1 A qualidade das orientações para o autocuidado no controle glicêmico dos diabéticos The quality of the guidelines for self care in glycemic control of diabetics La calidad de las directrices para el autocuidado en el control glucémico de los diabéticos José Claudio Garcia Lira Neto. Enfermeiro, Mestrando, Programa de Pós-graduação em Ciências e Saúde/PPGCS, Universidade Federal do Piauí/UFPI. Teresina (PI), Brasil. Email: [email protected] Rochelle Rufino Costa. Enfermeira, Especialista em Saúde Pública/IBPEX. Teresina (PI), Brasil. E-mail: [email protected] Samara Brito de Sousa. Enfermeira, Universidade Federal do Piauí/UFPI. Teresina (PI), Brasil. E-mail: [email protected] Hellen Gleicy Noleto Silva Lopes. Enfermeira, Universidade Ceuma/UNICEUMA. Teresina (PI), Brasil. E-mail: [email protected] Ana Angélica Oliveira de Brito. Enfermeira, Universidade Estadual do Piauí/UESPI. Teresina (PI), Brasil. E-mail: [email protected] Roberto Wagner Júnior Freire de Freitas. Enfermeiro, Doutor em Promoção da Saúde, Universidade Federal do Ceará/UFC. Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ. Fortaleza (CE), Brasil. E-mail: [email protected] Autor responsável pela troca de correspondência José Claudio Garcia Lira Neto Programa de Pós-Graduação em Ciências e Saúde Centro de Ciências da Saúde Universidade Federal do Piauí Rua Visconde da Parnaíba, n. 1770, Galleria Residence, Ininga. CEP: 64049-570 - Teresina (PI), Brasil Telefone: +55 86 99941-6264. E-mail: [email protected] 2 Resumo Objetivo: avaliar o impacto das orientações de enfermagem para o autocuidado no controle glicêmico dos diabéticos. Método: estudo descritivo, com abordagem quantitativa e delineamento transversal. A amostra incluiu 79 pessoas com diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 cadastradas e acompanhas nas Unidades Básicas de Saúde da cidade de Floriano, PI. Os dados foram coletados durante as consultas de enfermagem. O trabalho foi desenvolvido após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, sob o número CAAE: 07054412.6.0000.5214. Resultados: a média de idade foi 61,8 anos, predominando na amostra mulheres (70,89%). 87,55% dos investigados receberam e entenderam as orientações de enfermagem para os cuidados com o diabetes, porém apenas 37,98% deles possui um controle glicêmico ideal. Conclusão: apesar das orientações dadas, o autogerenciamento do diabetes ainda continua comprometido. Intervenções que ampliem práticas de autocuidado são ferramentas eficazes para auxílio no controle da enfermidade. Descritores: autocuidado; diabetes mellitus tipo 2; cuidados de enfermagem. Abstract Objective: assess the impact of nursing guidelines for self care in glycemic control of diabetics Method: descriptive study with a quantitative approach and cross-sectional design. The sample included 79 people diagnosed with type 2 diabetes mellitus registered and be accompanied in the Basic Health Units of the city of Floriano, PI. Data were collected during nursing visits. The study was conducted after approval by the Research Ethics Committee of the Federal University of Piauí, under the CAAE number: 07054412.6.0000.5214. Results: the mean age was 61.8 years, predominantly women in the sample (70.89%). 87.55% of the investigated received and understood the nursing guidelines for diabetes care, but only 37.98% of them have optimal glycemic control . Conclusion: despite the given guidelines, the diabetes self-management is still 3 committed. Interventions that increase self-care practices are effective tools to aid in controlling the disease. Descriptors: self care; type 2 diabetes mellitus; nursing care. Resumen Objetivo: evaluar el impacto de las directrices de enfermería para el cuidado de autocuidado en el control glucémico de los diabéticos. Método: estudio descriptivo con un enfoque cuantitativo y diseño transversal. La muestra incluyó a 79 personas con diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 registrado y estar acompañados en las Unidades Básicas de Salud de la ciudad de Floriano, PI. Los datos fueron recogidos durante las visitas de enfermería. El estudio se llevó a cabo después de la aprobación por el Comité de Ética en Investigación de la Universidad Federal de Piauí, de número CAAE: 07054412.6.0000.5214. Resultados: la edad media fue de 61,8 años, en su mayoría mujeres de la muestra (70,89%). 87,55% del control glucémico óptimo investigado recibido y comprendido las directrices de enfermería para el cuidado de la diabetes, pero sólo 37,98% de ellos tienen. Conclusión: a pesar de las directrices dadas, el autocontrol de la diabetes sigue apostando. Las intervenciones que aumentan las prácticas de autocuidado son herramientas eficaces para ayudar en el control de la enfermedad. Descriptores: autocuidado; diabetes mellitus tipo 2; atención de enfermería. INTRODUÇÃO De natureza crônica, de caráter epidêmico e com demandas onerosas aos sistemas de saúde, o Diabetes Mellitus (DM) é uma doença que atinge mais de 382 milhões de pessoas em todo o mundo, até o momento. Cerca de 80% dos sujeitos com essa enfermidade vive em países em desenvolvimento, como o Brasil, que hoje conta com mais de 12 milhões de casos diagnosticados. Sua forma mais comum, o Diabetes Mellitus do tipo 2 (DM2), assume 90-95% dos casos, tornando necessárias melhores avaliações e 4 cuidados específicos para esse grupo a fim de se atingir o controle caracterizado, principalmente, pela estabilização e normalidade dos níveis glicêmicos.1 Fatores de ordem pessoal, socioeconômica e cultural, além de aspectos relativos à doença, à terapêutica, ao sistema de saúde e à equipe multiprofissional podem influenciar o autogerenciamento dos cuidados.2 Mencionado pela primeira vez em 1958 por Orem, o autocuidado é definido como uma atividade do indivíduo apreendida pelo mesmo e orientada para um objetivo. É uma ação desenvolvida em situações concretas da vida, e que o indivíduo dirige para si mesmo ou para regular os fatores que afetam seu desenvolvimento ativo em benefício da vida, saúde e bem-estar.3 Para o alcance efetivo do autocuidado, ações de enfermagem voltadas para a promoção da saúde e através das práticas de ensino em saúde trazem repercussões positivas no controle dos pacientes com enfermidades como o DM. Para além dessa perspectiva, sugerem-se maiores contribuições dos profissionais de enfermagem na construção de ferramentas de autogerenciamento de cuidados.2-3 Diante dessa magnitude, o conceito de autocuidado apoiado emerge e vem sendo muito discutido nos últimos anos. Definido como o uso de estratégias utilizadas com o objetivo de preparar e empoderar as pessoas usuárias para que autogerenciem sua saúde e a atenção à saúde prestada, enfatizando o papel central nos indivíduos no gerenciamento do seu próprio cuidado. Essa metodologia, que tem como princípios: avaliação, aconselhamento, acordo, assistência e acompanhamento; é capaz de superar as barreiras que se antepõem à sua saúde, comprovadas através de evidências individuais e grupais na capacitação de pessoas. Isso significa fortalecer as pessoas para estabelecer suas metas.4 A enfermagem, que em sua essência carrega práticas que visam à mudança de hábitos/comportamentos e dispõe de habilidades para sua execução, através do apoio 5 terapêutico, com orientações direcionadas, torna-se então uma das principais facilitadoras no processo de controle do DM2. Porém, vale ressalvar que o ambiente de aplicação das orientações prestadas pela profissão é pautado na qualidade de tecnologias leves, reforçando a importância das contribuições serem as mais didáticas possíveis e com facilidade de entendimento e aplicação. Nesse contexto, procura-se investigar a qualidade e o impacto das orientações prestadas por enfermeiros e quais os efeitos que as mesmas causam na saúde dos pacientes diabéticos, atendidos e acompanhados na rede básica de saúde em um município do interior do estado do Piauí. OBJETIVOS Avaliar o impacto das orientações de enfermagem para o autocuidado no controle glicêmico dos diabéticos. MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa e delineamento transversal. A população alvo envolveu pacientes adultos, de ambos os sexos, com diagnóstico médico de diabetes mellitus tipo 2, cadastrados e acompanhados nas Unidades Básicas de Saúde do município de Floriano – PI. O estudo em tela é parte de um projeto guarda-chuva, onde foram selecionadas oito unidades, na zona urbana, sendo as mesmas escolhidas de modo aleatório. Os dados foram coletados entre os meses de novembro de 2013 a fevereiro de 2015. A amostra foi calculada através da aplicação da fórmula para populações finitas, sendo, para tanto, utilizados: intervalo de confiança de 95%, P=50%, Q=50% e erro amostral de 4%. Após os cálculos devidos, o tamanho da amostra resultou em 79 pessoas. Foi calculado o percentual representativo de cada unidade básica na composição do total de pacientes com diabetes mellitus do tipo 2. 6 Para uma melhor seleção dos dados, os sujeitos foram inclusos conforme os seguintes critérios: ter diagnóstico confirmado de diabetes mellitus tipo 2; ser atendido(a) nos serviços da rede de atenção básica de saúde de Floriano-PI; residir em Floriano-PI; estar em tratamento com antidiabéticos orais; estar com a mesma prescrição de medicamentos há, no mínimo, seis meses; ter prontuário ou ficha de saúde disponível no serviço e ter condições físicas e mentais para responder a entrevista. Foram excluídos da amostra os sujeitos que: estavam em tratamento concomitante com antidiabéticos orais e insulina, estavam hospitalizados e/ou gestantes. A abordagem da amostra foi em sala reservada enquanto aguardavam atendimento do enfermeiro para consultas do Programa Nacional de Hipertensão e Diabetes - HIPERDIA. Nesse momento foram esclarecidos os objetivos da pesquisa para que as pessoas manifestassem o desejo de participar ou não do estudo, com a garantia do seu anonimato. Àqueles que concordaram foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que fosse assinado. Optou-se pela realização de uma entrevista por conta da baixa escolaridade dos participantes. O instrumento adotado no estudo incluem informações socioeconômicas, antropométricas, sobre o estilo de vida e laboratoriais, além de questões a respeito do entendimento da enfermidade, com perguntas como: “Você recebeu orientações de enfermagem nessa unidade sobre os cuidados com o diabetes?”, “Você entendeu as orientações recebidas?”, “Você já recebeu algum material explicativo (folheto) sobre o diabetes nessa unidade?”. Os dados, após coleta e conferência dos instrumentos, foram digitados numa planilha Excel. Após isto, foram exportados para o software estatístico Statistical Package for Social Sciences, versão 18.0, para tratamento e geração dos resultados e realizadas análises estatísticas inferenciais. Utilizou-se o valor 95% (IC95%) para a obtenção dos intervalos de confiança. 7 A fim de se encontrar a normalidade dos dados, aplicou-se o teste de ShapiroWilk. Para os dados paramétricos, fez-se uso do teste de T student, e para os dados não paramétricos utilizou-se o teste de qui-quadrado. Para todas as análises estatísticas inferenciais foram consideradas como estatisticamente significantes aquelas com p < 0,05. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí – UFPI, sob o protocolo CAAE: 07054412.6.0000.5214, respeitando-se todos os preceitos éticos estabelecidos em pesquisas envolvendo seres humanos no país. RESULTADOS Participaram da pesquisa 79 pessoas com DM2. A média de idade foi de ± 61,8 anos, predominando na amostra mulheres (70,89%). Quando categorizados, apenas 21,51% dos participantes encaixaram-se no peso ideal (eutróficos), segundo cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC). Indo ao encontro à variável estado nutricional, apenas 34,17% dos investigados dizem-se não sedentários, e 65,83% mostraram-se inativos quanto à prática de atividades físicas. Outros pontos importantes são quanto ao uso de tabaco e álcool. Apenas 10,12% dos participantes dizem-se fumantes e 20,25% fazem uso de álcool com frequência (Tabela 1). Tabela 1 – Categorização dos usuários com DM2. Floriano, Piauí, Brasil, 2015. Categorias Mulheres Homens n 56 23 % 70,89 29,11 Realizam exercício físico Sedentários 27 52 34,17 65,83 Tabagistas Não fazem uso de tabaco 08 71 10,12 89,88 Etilistas Não fazem uso de álcool 16 63 20,25 79,75 8 Eutróficos Sobrepeso/Obesidade 17 62 21,51 78,49 Ao se investigar as orientações que os usuários receberam durante as consultas de enfermagem no intuito da promoção do autocuidado para controle do DM2, constatou-se que grande parte dos clientes recebeu e entendeu as informações dadas, 87,55% para ambas. Porém, dos 79 sujeitos, apenas 18 (22,79%) disseram já ter recebido algum material informativo sobre o DM2. Tais dados refletem no controle glicêmico dos diabéticos, já que apenas 30 (37,98%) deles possuía valores de HbA1C abaixo de 7%, contra 49 (62,02%) com desordens na normalização do exame (Tabela 2). Tabela 2 – Empoderamento x controle glicêmico: quais os passos dados? Floriano, Piauí, Brasil, 2015. Itens do questionário Recebeu orientações de enfermagem sobre o Diabetes Mellitus Entendeu as orientações prestadas Recebeu algum material explicativo (folheto) sobre o Diabetes Mellitus Possui controle da hemoglobina glicada (HbA1C) n % Sim 69 87,35 Não 10 12,65 Sim 69 87,35 Não 10 12,65 Sim 18 22,79 Não 61 77,21 Sim 30 37,98 Não 49 62,02 DISCUSSÃO O declínio das taxas de natalidade aliado ao avanço da expectativa de vida resulta no envelhecimento da população. Consequentemente, essa transição demográfica repercute positivamente na incidência e prevalência de problemas crônicos de saúde. O 9 aumento da expectativa de vida no Brasil tem incrementado a prevalência de diabetes, uma vez que a doença tende a crescer com o aumento da faixa etária. 2 Estudos realizados com pacientes diabéticos têm demonstrado não apenas o incremento no quantitativo com o avançar da idade, mas também a prevalência do sexo feminino, assim como a pesquisa em tela (70,89%).5 Sabe-se que no DM, o aparecimento de complicações se agrava nas pessoas que não realizam as atividades de autocuidado relacionadas à alimentação correta, atividade física e ao uso adequado dos medicamentos.6 Um dos cuidados mais notáveis na clínica se faz referente ao estado nutricional dos pacientes. Diabéticos eutróficos têm menores chances de descontroles oportunizados pelo DM, tais como hipoglicemia, hiperglicemia, dislipidemias, perda de peso acelerado ou ganho de peso e aumento dos níveis pressóricos. 1,6 Na população investigada, por sua vez, a prevalência de sobrepeso/obesidade está presente em 78,49% das pessoas. Dessa forma, além do aparecimento de irregularidades no controle da doença, outros problemas podem estar presentes ou vir a surgir, tais como os distúrbios do sono (insônia, privação do sono, narcolepsia, parassonias e apneia do sono), abrindo investigações futuras nessa mesma população.1 Quanto à prática de atividade física, estudos mostram que a mesma se constitui como um dos principais comportamentos de saúde a serem adotados, porquanto contribui para melhorar o controle glicêmico, diminuir os fatores de risco de doença coronariana, reduzir o peso e promover bem-estar.1,6 Estudos também apontaram uma redução de aproximadamente 0,67% na hemoglobina glicosilada (HbA1c) após oito semanas de realização de atividade física regular, além da redução do peso e dos fatores de risco cardiovascular.7 No entanto, o presente estudo apresenta que apenas 34,17% dos sujeitos não são inativos, o que torna os demais 65,83% expostos as complicações 10 decorrentes do sedentarismo, diminuindo também a eficácia das ações traçadas para a normoglicemia. Adicionalmente a esses fatores, não é de hoje que se conhecem os efeitos maléficos do tabaco e do álcool, principalmente em pessoas com apresentação de doenças crônicas, como o DM. O uso do tabaco, por exemplo, se associa ao mau controle do diabetes e causalmente à hipertensão e à doença cardiovascular em pessoas com ou sem DM, principalmente acima dos 40 anos de idade.1 Na pesquisa, 10,12% dos clientes da amostra referem serem usuários de tabaco. Quanto ao uso de álcool, sua ingestão em conjunto com uma refeição, incluindo carboidratos pode levar, inicialmente a maiores níveis glicêmicos e insulinêmicos em pacientes DM2. Dependendo da natureza dos carboidratos na refeição, ou em período de jejum, poderá ocorrer hipoglicemia reativa. A ingestão excessiva de etanol (> 30 g/dia) é associada com alteração da homeostase glicêmica, elevação da resistência à insulina, hipertrigliceridemia e pressão arterial, podendo também ser fator de risco para acidente vascular cerebral.1,6-7 20,25% da população do trabalho em tela diz fazer uso de álcool. Como mostra a literatura, a manutenção correta da saúde depende de fatores como: o comprometimento do paciente com o tratamento; dos esclarecimentos/orientações prestados pelos profissionais de saúde; e do apoio familiar. A não adesão ao tratamento medicamentoso, por exemplo, é a principal responsável pelas falhas no tratamento, pelo uso irracional de medicamentos e por agravos no processo patológico.1,2-7 Tendo como consequência maiores custos a saúde pública do país devido ao aumento no número de casos de intoxicações e internações hospitalares. O não conhecimento da gravidade da doença e da necessidade da tomada correta dos antidiabéticos orais reflete na má adesão do diabético. Dessa forma, identificar lacunas no tratamento e gerar apoio através de orientações e distribuição de material informativo aumenta as chances de uma 11 terapêutica mais bem sucedida. Porém, a programação do cuidado não deve ser rígida e se limitar ao critério de controle metabólico. É importante considerar também os determinantes sociais de saúde, os princípios da Atenção Básica descritos na Política Nacional de Atenção Básica, as necessidades individuais, bem como as intercorrências clínicas.7 Quando investigado sobre o recebimento de orientações para os cuidados com o DM2, 87,35% dos pacientes relataram que já receberam e que entenderam as informações dadas. Apesar disso, como complemento das informações, materiais informativos impressos sobre a doença foram recebidos apenas por 22,79% dos participantes da pesquisa nas unidades básicas durante as consultas de enfermagem. Os achados também mostram que, apesar de grande parte dos diabéticos ter recebido e entendido as orientações, apenas 37,98% mantém a glicemia glicada controlada, abrindo margens a adequações nas formas educativas. Considerando que o impacto da educação é mínimo quando os pacientes não mudam seus padrões comportamentais, é imprescindível que os profissionais identifiquem os comportamentos inadequados para revertê-los. Conhecer as variáveis que possam estar interferindo na mudança de comportamento para o autocuidado é condição essencial dentro dos programas educativos voltados ao DM. 6,8 É preciso aqui ter uma abordagem compreensiva que leve em conta a complexidade, a multiplicidade e a diversidade da doença crônica. Dar liberdade ao paciente ou ao cuidador, de fazer opções de autocontrole é condição essencial para mudança efetiva de comportamento, sendo uma forma de reconhecer a responsabilidade e valorizar o papel do cliente na tomada de decisões.1,6-8 O autocuidado apoiado, por sua vez, ajuda o profissional a adotar uma postura de decidir junto com o paciente quais medidas são mais pertinentes e passíveis de execução, por meio de um processo colaborativo e não essencialmente prescritivo, 12 encoraja-os a assumir responsabilidade do seu próprio controle e acredita-se que somente assim as mudanças possam se concretizar. 3 No entanto, mudanças comportamentais significativas somente se fazem ao longo do tempo. Considerar e aceitar pequenos progressos, dando reforço positivo aos comportamentos de autocuidado realizados, ao invés de focalizar somente os que foram negligenciados, são atitudes que se deve desenvolver para ajudar nas adaptações desejadas do estilo de vida, considerando todo o processo eficaz do autocuidado apoiado. Além disso, esse mesmo processo deve sempre levar em conta os aspectos de observação da atividade, alimentação saudável, monitoramento, uso de medicação, resolução de problemas, enfrentamento saudável e redução de riscos, para o efetivo sucesso de suas ações.2,3,6 Por não ser uma metodologia em curto prazo, o autocuidado apoiado demanda de compreensão, construção conjunta de um plano de cuidados e desenvolvimento de um manejo clínico baseado numa mudança no estilo de vida que leve em considerações aspectos emocionais e visão de futuro. É necessária a formação, e atuação contínua, da equipe interdisciplinar em conjunto com os diabéticos e a sociedade civil organizada. A atenção primária à saúde deve ser capacitada para a realização de práticas educativas dialógicas e reflexivas que valorizem o nível cultural das pessoas. Adicionalmente, os profissionais envolvidos precisam intensificar as ações direcionadas ao aconselhamento e à comunicação, trazendo a possibilidade de melhores intervenções e gerenciamento. CONCLUSÃO O impacto conceitual das orientações voltadas aos cuidados com o DM2 a nível ambulatorial na atenção básica mostrou que, apesar das considerações dadas, o controle glicêmico dos diabéticos assistidos ainda anda longe do que se espera para prevenir complicações e evitar mortes prematuras. 13 Através de atividades de autocuidado apoiado, a enfermagem mantém como objeto epistemológico a prática ligada à atenção e às ações de cuidar/cuidado. No entanto, com o incremento progressivo dos fatores de risco aos hábitos/comportamentos da população, agravando-se em grupos com doenças crônicas, questionamentos são levantados frente aos verdadeiros vilões do mau gerenciamento dos diabéticos. São as orientações dadas que tem baixo poder no controle glicêmico? Ou seriam as más condutas nos hábitos de vida as principais responsáveis por níveis instáveis de glicose sanguínea? Os limites dos resultados desta pesquisa estão relacionados ao desenho transversal que não permite estabelecer associação entre causa e efeito, mas apontam para a necessidade de maximizar atividades que intervenham na prevenção de complicações do diabetes mellitus. Quando registradas corretamente, as orientações de enfermagem servem para comprovar as ações corretas dirigidas aos usuários e respaldar os profissionais acerca da prática adequada frente à enfermidade apresentada. No entanto, por conta da escassez de registro nos prontuários, não foi possível identificar as principais orientações estabelecidas pelos enfermeiros aos pacientes. Tais registros devem ser mais incentivados no intuito de traçar medidas padronizadas com base em evidências. Por fim, destaca-se a necessidade da contínua implementação de práticas pautadas no autocuidado apoiado, visto que essa importante ferramenta constitui-se como fundamental no controle, monitoramento e incremento ativo na manutenção da saúde de pacientes diabéticos. COLABORAÇÕES LIRA NETO JCG contribuiu para a concepção do projeto, análise e interpretação dos dados, redação e aprovação final da versão do artigo. COSTA RR contribuiu para a análise crítica e a redação do artigo. Sousa SS, Lopes HGNS, Brito AAO e Freitas RWJF 14 contribuíram para a concepção do projeto, revisão crítica relevante do conteúdo intelectual e aprovação final da versão do artigo. AGRADECIMENTOS A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí – FAPEPI REFERÊNCIAS 1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2014-2015. São Paulo: AC Farmacêutica, 2015. 2. Rezende Neta DS, Silva ARV, Silva GRF. Adherence to foot self-care in diabetes mellitus patients. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [cited 2015 August 25]; 68(1):111-6. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n1/0034-7167reben-68-01-0111.pdf 3. Silva IJ et al. Cuidado, autocuidado e cuidado de si: uma compreensão paradigmática para o cuidado de enfermagem. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2009 [cited 2015 August 25]; 43(3): 697-703. Available from: http://www.revistas.usp.br/reeusp/article/viewFile/40411/43389 4. Morais HCC, Gonzaga NC; Aquino PS; Araújo TL. Strategies for self-management support by patients with stroke: integrative review. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2015 [cited 2015 August 25]; 49(1): 136-43. 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