ÉTICA NA PREVENÇÃO DA INSUFICIÊNCIA RENAL

Propaganda
ÉTICA NA PREVENÇÃO DA INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA:
OLHAR DA EQUIPE DE SAÚDE
FREITAS, P.S. (Acadêmica de Enfermagem - UEPG)¹
ALMEIDA, E.A. (Acadêmica de Enfermagem – UEPG)²
ZIMMERMANN, M.H. (Docente de Enfermagem – UEPG)³
RESUMO
Os profissionais da saúde, além do compromisso ético e profissional, são educadores e
responsáveis por sistematizar e incentivar o autocuidado, desenvolver atividades educativas de
promoção e prevenção à saúde reduzindo a incidência de insuficiência doença renal crônica (IRC)
em hipertensos e diabéticos. Esta pesquisa teve como objetivo investigar, sob o olhar dos
profissionais de saúde, a contribuição da ética na prevenção da IRC em portadores de Diabetes
Mellitus e Hipertensão Arterial Sistêmica. Pesquisa de campo, exploratória, qualitativa, com
participação de 6 (seis) profissionais da saúde atuantes em ESF na cidade de Ponta Grossa-PR. O
método de coleta foi entrevista individual semi-estruturada, com a análise de dados através da
interpretação das falas dos sujeitos. Resultados encontrados: participantes da pesquisa apresentaram
idade entre 24 a 73 anos de idade, com média de 43 anos; 50% com ensino médio e 50% ensino
superior. A consulta de enfermagem é realizada de maneira informal, na passagem do paciente
dentro da UBS; os profissionais têm conhecimento que a HA e o DM levam a complicações renais e
realizam ações para preveni-las; A ética contribui na prevenção da IRC, contudo, os profissionais
não sabem identificá-la. Conclusão: O enfermeiro juntamente com a equipe de saúde, por meio do
compromisso ético e profissional que o título lhes confere, deve ter participações em ações
preventivas na atenção primária, através da educação. As UBS se tornam campos férteis para que o
auto cuidado e adesão ao tratamento se tornem realidade na vida dos portadores de doenças crônicas
objetivando prevenção de complicações.
Descritores: Ética, Enfermagem, Rim
¹ Paula Souza de Freitas: Acadêmica do 4º ano do Curso de Enfermagem e Saúde Pública- UEPG
² Eva Aparecida Almeida: Enfermeira e bióloga formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
³ Marlene Harger Zimmermann: Mestre, professora assistente do Departamento de Enfermagem e Saúde Pública da
UEPG
INTRODUÇÃO
A prática do profissional da saúde, em especial a do enfermeiro, é permeada pelos aspectos
teóricos, técnicos, humanísticos e éticos.
A palavra ética vem da palavra grega ethos, que se refere seja à moralidade do agente, seja à
moralidade de seus atos, ou seja, tanto ao “caráter“ de um indivíduo como aos “costumes” de uma
comunidade ou população1.
De acordo com o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) o
aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo processo de construção de uma
consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional configurado pela
responsabilidade no plano das relações de trabalho com reflexos no campo científico e político2.
Com as transformações e o novo ritmo que começou a ser experimentado no mundo, os
aspectos éticos vêm exigindo participação direta nas discussões de trabalho com vistas ao bem-estar
futuro das pessoas e comunidade.
No caso brasileiro, é imprescindível que essa discussão (ética) passe a ser incorporada ao
próprio funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), no que diz respeito à responsabilidade
social, à definição de prioridades com relação à alocação e distribuição de recursos, ao
gerenciamento de sistema, ao envolvimento organizado e responsável da população em todo o
processo, à preparação mais adequada dos recursos humanos1.
Em relação a esta consciência coletiva, ações preventivas fazem parte do cotidiano dos
profissionais de saúde, podendo assumir também a conotação de dever e de responsabilidade para
com o outro.
Estas ações definem-se como intervenções orientadas a evitar o surgimento de doenças
específicas, reduzindo sua incidência e prevalência nas populações. Seu objetivo é a redução do
risco de doenças degenerativas ou outros agravos específicos3.
Doenças como Diabetes Mellitus (DM) e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) são
consideradas degenerativas e as principais causadoras tanto de Insuficiência Renal Crônica (IRC)
ainda sem necessidade de diálise quanto em tratamento dialítico4.
A IRC é definida como condição fisiopatológica secundária a um grande número de
etiologias, resultante da lesão de néfrons, muitas vezes necessitando de terapia dialítica para a
sobrevivência. A IRC terminal é o resultado da perda progressiva, lenta e irreversível da função
renal5, que quando diagnosticadas precocemente, oferecem múltiplas chances de evitar
complicações; quando não, retardam a progressão das já existentes e as perdas delas resultantes6.
No Brasil, o DM e a HAS, são responsáveis pela primeira causa de mortalidade e de
hospitalizações, de amputações de membros inferiores e representa ainda 62,1% dos diagnósticos
primários em pacientes com IRC submetidos à diálise7.
Pela importância que assumem, o Brasil implantou desde 2002 o Programa HIPERDIA
(Hipertensão/Diabetes) nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), cujos pacientes com diagnóstico de
HAS e/ou DM são inscritos e passam a ter acompanhamento médico regular, fornecimento de
medicação e principalmente acesso a um atendimento direcionado a educação, prevenção e
reconhecimento de sua doença8.
No Brasil são cerca de 17 milhões de portadores de hipertensão arterial, 35% da população
de 40 anos e mais. E esse número é crescente; seu aparecimento está cada vez mais precoce e
estima-se que cerca de 4% das crianças e adolescentes também sejam portadoras. A carga de
doenças representada pela morbimortalidade devida à doença é muito alta e por tudo isso a HA é
um problema grave de saúde pública no Brasil e no mundo7.
Segundo o DATASUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde), janeiro
de 2010 à junho de 2011, no Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e
Diabéticos, o número de portadores destas doenças no Paraná totaliza 37.469 portadores destas
patologias9.
O DM configura-se hoje como uma epidemia mundial, traduzindo- se em grande desafio
para os sistemas de saúde de todo o mundo. As consequências humanas, sociais e econômicas são
devastadoras: são 4 milhões de mortes por ano relativas ao diabetes e suas complicações (com
muitas ocorrências prematuras), o que representa 9% da mortalidade mundial total. O grande
impacto econômico ocorre notadamente nos serviços de saúde, como consequência dos crescentes
custos do tratamento da doença e, sobretudo das complicações, como a doença cardiovascular, a
diálise por IRC10.
No Brasil, a prevalência de pacientes com IRC cresce em torno de 10% ao ano. Estima-se
que existam atualmente 77.000 pessoas submetidas a tratamento dialítico e em torno de dois
milhões de pessoas portadoras de doença renal crônica em todo o País5.
Frente à relação que o DM e a HAS apresentam na relevância do aparecimento da IRC,
podemos destacar o papel do enfermeiro na prevenção dessas doenças crônicas degenerativas, e o
envolvimento da ética profissional junto ao paciente e sua família.
Diante do exposto, fica evidente a necessidade de investigar, sob o olhar dos profissionais de
saúde, a contribuição da ética na prevenção da IRC em portadores de DM e HAS.
OBJETIVO
O objetivo desse estudo foi investigar, sob o olhar dos profissionais de saúde, a contribuição
da ética na prevenção da Insuficiência Renal Crônica em portadores de Diabetes Mellitus e
Hipertensão Arterial Sistêmica.
METODOLOGIA
Este trabalho é parte da análise de dados da pesquisa intitulada “Contribuição da Ética na
prevenção da Insuficiência Renal Crônica aos portadores de Diabetes Méllitus e/ou Hipertensão
Arterial”, aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa
em 27/02/11 sob Parecer nº 10/2011, protocolo nº 16275/10.
Trata-se de pesquisa de campo, exploratória de abordagem qualitativa. O estudo foi
realizado em Estratégia Saúde da Família, na cidade de Ponta Grossa – PR, com seis profissionais
de saúde que trabalham neste local: uma enfermeira, três técnicas de enfermagem, uma
farmacêutica e um médico.
A coleta de dados realizou-se através de entrevista individual semi-estruturada. Estas
ocorreram nos dias 25 e 27 de maio. As perguntas foram relativas à ação dos profissionais da saúde
aos usuários do programa HIPERDIA na prevenção da IRC Ao seu término, as respostas foram
lidas para validação. Os participantes autorizaram a pesquisa após leitura, retirada de dúvidas e
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A análise dos dados ocorreu através da interpretação das falas dos sujeitos, as quais foram
agrupadas e apresentadas em quadros para melhor visualização das informações levantadas.
RESULTADOS
Os seis participantes da pesquisa apresentaram idade entre 24 a 73 anos de idade, com uma
média de 43 anos de idade. Em relação ao grau de escolaridade, 50% possuíam ensino médio e 50%
ensino superior. Perfil dos mesmos está descrito no quadro 1.
QUADRO 1- PERFIL DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA.
PROFISSINAL
IDADE
SEXO
ESCOLARIDADE
PROFISSÃO
1
37
F
Ensino Superior
Enfermeira
2
24
F
Ensino Médio
Técnica de Enfermagem
3
28
F
Ensino Médio
Técnica de Enfermagem
4
48
F
Ensino Médio
Técnica de Enfermagem
5
48
F
Ensino Superior
Farmacêutica
6
73
M
Ensino Superior
Médico
Fonte: elaborada pelas autoras, Ponta Grossa (2011).
Quando os profissionais de saúde foram questionados quanto ao conhecimento do número
de hipertensos e diabéticos atendidos na UBS, percebeu-se que estes estavam informados.
Totalidade dos participantes (100%) respondeu que o atendimento era em torno de 600 pacientes
com HAS e 300 portadores de DM.
A HAS é um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares, cerebrovasculares e renais, sendo responsável por pelo menos 40% das mortes por
acidente vascular cerebral, por 25% das mortes por doença arterial coronariana e, em combinação
com o diabetes, 50% dos casos de insuficiência renal terminal7.
Em relação à disponibilidade de medicamento para os portadores de HAS e DM, 100%
responderam que ofertam tratamento medicamentoso regularmente, de acordo com a relação
municipal de medicamentos (REMUME).
Sobre a distribuição de medicamentos, a Lei nº 8.080/90, em seu artigo 6º, estabelece como
campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS) a “formulação da política de medicamentos
(...) de interesse para a saúde (...)”11, pois a Política Nacional de Medicamentos, definida pela
Portaria nº 3.916/98 aborda a importância do fornecimento dos medicamentos essenciais, devendo
ser direito aos pacientes receberem gratuitamente esses medicamentos nas unidades básicas de
saúde12.
A adesão ao tratamento medicamentoso é essencial. Neste sentido, ao serem questionados se
esta adesão era efetiva, obtiveram-se as respostas que estão no quadro 2.
QUADRO 2 – EFETIVIDADE DA ADESÃO MEDICAMENTOSA.
Respostas positivas
“sim, com exceção de alguns pacientes resistentes a alguns
medicamentos específicos, como diuréticos”.
“na maioria sim, alguns temos que realizar aconselhamento
individual”.
“é efetiva, pois de 2 em 2 meses eles vêm consultar, e é realizado
entrega de medicamentos em casa também, para os acamados”.
Resposta negativa
“a adesão é regular a razoável, adesão à dieta e outros tratamentos
não farmacoterapêuticos não é efetiva”.
Percebe-se que a adesão ao medicamento é reforçada pela equipe da UBS. De acordo com
MS, o seu propósito é o de garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos,
a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais13.
Quanto à realização da consulta de enfermagem, as respostas foram: Quadro 3.
QUADRO 3- CONSULTA DE ENFERMAGEM
PROFISSIONAL RESPOSTA
Enfermeiro
Técnica
enfermagem
“de maneira informal, em sala de espera, no momento da pré-consulta, em
forma de orientação individual”.
de “quando necessário, não tem agendamento, pois há falta de funcionário”.
“sim, alguns pacientes é realizado HGT, e dado às orientações cabíveis, não
posso esclarecer completamente o que é feito, mas cada paciente é feito de
acordo com o problema que ele apresenta de doença”.
“sempre que necessário, não é agendado, devido à grande procura pelos
demais serviços de enfermagem (procedimentos), isso porque esta unidade
contava com 7 aux”. Enfermagem, hoje ficou reduzida a 3 técnicos (8hs) e 1
aux. Enfermagem (6hs).
A pesquisa revela que a consulta de enfermagem é realizada de maneira informal, durante a
passagem do paciente dentro da UBS. A escassez de recursos humanos em relação à demanda é
citada como fator impeditivo para que esta se torne realidade.
A Consulta de Enfermagem, sendo atividade privativa do Enfermeiro, utiliza componentes
do método científico para identificar situações de saúde/doença, prescrever e implementar medidas
de Enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção, proteção da saúde, recuperação e
reabilitação do indivíduo, família e comunidade. Possui como fundamento os princípios de
universalidade, eqüidade, resolutividade e integralidade das ações de saúde14.
É importante a realização da consulta de enfermagem dentro da UBS, pois além de ser uma
atividade privativa do enfermeiro, é um instrumento para a prevenção de agravos das doenças
crônicas degenerativas. A consulta de enfermagem possibilita conhecimento maior do cliente, sua
história de vida, seus problemas, maiores dificuldades de conviver com a sua doença podendo assim
ajuda-lo de forma integral através de medidas preventivas próprias e cabíveis, analisando suas
condições; socioeconômicas, culturais, mentais e pessoais para que a prevenção possa assim ser
efetiva.
Segundo os cadernos de atenção básica (hipertensos/diabéticos)7,10, alguns aspectos
referentes ao papel do enfermeiro na prevenção da HAS e DM foram selecionados; entre ele:
- Realizar consulta de enfermagem, abordando fatores de risco, tratamento não medicamentoso,
adesão e possíveis intercorrências ao tratamento, encaminhando o indivíduo ao médico, quando
necessário;
- Desenvolver atividades educativas individuais ou em grupo de promoção de saúde;
- Solicitar, durante a consulta de enfermagem, os exames mínimos estabelecidos nos consensos e
definidos como possíveis e necessários pelo médico da equipe.
Tendo em vista a prevenção da IRC em portadores de HAS e DM, os participantes foram
questionados sobre o conhecimento das repercussões destas patologias à função renal. As
respostas estão no quadro 4.
QUADRO 4 – CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS SOBRE AGRAVOS RENAIS
PROVENIENTES DA HAS E DM
PROFISSIONAL RESPOSTA
Enfermagem
“Sim. Porque eles comprometem os rins, dificuldade de excretar a glicose, e a
circulação do sangue. O rim não faz o seu papel direito, levando ao paciente
para diálise, se tratado no início acho que tem volta, mas se não só piora.”
“Sim; quando estão em níveis altos tanto a HAS como a DM, o corpo sofre, o
paciente retém liquido, aumenta os batimentos, assim como pode causar o
infarto nos pacientes hipertensos. Os diabéticos podem ocorrer de os rins
pararem; ficar cego”.
“Sim. Porque a hipertensão aliada ao colesterol e triglicerídeos altos, provoca
placas de ateroma dificultando a circulação do sangue nos rins, e o diabetes
devido a ser uma molécula de maior tamanho tem dificuldade de ser
excretado, prejudicando a capacidade funcional do rim”.
Outros
profissionais
da saúde
“Sim, uma das principais complicações, principalmente quando está
associado DM e HAS”.
“Sim”. A briga é a adesão ao tratamento do DM e HAS. Tem que chegar e
falar para o paciente ‘Se você não se tratar vai perder o seu rim’. Se você faz
uma boa consulta, o paciente sai da sala se sentindo bem, a linguagem tem
que ser de acordo com o paciente.
Os profissionais demonstraram ter conhecimento que tanto a HA quanto o DM levam a
complicações renais.
Com frequência, as doenças crônicas degenerativas levam à invalidez parcial ou total do
indivíduo, com graves repercussões para o paciente, sua família e a sociedade. Quando
diagnosticadas precocemente, essas são bastante sensíveis, oferecendo múltiplas chances de evitar
complicações; quando não, retardam a progressão das já existentes e as perdas delas resultantes6.
Segundo o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes
Mellitus6, estas são doenças que apresentam vários aspectos em comum, entre eles ser de difícil
adesão ao tratamento pela necessidade de mudança nos hábitos de vida e participação ativa do
indivíduo; necessidade de controle rigoroso para evitar complicações e necessidade de
acompanhamento por equipe multidisciplinar, entre elas.
Os rins sofrem bastante com o aumento da pressão arterial. Sendo o glomérulo a unidade
morfofuncional do rim e caracterizado como um tufo vascular, qualquer aumento da pressão nesse
território (hipertensão intraglomerular) leva à diminuição progressiva de sua função, na maioria das
vezes silenciosa6.
Em relação às ações de prevenção a pesquisa obteve como respostas: orientação sobre
hábitos de vida, reeducação alimentar, realização de atividade física, adesão ao tratamento, grupos
de caminhada de hipertensos e diabéticos, palestras, consultas, recomendações dietéticas (médico),
trabalho de prevenção com representações (paródias, teatros...), etc.
A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e
coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o
tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde7.
A prevenção é a forma mais eficaz, barata e gratificante de tratar esses agravos. É de suma
importância e engloba, além da educação para a saúde, a reorganização das comunidades e da rede
básica6. Neste sentido, a atuação do enfermeiro na prevenção e progressão da DRC se dá a partir
das necessidades reais da clientela. É preciso detectar os grupos de risco, bem como os pacientes
com a doença instalada, nos quais a avaliação da função renal é imprescindível15.
A atividade educativa pode ser realizada desde a atenção primária até o nível terciário de
saúde. As ações de educação em saúde de forma conjunta e construtiva com a população são
imprescindíveis para que ocorram ações efetivas na progressão da doença. O enfermeiro possui
importante papel de cuidador e educador, além do compromisso ético e profissional, que o torna um
dos grandes responsáveis por sistematizar e incentivar o autocuidado, desenvolver atividades
educativas de promoção de saúde, reduzir a incidência da DRC, bem como buscar a melhoria da
qualidade de vida15.
Medidas de prevenção da DRC e de intervenção no ritmo da progressão como combate ao
fumo, ao álcool, à obesidade e ao sedentarismo devem ser implementadas no atendimento aos
pacientes na atenção básica em saúde. Tais medidas visam à promoção da saúde e o controle
rigoroso da DM e HAS, bem como a investigação da função renal, em especial nos grupos de risco
para DRC. Para tanto são necessários à capacitação de profissionais, estabelecimento de diretrizes
clínicas, realização de exames laboratoriais, acesso a medicamentos e a equipamentos para
diagnóstico15.
Em reação aos aspectos éticos relacionados à prevenção, as respostas estão no quadro 5.
QUADRO 5 – ÉTICA NA PREVENÇÃO DA DRC
PROFISSIONAL RESPOSTA
“Eu tenho ética quando estou com o paciente, quando dou privacidade para
ele, na prestação de informação. Ela é essencial pra gente.”
Enfermeiro
Técnica
enfermagem
de
“Quando eu dou informação para o paciente se cuidar, mas em específico
para o diabético e o hipertenso, não focando a IRC, mas sim a DM e a HAS”.
“Não sei... as pessoas descobrem tarde que tem doença renal, vai cada vez
mais trazendo complicações, se tratado no inicio tem volta IRC, mas se não,
não tem volta”.
“O paciente tem direito em saber sobre as consequências que a DM e a HA
trazem. Porque muitas vezes se ele não souber dessas consequências ele não
dá muita atenção, não se importa com a doença que pode complicar”.
A ética contribui na prevenção da DRC, quando os profissionais prestam informações como
os pacientes devem se cuidar, como suas doenças podem levar as complicações, quando respeitam a
privacidade do paciente.
De acordo com o CEPE, no artigo 17º, é de responsabilidade e dever prestar adequadas
informações à pessoa, família e coletividade. Sobre os direitos, riscos, benefícios e intercorrências
acerca da assistência de enfermagem, no artigo 19º há menção de que devem ser respeitadas a
privacidade e a intimidade do ser humano, seja ela em qualquer situação existente2.
Quando o paciente é informado, se está demonstrando atenção a ele, mesmo que muitas
vezes, a sobrecarga do trabalho impeça o profissional de dedicar-se quanto gostaria, mas não se
pode deixar que isto seja impecílio para que as informações sejam fornecidas. A ética profissional
deve ser colocada em prática de maneira adequada e eficiente.
A prática do profissional na saúde precisa ser permeada pela ética e é através dela que o
diálogo efetivo acontece individualmente ou coletivamente, levando informações claras para os
diferentes indivíduos. Neste contexto a autonomia deve ser respeitada, permitindo que o sujeito faça
suas próprias escolhas sendo incentivado para realizar condutas com hábitos mais saudáveis, adesão
ao tratamento medicamentoso, entre outros fatores determinantes para que sua saúde não seja
prejudicada. A justiça e a beneficência também devem se fazer presente para que o cuidado seja
ético.
CONCLUSÃO
A ética reflete um modo de ser, fundamentada em princípios e valores permeando os
aspectos preventivos, neste sentido, os profissionais da saúde, em especial o enfermeiro, tem
participação importante na promoção, prevenção, recuperação, e reabilitação da saúde.
A pesquisa desvelou que, sob o olhar dos profissionais da saúde, estes muitas vezes não a
percebem na prática, talvez pelo seu teor abstrato ou pela falta de reflexão sobre o tema, ficando
esta a cargo de filósofos.
As contribuições da ética se reportam à prevenção na atenção primária, da IRC em
portadores de HAS e DM. O enfermeiro juntamente com a equipe de saúde, por meio do
compromisso ético e profissional que o título lhes confere, deve ter participações em ações
preventivas através da educação. Neste sentido, as UBS se tornam campos férteis para que o
processo educativo no incentivo ao auto cuidado e adesão ao tratamento se tornem realidade na vida
dos portadores de doenças crônicas objetivando prevenção de complicações.
Neste sentido, estes profissionais têm o dever de escutar, orientar, auxiliar os pacientes, sem
interferir nos seus valores. Deve-se evitar a discriminação e a estigmatização das pessoas em
virtude de suas características pessoais e escolhas. O indivíduo não deve ser visto como o
‘hipertenso’ ou ‘diabético’, mas sim como um ser holístico. Princípios como autonomia,
beneficência e justiça devem fazer parte do cotidiano do profissional, bem como o direito a
informações esclarecedoras a fim de que mudanças de estilo de vida ou de comportamentos
saudáveis sejam atingidos.
Deve-se ressaltar, que é por meio da atenção primária que se começa a prevenção de
doenças, é através dela que os indivíduos terão o seu primeiro contato com profissionais da saúde,
tendo em vista este aspecto, vê-se a importância que os profissionais apresentam frente ao cuidado
ético, humanizado, de qualidade, usando com respeito e dignidade o “cuidar”.
Espera-se que esta pesquisa possa auxiliar os profissionais de saúde em ampliar suas ações
em relação à importância da prevenção da IRC nos portadores de doenças crônicas, para que seja
efetivado o discurso de promoção e prevenção à saúde.
REFERÊNCIAS
1 - Fortes, PA de C.; Zoboli, ELCP. Bioética e Saúde Púbica. Centro Universitário São Camilo. São
Paulo: Loyola, 2003.
2 – BRASIL. Resolução Cofen 311/2007: Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, 2007.
[acesso em: 2011 Mai 24]. Disponível em: http://www.portalcofen.gov.br/sitenovo/node/4394
3 – Czeresnia, D.. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. Promoção da
Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.
4 - Martins, HS.. Principais Temas em Nefrologia para Concursos Médicos. São Paulo: Medcel,
2005.
5 - Cruz, J. et al. Atualidades em Nefrologia 10. São Paulo: Sarvier, 2008.
6 - Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações. Plano de
reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus: hipertensão arterial e diabetes
mellitus.
Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
7 - Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Hipertensão Arterial Sistêmica. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento
de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
8 – Volquind, GG; Lazzari, CA; Souza, LNS.. Tratamento Anti-Hipertensivo de Idosos em Unidade
Básica de Saúde. Rev. Técnico-Científica do Grupo Hospitalar Conceição. Momentos e
Perspectivas em Saúde. Porto Alegre, 2005 jul/dez18(2). [acesso em: 2011 Mai 24]. Disponível em:
http://www.portalcofen.gov.br/sitenovo/node/4394
9 – Ministério da Saúde (Brasil). DATASUS: Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de
Hipertensos e Diabéticos – PR, 2011. [acesso em: 2011 Jun 10].
Disponível em:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?hiperdia/cnv/hdpr.def
10 - Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Diabetes Mellitus. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
11 - BRASIL. Lei Nº 8.080, de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências, 1990. [acesso em: 2011 Jun 10]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm
12- BRASIL. Portaria Nº 3.916/MS/GM, de 30 de Outubro de 1998. [acesso em: 2011 Jun 10]
Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/consolidada/portaria_3916_98.pdf
13 - Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Política nacional de medicamentos. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde,
Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
14 - BRASIL. Resolução Cofen 159/1993: Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem,
1993. [acesso em: 2011 Mai 24]. Disponível em: http://site.portalcofen.gov.br/node/4241
15- Travagim, DSA; Kusumota, L.. Atuação do Enfermeiro na Prevenção e Progressão da Doença
Renal Crônica. Rev. Enf. UERJ, 2009 jul/set; 17(3): 388-93.
Download