filmes infantis: representações públicas perniciosas!?

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ANAIS DA XX JORNADA – GELNE – JOÃO PESSOA-PB
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FILMES INFANTIS:
REPRESENTAÇÕES PÚBLICAS PERNICIOSAS!?
Ana Márcia de Lima1
0. INTRODUÇÃO
Nessa pesquisa, objetivamos analisar as representações públicas nos filmes Rei
Leão e A Princesinha, observando a existência ou não de signos verbais orais e escritos
perniciosos e/ ou pejorativos ao público infanto-juvenil. Nosso corpus é composto das fitas
dos referidos filmes, de algumas respostas "igualitárias”, dadas pelos nossos informantes, e
seus respectivos pais, através dos questionários respondidos, de fitas gravadas com os
comportamentos infanto-juvenis diante das mensagens subliminares vistas / ouvidas, e de
alguns testemunhos dos educadores daqueles alunos.
De início, entendemos que há representações públicas nessa transformação do lago
“Bay lake, pois se ele precisava ficar azul para os turistas, as árvores (que geralmente dão a
cor marron aos lagos da Flórida) foram arrancadas, o lago original foi drenado e seu fundo
lodoso substituído por areia branca, imagine o que não fez Walt Disney (1901-1966) para
transmitir as suas ideologias ao público infanto-juvenil que a elas foi exposto, já que ele
mesmo em 15/11/65, revelou ser o comprador das terras em Orlando, Flórida e que em
1º/07/71, abriria as portas para o mundo com a Disney World.
Acreditamos, então, que, na transformação desse lago, há mensagens subliminares,
pois concordamos com Mauro Sá Rego Costa quando, no seu artigo “Alice no país
subliminar” – Folha de S. Paulo de 9 de outubro de 1984, afirma:
“Todos os mídia são meios subliminares. Marshall McLuhan falava
a mesma coisa... O metrô é subliminar. Os shopping centers são
subliminares. As lanchonetes modernas todas paginadas, do
hamburger à roupa do cozinheiro, são subliminares no seu efeito, no
seu apelo, na sua sedução. Por que você volta sempre ao
McDonald’s, mesmo depois de perceber que pesa, que é difícil de
digerir?”.
Dessa forma, entendemos que todas as mídias são subliminares, por isso podemos
denominar as mensagens subliminares de Multimídia. Mas nos deteremos apenas na
subliminaridade exposta no filme infantil O Rei Leão, pois fica claro de acordo com
depoimentos infanto-juvenis que é um filme com mensagens subliminares auditivas e
visuais, por exemplo, um dos informantes entrevistados, fala sobre a palavra SEX, até diz
que faltou a letra O, pois é uma criança de 08 anos que não tem conhecimentos da Língua
Inglesa. Aqui, lembramos que, de fato, aparece em duas cenas diferentes, partículas no ar
formando a palavra “Sex”. Essa imagem dura aproximadamente 1/30 segundos (um frame
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Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul – FAMASUL – Palmares/PE.
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ou fotograma), e só é possível vê-la quando “congelada” em vídeo. (mensagem subliminar
na cena em que a personagem cai sobre as flores e levanta uma nuvem de poeira),
mensagens que não vemos no filme A Princesinha, que foi considerado pelos críticos sem
defeitos, pois é uma fábula clássica, cheia de energia e criatividade, com um roteiro
espirituoso e um visual deslumbrante, repassando o gosto pela leitura e a produção textual
oral na imaginação de Sara, a personagem principal.
1.
FUNÇÕES DOS CÉREBROS
Como muitas mensagens subliminares têm a duração aproximadamente de 1/30
segundos, concordamos com a teoria dos três cérebros de Paul Mclean que a desenvolveu,
durante as pesquisas do Laboratório de Evolução do Cérebro e do Comportamento, em
Maryland. Pois para ele, o homem teria três cérebros, fruto de três estágios evolucionários:
o cérebro Réptil: o eixo cerebral hipotálamo, a sede primitiva dos comportamentos de
autopreservação: alimentação, agressão e fuga, território e sexualidade; o Complexo
Límbico (ou cérebro mamífero): apresenta os instintos de rebanho, cuidados com a prole e
hierarquias sociais, e o Neocórtex: seria a última camada, onde se processam linguagem
simbólica, as abstrações e o cálculo matemático, o cruzamento heurístico e arquivos
(criatividade).
Assim, as mensagens subliminares com conteúdo sexual dirigem-se ao cérebro
Reptiliano, pois os olhos podem até nem ter visto o total da mensagem, mas o coração
reage emocionalmente ao sinal subliminar repassado.
2.
A SEMIÓTICA DE PEIRCE
Antes de entramos na subliminaridade do filme Rei Leão, faz-se necessário uma
breve abordagem sobre a semiótica de Peirce (1980) que admite, baseando-se no filósofo
David Hume, dois tipos de pensamentos: por contigüidade e por similaridade que geram os
dois eixos: o Eixo Sintagmático: contigüidade, conceitos, símbolos, verbal, lógico,
hierárquico, e o Eixo Paradigmático: similaridade, modelo, ícone, não-verbal, analógico,
anárquico, e o Paradigmático é a região icônica do pensamento inconsciente, o subliminar
icônico. A decodificação de uma imagem é global e instantânea - em frações de segundo o
olho faz uma varredura da imagem.
Tendo conhecimento de que os dois lados do cérebro têm funções diferenciadas,
faremos, em linhas gerais, uma abordagem contrastiva entre ambos: o Hemisfério Esquerdo
do cérebro logicamente avalia e critica, compara detalhes e detém decisão de compra de
bens de alto envolvimento ou bens de comparação, como carros e computadores, e o
Hemisfério Direito é visual, holístico, analógico, decide a aquisição impulsiva e emocional
dos bens de baixo envolvimento, os bens de conveniência, como doces e refrigerantes.
Dessa forma, na trajetória de uma mensagem auditiva e / ou visual com insinuações
sexuais, o indivíduo é exposto a um estímulo visual erótico (ícone), em seguida, a imagem
erótica é processada no Hemisfério Direito do cérebro (Sperry Apud Calazans, 1992), e por
último, a imagem erótica causa reações no Cérebro Réptil, excitando a fisiologia do
aparelho reprodutor (McLean Apud Calazans, 1992), podendo, assim, levar o indivíduo a
reações involuntárias. Isso é basicamente o que acontece com alguns dos espectadores do
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filme Rei Leão, segundo os depoimentos, como por exemplo, o tio de Simba, Scar, é,
segundo eles, homossexual, pois vive rebolando e com gestos afeminados, ao caminhar
com seus companheiros. Eles não podem achar normal, já que é repassado para crianças e
adolescentes, sem nenhuma censura, e começarem aderir aqueles gestos? Não é notório,
encontrarmos adolescentes com tais gestos?
3. REPRESENTAÇÕES MENTAIS vs REPRESENTAÇÕES PÚBLICAS
Aqui, faremos uma breve reflexão sobre as representações Mentais e Públicas, pois
elas representam respectivamente o conhecimento de mundo que trazemos do nosso meio
social e as que recebemos ao ouvirmos, assistirmos e lermos algo, a fim de explicitar a
inocência / imaturidade do público infanto-juvenil diante das ideologias repassadas no
filme Rei Leão. Com isso, temos nas primeiras, as internas ao dispositivo do processo
informativo. Para essas, entendemos ser o conhecimento de mundo que o espectador traz
consigo, podendo acrescentar o que está ouvindo, vendo e / ou lendo, ou até modificar o já
apreendido no convívio com os seus familiares, amigos, colegas etc., e as Públicas, as
externas ao dispositivo – (veículo do signo), aquelas interiores ao emissor, onde repassa
suas ideologias, muitas vezes, conscientemente, como no filme, ora em análise, pois
segundo alguns críticos, a música do fundo musical é “Can you feel the love tonight” é de
Elton Jonh, homossexual assumido, como o tio Scar, com os seus trejeitos.
Assim, há duas classes de processos: intra-subjetivos de pensamento e memória, e
os intersubjetivos, através dos quais as representações de um sujeito afetam as
representações de outros sujeitos, através das modificações dos seus ambientes comuns, o
que já vemos em algumas crianças / adolescentes, não agindo mais conforme o que herdou
dos seus familiares.
4. COMP0RTAMENTOS INFANTO JUVENIS: O ANTES E O DEPOIS DO
FILME REI LEÃO
Na continuidade, apresentamos alguns indícios da transformação comportamental
de algumas crianças / adolescentes ao assistirem o filme Rei Leão, pois elas ficaram mais
soltas, mais sorridentes, imitando os trejeitos (mensagem subliminar visual) do tio Scar,
brincando umas com as outras, repetindo a frase “Eu sou bicha”, frase essa que foi
repassada, através da mensagem subliminar auditiva, no final do filme, quando aquele tio
fica acuado pelas hienas que se rebelam contra ele, e em seguida quando é atacado
mortalmente por elas. É aí que ele diz: “Vocês não me compreendem, eu sou bicha”, mas é
uma frase embutida no meio dos sons das chamas e é praticamente imperceptível. Aqueles
informantes também brincaram dizendo “Vou matar você”, agarrando os colegas e
apertando os seus pescoços, mas nessa brincadeira apenas algumas crianças menores, 08,
09, 11 e 12 anos, mais precisamente quando repetimos o filme várias vezes, pois eles nos
pediram para revê-lo. Aqui, com certeza, seus olhinhos fizeram a varredura das mensagens
subliminares repassadas.
Esse signo lingüístico oral “bicha” não é pejorativo na nossa sociedade, e por que,
então, está sendo repassado às nossa crianças e adolescentes? E, em “Eu vou matar você, o
verbo “matar” não é um signo lingüístico verbal pernicioso? Não estamos diante de
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Representações Públicas pejorativo-perniciosas? Pois quantas crianças já não brincaram de
matar e acabaram assassinando seus próprios coleguinhas?
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto, podemos concluir que a mídia, de uma forma geral, tem
se encarregado de divulgar essas mensagens subliminares auditivo-visuais, sem
planejamento, sem nenhum critério, sem escrúpulos, pois essas mensagens não são
perceptíveis facilmente. Muitas vezes é preciso, divulgar o que se houve de falas
perniciosas / pejorativas, para que os seus ouvintes, de uma forma geral, percebam, e aos
olhos de adultos, congelar as suas imagens, pois a visão infanto-juvenil é mais aguçada, não
precisando desse processo. Assim, essas mensagens podem representar alguns problemas
sociais, principalmente quando vemos que milhares de adolescentes, no Brasil e no mundo,
adotaram o homossexualismo como estilo de vida. Isso não significa que somos contra essa
prática, mas sim contra a sua exposição às crianças e aos adolescentes, infectando-os com o
vírus da mídia inconsciente, e quem sabe sem nenhuma condição de outra escolha.
Com certeza, esse não é o caminho para a construção de uma sociedade mais digna,
equilibrada, harmoniosa, pois como vimos, no filme Rei Leão, o babuíno feiticeiro Rafiki
dizer para o leãozinho não se sentir mal por ter matado alguém. Imagine se os espectadores
desse filme forem, de fato, aderir essa opinião, o que será da nossa sociedade? Ela já não
está sofrendo esse tipo de conseqüência?
Também concluímos que se nossas crianças e adolescentes aderirem a Nova Era,
que está sendo induzida pelo conteúdo – Viva a Nova Era, a velha já era”, da música
cantada pelo tio Scar, música essa de Shirley Mclane, uma das maiores divulgadoras da
Nova Era , o que será de nós pais, avós, tios e educadores, e do futuro da nossa sociedade?
Finalmente, deixamos um alerta para os possíveis leitores dessa pesquisa: não se
esqueçam do percurso que uma mensagem subliminar auditiva e / ou visual faz / fazem as
nossas crianças e adolescentes, pois eles ainda não têm seus aspectos psicológicos
totalmente construídos, aceitando, assim, facilmente o que ouvem / vêem nas
Representações Públicas, principalmente se as suas Mentais não estão sólidas com a
educação recebida, e, muitas vezes, ficam expostos sozinhos a essas mensagens, não tendo
como discernir entre o bem e o mal, escolhendo geralmente o que é mais fácil, belo,
engraçado como utilizam esses produtores de filmes pernicioso-pejorativos que vemos em
nossa sociedade e no mundo inteiro. Isso não foi constatado no filme Rei Leão com
insinuações sexuais, expondo o público infanto-juvenil a estímulos visuais eróticos? Não
sabemos que essa imagem é processada no hemisfério direito do cérebro e, por último, ela
causa reações no cérebro Réptil, excitando a fisiologia do aparelho reprodutor (Calazans,
1999), podendo, assim, levar o indivíduo a reações involuntárias? Nossos informantes não
ficaram brincando com as mensagens auditivo-visuais que ouviram?
Então, leitores pais, avós, tios, educadores despertem! Nossas crianças e
adolescentes precisam ser os adultos melhores do que muitos que vemos pelo o mundo
afora, causando danos a si e a outrem!
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REFERÊNCIAS
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