“Enquanto não haver paz...”

Propaganda
comunicação e expressão
por J. B. Oliveira*
“Enquanto não haver paz...”
Quem passar pela rua Conselheiro Crispiniano, verá o
prédio em que, muitos anos atrás, se localizava o luxuoso Cine
Marrocos! Assim como outras casas de exibição de filmes, tão
frequentadas pelos paulistanos no passado – como o Paissandu,
o Rívoli, o Marabá, o Metro, o Art Palácio, o Regina e tantos
outros cinemas – o belo e confortável Marrocos encerrou suas
atividades. Depois de muito tempo com as portas fechadas, afixaram uma placa, informando que ali se instalaria uma secretaria
do município.
Velho defensor da melhoria do centro de nossa bela metrópole, fiquei feliz com a notícia e passei a aguardar as obras
que dariam uma destinação útil e valiosa ao prédio tão bem
localizado...
Então, “eis que senão quando” – pra usar uma expressão já
fora de moda – o imóvel foi invadido por um desses movimentos
dos sem-teto! Infelizmente não foi o primeiro. Nem o único.
Nem o último na região; quase em frente, já haviam tomado
o prédio do Museu do Disco e, para baixo lado, o edifício que
fica na esquina com a avenida São João. Do outro lado do largo
do Arouche, invadiram o prédio que, por muitos anos, sediou a
Polícia Federal, garatujando esta frase: “Se morar é um direito,
ocupar é um dever”!
Já no edifício do Cine Marrocos, de saudosa memória, a
frase é mais prosaica: “enquanto não haver paz... haverá guerra.
Enquanto não haver moradia digna haverá MSTS”
É claro que o “atropelo gramatical” ao verbo ali não me
surpreendeu. Surpreende-me, porém, que o encontre em outros meios em que, aí sim, não poderia ocorrer. E por que isso
acontece, até entre pessoas de boa escolaridade?
Porque acham que todos os verbos são iguais em suas
conjugações, isto é: imaginam que todos são verbos regulares!
Uma revisita à Gramática Normativa da Língua Portuguesa,
entretanto, mostrará que os benditos verbos podem pertencer
a uma dessas seis categorias: regular, irregular, anômalo, defectivo, abundante e auxiliar!
Quando o verbo for regular, as conjugações do infinitivo
pessoal flexionado e do futuro do subjuntivo serão iguaizinhas!
É o que se verifica, por exemplo, com o verbo VENDER:
Infinitivo Pessoal Flexionado
Vender eu
Venderes tu
Vender ele
Vendermos nós
Venderdes vós
Venderem eles
Futuro do Subjuntivo
Quando eu vender
Quando tu venderes
Quando ele vender
Quando nós vendermos
Quando vós venderdes
Quando eles venderem
Mas se o verbo for irregular, essa coincidência deixará de
existir. Isso se aplica ao verbo HAVER:
Haver eu
Haveres tu
Haver ele
Havermos nós
Haverdes vós
Haverem eles
Quando eu houver
Quando tu houveres
Quando ele houvr
Quando nós houvermos
Quando vós houverdes
Quando eles houverem
A construção correta, portanto, seria “Enquanto não houver paz... haverá guerra. Enquanto não houver moradia digna,
haverá MSTS”.
Por outro lado, enquanto não houver o ensino correto e
dedicado da gramática nas escolas, haverá erros clamorosos
como os que encontramos com tanta frequência, em tantos
situações e em tantos lugares! E haverá também – o que é ainda
pior e mais vergonhoso – o Brasil se colocando nos últimos
lugares nas disputas internacionais!
* J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista.
É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras
www.jboliveira.com.br – [email protected]
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