Eletromagnetismo I Prof. Dr. R.M.O Galvão - 2◦ Semestre 2014 Preparo: Diego Oliveira Aula 21 Energia no Campo Magnético Este assunto é discutido no livro texto, seções 7.2.3 e 7.2.4, de uma forma não satisfatória do ponto de vista físico. Primeiro é introduzido o conceito de indutância e depois a energia magnética é calculada através do cálculo da potência em um circuito indutivo. Este método não só introduz um argumento externo à Teoria Eletromagnética, com utiliza a definição de indutância a partir do conceito de fluxo atravessando um circuito, o que é correto mas não de aplicabilidade geral. Como veremos, a forma mais geral de definir indutância é a partir da expressão da energia magnética, que vamos derivar. Adotamos o formalismo apresentado na referência P. Lorrain and D. R. Corson Electromagnetic Field and Wares, 2nd Edition, p.351 Consideremos uma situação em que aplicamos uma fonte em um condutor isolado, fazendo a densidade de corrente no meio subir lentamente ao valor ~ j f a partir de zero. Consideraremos um pedaço d ` do condutor, de área da seção reta d S, como indicado na figura. Suponhamos que o condutor tenha uma resistividade η. Então, para que a corrente circule, é necessário um campo elétrico na direção da cor- 1 rente dado por ~ = η~ E jf Mas esta corrente cria um campo magnético que também varia com o tempo. Este campo também cria um campo elétrico, além do criado pela fonte, através da Lei de Faraday ~ =− ∇×E ~ ∂B ∂t ~ = ∇× ~ Escrevendo B A, vimos que o campo elétrico pode ser escrito como ~ = −∇φ − E ∂~ A ∂t −∂ ~ A/∂t é a contribuição não conservativa do campo, criada pela variação temporal do campo magnético, e −∇φ a contribuição eletrostática. Estas duas componentes têm que ser tais que a resultante dá o campo elétrico na direção da densidade de corrente, como indicada na figura. Se multiplicarmos −∇φ escalarmente por d ~ `, obtemos a diferença de voltagem entre os extremos do condutor, que é mantida pela fonte externa. V = −∇φ · d ~ ` A quantidade de carga que a fonte injeta no condutor, por unidade de tempo, é dada por dq = jf dS dt Como o trabalho realizado pela fonte é igual à carga levada de um lado a outro multiplicado pela voltagem, temos que a potencia gasta pela fonte para transportar todas as cargas no condutor é dada por dW dt dW ∴ dt Z h i j f d S −∇φ · d ~ ` Z # Z " # ~ ~ ∂ A ∂ A ~+ ~+ j f d Sd ~ `· E = ~ jf · E dτ ∂t ∂t = = " onde usamos o fato que ~ j f é paralelo a d ~ ` para escrever 2 j f d Sd ~ `=~ j f d Sd ` = ~ jf dτ Então a potência fornecida pela fonte externa é dada por dW = dt Z ~ ~d τ + jf ·E Z ∂~ A ~ · jf dτ ∂t A primeira integral é a potência dissipada por perdas ôhmicas, Z ~ ~d τ = η jf ·E Z j f2 d τ A segunda integral tem que ser então uma potência não dissipada; de fato é a potência armazenada no campo magnético criado pela corrente, dWm = dt Z ∂~ A ~ · jdτ ∂t [tiramos o subscrito f em ~ j f porque esta expressão é geral]. A potência armazenada no campo magnético é denominada Energia Indutiva (porque está associada ao campo elétrico induzido pela variação temporal do campo magnético), ou, em circuítos elétricos, potência reativa. Expressão da Energia Magnética em Termos do Campo Magnético Para escrever esta expressão da potência em termos do campo magnético, vamos considerar correntes variando lentamente com o campo, de forma que a corrente de deslocamento de Maxwell não precisa ser considerada (o seu efeito sera considerado posteriormente). Então, pela Lei de Ampère, podemos escrever ~ =~ ∇×H j e dWm = dt Z ¢ ∂~ A ¡ ~ dτ · ∇×H ∂t 3 ~) = B ~ · (∇ × ~ ~ ), temos Usando a relação vetorial ∇ · ( ~ A ×B A) − ~ A · (∇ × B dWm = dt Z ! à ! Z ∂~ A ∂~ A ~ · ∇× ~ dτ H dτ − ∇ · ×H ∂t ∂t à ~ em termos de ~ Aplicando a expressão de B A e o teorema de Gauss, obtemos dWm = dt Z ~ ∂B ~· H dτ − ∂t ! Z à ~ ∂A ~ · n̂d S ×H S ∂t Mas como a integrais estão agora expressas em termos de campos e não da corrente, temos que estendê-las em todo o espaço onde houver campo. Assim, na segunda integral temos que tomar S → ∞ e, supondo que não existam campos de radiação (isto será visto posteriormente), temos que |H | ∼ 1 r3 (campo de um dipolo) ! Z à ~ 1 ∂A ~ · n̂d S ∼ ×H →0 ⇒ r3 S ∂t r →∞ ¯ ¯ ¯ ∂~ ¯ 1 A ¯ ¯ ∴¯ ¯∼ 3 ¯ ∂t ¯ r e a expressão para a potência armazenada no campo magnético fica dWm = dt Z ~· H ~ ∂B dτ ∂t ~ eB ~ diferem apenas de um fator independente do tempo Mas como H à ! ~ 1 ~ ~ ∂B ∂B ∂H 1 ∂ ~· ~· ~· ~ ·B ~) H = H +B = (H ∂t 2 ∂t ∂t 2 ∂t Portanto · Z ¸ dWm d 1 ~ ~ = H · Bdτ dt dt 2 e a expressão para a Energia Magnética fica Z ~ ~ B ·H Wm = dτ 2 4 ou Z Wm = B2 dτ 2µ ~ = µH ~. em materiais em que B Exemplo: Energia magnética armazenada num solenóide longo, por unidade de comprimento. B = µ0 N i B 2 = µ20 N 2 i 2 1 ∴W = 2µ0 Z µ20 N 2 i 2 d τ = µ0 N 2 i 2 2 πr ` 2 W= π µ0 N 2 i 2 r 2 ` 2 W π = µ0 N 2 i 2 r 2 ` 2 5 Relação com a Energia Armazenada em um Indutor Como foi visto em Física III, a autoindutância de um circuito é definida como a razão entre o fluxo magnético que enlaça o circuito e a corrente que flui no circuito L= φm ; I φm = Z S ~ · n̂d S B No caso de um circuito simples, formado por um fio de pequena área da seção transversal, a definição de área através da qual se deve calcular o fluxo magnético é usualmente simples. No entanto, isto não acontece com circuitos mais complexos, como o exemplificado a seguir. Nestes casos, é mai fácil calcular a indutância (pelo menos numericamente) a partir da expressão da energia magnética nela armazenada. Consideremos, como exemplo, o circuito RL mostrado a seguir, alimentado com uma tensão V que pode variar com o tempo. A equação para o circuito é V = RI +L dI dt Multiplicando esta equação por I , temos µ ¶ dI d LI 2 2 V I = R I + LI = RI + dt dt 2 2 O termo do lado esquerdo desta equação é a potência total instantânea fornecida pela 6 fonte ao circuíto, P (t ) = V I O primeiro termo é a potência ôhmica dissipada no resistor por efeito Joule PΩ = R I 2 Portanto o terceiro termo também representa uma potência; de fato é a potência armazenada no campo magnético produzido pela corrente I que circula no indutor µ ¶ d LI 2 Pm = dt 2 Desta forma, podemos escrever a energia magnética armazenada no indutor como Wm = LI 2 2 Naturalmente esta energia tem que ser a mesma que a calculada diretamente pelo campo, ou seja, LI 2 = Wm = 2 Z B2 dτ 2µ0 donde 1 L≡ 2 I Z B2 dτ µ0 Nesta expressão, a integral sobre B 2 tem que ser em todo o espaço onde o campo produzido pela indutância seja diferente de zero, e não somente em seu interior! 7 Energia Dissipada no Ciclo de Histerese Consideremos uma bobina alimentada por uma fonte de corrente alternada, V (t ) = V0 cos(ωt ), com um núcleo de ferro, do tipo utilizado em transformadores como representado na figura. Se o ferro estiver desmagnetizado quando a fonte for ligada, o campo B começa a subir monotonicamente com H , seguindo a linha Oa, mostrada na figura 2. No ponto a, a corrente na bobina atinge o máximo e começa a decrescer. Ao invés do valor do campo B seguir a curva Oa, ele segue a curva abc. No ponto b, H = 0 mas B 6= 0. Este valor do campo é denominado campo remanente. A partir do ponto b, H troca de sinal e começa a diminuir, com B decrescendo seguindo a curva bc. No ponto c, o campo H atinge seu máximo valor negativo e começa a diminuir em módulo, passando por zero no ponto d e crescendo positivamente até o ponto a, novamente. O valor do campo B cresce novamente com H , mas agora ao longo do percurso cd a. Portanto, em regime permanente, os campos B e H variam ao longo da Curva de Histerese, correspondendo ao percurso cd abc. Vamos agora calcular a variação de energia magnética, por unidade de volume, em um ciclo de histerese, A variação temporal desta energia é dada por d wm d B2 B dB = = dt d t 2µ0 µ0 d t ou ~ d wm ∂B ~· =H dt ∂t Então a variação da energia magnética du- 8 rante um ciclo é dada por T Z 0 d wm dt = dt T Z ~· H 0 ~ dB = ∆w m dt ou ∆w m = Z 0 T /4 ~ ∂B ~· dt + H ∂t >0 Z 3T /4 T /4 ~ ∂B ~· H dt + ∂t Z <0 T 3T /4 ~· H ~ ∂B dt ∂t >0 ~ /∂t é negativo porquê B ~ está diminuindo com o tempo no perNa segunda integral ∂B ~ /∂t )d t = d B ~ , podemos escrever curso abc. Por outro lado, como (∂B ∆w m = Z d a ~ · dB ~− H A Z c a ~ · dB ~+ H B Z c d ~ · dB ~= H A Z c a ~ · dB ~− H A Z c a ~ · dB ~ H B Invertendo os eixos H e B , para melhor visualização, temos: Vemos facilmente que as duas integrais correspondem à área entre curva H (B ) e o eixo B . Portanto a soma das duas integrais à área dentro da curva de histerese. Esta variação de energia é transformada em energia térmica, que aquece o transformador. Como quase todo aparelho eletrônico tem um transformador na entrada, que abaixa a tensão de entrada para a tensão de operação do aparelho (usualmente 12 ou 15 V), se ele for mantido ligado à tomada, mesmo que não em operação,o transformador de entrada fica sempre ligado, dissipando continuamente esta energia! 9