Imprimir () 25/02/2016 ­ 05:00 Fabricantes preveem doze trimestres seguidos de queda Por Stella Fontes A indústria brasileira de embalagens deverá registrar pelo menos mais três trimestres de declínio da produção física, após ter experimentado em 2015 a pior queda nessa variável desde 2004. Se essa previsão se confirmar, os fabricantes terão experimentado 12 trimestres consecutivos de produção menor. A expectativa é a de que o setor, que sente diretamente os efeitos da queda no consumo das famílias, encerre o primeiro trimestre com produção 5,2% menor, naquele que será o 10º trimestre consecutivo de retração, segundo o Estudo Macroeconômico da Embalagem, produzido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com a Abre, entidade que representa o setor. O desempenho negativo deve se estender até a metade do segundo semestre, conforme o estudo, com recuo projetado para a produção de embalagens no país de 3,8% no segundo trimestre, seguido de nova queda de 2,3% entre julho e setembro. Para os três últimos meses do ano, a previsão, neste momento, é a de interrupção dessa trajetória, com ligeira alta de 0,2% nos volumes produzidos. "É possível que a indústria mostre um desempenho discretamente positivo no quarto trimestre. Isso está no nosso cenário base, mas ainda há muitas incertezas, que podem levar a revisões das expectativas", disse o coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros. Diante desse cenário base, que considera retração de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), taxa de câmbio em torno de R$ 4, um movimento de reposição de estoques e ampliação da oferta de crédito, a produção de embalagens no país na média de 2016 deverá recuar 2,8%, o terceiro ano seguido de baixa. "Será a maior sequência de quedas consecutivas da produção", disse Quadros a uma plateia formada por executivos do setor. Segundo o economista, mesmo que a produção permanecesse estável em 12 meses, o resultado no ano já seria negativo em 1,8% por causa da herança estatística negativa de 2015 (o chamado carregamento estatístico). Conforme Quadros, a projeção de resultado marginalmente positivo no quarto trimestre poderá ser revista mais adiante e ser adiado para 2017 o retorno às taxas positivas. Uma das ameaças ao desempenho inicialmente estimado é a natureza da recessão que enfrenta a economia brasileira, que será prolongada e, portanto, com retomada sujeita a avanços e retrocessos. "Tivemos um começo de ano lamentável. A economia global está vulnerável ao ajuste na China e ao preço do petróleo, cuja queda já passou do terreno benigno porque coloca em risco produtores e bancos", explicou Quadros. No ano passado, a produção física de embalagens no país recuou 4,31%. Já o valor da produção subiu de R$ 54,6 bilhões para R$ 57,3 bilhões, em boa parte como reflexo do efeito inflacionário. A queda no volume de produção foi ligeiramente melhor do que o previsto pelas entidades na última revisão de estimativas para o ano, que indicava declínio de 4,6%. No início de 2015, porém, a expectativa era de redução de apenas 0,5%. O declínio se deu em todos os tipos de materiais usados em embalagens: papel, papelão e cartão, madeira, plástico, vidro e metal. Porém, no geral, o desempenho do setor foi puxado para baixo pelo segmento de papel, papelão e cartão, que tem peso de 40,5% na produção e recuou 5,6% em 2015. Conforme o estudo, a indústria operou com taxa média de uso da capacidade instalada de 82,5%, com retração de 3,8 pontos percentuais frente a 2014. Nesse ambiente, o nível de emprego na indústria brasileira de embalagens em dezembro era 4,97% menor do que o verificado um ano antes e estava 1,95% abaixo do registrado em 2010.