ZH Um retorno à razão Bjorn Lomborg é diretor do Centro de Consenso de Copenhague, e autor dos livros O Ambientalista Cético e Cool It – Muita Calma Nessa Hora – O Guia de um Ambientalista Cético Sobre o Aquecimento Global. O bom senso foi um perdedor precoce na ardente batalha sobre a realidade do aquecimento global causado pelo homem. Por cerca de 20 anos, um grupo de ativistas argumentou – em face a crescentes evidências – que o aquecimento global foi uma invenção. Seus oponentes, enquanto isso, exageraram o impacto do fenômeno – e, como consequência, fixaram de forma dogmática drásticos cortes de carbono em curto prazo como a única solução, apesar da esmagadora evidência de que esses cortes seriam incrivelmente caros e lamentavelmente ineficazes. Essa briga científica, caracterizada por apelidos adolescentes, táticas de baixo nível e intransigência intelectual dos dois lados, não apenas deixa o público confuso e assustado como mina os esforços das mais importantes organizações que trabalham em estudos avançados da mudança climática. Felizmente, parece que finalmente surge um crescente número de cientistas influentes, economistas e políticos que representam uma abordagem mais sensata para a questão. Como argumentei em meu livro Cool It, de 2007, a reação mais racional ao aquecimento global é fazer as tecnologias de energia alternativas ficarem tão baratas que todo o mundo possa adotá-las. Em traços largos, isso requer um deliberado e significativo impulso aos gastos com pesquisa e desenvolvimento. Baseado em um trabalho recente de Isabel Galiana e Chris Green, da Universidade ados de 2009, como parte de um projeto de McGill, no Canadá, defendo um custo do Centro de Consenso de Copenhague total de cerca de 0,2% do PIB mundial para procurar diferentes soluções pa– cerca de US$ 100 bilhões por ano. ra o aquecimento global, Isabel e Chris É claro, nenhuma solução do aqueci- realizaram uma análise de custo-benemento global vai funcionar da noite para fício dos gastos em pesquisa e deseno dia. Então, precisamos focar mais na volvimento de tecnologias verdes. Chris adaptação aos efeitos do aquecimen- Green, uma proponente de longa data to. Intensificando, por exemplo, os es- da resposta tecnológica ao aquecimento forços para lidar com as inundações e global, demonstrou a eficácia de uma com o efeito “ilha de calor” política de investimento das grandes cidades. Ao do governo em pesquisa e Nenhuma mesmo tempo, devemos desenvolvimento orientaexplorar a prática da enge- abordagem para do para a criação de novas nharia climática, que pode tecnologias de baixo cara estabilização nos dar mais tempo para bono, tornando as tecnodo clima vai o abandono dos combustílogias atuais mais baratas veis fósseis. e eficazes. Como as duas funcionar sem Reconhecendo que a observaram, “nenhuma uma revolução mudança climática é proabordagem para a estabitecnológica de duzida pelo homem, mas lização do clima vai funargumentando que o corte cionar sem uma revolução energia de emissões de CO2 não é tecnológica de energia”. a resposta, há mais chance Outro acadêmico que de termos um meio-termo no debate do defende uma solução inteligente para aquecimento global. O que significa ser o aquecimento global é Roger Pielke atacado pelos dois lados. Para os chama- Junior, da Universidade do Colorado, dos “alarmistas”, apontar o que está er- autor do mais lido livro sobre o tema rado com os drásticos cortes de carbono no ano passado, The Climate Fix. Asé algo como negar a realidade da mu- sim como Green, Pielke foi um dos dança climática, enquanto os chamados 14 notáveis acadêmicos que co-escre“negadores” desancam qualquer um que veram o Hartwell Paper de fevereiro, aceite evidência científica como suporte articulado pela Escola de Economia para esse problema “mítico”. de Londres e pela Universidade de Mais do que nunca, existem sinais Oxford. O artigo abordou o case do encorajadores de que uma minoria de desenvolvimento de alternativas aos vozes sensatas nesse debate começa a combustíveis fósseis, garantindo que receber a atenção que merecem. Em me- o crescimento econômico não causa danos ambientais e reconhecendo a importância da adaptação às mudanças climáticas. Nos EUA, testemunhamos um desenvolvimento igualmente promissor no debate climático recentemente, quando o conservador American Enterprise Institute, o liberal Brookings Institution e o Breakthrough Institute se uniram para publicar um relatório que clama por uma profunda reforma no sistema energético americano com o objetivo de produzir energia limpa e barata. Entitulado Post-Partisan Power (Poder Supra-partidário, em tradução livre), o relatório argumenta que o governo americano deveria investir US$ 25 bilhões por ano (cerca de 0,2% do seu PIB) em aquisição de equipamentos de baixa emissão de carbono, pesquisa e desenvolvimento e em uma rede de inovação no setor universitário para criar uma “revolução energética”. Previsivelmente, essa proposta sensata levou fogo de alarmistas e negadores. Mas, de forma promissora – e surpreendente, dado o estado um pouco tóxico da política dos EUA – atraiu um amplo apoio e comentários inteligentes de especialistas. É muito cedo para concluir que esses políticos talvez progridam para implementar medidas genuinamente eficazes. Mas, dada a falta de bom senso nos últimos anos, o simples fato de um crescente coro de vozes razoáveis agora poder ser ouvido é algo milagroso. Primeiros passos Números que mostram mudança de atitude A água representa 95% do insumo utilizado na produção da cerveja A fábrica da Heineken Brasil, em Gravataí (RS), utilizou apenas 3,6 litros de água por litro de cerveja produzida nos últimos meses. A referência internacional aponta a média de seis litros de água por litro de cerveja. Vários projetos da empresa têm como foco a racionalização do uso do recurso, buscando atender ao programa mundial de sustentabilidade da Heineken, o Brewing a Better Future. O projeto Menos Sacolas, Mais Pontos, da Panvel, evitou que cerca de 2 milhões de sacolas plásticas fossem parar no ambiente desde maio do ano passado. As principais ações para atingir o objetivo incluem equipes de melhoria atuando em todas as fábricas, otimização de equipamentos com foco na redução do consumo de água, eliminação de pontos de desperdício e educação ambiental para funcionários e familiares. A meta global da empres para 2012 é de 4,3 litros por litro de cerveja produzida. Fotos: Charles Guerra e Emerson Souza Nosso mundo sustentável 17 de janeiro de 2011 colunista www.zerohora.com/nossomundosustentavel Para participar do projeto, o cliente deve abrir mão de usar a sacola plástica no momento da compra. Assim, ele acumula quatro pontos no cartão fidelidade da rede. Experiência realizada pelo químico Juliano Bragatto, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba (SP), mostrou que uma tonelada de casca de eucalipto pode gerar 200 quilos de açúcares, que permitirão produzir 100 litros de etanol. O número pode dobrar com o aproveitamento do açúcar existente na estrutura das cascas. O rendimento do processo de produção do etanol a partir dos resíduos de eucaliptos é semelhante ao do álcool de cana-de-açúcar. 7