Artigo ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE Avaliação clínica e funcional de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de cistos sinoviais intra-raquidianos da coluna Clinical and functional evaluation of patients submitted to surgery for intra-rachidic sinovial cysts Evaluación clínica y funcional de pacientes sometidos al tratamiento quirúrgico de quistes sinoviales intraraquídeos de la columna lumbar Marcos Antonio Ferreira Júnior1 Manuel de Araújo Porto Filho2 Roberto Sakamoto Falcon3 Marcelo Gonçalves Pereira Duarte4 Saulo Garzedim Freire4 RESUMO Objetivo: analisar o resultado do tratamento cirúrgico de lesões compressivas lombares causadas por cisto sinovial intra-raquidiano (CSI) no qual houve falha do tratamento conservador. Métodos: oito pacientes foram submetidos a tratamento cirúrgico de CSI entre Agosto de 1998 e Setembro de 2005. O seguimento médio foi de 42,85 meses. Todos os pacientes eram do sexo feminino, com média de idade de 56 anos, e foram submetidos a avaliações clínica e por imagem, por meio de protocolo específico aplicado no pré e pós-operatório, além de avaliação pelas Escalas de Oswestry e Escala Visual Analógica (EVA). Resultados: seis pacientes foram submetidos a laminectomia e ressecção do cisto sinovial. Foi realizada artrodese lombar, associada ABSTRACT Objective: to evaluate results obtained with surgical treatment of lumbar compression lesions caused by intra-spinal synovial cyst (ISC) after failure of non operative treatment. Methods: eight patients were submitted to surgical treatment of ISC between August 1998 and September 2005. Mean follow-up was 42.85 months. All patients were female and mean age was 56 years. The patients were submitted to clinical and imaging exam evaluation. Eva and Oswestry Scores were done in this evaluation. Results: six patients had been submitted to laminectomy and cyst resection. Lumbar fusion had been done in two cases. One patient, who had been submitted to laminectomy, presented instability in the follow-up and a fusion was made in a second time. Eva Score ranging from 8.25 in the preoperative RESUMEN Objetivo: analizar el resultado del tratamiento quirúrgico de lesiones compresivas lumbares causadas por un quiste sinovial intraraquídeo (QSI) donde hubo falla del tratamiento conservador. Métodos: ocho pacientes fueron sometidos al tratamiento quirúrgico de QSI entre agosto de 1998 y septiembre de 2005. El seguimiento en promedio fue de 42.85 meses. Todos los pacientes eran del sexo femenino, con un promedio de edad de 56 años. Los pacientes fueron sometidos a evaluación clínica y por imagen, por medio del protocolo específico aplicado en el pre y postoperatorio, además de una evaluación por las Escalas de Oswestry y EVA. Resultados: fueron realizados laminectomía y resección del quiste sinovial en seis casos. La artrodesis lumbar asociada a la Trabalho realizado nos Hospitais Ortopédico e Belo Horizonte – Belo Horizonte – (MG), Brasil. Cirurgião de Coluna dos Hospitais Ortopédico e Lifecenter - Belo Horizonte – (MG), Brasil. Chefe do Serviço de Cirurgia da Coluna dos Hospitais Lifecenter e Belo Horizonte - Belo Horizonte – (MG), Brasil. 3 Chefe do Serviço de Cirurgia da Coluna dos Hospitais Ortopédico e Baleia - Belo Horizonte – (MG), Brasil. 4 Residente de Terceiro Ano – REIOT – Hospital Ortopédico - Belo Horizonte – (MG), Brasil. 1 2 Recebido em: 23/04/08 Aceito em: 25/07/2008 COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3):209-216 Ferreira Júnior MA, Porto Filho MA, Falcon RS, Duarte MGP, Freire SG 210 à ressecção do cisto, em dois pacientes. Em um dos pacientes submetidos à laminectomia e ressecção do cisto e que apresentava instabilidade, foi realizada artrodese posteriormente. A avaliação pela Escala EVA variou de 8,25 no préoperatório para 0,62 no pós-operatório. A Escala de Oswestry variou de 30,50 para 9,12. Conclusão: os resultados demonstraram que o tratamento cirúrgico é opção no tratamento do CSI sintomático. evaluation to 0.62 in the postoperative. Oswestry Score ranging from 30.50 to 9.12. Conclusion: the surgery treatment is choice for the symptomatic ISC. resección del quiste fue realizado en dos casos. Uno de los pacientes sometidos a la laminectomía y resección del quiste evolucionó con inestabilidad, siendo realizada una artrodesis en un 2° tiempo. La evaluación por la Escala EVA varió de 8.25 en el preoperatorio para 0.62 en el postoperatorio. La Escala de Oswestry varió de 30.50 para 9.12. Conclusión: los resultados mostraron que el tratamiento quirúrgico es opción en el tratamiento del QSI sintomático. DESCRITORES: Cisto sinovial/ cirurgia; Vértebras lombares/ patologia KEYWORDS: Synovial cyst/ surgery; Lumbar vertebrae/ pathology DESCRIPTORES: Quiste sinovial/ cirurgía; Vértebras lumbares/ patología INTRODUÇÃO Os cistos sinoviais podem se desenvolver a partir de qualquer articulação revestida por membrana sinovial ou bainha tendinosa dos tecidos peri-articulares, sendo mais freqüentemente observados nas extremidades, principalmente punho, joelho, tornozelo e dorso do pé1. Na coluna, a sua ocorrência é menos freqüente e, quando diagnosticado, a prevalência é maior na coluna lombar, onde 60% a 89% são observados no nível L4-L52-4. Os cistos justafacetários correspondem às lesões císticas extradurais da coluna vertebral, englobando o cisto sinovial e o cisto gangliônico. O primeiro é uma continuidade do espaço sinovial e contém líquido claro ou xantomatoso. O segundo não possui esta continuidade e contém líquido proteináceo. Os cistos sinoviais podem conter os gangliônicos e viceversa5. Entretanto, os mais recentes trabalhos concordam que tal diferenciação é controversa. Estudos clínicos e por imagens, além de análises histológicas, sugeriram que estes cistos representam manifestações variadas de uma mesma entidade1. Trabalhos de Kao5, em 1974, e Pendleton6, em 1983, foram os primeiros a considerar conjuntamente cistos e gânglions como cistos justafacetários, devido à mesma origem articular. A etiologia ainda é pouco definida, sendo objeto de diversas hipóteses na literatura. A possível história natural inclui a extrusão de sinóvia através da cápsula articular, degeneração mixóide do tecido colágeno, proliferação de fibroblastos com aumento da produção de ácido hialurônico e a proliferação de células mesenquimais pluripotenciais específicas. A herniação sinovial por meio da articulação é a teoria mais aceita. A presença de degeneração mixóide, deposição de hemossiderina, calcificação e hemorragia sugerem a presença de microtraumas associados2. Ocasionalmente, pode ocorrer associação entre a presença de degeneração discal, espondilolistese degenerativa, zigartrose e a formação do cisto sinovial, porém seu desenvolvimento independe do grau de degeneração facetária ou de deslizamento COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)209-216 da espondilolistese degenerativa. Estudos recentes são favoráveis a intima relação entre o aparecimento de cisto sinovial e o grau de instabilidade vertebral3-5. Os CSI podem contribuir para o estreitamento relevante do canal vertebral e recessos laterais, tornando-se grandes o suficiente para levar à compressão do saco dural e raízes nervosas adjacentes, evoluindo com sinais e sintomas de lesões extradurais3-4,7. A ocorrência predomina no sexo feminino e em pacientes próximos dos 60 anos2, 7-8. No quadro clínico podem estar presentes sintomas de lombalgia, radiculopatia e claudicação neurogênica sendo descritos, na literatura, déficits motores (44,2%), sensitivos (28%), alterações dos reflexos (31%) e ausência de déficit neurológico (38,5%). Os sinais sensitivos e motores estão relacionados ao sítio anatômico da lesão9-14. O principal diagnóstico diferencial dos CSI sintomáticos é feito com hérnia discal. Outras lesões também devem ser lembradas, como metástase, meningioma, schwannoma e cisto meníngeo extradural4. Inúmeras são as formas de tratamento propostas para CSI. Essas variam principalmente com a sintomatologia e com a presença ou não de calcificação da parede do cisto. Nos casos que evoluem com redução ou resolução espontânea do CSI, o tratamento com repouso costuma dar bons resultados. Em alguns pacientes a imobilização contribui para o alívio da dor lombar. A aspiração pode ser tentada quando não há calcificação da parede do cisto. Na presença de intensa ciatalgia ou mesmo de déficits neurológicos, o tratamento cirúrgico com ressecção do cisto pode ser a melhor opção11. Um correto diagnóstico do cisto sinovial como responsável pelos sintomas do paciente é de extrema importância para o tratamento. Para isso, além de exame clínico minucioso, estudos de imagem como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) são de grande valor7, 9 e, no nosso meio, são os exames mais utilizados. Eventualmente, a mielografia, a mielotomografia e a artrografia podem ser necessários. As Figuras de 1 a 4 mostram CSI. Avaliação clínica e funcional de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de cistos sinoviais intra-raquidianos da coluna Figuras 1 e 2 Imagens de cisto sinovial intra-raquidiano nos cortes axiais de tomografia computadorizada Figuras 3 e 4 Imagens de cisto sinovial intra-raquidiano nos cortes sagital e axial da ressonância magnética O objetivo do presente estudo é analisar o resultado do tratamento cirúrgico de lesões compressivas lombares causadas por CSI, onde houve falha do tratamento conservador. Especial atenção foi dada à possível melhora clínica e funcional que os pacientes apresentaram durante o acompanhamento pós-operatório. MÉTODOS oito casos. Os prontuários foram obtidos no Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) de ambos hospitais e pesquisados segundo o Código Internacional de Doenças Dez (CID 10). Posteriormente, procedeu-se à transcrição das informações em formulário que consistiu no instrumento de coleta. Este instrumento continha informações que identificam o paciente e caracterizam o tipo de tratamento efetuado. Após a verificação e análise dos prontuários, procedeuse a nova convocação para avaliação clínica e funcional dos pacientes. Esta avaliação foi realizada em Junho de 2006. Durante a entrevista dos pacientes, aplicou-se a Escala de Oswestry e a Escala EVA, com comparação das mesmas obtidas no pré-operatório. A Escala de Oswestry classifica os pacientes numa graduação crescente de restrições. Trata-se de um questionário composto por dez itens com seis alternativas de resposta (“A” a “F”) sobre a manifestação da dor durante a execução de atividades da vida diária. Verifica-se a influência da dor nos cuidados pessoais, no levantamento de peso, no ato de caminhar, assentar e manter ortostatismo, na vida social, dentre outras possíveis restrições. De acordo com a pontuação final os pacientes são classificados como portadores de incapacidade mínima, moderada, severa, incapacidade ou limitação à cama15. A Escala EVA (Escala Visual Analógica) é uma forma subjetiva de mensurar a dor do paciente. Consiste numa linha reta, habitualmente de dez centímetros, com legendas “sem dor” e “dor máxima” em cada extremo. O paciente marca nesta linha o grau de dor que sente de acordo com sua percepção individual, medindo a dor em centímetros desde o ponto zero (sem dor) até o ponto 10 (dor máxima). É uma escala de uso universal, de fácil reprodução e de fácil compreensão pelo paciente16 (Figura 5). As variáveis analisadas no estudo descrito são as contidas no questionário e coletadas nos prontuários, sendo utilizadas na identificação do paciente a idade, sexo, profissão, etnia e presença de co-morbidades. A média de idade dos pacientes consistiu em 56 anos (DP=9,84; Mediana=54,00) com as idades mínima e máxima iguais a 47 e 74 anos, respectivamente. Todos os oito pacientes acometidos eram do sexo feminino. Quanto à profissão, três pacientes exerciam atividades burocráticas (37,50%), quatro eram aposentados (50,00%) e um paciente exercia atividade braçal (12,50%). O Gráfico 1 apresenta a distribuição dos pacientes segundo a profissão. Segundo a etnia, um paciente era faiodérmico (12,50%) e sete eram leucodérmicos (87,50%). Cinco pacientes apresentavam algum tipo de co-morbidade (62,50%) enquanto os três Trata-se de estudo tipo prospectivo, de avaliação de técnica cirúrgica, realizado por meio da investigação dos casos de pacientes atendidos nos hospitais onde os autores exercem suas atividades, no período compreendido entre Dezembro de 1997 a Junho de 2006. Anteriormente à execução do trabalho, foi solicitada a aprovação do mesmo na Comissão de Ética em Pesquisa das instituições em que foram realizados. Foram avaliados todos os pacientes admitidos nos hospitais com diagnóstico de CSI, num total de 14 pacientes, mas foram excluídos do trabalho todos os casos não tratados cirurgicamente, os que apresentavam preenchimento incompleto do prontuário e os assintomáticos (achado de Sem dor Dor máxima cisto ocasional). Foram incluídos neste estudo apenas os pacientes submetidos a tratamento Figura 5 cirúrgico, consistindo numa amostra final de Escala Visual Analógica (EVA) (originalmente, em escala de quatro cores) COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3):209-216 211 Ferreira Júnior MA, Porto Filho MA, Falcon RS, Duarte MGP, Freire SG 212 programas de processamento estatístico (Epi Info vr. 6.04d), sendo obtidas as distribuições de freqüências e calculadas as médias, desvio padrão, mediana e percentagens. RESULTADOS Gráfico 1 Distribuição dos pacientes segundo a atividade profissional demais (37,50%) não possuíam outras queixas. Hipertensão arterial sistêmica foi relatada por quatro pacientes (50,00%). Uma paciente afirmou ser portadora de gonartrose (12,50%), outra de diabetes mellitus (12,50%) e outra relatou hipotireoidismo (12,50%). Quanto às manifestações clínicas, foram obtidos por verificação dos prontuários, dados referentes aos sintomas iniciais como dor à palpação lombar, presença de trauma inicial desencadeante, nível radicular acometido, sensibilidade por dermátomos (L1 a S1), força dos grupos musculares principais (quadríceps, adutores do quadril, tibial anterior, extensor longo do hálux, glúteo médio, extensor longo e curto dos dedos, fibular longo e curto, gastrocnêmio e sóleo), graduação pela Escala de Força de Kendall (M5 a M0), reflexos (patelar e aquileu) e Teste de Lasègue17. Todas estas variáveis foram investigadas durante exame clínico na data da aplicação do questionário para comparação com os dados prévios. Foram avaliados, ainda, os estudos por imagem realizados na época do diagnóstico, tais como radiografia, TC e RM. Nas radiografias foram analisados os achados de discartrose, espondilolistese, zigartrose e presença de vértebra de transição. Nas tomografias avaliou-se a presença de artrose facetaria, espondilolistese, características do disco vertebral (normal, degeneração, protrusão e herniação), localização do cisto sinovial (canal central, canal lateral ou extra-canal), características da parede do cisto (calcificada ou sinovial). Nos estudos por RM, foram avaliadas as mesmas variáveis citadas nos estudos por TC, acrescentando-se a avaliação do Sinal de Modic18 e do conteúdo do cisto. O Sinal de Modic consiste em uma alteração de captação na RM, que pode estar presente no corpo vertebral adjacente à placa terminal de discos degenerados. Modic Tipo 1, que corresponde a uma infiltração hídrica edemato-inflamatória do osso esponjoso subcondral, se traduz por hipo-sinal em T1 e hiper-sinal em T2 e é associado a processos degenerativos agudos. Modic Tipo 2 corresponde a infiltração gordurosa do osso esponjoso e se traduz por hiper-sinal em T1 e T2. No Modic Tipo3 ocorre infiltração cálcica pura, com hipo-sinal em T1 e T218. Quanto ao ato cirúrgico, foram analisados o tipo de cirurgia realizada (laminectomia com ressecção do cisto ou artrodese, associada à laminectomia com ressecção do cisto) e a presença de complicações per e pós-operatórias. Na análise dos dados foi utilizado um computador tipo PC. Foi empregado o método estatístico “t” de Student’s, por meio de COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)209-216 No presente trabalho, foram analisados prontuários de oito pacientes com diagnóstico de CSI da coluna lombar, que foram submetidos a tratamento cirúrgico no período compreendido entre 29/08/1998 e 14/09/2005. O tempo de seguimento médio entre a data de realização da intervenção cirúrgica e da aplicação do questionário/avaliação clínica foi de 42,85 meses (desvio padrão = DP = 28,58), com segmento mínimo e máximo de 9,49 e 94,02 meses respectivamente. Com relação à apresentação inicial do quadro clínico, sete pacientes apresentaram quadro de lombociatalgia (87,50%), enquanto um (12,50%) era portador de dor ciática isolada. Apenas um paciente (12,50%) correlacionou um antecedente traumático ao início dos sintomas (esforço ao levantar peso em posição de agachamento). O tratamento cirúrgico teve como principal indicação a falha do tratamento conservador por período superior a três meses (seis casos, 75,00% dos pacientes). Este tratamento consistiu no uso de analgésicos, repouso e imobilização. Ciática hiperálgica foi indicação cirúrgica em dois casos (25,00%). O nível lombar mais acometimento foi L4-L5, presente em cinco casos (62,50%). O nível L5-S1 foi responsável pelas queixas dos demais três pacientes (37,50%) do presente estudo. A força muscular estava preservada na totalidade dos grupamentos musculares investigados, com graduação M5 na Escala de Kendall. Os reflexos patelares eram normais em todos os pacientes; apenas um paciente (12,50%) apresentou hiporreflexia do aquileu. Dor a palpação lombar estava presente em quatro pacientes (50,00%). O Teste de Lasègue foi positivo em um paciente (12,50%). Alterações da sensibilidade (hipoestesia) foram observadas em três pacientes (37,50%), sendo que a distribuição quanto aos dermátomos encontra-se no Gráfico 2. A análise dos estudos de imagem consistiu na pesquisa dos achados em radiografias, tomografias computadorizadas e ressonâncias magnéticas. Todos os pacientes efetuaram radiografias como parte da propedêutica, três pacientes realizaram TC (37,50%) e cinco pacientes foram submetidos à ressonância magnética (62,50%). Tomografias computadorizadas e ressonâncias magnéticas não foram solicitadas para um mesmo paciente. Gráfico 2 Distribuição da porcentagem das áreas de hipoestesia observadas por dermátomo Avaliação clínica e funcional de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de cistos sinoviais intra-raquidianos da coluna 213 Número de exames cisto com parede sinovial e altura discal superior a 50%. A Tabela 1 apresenta os achados encontrados durante a avaliação por tomografia computadorizada e ressonância magnética. A porcentagem corresponde apenas aos pacientes que foram submetidos a estes exames (três pacientes efetuaram TC e cinco realizaram RM); nenhum paciente foi submetido a ambos os exames. Incluíram-se apenas os achados passíveis de comparação. Laminectomia com ressecção do cisto, foram realizadas Gráfico 3 em seis casos (75,00%). Laminectomia com ressecção do Distribuição do número de exames de imagem realizados pelo cisto, associada à artrodese lombar, conforme a necessidade total de pacientes de estabilização cirúrgica por instabilidade pré-existente, O Gráfico 3 apresenta a distribuição dos exames de foi realizada em dois casos (25,00%). Nesta série de casos não foram observadas compli-cações imagem realizados pelo total dos pacientes. durante o per-operatório. Três pacientes (37,50%), portadores Os achados encontrados nas radiografias consistiram de leve listese, foram submetidos a tratamento cirúrgico sem em sinais de discartrose em dois pacientes (25,00%), artrodese. Destes, dois (25,00%) evoluíram com melhora listese em cinco pacientes (62,50%) e zigartrose em dois dos sintomas, sem agravamento da instabilidade. pacientes (25,00%). Um paciente (12,50%) possuía estudo O outro paciente portador de leve listese (12,50%) radiográfico sem alterações. evoluiu com complicação no pós-operatório tardio, A tomografia computadorizada foi realizada em três apresentando instabilidade subseqüente a laminectomia pacientes (37,50%); dentre estes, dois apresentavam sem instrumentação primária. O caso foi conduzido artrose facetária (66,70%), um apresentava degeneração com realização de uma segunda intervenção, sendo discal (33,30%) e dois eram portadores de protusão discal realizada a artrodese com instrumentação e uso de (66,70%). enxerto. Não foi observada recidiva do cisto em A totalidade apresentava listese, cisto com parede sinovial e altura discal superior a 50%. Procedeu-se a nenhum caso estudado. A avaliação pela Escala de Oswestry revelou média realização de ressonância magnética em cinco pacientes pré-operatória de 30,50 com valor mínimo de 19 e máximo (62,50%); neste grupo foi encontrada artrose facetaria em de 49 (DP=9,68), evoluindo no pós-operatório para média quatro casos (80,00%), listese em dois casos (40,00%), de 9,12, sendo um mínimo de zero e máximo de 35 dois discos normais e três desidratados (40,00% e 60,00%, (DP=11,93). respectivamente). Inicialmente, um paciente (12,50%) tinha incapacidade Na avaliação do Sinal de Modic um paciente manifestou 1 moderada, três (37,50%) apresentavam incapacidade severa, Modic (20,00%). Os outros quatro pacientes (80,00%) não três (37,50%) foram classificados como incapacitados e apresentaram alterações na ressonância magnética quanto um (12,50%) como limitado à cama. No pós-operatório aos Sinais de Modic. esses valores consistiram em seis pacientes (75,00%) com Quanto à localização do cisto, dois pacientes incapacidade mínima, um (12,50%) com incapacidade possuíam cisto na porção central do canal (40,00%) moderada e um incapacitado (12,50%). A melhora média e três no recesso lateral (60,00%). Todos possuíam foi de 42,50% (DP=34,10; p=0,009). Após a aplicação do questionário Tabela 1 – Análise dos resultados da tomografia para avaliação funcional dos pacomputadorizada e da ressonância magnética realizadas nos cientes, constatou-se, em relação pacientes portadores de cisto sinovial intra-raquidiano à dor, média pela Escala EVA pré Exames operatória de 8,25 (DP=2,55), com Achados TC RM valores mínimo e máximo de três e dez, respectivamente. A média pós Nº % p Nº % Valor-p operatória verificada foi de 0,62 Artrose Facetária 02 66,7 0,057 04 80,0 0,003 (DP=1,06), com valor mínimo Listese 03 100 - 02 40,0 0,000 de zero e máximo de três. A Altura Discal > 50% 03 100 - 05 100 porcentagem de melhora verificada foi de 92,00% (DP=13,34). Os Disco Normal - - - 02 40,0 0,002 resultados da ava-liação pré e pósDisco Degenerado 01 33,3 0,015 03 60,0 0,002 operatória pelas Escalas de Oswestry Disco Protruso 02 66,7 0,015 - - e EVA encontram-se discriminados Parede Sinovial 03 100 - 05 100 nos Gráficos 4-6. Fonte - SAME Hospital Ortopédico e Hospital Belo Horizonte, BH - MG COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)209-216 Ferreira Júnior MA, Porto Filho MA, Falcon RS, Duarte MGP, Freire SG 214 Escala de Oswestry Gráfico 4 Resultados da avaliação pré e pós-operatória de acordo com a Escala de Oswestry Percentual de melhora Gráfico 5 Percentual de melhora, discriminado por paciente, de acordo com a Escala de Oswestry (Fonte - SAME dos hospitais onde os autores trabalham) EUA Gráfico 6 Resultados da avaliação pré e pós-operatória pela Escala EVA DISCUSSÃO A média de idade dos pacientes acometidos por CSI, encontrada no presente estudo (56 anos), mostra-se semelhante à encontrada em outros trabalhos na literatura, tais como Banning (63 anos)2, Epstein et al. (69 anos)7 e Liu et al. (60 anos)9. Além disso, o sexo feminino, encontrado em 100% dos casos estudados, também aparece como predominante na literatura2-3, 7-8. O nível lombar de maior COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)209-216 acometimento L4-L5 está condizente com o apresentado em outros estudos assim como o padrão clínico de acometimento (dermátomos de hipoestesia, reflexos) respeitando os níveis neurológicos da lesão2-6, 9-10. Embora não haja na literatura um fator etiológico estabelecido como determinante para a formação do cisto, estudos o associam à degeneração discal, espondilolistese e zigartrose3-5. Esses Avaliação clínica e funcional de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de cistos sinoviais intra-raquidianos da coluna dados são semelhantes aos encontrados neste trabalho onde exames de TC mostraram presença expressiva de listese (100% dos casos submetidos a esse exame). Além disso, na análise das RM realizadas, 80,00% apresentavam artrose facetaria. Dos pacientes avaliados no presente estudo, cinco (62,50%) eram portadores de listese leve na avaliação dos exames de imagem. Dois (25,00%) foram submetidos à artrodese após laminectomia associada à ressecção do cisto. Nos demais três pacientes (37,50%), por não apresentarem queixas relacionadas à instabilidade, optou-se pela não realização da fusão. Um paciente não submetido à artrodese evoluiu com agravamento da instabilidade (12,50%), tendo sido realizada fusão em um segundo tempo. Epstein et al.19 relatam provável superioridade nos procedimentos com artrodese em caso de cisto bilateral ou naqueles com listese de maior grau, sem conclusão definitiva nos casos de listese leve e cisto unilateral. Nos casos estudados foi demonstrado, conforme avaliação pré e pós-operatória das Escalas Oswestry e EVA, que sete pacientes (87,50%) tiveram melhoras significativas do quadro clínico. Analisando os resultados da Escala de Oswestry, fica evidente a melhora clínica apresentada pela maioria dos pacientes. Neste método de avaliação havia, no pré-operatório, um paciente (12,50%) com incapacidade moderada que evoluiu para incapacidade mínima. Outros três pacientes que foram considerados incapacitados (37,50%) e um que era limitado à cama (12,50%) evoluíram, todos, também para incapacidade mínima. Os últimos três pacientes do estudo, que eram considerados como portadores de incapacidade severa (37,50%), evoluiram, um para incapacidade mínima (12,50%) e outro para incapacidade moderada (12,50%). O terceiro paciente deste grupo foi o único que apresentou piora clínica segundo a Escala Oswestry sendo considerado incapaz após a cirurgia (12,50%)15. A porcentagem média de melhora verificada na Escala EVA (92,00%), evidencia também, o grau de satisfação dos pacientes com o resultado da cirurgia, uma vez que são eles quem determinam a graduação da dor tanto pré quanto pósoperatória. Houve melhora em todos os pacientes segundo essa escala de avaliação. Deve-se observar que o mesmo paciente que apresentou piora clínica no pós-operatório pela avaliação da Escala de Oswestry, relatou melhora da dor após cirurgia segundo a Escala EVA. Banning et al.2 reportaram, em um estudo de 29 casos submetidos à ressecção de CSI, 94% de bons e excelentes resultados. Onofrio et al.10 refere, em seu estudo de 12 casos de ressecção de CSI, a melhora parcial ou total dos sintomas em todos os pacientes apresentados. Deinsberger et al.20 encontraram 81% de bons e excelentes resultados no acompanhamento de 31 casos. Khan et al.8 relata 92% de bons e excelentes resultados. Sandhu21 relata 94% de bons e excelentes resultados numa série de 12 casos com uso de técnica minimamente invasiva. Os resultados do estudo realizado mostram-se de acordo com a literatura, obtendo resultados semelhantes principalmente em relação ao sucesso do tratamento cirúrgico. CONCLUSÕES O bom resultado do tratamento cirúrgico do CSI tem como premissa a correta indicação para a realização do procedimento, definindo a lesão cística como a causa da compressão. O tratamento cirúrgico apresenta taxas de bom resultado relevantes e baixos índices de complicações, tornando-se uma importante opção no arsenal terapêutico desta lesão. REFERÊNCIAS 1. Rosa ACF, Machado MM, Figueiredo MAJ, Albertotti CJ, Cerri GG. Cistos sinoviais lombares. Radiol Bras. 2002; 35(5):299-302. 2. Banning CS, Thorell WE, Leibrock LG. Patient outcome after resection of lumbar juxtafacet cysts. Spine. 2001; 26(8):969-72. 3. Lyons MK, Atkinson JL, Wharen RE, Deen HG, Zimmerman RS, Lemens SM. Surgical evaluation and management of lumbar synovial cysts: the Mayo Clinic experience. J Neurosurg. 2000; 93(1 Suppl):53-7. COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)209-216 215 4. Hsu KY, Zucherman JF, Shea WJ, Jeffrey RA. Lumbar intraspinal synovial and ganglion cysts (facet cysts). 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