PARASITISMO NATURAL DE LAGARTAS DE Trichoplusia ni EM ALGODOEIRO NO CENTROOESTE DO BRASIL Antonio Carlos Busoli (UNESP – Jaboticabal / [email protected]), Elias Almeida Silva (UNESP – Jaboticabal), Roseli Pessoa (UNESP – Jaboticabal), Juliana Nais (UNESP – Jaboticabal), Carolina Rodrigues de Araújo (UNESP – Jaboticabal) RESUMO - O objetivo deste trabalho foi verificar o parasitismo natural de lagartas de T. ni em uma cultura de algodão var. DeltaOPAL, em sistema de MIP na Fazenda Savana, Chapadão do Céu, GO, com surto da praga aos 100 dias de idade das plantas. A infestação geral da área era 30% de plantas infestadas com 01 a 02 lagartas, porém verificava-se, que havia grande incidência de lagartas parasitadas por parasitóides, fungo entomopatogênico, e presença de pupários de Braconidae e Icheneumomidae nas folhas. Foram realizadas coletas de 100 lagartas de tamanho médio a grande em 100 plantas ao acaso, sendo estas levadas ao laboratório, individualizadas em placas de Petri, com fornecimento de folhas novas, para que as lagartas empupassem e fossem obtidos os adultos, ou observado a emergência de parasitóides e/ou ocorrência de fungos entomopatogênicos. Verificou-se que 20% de lagartas deram origem a adultos de T.ni; 65%parasitadas por Copidosoma truncatellum; 2% parasitadas por Campoletis sonorensis e Rogas gossypii; e 12% pré-infestadas com Nomurea riley. Poucos predadores foram observadas naquela idade fenológica das plantas. Palavras-chave: lagarta-falsa-medideira, praga secundária, parasitóides, Gossypium hirsutum. INTRODUÇÃO A introdução de genótipos de algodoeiro de outros países no Centro-Oeste de Brasil, trouxe diversas vantagens em relação às cultivares nacionais, como maior rendimento e resistência da fibra, maior produtividade e melhor adaptação à colheita mecanizada. Por outro lado, trouxe também problemas devido a alta suscetibilidade às pragas e doenças, antes consideradas secundárias. Nestes últimos 02 anos agrícolas, as culturas têm recebido surtos de lagartas desfolhadoras, nas regiões de Chapadão do Sul, MS e Chapadão do Céu, GO, predominando as vezes, a espécie Trichoplusia ni em relação ao curuquerê Alabama argillacea, principalmente nos períodos de estiagens de chuvas. Segundo Santos (2001), altas infestações podem provocar danos às plantas e prejuízos à produção. De acordo com Silva e Santos (1980), Busoli (2006), o uso indiscriminado de defensivos no controle de pragas, pode acarretar desequilíbrios biológicos em favor das pragas, desenvolvimento de populações resistentes numa certa região, e favorecer surtos populacionais de pragas secundárias, pela destruição de seus inimigos naturais. Os fatores abióticos, como temperatura, chuvas e umidade relativa do ar, podem favorecer certas pragas. Gondim et al. (2001) citam que T. ni é favorecido em parte pelas condições de estiagens prolongadas, que provoca baixa umidade relativa do ar, e com isso baixa ou nenhuma presença de fungos e vírus entomopatogênicos. Por outro lado, o controle natural de pragas está mais relacionado a fatores bióticos, de ocorrência conjunta com as pragas, de parasitóides, predadores e entomopatógenos (De BACH, 1975). Segundo Silva e Santos (1980), infestações de T. ni ocorreram nos mêses de fevereiro e março de 1979, em culturas de algodão nos municípios de Uraí e Londrina, PR. Verificaram após coletas de lagartas nas culturas, que ocorreu epizootia do fungo Nomurea riley reduzindo a população de lagartas em torno de 76%. Em menor escala, ocorreu também mortalidade de lagartas pelo fungo Entomophthora sp. pelo parasitóide Litomastix (Copidosoma) truncatellum e por Vírus de Poliedrose Nuclear, sobrevivendo apenas 1% das lagartas. Nos últimos anos agrícolas, em conseqüência de fatores abióticos, bióticos e uso de inseticidas não seletivos a inimigos naturais na região de Chapadão do Sul, MS, está ocorrendo infestações altas de T. ni, e com isso, necessitando mais aplicações de inseticidas (BUSOLI et al., 2006). No presente trabalho, objetivou-se avaliar a infestação de um surto da praga na região de Chapadão do Céu, GO, e verificar simultaneamente, a eficiência dos principais agentes de controle biológico natural que atuam sobre a fase larval de T. ni em campos extensivos de algodão naquela região do Centro-Oeste do País. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em uma cultura de algodão, da Fazenda Savana, no município de Chapadão do Céu, GO, onde se avaliou a infestação no campo e coletaram-se as lagartas, que foram levadas aos laboratórios do Departamento de Fitossanidade FCAV/UNESP – Campus de Jaboticabal, SP, para avaliação dos índices de parasitismo larval, e separação e identificação dos agentes de controle biológico natural. A cultivar utilizada foi a DeltaOPAL, semeada em 20/12/2006 e com germinação das plantas registrada em 25/12/2006. O controle de pragas foi realizado no sistema MIP, resultando baixo número de aplicações de inseticidas, em função das avaliações periódicas e pulverização, somente quando as pragas atingiam os níveis de ação. A variedade é resistente ao vírus da Doença Azul, e as pragas e doenças iniciais foram controladas com tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas. As amostragens de T. ni, foram realizadas em 100 plantas ao acaso, coletando-se uma lagarta (> 20mm)/planta. Estas lagartas foram transportadas para o laboratório em caixas de isopor com folhas novas para a alimentação. Posteriormente foram individualizadas em placas de Petri (12 cm Ø), com o fornecimento diário de folhas, previamente desinfestadas com solução de água sanitária (1%) por 1 minuto e, posteriormente, lavadas em água corrente e deixadas a secar na sombra. Diariamente as lagartas foram observadas, anotando-se as que empuparam e com emergência de adultos de T. ni, e/ou, as parasitadas com emergência de adultos de parasitóides, ou lagartas infectadas com agentes entomopatogênicos. Após identificação dos agentes de controle biológico, exemplares de parasitóides foram enviadas para confirmação ao especialista em Hymenoptera – parasítica, Dr. Nelson Wanderley Perioto, do Laboratório Regional – APTA – Instituto Biológico, Ribeirão Preto, SP. RESULTADOS E DISCUSSÃO Surtos populacionais de lagartas de Trichoplusia ni, ocorreram em 05/03/2007 (70 DAE – dias após emergência das plantas), e em 26/04/2007 (100-110 DAE). No primeiro susto, ocorrem simultaneamente com Alabama argillacea e juntos atingiram o Nível de Ação (BUSOLI, 1991) de 2 lagartas/plantas, e medidas de controle químico foram adotadas. No segundo surto, T.ni infestava em torno de 30% de plantas, com 1,0 a 2,0 lagartas/planta, ocasião em que já se observava a ocorrência de lagartas parasitadas por parasitóides e fungos entomopatogênicos. Nesta ocasião, foram coletadas em 100 plantas ao acaso, 01 lagarta de qualquer tamanho/planta, totalizando 100 lagartas com predominância de lagartas de tamanho médio (± 20 mm de comprimento). Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Agentes de Controle Biológico de ocorrência natural em Trichoplusia ni, e respectivas porcentagens de mortalidade em var. DeltaOPAL. Chapadão do Céu, GO, 2006/2007. % de mortalidade larval Nº total de lagartas coletadas 100 Agentes de Controle Biológico identificado Nº de lagartas parasitadas (%) 65 (65%) Copidosama truncatellum (Hymenoptera: Encyrtidae) Nº lagartas parasitadas (%) 2 (2%) Campoletis sonorensis (Hymenoptera: Ichyneumomidae) Nº de lagartas parasitadas (%) 1 (1%) Rogas gossypii (Hymenoptera: Braconidae) Nº de lagartas infectadas (%) 12 (12%) Fungo entomopatogênico Nomurea riley % de adultos emergidos de T. ni (20%) Pelos resultados (Tab. 1), verifica-se que houve 80% de mortalidade larval, emergindo 20% de adultos de T. ni. O maior índice de mortalidade foi causado pelo parasitóide Copidosoma truncatellum, parasitando 65% das lagartas coletadas. Em segundo lugar, em 12% de lagartas, ocorreu mortalidade pela infecção do fungo Nomurea riley, e com 2% e 1% de mortalidade, respectivamente, causados por Campoletis sonorensis e Rogas gossypii. Verifica-se que, quando condições físicas são favoráveis, como temperatura e alta umidade relativa do ar, os fungos e vírus entomopatogênicos ocorrem, como obtido por Silva e Santos (1980) em algodão do norte paranaense, verificando até 76% de mortalidade larval por Nomurea riley em uma área, e 47% de mortalidade por infecção de Vírus da Poliedrose Nuclear em outra área. No presente trabalho, as pragas da área estavam sendo monitoradas (MIP) obtendo baixa freqüência de pulverizações de inseticidas, o que promoveu o maior índice de mortalidade por parasitóides, principalmente, a espécie Copidosoma truncatellum, que causou 65% de mortalidade larval de T.ni. No 1º surto desta praga, que ocorreu aos 70 DAE das plantas, no período produtivo de botões florais, ocorria mais forte o ataque do curuquerê A. argillacea, atingindo Nível de Ação, e já causando níveis de defolhamentos significativos. O uso de inseticida de alto poder de choque (deltamethrina) foi necessário, haja visto que ocorria maior proporção de lagartas grandes, e isto provavelmente, afetou a ocorrência e colonização de predadores e parasitóides. CONCLUSÃO Surtos de Trichoplusia ni ocorrem em algodoeiro no Centro Oeste do Brasil, quando agentes de controle biológico natural, como parasitóides e o fungo entomopatogênico Nomurea riley, tem suas ações reduzidas por fatores abióticos, bióticos e uso indiscriminado de inseticidas, provocando vácuo biótico. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA Os resultados obtidos provam que pragas secundárias em algodoeiro, como T. ni, somente ocorrem em altas populações quando, vácuo biótico é provocado por fatores abióticos (fatores meteorológicos) que atuam diretamente sobre agentes entomopatogênicos, ou fatores bióticos, como ocorrência de predadores e parasitóides, que são reduzidos em maiores índices que a praga, sob alta freqüência de aplicação de inseticidas não seletivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUSOLI, A.C. Praticas culturais, reguladores de crescimento, controle químico e feromônios no MIP – algodoeiro. In: DeGrande, P.E. (Editor). Bicudo do manejo algodoeiro: manejo integrado. Dourados: UFMS/Embrapa Agricultura Tropical, 1991. 142p. BUSOLI, A.C.; MICHELOTTO, M.D.; ROCHA, K.C.G. Controle Biológico de Pragas no MIP-algodoeiro no Cerrado Brasileiro. In: De Bortoli, S.A.; BOIÇA Jr, A.L.; OLIVEIRA, J.E.M. Agentes de controle biológico: metodologias de criação, multiplicação e uso. Jaboticabal:FCAV/UNESP, 2006. 353p. DeBACH, P. Controle biológico de las plagas de Iisetos y hierbas males. México: Continental, 1975. 949 p. GONDIM, D.M.C.; BELOT, J.L.; SILVIE, P.; PETIT, N. Manual de Identificação das pragas, doenças, deficiências minerais e injúrias do algodoeiro no Brasil. 3 ed. Cascavel: COODETEC/CIRAD – CA, 2001. 120p. (Boletim Técnico, 33). SANTOS, W.J. Identificação, biologia, amostragem e controle das pragas do algodoeiro. In: EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE. Algodão: tecnologia de produção. Dourados: EMBRAPA Algodão, 2001. 296 p. SILVA, S.M.T. ; SANTOS W.J. Ocorrência de inimigos naturais de Trichoplusia ni (Huebner, 1802) em algodoeiro, nos municípios de Uraí e Londrina (PR), no ano de 1979. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.9, n. 2, p. 179-187, 1980.