CULTURA DA ACEROLEIRA ( Malpiglia glabra L.) Keize Pereira Junqueira1 Rafael Pio2 Márcio Ribeiro do Vale3 José Darlan Ramos3 1 Introdução A aceroleira, também conhecida como cerejeira das Antilhas, é uma planta rústica, de porte arbustivo. O Brasil ocupa o primeiro lugar na produção e exportação da acerola, em razão da existência de condições bastante favoráveis de clima e solo em grande área do país. Outro fator é a grande importância nutricional dos frutos, que fez da acerola uma fruta altamente requisitada no mercado mundial para o preparo de sucos e consumo “in natura”. Entre seus componentes, destaca-se o teor de vitamina C (ácido ascórbico). Em 100 g de polpa pode haver até 5000 mg dessa vitamina, o que corresponde a até 80 vezes a quantidade encontrada em limões e laranjas. _________________________________________ 1 Aluno de graduação/UFLA Aluno de Pós-Graduação em Fitotecnia/UFLA 3 Professor de Fruticultura do Departamento de Agricultura/UFLA 2 6 Uma das grandes vantagens do cultivo dessa frutífera é o elevado número de safras/ano, sendo geralmente quatro/ano, podendo chegar a 7 safras, no caso de cultivos irrigados. Em pomares irrigados na região do Submédio São Francisco, é possível ter produção o ano inteiro. Regiões, como o Centro Oeste e os Estados de Minas Gerais e São Paulo, têm implementado de forma acentuada o plantio da aceroleira, principalmente para a produção de suco e, mais recentemente, para a indústria de refrigerantes, demonstrando, assim, o grande potencial dessa cultura. 2 Clima e solo Os climas que favorecem o desenvolvimento e a produção da aceroleira são os tropicais e subtropicais. O florescimento ocorre apenas na época em que a temperatura se eleva e as chuvas se iniciam; durante o período seco e frio, a planta permanece em repouso. As temperaturas médias ideais para o cultivo da aceroleira são de 26°C. As geadas podem ser prejudiciais à cultura, que não resiste a baixas temperaturas. Uma árvore adulta resiste a uma temperatura de até –2°C por um curto período. O excesso de chuvas durante o ano deve variar de 1200 a 1600 mm. A quantidade excessiva de chuvas favorece o ataque de doenças e 7 provoca a formação de frutos aquosos, com menores teores de açúcares e vitamina C. Quanto ao solo, os mais recomendados são os argiloarenosos. Também deve ser observado se o solo é isento de nematóides, já que a aceroleira é muito suscetível a essa praga. 3 Botânica A aceroleira é uma planta ainda pouco conhecida, tanto que há divergências quanto à sua correta classificação botânica. A maioria dos autores supõe-se tratar de Malpighia glabra L., mas há aqueles que julgam que a espécie cultivada é Malpighia punicifolia L. ou mesmo Malpighia emarginata D.C. Pela grande variação encontrada na arquitetura das plantas, disposição das folhas, coloração das flores e também pela presença de acúleos urticantes nas folhas de algumas plantas em pomares comerciais dessa frutífera, infere-se que existam indivíduos de mais de uma espécie sendo cultivados no Brasil. Malpighia glabra é um arbusto glabro, de tamanho médio, com 2 a 3 m de altura, com os ramos densos e espalhados. As folhas são ovatas a elítico-lanceoladas, com 2,5 a 7,5 cm de comprimento, opostas, com pecíolo curto, pequenas, de coloração verde-escura e brilhante na face superior e verde pálida na face inferior. As flores são perfeitas, com pedúnculo longo e pou- 8 co mais de 1 cm de diâmetro, de coloração rosa-esbranquiçada a vermelha. São dispostas em cachos de 3 a 5 flores nas axilas dos ramos em crescimento. O fruto da aceroleira é uma drupa de tamanho, forma e peso variáveis. A forma pode ser oval ou subglobosa, com formato trilobado. A casca é fina e delicada, o tamanho varia de 1 a 2,5 cm de diâmetro e o peso de 3 a 15 g. Quanto à cor, os frutos maduros podem apresentar diferentes tonalidades, que vão do amarelo ao vermelho intenso ou roxo. Possuem normalmente três sementes protegidas por invólucro com consistência de pergaminho. O sabor varia de levemente ácido a muito ácido, sendo a polpa conhecida pelo seu teor de vitamanina C. Análises recentes feitas em São Paulo indicam, no entanto, que esses teores variam muito de planta para planta, sendo encontradas variações dentro dos limites de 30 a 1800 mg de ácido ascórbico por 100 g de polpa, havendo alguns pés que produzem frutas com 2000 mg/100 g de polpa. A aceroleira possui baixo índice de pegamento natural dos frutos, apesar da abundância de flores, indicando falta de eficiência na polinização aberta (vento, abelhas, e outros insetos). Assim, a porcentagem de pegamento é maior quando a autopolinização e a polinização cruzada são feitas artificialmente. A abertura da flor é observada aproximadamente dos 15 aos 17 dias após o aparecimento dos botões, e, no total, até o amadurecimento dos frutos, leva-se de 22 a 32 dias. 9 4 Variedades Com a ampla adaptação da planta em diversas regiões do Brasil, o cultivo se estabeleceu de forma desordenada, provocando excedentes de produção, frutos sem seleção e redução do preço obtido pelo produtor. Dessa forma, observa-se a importância da escolha do material que será utilizado para a formação de novos plantios, sendo necessário dispor-se de plantas selecionadas, aceroleiras matrizes que reúnam o maior número possível de características desejáveis (porte, tamanho do fruto, cor do fruto, rendimento, produtividade, além de outros atributos). Há uma grande variabilidade de plantas com características bastante heterogêneas. A variedade ideal para o cultivo deve propiciar um alto nível de frutos/planta/ano), produtividade frutos de (mínimo coloração de 100 vermelha Kg de quando maduras, com peso superior a 6 g e teor de vitamina C acima de 2000 mg/100 De acordo g decom polpa. o sabor e teor de vitamina C existente na polpa, a acerola é dividida em 2 grupos: a) doce - destinadas para consumo como fruta fresca e com menor teor de ácido ascórbico. Assim, entre as variedades doces existentes, destacam-se as seguintes: 443 (Manoa); 9-68 (RubiTropical) e 8E-32 (Rainha do Havaí). 10 b) ácido - destinadas à industrialização e com maior teor de ácido ascórbico. No grupo ácido, destacam-se a 3B-21 (J.H. Beaumont), 22-40 (C.F. Rehnborg) e 3B-1 (Jumbo Vermelho). É importante ressaltar que muitas pesquisas têm sido desenvolvidas no sentido de selecionar outras variedades que superem as demais em qualidade, produtividade e teor de vitamina C. Dessa forma, aconselha-se que o produtor procure sempre se informar sobre os novos materiais lançados no mercado. 5 Tipos de mudas A aceroleira pode ser propagada tanto com o uso de sementes (propagação sexual), como pela estaquia e enxertia (propagação assexual ou vegetativa), sendo, assim, considerada uma planta de propagação bastante simples. 5.1. Propagação via sementes A propagação via sementes ainda é a forma mais comum no estabelecimento de plantios comerciais de aceroleiras no Brasil. Os “caroços” são selecionados de plantas bem conformadas e nutridas, extraídos de frutos senescentes (totalmente maduros) através da maceração em peneira em água corrente ou por fer- 11 mentação. Deve-se lavar bem os “caroços” e deixar secar à sombra por dois dias, podendo semeá-los imediatamente ou armazená-los em geladeira por até quatro meses. Para selecionar os “caroços” ideais, deve-se colocá-los em um balde com água limpa, descartando-se assim os “caroços” que boiarem. A semeadura deve ser realizada em sulcos distanciados de 10 cm, com profundidade de 0,5 a 1,0 cm, em canteiros com dimensões de 1,0 m de largura e 1,5 m de comprimento, contendo substrato constituído de terra + matéria orgânica na proporção de 2:1. Deve-se efetuar regas diárias com regador, sendo que a germinação ocorre de 20 a 30 dias após a semeadura. Em seguida, deve-se repicar as mudas para saquinhos de dimensões de 16 X 25 cm (volume de 2 litros) com substrato constituído de terra + matéria orgânica na proporção de 3:1, misturando-se 600 g de superfosfato simples por m3 de substrato. Quando as mudas atingirem 25-30 cm de altura, elas devem ser transplantadas para as covas. Esse tipo de propagação tem causado prejuízos consideráveis aos produtores, por causa da grande variabilidade de plantas e frutos, gerando desuniformidade na produção e na qualidade dos frutos. Outro grande problema é a baixa taxa de germinação, que normalmente varia de 25 a 30 %, em virtude da incompatibilidade na polinização, gerando ausência ou problemas na formação do embrião (“caroços” chochos). 12 5.2 Propagação por estaquia A propagação por estaca é um método que permite a obtenção de plantas uniformes; porém, é mais difícil de ser executado e de custo de produção mais elevado. Recomenda-se a utilização de estacas semilenhosas contendo um par de folhas medindo de 15 a 20 cm de comprimento e 3 a 6 cm de diâmetro. As estacas devem ser coletadas antes do período de floração. Após a coleta, coloca-se a base da estaca em solução hormonal de 6000 ppm de AIB (Ácido Indolbutírico) em pó por 15 segundos, colocando-se as estacas para enraizar em bandejas de polietileno com 72 células, contendo como substrato areia lavada ou substrato comercial vermiculita. Essa etapa deve ser realizada em casa-de-vegetação com sistema de irrigação por nebulização intermitente e temperatura controlada. Após 60 dias, realiza-se a transferência das estacas enraizadas para saquinhos de dimensões de 16 X 25 cm (volume de 2 litros) contendo substrato composto de terra + matéria orgânica na proporção de 3:1, misturando-se 600 g de superfosfato simples por m3 de substrato. Quando as mudas atingirem 25-30 cm de altura, a partir do colo da planta, deve-se transplantá-las para as covas. 13 5.3 Propagação por enxertia Outro método que pode ser utilizado é o da enxertia por borbulhia tipo “T normal” ou “T invertido”, que são os utilizados nessa cultura. Os porta-enxertos utilizados são oriundos se sementes, formados pelo mesmo método descrito no item 5.1. Quando a muda no saquinho estiver com cerca de 10 a 12 meses de idade ou apresentar diâmetro de 0,8 a 1,0 cm, realiza-se a enxertia com borbulhas sadias e retiradas de plantas matrizes contendo características agronômicas desejáveis. A enxertia propicia como vantagens a redução do porte da planta, o que facilita os tratos culturais e a colheita, a manutenção das características desejáveis da variedade utilizada como matriz, a precocidade no início da produção e uniformidade. 6 Implantação do pomar e tratos culturais 6.1 Preparo do solo e correção Para o estabelecimento do pomar, as primeiras operações a serem feitas são a roçagem, destoca, aração, gradagem e preparo da rede de drenagem, quando necessário. A análise do solo deve ser feita baseada em amostras obtidas nas profundidades de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm. Com ba- 14 se nos resultados, é possível concluir sobre as necessidades de calagem, fosfatagem ou adubações. No caso da calagem, a aplicação do calcário deve ser seguida de aração e gradagem a uma profundidade de 15 a 30 cm, para que ocorra a incorporação. Em caso de baixo teor de fósforo, recomenda-se uma fosfatagem para elevar o teor de P a um valor acima de 12 ppm. 6.2 Espaçamento O espaçamento recomendado é de 4 × 4 (625 plantas/ha), pois uma alta densidade de plantas gera uma maior produtividade nos primeiros anos. Entretanto, o espaçamento pode variar, adequando-se da melhor forma às técnicas de manejo e tratos culturais aplicados. 6.3 Marcação e abertura das covas Deve ser feito alinhamento quadrado, marcando-se com piquetes rústicos o local das covas. Em terrenos com declive acentuado, é recomendado alinhar em curva de nível. As covas devem ser de 40 x 40 x 40 cm de largura, comprimento e profundidade, respectivamente. Na retirada da terra durante a abertura das covas, é necessário separar a camada mais superficial de solo (0 a 20 cm) da mais profunda (20 a 40 15 cm). Isso é recomendado, pois, no fechamento da cova, essas camadas de terra devem ser invertidas, sendo misturados a elas calcário, esterco e fertilizantes químicos. 6.4 Adubação de plantio As covas para plantio devem ser preparadas com, pelo menos, 60 dias de antecedência, e a adubação da cova deve ser feita de acordo com os resultados da análise de solo. Em áreas de cerrado, devem ser adicionados, por cova, 20 L de esterco de curral bem curtido, 500 g de calcário dolomítico (para solos não corrigidos) e 600 g de superfosfato simples. Depois que a cova estiver pronta, corrigida e adubada, a muda deve ser colocada sem a embalagem plástica que a protege, mas com o torrão. Após o plantio, fazer uma rega com 20 L de água. Para evitar o tombamento ou quebra pela ação do vento, recomenda-se o uso de tutores com cerca de 80 cm de altura. Cada tutor deve ser colocado ao lado de uma cova, e a planta deverá ser cuidadosamente amarrada ao mesmo (estacas de bambus, madeira ou similares). 6.5 Podas Quando cultivada em boas condições de manejo, a aceroleira é uma planta de crescimento rápido. A copa deve ser con- 16 duzida visando a arquitetura semelhante a uma taça, para propiciar melhor aproveitamento da luminosidade. Dessa forma, em plantios comerciais, recomenda-se que sejam feitos três tipos de podas: de formação, de limpeza e de limpeza drástica. A poda de formação deve ser iniciada logo após o pegamento da muda. A planta deverá ser conduzida em haste única, e todas as brotações laterais deverão ser eliminadas. Mais tarde, quando a planta atingir uma altura de aproximadamente 70 cm, deverá ser podada na porção apical. Esse processo irá favorecer as brotações laterais, que definirão a copa da planta. Dessas brotações, devem ser escolhidos os ramos laterais acima de 50 cm de altura em relação ao nível do solo, situadas em diferentes pontos, com inserção em diferentes alturas e bem distribuídas diametralmente. A poda de limpeza deve ser utilizada para retirar ramos com anomalias, secos ou que atrapalhem o arejamento da copa. A poda de limpeza drástica deve ser feita em torno do segundo ano de plantio ou de acordo com parecer técnico, quando o diâmetro atingido pela copa dificultar os tratos culturais, fitossanitários, aeração ou luminosidade. Essa poda deve retornar o diâmetro da copa da aceroleira para 1,5 a 2 m. 17 6.6 Adubação de cobertura Deverá ser realizada em torno da planta, na projeção da copa. Essa distância deverá ser aumentada em função da idade da planta e da projeção de sua copa. Durante o período de produção, cada planta deve receber cerca de 160 g de N, 160 g de P2O5 e 320 g e K2O por ano, divididos em quatro parcelas e aplicados durante o período de frutificação. Em caso de adubações com os micronutrientes via solo, recomenda-se utilizar as “fritas”, recomendando-se 50 g/cova de F.T.E. BR-12, juntamente com os outros adubos químicos. O esterco deve ser aplicado uma vez por ano, na razão de 20 L por planta. É importante lembrar que, com o tempo, essa recomendação de adubação de cobertura deverá ser analisada em função do desenvolvimento e produção da planta e níveis de nutrientes no solo. Caso seja necessário, o produtor deverá fazer uma análise foliar. 7 Irrigação O manejo da água é muito importante em plantios de aceroleira. A variação no tamanho do fruto, por exemplo, está diretamente relacionada com suprimento de água no solo. Em plantios comerciais, observa-se que sob irrigação abundante os frutos 18 se avolumam, chegando até a dobrar de peso. Entretanto, o excesso de água no fruto prejudica a qualidade, tornando-os aquosos e reduzindo seus teores de açúcar. Observa-se também que o volume de copa está diretamente relacionado com a quantidade de água colocada. As aceroleiras de copa globosa, volumosa e de porte mais baixo, em torno de dois metros de altura, são consideradas ideais para o processo de colheita, pois o mesmo é manual, gerando um maior custo de produção. O sistema de irrigação mais utilizado tem sido o de gotejamento, mas a irrigação também pode ser feita por aspersão convencional, microaspersão ou por superfície (sulcos). 8 Controle das principais pragas a) Pulgão Sugam a parte final dos ramos, provocando seu murchamento e morte, induzindo a brotação lateral da planta. Também é comum os pulgões atacarem flores e frutos em formação. Esse fato prejudica a produtividade geral da cultura, pois os frutos desenvolvem-se nas axilas das folhas dos ramos novos. Como medida de controle, recomendam-se pulverizações com inseticidas biológicos durante os períodos de frutificação. 19 Em casos de necessidade de inseticidas químicos, o produtor deverá consultar um engenheiro agrônomo. b) Cochonilhas É um grupo de insetos que trazem sérios danos à produção agrícola. Também atacam brotos, ramos, folhas e frutos, sugando a seiva, podendo levar o tecido à morte. Como controle, devem ser feitas pulverizações à base de óleo mineral. Para maior eficácia, pode-se misturar um inseticida, desde que não haja risco para o consumidor. c) Percevejos Atacam principalmente os frutos, alterando seu aspecto e desqualificando-os para a comercialização. O combate deve combinar harmonicamente os três tipos de controle: cultural, biológico e químico. O maior problema dessa cultura é quanto ao controle químico, pois ocorre uma grande desuniformidade da floração e, conseqüentemente, da colheita. Uma mesma planta pode apresentar flores e frutos em diferentes fases de desenvolvimento, podendo a aplicação de produtos químicos provocar danos às flores, aos insetos polinizadores e aos próprios frutos, por não ser possível ocorrer a degradação de resíduos durante o curto período de tempo de sua formação e colheita diária. Assim, o produtor deve ficar muito atento ao intervalo de segurança ou carência do produto químico que utilizar. 20 Sempre que possível, deve-se optar pelo controle químico no período em que a aceroleira não esteja produzindo. d) Vaquinhas O período de maior ataque é de fevereiro a março, essas no estágio adulto, fazem perfurações nas folhas, flores e frutos, podendo atingir até o talo das plantas novas. O controle é feito com produtos à base de carbaryl, deltamethrina, fenthion ou malathion. Entretanto, em virtude da colheita diária e do longo período de carência dos produtos, apenas o deltamethrina deve ser utilizado, pois seu período de carência, apesar de ainda não ser determinado para a acerola, é curto para algumas culturas. e) Besouro-amarelo É uma praga encontrada em diversas plantas hospedeiras. Não se utiliza nenhuma medida de controle, apesar dessa praga causar alguns danos significativos. Geralmente o surto dessa praga ocorre imediatamente após as primeiras chuvas, podendo ocorrer também em fevereiro. f) Mosca-das-frutas Seu dano é causado pela fêmea adulta e pela larva, unicamente em frutos. Causa um apodrecimento interno, ficando a área atacada decomposta, úmida e escurecida. Como a mosca- 21 das-frutas é uma praga nômade, seu controle fica difícil e restrito a uma diminuição no pico da praga, o que pode ser feito mediante medidas de controle cultural, biológico e químico. Dentre as medidas de controle cultural, destaca-se a coleta de frutos atacados e posterior eliminação, como, por exemplo, o enterrio ou a queima. Como controle químico, o uso de armadilhas ou iscas tem sido o mais eficiente, que consiste no uso de frascos caçamoscas. O controle biológico ainda não é uma medida amplamente conhecida e explorada; entretanto, sabe-se que ocorre o controle da mosca-das-frutas pela mortalidade causada por parasitóides, predadores e patógenos. 9 Controle das principais doenças a) Mancha de cercosporidium É uma doença que deprecia totalmente o fruto na sua aparência. Provoca lesões profundas, regulares e com coloração escura, atingindo frutos de qualquer idade. O controle deve ser feito com fungicidas à base de oxicloreto de cobre a 250g/100 L ou benomil a 60g/100 L de água, a cada dez dias. É importante lembrar que, na opção por benomil, o período de carência deve ser respeitado. 22 b) Podridão seca dos ramos É uma doença muito comum em plantios não irrigados. Os fungos podem penetrar nos tecidos através de aberturas naturais (axilas dos ramos) e, principalmente, por ferimentos provocados por ventos, chuva de pedras, enxadas, facões, tratores e outros. Os sintomas são, inicialmente, lesões escuras sob a casca do tronco e ramos, levando ao secamento de galhos e à morte da planta. A forma de controlar a doença é a eliminação de ramos e plantas mortas. Em seguida, deve-se tentar descobrir a causa primária da doença, fornecendo às plantas os tratos culturais adequados. c) Antracnose É uma doença que ataca principalmente os frutos, provocando nesses lesões profundas e regulares. Os frutos atingidos apodrecem rapidamente após a colheita. O controle é feito com aplicações semanais de oxicloreto de cobre. d) Verrugose É uma doença bastante comum, e pode atacar botões florais, flores e frutos. Os frutos atingidos tornam-se inviáveis para o mercado, pois o fungo provoca deformações e a formação de um tecido corticoso na casca. O controle deve ser feito com pulverizações à base de oxicloreto de cobre. 23 10 Controle de plantas daninhas As plantas daninhas prejudicam o crescimento e desenvolvimento dos pomares, comprometendo a qualidade e a quantidade de frutos. Além disso, favorecem o desenvolvimento de pragas e doenças, já que, na presença dessas plantas invasoras, há dificuldades de serem realizadas as práticas fitossanitárias. Como controle, pode ser utilizada a capina manual, química ou mecânica. Quando se optar pelo cultivo mecanizado, devese tomar o cuidado para que as raízes das aceroleiras não sejam danificadas. O controle químico com a aplicação de herbicidas é recomendado, procurando assistência técnica especializada. Além disso, o produtor deve ter conhecimento minucioso não só da população invasora, como da especificidade do herbicida a ser aplicado. No primeiro ano, recomenda-se a aplicação do Paraquat (Gramoxone) a 100 ml por 20 litros de água nas linhas de plantio, mantendo a roçagem nas entrelinhas. Em plantas adultas que não estejam no período de frutificação, podem ser usados herbicidas à base de glifosate a 200 ml por 20 litros de água, cuidando para que o produto não atinja as folhas. Recomenda-se, portanto, a aplicação em horas de menor intensidade de vento, e com protetor de derivas, colocando no bico do pulverizador uma bacia de plástico com 40 a 50 cm de diâmetro ou o chapéu-denapoleão. 24 11 Produção e produtividade Plantas obtidas a partir de sementes começam a produzir cerca de 2 a 2,5 anos após o plantio, frutificando 3 a 4 vezes por ano. Em contraste quelas produzidas por estacas produzem pela primeira vez com cerca de 1 a 1,5 ano de idade, também produzindo de 3 a 4 vezes por ano. No entanto, em algumas regiões do Nordeste brasileiro com alta temperatura, disponibilidade de luz e sob irrigação, essas plantas advindas de sementes ou estacas têm começado a frutificar com menos de um ano e produzido praticamente o ano inteiro. Em plantios comerciais, a produção varia de 20 a 100 kg/planta/ano. Caso o produtor esteja interessado em abastecer os grandes centros consumidores internos e, principalmente, o mercado externo, ele deverá estabelecer, juntamente com a sua meta de produção, um programa rígido e sistemático de controle de qualidade dos frutos produzidos, no sentido de conquistar esses centros e de assegurar sua permanência num mercado externo altamente exigente e competitivo. Assim, é importante garantir alta produtividade e outras características qualitativas desejáveis, visando também à produção de frutos com o maior conteúdo possível de vitamina C. 25 12 Colheita, classificação, processamento e embalagem É muito difícil determinar o ponto de colheita da acerola, já que a desuniformidade na floração provoca a presença de flores e frutos em diversos estádios de desenvolvimento. Assim, o principal critério utilizado para estimar o grau de maturação do fruto é a coloração externa. O ponto exato da colheita depende do destino do fruto. Caso sejam posteriormente congelados, devem ser colhidos com coloração vermelha, mas ainda firmes para suportar o manuseio. Nesse estádio, o fruto apresenta alto teor de açúcar e baixa acidez (máximo de qualidade ). Quando o fruto vai atingindo a coloração vermelho-intensa, seu teor de vitamina C diminui. Em produtos em que a quantidade de vitamina C é a característica mais importante (a exemplos dos remédios, cápsulas, concentrados para enriquecimento em pó), os frutos podem ser colhidos no início da maturação. Quando os frutos forem destinados a sucos ou consumo como fruta fresca, a colheita deve ser bem criteriosa, pois o sucesso comercial depende dessa operação. Recomenda-se que a colheita seja efetuada, sempre que possível, em horas com temperaturas mais amenas. Em período de produção plena, a colheita deve ser feita duas a três vezes por semana, podendo até ser feita diariamente, 26 dependendo do pique de produção. Assim, evita-se que os frutos caiam depois de atingirem determinado ponto de maturação. Também é importante observar que durante o processo, os frutos não sofram pancadas ou ferimentos, o que acelera seu processo de deteriorização. O processo de colheita é a operação mais delicada e de maior custo na cultura da aceroleira. Uma pessoa adulta colhe, no auge da produção e em pomares em produção plena, cerca de 90 a 110 kg de fruta/dia. A classificação diz respeito à qualidade dos frutos, e engloba fatores como cor, danos permitidos ou não, diâmetro e peso da fruta. Esse critério de classificação geralmente é aplicado para os produtores que têm contrato com indústrias. O processamento dos frutos é feito quando se visa aomercado de polpas, muito receptivo no caso da acerola. Nesse processo, geralmente utiliza-se um despolpador. Se a produção for pequena, o produtor pode adaptar um liquidificador comum para esse fim. Nesse caso, basta retirar a hélice central do mesmo e substituí-la por uma peça simples, utilizando-se um ralo de pia inóx (Figura 1). 27 A B C FIGURA 1: Adaptação da hélice central de um liquidificador comum para uma despolpadeira doméstica. (A) Base normal do liquidificador (B) Ralo de pia que irá substituir as lâminas da base normal (C) Base modificada para despolpa dos frutos. 28 Após a retirada das sementes, a polpa deve ser embalada em sacos de plástico, congelada e comercializada. No que se diz respeito à embalagem dos frutos, o produtor pode utilizar caixas de PVC de tamanho pequeno (ex: caixas para transporte de sacos de leite pasteurizado), que permitam coluna de frutos de até 15 cm. Esses tipos de caixas necessitam de uma adaptação (suporte), para que o colhedor possa andar com ela e substituí-la quando estiver cheia. A adoção desse tipo de caixa por algumas empresas exportadoras previne danos aos frutos no manuseio, tendo em vista que o fruto é colhido e transportado para o armazém (Packing House), sem a necessidade de passar para outro recipiente. Deve-se evitar ao máximo a exposição dos frutos colhidos em pleno sol, protegendo-os com coberturas escuras ou colocando-os em caixas de isopor com tampas e pequenos orifícios. É importante lembrar que em caso de colheita de frutos verdes ou “de vez”, pode-se utilizar caixas maiores, tendo em vista que os frutos são bastante firmes. Pelo fato de serem bastante perecíveis, recomenda-se que os frutos sejam levados ao seu destino logo após a colheita. Caso a distância seja longa, os frutos devem ser congelados e embalados em caixas de isopor e transportados em câmaras frigoríficas. 29 13 Comercialização A acerola pode ser explorada comercialmente na forma de produtos processados ou “in natura”. Por causa de sua perecibilidade, os frutos não têm sido normalmente comercializados como produto fresco. Entretanto, o mercado tem crescido cada vez mais para os processados, que podem ser utilizados na fabricação de polpa, purê, concentrado, geléia, suco, xarope, compota, conserva, cápsulas de vitamina C pura e produtos liofilizados. Dentre outros. O suco é utilizado principalmente para acrescentar vitamina C aos sucos de outras frutas. Os principais produtos obtidos da acerola são: polpa/suco congelado e fruta congelada. Os países produtores de acerola que, juntamente com o Brasil, disputam o mercado internacional são a Colômbia, Venezuela, Ilhas do Caribe, Filipinas, Vietnã e EUA. Pelo grande número de formas de aproveitamento da acerola, prevê-se para um prazo muito longo, o equilíbrio entre a oferta e a demanda do produto. 30 14 Referências Bibliográficas ALVES, R. E. Cultura da acerola. In: DONADIO, L. C.; MARTINS, A. B. G.; VALENTE, J.P. ed. Fruticultura tropical. Jaboticabal: FUNEP/FCAV/UNESP, 1992. p. 15-37. ARAÚJO, P. S. R. de; MINAMI, K. Acerola. 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