2002-05-25 a 06-29 Relatorio Roraima Ir Edina e Ir Antonia V3

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Área de São Marcos e Amajari, Roraima
25/05/2002 a 29/06/2002
Povos Makuxi e Wapixana
Antonia, Edina, Arizete e Fernando
25/05 Boa Vista
Chegamos em Boa Vista e depois de um delicioso almoço com as irmãs Servas do Espírito Santo,
nos reunimos com Antonia e Edina para planejarmos nossa missão junto aos Macuxi e Wapixana da
região de São Marcos e do Amajari. Ir. Edina precisou ficar na cidade para participar de um
encontro regional sobre alcoolismo.
Proposta de trabalho e dinâmicas:
Imagem geral: Árvore da/o comunidade/povo.
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Árvore com três raízes: história, tradição e língua...
Tronco forte e galhos fortes. São os estejos da comunidade, as lideranças. Se estão separados é
facil derrubar; se estão juntos é dificil derrubar.
Muitas folhas grandes e bonitas. Dá boa sombra.
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Dá bons frutos. São os frutos que tem que ser cuidados para que a broca e os bichos não lhos
estraguem.
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Tem cupim e brocas que querem destruir a árvore. É preciso ter cuidado! Casetar esses
vichinhos!
Tema1: História dos 500 anos.
Dinâmica: Árvore com uma só raiz: A história.
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Tronco sem raízes é derrubado com facilidade. Qualquer passarinho que senta nele (urubu)
derruba-o.
Tronco com uma raiz (História) já fica um pouco mais em pé, porém continua fraco.
Pergunta: 500 anos de que? Por que a polícia bateu nos parentes?
Vídeo: Sobre a Marcha Indígena do ano 2000 ou a História dos 500 anos.
Trabalho em grupo: Textos e desenhos, também pode ser representado em teatro.
Plenário: Apresentação dos textos e desenhos. Teatro.
Tema 2: História de luta de nossas comunidades, de nosso povo.
Dinâmica: Caminhando como cegos (olhos tampados com pano).
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Contaram para a gente uma história mentirosa: História do descobrimento do Brasil!
Muitos, durante séculos enganaram nossos antepassados. Caminhando com os olhos tampados,
apanhamos muito.
Temos que tirar essa história mentirosa que não deixa a gente enxergar.
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Se nós não repassamos essas histórias de luta e resistência para nossas crianças, elas vão ser
enganadas de novo e tiradas de sua terra, da terra que os antepassados conquistaram com muito
sofrimento e luta, com muita coragem.
Dinâmica: Repassar a história para nossos filhos.
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Um avô sobre a mesa (nossa terra reconquistada). Ele defende a terra dos invasores. Morreu o
avô e ficou o neto que não conhecia a história. O branco enganou ele e o derrubou da terra, da
mesa.
A responsabilidade que todos temos para repassar a história para os nossos filhos...
Pergunta: Quais são as histórias importantes da luta de nossa comunidade, de nosso povo?
Video: "Ou vai ou racha". História de luta do povo Makuxi da região da Raposa Serra do Sol.
Trabalho em grupo: Textos e desenhos.
Plenario: Apresentação dos textos e desenhos. Teatro.
Tema 3: A tradição e a sabedoria de nossos avós.
Dinâmica: Outra raiz da árvore: A Tradição de nossos avós.
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Com duas rízes a árvore fica mais firme.
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O vento mexe com ela, quebra alguns galhos finos, saculeja, porém não derruba.
Pergunta: Quais são as tradições importantes de nossos avós que nossos filhos/as não devem
esquecer?
Video: "O banquete dos Espíritos".
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O povo Enawene-Nawe, de Mato Grosso, mantêm suas tradições e língua. Vivem felizes e com
muita fartura.
Trabalho em grupo: Textos e desenhos.
Plenário: Apresentação dos textos e desenhos. Teatro.
Tema 4: A língua de nosso povo.
Dinâmica: Caminhar com "pernas de pau", língua emprestadas (cadeirinhas). Pegame! Te ganho e
derrubo sempre.
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A lingua materna é a terceira raiz da árvore da comunidade. é uma arma muito poderosa.
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Falar a lingua emprestada da insegurança...
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Caminhar com pernas próprias, falar a própria língua. É mais difícil de ser enganado.
Dinâmica: Olhar-me no espelho. Quem é você? Você fala a língua de seu povo?
Pergunta: Por que nossos jovens não falam mais a língua de nossos pais? O que podemos fazer
para que nossos jovens aprendam a língua?
Trabalho em grupo: Textos e desenhos.
Plenário: Apresentação dos textos e desenhos. Teatro.
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Tema 5: As coisas boas e as coisas ruins que temos na nossa comunidade. A comunidade que
sonhamos. Como podemos alcança-la.
Dinâmica: Construindo a comunidade.
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As raízes estão boas (história, tradição e língua).
As lideranças são os esteios. Um ao lado do outro, porém soltos primeiro e depois juntos, com
mais força.
As crianças sobem em um segundo andar e em um terceiro...
Aparece o capetinha que tenta dividir de fora a comunidade... Derruba as pessoas que acreditam
nele e abandonam a comunidade.
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Também o capetinha está dentro da comunidade tentando gerar divisão e confusão...
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A comunidade unida tenta joga-lo para fora.
Perguntas: Quais são as coisas boas que temos em nossa comunidade? Quais são as coisas ruins
presentes, que atrapalham comunidade? Como é a comunidade, terra com a qual sonhamos e
queremos? O que vamos fazer para alcança-la?
Trabalho em grupo: Textos e desenhos.
Plenario: Apresentação dos textos e desenhos ou do teatro.
Tema 6: Os mártires de nossa caminhada.
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Na caminhada e na luta poe essa terra sem males muitos parentes tombaram.
Vídeo: "Xicão Xukuru" ou "Indios do Brasil" (parte dos mártires) ou "500 anos de
resistência" (parte dos mártires).
Trabalho em grupo: Estudar e partilhar a vida de nossos mártires. Desenhos. Mártires da própria
comunidade ou do próprio povo.
Plenário: Apresentação dos textos e desenhos ou do teatro.
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26/05
Às cinco da manhã deixamos Boa Vista e às oito já estávamos na comunidade "Campo Alegre".
Antonia nos deixou e seguiu para outra comunidade.
Na verdade, já eramos conhecidos por muitas pessoas. Com o tuxaua Idalício,o catequista Alcino e
auxiliares preparamos a celebração. Aos poucos foram chegando e celebramos a vida.
Começamos nos apresentando, nos cumprimentando, e, ainda fora da capela fomos convidadas/os a
contemplar a mãe terra, a expressar nossos agradecimento a Deus, a refletirmos sobre a comunidade
a partir do olhar para dentro da capela e observar a bagunça que estava com os bancos e cadeiras
jogadas pelo chão (cenário preparado). Como foi grande e bonita a patrticipação da comunidade na
reflexão e arrumação do ambiente comunitário. O texto bíblico €x.3,1-10 motivou a partilha sobre a
Terra Sem Males, terra que emana leite e mel, que Deus oferece a seu povo. Terminamos a
celebração com a dinâmica "Juntos levantando nossa comunidade, porque sozinho ninguém pode!"
Depois da celebração a comunidade decidiu que se encontraria à noite (19:00 h), para ver alguns
vídeos. O tuxaua tinha esquecido de avisar a comunidade sobre o trabalho e por isso todos já
tinham outras tarefas programadas.
A noite: "O banquete dos espiritos" e "Por uma Terra sem Males". Alguns comentários da fitas.
Com o diretor da escola foi combinada a possibilidade de fazer um trabalho com os professores e
alunos/as da tarde.
27/05
A manhã ficou livre. Descansamos bem e fomos pescar uma hora no rio Urarikuera. Não pegamos
nada.
De tarde iniciamos o trabalho com os alunos/as e professores juntos. Participaram um total de 39
pessoas, mais nós três.
Depois de nos apresentarmos e apresentar o trabalho da oficina, iniciamos com duas dinâmicas: "A
árvore que o cupim comeu suas raízes" e "Construindo a comunidade" (pirâmide humana).
Cinco perguntas foram trabalhadas:
1. Assim contam nossos avós...
2. Quais as coisas boas que tem em nossa comunidade e nossa terra?
3. Quais são as coisas ruins que atrapalham a nossa comunidade e que destroem nossa terra?
4. Como é a terra com a qual sonhamos? Como podemos alcançá-la?
5. Alguns de nossos mártires da luta por uma terra sem males.
Foram feitos cinco grupos de trabalho. Cada grupo apresentou seus trabalhos por escrito e em
desenhos.
Avaliação:
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O trabalho assim, com desenhos e apresentações permite a gente expressar melhor o que entende
e ser mais criativos.
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Foi uma aula diferente (diretor).
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O trabalho foi muito corrido.
Faltou tempo para maior aprofundamento, reflexão.
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Entre nós comentamos:
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Os problemas são os mesmos que vivem outros indígenas.
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Eles falam o que sabem que nós queremos ouvir.
Depois Antonia e Arizete foram a tomar banho no igarapé. Fernando foi jogar bola com os homens.
Eliane veio jantar conosco.
28/05
Chegamos em Vista Alegre, uma comunidade de mais de 400 pessoas.
De manhã, a proposta foi trabalhar com as crianças pequenas, de 1ª-4ª série: brincadeiras
envolvendo as crianças para tocarem flautas e assim criar um clima descontraido, deu certo.
Explicações sobre nosso trabalho, fitas, exposição de fotos, papel, pincéis foram os recursos
utilizados, com ajuda das/os professoras/res no desenvolver da oficina. A grande maioria trabalhou
bastante falando sobre o que viu nas fitas e fotos. A pré-escola, 1ª, 2ª na apresentação mostraram
seus desenhos. Da 3ª e 4ª séries além do desenho, falaram sobre.
Neste primeiro momento, tudo foi muito corrido. Não tivemos tempo de conversar com o grupo de
professores para envolvê-los. Passamos a fita "Brasil Indígena" e vimos que não foi bom, o
conteúdo exigia um outro público.
O fato de não ter água nem merenda, deixava as crianças mais "animadas" e na hora de apresentar
os trabalhos foi "uma festa!"
A tarde trabalhamos com alunos de 5ª a 8ª série. As flautas continuaram animando. Depois das
apresentações contamos como iríamos trabalhar. A dinâmica da árvore ajudou bastante a ilustrar a
importância do povo manter viva a sua história... Em seguida, um pouco de história e geografia dos
502 anos desde a chegada dos invasores. Fernando criou algumas dinâmicas para facilitar a
compreensão: Convidou os alunos para participarem das dinâmicas. À medida que ia desenhando o
mapa no quadro ia envolvendo os alunos na reflexão quanto a história, geografia, matemática,
ciências e isso foi ótimo! Contribuiu na formação de seus conhecimentos: "parecia uma brincadeira
mas que passou muito conhecimento importante para nós", comentário de alunos, professores e da
própria diretora.
Com o cartaz de Gildo Terena e a fita "500 Anos de Resistência" deu para motivar a turma sobre a
Marcha e Conferência Indígena. Algumas falas: "A polícia foi muito violenta com os índios".
"Aquele índio teve coragem".
Trabalhos em grupos e por séries com ajuda dos professores. Os resultados foram bons. A sala
muito barulhenta, a maioria dos alunos, na hora de apresentar, falava baixinho.
A noite, o trabalho foi com o grupo de adultos que estão estudando. Eles mostraram muito interesse.
Falavam de experiências vividas pelos povos indígenas de Roraima. " Nós já sofremos muito nas
mãos dos fazendeiros. Meu avô levou surras. Trabalhava no sol e chuva".
" Como os pais vão ensinar seus filhos falar a língua se nós mesmos não sabemos? Meus pais foram
proibidos de falar a própria língua. Tinha que falar o português. Assim como muitos".
" A própria igreja proibia os nossos velhos de praticarem as suas tradições".
"Temos que ver o que fazer para tentar mudar a situação. Amanhã podemos discutir mais".
29/05
De manhã, Fernando foi pescar com os jovens. Foram com flechas no igapó. Não pegaram nada, a
água tinha crescido muito.
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Também visitamos algumas casas onde deram peixe para a gente. O rio está crescendo e por isso
está subindo muito peixe pelos sangradoros dos lagos. É tempo de piracema.
Trabalhamos de tarde e de noite. Os temas foram as coisas boas e as coisas ruins da comunidade, a
comunidade que sonhamos como vamos alcança-la. Também trabalhamos o tema dos mártires da
caminhada.
O trabalho não foi com a comunidade, isto é, só uma parte, os estudantes e professores.
30/05
O tuxaua chegou da cidade e veio conversar conosco. pediu desculpas por não ter participado.
Fomos juntos à diretora que estava reunida com o grupo de professores. Ela colocou a riqueza do
trabalho e disse estar sentida pelo fato da comunidade, como um todo, não ter participado. " Os que
participamos, gostamos muito do trabalho. Foi uma riqueza para todos nós. Precisamos lever em
frente essas reflexões sobre as nossas tradições. O que vamos fazer para que nossos jovens e
crianças aprendam a falar nossa própria língua e não tenham vergonha de ser índios. Agora tuxaua,
foi uma pena a comunidade não ter parcicipado. Assim todos teriam as mesmas explicações e
reflexões". " Precisamos que vocês nos ajudem. Seria bom reunir todas as pessoas da comunidade
para tirar as propostas para por em prática"...Sra. Léo, macuxi.
Saimos de Vista Alegre depois do almorço. A Ir. Antonia foi levar uma professora que ia ganhar
bebe ao outro lado do rio para que a ambulância pudesse pega-la.
Na comunidade Lago Grande chegamos por vota de 15 hs. Eles queriam uma celebração às 17hs.
Com Carlos, catequista, fomos visitar o tuxaua Telmar que estava muito doente, sangramento no
ouvido, muita dor e febre. Seu tio evangélico nos garantiu que o curaria com a bíblia..."Eu não sou
rezador, não. Meu poder está aqui, na Palavra do Senhor!"
Celebração do Corpo e Sangue de Cristo:
Concentração, acolhida, cantos, fotos de diferentes povos indígena e leituras no final do campo de
futebol. Moisés orienta o povo de Deus ( Sr. Francisco, de bastão e tudo...). No meio do campo,
como no deserto...muita areia! Aí, momento de reflexão. Pão e Vinho, Farinha e água = Chibé,
alimento do povo local...Deus alimenta seu povo. A marcha rumo à terra prometida, terra sem
males. Moisés percebe que é preciso dar vez para outras lideranças dedicarem-se a serviço de Deus.
No altar, muita fartura...
31/05-01/06
Trabalhamos o dia com a comunidade toda. A comunidade estava um pouco dispersa no trabalho
por ter atendimento médico ao mesmo tempo.
O tuxaua mandou matar um boi para a alimentação daqueles dois dias de trabalho.
A história de luta da comunidade parece ser um tema de muito interesse. Também o tema da
recuperação das tradições e especialmente o da recuperação da língua dos avós. Em tudo isso se viu
que a escola tem um papel muito importante. Também se observou que os papais poderiam mandar
os filhos junto aos avós ou familiares que falem a língua no tempo de férias.
O tuxaua Telmar, achando-se melhor de saúde já apareceu e participou quase todo o tempo.
Chamou a atenção do povo no final pela disperção. Lembrou que no mês de abril tinha saido o
ultimo fazendeiro da região.
Dentre as muitas coisas boas, o tuxaua contou que as lideranças indígenas conquistaram a
recuperação de suas terras. Toda a região do Baixo São Marcos estava nas mãos dos índios." Foram
anos de muita luta, sofimento e morte. No mês de abril deste ano conseguimos expulsar o último
dos 101 fazendeiros. Eu até fiquei com pena dele. Teve de deixar a nossa terra onde ele nasceu.
Hoje a terra está em nossas mãos, temos que fazer ela produzir. Precisamos da ajuda de vocês
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missionários. Queremos plantar mais, criar mais gado, porcos, carneiro, galinha.. Por isso pediu,
insistentemente, o apoio da Igreja em diversos projetos de produção.
Professores e outros pais colocaram a necessidade de levar em frente as reflexões. " Eu sei alguma
coisa da tradição de meu povo wapixana. Aprendi com meu avô. Ele morreu este ano. Sei que devo
correr atras dos nossos velhos enquanto estão vivos, senão eles morrem e levam o conhecimento e
nós ficamos sem aprender. Nós temos que incentivar as pessoasque conhecem as nossas tradições e
falam a língua materna para ensinarem nossas crianças e jovens. Eu mesmo vou aperfeiçoar o que já
sei. Acho que todo mundo deveria fazer o mesmo". Profº João.
O profº francisco, esposo da catequista Dalva, macuxi destacaram-se pelo belo exemplo que dão de
vida a seus filhos. Todos eles conhecem histórias de seus povos. Cantam refletindo a história
passada e a atual realidade. São verdadeiros historiadores... foi interessante perceber a capacidade
do tuxaua em organizar e envolver a comunidade. Ele mesmo estando doente pediu ao diretor da
escola que assumisse, junto com os catequistas, os dois dias de trabalho conosco. Todos
trabalharam, muito. Mas ele ainda chamou atenção dizendo que deixaram solto. " A mesa estava
fraca, sem pulso. Deixou gente andando de um lado para outro". Nós nos incluimos dizendo que
deveríamos ter planejado e esclarecido melhor a tarefa de cada um.
Nos agradecimentos, o tuxaua nos surpreendeu...Leu o que tinha escrito adradecendo pelo nosso
trabalho e presença. disse que tinha uma lembrança para nós. Pegou outra folha de papel, levantou
bem e mostrando pra a comunidade dizendo: " Este é o desenho bonito de vocês, pe. Fernando, ir.
Elizete e ir. Antonia dirigindo a toyota".
Carlos, o catequista caprichou numa celebração bem participativa. Símbolos vivos como um rezador
que benzeu um caneco com água e deu para o tuxaua beber. No ofertório, arco e flecha, damurida,
caxiri, banana e o cartaz de Gildo Terena. Depois cantos, partilha. Entregamos o cartaz de Gildo
Terena ao tuxaua que ficou feliz " Vou fazer um quadro. Vou botar na parede e quando chegarem os
políticos vou dizer: é desse jeito que vocês tratam nós índios?" Na verdade, o cartaz foi feito a partir
do pedido dele.
De noite, a Ir. Antonia jogava dominó com as pessoas da comunidade. Outras olhavam distintos
vídeos.
02/06
Participamos da celebração em Campo Alegre. Muito Bonita! Os que prepararam a celebração
tinham desenhado no quadro a casa sobre pedra e a casa sobre areia que o evangelho falava. A
explicação girou sobre isso.
Depois da celebração sairam vários pedidos da comunidade: maior presença dos padres e irmãs,
padres e irmãs de pé no chão, preocupação com os evangélicos que toman conta das comunidades...
Uma vez mais ficou claro que o modelo eclesial das igrejas evangélicas facilita a participação e que
as próprias comunidades tomem conta de sua caminhada. Participamos de uma reunião de
distribuição de serviços na liturgia do próximo domingo; da formação de mais catequistas. Alcindo,
o único catequista comentou: " Aprimeira vez que participei do curso para catequista, sofri muito.
Tudo era em português e eu falava mesmo era macuxi. Aí eu ficava aperreado e pensando como era
que eu ia contar quando eu chegasse na comunidade..."
Com vários caroneiros, a tarde fomos para Boa Vista. Lá ficamos sabendo, pelas irs. Ivani e Neide
que a Ir. Edina viajou para o sul junto a seu pai que estava delicado de saúde. Sentimos muito!
Ficamos unidos a ela nesse momento forte.
03/06
Pela madrugada, acordamos com os fogos que soltavam para acordar a torcida brasileira. Um gol
forçado não foi nada bonito...
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Passamos em casa "descansando" um pouco, preparando os materiais coletados para a devolução às
comunidades.
04-05/06 Três Corações
Cedo na manhã saimos para a comunidade de Três Corações, no municipio de Amajari, a uns 150
km da fronteira com Venezuela.
O diretor não estava, parece que esqueceu de avisar. Mas a secretária assumiu e fez bonito. De
repente descobrimos que estivemos juntos na marcha, aí foi muito bom. Ela contribuiu bastante,
dando depoimentos da experiência que viveu.
O trabalho só foi na escola e de tarde, com os alunos de 5ª-8ª série. Foram trabalhadas as três raízes
da árvore comunitária: história, tradição e língua. Os alunos levaram algumas perguntas e desenhos
para fazer em suas casas. As professoras falaram que os trabalhos seriam avaliados com pontos.
O ambiente virou varias vezes um pouco ipositivo. Isso não ajudou. O clima ficou tenso e
autoritario em algumas oportunidades.
05/06
De manhã o trabalho foi desenvolvido com os alunos/as de 1ª-4ª serie. Foi um pouco dificil por a
falta de envovimento dos professores.
De tarde continuamos com os alunos de 5ª-8ª trabalhando a construção da comunidade. Se fez um
trabalho por turmas. Trabalharam em cartazes e representando.
No final avaliamos com os professores:
•
Faltou tempo, dois dias foi pouco.
•
Faltou mais trabalho de grupo.
•
Passar um roteiro antes para preparar os alunos/as e os professores/as.
•
Com os pequenos o trabalho començou todos juntos e deveu terminar todos juntos, não na sala
de aula.
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Faltou mais envolvimento dos professores.
•
Faltou sentar-se antes com os professores.
•
Reforçou o trabalho de lingua materna e valorização da tradição. Ajuda a fortalecer a identidade.
•
Voltar mais vezes e com mais tempo.
•
Trabalhar com toda a comunidade.
06/06 Urucuri
Comunidade pequena, 11 familias. O tuxaua, makuxi, é da região das Serras.
Participaram do encontro umas 4 mulheres, 4 homens e umas 10 crianças. Os temas trabalhados
foram: Historia dos 500 anos e da comunidade. O almorço foi comunitario.
Avaliação:
•
Depois de muitos anos estou voltando a estudar e entender essa história dos 500 anos.
•
Pedimos que voltem de novo.
•
Gostamos de trabalhar a história da comunidade. Queremos que voltem para nos ajudarem a
darmos continuidade na história de nossa comunidade.
•
Vir com mais tempo, dois dias.
•
Temos que estar atentos aos bichos que estragam nossa comunidade.
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•
•
Os culpados de que nós não falamos a língua são nossos pais que não ensinaram a gente.
Tuxaua: foi bom estudar a história, as tradições e a importância da língua. Nós esquecemos e o
pessoal de fora vem para nos lembrar.
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Tuxaua: Os políticos são bichos que estragam e matam nossa história, tradições e lingua.
•
Tuxaua: Dois dias de trabalho seria bom!
07/06 Araçá
Comunidade de 60 famílias. São evangélicos. Chegamos e o tuxaua estava lembrado do trabalho,
porém tinham muito trabalho na roça e por isso não avisaram a comunidade. Ficaram para marcar
outra data com a irmã Edina.
Assim voltamos para Boa Vista até o domingo, quando teremos outro trabalho na comunidade de
Juraci.
Comunidade de Juracy, 09. 06.
Um lugar de 49 pessoas macuxi e algumas wuapixana, inclusive da Guiana.
Trabalhamos com a fita e fotos dos 500 anos. Mexeu profundamentecom os participantes: " Eu já
tinha escutado o Norberto falar sobre essa Marcha, mas agora, vendo o filme e essas fotos eu fiquei
triste e com o sentimento de muito medo. Esses políticos são capazes de fazer muitas coisas ruins
para nós índios. Eles não gostam de índios, só querem o nosso trabalho e voto." Ana
" Ver o que se passou com nossos parentes na Marcha, dá muita revolta na gente. Como diziam no
filme: foram 500 anos de sofrimento e morte. De roubos de nossas riquezas e violência. Isso
acontece ainda hoje com a gente,"Dimilandio
Os comentários foram ótimos e a participação belíssima.
A fita dos Enawene nawe motivou os comunittários a repensarem suas tradições:
" Antigamente nossos avós viviam em harmonia com a natureza. Tinham tudo o que precisavam em
sua vida, Sabiam viver
Na celebração final do dia, o grupo dos homens apresentou a história da comunidade com seu
mapa....As mulheres apresentaram a boa conversa que tiveram sobre as tradições de seus avós, com
desenhos e explicações,,,
As crianças seus desenhos e comentários sobre os 500 anos...
Na avaliação, outro momento forte:
" Agradeço em primeiro lugar a deus, a quem peço uma salva de palmas. Depois a vocês por terem
trazido essas informações para nós. Por terem feito a nossa comunidade parar para relembrar a sua
própria história. Fiquei emocionado quando começamos a falar de nossos antepassados, das lutas
que travaram contra os brancos. Sejam bem- vindos e voltem outras vezes." Cícero, segundo tuxaua,
" Eu nasci e me criei aqui. Meu avô dizia:" Meus filhos, eu luto pela nossa terra pensando no futuro
de vocês e de meus netos. Amanhã serão vocês que vão continuar essa luta, ela não vai parar, mas
não desistam!" E é verdade, nós continuamos lutando. Já conseguimos muitas coisas boas. Não
vamos desanimar. É difícil mas o Senhor vai nos ajudar," Sra. Cleonice Ribeiro dos Santos, da
OMIR.
José Alberto....
Jesus Filho Ribeiro, tuxaua e professor
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