Design Sustentável e o Novo Luxo Sustainable Design and New Luxury Faggiani, Kátia; Doutoranda e Mestre em Design; PUC-Rio e Especialista em Marketing; FGV/RJ. [email protected] Oliveira, Alfredo Jefferson; Doutor em Engenharia de Produção; COPPEUFRJ; [email protected] Resumo O conceito de luxo é determinado numa sociedade, em lugar e momento específicos, ou seja, o luxo está totalmente relacionado à cultura. De acordo com Castarède (2005), erroneamente, aproximou-se a palavra de dois termos parecidos: lux (luz) e luxuria (luxúria). Assim, em outras épocas, luxo foi associado à extravagância e supérfluo. Porém, nota-se que este conceito tem se modificado e ganhado outros sentidos, com características até então fora das tradicionais, como a valorização de uma consciência e atitude ecológicas. Assim, o artigo analisa os aspectos ecológicos que norteiam as decisões de compra e a percepção do consumidor de produtos de luxo; realizando-se uma pesquisa qualitativa. Palavras Chave: Ecodesign, Luxo, Percepção Abstract The luxury concept is determined in a society according to a certain place and moment, which means that luxury is totally related to culture. Castarède (2005) argues that the term has been wrongly associated with two words similar in meaning: lux (light) and luxuriance (luxury). Because of that, luxury was associated with superfluousness and extravagancy. However, one can notice that the concept has been changing over the years, gaining other senses which explore different characteristics from the traditional ones, such as the valuation of an ecological conscience and attitude. The article aims to analyze the ecological aspects that guide the purchase decisions and the perception of the consumer of luxury products, through qualitative research methods. Keywords: Ecodesign, Luxury, Perception 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design O significado do luxo nos dias atuais Primeiramente, entender o significado das palavras é muito importante. A mesma palavra, pode ganhar significados diferentes ao longo dos tempos de acordo com o pensamento e o contexto de cada período. Berry (1994) afirma que o conceito de luxo é determinado dentro de uma sociedade estabelecida, em um lugar e momento específico, ou seja, o luxo está totalmente relacionado à cultura. Bourdieu (1989) e Appadurai (1990) também defendem que o gosto não é estabelecido por apenas um indivíduo, mas pelo meio social e cultural onde o mesmo vive. Etimologicamente, “luxo” é originário da palavra “luxus”, em latim, que significa “abundância, refinamento”. Conforme Castarède (2005) posteriormente e erroneamente, tentou-se aproximá-lo de dois termos parecidos: lux (luz) e luxuria (luxúria), o primeiro fazendo referência à luz, brilho, esplendor e, o segundo, faz relação à ostentação, prazer ou vaidade. Hoje, para muitos, luxo ainda está associado à suntuosidade, à extravagância, ao supérfluo, à aparência, ao poder material, porém nota-se que progressivamente este conceito vem se modificando. Hoje, a palavra “luxo” ganhou outros sentidos e, agora, reúne características até então fora das tradicionais proposições, como: valorização de uma consciência e atitude ecológicas, utilização do tempo escasso, tranqüilidade, segurança, conforto, praticidade, qualidade de vida, respeito à diversidade cultural, compromisso social, entre outras, que da mesma forma que as demais características do luxo, hoje são consideradas escassas e raras. Muitos indivíduos, hoje em dia, dão mais valor a estas características do que às aparências e ao acúmulo de riquezas. “Hoje em dia o luxo é relativo. Cada indivíduo o vê a seu modo. Para um sobrecarregado presidente de empresa, luxo é o tempo. Para um agricultor, é a sociabilidade, que pode traduzir-se numa boa refeição em companhia dos amigos” (Castarède, 2005: 33). Para Enzensberger (1997), hoje, os bens de luxo são exatamente aqueles mais simples: consiste no acesso a espaço, tempo, silêncio, segurança, ar puro, isolamento, capacidade e possibilidade de concentração. Assim, quando se julga e se analisa a vida por outros pontos de vista, se faz notar o valor de coisas pequenas que, aparentemente vulgares e triviais no dia a dia de uns, são autênticos e legítimos luxos para outros. Em tempos de desmatamento, animais em extinção e degradações ambientais, o luxo continua sendo uma raridade, mesmo que sejam luxos da alma e talvez grande parte da natureza humana ainda não dê importância, ou não tenha visto que esses “bens”, gratuitos e naturais até então, estejam aos poucos se convertendo em raridade. 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design Aspectos Ecológicos Este discurso tem profunda relação com a ecologia e o desenvolvimento sustentável, no que diz respeito a formas específicas de minimizar o uso de materiais e energia, reduzindo a poluição, preservando habitats, isto é, determina um novo modo de pensar, uma raridade, um novo luxo. Ultimamente, a preocupação ecológica vem desde a extração da matéria prima até a venda do produto, passando por toda cadeia de produção. Uma das principais técnicas utilizadas para análise dos fatores ambientais e dos impactos de um produto é a avaliação do ciclo de vida do mesmo, que abrange fases que vão desde a extração das matérias-primas elementares da natureza que entram no sistema de produção (berço) até a distribuição e disposição do produto final (túmulo), considerando a produção de energia; os processos que envolvem a manufatura; as questões relacionadas com as embalagens; o transporte; o consumo de energia não renovável; os impactos relacionados com o uso, ou aproveitamento; o reuso do produto ou mesmo questões relacionadas com o lixo ou recuperação / reciclagem; entre outros. O Comportamento do Consumidor no Consumo do Novo Luxo A excelência ecológica só é conseguida pela cooperação entre os agentes que atuam durante o ciclo de vida do produto: produtores e consumidores. O conceito de consumidor ecologicamente consciente, é definido por Ottman (1994), como aquele que busca consumir produtos que causem menor ou nenhum impacto negativo ao meio ambiente. Atualmente, devido à maior quantidade de informações disponíveis, consumidores brasileiros passam a exigir produtos melhores e com maior qualidade ambiental. Neste novo século os mesmos passam a ser apreciados não apenas por sua atuação e preço, mas também pela responsabilidade social dos produtores. A qualidade é uma imagem que não se separa mais do impacto ambiental (Ottman, 1994). Nesse contexto, a seleção dos materiais dos produtos de luxo é um dos fatores que deve ter especial consideração. Não apenas é determinante para o desempenho técnico dos produtos, como é um dos fatores que afeta o consumidor/usuário na sua decisão, freqüentemente subjetiva, ao adquirir um determinado objeto de prestígio. O Brasil tem enorme potencial devido a sua biodiversidade, única no mundo, permitindo a possibilidade de criar produtos de luxo a partir de madeira de manejo sustentável, fibras naturais, couro vegetal e resinas naturais; e uma larga variedade de cores, texturas e cheiros; características que, do ponto de vista da imagem e da percepção, aumentam o valor próprio do produto. O resultado é uma gama de produtos que não agridem o meio ambiente e que destacam nossas riquezas. Porém, isso depende de 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design fatores como o desenvolvimento dos materiais em si e principalmente da consciência do consumidor. Para Porter (1995), a ecologia vai comandar o mundo dos negócios nas próximas décadas. Porém, a transição para uma sociedade sustentável só poderá ter lugar se um grande número de pessoas reconhecer uma oportunidade para melhorar seu grau de bem estar. Assim, esta pesquisa teve por objetivo analisar os aspectos ecológicos que norteiam as decisões de compra e a percepção do consumidor de produtos de luxo, por meio de uma pesquisa qualitativa, descrita abaixo. Métodos e técnicas de pesquisa No presente estudo, o atributo de interesse foi o “atributo ecológico”. Ao se deparar com argumento ecológico, esperou-se que o consumidor avaliasse positivamente o produto e que a intenção de compra fosse favorável. A pesquisa foi desenvolvida em diversas fases, baseando-se em diretrizes sugeridas na literatura. A primeira fase foi marcada por definições quanto ao caráter da investigação, enquanto as seguintes trataram do trabalho de campo propriamente dito. A segunda fase marcou a consolidação e análise do material reunido durante o trabalho de campo, enquanto a terceira fase tratou de validar os resultados. Por fim foi feita uma interpretação dos mesmos. A constante evolução do pensamento epistemológico e das próprias ciências sociais leva à inevitável combinação de métodos e técnicas. Assim, quanto aos meios, esta pesquisa baseou-se em material oriundo de livros, revistas e jornais; telematizada, pois utiliza vários dados procedentes da internet; e de campo. A consulta a publicações abrangeu variações de material editorial e promocional associado ao consumo de luxo. De acordo com D’Angelo (2004), esses materiais, em especial as publicações, são um bom indicador da linguagem, dos valores e da visão de mundo vigentes no universo do luxo. A mídia impressa, especialmente, é o principal veículo usado na construção da imagem e identidade de produtos de luxo, constituindo fonte de aprendizado sobre os mesmos (Twitchell, 2002). A opção por mais de uma fonte teve a intenção de proporcionar maior quantidade e qualidade de informações sobre o fenômeno em estudo, como também conferir confiabilidade à pesquisa. O lócus de pesquisa escolhido foi o Rio de Janeiro, que mostrou-se indicado por abrigar as principais empresas e os mais reconhecidos profissionais do setor do luxo. A existência de regiões nobres na cidade que concentram marcas sofisticadas nacionais e estrangeiras (Kalil, 2000; Alonso, 2000) 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design é sinal evidente da força desse mercado e indicativo incontestável de sua adequação aos propósitos da pesquisa. A amostra dos entrevistados foi definida por conveniência, um tipo de amostragem não-probabilística, para a obtenção rápida e a baixo custo de informações, em virtude de limitações de tempo, mas principalmente, em função do orçamento disponível. Neste caso, os respondentes foram selecionados de forma casual e por conveniência, atestando-se, no entanto que se encaixassem no perfil desejado: compradores de luxo. Antes de iniciar as entrevistas, foram consultadas bibliografias de auxílio (Fontana, Frey, 2000; Herlinger, 2001) e um profissional especializado em marketing, na busca de orientações e sugestões de procedimento. Os entrevistados receberam garantia de anonimato. O número final de entrevistas foi decidido de acordo com a redundância e a convergência dos relatos obtidos, conforme recomendado na literatura, resultando num número de trinta entrevistas. Medidas foram adotadas para garantir a confiabilidade da pesquisa. No início dos trabalhos, definiu-se que entrevistas e consulta a materiais diversos comporiam o conjunto de evidências do presente trabalho, evitando que apenas uma fonte de dados fosse utilizada. Da mesma forma, foram utilizados entrevistados de perfis variados, com a intenção de ampliar a gama de visões a respeito do tema. Também foram adotadas medidas para garantir a validade da pesquisa. Dispondo dos primeiros resultados da análise dos dados, foi submetida uma síntese a especialistas. Procedimento semelhante ocorreu ao final quando concluída a discussão e interpretação dos resultados. Pesquisa qualitativa: entrevista individual em profundidade A entrevista em profundidade constitui uma das mais importantes técnicas para a obtenção de dados, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, usos, percepções, motivações, atitudes e costumes, etc. Assim, optou-se por seguir um roteiro pré-determinado, em forma de entrevista, sobre os pontos importantes do tema em questão. A partir dos objetivos traçados e do público-alvo foram elaboradas perguntas para buscar a resposta para as questões da investigação. O primeiro passo foi buscar determinar qual a identidade das pessoas a serem interrogadas, questionando o que fazem e seu comportamento. Foram deixadas questões abertas, tentando captar dados mais espontâneos, em que o interrogado respondia com suas próprias palavras, sem qualquer restrição. Foram evitadas perguntas ambíguas e capciosas, assim como o uso de 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design terminologia técnica inacessível ao informante. Quando o termo empregado corria o risco de não ser entendido, foi explicado, como por exemplo, os dois termos “alternativo” e “ecológico”. Pesquisa quantitativa: análise conjunta Outro método utilizado foi a análise conjunta, que tem tido aceitação bastante significativa, desde seu surgimento nos anos 70. Existem muitas indicações de que este modelo apresenta nível substancial de validade, dentre elas a grande aceitação no mercado empresarial. A premissa básica é que os indivíduos apreciam os produtos por meio da soma de suas avaliações sobre os atributos que compõe esses objetos. De acordo com Churchill Jr. & Nielsen Jr. (1995), ao se escolher esta técnica deve-se seguir as seguintes etapas: selecionar os atributos; determinar os níveis dos atributos; determinar as combinações dos atributos a serem utilizadas; escolher a forma de apresentação dos estímulos e selecionar a técnica de análise. Os atributos devem ser relevantes para influenciar a preferência e escolha do consumidor. Ao avaliar um produto o consumidor se depara com informações sobre peso, validade, composição, entre outras. Estas características são denominadas de atributos. Segundo Keller (1993), atributos são características que descrevem um produto ou serviço, ou seja, o que um consumidor avalia no ato do consumo. Também podem ser aspectos externos que afetam a intenção de compra, como: preço, embalagem ou aparência, imagens do usuário (tipo de pessoa que usa o produto) e imagens de uso (onde e em que situação o produto ou serviço é usado) (Keller, 1993). No método auto-explicativo, onde se pergunta ao entrevistado quais atributos são importantes, há uma tendência dos respondentes dizerem que todos são importantes. Já na análise conjunta, o respondente é solicitado a fazer um julgamento de substitutibilidade ou escolha, ou seja, mostra se uma característica é suficientemente desejável a ponto de justificar a eliminação de outra e qual atributo deve ser sacrificado (Malhotra, 2001), cenário muito mais próximo da realidade de compra. A principal vantagem do método é o grau de realismo que confere à pesquisa. Os respondentes são forçados a considerar todos os atributos ao mesmo tempo, o que reflete a situação que efetivamente encontram no momento em que tomam suas decisões de compra. A desvantagem é que torna a tarefa do respondente mais difícil visto o numero de atributos considerados de uma vez só, portanto o indicado é trabalhar com poucos atributos. Assim, nesta pesquisa os entrevistados se depararam com estímulos que consistiam em combinações de níveis de quatro atributos (apresentados em cartões) e deveriam avaliar esses estímulos em termos de sua conveniência, fazer escolhas e colocá-los em ordem de preferência de 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design consumo, revelando a importância que atribuem a cada um. Os atributos deste estudo foram identificados, por meio de análise de dados secundários de uma pesquisa feita pelo IBGM – Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos. A seleção dos atributos e níveis corretos é considerada por Curry (1997) como o principal fator de sucesso de um estudo de analise conjunta. Após análise do resultado da pesquisa do IBGM, chegou-se à conclusão de que os atributos mais adequados para utilização na pesquisa seriam: preço, material, marca e design. Após a escolha dos atributos, partiu-se para a definição dos níveis de cada atributo. Churchill Jr. & Nielsen Jr. (1995) recomendam a utilização de níveis de atributos similares aos que os consumidores se defrontam na realidade, contribuindo para o aumento da credibilidade e validade de seus julgamentos. O argumento ecológico, por se tratar de um atributo externo que fornece informação sobre o posicionamento ambiental de determinado produto, será caracterizado neste estudo como um nível do atributo “material”, a fim de se verificar a importância deste atributo, frente aos demais aspectos considerados no momento da decisão de compra. Também foram utilizados estímulos pictóricos (imagens de produtos de luxo) para elucidar os respondentes, já que as escolhas são fortemente influenciadas pelo estilo ou design do produto. Muitas vezes as relações se fazem ver com mais facilidade quando podem ser mostradas. Assim, foram escolhidos os principais atributos de luxo e seus níveis, e posteriormente, foi gerado pelo software estatístico utilizado (o SPSS neste caso) um número mínimo (dentre o total possível) de combinações desses atributos e níveis (diferentes perfis de serviço) para que o respondente os ordenasse, em termos de aceitabilidade geral, intenção de compra ou classificação de preferência. Como no estudo em questão foram utilizados quatro atributos, sendo dois com quatro níveis e os outros com dois níveis, o número total de combinações seria de 64 (4x4x2x2). Contudo trata-se de um número excessivo de combinações o que tornaria a tarefa muito cansativa. De acordo com Curry (1997), o número mínimo de cartões com combinações de atributo é dado pela formula: 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design Nº mínimo de cartões = Nº total de níveis de atributos - Nº total de atributos +1 Chegou-se ao numero mínimo de 9 cartões. Como recomenda-se utilizar de 1,5 a 2 vezes o numero mínimo de cartões, pode-se concluir que o numero mínimo recomendado é de 16 cartões. Assim, foram apresentados os 16 cartões com as diversas combinações e solicitado que os respondentes colocassem em ordem de preferência de consumo. Resultados Num primeiro momento, cada entrevista foi analisada individualmente. Quanto ao perfil dos entrevistados, foi verificado que a maioria estava entre 26 e 45 anos. Com relação à ocupação, a maioria tinha curso superior completo e pós-graduação. Observou-se em primeiro lugar que 20% dos entrevistados foram homens e 80% de mulheres. A análise das entrevistas nos levou à conclusão de que, de acordo com a maioria dos entrevistados, o maior valor identificado em produtos de luxo é o valor simbólico (seja cultural, histórico, afetivo, social, entre outros). As respostas evidenciam que o luxo tem significados e importância que ultrapassam sua utilidade e valor comercial, transportando consigo a capacidade de transmitir e comunicar significados culturais. Já no ato da compra, as normas culturais relativas às possessões materiais influem nas atitudes dos consumidores no que diz respeito aos preços e ao crédito. Por exemplo, a força com que a noção de qualidade se associa ao preço varia de um meio cultural para outro segundo a importância do preço dentro dos critérios de compra. Neste contexto, nossos entrevistados mostraram-se sensíveis a preço, sendo este o atributo mais importante na hora da compra de um produto de luxo em comparação com o material utilizado. O segundo atributo mais importante na hora da compra de um produto de luxo foi o material do qual ele é feito. O fato de que, embora os consumidores não percebam imediatamente o valor de produtos ecológicos, aceitam e consomem estes materiais quando os mesmos vêm agregados a materiais valiosos. Esse resultado pode ser validado pelas respostas às entrevistas, que refletem esta observação: �Eles têm um valor diferente dos materiais tradicionais. Os materiais alternativos provêm mais diretamente da natureza, ou seja, sofrem uma intervenção (humana) mais branda do que os materiais já convencionados como nobres, que estão envolvidos num processo de intervenção mais profunda. Acho que o processo e a tradição pesam bastante na diferença de valor. Os considero como luxo desde que tenham alguma parte de um material mais valioso� (entrevistado 21); �Material ecológico representa 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design contestação: uma postura simbolicamente ética, em relação à devastação causada pela superexploração de matérias-primas não renováveis, e com relação a animais em extinção (marfim, crocodilos,...)� (entrevistado 19); �Sinto-me menos responsável ao saber que estou comprando uma peça bonita, do meu gosto e que ao mesmo tempo ajudando para que o meio ambiente não seja destruído� (entrevistado 15); �Acredito que dependendo da qualidade e procedência desses materiais, eles podem ter sim, com certeza muito valor� (entrevistado 14); �Terão valor se forem originais e o consumidor puder identificar sua distinção� (entrevistado 13). Há indícios, através das entrevistas, de que apenas o uso de material ecológico e/ou alternativo não são percebidos, por enquanto, como luxo pelos consumidores, como se pode verificar em algumas respostas: �A jóia tradicional têm um valor que não se perderá nunca, que é o valor do metal. A jóia ecológica não� (entrevistado 27); �A palavra luxo pressupõe algo de valor, assim, não acho que a palavra luxo possa ser empregada para designar objetos de borracha, por exemplo� (entrevistado 22); �Acho que esses materiais não são tão duráveis e são modismos passageiros. Um produto de luxo tem que durar para sempre e isso só materiais nobres conseguem� (entrevistado 11); �Não são valiosos. Acho um engodo vendê-los como luxo� (entrevistado 10). Validando esse indício, na análise conjunta, pôde-se observar que para o consumidor atual, o material ecológico não é percebido como luxo, pois em um valor de grandeza de 0 a 1, o resultado foi apenas 0,18. Considerações finais Diante disto tudo, será o “luxo ecológico” apenas modismo, tendo, portanto, caráter efêmero? Vimos anteriormente, que o luxo hoje se aproxima mais com o ser do que com o ter. Assim, o luxo não se refere apenas à posse e acumulação de bens materiais; mas aproxima-se cada vez mais da perfeição, da precisão, do conforto, do progresso. Existem indícios que a forma dos consumidores interpretar os estímulos 7° Congresso de Pesquisa & Desenvolvimento em Design varia, à medida que se enriquece a experiência do indivíduo ou variam seus interesses. A conscientização ambiental, só será possível com percepção e entendimento do real valor do meio ambiente em nossas vidas. Para tanto, é preciso observar três condições: que os indivíduos tenham feedbacks ambientais corretos, sejam oferecidas alternativas socialmente aceitáveis e favoráveis ao ambiente e que se desenvolva uma cultura adequada para interpretar corretamente os feedbacks ambientais e reconhecer o valor de novas alternativas (Faggiani, 2005). Mudaram os tempos, as tendências e anseios e o luxo desdobrou-se em vários, casualmente equivalentes entre si, mas sempre em função da condição do desenvolvimento cultural dos povos e dos indivíduos, sua educação e estilos de vida. Diversos comportamentos ostentatórios têm desaparecido em favor do que o luxo sempre representou: forma de exaltação e não de destruição, que subentende conhecimento, crescimento e cultura. Estamos vivendo um momento decisivo para o caminho do luxo. E, portanto, imagina-se que haja uma profunda mudança na cultura até aqui dominante. Assim, deixo estas questões em aberto para futuras pesquisas com outros produtos de luxo, com o intuito de chegar-se a um ponto de vista final em relação ao “luxo ecológico”. Bibliografia ALONSO, M.R. Os jardins de ouro. Veja, 22 nov. 2000. APPADURAI, A. The social life of things. Cambridge University Press, 1990. BERRY, Christopher J. The idea of luxury. New York: Cambridge University Press, 1994. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989. CASTARÈDE, Jean. O luxo. São Paulo: Editora Barcarolla, 2005. CHURCHILL, G. Marketing research: methodological foundations. Ed. Fort Worth: Dryden Press, c1995. CURRY, Joseph. After the basics: keeping key issuis in mind makes conjoint analysis easier to apply. Marketing Research Forum. 1997. D’ANGELO, André Cauduro. Valores e significados do consumo de produtos de luxo. Dissertação de Mestrado, UFRGS. Porto Alegre, 2004. ENZENSBERGER, H. M. Luxo de onde vem para onde vai. Folha de São Paulo. Caderno Mais. 30/03/97. 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