Campo psicossocial: estudo dos temas e contextos publicados pela Abrapso* entre 2000-2010 The Psychosocial field: a study of themes and contexts published by ABRAPSO from 2000 to 2010 Resumo Este texto é resultado de uma pesquisa de caráter bibliográfico que teve como finalidade identificar quais os temas e quais os contextos recobertos pela psicologia social abrapsiana, no período de 2000 a 2010. As fontes selecionadas para realizar tal identificação foram: a revista Psicologia e Sociedade e os Anais dos Encontros Nacionais da Abrapso, ambos publicados pela Associação. Identificou-se que temas clássicos, temas não clássicos e temas emergentes encontram-se demarcados, com diferentes níveis de compromisso, pela preocupação com o contexto sociopolítico e cultural; expressam ainda preocupações com as demandas da atual conjuntura nas áreas da saúde, da educação, das organizações do trabalho, da comunidade, das epistemologias, dos projetos sociais, das tecnologias da informação e comunicação, e das cidades e territórios de existência. Em termos de resultados (gerais), encontrou-se enorme abrangência, difusão e expansão do campo. Entretanto, permanecem identificáveis e demarcados os estudos e práticas críticas e propositivas que conferem à psicologia social um sentido crítico e compromisso ético-político, visando à transformação das condições históricas macroestruturais e objetivas que forjam as subjetividades e a consciência dos sujeitos. Palavras-chaves Psicologia social; Campo psicossocial; Temas e contextos. Abstract This paper is the result of a literature review whose aim was to identify the themes and contexts covered by ABRAPSO’s social psychology from 2000 to 2010. The sources selected to perform such identification were magazine Psicologia e Sociedade and the Annals of the National Meetings of ABRAPSO, both published by the Association. It was found that classical themes, non classical themes and emerging themes are marked with different levels of commitment and concern with the socio-political and cultural contexts; they are also concerned with the demands of the present conditions of areas such as health, education, labor organizations, community, epistemologies, social projects, in* Associação Brasileira de Psicologia Social. Vinicius Furlan Universidade Federal do Ceará (UFC) [email protected] Maria Aparecida Pelissari Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) [email protected] formation and communication technologies, and the cities and territories of existence. In terms of (general) results, we found that the field has enormous scope, dissemination and expansion. However, the studies and the critical, purposeful practices remain identifiable and marked, conferring a critical sense and an ethical-political commitment aimed at the transformation of the macro-structural historical and objective conditions that shape the subjects’ subjectivities and consciousness. Keywords Social psychology; Psychosocial field; Themes and contexts. Introdução À guisa de considerações iniciais, convém explanar que o presente trabalho é resultado de uma pesquisa que visou identificar quais os temas e quais os contextos recobertos pela psicologia social abrapsiana na primeira década do século XXI, ou seja, de 2000 a 2010.1 Para tal identificação, utilizamos como fonte as publicações da Abrapso (Associação Brasileira de Psicologia Social) presentes nos artigos da revista Psicologia e Sociedade e nos Anais dos Encontros Nacionais da Abrapso. Neste sentido, inicialmente vamos apresentar brevemente o percurso da psicologia social até o período que recobre a pesquisa. Para Lima (2010), escrever sobre psicologia social não é tarefa fácil, nem mesmo para os pesquisadores mais experientes no campo, pois seu curso e percurso possuem articulações e influências de diversos campos e áreas, seja da própria Psicologia, das Ciências Sociais ou da Filosofia. Neste sentido, de acordo com Álvaro e Garrido (2006), podemos encontrar duas vertentes da psicologia social: a psicologia social sociológica e a psicologia social psicológica. 1 Em que pese a possibilidade de identificar diferentes vertentes no seio da Psicologia Social, Molón (2002) chamará de Psicologia Social abrapsiana a Psicologia Social construída na Abrapso, que estava sob os pilares da proposta de Silvia Lane e outros autores brasileiros pela construção de uma Psicologia Social crítica, conforme veremos mais adiante neste capítulo introdutório. 102 Para Álvaro e Garrido (2006), seria impossível procurar um evento que servisse de critério para determinar o momento em que surge o pensamento psicossocial como área de conhecimento autônomo. Álvaro e Garrido (2006) destacam que alguns autores declaram que o início do pensamento psicossocial ocorreu em 1908, por conta das publicações de William McDougall (primeiro psicólogo a escrever um manual de psicologia social - Introduction a social psychology), e Edward Ross (Social psychology). Todavia, para os autores, esta é uma escolha arbitrária pois, podemos encontrar outras publicações anteriores que também carregam o nome da disciplina, como o livro de Gabriel Tarde, Estudos de psicologia social, de 1898, e o de Charles Ellwood, Alguns prolegómenos a la psicología social, de 1901. E ainda podemos encontrar obras que, apesar de não carregarem o título da disciplina, tratavam de psicologia social em seu conteúdo, como dois livros de Tarde, Las leyes de la imitación (1890) e La lógica social (1895). É preciso considerar ainda o primeiro curso de psicologia social ministrado por George Herbert Mead na Universidade de Chicago, em 1900. De acordo com Álvaro e Garrido (2006), no processo de desenvolvimento da psicologia social podemos identificar diversos autores e teorias distintas que influenciaram esta forma de fazer psicologia. Dentre tais influências estão: Wilhelm Wundt com sua Völkerpsychologie (também conhecida como Psicologia dos povos), a psicologia da Gestalt, a teoria dos instintos, de Wilhelm McDougall, o behaviorismo social, de Floyd Allport, o interacionismo simbólico, a teoria de George Simmel, Max Weber, John Dewey, a sociologia da Escola de Chicago etc. Os autores que tiveram maior influência no desenvolvimento da psicologia social foram George Herbert Mead e William I. Thomas, este último por conta de seus estudos sobre as atitudes sociais. Embora a psicanálise já estivesse constituindo seu corpo teórico, alguns pesquisadores realizaram uma revisão dos manuais de psicologia social em busca dos referenciais que influenciaram seu pensamento, e a psi- Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 canálise ocupa lugar de marginalidade (ÁLVARO; GARRIDO, 2006). Lane (1984) destaca que as sistematizações da psicologia social devem ser entendidas a partir de duas vertentes: a tradição pragmática dos Estados Unidos e a tradição filosófica europeia, com raízes na fenomenologia. O desenvolvimento da psicologia social não está desvinculado do desenvolvimento das demais ciências humanas; portanto, diante da crise destas, nas quais se problematizava a integridade do modelo experimental como método para construir o conhecimento sobre o humano (SANTOS, 2010), fortes críticas à tradição norte-americana foram feitas pelos psicólogos sociais ligados à vertente europeia, por apoiar-se no método experimental, e ainda considerando-a uma ciência ideológica, reprodutora dos interesses da classe dominante. Um grupo de psicólogos sociais brasileiros e latino-americanos não ficou de fora destas problematizações, produzindo suas críticas à tradição da psicologia social norte-americana com o objetivo de construir um conhecimento que atendesse à realidade latino-americana; assim se firmou a construção de uma psicologia social na América Latina com base no materialismo histórico e dialético. Este momento específico pelo qual passou a psicologia social ficou conhecido como “crise da psicologia social” ou “crise de relevância”. Por conta das críticas dos psicólogos latino-americanos à tradição norte-americana, culmina, na América Latina, uma nova forma de fazer psicologia social. Reboredo (1998) destaca que é possível identificar três percursos no desenvolvimento da psicologia social: os que se referem ao paradigma norte-americano, ao europeu e ao latino-americano. Para Reboredo (1994), é Silvia Lane quem vai sustentar os pilares para a construção deste último paradigma de psicologia social, que, segundo a autora, tem o papel de uma teoria flogística, ou seja, um paradigma que produz verdades perigosas. Neste sentido, destaca esse caráter na teoria de identidade proposta por Antonio da Costa Ciampa em sua tese A estória de Severino e a história de Severina (1987), que foi reatualizada por Aluísio Ferreira de Lima em seu livro Metamorfose, anamorfose e reconhecimento perverso (2010). Lima (2012) destaca que Silvia Lane e os demais autores ligados a este grupo propuseram, naquele contexto, as bases para a construção de uma psicologia social crítica que visasse à transformação das condições desiguais e segregadoras, crítica das formas hegemônicas de dominação e promotora da emancipação. A psicologia social crítica teve papel importante nos estudos que revelaram a imprescindível relação das condições históricas, objetivas e subjetivas, para a constituição das relações dos seres humanos e da sociedade, bem como na articulação da prática de pesquisa e de intervenção social com relação aos grupos e problemas do cotidiano. A afirmação “toda psicologia é social” sintetiza a imprescindível relação que a psicologia social assumiu com o campo da psicologia, não no sentido de reduzir as especificidades conceituais de cada área de sua atuação, mas demarcando a partir de cada especificidade “a natureza histórico-social do ser humano” (LANE, 1984, p. 20). Conforme afirma Lima (2010), podemos dizer que a psicologia social crítica orienta-se no sentido de “encontrar os vestígios da opressão que impedem os indivíduos de administrarem suas vidas e reivindicar melhorias das condições concretas de existência” (LIMA, 2010, p. 78). Todavia, a prática da psicologia social no Brasil nem sempre se orientou desta forma. Lima (2010) destaca que os primeiros trabalhos em psicologia social no Brasil tratavam de lidar com questões como “coletividades anormais”, “domesticação dos selvagens” etc. Nos primórdios do desenvolvimento da psicologia social no Brasil, seu fazer estava restrito aos laboratórios experimentais e à pesquisa básica, reproduzindo teorias e metodologias. Primórdios caracterizados por sua ausência no campo das políticas públicas, servindo Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 103 principalmente a fortalecer políticas assistencialistas, patologizantes, curativas e individualizantes, impostas por um Estado preconizador da modernização industrial e que se organizava a partir de uma economia que garantia o máximo dos “direitos mínimos” para a população. (LIMA, 2012, p. 216). Outro aspecto importante de ser observado refere-se à vinculação dessa psicologia social com a psicopatologia desenvolvida na América do Norte, que passa a buscar elementos que pudessem explicar o comportamento anormal, anti-social, antipatriótico etc., na análise dos pequenos grupos e na intervenção adaptativa. Esse inclusive será o modelo de psicologia social adotado no Brasil pela Medicina Social, cujos principais teóricos, Nina Rodrigues (1939) e Arthur Ramos (1952), defenderão ser tarefa da psicologia social o entendimento da barbárie e sua adaptação à ordem social estabelecida, focando o progresso. (LIMA, 2010, p. 73). De acordo com Lima (2012), os primeiros manuais de psicologia social produzidos no Brasil foram de autoria de Raul Briquet, em 1935, como resultado de um curso de psicologia social ministrado na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e de Arthur Ramos, em 1936, como resultado do curso ministrado na Universidade do Distrito Federal no Rio de Janeiro. Em que pese a estes autores estarem no bojo dos primórdios da psicologia social brasileira, alinhados à tradição norte-americana, Molón (2002) destaca que Aroldo Rodrigues é o maior expoente e propulsor desse paradigma no Brasil. Este autor destaca ainda que dentre os temas de interesse de Arthur Ramos estão: “inconsciente primitivo”, “personalidade degenerada” etc. E atenta para o fato de que 104 Ramos também foi um dos responsáveis pelas campanhas higienistas que culpavam os indivíduos por suas doenças, pobreza e desigualdades vividas. De acordo com Molón (2002), dentro deste modelo de psicologia social brasileira trabalharam-se temas como: comportamento social dos animais, linguagem, percepção, memória, desigualdades culturais, dependência e interdependência, atração interpessoal, tendências a associações com outros, agressão, violência e altruísmo, formação e mudança de atitude, tomada de decisões, conformismo e excepcionalidade, relações internacionais etc. A autora destaca que estes temas são desenvolvidos, conceitualizados e valorizados experimentalmente nos países de Primeiro Mundo, principalmente nos Estados Unidos, e transportados para os demais países, no caso, para o Brasil. Essa forma de fazer e produzir psicologia social no Brasil era influenciada pelo paradigma norte-americano que, de acordo com Lima (2010), pode ser entendido “como formas psicológicas dessa disciplina e buscavam entender as problemáticas sociais a partir dos indivíduos, em suas dificuldades de adaptação à sociedade” (p. 73). É justamente por conta da influência e orientação da prática da psicologia social brasileira sustentada nas bases do paradigma norte-americano, e por conta de seu caráter ideológico e da crise já citada, que culmina um movimento de revisão crítica da psicologia social no Brasil, coordenado por Silvia Lane, que resultou na criação da Associação Brasileira da Psicologia Social (Abrapso), em 1980. A criação da Abrapso foi concebida em função da necessidade de se repensar criticamente a psicologia social. Além de a psicologia social abrapsiana caracterizar-se, em seus primórdios, por uma perspectiva crítica (por isso firmou-se também chamar de psicologia social crítica), este paradigma vai assumir, em sua emergência, um caráter político no envolvimento com as lutas pela redemocratização do País e garantia Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 de direitos em um momento em que o país vivia sob a égide da ditadura civil-militar. Neste sentido, vai assumir um compromisso com a população oprimida e excluída dos bens culturais e econômicos, diferentemente da prática e caráter hegemônico da psicologia na época. A Abrapso, a partir de sua criação, tornou-se o espaço demarcador de intercâmbio, de posicionamento político e de construção de uma psicologia social crítica. A criação da Abrapso é um marco decisivo na orientação da psicologia social brasileira em direção à problemática de nossa realidade sócio-econômica-política-cultural. Também reafirma a importância fundamental de Silvia T. M. Lane, que ficou na presidência nacional até 1983. (MOLÓN, 2002, p. 53). A criação da Abrapso impulsionou a psicologia social no Brasil e ainda estabeleceu campos de referências para reflexões sobre acontecimentos macroestruturais na relação com o debate científico e acadêmico. Neste sentido, um dos movimentos na Abrapso, na direção de socializar o conhecimento produzido no seio da psicologia social crítica, foi tornar público, no ano de 1986, a primeira edição da revista Psicologia e Sociedade, que foi interrompida em 1992, com um total de sete volumes. Em 1995, suas publicações foram retomadas com o volume de número 8, e estende-se até os dias atuais. Os Encontros Nacionais da Abrapso, que tiveram início em 1985, e os Encontros Regionais ocorrem bianualmente. Nos últimos Encontros Nacionais (2011 e 2013), estiveram presentes cerca de seis mil participantes, configurando-o assim como um dos maiores encontros de psicologia do País. A construção de uma psicologia social crítica fez com que as publicações retratassem temas como: violência, movimentos populares, psicologia comunitária, processos grupais, identidade, exploração do trabalho, política e direitos humanos. Bonfim (1989) identifica nas publicações da revista Psicologia e Sociedade – do número três ao sete – uma forte presença de estudos sobre psicologia e comunidade, ou psicologia comunitária, movimentos sociais, saúde mental e saúde pública, análise institucional, aspectos históricos e teóricos, identidade, educação, grupos, representação social, comunicação, trabalho, metodologia, psicologia e arte, utopia, esquizoanálise, entre outros. Entretanto, é a partir dos anos 1990 que as pesquisas e estudos passaram a ser associados a uma psicologia social na América Latina, ou seja, com o paradigma latino-americano, com diversas e grandes referências a trabalhos relacionados às questões teóricas e metodológicas para a atuação do psicólogo social. Esses estudos foram particularmente importantes e estão nas obras e produções de Silvia Lane e Bader Sawaia (1994). Ozella e Sanchez (2001), na pesquisa que realizaram sobre as obras e os autores utilizados nos cursos de Psicologia para a formação de futuros profissionais, observaram uma forte presença de grupos de autores vinculados ao cognitivismo e ao materialismo histórico-dialético. Destacam que houve um aumento significativo na utilização de autores ligados ao materialismo histórico e dialético nas referências dos cursos de formação de psicólogos, sendo os mais utilizados. Vemos, portanto, que o curso da psicologia social crítica possui percursos articulados com a história e as conjunturas. Isso já mostra o compromisso com as demandas sociais, que são uma problematização sobre os significados e sobre a extensão e o movimento do campo psicossocial. Entretanto, Freitas (1996) conclui que os temas tratados na psicologia social crítica “deslocaram-se, em certa medida, de uma perspectiva mais abrangente, o que concerne à realidade social, para enfocarem temáticas relativas a situações e contextos particulares e pontuais” (FREITAS, 1996, p. 176). Neste sentido, com vistas a compreender um pouco da trajetória da psicologia social abrapsiana e o que tem sido produzido e Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 105 realizado em seu campo, desenvolvemos uma pesquisa que visou identificar quais os temas e quais os contextos recobertos nas publicações da Abrapso no período que contempla esta primeira década do século XXI, ou seja, de 2000 a 2010. Desenvolvimento Para cumprir com os objetivos já mencionados, selecionamos como fonte de coleta de dados os artigos da revista Psicologia e Sociedade e os anais dos Encontros Nacionais da Abrapso, ambos publicados pela Associação, por conta de esta ter se tornado o espaço demarcador da psicologia social brasileira e ter estas publicações como instrumentos de socialização do conhecimento psicossocial. Para tanto, optou-se pela pesquisa de caráter bibliográfico, pois, conforme Gil (1987), ela permite a apropriação de uma ampla gama de conhecimentos presentes em fontes bibliográficas ou secundárias, ou seja, de material já elaborado e trabalhado por outros autores. Em se tratando de uma pesquisa com esta característica, foi necessário, inicialmente, reunir os fascículos impressos disponíveis e acessar o site oficial da Abrapso para completar a seleção do período determinado. Destacamos ainda que optamos pelo período de 2000 a 2010 por conta de já haverem pesquisas que retratam o período anterior, conforme apresentado no capítulo introdutório, e ainda não termos publicações de pesquisas acerca das publicações da Abrapso da primeira década do século XXI. Em seguida, foram realizadas as leituras dos artigos das revistas, na íntegra, e dos anais dos encontros nacionais, alguns na íntegra e outros, os resumos expandidos ou apenas os resumos. Observou-se que os temas eram de alta diversidade e, portanto, aqueles que partilhavam similaridades foram agrupados. Adotou-se, assim, a compreensão de que tema é o assunto no qual repousa toda a reflexão ou a proposição que se quer provar, ou ainda o motivo sobre o qual se desenvolve a composição do texto. 106 Com relação aos temas das publicações dos anais dos encontros nacionais, utilizamos os eixos temáticos para uma melhor quantificação dos dados; a partir destas temáticas, relacionamos seus respectivos contextos. A partir dos achados relativos aos temas, foi possível identificar três grandes categorias temáticas (que serão apresentados adiante): temas clássicos, temas não clássicos e temas emergentes. Na mesma medida, surgiu a necessidade de definir o contexto. Em seu uso comum e óbvio, contexto indica “aquilo que está ao redor” e, portanto, o ambiente, ou a situação dentro da qual ocorre algo, e pode ser entendido como aquilo em que iremos focar nossa atenção. Contexto é ainda usualmente compreendido como campo, local ou área de atuação. No desenvolvimento da pesquisa, o entendimento de contexto firmou-se como o ambiente social ou situação dentro da qual ocorre algo; campo de atuação e as circunstâncias envolvidas no delineamento do tema. Procurou-se, nesta definição, incluir enquadres que compartilhavam natureza similar. Assim foi possível identificar nove contextos (que serão discutidos mais adiante) considerando o campo do universo pesquisado: sociopolítico e cultural; clínico e de saúde; educacional; organizacional e do trabalho; comunitário; reflexão epistemológica; políticas e projetos sociais; midiático e das tecnologias de informação e comunicação; e cidades, territórios e ambientes. É importante salientar que, em algumas situações, um mesmo trabalho situava-se em mais de um contexto. Outras identificações e classificações importantes referiram-se à natureza da reflexão. Dito de outro modo, identificaram-se as reflexões teóricas elaboradas a partir de experiência de pesquisas e experiências de intervenção, fossem elas de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado e/ou experiências de trabalho. Consequentemente, foram identificadas e separadas as reflexões teóricas não elaboradas a partir de experiência de pesquisa e de intervenção, mesmo que Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 o autor utilizasse dados de pesquisas e intervenções para fundamentar sua discussão. Essas últimas caracterizam-se como ensaios, discussões epistemológicas e conceituais, e cotejamentos e articulações com outras áreas do conhecimento científico. Assim considerando, criou-se o seguinte com relação à natureza dos achados: reflexão teórica a partir de pesquisa/intervenção e reflexão teórico-epistemológica. Assim sendo, os dados encontrados foram tabulados e agrupados de acordo com os temas e contextos similares. Simultaneamente, eram tabuladas as reflexões a partir de dados de pesquisa/intervenção e as reflexões teórico/epistemológicas. A tabulação e a classificação dos dados possibilitaram levantar o percentual representativo para os temas e contextos que se converteram na análise e interpretação que configuram as discussões e conclusões a seguir. Resultados e discussões Ao longo do período considerado, 20002010, foram encontrados e trabalhados 33 números da revista Psicologia e Sociedade, composta por 11 volumes, totalizando 418 artigos. Do ano 2000 a 2003 foram publicados dois números por ano, contando com os volumes 12 a 15. De 2004 até 2010 houve um aumento no número de publicações, passando a três por ano, indo do volume 16 ao 22. Há situações de exceção que contam com a publicação de números especiais – temáticos ou de homenagem – sendo duas edições adicionais em 2007, uma em 2008 e uma em 2009. Com relação aos anais dos Encontros Nacionais, trabalhou-se com 2.047 publicações dispostas nos anos 2001 a 2009. Em 2001, o Encontro teve como tema “Psicologia e transformação da realidade brasileira: desafios e perspectivas para a Abrapso 21 anos depois”; em 2003, o tema foi “Estratégias de intervenção do presente: a psicologia social no contemporâneo”; em 2007, “Diálogos em psicologia social: epistemológicos, metodológicos, éticos, políticos, estéticos e políticas públicas”; e em 2009, “Psicologia social e políticas de existência: fronteiras e conflitos”. Devemos ter clareza que, em virtude da extensão do universo estudado e da imensidão dos achados, um texto que procure abarcar todos estes resultados dentro dos limites de um artigo científico poderia perder em profundidade na discussão. Todavia, buscaremos fazê-lo aqui. A intenção será apresentar, de modo geral, os dados achados e discuti-los a fim de dar visibilidade ao objeto estudado e àquilo que tem sido publicado pela Abrapso como psicologia social. Destacamos ainda que uma discussão mais esmiuçada dos dados, a partir de um recorte na pesquisa, no qual se discute especificamente a relação entre os contextos sociopolítico e cultural e das políticas e projetos sociais pode ser encontrado em Furlan e Pelissari (2013). Dentre os vários artigos e anais analisados, encontraram-se temas que permitiram a seguinte classificação: temas clássicos, temas não clássicos e temas emergentes. Não obstante termos destacado os temas dos primórdios da psicologia social, enfatizamos que estamos considerando essas categorias com relação aos temas e àquilo que é trabalhado no seio da psicologia social crítica (ou abrapsiana). Os temas clássicos referem-se àquele conjunto de assuntos pioneiros na produção da psicologia social crítica, após a emergência da crise dos anos 1970, em que se firmava um recorte político e o compromisso social articulados com a crítica às situações e contextos em que o autoritarismo e as injustiças sociais impunham reflexões fundamentadas, objetivando a crítica conjuntural e a macroestrutura. Essas reflexões e proposições de práticas e de pesquisa ainda revelam este compromisso ético e político com as demandas sociais e estão potencializadas por associações e aproximações com o materialismo histórico e dialético, mas não de modo absoluto. Outra identificação que podemos fazer é com a produção da vertente da psicologia social latino-americana. As publicações acerca destas temáticas estão sustentadas por autores Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 107 alinhados à psicologia social crítica e ainda a teorias e autores ligados à Sociologia, à Antropologia, à Ciência Política e à Filosofia. Podemos dizer que estes temas referem-se ao que se chama de psicologia social sociológica. Entre estes temas, podemos citar alguns: representações sociais, ideologia, alienação e consciência, identidade, racismo, cidadania, saúde, ética, direitos humanos, desigualdade social, movimentos sociais, análise institucional, democracia, política, violência e outros. Os temas não clássicos referem-se àqueles menos abrangentes, assentados em teorias ou autores mais próximos da Psicologia do que das Ciências Sociais, por exemplo. Alguns expressam particularidade crítica na relação com os temas clássicos e outros se ocupam com demandas pontuais, efêmeras ou sazonais, e não revelam o mesmo caráter dos temas alinhados à psicologia social crítica. Podemos dizer que estes temas referem-se ao que se entende por psicologia social psicológica. Exemplos destes temas são: acidentes de trânsito, gravidez, imagem corporal, atenção e aprendizagem, amizade, estilo e profissão musical, dança e subjetividade, e outros. Os temas emergentes indicam reflexões acerca de assuntos que se desenvolvem a partir das mudanças do Estado brasileiro em termos de tentativas e proposições de políticas públicas, políticas sociais e como desdobramento de sua formulação e implantação. Têm, portanto, a característica de serem particulares e abrangentes, estando atados ao compromisso de contribuir para a promoção, melhoria e mudanças radicais de realidades indignas. Neste sentido, apesar de emergentes, tratam de questões importantes com relação à conjuntura atual do panorama social e revelam preocupação ético-política com tais questões e estão alinhados à preocupação da psicologia social crítica. Embora haja uma relação entre temas emergentes e temas clássicos, os primeiros diferenciam-se dos últimos no sentido de que não foram trabalhados na emergência da psicologia social crítica. Isto pode ser explicado pelo fato de tais temáticas não estarem colocadas – pelo menos em cer- 108 ta medida – no panorama social daquele momento, ou ainda pelo fato de que no contexto histórico da emergência da psicologia social crítica o País estar sob a égide da ditadura civil-militar e a preocupação dos psicólogos sociais orientava-se neste sentido. Entre os temas emergentes podemos citar: políticas públicas, economia solidária, medicalização da sociedade, acolhimento institucional, medidas socioeducativas, cidades e produção de territórios de existência, e outros. Embora tenhamos tabulado e realizado um esforço na direção do agrupamento destes temas, apenas citamos alguns como exemplo a fim de dar certa visibilidade aos dados, pois a quantidade de temas encontrados foi enorme, e o agrupamento de muitos deles reduziria o problema tratado, não sendo justo com o autor e com o próprio tema do texto. Portanto, não seria possível citar todos aqui, apenas exemplos. Os temas dos encontros nacionais foram categorizados conforme o eixo temático disponível pelos próprios encontros, o que permitiu seu agrupamento e uma melhor quantificação dos dados. Os temas dos encontros, representados com a porcentagem presente nas produções, são: ética, violência e direitos humanos (25%); saúde (18%); educação (16%); política, democracia e movimentos sociais (8%); gênero, sexualidade, raça e idade (7%); processos organizativos, comunidades e práticas sociais (7%); trabalho (6%); mídia, comunicação, linguagem e artes (5%); histórias, teorias e metodologias (5%); e cidades e produção de territórios de existência (3%). Comparando estes temas com as linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação em psicologia social nas universidades do País, os temas encontrados estão de acordo com as temáticas de pesquisa propostas por estes programas e seu respectivo quadro de docentes. Identificou-se que as reflexões teóricas sustentadas a partir de experiências de pesquisa ou experiências de intervenção, sejam elas de graduação, de mestrado, de doutorado e pós-doutorado, e ainda experiências de Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 trabalho, totalizam praticamente 70% de toda a produção no universo pesquisado. Por sua vez, a produção referente às reflexões teórico/epistemológicas ocupa 30% da totalidade do mesmo universo. Essas últimas caracterizam-se por ensaios, discussões epistemológicas e conceituais e/ou cotejamentos e articulações com outras áreas do conhecimento científico. Importante afirmar aqui que a significativa presença de estudos apoiados por dados de experiência de pesquisa e intervenção não necessariamente os eleva à condição de alta consistência teórica e epistemológica. O contrário também deve ser considerado. No que se refere aos contextos identificados nos artigos da revista e nos anais dos encontros, foi possível categorizar, quantificar e constituir o seguinte: sociopolítico e cultural (26%); clínico e de saúde (20%); educacional (19%); organizacional e do trabalho (9%); comunitário (7%); reflexão epistemológica (7%); políticas e projetos sociais (5%); midiático e das tecnologias de informação e comunicação (5%); e cidades, territórios e ambientes (2%). O contexto sociopolítico e cultural acolhe trabalhos referentes à garantia de direitos humanos, processos de democratização, reflexões sobre política e o político, estudos sobre etnia e racismo, grupos e movimentos sociais, violência física e simbólica, questões de gênero, estudos culturais e sobre a cultura, religião e o simbólico, e reflexões acerca da conjuntura política e econômica do País. O contexto clínico e da saúde remete a trabalhos sobre a realidade hospitalar, saúde básica, saúde mental, saúde especial e somática, reflexões e intervenções clínicas e no âmbito da saúde privada e pública, a luta pela garantia dos direitos dos cidadãos à saúde, e a participação de profissionais da saúde e da sociedade civil nos conselhos e conferências onde se discute a problemática da saúde como direito dos cidadãos. O contexto educacional acolhe trabalhos e intervenções nos âmbitos pedagógico, escolar, curricular, universitário, educação especial e outros. O contexto organizacional e do trabalho remete também ao âmbito empresarial, industrial, saúde psíquica e física do trabalhador. O contexto comunitário refere-se a estudos da psicologia comunitária, intervenções direcionadas a diferentes práticas comunitárias, psicossociais e às instituições sociais – por exemplo, família, escola, cooperativas, associações populares, hospitais, sindicatos, organizações não governamentais, instituições de acolhimento, instituições gerontológicas, creches, associação de moradores – que se aproximam do cotidiano das pessoas, principalmente nos bairros e instituições populares, com objetivo de melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e conscientização social e de classe. O contexto epistemológico acolhe reflexões que aprofundam aproximações teóricas e reflexões que se desdobram a partir de ênfases teóricas. As ênfases teóricas e epistemológicas que mais marcam os trabalhos desta primeira década do século XXI referem-se ao materialismo histórico e dialético, assumido como epistemologia fundamental do paradigma latino-americano de psicologia social. A psicanálise também tem forte presença nas publicações, tendo até um número especial temático da revista (dossiê) no ano de 2009. Também a teoria crítica marca presença de destaque nas publicações, compondo ainda um dossiê referente a ela. Teorias como pós-estruturalismo, análise institucional, psicologia histórico-cultural e interacionismo simbólico marcam forte presença no embasamento dos textos. Entre os autores mais citados nas referências dos trabalhos, Silvia Lane aparece principalmente nos artigos que discutem a concepção de homem na psicologia social e nos estudos sobre grupos. Os estudos sobre a identidade sustentam-se na tese de Antonio da Costa Ciampa. Nos estudos sobre representações sociais, o referencial teórico sustenta-se em outro paradigma de psicologia social, o europeu, tendo marca forte os estudos do psicólogo social francês Serge Moscovici. O contexto das políticas e projetos sociais trata das experiências e reflexões relacio- Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 109 nadas às políticas públicas e projetos sociais, à participação social, ao controle social e à construção dessas políticas com experiências em conferências, sindicatos, conselhos, fóruns de direitos humanos, visando à construção da democracia e de políticas direcionadas aos direitos dos cidadãos. Para Furlan e Pelissari (2013), a produção acerca deste contexto revela o interesse e a preocupação da Psicologia (social) de adentrar espaços de construção dessas políticas com o objetivo de lutar pela garantia da condição de cidadão dos sujeitos humanos e colaborar com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O contexto midiático e das tecnologias de informação tem trabalhos relacionados aos âmbitos televisual, digital, jornalístico; estudos sobre o atravessamento na constituição da subjetividade humana, mediada por esses meios de informações. Acolhe, também, intervenções no âmbito da construção de políticas públicas para o acesso de todos a tecnologias de informação e comunicação, ou seja, a inserção dessas tecnologias em setores que favorecem o desenvolvimento humano. Emerge, na psicologia social, o contexto das cidades, territórios e ambientes, que acolhe trabalhos que tratam a cidade como território urbano, estudos sobre as ruralidades, reflexões acerca do meio ambiente e reflexões sobre a cidade como território de existência humana e dos modos de produção de ser e existir nestes territórios. É importante salientar que os temas e contextos entrelaçam-se como fios de um tecido, isto é, no tear que une a trama e o urdume, transformando-os em tecido no qual se identificam os fios que se sobrepõem e se entretecem formando um conjunto denso que dificulta distinguir um fio do outro e no qual é impossível acompanhar todas as voltas, nós, desenhos e configurações. Entretanto, cada fio isolado ainda está ali, com sua singularidade no meio da coletividade. Isto justifica a sutil semelhança entre os Temas e Contextos, pois ambos conversam, se sobrepõem, perseguem, influenciam, fundem, ao mesmo tempo em que resguardam sua singularidade. 110 Considerações finais A Abrapso, após sua criação, tornou-se o espaço demarcador de intercâmbio, de posicionamento político e de construção de uma psicologia social crítica. Porém, convém salientar que existe psicologia social em outros contextos para além da Abrapso, com outros periódicos que publicam artigos referentes à área chamada psicossocial. Trabalhamos, nesta pesquisa, com os artigos que foram aceitos pela Abrapso e publicados nas revistas e nos anais dos encontros. Em termos de resultados gerais, foi encontrada, sim, enorme abrangência, difusão e expansão do campo. A abrangência referente aos temas e contextos é extensiva a diversos, diferentes e até divergentes campos de atuação e áreas de saber, tendo como referência os motivos pelos quais a Abrapso foi criada. Ao mesmo tempo em que conserva sua especificidade, abriga “migrações” internas e externas à psicologia, ou seja, às ciências humanas e sociais. Pode-se dizer que permanecem identificáveis e demarcados os estudos e práticas críticas e propositivas que conferem à psicologia social um sentido crítico e compromisso ético-político visando a transformações das condições históricas macroestruturais e das condições históricas e objetivas que forjam as subjetividades e a consciência dos sujeitos. Estes estudos convivem com outros, adaptados às demandas conjunturais atuais ou compromissados com a conquista de direitos humanos, sejam eles sociais e/ou individuais. É expressiva a produção inserida nos contextos sociopolítico e cultural, que acolhem trabalhos sobre a garantia de direitos humanos, processos de democratização, reflexões sobre política e o político, estudos sobre etnia e racismo, grupos e movimentos sociais, violência física e simbólica, questões de gênero, estudos sobre cultura, religião e o simbólico, e reflexões acerca da conjuntura política e econômica do País. Outras produções expressivas e equivalentes situam-se no contexto da saúde e no contexto educacional. As produções nos contextos das organizações do trabalho e da psicologia comunitária Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112 e os estudos epistemológicos assemelham-se ao longo desse período e não estão em expansão. Emergem os contextos das políticas públicas, dos projetos sociais, midiático e das tecnologias da informação e comunicação, e os estudos mais raros, porém não menos importantes, sobre as cidades, os ambientes e territórios de existências. Assim, pôde-se registrar que os trabalhos publicados revelam que temas clássicos, temas não clássicos e temas emergentes encontram-se demarcados, com diferentes níveis de compromisso, pela preocupação com o contexto sociopolítico e cultural; expressam ainda preocupação com as demandas da atual conjuntura nas áreas da saúde, da educação, das organizações do trabalho, da comunidade, das epistemologias, dos projetos sociais, das tecnologias da informação e comunicação, e das cidades e territórios de existência. Referências ÁLVARO, J. L.; GARRIDO, A. Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill, 2006. BONFIM, E. M. Notas sobre psicologia social e comunitária no Brasil. Psicologia e Sociedade, Belo Horizonte, v. 5, n. 7, p. 42-46, 1989. CIAMPA, A. C. A estória de Severino e a história de Severina. Um ensaio de psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1987. FREITAS. M. F. Q de. 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Possui mestrado e doutorado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora do curso de Psicologia da Universidade Metodista de Piracicaba. Membro do Grupo de Pesquisa Psicologia e Dilemas Sociais na Cultura Contemporânea, e do NEPQSO – Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Questões Sociais da UNIMEP Recebido: 21/01/2013 Aprovado: 02/04/2014 112 Impulso, Piracicaba • 24(60), 101-112, maio-ago. 2014 • ISSN Impresso: 0103-7676 • ISSN Eletrônico: 2236-9767 DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p101-112