70 4 HOMENAGEM: GERD BORNHEIM Apresentação Caco Xavier Fui, continuo sendo e certamente serei por toda a vida um esforçado aluno do professor Gerd Bornheim. Acompanhando-o ora mais de perto, ora mais distante, em seminários variados, encontros, palestras e conferências, e também em conversas de corredor, aprendi, por admiração e exemplo, a respeito de certos conteúdos caros à filosofia e, mais importante, a respeito da atitude filosófica e responsável do homem diante do mundo. Gerd Bornheim, nome e sobrenome germânico, era essencialmente grego em sua postura autêntica e socrática. Invariavelmente, iniciava palestras e aulas com escusas do tipo “sei que nada sei”. Essa dimensão de vida fazia com que se colocasse diante de uma audiência altamente ‘intelectualizada’ de mais de mil pessoas, num dos salões mais caros e luxuosos do Rio de Janeiro, ou frente a um reduzido grupo de alunos de primeiros semestres de graduação em Filosofia, sentados no chão do pátio da Universidade, com rigorosamente a mesma reverência e cuidado. Um professor de filosofia é coisa que não existe, se levarmos em conta o dito de Immanuel Kant que, em sua ementa a um curso de inverno, afirmou a impossibilidade de todo ensino de Filosofia, “como se ela fosse formada por um conjunto de leis e teorias fechadas e prontas”. É possível, no entanto, ensinar história da filosofia, mas, sinceramente, a quem isso poderia interessar, a não ser se o estudo de teorias, sistemas, filósofos e pensadores do passado e do presente estiver a serviço da verdadeira educação do pensar-por-si, da Paidéia que busca o formar-do-homem-pleno? Não é possível existir um educador em filosofia desse quilate que não tenha também por princípio e fundamento a atitude filosófica do espanto, a criancice heracliteana atribuída ao tempo – reinação de jogar seus próprios dados –, ou a nobreza nietzscheana do pensamento próprio e solitário, uma certa ‘demência filosófica’. Caco Xavier – Jornalista, Assessor da Vice-Presidência de Recursos Humanos da Fiocruz 71 de 2002, um ano depois de ter apresentado uma aulas, educa-se construindo relações e aclarando conceitos, inquietante aula inaugural na Fiocruz, cujos registros educa-se discursando em sala e repassando informações e infelizmente se perderam. Por essa razão, selecionamos, conhecimentos. Mas igualmente deseduca-se muito dentre entrevistas e trechos de suas obras, algumas executando todas essas tarefas, e por isso não podemos pinceladas de seu pensamento filosófico, a título de atribuir exclusivamente a essas práticas milenares e agradecida homenagem. repetitivas a essência da educação. Por educação entende- Por fim, encerro com uma obviedade extremamente se ainda um transbordar de paixão, pelo menos em três necessária: falar da generosidade do greco-germânico e direções: em relação ao objeto amado (essa moça bela brasileiríssimo Gerd Bornheim. Muitas causas poderiam ser porém misteriosíssima chamada pelos gregos de Sophia); anotadas como razões para tal. Quem sabe a identificação em relação aos companheiros de simpósio (no caso deste com o existencialismo, idéia tão cara? Ou o profundo interesse livro: nós); e em relação à própria vida, numa espécie de pela expressão artística? Ou...? Arrisco uma causa acima de nobreza que se satisfaz plenamente com a imagem de si todas: o elogio do efêmero, a compreensão da finitude radical mesmo. Essa grega diáfana, cabelos longos, vestido do homem. E não só do homem em geral, mas de todos nós transparente (nem totalmente nua, nem completamente e de si mesmo. Insetos de um dia, passamos. Bornheim vestida), essa moça clara e distinta, Sophia amada e termina por integrar todos e tudo ao hólos pré-socrático, intensamente buscada, não se faz de rogada e, de sua parte, por generosidade e razão. também ama, seduz, acaricia, alimentase da potência de quem a ama, retribuindo-lhe cada hora despendida, cada pensamento, cada palavra amorosa, cada enlevo enamorado. Gaúcho de Caxias do Sul, nascido em 1929, cassado e impedido de lecionar no país em 1969, exilado na Europa até 1974, Bornheim é autor de alguns clássicos da filosofia brasileira como ‘Introdução ao filosofar’, ‘Os filósofos pré-socráticos’, ‘Sartre: Metafísica e existencialismo’, ‘Dialética, teoria e praxis’ e ‘Páginas de filosofia da arte’. O educador morreu em setembro Peter Ilicciev 72 Educa-se escrevendo livros, educa-se preparando GERD BORNHEIM Bornheim Educador Considerações (com)Temporâneas Sobre a filosofia, os filósofos e o ensino da filosofia Se compreendermos a Filosofia em sentido amplo – como concepção da vida e do mundo –, poderemos dizer que sempre houve filosofia. De fato, ela responde a uma exigência da própria natureza humana; o homem, imerso no mistério do real, vive a necessidade de encontrar uma razão de ser para o mundo que o cerca e para os enigmas de sua existência. Neste sentido, todo povo, por primitivo que seja, possui uma concepção do mundo. Mas se compreendermos a Filosofia em um sentido próprio, isto é, como o resultado de uma atividade da razão humana que se defronta com a totalidade do real, torna-se impossível pretender que a Filosofia tenha estado presente em todo e qualquer tipo de cultura. O que a História nos mostra é exatamente o contrário: a Filosofia é um produto da cultura grega, devendo-se reconhecer que se trata de uma das mais importantes contribuições daquele povo antigo ao mundo ocidental. Por que a Grécia produziu aquela filosofia maravilhosa toda, durante um ou dois séculos, e depois nunca mais produziu nada? Como é que se explica isso? São as coisas da evolução. De repente a inteligência grega secou? Não é tão fácil dar resposta a isso. Acho que a história, no fundo, acaba sendo um imenso jogo, e de repente aqui e ali precipitam-se certas condições que possibilitam a efervescência de um tipo de cultura que pode ser excepcional. Não dá para reduzir a um estatuto de racionalidade pura porque aí se cria uma realidade manipulável. Filosofia é teoria, ou seja, visão atenta e concentrada e, portanto, crítica e interpretativa do real. Visão concentrada e crítica: ela encontra o seu centro naquilo que vê e no modo como deixa ver. O modo de ver está na pergunta; o filósofo é o homem que pergunta, e de modo radical. Por isso, a teoria se revela incompatível com o preconceito. 73 A Filosofia, como ensinava Hegel, vê o mundo às avessas, e isso para tentar elucidá-lo numa nova perspectiva. discurso filosófico se desdobre com necessidade na dimensão do tempo. É bem verdade que esse tipo de elucidação, quando se constata a impossibilidade de resolver as questões, pode concluir por mostrar certas contradições dificilmente Entendemos que nada na Filosofia pode excluir a inserção histórica. suportáveis. O filósofo tem que saber se fazer ouvir, e ele pode A Filosofia é essencialmente problema, e toda solução fazer isso. Tem muita gente que, por fraqueza intelectual, como que se dobra por dentro de si para constituir-se em se esconde em uma carapaça de terminologia, de uma novo problema. Já por essa razão se entende que a Filosofia linguagem muito difícil. Isso denota apenas falta de seja, de algum modo, fundamentalmente histórica, que o capacidade de comunicação. Há exemplos brilhantes dessa capacidade de comunicação. Bertrand Russel, Noam Chomsky e Sartre fizeram isso à perfeição. Eles sabiam (no caso de Chomsky, sabe) falar com o povo, com esses ‘bovinos’ do Nietzsche. Não se pode nunca desacreditar na função crítica da razão. Ela tem essencialmente uma 74 função crítica, e essa função, por definição, tem que ser democrática, senão a democracia perde sua razão de ser. O exercício da democracia pressupõe o exercício de uma razão crítica. A filosofia é a consciência crítica, a admissão fundamental dessa consciência crítica e, conseqüentemente, a politização do homem. O ensino de Filosofia não deve ter compromisso apenas com o sistema de idéias abstratas. Ele está mais para a idéia de tocar a realidade humana, de responsabilizar o aluno dentro da realidade na qual ele Acervo CCS vive e fazer dele, de fato, um cidadão. Passa por aí, pela política, pelo estudo amplo da palavra centrada no homem, na realidade. Flávio de Souza Não existe filosofia brasileira. Existe uma atividade filosófica no Brasil e em Portugal, mas, infelizmente, a língua portuguesa não produziu nenhum filósofo que realmente pese na história do pensamento. Sobre o mundo e a natureza A natureza é um grande animal vivo, um organismo que evolui, que tem suas próprias leis e evolução interna. Essa compreensão se perdeu muito porque hoje quase sempre vemos a natureza como um imenso objeto, e achamos que esse objeto está simplesmente à disposição do homem. Mas não é bem assim. Sujeito e objeto formam uma relação abstrata. Por isso é bom voltar aos présocráticos que, de certa maneira, propõem a integração entre sujeito e objeto. 75 A natureza deixou de ser o grande repositório, eternamente inesgotável, do qual o homem exauriria indiscriminadamente a sua riqueza. Daí surgiu uma nova necessidade, e conseqüentemente um novo tipo de que falou em globalização, dizendo que o capital é uma compromisso. O tema, de resto, não se restringe à questão realidade necessariamente internacional, foi Marx. Marx não da natureza, pois alcança o modo de o homem ser no mundo fundou a Primeira Nacionalista, ele fundou a Primeira em todas as suas dimensões. Internacional, justamente por causa disso. A questão é a mesma desde os tempos de Marx: discutir como é esse A questão ecológica não pode mais ser resolvida em processo de globalização do capital. A globalização é uma termos de ciência e tecnologia. A natureza tornou-se, agora, fatalidade, nós estamos caminhando realmente para uma antes de tudo, um tema visceralmente e necessariamente aldeia global, um mundo único, e este é o grande parto que político. o mundo vai ter que vencer, lutar por ele e estabelecê-lo. Mas esse negócio de neoliberalismo é só piada de percurso. A globalização é um fenômeno universal, e não tem Nem a ciência transformadora, nem os enlevos da volta. O que pode ser discutido é o modo de fazer a paulicéia desvairada – apenas a diferença. E chegamos globalização. Não se deve esquecer que o primeiro pensador então a isto: o planeta filmado como um imenso catálogo, talvez sempre inacabado, de diferenças as mais díspares. Onde leibniziana do conceito de Humanidade. De repente, até o fica, afinal, a estabilidade dos valores da Cultura Ocidental Universo se torna pequeno. – precisamente da cultura que se deixou inebriar pelas diferenças? Hoje, todo o mundo já sabe: não existem mais Sobre o homem e a condição humana culturas definitivas, todas elas são mortais. E já não resta As coisas passam a acontecer hoje em dia a partir de dúvidas: estamos todos instalados no reino das diferenças. um tipo de antinomia inédito na história da humanidade: Mas, ao mesmo tempo, estamos engajados num novo tipo exatamente a que se verifica entre essa repetição compulsiva de construção. e as instâncias da criatividade humana, ou seja, da perseguição do novo. E é importante observar que estamos em face de Não há de ser também mero devaneio inconseqüente uma contradição para a qual não existe síntese possível, ao a hodierna cunhagem da expressão aldeia global, menos tanto quanto se vê. Quero dizer que toda tentativa de aparentemente tão cândida. Veja-se, entretanto, na palavra superar a contradição através de artifícios apaziguadores leva ‘aldeia’ um prolongamento das diferenças, e no adjetivo apenas a camuflar a questão. O que importa está, bem ao ‘global’ aquele desígnio que começou a ser fabricado na forja contrário das nostalgias sintetizadoras ou das invenções da eternidade, em aprofundar a própria contradição; digamos que nós somos essa contradição. 76 São conceitos novos: ‘indivíduo’ e ‘povo’ são coisas que só souberam instituir-se no curso dos tempos modernos. Um nome é apenas um nome, mero signo, símbolo, o referencial mínimo a indicar uma realidade maior, e a maioridade agora pertence ao indivíduo concreto. O verso famoso de Gertrude Stein poderia aqui ser parafraseado: um Acervo CCS. Foto do fundo: Peter Ilicciev nome é um nome é um nome é um nome é um nome – e nada mais do que um nome; assim como uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa, e uma rosa é apenas isso – um pleno indivíduo. Claro que agora já se sabe do planeta, as rotas estão codificadas, as economias definidas, mas continua o velho deslumbramento, o fascínio pela descoberta do outro: cria- Peter Ilicciev inventaram a solidão ocidental. Não há a possibilidade de erradicação. Quando essa tradição começa a entrar em crise no Século XX, surge a Psicanálise de Freud. No fundo, o que ele quer é desculpabilizar o homem. Um físico me disse outro dia que nem a eletrônica e nem a Física aplicada sabem o que vai acontecer nos próximos anos. A revolução é grande demais e temos de vivê-la. E o aprendizado maior que o homem tem de fazer é o de si mesmo, de seu poder. Os sentimentos são históricos, se modificam através dos tempos. Não vejo nenhuma vantagem em acentuar as ‘dimensões eternas’ do homem. Isso é uma maneira de se esvaziar o homem. 77 Hoje, de muitas maneiras, em diversos níveis, o se até uma pedagogia do outro, o reconhecimento, por efêmero mostra-se como signo da finitude radical do exemplo, da superioridade de certos comportamentos de homem e de suas coisas. tribos nativas das ilhas dos Mares do Sul em relação aos procederes da puritana sociedade ocidental; e começa-se Nada há de mais consentâneo com a condição a perguntar: será verdade que o sentimento de culpa tem histórica do homem do que uma certa forma de de fato caráter universal? esquecimento seletivo, que se alicerça justamente nas exigências de novos e outros caminhos da criatividade A questão da culpa na tragédia é profundamente humana. Faça-se, pois, o elogio do efêmero. grega. No tronco hebraico-cristão, a idéia de culpa é diferente. É tão radicalmente outra que não pode haver Sobre a ética e a liberdade tragédia. Na Grécia, a culpa é um caminho de educação A ética hoje é essencialmente um problema, porque do homem. A idéia toda é a erradicação da culpa, que não todo o sentido da ética tradicional caiu por terra. A ética é individual, mas coletiva. Ao passo que na cultura tradicional era baseada numa normatividade muito estreita. ocidental, hebraico-cristã, nós vivemos dentro da culpa. A norma hoje se reduz a dois níveis possíveis: é o Os grandes inventores da culpa foram Jó e Abraão. Eles formalismo prussiano ou então uma concepção Marcos Alencar 78 Marcos Alencar completamente convencional da norma. É uma convenção A política é, na realidade, um saber, uma técnica, social que todo mundo aceita, mas ela não tem mais uma arte da responsabilização do homem. Esse sentido problema de fundamento. O que justifica todo esse de responsabilidade é fundamental. processo é o fato de que, a partir de Descartes, introduzse um conceito novo de liberdade: a liberdade como livre O que é uma idéia de liberdade muito popular arbítrio. O homem é o senhor de seus atos, ele tem hoje em dia? Um jovem que tem uma motocicleta, por independência e autonomia, ele escolhe o que quer. exemplo. Ele é livre, autônomo, independente. Isso é de um individualismo extremo, e sem individualismo não A liberdade desenvolveu-se nos tempos modernos há liberdade. Mas o condicionamento da liberdade assume dentro de uma contradição fundamental. Por um lado, outros níveis. Encontramos três níveis fundamentais: o surge a prática da liberdade enquanto soberania em função biológico, que condiciona a minha ação livre; o psicológico da autonomia do indivíduo. Esse conceito de liberdade, (traumas de infância que vão condicionar todo o meu que luta contra a predestinação divina, está na base do exercício da liberdade, por exemplo); e o social, que é o moderno individualismo. Mas, esgotadas as prerrogativas mais importante (uma pessoa extremamente pobre nem da referida predestinação, surge uma nova problemática: sabe o que é liberdade). a do condicionamento da liberdade. É a partir dessa antinomia entre independência e condicionamento que A liberdade se instaura, ou cresce, a partir de outra se coloca, hoje, todo o problema das relações entre moral vertente, oposta à primeira, que é o compromisso efetivo e ética, e entre ética e política. do homem: o homem não é livre, ele se torna – ou não – livre. Queremos com isso dizer que não existe uma essência Na origem, teatro e teoria são a mesma coisa. O grego da liberdade, como elemento pré-dado e constitutivo de inventou uma coisa notável que é a arte do olhar. Uma cultura uma suposta natureza humana. centrada no olhar. Os primeiros filósofos, surgidos pouco depois do teatro, estavam inventando maneiras concentradas A liberdade é sempre, e essencialmente, um fenômeno político. de olhar. Teoria é isso. E teatro também: querer ver com atenção. Eles inventaram o homem sentado, vendo o espetáculo. Coincidência muito interessante: inventaram o A crescente democratização do consumo passou a anfiteatro e a sala de aula. Teoria vem de theorein, um verbo manifestar o seu caráter essencialmente socializante de de raiz homérica, relativo ao ato de ver, no qual a partícula muitas maneiras, a começar por aquela que é talvez a mais theo assinala a relação com a divindade. importante de todas: passa-se a entender a pobreza simplesmente como falta de educação – falta de educação A arte contemporânea é, antes de tudo, a criação de política, de educação social. No passado, nos medievos, um extenso e variadíssimo acervo de invenções da linguagem chegou-se ao ponto de mascarar a pobreza fazendo dela – precisamente o que ela pretende ser. A natureza do uma espécie de virtude, como se fazia também com a problema reside invariavelmente neste lugar preciso: qualquer castidade. Hoje todo o mundo vê: eram apenas formas de resposta leva a criatividade a inventar novos e sempre outros atrofia, de deseducação, e nada mais. problemas. E o que parece sem saída confirma tão-somente 79 novos rumos da criatividade. Sobre a arte A arte sempre foi, precipuamente, uma interpretação daquilo que se pretendia que fossem as origens – talvez a arte seja essencialmente a releitura das origens, sempre renovada. Ora, de nosso tempo cabe dizer que tal releitura vê-se levada a conseqüências extremas: parece que ela põe em causa a própria natureza das origens. A arte se renova sempre, e ao mesmo tempo não se sabe pra onde ela vai. É uma sensação que o passado não tinha e não podia ter: a de não se conseguir controlar o que se está fazendo. Esse caminho é irreversível. São problemas que vêm, eu diria, da saturação, e não da pobreza ou do enfraquecimento. Peter Ilicciev Sobre Sartre e o existencialismo porque ou bem sou objeto do outro ou bem transformo o O Existencialismo é um movimento que atingiu o outro em objeto meu. Não dá para fugir dessa desigualdade. seu apogeu na metade do século. Os grandes mestres O sadomasoquismo de fato define a situação da praticamente desapareceram. O problema é que as intersubjetividade. questões colocadas pelo pensamento existencialista dizem respeito à própria realidade humana em toda a sua Sartre não aceita o inconsciente. O homem é extensão. E a partir daí o Existencialismo continua tendo instantaneamente consciência. Em segundo lugar, a idéia uma repercussão teórica e prática crescente. Existencialismo fundamental é a intencionalidade, que não é uma questão é a doutrina que coloca as categorias básicas para se repensar intelectual, é mais ampla, não pega só a inteligência. Pega a realidade humana. também as emoções, os sentimentos, tudo é mais ou menos intencional. Essa idéia da intencionalidade é radicalizada O único filósofo que aceita a palavra existencialismo por Sartre. Ele é tão radicalmente intencional que se não para designar a sua própria doutrina é Sartre. Mas ele toma existe o intencionado, ele não é nada, é nada de consciência. de Heidegger a frase que tornou famosa toda a escola: “A 80 existência precede a essência”. O fundamento do homem é o Nada. O Nada não é nenhum mistério, é a distância do sujeito. Eu sou definitivamente separado de tudo que me cerca e de tudo Não há essência nenhuma que tenho consciência. A consciência me impede de me para Sartre. Ele se oporia a uma identificar com as coisas. Eu estou separado e essa separação filosofia da essência. A consciência é justamente o Nada. está em primeiríssimo lugar. Em segundo, está a dicotomia sujeito- Sartre dedica poucas páginas ao Ser. O que dele se poderia objeto e, na intimidade da dizer? Que ele é o que ele é, mais nada. Ele é pleno, total, dicotomia sujeito-objeto, está perfeito, ilimitado, nada pode perturbá-lo, pois ele não tem a instalado o Nada. Mas toda menor consciência de si mesmo; ele é, pura e simplesmente. realidade é ou sujeito ou objeto. Sujeito e objeto deslocam tudo. O amor é uma ilusão. Não é que não exista, mas não Sartre é o primeiro que afirma que tem estabilidade, tem que ser conquistado a cada momento. sujeito e objeto são intercambiáveis. Procurar sacramentar o amor, institucionalizar o amor no Genilton Vieira casamento, na família, isso tudo é falso. Só o ato de Sartre chega a dizer que toda relação é sadomasoquista, responsabilidade absoluta nesse instante é fundamental em todo o existencialismo de Sartre. Sartre não aceitava nenhuma forma de determinismo. Ele achava que o homem inventa esse determinismo para se proteger contra a liberdade, porque é difícil ser livre. O que há é responsabilidade absoluta. Não é uma coisa aleatória, você tem que reinventar a responsabilidade em função de cada ato cometido. Sobre ele mesmo É importante não perder a grandeza do olhar. Roberto Jesus Oscar Eu odeio todas as formas de fundamentalismos. Acho o fundamentalismo um surto de irracionalidade As falas de Gerd Bornheim foram compiladas e editadas dos seguintes veículos/fóruns/livros: completamente condenável. Qualquer forma de fundamentalismo é um horror, porque é a expressão da decadência da religião. Mesa-Redonda Ética e Política, 26 de outubro de 2001, Universidade Federal Fluminense Entrevista sobre Sartre, 15/09/2002, Jornal Correio Brasiliense A idéia de ortodoxia me aborrece profundamente. ‘Conversa com o filósofo’, Jornal da Universidade - UFRGS - Porto Alegre - Ano I - n.º 1 - Setembro de 1997 Tudo deve ser feito com a consciência da Livro JB 500 anos – idéias e artigos necessidade de escutar o próprio Tempo e, também, no espírito do diálogo com esses vizinhos de todos nós – os grandes filósofos e todos aqueles que souberam se comprometer, de uma forma ou de outra, com a aventura do mundo. Nada do que escrevemos deve ser tomado como conclusivo ou completo. Se o mundo, em nosso tempo, se mostra como um panorama tão grandioso quanto plangente, cabe ao pensamento tentar a explicitação de seus passos, sabendo que o futuro não é objeto da especulação filosófica. Entrevista ao Jornal Ecologia e Desenvolvimento no 104, 2002, ao jornalista Elias Fajardo Entrevista a Sérgio Carvalho para a revista Vintém, julho-agosto de 1997, reproduzida no livro ‘Páginas de Filosofia da Arte’ Ensaio publicado na revista ‘Pau Brasil’ (São Paulo), no. 6, maio/ junho de 1985 Introdução ao livro ‘Os Filósofos Pré-Socráticos’, Editora Cultrix, 1967. Notas Preliminares e Introdução do livro ‘Dialética, Teoria e Práxis’, Editora Globo, 1977 ‘Páginas de Filosofia da Arte’, Editora Uapê, 1998 ‘Curso de Filosofia’, Ed. Jorge Zahar, 1989 81