panamá

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rediscover rome
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panamá
é o canal
Uma gigantesca obra de engenharia resgatou o
país do anonimato há quase cem anos. Agora
os panamenhos querem mostrar ao mundo
que são muito mais do que um mero atalho
texto luis patriani | fotos victor andrade
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A ilha dos Pássaros fica
em um rochedo cercado
pelo Mar do Caribe e
por tubarões
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D
iante de um grupo de brasileiros,
o guia Hernandez Flores solta a
pérola. “Adoro o Brasil. Caipirinha!
Mulatas! Futebol!” O panamenho de
sorriso maroto parece querer
provocar uma indagação nos
visitantes e emenda: “Vocês têm
também Antônio Carlos Jobim. Bossa Nova!”.
Ele espreita a reação inerte do grupo e dá seu
recado. “O Panamá não é apenas o canal, assim
como muitos estrangeiros pensam.”
Ironicamente, o discurso antibanalização do
monitor acontece em frente às portas da eclusa
de Miraflores, na entrada via oceano Pacífico do
Canal do Panamá, o principal responsável pelo
enriquecimento vertiginoso do país desde que
seu controle saiu das mãos norte-americanas
em 1999.
Estereótipo à parte, é impossível falar desta
pequena nação da América Central sem
destacar a passagem de 80 quilômetros de
extensão que corta o istmo do Panamá e liga os
oceanos Pacifico e Atlântico. Em troca da sua
construção, concluída em 1914, e do domínio
da estratégica rota de navios, os Estados Unidos
apoiaram um levante rebelde no até então
território colombiano, cuja ocupação já durava
quase um século.
A consequência do acordo foi uma espécie de
colonização em pleno século 20. Durante os
85 anos em que estiveram à frente do lucrativo
pedágio (mais de 14 mil embarcações usam o
atalho todos os anos), os militares ianques
estabeleceram uma gigantesca zona ao longo do
canal a que somente eles tinham acesso.
A exploração não tinha prazo para acabar até que
uma revolta popular, em 1964, fez com que se
firmasse um acordo de devolução da passagem
para entrar em vigor 35 anos depois.
após 85 anos de domínio americano, o famoso
canal finalmente é controlado pelo panamá
foto: lonely planet images
Na página ao lado: cerca de
14 mil embarcações cruzam o
canal todos os anos. Acima, à
direita: o tamborito é uma
dança folclórica muito
tradicional no Panamá.
Ao lado: vista do bairro Casco
Velho, na Cidade do Panamá
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uando finalmente assumiu o
controle, o lucro em torno de 780
milhões de dólares (equivalente a
cerca de 18% do PIB) passou a ir
direto para os cofres do governo
panamenho. Detalhe: em 2014,
ano do centenário de sua
construção, o canal terá capacidade para
receber os maiores navios do mundo, como os
superpetroleiros, dobrando seu faturamento.
Com muito dinheiro no bolso, o acanhado
país de apenas 75 mil quilômetros quadrados
pôde investir em outras áreas da economia,
como o turismo e serviços, e começar a fugir
do malfadado estereótipo combatido por
Hernandez Flores, o guia que adora o Brasil,
suas mulatas, futebol, caipirinhas e, para
salvar a pátria da mesmice, Tom Jobim.
Os militares americanos se foram, mas a
herança deixada por eles ficou. Basta olhar
para a grande ferrovia, rodovias, duas
hidrelétricas e uma base aérea, assim como as
antigas zonas militares que viraram moradias,
escolas e redes hoteleiras. Na cidade de Colón,
por exemplo, famosa por abrigar uma zona
livre de comércio e por ser a porta de entrada
do canal pelo oceano Atlântico, uma área
ocupada pelo exército norte-americano abriga
hoje o sofisticado hotel Meliá de Colón.
Do outro lado, na americanizada Panamá
City, fica evidente o rápido enriquecimento
desta nação de 3 milhões de habitantes, dos
quais mais da metade vivem na capital.
Na orla da Cinta Costeira, uma importante
avenida da cidade, cujas pistas foram feitas
sobre um aterro, centenas de prédios
modernos (os valores de cada imóvel
ultrapassam 200 mil dólares) estão sendo
erguidos ao mesmo tempo. A impressão é de
estar em um gigantesco canteiro de obras.
o rápido crescimento da economia tem feito o
país investir cada vez mais no turismo
Acima, da esquerda para a direita: o tranquilo
e colorido Mar do Caribe; os Emberá são um
dos principais grupos indígenas do país; o
pacato cotidiano de Bocas del Toro; o
tradicional chapéu do Panamá; o colorido
ônibus diablo rojo é o principal meio de
transporte na Cidade do Panamá
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O
hotel Méredien (primeiro da rede
na América Central) está pronto
há pouco mais de um ano e
representa bem a aposta dos
investidores estrangeiros no
auspicioso mercado turístico do
Panamá. Tudo aqui reveste-se de
luxo, sofisticação e doses fartas de bom gosto.
Logo na entrada, chama a atenção o pé
direito duplo com uma pirâmide de vidro
invertida que reflete as cores do elegante
saguão em granito preto.
Os quartos têm quadros do famoso artista
plástico panamenho Igor Kourany, conhecido
por aliar a cultura tradicional do país com
uma estética contemporânea e arrojada. Para
abri-los, cartões-chave estilizados, criados
pelo artista norte-americano Sam Samore, dão
acesso também ao Museu de Arte
Contemporânea (MAC), uma das maiores
instituições de cultura e design do Panamá.
Na ponta da Baía do Panamá, o Casco
Antigo, centro histórico da capital, contrasta
com a modernidade da Cinta Costeira.
Restaurado há cinco anos, este recanto de
praças, ruas estreitas e prédios coloniais
tombados pela Unesco como Patrimônio da
Humanidade tornou-se um dos lugares mais
charmosos da Cidade do Panamá. Desde que
foi revitalizada, a histórica península atraiu
muitos restaurantes, bares e cafés,
transformando o Casco Antigo em um dos
pontos culturais e boêmios mais procurados.
Na Praça da Independência, também
conhecida como Plaza Catedral, onde um
grupo de padres iniciou o movimento de
independência do Panamá no século 19, o
levante deu lugar a festivais de música, como
o Festival Internacional de Jazz, que acontece
todos os anos, ao lado da catedral de Nossa
Senhora da Assunção, erguida em 1688.
o arquipélago de bocas del toro é a joia
caribenha ainda em estado bruto
Acima: as paláfitas estão por todas as
partes e são o único jeito de domar o
onipresente Mar do Caribe, em Bocas del
Toro. Ao lado: a micro rã endêmica deu
nome a praia de Red Frog Beach
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O Caribe é aqui
Um arquipélago no oeste do Panamá é a prova
inconteste de que este país vai muito além de seu
famoso canal. Bocas del Toro e suas nove ilhas
vibram no ritmo do som e das cores do Mar do
Caribe. “Descobertos” por mochileiros no final dos
anos 1990, os povoados da região resguardam
ainda o estilo de vida simples e pacato de quem
está em descompasso com o relógio e a pressa
dos grandes centros urbanos.
A fala mansa e o olhar tranquilo do guia e professor de educação física, Luis Lopez, revelam o jeitão
sereno dos habitantes daqui. Enquanto arruma
o chapéu, Luis comenta que os furacões – tão
comuns e temidos no Caribe – não passam pelo
arquipélago. “Bocas del Toro está abrigada numa
grande baía. Os furacões passam no mar lá fora e
não nos atingem”, comenta, com o mesmo ar de
calmaria que caracteriza essa região do Panamá.
Depois de contar que tem o sonho de viajar ao
Brasil em 2014 para assistir a Copa do Mundo e conhecer a Amazônia, o simpático guia diz que cada
ilha tem uma atração diferente. Basta navegar pelas
calmas e quentes águas caribenhas para perceber
que ele está certo. Logo na saída do passeio, a Baía
dos Golfinhos mostra a razão de ter este nome.
Em pouco tempo, o barco já está rodeado por
golfinhos que parecem querer se apresentar em um
espetáculo de acrobacias. Na ilha de Caio Sapatilha Norte, o mergulho de snorkel revela por que a
vida marinha aqui é tão exuberante. São 58 tipos
de coral (é a maior quantidade de corais vivos do
Caribe) que servem de morada e fonte de alimento
para inúmeras espécies de peixes, além lagostas,
mexilhões, ostras, aranhas do mar e por aí vai.
A lancha desliza sobre a água e aproxima-se da
Ilha dos Pássaros, um rochedo com uma fenda no
meio, onde gaivotas e albatrozes dividem a área
com tubarões. Um pouco adiante, e a praia das
estrelas-do-mar mostra-se autoexplicativa. Sob a
água translúcida e sobre a areia branca, centenas
de estrelas-do-mar parecem refletir o céu. Fora do
mar, a vida selvagem também se destaca. A praia
Red Frog Beach abriga na preservada mata a sua
volta uma pequenina rã endêmica do tamanho de
uma unha da mão. Aqui elas dão as cartas, a ponto
de causarem polêmica com os ambientalistas
quando os nativos as retiram da floresta para serem fotografadas pelos turistas. Já na ilha de Carenero, a atração fica por conta dos surfistas que se
aproveitam da hola gorila, uma forte onda formada
pelos ventos que sopram do norte para o sul.
Ao final do dia, o som que vem de uma palafita
na Ilha de Bastimento chama a atenção. Ali, um
grupo de adultos e crianças ensaia passos de uma
dança haitiana para apresentar-se depois na Festa
de Lunes, que celebra a colheita de bananas.
A alegria deles revela como um ambiente tão colorido e harmônico reflete-se na cultura e no jeito de
ser das pessoas.
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A biodiversidade do pequeno país da américa
central é uma de suas maiores riquezas
D
e fato, assim como apregoa o guia
Hernandez Flores, o Panamá não é
só o canal. Mas a existência dele
garantiu outro belo estereótipo do
país: sua exuberante natureza.
A explicação é simples: é preciso
evitar a qualquer custo o
assoreamento da rota de navios e também
faz-se necessário manter os altos índices
pluviométricos que sustentam o
funcionamento das eclusas (elevadores) do
canal, uma vez que a passagem fica a
26 metros acima do nível do mar. O desafio
é grande e para isto é preciso preservar as
matas tropicais.
Quem agradece a parcimônia das serras
elétricas são os vários parques nacionais,
como o Soberanía, o Chagres e o Porto Belo,
onde vivem mais de 800 espécies de aves,
muitos mamíferos, répteis, além de índios.
Não só a fauna e flora comemoram.
O ecoturismo também beneficia-se muito da
grande cobertura vegetal do país e, claro, da
onipresente rota internacional de navios.
O Gamboa Rainforest Resort é um ótimo
exemplo. Localizado no meio do Parque
Nacional Soberanía, às margens do rio
Chagres, que, por sua vez, desemboca no
Canal do Panamá, tem na generosidade da
natureza seu principal atrativo.
Em meio aos seus 340 acres de terra, o que
equivale a 1.375 km², os programas vão desde
a visita à tribo indígena dos Ella Puru Embera,
até a observação dos crocodilos no Lago Gatun
(o reservatório de água que garante o
funcionamento do canal), e os micos-leões
brancos que vivem na ilha dos Macacos.
Enquanto o país pulsa no forte ritmo de sua
economia e mostra para o resto do mundo que
não se reduz apenas à famosa e importante
passagem, os navios continuam a cortar
caminho pelo atalho e cruzar de um oceano ao
outro em apenas oito horas. É certo que os
estereótipos banalizam e simplificam demais a
imagem de uma nação. Mas o Canal do
Panamá é um dos estereótipos mais invejados,
cobiçados e lucrativos do planeta. LP
As lagostas são abundantes nos
recifes de coral em Bocas del Toro.
Suas grandes antenas fazem do
crustáceo uma preza fácil
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