Baixar PDF

Propaganda
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
ABORDAGEM SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: AS
CONTRIBUIÇÕES DE UMA ATIVIDADE DE INTERVENÇÃO NO
PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM.
Taiara Alves Sousa¹, Renata Correia², Gabriele Marisco³
¹ Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas/UESB. Email:[email protected]
² Professora do Departamento de Ciências Naturais/UESB
Resumo
O trabalho objetivou analisar a influência de uma atividade de intervenção sobre os
conhecimentos dos alunos do 8° ano do ensino fundamental II de uma escola pública
sobre métodos contraceptivos DST’s e AIDS. O tema foi subdividido em métodos
contraceptivos, DST´s e AIDS. A metodologia envolveu observação, aplicação de
questionários e atividade de intervenção. A observação e o questionário evidenciou que
os alunos tinham informações equivocadas. A partir da atividade de intervenção,
estabeleceram-se discussões das situações-problemas, buscando aproximar o conteúdo
com a realidade vivenciada. Para avaliar a intervenção foi aplicado novamente o
questionário. Os resultados demonstraram que a atividade foi eficiente no processo de
aprendizagem e motivou o diálogo e a participação efetiva dos alunos, esclarecendo as
dúvidas de forma objetiva, desconstruído mitos e preconceitos. Também foi evidenciada
a necessidade de formação docente que habilite os profissionais para incorporar
educação sexual de forma significativa.
Palavras-chave: Aprendizagem; Sexualidade; Intervenção.
Introdução
A educação sexual trata-se de um tema transversal podendo ser trabalhado em
várias áreas do conhecimento de acordo os Parâmetros Curriculares Nacionais. A
escola, sendo na atualidade um espaço privilegiado para a educação é orientada a
divulgar, produzir conhecimentos e sensibilizar os alunos sobre os métodos de
prevenção, possibilitando aos professores a tarefa de orientação sexual em Doenças
Sexualmente Transmissíveis, como AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida)
(SUPLYCY et, al, 2000).
Ensinar os alunos sobre a sexualidade no âmbito escolar é um desafio constante
por conta de vários fatores como: crescentes índices de gravidez na adolescência,
infecções pelo HIV (Vírus da Imunodeficiência Adquirida) e AIDS, falta de material
2908
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
didático e dificuldades na formação dos professores. Serafim & Leal (2000) apontam
que a Educação Sexual torna-se cada vez mais urgente nestas idades, uma vez que a
sexualidade adquire neste momento especial do desenvolvimento dos sujeitos uma
grande importância e especificidade. Oliveira-Campos et al. (2014) reforça que é
necessário iniciar a abordagem dessa temática ainda no ensino fundamental para que os
adolescentes se preparem melhor para a iniciação da vida sexual, com maior autonomia
e uso de métodos contraceptivos.
A escola pode ser para muitos estudantes o único ambiente onde terão contato
com o assunto sexualidade. Maio (2012) ressalta que a escola tem por função social a
transmissão da aprendizagem formal, científica e organizada historicamente, mas ainda
apresenta inúmeras dificuldades em trabalhar a temática da sexualidade, em todos os
aspectos. Nogueira et al. (2016) considera relevante e pertinente a abordagem de
educação sexual na escola e destaca que poder ser utilizado diferentes estratégias para
possibilitar o aprendizado.
Segundo Aquino & Martelli (2012), é de responsabilidade do professor
problematizar a educação sexual, tornando o espaço escolar um local de promoção da
saúde sexual. Neste sentido, Pimenta & Lima (2010) propõem que a formação de
professores seja compreendida como superação de uma formação apenas no âmbito de
seus fundamentos teóricos, se configurando como uma formação acadêmica voltada aos
temas transversais e não somente aos conteúdos biológicos, para que os futuros
profissionais da educação proporcionem aos seus alunos conteúdos relacionados à
realidade escolar e experiências pessoais.
Dessa forma, faz-se necessário capacitar os professores através da realização
de cursos sobre as temáticas da sexualidade, proporcionando aos professores auxílio nas
explicações em sala de aula, e no aporte à materiais científicos sobre o tema
(NOGUEIRA et al 2016).
Figueiró (2001) considera que o resultado, qualitativamente positivo, só será
obtido se o trabalho for feito com alegria, satisfação e espontaneidade e, para isto, há
que se começar por sentir que o trabalho é seu. Portanto, é importante que os docentes
se mantenham informados e atentos as dúvidas dos discentes, abordando o tema de
forma prazerosa e sem preconceitos ou timidez.
Um trabalho de educação sexual significa problematizar a sexualidade, não no
sentido de encará-la como problema a ser resolvido, mas de questionar as evidências,
apresentar um leque de conhecimentos para que a sexualidade seja compreendida como
2909
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
um aspecto predominantemente histórico-cultural, e para que os discursos normativos
que regem as construções de nossas imagens do masculino e do feminino, bem como as
diversas imagens de ter prazer com o próprio corpo e/ ou com o corpo do/a outro/a
sejam desconstruídos, permitindo novas vivências acerca da sexualidade (DINIS &
LUZ, 2007).
Dessa forma, conhecer a realidade dos alunos, suas dificuldades e expectativas
contribuem significativamente para desenvolver um trabalho pedagógico sistematizado
e eficiente. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo analisar a influência de uma
atividade de intervenção sobre os conhecimentos dos alunos do 8° ano do ensino
fundamental II de uma escola pública sobre métodos contraceptivos DST’s e AIDS,
verificando a opinião dos discentes sobre o papel da escola na abordagem sobre
Educação Sexual e sua importância no entendimento dos métodos contraceptivos e a
AIDS. Além disso, verificou-se o conhecimento prévio dos alunos sobre métodos
contraceptivos e DST’s, identificando os possíveis equívocos e lacunas dos alunos nas
suas respostas sobre o tema e o reconhecimento de todos os aspectos evidenciados na
prática docente, a partir do que apresentam os alunos no desenvolvimento das aulas.
Metodologia
O trabalho foi realizado com alunos do 8° ano do Ensino Fundamental II de uma
escola pública e Vitória da Conquista-Ba, com faixa etária entre de treze á dezesseis
anos de idade. A pesquisa do tipo pesquisa-ação, que visa uma interação direta com o
sujeito na busca de um tipo de conhecimento, com vista a intervir nos resultados
(THIOLLENT, 2009).
Os dados foram coletados em duas etapas:
1. Observação e aplicação de questionário
Em um período de sessenta dias foi realizado observação das aulas da professora
regente onde estava sendo abordada a temática Educação Sexual. Os fatos observados
foram registrados em caderno de bordo. Após o período de observação foi aplicado um
questionário com nove questões, as quais tiveram como objetivo de verificar o
conhecimento dos alunos acerca do tema abordado. O questionário foi distribuído para
cada aluno responder individualmente.
As informações obtidas a partir dos registros de observação dos dados coletados
através dos questionários forneceram subsídios para o desenvolvimento da atividade de
intervenção baseada nas necessidades e dificuldades dos discentes.
2910
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
2. Intervenção
O processo de intervenção teve duração de cinco aulas, sendo desenvolvida
através de aula expositiva dialogada. Nesta etapa foram realizadas discussões para o
esclarecimento de perguntas referentes ao assunto Sexualidade, que foi dividido três
sub-temas: métodos contraceptivos, DST´s e AIDS. A metodologia adotada favoreceu a
criação de um ambiente propício para a expressão de dúvidas e curiosidades frequentes
nessa faixa etária. Vale ressaltar que neste momento era estimulado e valorizado a
participação dos alunos. Foram utilizados modelos anatômicos do Sistema Reprodutor
Masculino e Feminino, bem como métodos anticonceptivos para auxiliar na discussão
do conteúdo.
A atividade se iniciou como a distribuição de fichas com situações-problemas,
tendo em vista, a possibilidade dos sujeitos em grupos se posicionarem oralmente
indicando possíveis soluções aos problemas evidenciados nas situações descritas.
Ao passo que as discussões eram realizadas, os aspectos mais marcantes foram
anotados no caderno de bordo, tendo a preocupação de não se distanciar das falas e
obter as informações essenciais que pudessem servir como argumentos para o confronto
com as questões do questionário e as observações feitas durante o período em sala de
aula.
As questões problemas abordadas em sala foram:
a) Uma menina de 9 anos, é portadora do HIV. Alguns pais de colegas da
escola descobriram esse fato e procuraram a administração escolar, pedindo
que a menina fosse impedida de frequentar as aulas, já que ela representa
risco para as colegas. A direção da escola informou que qualquer
discriminação á menina seria ilegal, mas as famílias ameaçaram não
mandar mais filhos para a aula se continuasse a frequentar a escola.
b) Uma menina de 16 anos, já teve várias relações sexuais sem camisinha com
o namorado. Informado sobre os riscos de contaminação por DST e AIDS,
ele quer procurar um serviço médico, mas está constrangida.
c) A e B são um casal de adolescentes que pensam em ter maior intimidade
em seu namoro, mas não sabem como fazer para não correr riscos de uma
gravidez indesejada ou de contrair uma DST.
d) Tenho 16 anos. Eu e meu namorado nunca transamos, mas ele fica
insistindo. Ele me disse que e eu não transar com ele, ele vai arrumar outra
namorada. O que eu faço?
2911
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
e) Tenho 18 anos. Já fiz sexo com a minha namorada umas vezes e depois ela
sempre fica preocupada, com medo de engravidar. Eu falo para ela que isso
não é assim, que é muito azar engravidar sem querer, ainda mais quem
transa de vez em quando. É ou não é?
f) Minha prima, de 15 anos, quer transar com o namorado. Ela quer que seja
de camisinha, mas morre de vergonha de comprar ou de ir até o Centro de
Saúde para pedir. Como faz?
Os dados obtidos foram analisados de forma descritiva confrontando as
respostas dos questionários e das observações anotadas no caderno de bordo.
3. Reaplicação dos questionários
Após a execução da intervenção foram distribuídos novamente os questionários
com nove questões (anexo) para os alunos, a fim de verificar os resultados da atividade.
As respostas dos questionários foram discutidas em porcentagens analisando
cada resposta de antes e depois da intervenção e associando as mesmas com o
referencial teórico utilizado para estudo e realização do presente trabalho.
Resultados e Discussão
Conhecendo a sala de aula: breve narrativa da observação direta no campo de investigação
Com a observação percebeu-se a dificuldade dos discentes em entender o
conteúdo teórico, ficou evidente que as aulas eram realizadas de forma distante da
realidade dos alunos, sendo trazidos para a sala apenas o conteúdo científico. As aulas
eram expositivas com a exibição de slides. Esse distanciamento entre os conteúdos e os
anseios dos alunos pode justificar a falta de interesse e as conversas paralelas.
Lira & Jofili (2010) relacionou o desenvolvimento de aulas meramente
expositivas com o fato de professores desconhecerem a proposta de tema transversal
para a temática sexualidade, relatando ainda a falta de preparo e insegurança na
abordagem do tema. Zanatta et al. (2016) ainda afirma a necessidade transversalidade
sobre o ensino da educação sexual entre as diversas disciplinas, se tornando de fato como
componente curricular.
Segundo Koller & Contim (2002), tratar apenas dos aspectos biológicos da
sexualidade é reduzi-la ao mecanismo reprodutivo e esvaziá-la de afeto. A boa
formação dos docentes, a desmistificação dos tabus da sociedade e a falta de timidez são
2912
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
aspectos de extrema importância na abordagem correta da temática propiciando a
aprendizagem significativa.
Foi possível observar que a idade da maioria dos alunos era avançada para a
série em questão, e que nas conversas paralelas durante as aulas da professora regente
era comum a abordagem de assuntos como namoro, sexo e relacionamentos. Ficou
evidente o interesse pela temática, bem como a timidez em manifestar as dúvidas e
curiosidades.
O período de observação e convivência com alunos foi imprescindível para a
identificação das lacunas presentes no conteúdo, e permitiu conhecer a relação alunoaluno e alunos-professora. Lakatos & Marconi (2002) afirmam que é especialmente útil
o uso da observação quando se procura evidências a respeito do objeto investigado
quando os indivíduos não possuem consciência de elementos que, de alguma forma
orientam seu comportamento.
Conhecimento prévio dos alunos sobre a temática: o que revela o questionário?
O questionário evidenciou as dificuldades dos alunos sobre a temática mesmo
após o assunto já ter sido abordado pela professora regente, demonstrando a necessidade
da retomada do conteúdo.
Sobre os métodos utilizados para prevenção da DST e AIDS, 80% dos alunos
colocaram a pílula como método preventivo, dessa forma foi evidenciado a confusão
entre a prevenção da gravidez e a prevenção das DST´s e AIDS. Martins & Cols. (2006)
relatam que a compreensão da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis entre
os adolescentes é escassa e insuficiente para promover comportamentos sexuais seguro.
Silva (2015) também verificou em seu estudo que o conhecimento dos alunos
sobre DSTs é superficial, destacando que isso se deve provavelmente ao fato do tema
não ser trabalhado e forma mais aprofundada.
Em relação à forma de contágio do vírus HIV, 70% responderam que a urina
de um infectado pode contaminar um indivíduo. Isso demonstra que ainda possuem
dúvidas sobre as formas de contaminação da doença, pois colocam a urina como um
fator de risco para a transmissão do vírus. Sampaio (2011) diz que o nível de
informação sobre DST/AIDS, principalmente, o desconhecimento das formas de
infecção é o motivo para a não prevenção e, consequentemente, comprometimento da
saúde dos adolescentes.
2913
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
Oliveira-Campos (2014) reforça que a escola importante na promoção da saúde
sexual e se configura como instrumento valioso na prevenção da gravidez indesejada e
DSTs em adolescentes.
Os alunos relataram o conceito de sexo e sexualidade de forma correta, isso se
deve talvez ao fato desses conceitos serem bastantes citados na atualidade e serem
comuns no seu cotidiano. Segundo Heilborn (2013), uma das primeiras formas de
classificação do mundo social diz respeito ao sexo das pessoas, dessa forma é possível
perceber a relação dos adolescentes com essas conceituações.
Quando abordado sobre a forma de contaminação do vírus por sexo oral os
alunos se mostraram confusos, e a maioria considerou que o sexo oral é totalmente
seguro, pois o vírus da AIDS não é transmitido pela saliva. Essa resposta equivocada
pode ser justificada pelo fato da AIDS ser vinculada ao sexo com a penetração, tanto
nas explicações em sala e como nos meios de comunicação.
Relacionando o papel da escola e a educação sexual, 75% dos discentes
relatam que o assunto não é falado de forma clara e que há a falta de materiais didáticos
necessários para uma melhor explicação dos conteúdos, como pode ser observado nas
falas abaixo:
Só falam do sistema reprodutor e outras poucas coisas (Aluno A)
Os professores não falam muito sobre a Educação Sexual (Aluno B)
Foi observado que na escola há materiais didáticos, como modelos anatômicos
dos sistemas reprodutores, só que estes não utilizados pela docente, a qual relatou não
levar esse material para sala de aula por se sentir constrangida. Segundo Moreira
(2006), o ensino deve ser acompanhado de ações e demonstrações e, sempre que
possível, deve dar aos alunos a oportunidade de agir (trabalho prático). Portanto,
podemos inferir que a partir da visualização de modelos e dos métodos contraceptivos
os alunos mantêm uma intimidade com conteúdo de forma concreta.
Nogueira et al. (2016) ressalta que materiais didático-pedagógicos são
necessários para efetivação da educação sexual na escola e que devem ser incorporados
na política públicas de formação e capacitação docente.
Neste contexto, Krasilchik (2004) destaca que a biologia pode ser uma das
disciplinas mais relevantes e merecedoras da atenção dos alunos, ou uma das disciplinas
mais insignificantes e pouco atraentes, dependendo do que for ensinado e de como isso
2914
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
for feito. Portanto estratégias e materiais didáticos são instrumentos eficientes para a
aprendizagem significativa.
Ao opinarem sobre os métodos contraceptivos e os quais preveniam as DST’s
eles se confundiam, colocando anticoncepcionais como métodos de prevenção das
doenças e pouco sabiam sobre outros métodos contraceptivos, sendo o de maior escolha
nas respostas a camisinha masculina, descartando a camisinha feminina. Espejo (2003)
relata que o conhecimento inadequado sobre as diversas possibilidades contraceptivas
atua como um fator de resistência ao uso. Os obstáculos existentes para o uso
consistente dos métodos contraceptivos, especialmente para as adolescentes mais
jovens, incluem as pressões sociais e os papéis de gênero (Cabral, 2003).
Atividade de intervenção e suas contribuições no aprendizado do aluno
A utilização das questões problemas permitiu a participação ativa dos alunos,
sendo muito eficiente para a expressão das opiniões e evidenciou a importância de
relacionar a temática com a realidade vivenciada.
Os alunos conversaram bastante entre si, expressando interesse sobre as
perguntas apresentadas e se mostraram bem tranquilos e as manifestações ocorriam de
forma espontânea. Dessa maneira, o trabalho foi conduzido sem constrangimento e com
respeito à individualidade dos participantes, onde foi possível a expressão de dúvidas e
curiosidades de acordo o cotidiano de cada aluno. Apesar das meninas serem mais
expressivas sobre as questões citadas, os meninos também expôs suas ideias de forma
natural e significativa.
Esse espaço possibilitou discussões sobre gravidez e sexo na adolescência. As
situações-problemas
possibilitaram
a
exposição
de
aspectos
fisiológicos
e
comportamentais e os alunos se mostraram preocupados e conscientes. Também foi
perceptível a valorização do diálogo e do respeito à individualidade quando se trata do
início da vida sexual. Ao decorrer da aula também foram respondidas diversas
perguntas sobre ejaculação, ereção, sexo entre os homossexuais, sempre sendo
evidenciada a importância da utilização do preservativo. Esse fato demonstrou uma
relação de confiança e respeito entre os sujeitos envolvidos no processo de ensinoaprendizagem.
Para Silva (2015) a intervenção tem efeito positivo na apropriação de novos
conhecimentos e defende que quando esse tema é abordado de forma diferenciada, por
2915
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
exemplo, através de dinâmica de grupo, desperta o interesse do aluno favorecendo o
aprendizado.
Considerando o caso de um adolescente que está em situação de risco por ter
relações sexuais sem preservativo, foi perguntado sobre o acesso desse menino aos
meios de saúde. Os alunos relataram que ele deveria procurar um médico, mas foi
possível notar que eles não tinham conhecimento sobre o Centro de Apoio e atenção a
Vida (CAAV), localizado na cidade de Vitória da Conquista-BA, o qual realiza exames
relacionados à DST/AIDS de forma gratuita. Os alunos se mostraram surpresos e
curiosos para saber sobre os serviços prestados sobre o Centro. Dessa forma, foi
informado a todos sobre o trabalho realizado pela unidade, local e horário de
funcionamento.
A utilização dos modelos anatômicos do sistema reprodutor masculino e
feminino possibilitou maior participação dos alunos, o que pode ser notado a partir do
envolvimento dos sujeitos através de perguntas e manuseio do material. Foi possível
abordar sobre a forma correta de utilização do preservativo feminino e masculino.
Notou-se que a turma não conhecia o preservativo feminino e consequentemente sua
forma de uso.
De acordo Santana et al. (2015), a abordagem de conteúdos de forma
interdisciplinar, contextualizada e significativa, favorece o desenvolvimento de
habilidades e competências necessárias tanto na vida escolar quanto pessoal.
Quanto aos preconceitos existentes sobre pessoas soropositivas os alunos
discutiram de forma coerente, ressaltando o combate a essa prática, se mostrando
maduros ao abordar a questão.
Ficou evidente que a intervenção possibilitou um melhor aprendizado sobre o
conteúdo abordado. Houve um número maior de respostas corretas depois da
intervenção e alunos demostraram terem mais esclarecimento sobre as formas de
contaminação e prevenção das DST’s e relacionaram o preservativo como único e
principal método para prevenção das DST’s e AIDS.
Silva (2015) também evidenciou que a intervenção trouxe resultados mais
satisfatórios e ainda despertou a curiosidade dos alunos sobre a temática.
Considerações Finais
O tema Sexualidade, DST´s e AIDS são trabalhados na escola, entretanto de
forma abstrata e superficial. O conteúdo discutido em sala de aula se restringe muitas
2916
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
vezes a conceitos meramente biológicos, o qual por si só não supri as carências e
curiosidades dos alunos sobre o tema. Notou-se a ausência da contextualização dos
conceitos à realidade vivida pelos adolescentes e a necessidade de abordar a Educação
Sexual de forma significativa, sendo o aluno sujeito ativo do processo de aprendizagem.
Novas metodologias podem contribuir para um aprendizado mais significativo e
para a prevenção desses adolescentes contra essas doenças. Através do diálogo aberto e
atentando para as necessidades dos alunos, foi possível abordar a temática livre de
preconceitos, mitos e constrangimentos. Dessa forma, o educador no decorrer da
explicação do assunto deve se mostrar seguro e lembrar-se que apesar desse tema ser
considerado um tabu para muitos indivíduos, é um conteúdo de extrema importância
tanto para vida estudantil quanto para a vida pessoal dos alunos.
Vale ressaltar a necessidade de uma formação docente adequada nas
universidades, onde os professores de ciências e biologia devem ter o contato com o
tema ainda na sua carreira acadêmica, desenvolvendo habilidade e metodologias para
abordar o conteúdo nas escolas de forma concreta e significativa.
A intervenção se mostrou eficiente no processo de aprendizagem, propiciando
um espaço para a construção do conhecimento com um olhar mais aprofundado sobre a
temática, ultrapassando as informações meramente conceituais.
Referências
AGUIAR, K. F; ROCHA, M. L. Práticas Universitárias e a Formação Sócio política.
Anuário do Laboratório de Subjetividade e Política, nº 3/4, 1997, p. 87-102.
AQUINO, C; MARTELLI, A. C. Escola e educação Sexual: uma relação necessária.
Seminário de pesquisa em educação da região sul. Unoeste, 2012.
CABRAL,C. S. Contracepção e gravidez na adolescência na perspectiva de jovens
pais de uma comunidade favelada do Rio de Janeiro. Caderno de Saúde Pública. Rio
de Janeiro, v. 19, p. 283-292, 2003.
DINIS, N; LUZ, A. A. Educação Sexual na Perspectiva Histórico Crítica. In:
Educar, Curitiba: UFPR: n.30, 2007, p.77-87. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/er/n30/a06n30.pdf. Acesso em 30 de mar de 2009.
ESPEJO, X; TSUNECHIRO, M.A; OSIS, M.J.D; DUARTE, G.A; BAHAMONDESE,
L; SOUSA, M.H. Adequação do conhecimento sobre métodos anticoncepcionais
entre mulheres de Campinas, São Paulo. Revista Saúde Pública; v. 37(5), p.583-90,
2003.
FIGUEIRÓ, D. M.N. Educação Sexual: Educação Sexual: retomando uma proposta,
um desafio. 2.ed. Londrina: UEL,2001.
2917
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
KOLLER, S.H; CONTINI, M.L.J. Adolescência e psicologia: concepções, práticas e
reflexões criticas. Rio de Janeiro, 2002.
KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2004. LAKATOS, Eva M. & Marconi, Marina de A. Técnicas de
pesquisa. In: ________. Técnicas de Pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas. 2002, Cap. 3, p.
87-92.
LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Técnicas de pesquisa. In: ________. Técnicas de
Pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas. 2002, Cap. 3, p. 87-92.
LIRA, A.; JOFILI, Z. O tema transversal orientação sexual nos PCN e a atitude dos
professores: convergentes ou divergentes. Ensino, Saúde e Ambiente, Niteroi, v. 3, n.
1, p. 22-41, 2010. Disponível em
<http://www.ensinosaudeambiente.uff.br/index.php/ensinosaudeambiente/article/view/1
05/104>. Acesso em: 15 jan. 2015.
MAIO, E. R. Gênero, sexualidade e educação: questões pertinentes à Pedagogia. In:
CARVALHO, E. J. G; FAUSTINO, R. C. (Orgs.). Educação e Diversidade Cultural.
2 ed. Maringá: Eduem, 2012. p. 209-222.
MARTINS, L. B. M; COSTA-PAIVA, L. H. S; OSIS, M. J. D; SOUZA, M. H; PINTONETO, A. M; TADINI, V. (2006). Fatores associados ao uso de preservativo
masculino e ao conhecimento sobre DST/AIDS em adolescentes de escolas públicas
e privadas do Município de São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 22, 315323.
MOREIRA, M. A. A teoria da aprendizagem significativa e sua implementação em sala
de aula. Brasília: Universidade de Brasília, 2006.
NOGUEIRA, N.S; ZOCCA, A. R; MUZZETI, L. R; RIBEIRO P. R. M. Sala de aula
pelos educadores. Centro Universitário Central Paulista – UNICEP. 2 Universidade
Estadual Paulista –UNESP. Artigo submetido em agosto/2014 e aceito em março/2016.
DOI: 10.15628/holos.2016.2302.
OLIVEIRA-CAMPOS, M; NUNESI, M.L; MADEIRA, F.C; SANTOS, M.S;
BREGMANN, R.S; MALTA, D.C; GIATT, L; BARRETO, S.M. Comportamento
sexual em adolescentes brasileiros, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE
2012). Revista brasileira epidemiológica. Suppl PeNSE , p.116-130, 2014.
PIMENTA, S. G. e LIMA, M.S. L. Estágio e docência. 5ª Ed. São Paulo: Cortez, 2010.
PISCALHO, I; SERAFIM, I; LEAL, I. Representações sociais da educação sexual em
adolescentes. Actas do 3.º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde. Lisboa: ISPA,
2000.
SAMPAIO, J; SANTOS, R.C, CALLOU, J.L.L; SOUZA, B.B. Ele não quer com
camisinha e eu quero me prevenir: exposição de adolescentes do sexo feminino às
DST/AIDS no semi-árido nordestino. Saúde soc. [Internet] 2011, 20(1). Disponível:
<http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v20n1/19.pdf>. Acesso em 01 mar 2013.
2918
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
SILVA, R. Quando a escola opera na conscientização dos jovens adolescentes no
combate às DSTs. Educar em Revista. Curitiba, Brasil, n. 57, p. 221-238, jul./set. 2015
SUPLICY, M. Sexo se aprende na escola. São Paulo: Olho d’Água, 2000.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 15 ed. São Paulo: Cortez, 2009.
ZANATTA, L.F; MORAES, S.P; FREITAS, M.J.D; BRÊTAS, J.R.S. A educação em
sexualidade na escola itinerante do MST. Educação Pesquisa. São Paulo, v. 42, n. 2, p.
443-458, abr./jun. 2016.
ANEXO
Questionário
Questões somente com uma alternativa
1. Marque o contraceptivo adequado para a prevenção de DST’S e AIDS?
a) Pílula
b) Preservativo (camisinha)
c) Espermicida.
2. Quais são as quatro vias de possível transmissão do vírus HIV?
a) Drogas injetáveis, esperma, líquido vaginal e saliva.
b) Esperma, líquido vaginal, sangue, leite materno.
c) Esperma, líquido vaginal, sangue e urina
3. As palavras sexo e sexualidade têm:
a) Significados iguais. Diz-se sexualidade em vez de fazer sexo para não
parecer tão mal.
b) Significados diferentes: todas as pessoas têm sexualidade desde o nascimento
até à morte. Sexo é um ato necessário para a reprodução.
c)Significados diferentes mas é uma complicação desnecessária: na prática falase é de sexo.
4. As chances de se contrair uma DST através do sexo oral são menores do que
sexo com penetração?
a) Não. O sexo oral é totalmente seguro, pois o vírus da AIDS não é transmitido
pela saliva.
b) Sim. O fato é que nenhuma das relações sexuais sem proteção é isenta de risco,
algumas DST têm maior risco que outras. Independente da forma praticada, o sexo
deve ser feito sempre com camisinha.
c) Não. Tanto no sexo oral como no sexo com penetração os ricos de se contrair os
vírus são iguais.
2919
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
5. De que forma é possível contrair o vírus HIV?
a) pelo abraço ou aperto de mão
b) fazendo sexo sem proteção ou compartilhando seringas
c) bebendo água no mesmo copo de alguém que tem vírus
6. Em sua opinião, a escola cumpri o seu papel no esclarecimento sobre o que é
educação sexual?
a) Não, os professores não discutem sobre o tema.
b) Às vezes, o assunto não é falado de forma clara e falta material didático.
c) Sim, os professores explicam tudo sobre o assunto sexualidade e usa de
mecanismos favoráveis para o seu entendimento.
Questões que podem conter várias alternativas
7. Sobre quais métodos você tem conhecimento?
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
i)
Camisinha masculina
Anticoncepcionais Orais Combinados (pílula)
Anticoncepcional Injetável
Dispositivo Intra-Uterino (DIU)
Diafragma
Espermicida
Camisinha Feminina
Coito Interrompido
Método do Ritmo ou Tabelinha
8. Qual (quais) o(s) método(s) anticoncepcional (s) para a prevenção contra DST?
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
i)
Camisinha masculina
Anticoncepcionais Orais Combinados (pílula)
Anticoncepcional Injetável
Dispositivo Intra-Uterino (DIU)
Diafragma
Espermicida
Camisinha Feminina
Coito Interrompido
Método do Ritmo ou Tabelinha
9. O que você aprendeu sobre educação sexual na escola?
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
2920
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
Download