GENIVALDO CARVALHO IV SãoPaulo, Paulo,121 121(106) (106) II ––São terça-feira, 7 de junho de 2011 Diário Oficial Poder Executivo - Seção I MESTRES PEGAM NA MENTIRA U ma agente de segurança de aeroporto observa filas extensas de passageiros e, de repente, caminha determinada em direção a um dos viajantes. Ao abordá-lo, constata que o homem carrega uma mala cheia de dinheiro. Por que suspeitou dele antes de ter qualquer indício de irregularidade? É que a policial tem o dom de decifrar a expressão facial e a linguagem corporal do ser humano. Essa cena do seriado Lie to me pode se tornar realidade, descontando a fantasia necessária à ficção. Baseada na vida real e nas descobertas científicas do psicólogo norte-americano Paul Ekman, o seriado mostra o per- Livro da Acadepol traz pesquisa pioneira O advogado Rogério Leite Silva, colaborador da Neuropol e professor da Escola Superior de Guerra, frisa a importância da neurolinguística por investigar a cognição humana que inclui aspectos linguísticos, socioculturais, neuropsicológicos, afetivos e biológicos. Testes neuropsicológicos possibilitam a percepção de defeito, falha e tratamento do funcionamento do cérebro. Os exames são úteis em tratamentos como o transtorno pós-traumático e na habilitação ou reabilitação cognitiva de áreas afetadas, destaca Magaly. Célia lembra que o marco de estudo da neurociência é o caso de um funcionário ferroviário que sofreu um acidente em 1890. Seu cérebro é transpassado por uma barra de ferro. Sobrevive, mas com lesões cerebrais graves. De empregado exemplar passa a ser o oposto. Em breve, será lançado livro com os principais resultados da pesquisa pioneira. Os delegados Antônio Cesar Silva e Kleber Antonio Altale também participam do Neuropol. sonagem principal (alter ego de Ekman) como “detector humano de mentiras” com a habilidade de ler a intenção do outro antes mesmo de a pessoa se expressar em palavras ou concretizar o pensamento em ato. Desvenda crimes ao analisar expressão facial, linguagem corporal, voz e o modo de falar do suspeito. Para o policial, essa proeza pode significar o sucesso ou o fracasso numa investigação criminal, diz o diretor em exercício da Academia de Polícia do Estado de São Paulo (Acadepol), Edemur Ercílio Luchiari. “Em situação de risco, pode ser a diferença entre a vida e a morte”. Estudada pelos delegados da Acadepol, a leitura das microexpressões faciais (alegria, tristeza, raiva, desprezo, medo e nojo) é uma das possibilidades de uso da neurociência na melhoria da atividade policial e na elucidação de crimes. NEUROPOL Grupo de estudiosos da Acadepol (que analisou casos como o do jornalista Pimenta Neves e do bandido da luz vermelha) ensina a policial recursos neurocientífi cos em todas as etapas da investigação criminal tinto os significados dos movimentos e das expressões corporais. Após o treinamento, a maioria pedia mais detalhes das técnicas de observação científica. Médico-legista, o delegado João Nazareno de Oliveira frisa que quanto mais conhecimento prévio o policial tiver de recursos neurocientíficos, mais preparado ficará em abordagem ou blitz. “Terá mais habilidades para antecipar reações e comportará o melhor possível para evitar a morte”. A psicóloga forense Magaly Iazzetti Caliman destaca que o conhecimento do cérebro é essencial já que 35% da população tem distúrbio mental, de grau leve ao mais elevado. Pimenta Neves – O Grupo de Estudos de Neurociência na Atividade Policial (Neuropol) é formado por equipe Corpo denuncia – Luchiari diz ser multidisciplinar de nove delegados, especia- possível ao policial detectar sinais de verlistas em diversas áreas de conhecimento. dade ou mentira na abordagem, entrevista, Pelas suas mãos passaram casos como interrogatório, inquérito e investigação o do jornalista Pimenta Neves, criminal. ““Nos primeiros décimos recentemente, e do “bandido dido seg de segundo após a pergunEquipe da luz vermelha” há quasee ta, o ser humano respon50 anos. Pioneira nos de de forma automática, da Acadepol estudos de neurociência o seja, a sua fala não ou examinou gravações em atividade policial, a tem t simulação”, destaca Neuropol começou os Luchiari. A cada nova dos casos Nardoni, L estudos em 2007. A prip pergunta, o investigador Suzane Richthofen ganha meira tarefa foi compreg o mesmo tempo ender o funcionamenpa para avaliar a resposta e Eloá to do cérebro e identificar do suspeito e observar as ar s as atividades cerebrais: emoexpressões express faciais. ção, motivações, decisões racionais, racionais Como não n é possível controdelírios, entre outras. lar as expressões faciais nesse curtíssimo “É uma ferramenta nova para que o período, a pessoa deixa vazar emoções policial pense neurocientificamente e obte- reais contra sua própria vontade. Depois, nha sucesso na investigação policial”, expli- ao perceber que revelou emoção, muda a ca Jaqueline Makowski Bariani, mestre expressão facial e a corporal e cria discurso em direito penal. A Acadepol já começou a favorável. É como se substituísse a “cara” ensinar os novos aprendizados aos univer- da verdade pela “máscara” conveniente à sitários e aos policiais. Alguns investigado- situação, a da mentira. Por exemplo, transres experientes disseram decifrar por ins- forma a raiva num “sorriso amarelo”. “Saber se o investigado está mentindo ou não é fundamental na atividade policial e pode mudar o curso da investigação. Ir pelo caminho certo, ganha tempo e aumenta sucesso”, frisa o diretor. Outra maneira de checar se a informação é confiável é observar se a linguagem verbal (fala) coincide com a linguagem gestual (corpo), ensina a perita criminal Célia Maria Corrigiliano, especialista em perícia criminal. Se há incongruência, a pessoa está mentindo. Imagens da mentira – A contradição entre os dois impulsos (razão e emoção) altera os sinais vitais, como aumento de pressão sanguínea, transpiração e salivação. Equipamentos podem medir essas mudanças e há, também, os que fazem a leitura de ondas cerebrais (mapeamento cerebral). Mas seu uso envolve questões éticas e jurídicas. Ser “mestre em pegar na mentira” exige estudo, observação e treino. A melhor forma de interrogar é gravar a entrevista por várias câmeras que mostram movimento de braços, pernas, posturas e o rosto em close. Depois, é só o investigador observar cada gesto/movimento/contração muscular do suspeito, principalmente os dos primeiros décimos de segundo de cada pergunta. A estratégia é útil, também, para avaliar se o policial conduz bem a entrevista, acrescenta o diretor da Acadepol. Para estudar em detalhes os recursos neurocientíficos, a equipe assistiu a entrevistas gravadas de recentes episódios que ganharam destaque nos meios de comunicação. Analisaram, por exemplo, gravações do casal Nardoni, Suzane Von Richthofen e Lindemberg Fernandes Alves, que matou a namorada Eloá Pimentel. Depois, juntaram os vários saberes e enfoques que resultarão em estratégias de atuação da polícia à luz dos novos recursos abertos pela neurociência, explica a delegada Maria Solange Xavier. Claudeci Martins Da Agência Imprensa Oficial