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AQUISIÇÃO DOS SONS EM CASOS DE PARALISIA CEREBRAL
Carla Mariéli Menon – G (UNICENTRO/I)
Dra Luciane Trennephol da Costa (UNICENTRO/I)
Resumo. A Paralisia Cerebral pode ser definida como uma desordem do movimento e
da postura, persistente, porém não fixa, surgida nos primeiros anos de vida pela
interferência no desenvolvimento do sistema nervoso central (TABITH JR.,1980 apud
LIMONGI, 2003), causada por uma desordem cerebral não progressiva e possui muitos
níveis de comprometimento cerebral. Nesta pesquisa, investigamos como se dá o
processo de aquisição dos sons em portadores de PC. Para tanto, realizamos pesquisas
bibliográficas e entrevistamos duas profissionais fonoaudiólogas que trabalham com
casos de paralisia cerebral. Há três tipos básicos de PC; a Espástica, a
Atetóide/discinética e a Atáxica (DEDERICH, 2000) com variados sintomas e em todos
os tipos há comprometimento da oralidade. Na PC, podem ocorrer muitos níveis de
comprometimento cerebral o que dificulta alguma padronização na aquisição sonora e
no desenvolvimento da linguagem. Segundo as profissionais entrevistadas, os sons
menos comprometidos são as vogais e os mais comprometidos são as consoantes,
principalmente os sons [l] e [r].
Palavras-chave: Paralisia Cerebral, Aquisição da Linguagem, Aquisição dos sons,
Fonética e Fonologia.
Abstract. Brain paralysis is a persistent, non-fixed movement and posture disorder
occurring early in life due to interference on the development of the central nervous
system (TABITH JR.,1980 apud LIMONGI, 2003), caused by non-progressive brain
disorder, featuring several brain damage levels. Current analysis investigates the
acquisition process of speech sounds in people with BP. Biographic research was
undertaken and two speech therapists working with people suffering from BP were
interviewed. There are three basic types of BP, namely Spastic Paralysis,
Athetoid/Dyskinetic Paralysis and Ataxic Paralysis (DEDERICH, 2000) with several
symptoms. All types reveal oral deficiencies. Since several types of brain damage may
occur in BP, standardization in the acquisition of sounds and in language development
is difficult. According to the interviewed speech therapists, vowels are the less impaired
sounds, whereas the consonants, mainly [l] and [r], have the highest impairment.
Keywords: Brain paralysis, language acquisition; acquisition of sounds; Phonetics and
Phonology.
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1 Introdução
A aquisição dos sons é um fator importante no processo de aquisição da linguagem,
pois a produção sonora é um dos principais meios que o ser humano utiliza para
interagir e se comunicar. A aquisição sonora é bastante comprometida nos casos de
Paralisia Cerebral.
Segundo Tabith Jr. (1980 apud LIMONGI, 2003), a Paralisia
Cerebral é uma desordem do movimento e da postura, persistente, porém não fixa,
surgida nos primeiros dois anos de vida pela interferência no desenvolvimento do
sistema nervoso central. É nesta etapa da vida que ocorre o processo de maturação
neurológica na qual se dá as principais aquisições nos níveis motores e perceptual,
mesmo que estes sintomas e sinais possam se modificar com o decorrer do tempo. A
Paralisia Cerebral é causada por uma desordem cerebral não progressiva. Ela apresenta
como consequência um desenvolvimento anormal do cérebro ou uma lesão encefálica.
Atualmente a nomenclatura da Paralisia Cerebral foi modificada, visto que o paralítico
cerebral não possui uma parada nas atividades físicas e mentais. Por isso tem-se
utilizado o termo Encefalopatia Crônica Não Progressiva ou Não Evolutiva:
O termo Paralisia Cerebral é considerado por muitos autores
inadequado, uma vez que significaria a parada total de atividades
físicas e mentais, o que não corresponde ao caso. Atualmente, tem-se
utilizado o termo Encefalopatia Crônica Não Progressiva ou Não
Evolutiva para deixar bem claro seu caráter persistente, mas não
evolutivo, apesar de as manifestações clínicas poderem mudar com o
desenvolvimento da criança e com a plasticidade cerebral. Ainda, o
termo é útil para diferenciar a PC das Encefalopatias Crônicas
Progressivas, que decorrem de patologias com degeneração contínua”
(CANDIDO, p.3, 2004).
Apesar de reconhecermos esta discussão da nomenclatura, adotamos neste texto o
termo Paralisia Cerebral, abreviado como PC. Um fator de complexidade nos casos de
paralisia cerebral é que não há um profissional responsável por ela. Observando as
estatísticas, vemos que no Brasil, em 2011, segundo Tôrres, Sarinho, Feliciano e
Kovacs (2011), há 24,5 milhões de pessoas que manifestam algum tipo de
deficiência, 48% portam deficiência física e 22,9% motora. Neste grupo heterogêneo
incluem-se as crianças com paralisia cerebral.
A Paralisia Cerebral foi abordada pela Câmara dos Deputados Federais no dia 13 de
julho do ano de 2015. Os médicos informaram a falta de atendimento específico para os
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portadores e também da falta de números oficiais sobre a ocorrência da paralisia
cerebral no país. Segundo eles, as estatísticas revelam que nos países em
desenvolvimento ocorrem 7 casos a cada mil nascimentos, já nos países desenvolvidos,
os casos baixam para 2 a cada mil nascidos.
Neste artigo, investigamos o processo de aquisição dos sons nos casos de Paralisia
Cerebral através de pesquisas bibliográficas, em artigos e livros especializados, e
também através de entrevistas com profissionais diretamente envolvidos com pacientes
portadores de paralisia cerebral. Na seção dois, traremos um breve panorama da
aquisição da linguagem segundo os pressupostos das principais teorias da área: a
inatista (Chomsky), a behaviorista (Skinner), a interacionista (Piaget) e a
sociointeracionista (Vygotsky). Na sequência, apresentamos definições da Paralisia
Cerebral, sua etiologia e definição, sua classificação e também seu histórico, elencando
os principais autores que abordam a definição da Paralisia Cerebral. Na seção quatro,
apresentamos as pesquisas que realizamos com profissionais que estão diariamente
envolvidos nos processos de aquisição da linguagem e também no processo
fonoaudiológico dos paralíticos cerebrais.
2 Abordagens teóricas em aquisição da linguagem
Existem diversas correntes teóricas que tentam dar conta de explicar como ocorre o
processo da aquisição da linguagem, algumas são opostas e outras se complementam.
Os primeiros estudos realizados acerca da aquisição linguística de uma criança eram do
tipo longitudinal, no qual os pesquisadores, que ficaram conhecidos como diaristas,
anotavam a fala espontânea de seus filhos, nos ambientes naturais e em atividades
cotidianas da criança (MUSSALIM e BENTES,2009). Posteriormente, essas anotações
foram substituídas por registros em fitas magnéticas, em áudio ou vídeo. Outra
metodologia utilizada para a realização das pesquisas em aquisição é a de tipo
transversal, “que se baseia no registro de um número relativamente grande de sujeitos,
muitas vezes classificados por faixas etárias” (MUSSALIM e BENTES, 2009, p.204).
Assim, podem-se considerar as duas metodologias produtivas para os estudos da
aquisição.
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O desenvolvimento das pesquisas permitiu estabelecer estágios consecutivos na
aquisição da linguagem. Nos primeiros meses de vida, a criança chora e começa a
balbuciar, emitindo sons que não têm nenhum significado, ou seja, produzindo sons
aleatoriamente. Depois, “aos seis (6) meses de idade ela balbucia um maior número de
sons, um fator importante também é que neste período a crianças surdas também
balbuciam, embora elas não ouçam nenhum input linguístico” (BROWN, 1973 apud
GROLLA e SILVA, 2014). Este processo de balbucio é contínuo e com o tempo
depende do estímulo, conforme Grolla e Silva:
Aos dez (10) meses, o balbucio das crianças muda e elas começam a
balbuciar somente os sons que ouvem. Por volta desta idade, os bebês
começam a mapear som ao significado. Para extrair palavras do fluxo
contínuo dos enunciados, os bebês se baseiam em várias fontes de
informação específica de linguagem: a forma prosódica das palavras,
regularidades distribucionais, informação fonética e restrições
fonotáticas. Essas habilidades de percepção de linguagem altamente
sofisticadas são cruciais para se aprender o léxico da sua língua nativa.
(GROLLA e SILVA, 2014).
Conforme Mussalim e Bentes (2009), no começo a taxa de crescimento do
vocabulário da criança é reduzida, ela começa a produzir as primeiras palavras por volta
dezesseis (16) e vinte (20) meses. Mas somente entre 18 e 20 meses que aparecem as
primeiras combinações de palavras, as quais no início tendem a ser telegráficas. Há uma
espécie de explosão vocabular por volta dos vinte e quatro (24) a trinta (30) meses, e a
maior parte das crianças já domina as estruturas sintáticas e morfológicas de suas
línguas maternas aos três anos de idade.
A aquisição da linguagem é considerada uma área multidisciplinar, visto que há
várias disciplinas, como a Psicologia e a Linguística, cujos objetos de estudos são
relacionados com a aquisição da linguagem. Sobretudo, quando o foco é a cognição
humana, pois a ciência cognitiva vai indagar sobre a aquisição do conhecimento, sobre
o funcionamento da mente e neste campo vai observar como se dá o processo da
linguagem e sua aquisição. Abordaremos brevemente as principais correntes teóricas da
área: a inatista (Chomsky), a behaviorista (Skinner), a interacionista (Piaget) e a
sociointeracionista (Vygotsky).
Segundo Mussalim e Bentes (2009), os estudos em aquisição da linguagem foram
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incentivados a partir dos trabalhos realizados pelo linguista Noam Chomsky, pai da
teoria gerativa. Esta teoria defende o inatismo, ou seja, acredita que desde quando o
indivíduo nasce já possui uma gramática universal e que a aquisição da linguagem
ocorre através do desencadeamento de um dispositivo inato, ou seja, do que já estaria
inscrito na mente humana. Chomsky enfatiza que o ser humano não apenas repete, mas
usa sua criatividade para criar frases e palavras nunca ouvidas antes. Por isso, para a
aprendizagem de uma linguagem, é preciso estar exposto ao estimulo, ao reforço, mas
não necessariamente a resposta, isto ocorreria com o tempo. Nesse processo, segundo
Mussalim e Bentes (2009, p.208, 209) “a criança é exposta a um input (conjunto de
sentenças ouvidas no contexto), sendo o output um sistema de regras para a linguagem
do adulto, a gramática de uma determinada língua 1. ” Para a teoria gerativa, a aquisição
da linguagem não se dá apenas pelo fator cognitivo, mas também por interações sociais
e um postulado forte da teoria é a hipótese do “período crítico” que aborda o fato de que
a criança adquire uma linguagem até a puberdade e a partir disso a aquisição é muito
rara (Mussalim e Bentes, 2009, p. 221).
Mas, em oposição à abordagem inatista, o comportamentalismo ou behaviorismo1
credita um papel crucial ao estímulo na aquisição. A aprendizagem da linguagem,
segundo os behavioristas, se dá a partir do meio e através de reforço com estímulo e
resposta. Skinner, o psicólogo estadunidense mais influente no behaviorismo, propõe
enquadrar a linguagem na sucessão e contingência de mecanismos de estímulo - reforço
- resposta, que explicam o condicionamento e que estão na base da estrutura do
comportamento.
Para Skinner, o aprendizado se dá através de um processo denominado
condicionamento operante. As mudanças nos comportamentos voluntários são
resultados de eventos de estímulos ou punições. Por um lado, tem-se o reforço que é o
evento que estimula; e por outro lado, a punição que faz o contrário, diminui a
possibilidade de se repetir tais comportamentos. Segundo Skinner, a imitação exerce
uma função importante na aquisição da linguagem da criança, ele defende que a
imitação segue um princípio fixo. A criança imita o que o adulto fala e recebe uma
recompensa (esta recompensa pode ser entendida como receber um sorriso de volta ou
até mesmo ganhar um doce), mesmo que ela não fale exatamente da forma como foi
1
De Behavior que significa comportamento em inglês.
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pronunciada por ele e com o passar do tempo através da repetição ela aprende a
combinar as palavras da mesma forma como o adulto.
Outro fator essencial para aquisição da linguagem é a interação social entre a criança
e seus interlocutores vista como fator básico no desenvolvimento linguístico. Alguns
estudiosos (MUSSALIM e BENTES, 2009, p.215) afirmam que as características da
fala do adulto são fundamentais para a aprendizagem da linguagem na criança, visto que
quando um adulto se dirige a uma criança a fala sofre algumas modificações. Essas
modificações podem
ser fonológicas,
morfológicas,
sintáticas, semânticas e
pragmáticas. Por exemplo, quando um adulto vai falar com uma criança ele não irá falar
da mesma forma que fala com um adulto, ou seja, quando um adulto vai alimentar a
criança ela não irá dizer “venha almoçar” mas sim “venha comer papá ou olha o
mamá”.
De acordo com a teoria interacionista propagada pelo suíço Jean Piaget, a aquisição
depende da inteligência da criança, ou seja, a aquisição e o desenvolvimento da
linguagem são derivados do desenvolvimento do raciocínio na criança. Este
aparecimento da linguagem se dá a partir do estágio sensório- motor, por volta dos
dezoito (18) meses, pois é neste período que há o desenvolvimento da função simbólica,
que se dá por meio do significante e significado. De acordo com Mussalim e Bentes
(2009, p.211), juntamente “com a linguagem, o jogo simbólico, a imagem mental, as
sucessivas coordenações entre as ações e entre estas e o sujeito, surge à possibilidade de
internalizar e conceptualizar as ações”. Logo, pode-se entender que a linguagem é vista,
para Piaget, como um sistema simbólico de representações, ela se torna possível, assim
como qualquer aspecto da função simbólica geral, como desenhar, por exemplo.
Diferentemente do inatismo, a aquisição é resultante de uma interação entre o ambiente
e o organismo, porém esse conhecimento só é internalizado, absorvido, através de
fatores cognitivos existentes em cada indivíduo e que possuem um tempo determinado
para emergir.
Nessa perspectiva piagetiana a impulsão que o ser humano tem de desvendar o
desconhecido e conhecer algo novo tem uma origem biológica, e passa por vários
estágios: a) sensório-motor (zero a dezoito meses), b) pré-operatório (dois a sete anos),
c) operações concretas (sete a doze anos) e d)operações formais (doze a dezesseis
anos).
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Uma das vertentes do interacionismo social é o “sociointeracionismo”, na qual a
linguagem é atividade constitutiva do conhecimento do mundo pela criança. É pela
linguagem que a criança se constrói como sujeito. O conhecimento e a linguagem estão
intrinsecamente relacionados e os dois passam pela mediação do outro, do interlocutor.
Diferentemente de Piaget, Vygotsky, um dos grandes nomes do sociointeracionismo,
acredita que a aquisição da linguagem é como um processo pelo qual a criança se firma
como sujeito da linguagem (e não como aprendiz passivo) e pelo qual constrói ao
mesmo tempo seu conhecimento do mundo, passando pelo outro (MUSSALIM e
BENTES, 2009, p. 214).
Soares (2009) afirma que, segundo Vygotsky, para a criança internalizar alguns
conhecimentos é necessário que haja a interação com o meio e com o outro, pois ela
sempre dependerá de signos externos para adquirir os significados atribuídos pelos
outros. E é através desse contato que a criança aprende a língua falada em sua
comunidade. É através das relações sociais e históricas que a criança vive que ocorrerão
essas tais mudanças, seja através das amizades ou até mesmo na vida escolar da criança.
Com essas várias vertentes teóricas, que tentam dar conta de como ocorre a aquisição
da linguagem, conseguimos observar diversos lados dessa questão. Através destas
teorias, pode-se afirmar que - apesar de que nenhuma consegue, de uma forma
completa, explicar esse processo -, nascemos com uma estrutura que nos capacita para
desenvolvermos a linguagem, mas e também necessária a experiência empírica, o
contato com o meio, com o ambiente, o estímulo e a maturação biológica para adquirir a
linguagem. Dessa forma compreendemos que é através da interação de diversos fatores
(biológicos, psicológicos, sociais) que se torna possível que os seres humanos adquiram
a linguagem. Essa interação demonstra seu papel crucial na aquisição da linguagem em
casos de PC como veremos na próxima seção.
3 Paralisia Cerebral
A Paralisia Cerebral (PC), de acordo com Tabith Jr.(1980apud LIMONGI,
2003),seguindo a proposta de Little Club(1959), “é uma desordem do movimento e da
postura, persistente, porém não fixa, surgida nos primeiros anos de vida pela
interferência no desenvolvimento do sistema nervoso central, causada por uma
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desordem cerebral não progressiva” A Paralisia Cerebral se trata de uma consequência
de um desenvolvimento anormal do cérebro ou de uma lesão encefálica. Vale ressaltar
que essas alterações devem ocorrer nos seus dois primeiros anos, visto que é o período
da maturação neurológica na qual se dá as principais aquisições nos níveis motor e
perceptual. Embora os sintomas e sinais possam se modificar com o decorrer do tempo.
As lesões podem ocorrer de três formas: pré-natais, perinatais e pós- natais. As lesões
pré - natais podem ocorrer desde a fecundação até o nascimento. Algumas causas
podem ser: o diabete materno, a rubéola materna, deficiências de vitaminas durante a
gestação, carências de proteínas, hemorragia materna originada por tentativa de aborto.
As perinatais ocorrem durante o nascimento, podem acontecer nos trabalhos de partos
prolongados e manobras de ressuscitação empregadas tardiamente. Um dos fatores
importantes é a incompatibilidade mãe-filho em relação ao fator Rh. Como causas pósnatais, podemos citar as doenças infecciosas, como meningites e encefalites, distúrbios
vasculares, traumas e tumores cerebrais (LIMONGI, 2003, p. 89). Reproduzimos na
Figura 1 um quadro com a lista dos principais fatores causais e de risco para paralisia
cerebral disponível em DIAMENT, A, CYPELS (1996) apud CANDIDO (2004).
Pré-natais
Genéticas e/ou Hereditárias
Causas Maternas
Infecções congênitas (Toxoplasmose, Rubéola, Sífilis, HSV)
Drogadição materna, uso de medicamentos (Tabaco, Álcool, Maconha, Cocaína)
Complicações obstétricas
Descolamento Placentário
Placenta prévia
Hemorragias/ameaça de aborto
Diabetes/Desnutrição maternos
Má posição do cordão umbilical
Malformações congênitas
Exposição a radiações (raios X)
Perinatais
Prematuridade e Baixo peso
Distócias (Asfixia perinatal, Trauma cerebral)
Infecções (Menigites, Herpes)
Hipoglicemia
Distúrbio Hidroeletrolíticos
Pós-natais
Infecções
Meningites
Encefalites
Trauma craniano
Acidente cérebro-vascular
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Cardiopatia congênita cianótica
Anemia Falciforme
Malformações vasculares
Anóxia cerebral
Acidente por submersão
Aspiração de corpo-estranho
Insuficiência/parada respiratória
Desnutrição
Figura 01. Fatores causais e de risco Fonte: DIAMENT, A, CYPELS, 1996.
Segundo Limongi (2003) os problemas de comunicação em crianças com paralisia
cerebral podem variar desde a ausência de intenção comunicativa, passando por grandes
dificuldades na comunicação oral devidas a alterações práticas que interferem na
articulação dos sons, palavras e frases, até distúrbios ao nível da linguagem. Os
especialistas consideram que na ausência da comunicação oral, há uma atitude
comunicativa presente através de gestos, sinais, algumas poucas vocalizações.
A classificação dos tipos de paralisia cerebral é variável, conforme Tabith (1995
apud DEDERICH, 2000, p.12), e depende dos sintomas que geralmente refletem a
região do cérebro que sofreu a lesão. Os três tipos básicos de Paralisia Cerebral são:
Espástica, Atetóide/discinética, Atáxica (Dederich, 2000). O primeiro tipo básico da PC,
segundo Bitencourt, Oliveira, Brito, Sousa e Matos, (2011) o qual corresponde a 70%
casos, caracteriza-se pela lesão do motoneurônio superior no córtex ou nas vias que
terminam na medula espinhal. Os músculos espásticos por estarem em contração
contínua causam aparente fraqueza do seu condutor antagonista às posições anormais
das articulações sobre as quais atuam, assim, pode-se dizer que os movimentos são
excessivos.
Conforme as deformidades articulares se desenvolvem, suas contraturas fixam e não
progridem. O reflexo tônico cervical pode persistir além de tempo normal, porém os
demais reflexos neonatais geralmente desaparecem durante o repouso determinando
geralmente posições viciosas ou contraturas em padrão flexor.
Já a Atetóide
corresponde 20% a 30% dos casos e compromete sistema extrapiramidal, parte neural
envolvida na coordenação dos movimentos. Assim, o sistema muscular torna-se instável
e o portador pode apresentar movimentos involuntários de pequena amplitude. O
portador apresenta um controle da cabeça fraco e as respostas a estímulos são instáveis e
imprevisíveis. O caso que menos ocorre é o Atáxico, que corresponde a 10% dos casos.
Ele se manifesta por uma falta de equilíbrio e falta de coordenação motora em
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atividades musculares voluntárias. A ataxia pura na Paralisia Cerebral é rara e no início
não é fácil de ser reconhecida. Há pouco controle de cabeça e do tronco. A fala é
frequentemente retardada e indistinta, caracteristicamente com a boca aberta e salivação
considerável. Segundo Pinho (1999, p.21), Berry e Eisenson (apud Tabith, 1995)
agruparam certas características de fala, de acordo com o tipo de Paralisia Cerebral da
seguinte forma:
O atetóide apresenta distúrbios articulatórios que variam do completo
mutismo e disartria a discretos problemas articulatórios. Tem
alterações fônicas que se exteriorizam por uma voz aspirada, rouca ou
fonação ventricular. O ritmo respiratório sempre está muito alterado.
A fala do espástico contém severos distúrbios e as anormalidades dos
músculos da laringe levam a súbitos aumentos do volume ou rápidas
mudanças na altura da voz. A fala é lenta, laboriosa e sem inflexão. A
fala do atáxico é caracterizada por uma articulação pouco cuidada, que
logo se torna ininteligível quando tenta emitir frases mais longas. O
ritmo é anormal. A altura, intensidade e qualidade são monótonas e
espasmódicas. (PINHO, 1999, p.21)
Reproduzimos na Figura 2 um quadro de classificação da PC com os respectivos
tipos de disfunções motoras disponível em Freire (2008 apud TABAQUIN, 1996)
N°
Tipo
Disfunção Motora
Topografia
Espástico
- Diplegia
- Quadriplegia
- Hemiplegia
- Dupla hemiplegia
- comprometimento maior dos membros
inferiores;
- prejuízo equivalente aos quatro membros;
- comprometimento de um domínio corporal;
- membros superiores mais comprometidos.
2
Discinética
- Hipercinética ou
Coreoatetóide
- Distônica
- movimento involuntário com presença de
movimentação associada;
- tônus muscular variável induzido por
movimentos voluntários.
3
Atáxica
- Dissinergia
- tremor intencional;
- dificuldades na manutenção do equilíbrio.
1
- predomínio do prejuízo motor com a
presença de outras alterações
Figura 02: Classificação da Paralisia Cerebral, segundo Minear (1956), com tipos de disfunções
motoras e topografias dos prejuízos (FREIRE, 2008)Fonte: TABAQUIN (1996)
4
Mista
-Quadros associados
Como vemos, a PC tem variados sintomas, principalmente motores, em seus três
tipos e em todos eles há o comprometimento da fala. Os estudos acerca da Paralisia
Cerebral têm se modificado ao longo do tempo. Um dos pesquisadores da Paralisia
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Cerebral ortopedista chamado Willian Little descreve em 1953, que a PC é uma
síndrome caracterizada por uma rigidez muscular e pode ser ocasionada por vários
fatores que acarretam a asfixia do recém nascido. Phelps, no inicio deste século, deu
inicio as tentativas de tratamento para um grupo de crianças com alterações semelhantes
às estudadas por Little, surgindo o termo Paralisia Cerebral, usado para denominar um
agrupamento de caráter terapêutico (DEDERICH, 2000, p.09).
Dando continuação à investigação para designar qual o termo seria adequado para a
Paralisia Cerebral, Keats (1970 apud DEDERICH, 2000), por sua vez, define a Paralisia
Cerebral como um termo geral usado para designar qualquer paralisia, fraqueza, falta de
coordenação ou desvio funcional do sistema motor que é resultado de lesões
intracranianas. A partir disso, Leitão, em 1983, complementa a definição de Keats
dizendo que a PC é um grupo extremamente heterogêneo, reunindo distúrbios motores
que ocorrem antes, durante ou depois do nascimento, sendo impossível definí-lo
satisfatoriamente (DEDERICH, 2000, p. 09).
Segundo Dederich (2000), Tabith (1995) explica que o termo paralisia cerebral é
inadequado porque indicaria uma ausência total de atividades físicas e mentais. Em
1995, Limongi mostra que “a linguagem, movimento e cognição são postos lado a lado,
ou melhor, são sequencializados conforme sua relevância.” Por isso, uma criança com
Paralisia Cerebral possui limitações sensoriomotoras que seriam compensadas pela
“atuação sobre o real exterior” através de outras vias sensoriais. Nessa mesma
perspectiva a linguagem não é reduzida apenas à articulação e nem apenas veículo de
expressão de etapas da estruturação cognitiva (VASCONCELLOS, 1999, p. 292), mas
sim um instrumento e resultado do processo de interação social.
Relacionando a aquisição da linguagem com o sujeito com Paralisia Cerebral, os
especialistas dizem que a linguagem ultrapassa o motor e o cognitivo, mas ela acaba
sendo remetida ao social e à comunicação. A linguagem faz pressão, mas ela não é
propriamente dedicada a um espaço privilegiado de discussão. A tentativa de conciliar o
sensório motor e o cognitivo e ao social para dar conta da linguagem do Paralitico
Cerebral não faz, de fato, outra coisa senão inscrevê-la ou reafirmá-la no “campo da
complementaridade”, no campo em que não há lugar para considerações sobre a língua
enquanto funcionamento autônomo ( HENRY, 1992 apud VASCONCELLOS, 1999)”.
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Frazão (2000) destaca que, a linguagem ganha destaque ao aproximar-se com o
interacionismo em Aquisição de Linguagem, tal como proposto por De Lemos, o qual
remove a noção de comunicação, que cede lugar à de interpretação. Se com
interpretação, a pesquisadora ultrapassa o imaginário da comunicação e faz intervir a
linguagem na clinica fonoaudiológica do Paralitico Cerebral, é certo, também, que uma
face dessa questão não é tratada. Mesmo na ausência de oralização, é possível dizer que
“há fala” no caso desses pacientes, pois mesmo sem a prática da fala em si, é possível a
criança
interagir
através
de
sentimentos,
emoções,
conhecimentos,
afetos
(VASCONCELLOS, p.293).
Segundo Dederich, “apesar das contradições relativas à nomenclatura “Paralisia
Cerebral”, uma das definições mais aceitas ainda hoje é a utilizada pelo Little Club de
Oxford, desde 1958, na qual a paralisia cerebral é apresentada como uma sequela de
agressão encefálica, caracterizada por um transtorno constante, mas variável, de tônus,
postura e movimento, que aparece na primeira infância, e é secundário a uma lesão não
evolutiva do encéfalo e à influência que essa lesão exerce sobre a maturação
neurológica” (2000, p.10).
Apesar de um portador de Paralisia Cerebral obter um déficit motor ainda há um
sistema linguístico dentro desta pessoa por mais que ele tenha um funcionamento
cerebral prejudicado isso não impede o portador de se comunicar. Por isso ainda, que o
termo “paralisia” seja usado para definir alguma irregularidade que aconteceu no
cérebro, existe sim um movimento entre a linguagem e o sujeito e por mais que se
tenham diferentes graus de alterações motoras e sensoriais a criança irá construir e
organizar seu universo com as possibilidades existentes por seu meio. Esse parece ser o
caminho seguido pelas profissionais ouvidas cujas entrevistas abordaremos em nossa
seção final.
4 Pesquisas com profissionais
Com o intuito de colher informações acerca do processo e das ações terapêuticas nos
casos de Paralisia Cerebral, realizamos uma entrevista com duas profissionais que
atendem crianças com PC em instituições públicas que oferecem atendimento a crianças
com PC. As entrevistadas assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e
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as duas optaram por não serem identificadas na pesquisa, desta forma neste texto nos
referenciamos a elas como a E1, entrevistada um, e a E2, entrevistada dois.
A primeira entrevistada trabalha há seis anos com paralíticos cerebrais, sendo que há
um ano está trabalhando no estabelecimento em que foi entrevistada. Já os outros cinco
anos ela trabalhou em outro lugar. Através de seus estudos e da sua experiência
considera que um fator comum entre esses casos é que quase todas as crianças com
Paralisia Cerebral não falam ou possuem uma dificuldade muito grande de fala. O
trabalho que é realizado com essas crianças vai se alterar dependendo do grau de
dificuldade que a criança apresenta. Por isso ela trabalha de forma dirigida e de forma
espontânea, ela vai tentando achar uma forma para se comunicar com aquela criança
seja por um sorriso ou por algum outro gesto:
Então dirigida quando eu coloco atividades, estimulo ela. Por
exemplo, ah hoje eu vou trabalhar com fantoches então vou estimular
com os fantoches e existe outro momento que eu deixo mais livre e
que eu vou de repente desenvolver outras atividades que... É eu tenho
casos que crianças que não conseguem fazer aquisição de nenhum
fonema e eu tento desenvolver alguma forma de comunicação então
com essas crianças então é seja um levantar do braço, um contato com
olhar ou um sorriso então eu sempre vou valorizando isso neh”.(E1)
A família é outro fator importante para o paralitico cerebral, pois eles podem ajudar
sempre seguindo as orientações do profissional e isso acaba estimulando muito o
portador, que além de realizar os exercícios com o profissional realiza com a família.
Mas como esses cuidados exigem tempo para o familiar do paralitico cerebral, muitas
vezes eles acabam fazendo as atividades pela criança pelo fato de se ter outras coisas a
mais para fazer e assim acabem não estimulando e prejudicando o portador de PC.
Para a E1, na aquisição dos sons o que fica menos comprometido são as vogais, pois
o primeiro som, muitas vezes produzido involuntariamente, é a vogal [a]. E o que mais
fica comprometido são as consoantes:
não sei eu não trabalho com nenhum que consegue produzir o L e o R
esses são os mais complicados assim então os sons que a gente de
chama de explosivos assim PA BA esses são os mais fáceis agora os
que envolvem principalmente língua, levanta língua essa questão por
questão mesmo de tonicidade neh de músculo essas coisas são mais
difíceis daí.(E1)
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A segunda entrevistada é fonoaudióloga desde 2010 e trabalha no estabelecimento
em que foi entrevistada há mais ou menos dois anos. E2 fala que na Paralisia Cerebral o
que vai ficar comprometido em relação à linguagem, tanto no inicio quanto ao longo do
desenvolvimento, vai depender do tipo da lesão que a criança apresenta. Um fator
importante para ela é que apesar da criança não ter uma oralidade ela se comunica
através do choro, sorriso, do olhar, a criança se expressa de uma forma diferente. Além
da dificuldade da fala, o paralitico cerebral tem também bastante dificuldade na
alimentação. Em relação à abordagem teórica, esta profissional relatou que adapta os
postulados de acordo com as dificuldades e necessidades da criança, abordando tanto a
parte biológica como a parte social. Em relação a aquisição sonora nos casos de
Paralisia Cerebral, para a E2, é difícil dizer o que fica comprometido pois tudo vai
depender do tamanho da extensão da lesão dessa pessoa, pois não há nenhum caso que
seja igual, algo em comum.
Como a PC possui diferentes níveis de comprometimento cerebral, é difícil
estabelecer uma padronização na aquisição sonora e no desenvolvimento da linguagem.
Em comum, para as profissionais entrevistadas, os sons menos comprometidos são as
vogais e os mais comprometidos são as consoantes, principalmente os sons [l] e [r].
Também declararam que os portadores de PC se comunicam de outras formas, além da
oralidade, como através do choro, sorriso, do olhar, a criança se expressa de uma forma
diferente.
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