TUMOR CARCINÓIDE PULMONAR: RELATO DE CASO

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TUMOR CARCINÓIDE PULMONAR: RELATO DE CASO
Carollina Casotti de Moraes1; Daniele Polegatto Cristo2; Jamile Celly Souza Pereira2; Rodrigo Fraga Olivieri3; Wagner dos Santos Silva3
1)  Médica residente do serviço de Clínica Médica do Hospital e Maternidade São José, Colatina/ES.
2)  Acadêmicas do décimo período de Medicina do Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC, Colatina/ES.
3)  Médicos preceptores da residência de Clínica Médica do Hospital e Maternidade São José, Colatina/ES.
INTRODUÇÃO
Os tumores carcinóides fazem parte do grupo dos tumores neuroendócrinos. São mais comuns no trato gastrointestinal (74%),
seguido pela localização broncopulmonar (15%), sendo bastante raros.1,2. Não há diferença quanto ao sexo e a faixa etária varia
dos 13 aos 83 anos, com média de 55 anos. Não há relação com fatores de risco predisponentes, como o tabagismo. Em
75-80% dos casos os tumores brônquicos são centrais e se manifestam por escarro hemático e pneumonia obstrutiva. Cerca de
2 a 50% dos pacientes são assintomáticos, com a lesão representando um achado radiográfico acidental3.
RELATO DE CASO
Paciente E.G.S, sexo masculino, 34 anos, sem comorbidades, nega tabagismo e relata etilismo social. Realizou exames
admissionais na empresa onde trabalha (exames laboratoriais e radiografia de tórax) que identificaram imagens atípicas em
hemitórax direito, em projeção pulmonar. Tomografia computadorizada do tórax evidenciou massa pulmonar no segmento apical
do lobo superior direito, de contornos irregulares, medindo cerca de 3,9 x 3,5 cm, associada a estrias parenquimatosas
adjacentes e pinçamento pleural contíguo, sendo submetido a lobectomia superior direita associada a esvaziamento linfonodal
mediastinal e drenagem torácica fechada em selo-d’água; sem intercorrências, com pós-operatório realizado em Unidade de
Terapia Intensiva (UTI). Evolui bem e recebe alta da UTI no terceiro dia e alta hospitalar no quinto dia posterior ao
procedimento.
O material cirúrgico foi enviado para análise histopatológica que diagnosticou tumor carcinóide pulmonar típico, classificado
como estadio clínico IB e patológico pT2pN0. Comparece à primeira consulta no ambulatório de oncologia em bom estado geral
e sem queixas. São solicitados exames laboratoriais, tomografias de tórax e abdome total de controle pós operatório, que são
avaliadas na consulta de retorno. Tomografia computadorizada de tórax evidencia pulmão direito reduzido de volume com
elevação da hemicúpula diafragmática. Demais exames não apresentam alterações.
Paciente considerado curado do ponto de vista clínico e cirúrgico, devido ao tipo histológico do tumor apresentado. Mantendo
seguimento trimestral com as especialidades, sem novas queixas ou alterações de exames até o presente momento.
DISCUSSÃO
Os tumores carcinóides são tumores neuroendócrinos que surgem de células enterocromafins. Essas células estão localizadas
em todo corpo, contudo, os tumores carcinóides ocorrem na maioria das vezes no pulmão (15%), intestino delgado (25%),
apêndice (25%), reto (15%) e estômago (5%)4.
Tumores carcinóides representam 1-4% de todos os cânceres broncopulmonares e não há relação causal com nenhum fator de
risco como o tabagismo. Também não há preferência por sexo e a faixa etária é ampla, com média de 55 anos de idade3.
Morfologicamente, os carcinóides pulmonares podem ser centrais ou periféricos. Cerca de 25% ocorrem na periferia como
tumorações sólidas e nodulares e os pacientes são em sua maioria assintomáticos; 75% ocorrem em brônquios de maior
calibre, sendo relacionados aos sintomas obstrutivos e apresentando como aspecto radiológico mais frequente, imagens
correspondentes à atelectasia lobar, pneumonia obstrutiva e algumas vezes bronquiectasias. A evolução lenta desses tumores
de localização central pode conduzir a destruição do parênquima. Frequentemente, essas neoplasias acometem o pulmão
direito (69%) e os lobos inferiores (41%)3,5,6.
A história clínica desse tumor é arrastada, sendo relacionada ao crescimento intraluminal da neoplasia, sua capacidade de
produzir metástases e possibilidade de elaborar aminas vasoativas5. Independentemente do subtipo do tumor, os achados
clínicos mais comuns são aqueles que se relacionam com obstrução brônquica: tosse, hemoptise, pneumonia de repetição e
febre. Menos frequentemente há relato de mal-estar, dispneia e sibilância. Cerca de 2-50% dos pacientes são assintomáticos,
com a lesão representando um achado radiográfico incidental7. A síndrome carcinoide é rara, ocorrendo apenas em 3% dos
casos3.
O diagnóstico é feito pela clínica, exames radiológicos complementares, exames laboratoriais à procura de aminas vasoativas,
aspecto da lesão à broncoscopia e análise histopatológica8. O anticorpo mais específico para diferenciação dos tumores
neuroendócrinos é a cromogranina-A7,9.
A cirurgia é a terapêutica indicada e potencialmente curativa. A maioria dos carcinóides pulmonares pode ser ressecada por
segmentectomia, lobectomia ou lobectomia com remoção de manga de brônquio, sendo a pneumectomia reservada em último
caso. Os carcinóides pulmonares atípicos apresentam um maior risco de metástase e têm pior prognóstico, sendo portanto,
beneficiados pelo tratamento quimioterápico. A disseminação para linfonodos locais no momento da ressecção é mais provável
neste subtipo6,10,11.
CONCLUSÃO
Tumores carcinóides se configuram tipos raros de neoplasias pulmonares, sendo diagnosticados muitas vezes incidentalmente.
Sabe-se que o tratamento cirúrgico se apresenta como a escolha para o subtipo apresentado, com elevada taxa de sucesso e
evolução clínica satisfatória.
Fig.1, 2 e 3: Imagens radiológicas demonstrando massa em segmento apical do lobo superior direito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- CAMARGO JJ, Porto NS. Outras neoplasias de pulmão. In: Tarantino AB. Doenças pulmonares. 2ª Ed. Rio de Janeiro:
Editora Guanabara Koogan, 1982;25:508-510
2- SCHEPENS MA, Van Schil PE, Knaepen PJ, Van Sweiten HA, Brutel de la Rivière A. Late results of sleev resection for
typical bronchial carcinoids. Eur J Cardiothorac Surg 1994;8:118-121
3- TARANTINO, Afonso Berardinelli. Doenças Pulmonares. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008
4- GOLDMAN, Lee. Cecil Medicina. 24 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014
5- FERNANDES, Paulo M Pêgo et al. Tumor carcinoide: broncotomia como alternativa técnica. Jornal de Pneumologia,
1999;25(4):225-228
6- KUMAR, Vinay. Robbins e Cotran Patologia: bases patológicas das doenças. 8 ed. Rio de Janeiro: Elsevier., 2008.
7- GALVÁN, Jose A et al. Prognostic and diagnostic value of epithelial to mesenchymal transition markers in pulmonary
neuroendocrine tumors. BMC Cancer, 2014; 14: 855
8- MAGALHÃES, Fernanda Ramos Portelli et.al. Tumor carcinóide pulmonar: Relato de caso. Revista científica da FMC.
Volume 5, número 2, 2010.
9- SILVA, Luiz Carlos Correia da. Condutas em Pneumologia. 1 ed. Rio de Janeiro: Revinter., 2001
10- KASPER, Dennis L. Harrison Medicina Interna. 17 ed. Porto Alegre: Mcgraw-Hill., 2008
11- YOUNES, Riad Naim. Tumores torácicos. 1 ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1997. p. 295-300
Contato:
Carollina Casotti de Moraes
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