” foram traduzidas do alemão para o inglês e o francês como respectivamente
natural and cultural races e races naturelles et culturelles, quando Volk, na verdade, quer dizer “povo”, e não
“raça”. Para Mercier (1995), tal problema de tradução é grave, pois, ao longo de sua obra, Ratzel insistentemente
teria deixado claro que a definição de um povo não necessariamente possui uma base racial. Este problema de
tradução não ocorreu, apesar do consagrado título As raças humanas, na conversão do texto para o português
consultada para este artigo.
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[Edición electrónica del texto realizada por Miriam-Hermi Zaar]
© Copyright Leo Name, 2010
© Copyright Biblio3W, 2010
Ficha bibliográfica:
NAME, Leo. A natureza como o Outro de diferentes partes: uma discussão sobre Ratzel e
alteridade. Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de
Barcelona, Vol. XV, nº 854, 5 de enero de 2010. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-854.htm>.
[ISSN 1138-9796].
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