UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA JAIME RODRIGUES DA SILVA DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA ELETRODEGRADAÇÃO DE CIPROFLOXACINA POR AGENTES OXIDANTES GERADOS IN SITU São Cristóvão - SE 2012 JAIME RODRIGUES DA SILVA DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA PARA ELETRODEGRADAÇÃO DE CIPROFLOXACINA POR AGENTES OXIDANTES GERADOS IN SITU Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Sergipe como um dos requisitos para obter o título de Mestre em Química. ORIENTADORA: Profª. Drª. Maria de Lara P. de M. Arguelho São Cristóvão - SE 2012 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE S586d Silva, Jaime Rodrigues da Desenvolvimento de metodologia para eletrodegradação de ciprofloxacina por agentes oxidantes gerados in situ / Jaime Rodrigues da Silva ; orientadora Maria de Lara Palmeira de Macedo A. Beatriz . – São Cristóvão, 2012. 67 f. : il. Dissertação (Mestrado em Química) – Universidade Federal de Sergipe, 2012 1. Química ambiental. 2. Química analítica. 3. Processos químicos. 4. Eletrodegradação. 5. Ciprofloxacina. I. Beatriz, Maria de Lara Palmeira de Macedo A., orient. II.Título. CDU 542.943-92 AGRADECIMENTOS A Deus, por me deixar retornar e continuar evoluindo. Aos meus amigos espirituais que, nos momentos difíceis, estiveram sempre presentes. A meu pai Sebastião que por várias vezes me incentivou a estudar. A minha mãe Néris que me apoiou e acreditou em mim. A meus irmãos Rogério e Jairo... A meus sobrinhos, Leonardo, Letícia e ao meu pequeno Nininho, que nos momentos longe da Bá, me brindaram com suas boas energias. A Rosane, pelas conversas sobre Educação. A Madalena pela estabilidade de meu irmão Jairo. Aos meus inesquecíveis professores: Gilberto Freire Machado (in memorium), Vinicius Nunes da Silva, Maura Ferreira Mattos, Ilton Jornada, Stela Guedes Caputo, Raimundo Elito e Francisco Caruso, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Aos professores Horácio e Ana Maria, no DAA da UERJ. Aos meus alunos destes quase 25 anos de magistério... Pela energia que me renova a cada dia. Ao casal Marcia e Adriano Almeida. A “menina” Cibelli Rivas. Ao garoto José Sandro da Hora. A minha tia Edna... A D.Élia, pela ajuda financeira. A minha orientadora espiritual, Elisabeth... Sempre disposta a me ajudar. Ao meu amigo Jorge Cardoso (in memorium). A minha filha Bárbara Regina. A minha companheira desta jornada, Claudia Regina, por tudo que tem feito nos últimos 23 anos... Pra sempre. Ao funcionário da Supervia, que nos dias sem dinheiro me deixava passar pela “roleta”, sem pagar na Estação de trem de Senador Camará... E, eu nem sei o seu nome. A Luciana Distásio. Nina Lyra. Guilherme Amado. E a todos aqueles, que de alguma forma atravessaram o meu caminho... Ajudando ou impedindo esse plano. E, venci apesar de muitos não acreditarem... Aos colegas de laboratório: Débora, Karine, Michel, Jéssica. Ao “gordinho”que por várias vezes, com muita paciência, respondia as minhas perguntas (nem sempre inteligentes) sobre Eletrodegradação. Além disso, tinha os sábados em que almoçávamos biscoitos... A minha orientadora, Prof(a). Dr(a). Maria de Lara P. M. Arguelho, por me fazer acreditar, mesmo quando já não acreditava... Por ter realizado os experimentos iniciais demonstrando passo a passo, mesmo quando podia ter pedido a outro para faze-los. Por sacrificar suas folgas e férias e, principalmente, por ter sofrido junto... Obrigado. Algumas frases de Paulo Freire um educador que me inspira, mas que principalmente, traduz de forma simples e real alguns momentos que passei neste mestrado na UFS. "Educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que pouco sabem - por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais - em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais". "Crescer como Profissional, significa ir localizando- se no tempo e nas circunstâncias em que vivemos, para chegarmos a ser um ser verdadeiramente capaz de criar e transformar a realidade em conjunto com os nossos semelhantes para o alcance de nosso objetivos como profissionais da Educação". "Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino". "A educação necessita tanto de formação técnica e científica como de sonhos e utopias". "Não nego a competência, por outro lado, de certos arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que, não diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente mais gente". “Minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas de quem a ele se insere. É a presença de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito da História.” “Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia. Quão longe dela nos achamos quando vivemos a impunidade dos que matam meninos de rua, dos que assasinam camponeses que lutam por seus diteiros, dos que discriminam negros e inferiorizam as mulheres…” “O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério; o professor incompetente, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista; nenhum desses passa pelos alunos sem deixar sua marca.” Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ i LISTA DE TABELAS E FLUXOGRAMAS ..............................................................ii RESUMO ..................................................................................................................... iii ABSTRACT ................................................................................................................ iv Capítulo I. Introdução ................................................................................................ 1 I - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 I.1 Fármacos no Meio Ambiente ................................................................................ 1 II – REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 10 II. 1 A Descoberta e o Mecanismo de Ação dos Fármacos ...................................... 10 II. 2 A Classe dos Antibióticos e as Flourquinolonas ................................................ 13 II. 3 A Ciprofloxacina ................................................................................................. 18 II.4 A Biotransformação dos Xenobióticos ............................................................... 22 II.5 A Técnica Eletroquímica ..................................................................................... 24 II.6 Os Ânodos Dimensionalmente Estáveis ............................................................. 31 II.7 A Voltametria Cíclica .......................................................................................... 32 II.8 A Espectrofotometria .......................................................................................... 33 Capítulo II – Objetivos ............................................................................................... 36 II.1 – Geral ................................................................................................................ 36 II.2 – Específicos ........................................................................................................ 36 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Capítulo III – Metodologia ........................................................................................ 36 III.1 – Reagentes ........................................................................................................ 36 III.2 – Equipamentos ................................................................................................. 37 III.3 – Preparo dos Eletrodos .................................................................................... 38 III.4 – Preparo das Soluções ..................................................................................... 38 III.5 – O Efeito do Eletrólito Suporte na Eletrodegradação ................................... 39 III.6 – Efeito das diferentes Densidades de Corrente .............................................. 39 III.7 – O efeito do pH ................................................................................................ 39 III.8 – O Preparo da Solução Tampão (Britton-Robinson) ................................... 40 III.9 – A Espectrofotometria no UV-vis .................................................................. 40 Capítulo IV. Resultados e Discussão ........................................................................ 41 IV.1 – Espectrofotometria ......................................................................................... 41 IV.2 – Estudo Analítico ............................................................................................. 42 IV.3 – Comportamento Eletródico ............................................................................ 44 IV.4 – Tipo de Eletrólito ............................................................................................ 45 IV.5 – Efeito da Densidade de Corrente .................................................................. 47 IV.6 – Efeito de pH .................................................................................................... 49 IV.7 – Efeito da Força Iônica ................................................................................... 50 IV.8 – Eletrodegradação da ciprofloxacina em água de abastecimento ................. 52 Capítulo V – Conclusão ............................................................................................ 53 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva LISTA DE FIGURAS Figura 1. Estrutura do Ácido Nalidíxico ...................................................................... 14 Figura 2. Estrutura da Flumequina ............................................................................... 15 Figura 3. Estrutura da Norfloxacina ............................................................................. 15 Figura 4. Estruturas Moleculares das flourquinolonas ................................................. 16 Figura 5. Núcleo quinolona e naftiridina: características da estrutura geral que proporciona atividade antibacteriana ........................................................................... 16 Figura 6. O Anel Quinolônico e seus substituintes ...................................................... 17 Figura 7. Estrutura da ciprofloxacina ........................................................................... 18 Figura 8. Microespécies da ciprofloxacina em função do pH ...................................... 21 Figura 9. Equilíbrio de protonação da ciprofloxacina ................................................. 21 Figura 10. Espectrofotômetro de UV/VIS de arranjos de diodos ................................ 35 Figura 11. Potenciostato/Galvostato AutoLab PGTSTAT (Ecochemie) ..................... 37 Figura 12. Reator Eletroquímico .................................................................................. 38 Figura 13 . pHmetro digital Analion PM 680 pH meter .............................................. 40 Figura 14. Espectrofotômetro UV-Vis modelo Libra S12 ........................................... 40 Figura 15. Espectro de absorção da ciprofloxacina 0,1mol.L-1 em tampão pH 2,0 ..... 42 Figura 16. Curva de Calibração da ciprofloxacina em tampão BR/pH 2,0 ................. 43 Figura 17. Voltamogramas cíclicos de HCl 0,1 mol.L-1 a) em eletrodo de carbono vítreo, b) em eletrodo de carbono vítreo com 1.10-4mol.L-1 de ciprofloxacina, c) em eletrodo ADE com ciprofloxacina 1.10-4mol.L-1. Condição: v = 80mVs-1 ................................ 45 Figura 18. Variação da absorbância da ciprofloxacina (270nm) em diferentes eletrólitos em função do pH. Condições: Dc: 80mAcm-2; concentração de ciprofloxacina de 10-4mol.L-1 .................................................................................................................... 46 Figura 19. Comportamento da absorbância em 270nm em função do tempo de eletrodegradação da ciprofloxacina em eletrodo de Ti/TiO2. Condições: 2,5.10-5mol.L-1 de ciprofloxacina, pH = 2,0 e HCl 0,1 mol.L-1, Dc: 80mAcm-2 ................................... 48 Figura 20. Espectro de absorção da ciprofloxacina, 1.10-4mol.L-1, em diferentes valores de pH (270 nm) ............................................................................................................. 50 Figura 21. Estudo da Força Iônica em HCl, pH=2,0 e Dc: 80mAcm-2 ........................ 51 Figura 22. Redução da absorbância da ciprofloxacina ( c = 1.10-4 mol.L-1 ), utilizando como eletrólito suporte o HCl a 0,1mol.L-1 em água de abastecimento com pH=2,0 sobre eletrodos ADE em função do tempo de eletrólise a cada 5 min (270nm) ........... 52 i Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva LISTA DE TABELAS E FLUXOGRAMAS Tabela 1. Eletrodegradação de Fármacos --------------------------------------------------- 29 Esquema 1: Fluxograma de Otimização do Método de Eletrodegradação da Ciprofloxacina ----------------------------------------------------------------------------------- 41 ii Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva RESUMO A contaminação ambiental por fármacos de ação antibiótica pode trazer como consequência o desenvolvimento de bactérias mais resistentes, alterando a estrutura da comunidade microbiana na natureza. Devido a sua ampla utilização, a ciprofloxacina vem sendo identificada em concentrações-traço em estações de tratamento de esgotos (ETEs) e águas superficiais, uma vez que os processos convencionais de tratamento de efluentes usuais não removem os fármacos completamente, essas substâncias têm sido detectadas em águas potáveis, o que caracteriza um risco direto para os seres humanos, visto que a constante contaminação das fontes de água pode ser associada ao processo contínuo e crescente de reutilização da água em todo o mundo. Neste estudo foi desenvolvido um método de oxidação eletroquímica da ciprofloxacina, uma vez que na transferência de elétrons, os fármacos podem ser transformados, biodegradados ou mineralizados. A oxidação eletroquímica dos fármacos pode ocorrer de forma satisfatória, na superfície de alguns ânodos de óxidos metálicos, em condições de geração simultânea de oxigênio e com a formação de óxidos superiores ou superóxidos. Este mecanismo é observado na superfície dos ADE® revestidos e imobilizados por óxidos metálicos. Para identificar e acompanhar a mudança de concentração da ciprofloxacina foi analisado o seu espectro de absorção na região do ultravioleta e visível (200-800 nm). A ciprofloxacina em solução aquosa apresenta dois picos de absorção em bandas completamente distintas e com máximos em 270 nm e 315 nm. A natureza do eletrólito e o pH apresentou grande influência na velocidade do processo de degradação. Em meio a Cl- ocorreu uma maior eficiência na degradação. Nos estudos com HCl, NaCl e KCl foi observado 100% de remoção da cor amarelada, característica da presença do ânion Cl- e da posterior formação de hipoclorito (ClO-). Por sua vez, o pH foi um dos fatores limitantes deste processo, onde foi possível observar que a reação acontece de maneira mais satisfatória em valores de pH abaixo de 4,0. A corrente que apresentou o melhor resultado foi de 80mA. A aplicação do método em água de abastecimento indicou que em meio ácido contendo cloreto a ciprofloxacina pode ser completamente degradada em apenas 5 min. iii Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva ABSTRACT Environmental contamination by drugs of antibiotic action can bring as a consequence the development of more resistant bacteria, altering the microbial community structure in nature. Due to its widespread use, ciprofloxacin has been identified in trace concentrations in sewage treatment plants (STPs) and surface waters, since the conventional processes of wastewater treatment does not remove the usual drugs completely, these substances have been detected in drinking water, which represents a direct risk to humans, since the constant contamination of water may be associated with the continuous process and reuse of the water increasing worldwide. In this study, a method of electrochemical oxidation of ciprofloxacin, since the transfer of electrons, drugs can be processed, biodegraded or mineralized. The electrochemical oxidation of the drugs can occur in a satisfactory manner, the surface of some anode metal oxide, capable of generating oxygen and simultaneously with the formation of higher oxides or superoxide. This mechanism is at the surface of ADE ® coated and immobilized metal oxides. To identify and monitor the change in concentration of ciprofloxacin was analyzed their absorption spectra in the ultraviolet and visible (200-800 nm). Ciprofloxacin in aqueous solution shows two absorption peaks in completely different bands and with maximum at 270 nm and 315 nm. The nature of the electrolyte and the pH had great influence on the speed of the degradation process. In the midst of Cl - was a more efficient degradation. In studies with HCl, NaCl and KCl was observed 100% removal of the yellow color characteristic of the presence of Cl-anion and subsequent formation of hypochlorite (ClO-). In turn, the pH was a limiting factor in this process, where it was observed that the reaction proceeds in most satisfactorily at pH values below 4.0. The current that showed the best result was 80 mA. The method of supplying water to said acid chloride in ciprofloxacin can be completely degraded within 5 min. iv Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Capítulo I. Introdução I – INTRODUÇÃO I.1 Fármacos no Meio Ambiente Os fármacos ou antibióticos podem ser definidos, resumidamente, como compostos naturais ou sintéticos capazes de inibir o crescimento ou causar a morte de fungos ou bactérias. Quando causam a morte da bactéria são ditos bactericidas e, quando promovem a inibição do crescimento microbiano, são conhecidos como bacteriostáticos (RIBEIRO, 2009). Os antibióticos têm a finalidade de eliminar ou impedir o crescimento da bactéria. No entanto, a sua utilização indiscriminada, como em situações terapêuticas para as quais não estão indicados, provoca um impacto negativo que acaba determinando no aparecimento de bactérias resistentes (GUIMARAES, 2010). Apesar do conhecimento das diversas características físico-químicas dos antibióticos e a sua importância cada vez maior para a sociedade moderna, ainda não foi possível acumular informações suficientes a respeito de seus efeitos ao meio ambiente. Como não existe regulamentação para produtos farmacêuticos presentes em águas para consumo, em efluentes industriais e ou domésticos, o descarte irracional pode afetar a flora e a fauna (ANVISA, 2012). O modelo de desenvolvimento adotado atualmente leva o homem moderno a interferir de forma intensa no meio ambiente. Tendo como pretexto a manutenção de altas taxas de crescimento para a agricultura, pecuária e indústria, o descarte nos centros urbanos de substâncias orgânicas sintéticas persistentes de grande toxicidade, como os fármacos e os pesticidas, tem afetado, por exemplo, a vida aquática (SUNGPYO, 2007). O monitoramento de fármacos residuais no meio ambiente ganhou um grande interesse da comunidade científica, por estarem sendo encontrados em efluentes de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e em águas naturais, em concentrações na faixa do μg L-1 e do ng L-1 (BILLA, 2003). 1 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Além disso, uma parte significativa dos fármacos é excretada por humanos no esgoto doméstico sem tratamento, e por serem substâncias orgânicas persistentes não são removidaspor processos convencionais de tratamento de água (KUMERER, 2001; BILLA, 2003; FARRÉ, 2008; SANDERSON, 2009). Os fármacos são desenvolvidos para serem quimicamente persistentes, mantendo suas propriedades químicas no intuito de servir a um propósito terapêutico. Quando um fármaco é absorvido por um organismo vivo, uma quantidade significativa dessa substância, e de seus metabólitos, é excretada pela urina ou fezes. Sendo assim, essas substâncias são encontradas, frequentemente, no esgoto doméstico (SEIFRTOVÁ, 2009). Existem três características que definem a presença dos fármacos no meio ambiente (AMORIM, 2007): 1.- a biodegradabilidade, ou seja, a mineralização formando como produtos o CO2 e a H2O; 2.- a degradação ou metabolização parcial; 3.- a persistência. A presença de resíduos farmacológicos no ambiente aquático tem como causa principal o uso de esterco ou de lodo digestivo, provenientes das ETEs como adubo. Além disso, os promotores do crescimento na produção de gado ou avícola, como aditivo alimentar para peixes e na criação de porcos pode ser responsável por contaminar o solo, as águas do subsolo e as superficiais. A disposição de resíduos provenientes de indústrias farmacêuticas em aterros sanitários, também determina a contaminação das águas do subsolo e das proximidades do aterro (SANTOS, 2010). Vários métodos analíticos são reportados na literatura para a determinação de fármacos em matrizes biológicas como sangue, tecido e urina, onde algumas modificações podem ser feitas para o tratamento de amostras ambientais. No entanto, a análise de fármacos residuais em efluentes de ETEs, em águas de rios, de subsolos e em água potável requer o desenvolvimento de métodos mais sensíveis, para detectar concentrações na faixa do μg L-1 e do ng L-1 (MASCOLO, 2010). Em qualquer parte do mundo, os adventos tecnológicos e industriais superam às práticas para regulamentar o lançamento de novos poluentes. A Agência de Regulamentação de 2 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Drogas e Alimentos dos EUA (FDA - U. S. Food and Drug Administration), por exemplo, cobra somente ensaios ecológicos e de avaliação para fármacos, quando a concentração ambiental for superior a 1 μg L-1. (BOLONG et al, 2009). No Brasil, a resolução RDC 44, de 26/10/2010, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2012), restringiu apenas a prescrição e venda de antibióticos, com retenção e validade das receitas. De acordo, com a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 50% das prescrições de antibióticos no mundo são inadequadas. Segundo o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio o Brasil importou, entre 2002 e 2007, cerca de 71 milhões de dólares de medicamentos tendo como princípio ativo às penicilinas naturais e seus derivados e, cerca de 174,5 milhões de dólares em compostos com o princípio ativo das cefalosporinas e cefamicinas naturais e semi-sintéticas (MARQUES, 2010). A indústria farmacêutica brasileira importa os princípios ativos de grandes centros de produção, como Índia e China. (PALMEIRA FILHO e PAN, 2003). Essas indústrias geram efluentes em concentrações residuais, junto a solventes e seus produtos intermediários, os quais podem apresentar características de não biodegradabilidade e de alta toxicidade para o meio ambiente (MASCOLO, 2010). Mesmo que tenham sido submetidas a estudos farmacocinéticos, para obterem a liberação governamental para uso, existem pouquíssimas informações sobre o seu destino e transtornos ao meio ambiente (FARRÉ, 2008). Os antibióticos podem ser considerados compostos polares, não voláteis e que ocasionam reações químicas de mecanismos pouco conhecidos. Possuem estruturas químicas complexas, tendo um grande número de grupos funcionais, como ácido carboxílico, amida, amina, álcool, cetona, enol, fenol, tiazol, nitro composto, derivados halogenados, sulfonamida, caracterizando uma grande atividade química e biológica (PALMEIRA FILHO, 2003). Na Ciprofloxacina a presença de grupos funcionais resume algumas interações que ocorrem através de processos de adsorção ou complexação. Podemos citar: o pH, o potencial redox e a presença de cátions e ânions. 3 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Em função disto, podemos encontrar essa substância permeando o solo e sendo carreada para águas subterrâneas até atingir os rios, expondo tanto os organismos aquáticos como os usuários a esse tipo de contaminação (CASTIGLIONI, et al., 2004). Os efeitos causados por esses poluentes orgânicos persistentes dependem da concentração, lipofilicidade, persistência, bioacumulação, tempo de exposição e dos mecanismos de biotransformação e excreção. No entanto, através de biotransformações algumas dessas substâncias presentes no meio ambiente podem formar subprodutos iguais ou mais perigosos que os compostos originais (BOLONG, 2009). A eliminação dos fármacos do meio ambiente ocorre pelos processos naturais de biodegradação e de degradação abiótica. Muitas drogas não são biodegradadas sendo lançadas, diretamente nos corpos hídricos. A degradação abiótica do fármaco, promovida pela absorção da radiação solar ou pela reação com espécies reativas fotoquimicamente geradas, como •OH ou •OOH, poderia ser o processo de eliminação dominante, no entanto, as persistências destes resíduos no ambiente aquático indicam que esses processos naturais de eliminação não tem sido eficientes para removê-los (ALVES, 2004). A preocupação com a presença da Ciprofloxacina é decorrente de sua persistência química, resistência microbiana cada vez maior e efeitos sinérgicos que levam às implicações toxicológicas. Apesar das baixas concentrações presentes nos efluentes, o lançamento desses sem tratamento pode provocar efeitos adversos na vida aquática com danos tanto à saúde humana como à ecologia aquática (ONESIOS, et al., 2009). O tratamento de resíduos dos efluentes gerados pela indústria farmacêutica é complexo e dependente dos processos de produção. Efluentes com altas frações de carbono facilmente biodegradáveis e quantidades baixas de compostos orgânicos recalcitrantes, levam a um acúmulo no ambiente de compostos orgânicos não-biodegradáveis em baixas concentrações (ROCHA, 2009). Estuda-se bastante a utilização de processos oxidativos avançados (POA) aplicados na remoção de fármacos dos efluentes industriais. Entretanto, a eficiência do processo em grande escala é limitada devido aos altos custos (BEKER, 2010). 4 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Apesar da alta taxa de utilização dos fármacos, como a Ciprofloxacina, são escassas informações que dizem respeito ao destino, mecanismo de transporte, efeitos a exposição, ocorrência de metabólitos e produtos de degradação no meio ambiente. Esses fármacos podem afetar, por exemplo, o crescimento, reprodução e o desenvolvimento dos organismos presentes nos ecossistemas (SANDERSON, 2009). O lançamento de efluentes contendo antibióticos pode proporcionar o desenvolvimento de bactérias mais resistentes, alterando a estrutura da comunidade microbiana na natureza. A maior rota de contaminação, por poluentes orgânicos persistentes, para os humanos e animais consiste na ingestão pelos alimentos ou água, levando a uma bioacumulação e biomagnificação, até ao topo da cadeia alimentar. Portanto, os fármacos não necessitam ser persistentes para apresentarem toxicidade, visto que, são liberados de forma contínua para os ecossistemas aquáticos, através do lançamento de efluentes das ETE nos cursos d’águas (BAPTISTUCCI, 2012). Os processos de tratamento de efluentes usuais não removem os fármacos completamente, por isso, essas substâncias têm sido detectadas em águas potáveis, o que caracteriza um risco direto para os seres humanos, visto que a constante contaminação das fontes de água pode ser associada ao processo contínuo e crescente de reutilização da água em todo o mundo (ONESIOS, 2009). Existem vários processos de tratamento de efluentes e águas residuais que procuram eliminar ou minimizar a presença dos poluentes orgânicos persistentes (fármacos) no meio ambiente. São conhecidos como Processos Oxidativos Avançados (POA) e são vistos como uma alternativa ou complemento, aos métodos convencionais de tratamento (COELHO, 2008). Os métodos convencionais de remediação de efluentes mais utilizados estão baseados em um pré-tratamento por sistemas físicos, químicos ou biológicos. A adsorção, coagulação e/ou precipitação, seguido de tratamento biológico, principalmente pelo sistema de lodos ativados é muito utilizado. Neste processo preliminar ocorre somente a depuração dos efluentes, através da transferência de fase aquosa para a sólida, entretanto os poluentes não são degradados persistindo o problema ambiental (ANDREOZZI, 2004). 5 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Os processos biológicos são os mais utilizados porque permitem o tratamento de grandes volumes, conseguem alcançar altas taxas de remoção de matéria orgânica e os custos são relativamente baixos. Os resíduos são utilizados como substrato para o crescimento e manutenção da quantidade de microrganismos. Nos sistemas aeróbicos, utilizam-se bactérias e fungos que requerem oxigênio molecular, formando gás carbônico (CO2) e água (H2O). Já os anaeróbicos, utilizam bactérias que levam a formação de CO2 e gás metano (CH4) e cujo receptor de elétrons pode ser o nitrato (NO3-) ou o sulfato (SO4-). No entanto, alguns compostos são recalcitrantes e podem ser tóxicos aos microrganismos (ROCHA, 2009). Nos estudos de biodegradação de fármacos, as taxas de remoção foram da ordem de 50% para sistemas convencionais de lodo ativado. A eficiência de remoção dos fármacos em ETE, depende das propriedades físico-químicas de cada composto. Vários trabalhos relatam que a eliminação destes compostos é incompleta, pois a taxa de remoção é varia muito (MARQUES, 2010). O tratamento de efluentes industriais por lodos ativados constitui um sistema biológico de degradação de grande eficiência. Por ser versátil é capaz de remediar uma ampla gama de compostos orgânicos poluentes. A característica principal é a recirculação da biomassa, onde a maior parte dos microorganismos permanece por um longo tempo no meio facilitando o processo de oxidação dos compostos orgânicos e reduzindo o tempo de retenção do efluente (BAPTISTUCCI, 2009). No entanto, à composição do efluente requer um acompanhamento rigoroso das condições ótimas de pH, temperatura e nutrientes, produzindo grande volume de lodo e necessitando de imensa área territorial para sua instalação. Além disso, muitos compostos não são efetivamente degradados pelos microorganismos, principalmente os organoclorados e os nitroaromáticos, ficando adsorvidos nos flocos de lodo, gerando um novo problema a respeito da disposição final desta biomassa contaminada (DALMÁZIO, 2007). Nos processos químicos a oxidação dos poluentes ocorre pela ação de oxidantes fortes, como o peróxido de hidrogênio (H2O2), o cloro (Cl2), o hipoclorito (ClO-) e o permanganato (MnO4-). 6 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Na maioria dos casos, esse tratamento não promove a mineralização completa dos contaminantes formando uma variedade de sub-produtos de degradação, como os ácidos orgânicos: oxálico, tartárico, fórmico, acético. Ainda com a utilização de Cl2 ocorre a formação de compostos organoclorados, que podem ser mais tóxicos que o contaminante inicial (AMORIM, 2007). Existe uma necessidade imediata de desenvolver e utilizar processos que possam degradar ou mineralizar as espécies poluentes. Com o intuito de garantir uma maior qualidade dos recursos hídricos a aplicação dos processos oxidativos avançados (POA), na remediação de compostos poluentes, tem sido muito estudada. Os POA são caracterizados pela geração de espécies fortemente oxidantes, como o radical hidroxila (OH•), que é capaz de promover a rápida degradação de vários compostos poluentes. De um modo geral, a matéria orgânica dissolvida na água é oxidada por uma seqüência de reações em cadeia, onde a abstração de um átomo de hidrogênio do composto poluente é alvo do radical hidroxila (VASCONCELOS, 2011). Os POA são definidos como tecnologias que envolvem a geração e o uso de espécies químicas de alto poder oxidante e que se movimentam buscando degradar a matéria orgânica. Entre os mais empregados, na degradação de fármacos, podemos citar: a Fotólise do Peróxido de Hidrogênio, a Ozonização, a Fotocatálise Heterogênea, o Fenton e o Foto-Fenton (AMORIM, 2010). A degradação de fármacos por POA envolve diferentes etapas e várias reações que resultam em diferentes sub-produtos, que podem apresentar maior ou menor toxicidade em comparação ao fármaco original. Estes intermediários podem manter ou não a atividade funcional do composto original. Uma vez que vários intermediários podem ser formados durante o tratamento, é importante identificar uma rota de degradação bem como avaliar a toxicidade e o destino destes no ambiente. Alguns trabalhos relatam o uso da técnica de cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-MS) para a identificação de intermediários de degradação (VASCONCELOS, 2006). 7 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Pequenas alterações na estrutura química dos fármacos ocasionam impactos significativos no seu destino no ambiente. Os mecanismos de troca iônica, sorção, complexação superficial e ligações de hidrogênio podem influir na adsorção desses fármacos em solos, sedimentos e lodos biológicos, causando um aumento em sua persistência (BOLONG, 2009). Podemos destacar as principais fontes dos fármacos no meio ambiente: Indústria farmacêutica: com produção de pequenos volumes de matéria prima com baixa biodegradabilidade e alta toxicidade atribuída, principalmente, aos ingredientes ativos em suas fórmulas. Eliminação por organismos vivos: após a ingestão, que ocasiona reações metabólicas, como a hidroxilação ou clivagem, parte da substância original pode ser eliminada pelos organismos sem ser metabolizada, chegando às estações de tratamento de efluentes (KUMMERER, 2009). Em Estações de tratamento de efluentes (ETE): onde são parcialmente eliminados durante o processo de tratamento, passando através do sistema e chegando aos corpos receptores. Eliminação por excreção de animais: devido ao uso no tratamento e prevenção de doenças, além da promoção do crescimento. O esterco obtido por ser rico em nitrogênio, fósforo, potássio e apresentar alta concentração de matéria orgânica aporta os fármacos para os solos, onde podem ser carreados para os cursos d’água ou adsorvidos por esses. Aplicação em aquicultura: através do descarte in natura e sem biotransformação, pode ser adsorvido pelo sedimento ou ingerido pela comunidade aquática. Muitos trabalhos abordam, apenas, a remoção do princípio ativo do antibiótico, não considerando a extensão da biodegradação dos metabólitos e produtos intermediários de degradação formados (ONESIOS, 2009; SANDERSON, 2009; GARCIA-GALÁN, 2008; KUMMERER, 2009; SEIFRTOVÁ, 2009). Neste trabalho estudou-se a eletrodegradação da ciprofloxacina aplicada em amostras reais de água de abastecimento público coletadas da estação de tratamento de São CristóvãoSE. Na eletrodegradação foram utilizados eletrodos de Ti/TiO2, em ADE cuja adesão do óxido de titânio IV foi obtida com a calcinação de uma mistura precursora. 8 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Uma característica interessante destes eletrodos é seu comportamento pseudo capacitivo, onde na superfície eletródica, o intervalo de potencial que vai da reação de desprendimento de hidrogênio (RDH) à reação de desprendimento de oxigênio (RDO), além do carregamento da dupla camada elétrica, ocorrem transições eletrônicas de estado sólido que envolvem a entrada e saída (intercalação/deinserção) de prótons entre grupos superficiais do óxido e a solução. As reações de desprendimento de cloro e oxigênio em nos ADE, tanto em meio ácido como em meio básico, envolvem um grande número de etapas consecutivas (TRASATTI, 1981). As condições otimizadas como meio reacional, pH, intensidade de corrente e força iônica foram acompanhadas pelos métodos de monitoramento espectrofotométrico e de voltametria cíclica. O grande consumo de ciprofloxacina, sua forma diversificada de apresentação e sua fonte variada de geração de metabólitos no meio ambiente torna essencial o estudo da degradação desse composto, devido ao impacto que esses compostos biologicamente ativos causam no meio ambiente. As dificuldades que são observadas em estações de tratamento de efluentes por métodos convencionais de tratamento de águas e esgotos, abrem alguns precedentes para a utilização de técnicas não convencionais, como as técnicas eletroquímicas, de tratamento de resíduos e efluentes (DI BERNARDO, 2005). Com o tratamento eletroquímico dos efluentes podemos remover ou destruir as espécies poluentes, sem a adição de grandes quantidades de produtos químicos evitando, assim, a possível formação de compostos organometálicos ou o aumento do volume de efluente a ser tratado. 9 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva II. REFERENCIAL TEÓRICO II.1 A Descoberta e o Mecanismo de Ação dos Antibióticos Os Antibióticos podem ser considerados como substâncias químicas ou metabólitos produzidos por organismos vivos específicos, seja através de síntese ou semi-síntese, e que em pequenas quantidades são capazes de inibir o desenvolvimento de patógenos e dos processos vitais de várias espécies de microrganismos, como por exemplo, as bactérias. Sendo assim, são usados no combate a infecções em seres humanos e animais. Além disso, são drogas com capacidade de interagir com microorganismos mono ou pluricelulares (UNITED STATES PHARMACOPEIA, 2008). O termo antibiótico pode ser usado de modo restrito para indicar substâncias que atingem bactérias, ou em sentido mais amplo para fungos, por exemplo. Atua como bactericida, quando tem efeito letal sobre a bactéria ou bacteriostático, através da interrupção da reprodução ou da inibição de seu metabolismo (SOUZA, 2006; REYNOLDS, 2007). O primeiro antibiótico a ser isolado foi a piocianase, extraída de Pseudomonas aeruginosa por Emmerich e Low (1899). Eles perceberam que bactérias patogênicas eram habitualmente destruídas no meio onde crescia essa Gram-negativa. No entanto, essa observação não teve nenhum desdobramento terapêutico. Podemos dizer que a história dos antibióticos só teve início com Alexander Fleming, que em 1929 isolou de um cogumelo da família Penicilium, um material bruto capaz de destruir colônias de Staphylococcus aureus ao qual denominou de penicilina (SOUZA, 2006). Este material continha, aproximadamente, 10% da substância pura e foi testado em animais com infecções, apresentando excelentes efeitos. Entretanto, sua descoberta não teve aplicação prática imediata, pois foi incapaz de produzir consideráveis rendimentos na sua produção. Dez anos mais tarde, coube a Florey e Chain, proporcionar melhorias nos resultados (NISHAMINY, 2006). 10 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Somente em 1943, a penicilina começou a ser produzida em larga escala e deu-se inicio a era dos antibióticos. Com essa descoberta, Fleming foi premiado com o Nobel de Medicina em 1945 (GUIMARAES, 2010). No prosseguimento de suas pesquisas, Fleming observou que a penicilina não era eficaz contra todos os tipos de bactérias e, em doses baixas ou durante um curto período de tempo, fazia com que as bactérias adquirissem resistências. Por esta razão recomendou que a penicilina deveria ser usada somente em razão evidente, com altas concentrações e em períodos longos de tempo (VADE-MECUM, 2007). A partir daí o desenvolvimento dessas substâncias, conhecidas também como fármacos e eficientes no combate às infecções bacterianas, revolucionou o tratamento médico ocasionando uma redução considerável na mortalidade causada por doenças microbianas (ANDREU, 2007). Em 1961 existiam somente 513 antibióticos registrados, em 1772 cerca de 4076, em 1985 cerca de 7650 e, atualmente ao redor de 8.000. Portanto, podemos afirmar que depois de algumas décadas o número destes compostos aumentou consideravelmente (BLONDEAU, 2004; EVSTIGNEEV, 2006). Os antibióticos constituem uma das classes de substâncias mais importantes produzidas, em larga escala, por processos microbianos (SUNGPYO, 2007; WANG, 2008). Atualmente, o termo antibiótico engloba todas as substâncias naturais, semissintéticas e fitobióticas. Os antibióticos semissintéticos, cuja forma básica é produzida por um microrganismo, são obtidos por sínteses e por modificação na estrutura de uma substância. Já os fitobióticos, de ação antimicrobiana, resultam de vegetais superiores. O mecanismo de ação de um antibiótico pode ser influenciado, pela anatomia e/ou fisiologia do organismo receptor. Além disso, a característica da bactéria em ser Grampositiva ou Gram-negativa é um fator importante para a escolha do tipo de fármaco a ser usado (TAKAHASHI, 2003). As bactérias Gram-positivas possuem uma parede celular espessa, composta de 60% de mucopolissacarídeos, com uma cobertura de ácido teicóico e ribonucleato de magnésio. Já 11 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva os bacilos Gram-negativos, a parede celular é mais delgada e a camada de mucopolissacarídeos ocupa somente 10% do total (APPELBAUM, 2000). A separação das bactérias em Gram-positivas e Gram-negativas é feita através de um método de coloração, conhecido como método de Gram e desenvolvido por H. Gram. Neste método, as bactérias Gram-negativas adquirem cor avermelhada e, as Grampositivas adquirem cor arroxeada. Essa diferença deve-se a constituição distinta de suas paredes celulares. Nas bactérias gram-negativas, a membrana externa que é constituída de lipopolissacarídeos, promove uma impermeabilização aumentando a sensibilidade ao corante violeta usado no método (RANG, 2003; NICOLAOU, 2008). O lipopolissacarídeo constitui uma barreira eficaz para a penetração do fármaco e, a dificuldade em atravessa-la é a provável razão para a perda de atividade contra bactérias Gram-negativas em detrimento as Gram-positivas. Essa afirmação resume a discussão da falta de suscetibilidade à maioria dos fármacos antibióticos apresentada pela Pseudomonas aeruginosa, que pode provocar infecções letais em pacientes, como por exemplo, queimaduras e ferimentos (KATZUNG, 2006). A ação dos antibióticos pode ser caracterizada por quatro maneiras distintas: a) Através da inibição da Síntese da Parede Celular Bacteriana – como a parede celular é um envoltório de proteção, os antibióticos agem sobre a síntese da parede celular produzindo uma parede com defeitos e, que implica no descontrole sobre o processo de replicação da célula; b) Através da alteração da Membrana Celular – sendo a membrana celular constituída de lipídios, proteínas e enzimas importantes para o metabolismo celular. Uma interrupção nestas funções causa danos à célula; c) Através do bloqueio na Síntese Proteica – a reprodução bacteriana deve ocorrer de modo repetitivo, com a união de aminoácidos que constituem as moléculas de proteínas microbianas. A interrupção, em qualquer ponto desta cadeia, com consequente bloqueio de alguma função, cessa o crescimento e elimina a célula bacteriana. 12 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva d) Através da inibição da Replicação Cromossômica – atuam inibindo a síntese dos ácidos nucleicos. Podem atuar no DNA parasitário. Inibem a síntese do RNA ou a do ácido tetrahidrofólico. Reduzem também a formação dos nucleotídeos (RANG, 2003). II.2 A Classe dos Antibióticos e as Flourquinolonas Os antibióticos ativos contra infecções podem ser separados em classes: a) Penicilinas – derivadas do ácido 6-aminopenicilânico, com junção entre o anel betalactâmico e o anel tiazolidínico. Inibem a enzima de formação da parede celular; b) Cefalosporinas – o mecanismo de ação é análogo ao das penicilinas, com a inibição da síntese da parede celular das bactérias. Dividem-se em agentes de primeira, segunda, terceira e quarta gerações. Na progressão da primeira para a quarta geração, ampliouse o espectro contra os organismos Gram-negativos, entretanto ocorreu a perda da eficácia para os microrganismos Gram-positivos; c) Beta-Lactâmicos não clássicos – são os que contêm anel beta-lactâmico com o mesmo mecanismo de ação para inibir a síntese da parede celular bacteriana; d) Anfenicóis – a característica é a difusão através da membrana celular bacteriana com posterior união, de forma reversível a uma subunidade de seus ribossomos. Evitam a transferência de aminoácidos às cadeias peptídicas em formação, o que impede a biossíntese proteica. São tóxicos, não devendo ser utilizados para tratamentos simples; e) Tetraciclinas – inibem a síntese das proteínas, bloqueando a união do RNA de transferência ao complexo ribossômico do RNA mensageiro. Porém, diversas espécies de bactérias são resistentes às tetraciclinas; f) Glicopeptídeos – agem de forma a inibir a formação de cadeias (lineares) dos peptideglicanos, que compõem a parede celular da bactéria; g) Macrolídeos – o mecanismo de ação análogo é idêntico aos dos anfenicóis; h) Aminoglicosídeos – transportam-se através da membrana celular bacteriana, unindo-se, irreversivelmente, a proteínas receptoras com uma subunidade ribossômica bacteriana. Interferem com o complexo de iniciação do RNA mensageiro, causando erro na leitura do DNA impossibilitando a síntese correta das proteínas. Seu uso indiscriminado resultou no surgimento de organismos mais resistentes; 13 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva i) Quinolonas – são inibidoras da DNA-girase, que é uma enzima essencial à atividade metabólica das bactérias. O cromossomo de uma bactéria tem cerca de 1000 μm de comprimento e, para que ele possa caber dentro de uma célula bacteriana de 1-2 μm de diâmetro é necessário estar extremamente compactado e enrolado. Durante a fase metabólica da bactéria, ocorre o enrolamento e o desenrolamento de certos segmentos do cromossomo. A DNA-girase, que é a enzima que promove o espiralamento do DNA, quando inibida, interrompe as mensagens vitais que não podem ser mais originadas ao cromossomo bacteriano. Segundo ANDERSSON e MACGOWAN, entre os antibióticos citados, as Quinolonas (QN) se destacam, pois desde a sua descoberta, na década de 60, despertaram interesse científico e clínico por possuírem características de um antibiótico ideal, combinando um amplo espectro de atividade com boa biodisponibilidade oral. A primeira QN que apresentou atividade antibacteriana foi o ácido nalidíxico (Figura 1), sintetizado e patenteado por Lescher e colaboradores em 1962, entretanto, como não alcançava a concentração adequada na maioria dos tecidos e órgãos a sua indicação passou a ser restrita ao tratamento de infecções urinárias simples (HEEB e cols., 2001). Figura 1. Estrutura do Ácido Nalidíxico. Por outro lado, a Flumequina que apresenta um átomo de flúor na posição 6 ou carbono 6 (C-6) (Figura 2), foi patenteada em 1973, e apresentou indicações de que poderia ser utilizada no combate a infecções bacterianas (APPELBAUM, 2000). 14 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Figura 2. Estrutura da Flumequina. No entanto, o grande avanço nesses compostos ocorreu no final da década de 70, quando além do átomo de flúor, adicionou-se um grupo piperazila na posição 7(C-7). A Norfloxacina (Figura 3), com patente requerida em 1978, caracteriza a primeira Flourquinolona (FQN) com potente atividade antibacteriana (SOUZA e cols., 2006; APPELBAUM, 2000). Figura 3. Estrutura da Norfloxacina. Essa mudança significativa, na estrutura da Norfloxacina, além de melhorar a sua distribuição no organismo, intensificou a capacidade de debelar infecções no trato respiratório, na pele, ossos, entre outras (HEEB, 2001). Já os compostos, com flúor (F) na posição 6, são conhecidos por Fluorquinolonas (FQN), (Figura 4), e apresentam melhorias significativas na atividade contra Streptococcus pneumoniae. 15 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva CH 3 HN N N O Norfloxacina CH 3 HN OH F N N OH F O Ciprofloxacina CH 3 O N N O O N OH F O Levofloxacina O Figura 4. Estruturas moleculares das Fluorquinonas (FQN). Simplificadamente, podemos dizer, que as QN possuem um anel heteroaromático bicíclico, que pode conter um carbono ou um nitrogênio na posição 8. A presença do carbono caracteriza uma quinolona verdadeira. Já o nitrogênio é oriundo de um sistema anelar chamado naftiridina (Figura 5). Na prática, ambos os núcleos (quinolona e naftiridina), fazem parte da classe descrita como “agentes antibacterianos quinolônicos” e a atividade antibacteriana requer a presença do anel piridínico. No entanto, o ácido carboxílico na posição 3 e a carbonila na 4 são essenciais para a atividade antimicrobiana, além da substituição de R1 do nitrogênio na posição 1. Compostos sem grupamentos ligados ao nitrogênio na posição 1 apresentam pouca ou nenhuma atividade antimicrobiana, possivelmente devido à formação de tautômeros (APPELBAUM, 2000). R N quinolona O X N OH F R N R1 R2 R3 N O O naftiridina O Figura 5. Núcleo quinolona e naftiridina: características da estrutura geral que proporciona atividade antibacteriana. 16 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Foi observado que no geral, a presença de substituintes volumosos na posição 5 diminui a atividade contra Gram-positivos, provavelmente devido à interferência com sítios de ligação enzimática da molécula nas posições 3 e 4. Entretanto, na posição 8, se X for um carbono, os pequenos substituintes, tais como flúor, cloro e metoxila, têm sido responsáveis pela melhoria na atividade. Além disso, alterações nesta posição afetam as propriedades antibacterianas contra organismos anaeróbios e a estabilidade frente à luz ultravioleta. Compostos de núcleo naftiridina com um grupo metoxila ligado ao nitrogênio apresentam também baixa toxicidade e boa atividade contra aeróbios (TAKAHASHI, 2003). Destacando-se as posições dos substituintes (Figura 6) e as relações entre a estrutura e a atividade para cada grupamento no anel quinolônico, é possível encontrar as características estruturais que influenciam na atividade nas bactérias Gram positivas e negativas (VIEIRA, 2007). R1 R2 X N OH F R3 O O Figura 6. O Anel Quinolônico e seus substituintes. • Posição 1 – quando R1 está ligado a átomos de carbono ou oxigênio a atividade biológica diminui. No entanto, ligando-se o nitrogênio a grupos como ciclopropila, terc-butila ou etila, a atividade aumenta; • Posição 3 – o radical carboxila acentua a atividade biológica; • Posição 4 – o radical carbonila ao ser substituído por grupamentos C=S ou oxigênio proporciona diminuição na atividade biológica; • Posição 5 – o radical R3 ao ser substituído por NH2 ou F aumenta a atividade biológica; • Posição 6 – radicais como NO2, NH2 e F, principalmente, confere atividade biológica; • Posição 7 – em R2 com a presença de grupos piperazila ou pirrolidinas conferindo atividade biológica; 17 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva • Posição 8 – um átomo de nitrogênio confere atividade e quando R1 são átomos como H, Cl, F ou OMe (metoxila) a atividade aumenta. II.3 A Ciprofloxacina A Ciprofloxacina possui fórmula molecular C17H18FN3O3, sendo considerado um antibiótico pertencente à classe das fluorquinolonas (FN) (Figura 7), com massa molar de 331,4 g.mol-1. Apresenta-se com o aspecto de um pó, com coloração variando entre o branco e o amarelo claro. É bastante solúvel em água, pouco solúvel em metanol e etanol, sendo praticamente insolúvel em acetona, diclorometano e acetato de etila (BAPTISTUCCI, 2012). Apresenta nome químico IUPAC de ácido 1-ciclopropil-6-flúor-1,4-diidro-4-oxo-7-(1piperazinil)-3-quinolona carboxílico onde também pode ser conhecida pela sigla BAY-O9867. Foi aprovada por volta de 1987, pela “Food and Drug Administration” (FDA-EUA), como um antibiótico oral. Sua formulação intravenosa foi aprovada somente em 1991. Tratase de uma droga potente e com largo espectro de ação antimicrobiana, sendo eficaz em infecções bacterianas causadas por bactérias gram-positivas e gram-negativas. HN N N OH F O O Figura 7. Estrutura da ciprofloxacina. A ciprofloxacina é considerada um antibiótico de primeira escolha na terapia de infecções urinárias e de diarréias bacterianas. É usada também como agente alternativo no tratamento de várias doenças sexualmente transmissíveis, assim como a osteomielite e alguns casos de feridas (ROSS, 1992; BLONDEAU, 2004; ANDREU, 2007; VASCONCELOS, 2006). 18 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva O combate das infecções bacterianas através das FQNs consiste em inibir duas enzimas envolvidas na síntese do DNA bacteriano, a DNA-girase e a topoisomerase IV (BLONDEAU, 2004; EVSTIGNEEV, 2006). A DNA-girase é essencial na replicação, transcrição e reparação do DNA bacteriano. A ciprofloxacina interage com o complexo DNA-girase e DNA-bacteriano ou no complexo formado entre a topoisomerase IV com o DNA bacteriano, para criar modificações na conformação e resultar na inibição de suas atividades enzimáticas. O novo complexo formado entre FQN-enzima-ADN bloqueia a replicação, inibindo a síntese normal do DNA da bactéria e resultando na sua morte. Em Gram-negativos, a DNAgirase tende a ser o alvo inicial das FQN, enquanto que nos organismos Gram-positivos o alvo é a topoisomerase IV (EVSTIGNEEV, 2006). Na forma de cloridrato de ciprofloxacina é uma importante arma contra o bioterrorismo, sendo a única droga aprovada pelo FDA para o tratamento após exposição ao antraz inalado (SOUZA, 2004). Assim como em outras fluorquinolonas, os alimentos não interferem na absorção oral da ciprofloxacina, mas o uso concomitante de antiácidos contendo alumínio, cálcio e magnésio reduz, acentuadamente, a absorção deste medicamento. O comportamento in vivo destes fármacos é afetado fortemente por suas propriedades físico-químicas, em particular, as de ionização em função do pH e de sua capacidade em formar complexos com íons metálicos (tais como Al+3, Mg+2, Fe+2, Ca+2, Cu+2) (CHATTAN, 2007; VIEIRA, 2007). A ciprofloxacina, sintetizada em 1983 pela Bayer alemã, mostrou ser de 4 a 8 vezes mais ativa, contra enterobactérias e pseudômonas. Com meia vida de cerca de 4 horas, liga-se às proteínas séricas com taxa entre 20 e 40%. A distribuição no organismo humano é feita em diferentes líquidos e tecidos orgânicos, destacando-se a concentração terapêutica, por exemplo, nas amídalas, gânglios linfáticos, secreção brônquica, pulmões, saliva, pele e tecido cutâneo, fígado, pâncreas, músculos, ossos, próstata, etc. Pela presença dos grupos amina e ácido carboxílico pode ser coordenada a íons metálicos como rutênio e cobre (VIEIRA, 2007). 19 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Além disso, esses grupamentos podem ser protonados e desprotonados causando efeitos eletrônicos que interferem no modo de coordenação ciprofloxacina-íon metálico. Esses efeitos têm sido estudados, como alternativa a crescente resistência de alguns microorganismos a esse fármaco (WANG, 2008). A ciprofloxacina tem sido extensivamente estudada e documentada e, mesmo após cerca de quatorze anos de uso nos Estados Unidos, tem-se mantido eficaz contra um amplo número de infecções bacterianas. Por sua importância, é produzida e comercializada por laboratórios distintos e em diferentes formulações. No entanto, o seu uso é contra-indicado na gravidez e não são recomendadas nas crianças e adolescentes, embora esteja licenciada na Dinamarca para a profilaxia de dose única para doença meningocócica das crianças. Dentre as diversas classes de antibióticos de maior relevância ambiental, a ciprofloxacina tem demonstrado ser a mais problemática. Isto se deve aos efeitos tóxicos mais acentuados que ela exerce sobre bactérias, assim como a sua biorrecalcitrância (HALLINGSORENSEN, 2000; DIAS, 2009). Devido a sua ampla utilização, a CIP vem sendo identificada em concentrações-traço em estações de tratamento de esgotos (ETEs), águas superficiais e efluentes hospitalares, sendo que estudos visando avaliar a carga ambiental da CIP demonstram a sua alta taxa de adsorção a partículas sólidas como aquelas de lodos ativados, solos e sedimentos (HERNANDEZ,2002). A ciprofloxacina apresenta em sua estrutura dois sítios protonados, o que determina duas constantes de dissociação. O primeiro sítio resulta da presença do grupo acídico do ácido carboxílico e, o segundo sítio, corresponde a um grupo básico oriundo de uma amina terciária (LANGLOIS, 2005). A desprotonação do grupo carboxila e do nitrogênio do anel piperazinila, atribui ao fármaco uma propriedade anfotérica. Consequentemente, em solução aquosa a ciprofloxacina pode ser encontrada sob a forma de quatro microespécies: a espécie positiva (1), a espécie anfotérica (3), a espécie neutra (2) e a espécie negativa (4). Este fenômeno depende, exclusivamente, do pH no meio reacional (BAPTISTUCCI, 2012). 20 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Em valores de pH ácidos a concentração das microespécies anfotérica (zwitteriônica) e neutra diminui, predominando a catiónica. No entanto, em pH básicos predomina a aniónica. Figura 8. Microespécies da ciprofloxacina em função do pH O esquema ilustrado acima que sintetiza o comportamento das microespécies da ciprofloxacina (Figura 8), permite definir o estado de ionização do fármaco para um determinado valor de pH, o que pode ajudar a compreender as diferenças existentes na absorção biológica deste composto (BAPTISTUCCI, 2012). 21 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Figura 9. Equilíbrio de protonação da ciprofloxacina. II.4 A Biotransformação dos Xenobióticos No Brasil e ao redor do mundo, a preservação do meio ambiente tem causado um enorme debate. Um dos pontos mais discutidos consiste no destino dos Xenobióticos em Estações de Tratamento de Água e Esgotos, com isso a presença, o efeito e o risco destas espécies tem sido amplamente reportados na literatura (KUMMERER, 2004). A discussão, no entanto, está voltada na capacidade de destruição ou remoção por sistemas convencionais ou não-convencionais de tratamento de efluentes (HUBER, 2003; JOSS, 2005). Os xenobióticos, que podem ser encontrados no organismo humano, são oriundos de diversas fontes naturais ou sintéticas de exposição. Entre essas fontes podem-se destacar os fármacos, os aditivos alimentares, os pesticidas, as toxinas, as substâncias químicas de uso industrial e os poluentes ambientais de diversos tipos (FARRÉ, 2008). Os fármacos por serem substâncias de estrutura química bem definida possuem a capacidade de modificar, explorar ou alterar o sistema fisiológico e patológico em benefício do organismo receptor. Essas estruturas, que se encontram presentes em seres humanos e em animais, após o uso para determinado tratamento, são removidos de seus organismos através do metabolismo e excretados pela urina, fezes, ar expirado e transpiração, leite materno e ou 22 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva suor. Posteriormente, essas substâncias podem ser encontradas no solo e em mananciais (COELHO, 2008). O metabolismo dos fármacos, em seres humanos, envolve quatro etapas: absorção, distribuição, biotransformação e excreção. A absorção ocorre após a inalação e, a menos que o fármaco atue em seu próprio local de aplicação, ele deve percorrer a corrente sanguínea até o local de ação. No entanto, a resposta do fármaco só ocorre após a penetração nos espaços intracelulares. Já a biotransformação consiste na modificação do fármaco, pela a ação de uma enzima, em metabólitos com melhores características hidrofílicas no intuito de facilitar a sua excreção (ONESIOS, 2009). Com isso, podemos dizer que a biotransformação nada mais é que um processo bioquímico, catalisado por uma ampla diversidade de enzimas com distribuição em diferentes tecidos e, encontradas dentro e fora das células. A excreção de compostos não voláteis, como os fármacos, depende em grande parte da sua solubilidade em meio aquoso. A princípio, as moléculas mais lipofílicas exibem um alto coeficiente de partição lipídio:água, tendendo a se acumular e permanecer no organismo. De um modo geral, o processo de biotransformação de xenobióticos lipofílicos dá origem a metabólitos finais mais hidrossolúveis que se encontram em meios da excreção humana como: a urina e as fezes. Se não houvesse esse processo, as substâncias lipofílicas seriam excretadas lentamente. E, em função da exposição prolongada poderia haver uma acumulação destas moléculas, que com o passar do tempo comprometeria a própria sobrevivência do organismo (ONESIOS, 2009). A modificação química de um Xenobiótico através da biotransformação também pode alterar o seu efeito biológico. Além disso, muitos fármacos precisam ser inicialmente biotransformados para exercerem efeito terapêutico. Da mesma forma, muitos destes compostos só apresentam efeitos tóxicos após sofrerem esse efeito. A biotransformação pode dar origem a metabólitos intermediários altamente reativos que, diferentemente das moléculas parentais às quais o organismo foi originalmente exposto, são capazes de se ligar a proteínas e ácidos nucléicos causando citotoxicidade e genotoxicidade (MASCOLO, 2010). Os fármacos, na sua maioria, são xenobióticos utilizados para modular funções no corpo humano e apresentar fins terapêuticos. Essas e outras substâncias químicas ambientais persistentes penetram no organismo, modificando uma enorme variedade de enzimas. As 23 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva transformações biológicas efetuadas por essas enzimas podem alterar o composto, tornando-o benéfico, prejudicial ou simplesmente ineficiente. Os processos pelos quais os fármacos são alterados por reações bioquímicas no corpo são designados, em seu conjunto, como metabolismo ou biotransformação dos fármacos. O metabolismo inicia com várias reações bioquímicas incluindo hidroxilação, epoxidação, redução e hidrólise, onde grupos funcionais são introduzidos ou transformados (fase I). Após, moléculas endógenas altamente polares, são unidas ao fármaco ou a seus metabólitos, oriundos da fase I, para gerar conjugados (fase II), que são solúveis em água e podem ser prontamente excretados na urina. Certas drogas, agentes médicos não-terapêuticos e xenobióticos, não são metabolizados e podem ser eliminados lentamente do corpo sem biotransformação. II.5 A Técnica Eletroquímica A eletrólise tem sido empregada com sucesso na eletrodegradação de fármacos, uma vez que no processo de transferência de elétrons, os poluentes orgânicos persistentes, como os fármacos, podem ser transformados, biodegradados ou mineralizados. A eletrólise pode ser conduzida para reações catódicas e anódicas. No entanto, na oxidação de compostos orgânicos usa-se à reação anódica. Nesse processo os poluentes de baixa massa molar, como a maioria dos fármacos, são degradados. Portanto, trata-se de um caminho promissor para o tratamento de águas residuais em abastecimento público (SILVA, 2006). A medida da corrente elétrica que circula entre os eletrodos, resume a taxa das transformações químicas em sua superfície. E, a corrente elétrica que atravessa o circuito relaciona-se com a magnitude destas transformações. Podemos afirmar que à quantidade de material depositado (em gramas) é obtido a partir das Leis de Faraday da eletrólise (SKOOG, 2006): mdepositada = M.q = M.I.t n. F n.F 24 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Temos: M = massa molar da espécie reativa, (g.mol-1); q = carga elétrica consumida no processo (Coulombs); F = constante de Faraday (96500 C.mol-1); n = número de elétrons transferidos na reação; I = corrente aplicada pela fonte (A); t = tempo (s). A quantidade de material depositado ou dissolvido nos eletrodos é diretamente proporcional a corrente aplicada a cada eletrodo. No entanto nem todas as reações que ocorrem nos eletrodos são desejáveis, visto que a corrente aplicada também gera reações secundárias. Sendo assim, o conceito de Eficiência de Corrente (EC) torna-se importante na medição da performance do sistema eletroquímico. A Eficiência de Corrente (EC) mostra o rendimento do processo e é definido como: EC = q reação desejada q total A Eficiência de Corrente (EC) é obtida experimentalmente através da relação entre a quantidade de reagente consumido ou produto formado (m depositada) em relação à quantidade teórica de produto formado (mtotal), onde: EC = m depositada m total 25 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Substituindo-se a mdepositada, calculada pelas Leis de Faraday na expressão da Eficiência de Corrente, temos: EC = m depositada . n . F M.q O valor do potencial num processo eletroquímico pode ser relacionado com a energia livre global para uma reação eletroquímica, através da equação: ΔG = - n . F . E0celula = - n . F. (E0cátodo – E0 ânodo) Onde: ΔG = energia livre de Gibbs eletroquímica (J.mol-1); n = número de elétrons transferidos na reação; F = constante de Faraday (96500 C.mol-1); E0celula = potencial de equilíbrio da célula; E0cátodo = potencial de equilíbrio no cátodo; E0 ânodo = potencial de equilíbrio no ânodo. Essa relação termodinâmica demonstra como se desenvolve o processo redox na superfície do eletrodo e indica se o processo é favorável termodinamicamente, ou seja, quando ΔG > 0 o processo é dito não espontâneo e se ΔG < 0 o processo é dito espontâneo. Ao se tratar um processo eletroquímico com bases na termodinâmica, as reações químicas que ocorrem em cada eletrodo durante a sua conexão a um circuito elétrico externo são caracterizados por dois fenômenos: (1) se a reação global da célula possuir uma variação de energia livre negativa, neste caso a reação global da célula é espontânea; 26 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva (2) se a reação da célula possuir uma variação de energia livre positiva, nesse caso devese aplicar uma voltagem maior que o potencial de equilíbrio da célula para produzir uma reação química não espontânea. O uso de processos eletroquímicos, para o tratamento de efluentes contaminados por fármacos, apresenta vantagens, como: versatilidade, onde o mesmo reator pode ser usado para diferentes reações químicas; segurança, devido à pequena quantidade e a natureza das substâncias usadas; compatibilidade, pelo fato do elétron ser o único reagente presente e, principalmente, a facilidade de manuseio. Na eletrólise, a oxidação pode ocorrer através de vários mecanismos diferentes, formando produtos menos tóxicos à saúde, menos agressivos ao meio ambiente ou com maior grau de biodegradabilidade (SEIFRTOVÁ, 2009). Quando o substrato é oxidado por via direta na superfície do eletrodo, a reação envolve a transferência de elétrons por atuação de radicais adsorvidos na superfície do eletrodo. Nessa transferência é necessário um elevado sobrepotencial para reação de desprendimento de oxigênio. Já pela via indireta, a reação ocorre com espécies que são geradas eletroquimicamente no meio, como o peróxido de hidrogênio ou o ânion hipoclorito, que são capazes de oxidar os poluentes orgânicos em solução (MALPASS, 2006). Na literatura é possível encontrar vários artigos sobre a degradação de diferentes tipos de contaminantes como os pesticidas, os corantes e os efluentes industriais e domésticos por Processos Oxidativos Avançados (POA), incluindo a eletrodegradação residual de fármacos (AMORIM, 2007; COELHO, 2008; GARCÍA-GALÁN, 2008). Esses processos baseiam-se na geração do radical hidroxila (•OH), que é um agente oxidante extremamente forte, sendo capaz de oxidar uma variedade de compostos orgânicos e inorgânicos. O radical •OH apresenta um alto potencial padrão de redução (E° = +2,73 V), estima-se que seja capaz de promover a oxidação de compostos a CO2, H2O e ácidos inorgânicos. Ainda nestes processos químicos, a oxidação dos contaminantes por oxidantes fortes, como peróxido de hidrogênio (H2O2), o cloro (Cl2), o dióxido de cloro (ClO2) e o permanganato (MnO4-), promove a mineralização completa dos contaminantes a CO2. 27 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva No caso da utilização de Cl2, os compostos organoclorados formados podem ser mais tóxicos que o contaminante inicial, sendo este o principal problema do seu uso (SANTOS, 2010). A oxidação dos fármacos, durante os processos de degradação, pode ser verificada, por exemplo, através do decaimento de sua concentração por Cromatografia Líquida acoplada à espectrometria de massas. Essa técnica é útil para identificar intermediários de degradação. A identificação destes intermediários permite propor a rota de degradação do contaminante no ambiente. Para a identificação dos intermediários formados devem ser feitos experimentos de degradação em uma condição não otimizada. Já o monitoramento da eficiência do processo de degradação pode ser feito por meio da análise das amostras retiradas durante os experimentos, em tempos previamente estabelecidos. Umas das técnicas aplicadas nessa etapa é a espectrofotometria na região UV/Vis (SOUZA, 2011). Os fármacos polares tendem a permanecer na fase aquosa, o que favorece sua entrada no ambiente aquático e os pouco polares, são removidos por adsorção no lodo. Contudo, a presença desses poluentes em efluentes de ETE resulta da baixa eficiência de remoção por processos convencionais de tratamento, o que pode levar à contaminação de águas superficiais. Tal situação tem incentivado a busca de métodos mais eficientes, capazes de promover a mineralização desses contaminantes, ou pelo menos sua transformação em produtos que não apresentem efeitos adversos ao ambiente (AMARAL, 2009). O tratamento oxidativo com radicais hidroxil (•OH) ou ozônio (O3), por exemplo, não devem levar ao desaparecimento dos compostos originais, mas também destruir seus efeitos biológicos. Não está claro se esses processos oxidam completamente os compostos farmacêuticos a produtos finais, como CO2 e H2O, ou transformam esses novos compostos para novos produtos intermediários, possivelmente causando maiores efeitos negativos sobre os humanos e sistemas ecológicos. 28 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Na tabela 1, é possível observar alguns trabalhos sobre a eletrodegradação de diferentes fármacos desenvolvidos nos últimos anos. Tabela 1. Eletrodegradação de Fármacos Fármaco Método Matriz Ciprofloxacina O3 Água de rio Ciprofloxacina O3/H2O2 Referência BAPTISTUCCI, C. B., 2012 Efluente VASCONCELOS,T.G., hospitalar 2006 VASCONCELOS, O. Amoxicilina Fenton/H2O2 Efluente industrial Rifampicina Eletroquímico Água de rio Metronidazol Fenton/H2O2 Efluente sintético BECKER, J.F.O., 2010 Fenton/H2O2 Água de rio BAUTITZ, I.R., 2010 Diclofenaco Fenton/H2O2 Efluente industrial ROCHA, R. S., 2009 Paracetamol Fenton/H2O2 Água de rio M. S. R., 2011 SANTOS, R. H. T., 2010 Diazepam, Propranolol, Lincomicina DALMAZIO, I., 2008 A reação direta de compostos orgânicos pode ocorrer por três passos principais em um mecanismo no qual a primeira etapa é a oxidação de moléculas de água sobre a superfície do eletrodo (MOx) de acordo com a equação 1: MOx + H2O → MOx [•OH] + H+ + e- (1) 29 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Os radicais hidroxila que são adsorvidos podem interagir com o oxigênio presente no ânodo oxidado, com possível transição do •OH para a estrutura do óxido anódico, formando um óxido superior de acordo com a equação 2: MOx [•OH] → MO [O] + H+ + e- (2) O óxido superior formado oxida os compostos orgânicos (R) sem promover a sua total mineralização (equação 3): MOx [O] + R → RO + MOx (3) Também é possível que os radicais hidroxilas eletrogerados oxidem diretamente os compostos orgânicos a dióxido de carbono e água, como indicado na equação 4: MOx [•OH] + R → MOx + m CO2 + n H2O + H+ + e- (4) Por esse mecanismo e, variando o material do eletrodo, é possível obter espécies oxidantes diferentes modificando a forma da oxidação. Eletrodos nos quais ocorrem oxidação de compostos orgânicos, sem mineralizá-los totalmente, são chamados de eletrodos ativos para o desprendimento de oxigênio, tal como o eletrodo Ti/TiRuO2. E eletrodos onde não ocorrem transições, atuando apenas como “poços” de elétrons, são chamados de não-ativos, apresentando alto sobrepotencial para a reação de desprendimento de O2. Um exemplo é o Ti/PbO2 (MALPASS, 2006b). Na oxidação eletroquímica indireta espécies catalíticas de alto poder oxidante são geradas in situ (MALPASS, 2006a). O cloreto de sódio (NaCl) e o ácido clorídrico (HCl) são usados, frequentemente, no tratamento de efluentes aquosos como eletrólito suporte devido a formação de gás cloro (Cl2) e consequentemente, das espécies como OCl- e/ou HOCl. A obtenção de Cl2 ocorre através da eletrólise de NaCl ou HCl aquoso, como indicado nas equações 5 e 6: 2 Cl- → Cl2 + 2e- ( ânodo) (5) 2 H2O + 2e- → H2 + OH- (cátodo) (6) Na produção do ânion hipoclorito (ClO-) o cloro gerado no ânodo reage com o hidróxido formado no cátodo (equação 7): 30 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Cl2 + 2 OH- → H2O + ClO- + Cl- (7) O Cl2 e o ClO- reagem oxidando a substância orgânica na solução, resultando num mecanismo de oxidação indireta. A degradação e a mineralização da ciprofloxacina ocorre mais facilmente na presença de Cl-, pois neste caso tanto a oxidação direta quanto a indireta está ocorrendo (BAPTISTUCCI, 2012). II.6 Os Ânodos Dimensionalmente Estáveis Para a confecção de eletrodos tem se pesquisado novos materiais, principalmente, aquele com revestimentos finos e que apresentem: uma alta estabilidade eletroquímica, um forte poder catalítico, uma boa seletividade e que tenham boa resistência mecânica a altos valores de sobrepotencial. Os ânodos dimensionalmente estáveis (ADE, Descoberto por Henry Beer em 1964 e patenteado pela Diamond Shamrock Technologies S.A. em Genebra – Suíça em 1965 com o nome de Dimensionally Stable Anodes, DSA®), apresentam ótimos resultados, uma vez que os mesmos são constituídos de um suporte metálico de baixo custo, frequentemente de titânio, onde deposita-se por decomposição térmica, misturas de óxidos de metais nobres (SANTOS, 2010). A adesão da mistura de óxidos ao suporte metálico é assegurada pela formação, de uma camada de óxido de titânio IV a partir do elemento metálico e com a calcinação da mistura precursora. Os óxidos industriais mais comuns são formados por RuO2 e TiO2 (Ti/Ru0,3Ti0,7O2) onde o rutênio é o agente catalítico e o titânio permite a estabilidade mecânica. Além desses metais podemos encontrar combinações de IrO2, Ta2O5, PbO2, SnO2 e Sb2O5 em diferentes concentrações (MALPASS, 2006b). Os irmãos Vittorio e Oronzio De Nora adquiriram as patentes dos ADE® e a partir de 1968 desenvolveram células eletroquímicas utilizando estes eletrodos aplicados na indústria de cloro-álcali sendo até hoje a sua principal aplicação. No Brasil os eletrodos são comercializados pela De Nora Do Brasil Ltda. com duas composições contendo 70% de TiO2, 30% de RuO2 ou 45% de IrO2 combinado a 55% de Ta2O5. Estes eletrodos são aplicados também na produção de gases especiais. 31 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva A eletrodegradação de fármacos é favorecida pela alta reatividade do radical hidroxila • OH, adsorvido na superfície do óxido de rutênio (SOUZA, 2011) ou sobre a superfície de eletrodos formados por óxidos de chumbo IV, estanho IV e arsênio V. Entretanto, a oxidação eletroquímica dos fármacos pode ocorrer de forma satisfatória, na superfície de alguns ânodos de óxidos metálicos, em condições de geração simultânea de oxigênio e com a formação de óxidos superiores ou superóxidos. Esse mecanismo pode ser observado na superfície de ânodos dimensionalmente estáveis, com revestimento e imobilização feita por óxidos metálicos. II.7 Voltametria Cíclica A Voltametria Cíclica (VC) é uma técnica eletroanalítica de grande aplicação no estudo das reações redox, na detecção de seus intermediários, como também no acompanhamento dos produtos formados nos eletrodos (ARGUELHO, 2005). Além disso, como é uma técnica simples pode ser usada para obter respostas rápidas. É aplicada na investigação da reatividade química de espécies eletrogeradas, identificando as formas presentes em solução, bem como auxiliando na elucidação do mecanismo eletródico estudado. A eficiência da leitura observada pode ser avaliada pela termodinâmica dos processos redox, pela cinética da transferência de elétrons em reações heterogêneas ou por processos adsortivos com reações químicas acopladas. Na voltametria cíclica, a varredura de potencial é feita em uma direção e, posteriormente na outra, enquanto a corrente é medida. O potencial do eletrodo de trabalho varia linearmente com o tempo. Inicialmente, parte-se de potenciais onde não há reação no eletrodo até aqueles em que ocorrem processos de oxidação ou redução da espécie a ser investigada. Posteriormente, o potencial retorna a origem com a inversão da varredura linear, onde são analisadas as reações intermediárias e os possíveis produtos formados (PITANGA, 2009). Alguns parâmetros importantes podem ser caracterizados, tais como: o potencial de pico anódico (Epa) e catódico (Epc), correntes de pico anódico (ipa) e catódico (ipc), potencial de meio pico anódico (Ep/2) e potencial de meia onda (E1/2). 32 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva A definição do E1/2 origina-se da polarografia clássica, onde podemos escrever: E1/2= E0 + (RT/nF)ln(DR/DO)1/2 Para reações reversíveis, os produtos gerados no sentido direto, e que ainda se localizam próximos à superfície do eletrodo, serão oxidados e irão gerar um pico simétrico ao de redução. O voltamograma formado depende do processo redox que o analito sofre no eletrodo, fazendo da voltametria cíclica uma ferramenta importante nos estudos dos mecanismos eletródicos. A transferência difusional de massa do analito em solução para a superfície do eletrodo e a transferência heterogênea de carga entre o analito e o eletrodo são os componentes que determinam a ocorrência das reações. Ainda podem ocorrer reações acopladas a alguns desses processos (ALVES, 2004). Em uma reação reversível a equação da cinética eletroquímica pode ser resumida através da Equação de Nernst: E = E0 + 2,3 RT . log [Espécie Oxidada] nF [Espécie Reduzida] Temos : E0 : potencial padrão da reação R: constante dos gases (4,18 J mol-1 K-1) F: constante de Faraday T: temperatura absoluta (K) II.8 Espectrofotometria A espectrofotometria na região do UV/Vis é uma das técnicas analíticas mais empregadas devido, principalmente, a robustez e baixo custo, além do grande número de aplicações desenvolvidas. É fundamentada na aplicação da lei de Lambert-Beer, cuja base matemática permite obter medidas de absorção de radiação por amostras em diferentes 33 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva estados físicos, nas regiões do ultravioleta, visível e infravermelho (AMORIM, 2007; DALMÁZIO, 2007; AMARAL, 2009). Em medidas de absorção de radiação em determinado comprimento de onda, tem-se: A= log(Io/I) = εbc, onde A é a absorvância, Io é a intensidade da radiação monocromática que incide na amostra e I é a intensidade da radiação que emerge da amostra. A absortividade molar (ε) é uma grandeza característica da espécie absorvente, e sua magnitude depende do comprimento de onda da radiação incidente. O termo c é a concentração, em mol L-1, da espécie absorvente e b é a distância, em cm, percorrida pelo feixe através da amostra (DALMÁZIO, 2007). Para identificar e ou acompanhar a mudança na concentração de um fármaco, em um determinado meio, podemos fazer uso da análise de seu espectro de absorção na região do ultravioleta e visível (200-800 nm). A utilização de diferentes solventes permite não apenas a observação das bandas de absorção máxima como também a influência do pH em suas características de absorção (GÁRCIA-GALÁN, 2008). Alguns métodos especrofotométricos de análise são mais econômicos e simples, em comparação com técnicas de cromatografia e de eletroforese. A espectrofotometria constitui uma ferramenta para análises quantitativas e de controle da qualidade seja na agricultura, farmácia e na análise ambiental. (OJEDA e ROJAS, 2009). A luz natural é composta de radiações eletromagnéticas de todos os comprimentos de onda do espectro visível, que abrange um intervalo entre 400 a 760nm. A percepção da cor é dada através da absorção da luz incidente em um objeto. Os comprimentos de onda são refletidos ou transmitidos até a percepção pela vista humana, caracterizando a cor do objeto (PITANGA, 2009). A variação na intensidade da cor, através da modificação da concentração de um certo componente, constitui a base da análise espectrofotométrica. A cor resulta da formação de um cromóforo, seja pela adição de um reagente apropriado ou pela propriedade do analito. O instrumento usado para medir a quantidade de luz absorvida em cada comprimento de onda, nas regiões do visível e do UV, é denominado espectrofotômetro. 34 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Figura 10. Esquema de um espectrofotômetro de UV/VIS de arranjos de diodos (COSTA, 2006b). Na maioria desses instrumentos o feixe de luz é único e passa pela amostra através de um arranjo de diodos. Em instrumentos com feixe duplo, uma das metades do feixe passa através de uma célula transparente que contém a solução do analito. A outra metade passa através de outra célula idêntica à primeira contendo o solvente da solução sem o composto, que é comumente conhecido como branco (PITANGA, 2009). De acordo com a literatura, a espectrofotometria na região do ultravioleta tem sido usada com sucesso na determinação de ciprofloxacina em sua forma farmacêutica simples e em associações com outros fármacos (VASCONCELOS, 2011). Mais recentemente foram descritos dois métodos espectrofotométricos, um utilizando o sistema FIA (análise por injeção em fluxo) e o outro a espectrofotometria em fase sólida para a determinação da ciprofloxacina. 35 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Capítulo II – OBJETIVOS II.1 – Geral Desenvolver uma metodologia para oxidação eletroquímica da ciprofloxacina através do uso de ânodos dimensionalmente estáveis e aplicá-la em amostras de água de abastecimento público. II.2 – Específicos • Estabelecer valores ótimos para os parâmetros de eficiência em processos eletródicos, tais como: tipo de eletrólito, pH, força iônica e densidade de corrente; • Avaliar a aplicabilidade dos eletrodos de Ti/TiO2 para degradação da ciprofloxacina; • Desenvolver um protocolo de análise que permita caracterizar os principais produtos da eletrodegradação da ciprofloxacina; • Aplicar a metodologia ao tratamento de água de abastecimento observando a eficácia do método em uma matriz real. Capítulo III. METODOLOGIA III.1 – Reagentes • Ácido Acético Glacial – Synth • Ácido Bórico suprapur – Quimex • Ácido orto-fosfórico suprapur – Vetec • Ácido Clorídrico – Quimex • Ácido Sulfúrico – Vetec • Nitrato de Sódio – Vetec 36 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva • Sulfato de Sódio – Vetec • Cloreto de Sódio – Vetec • Água destilada e deionizada (18MW obtida em Milli-Q) • Hidróxido de Sódio – Quimex • Ciprofloxacina (Biofarma, MM = 882,95 g mol-1) Todos os reagentes são de grau analítico não tendo sido detectada interferências devido a contaminantes eletroativos. III.2 – Equipamentos Os experimentos de oxidação eletroquímica foram conduzidos utilizando a técnica de eletrólise a corrente constante empregando um Potenciostato/Galvostato AutoLab PGTSTAT30 (Ecochemie) interfaciado com um microcomputador e controlado pelo software GPES versão 4.8 e conectado a uma célula eletroquímica com capacidade para 50 mL, um eletrodo de Ag/AgCl foi empregado como eletrodo de referência e os eletrodos de placa de Ti/TiO 2 foram empregados como catodo e anodo. Figura 11. Potenciostato/Galvostato AutoLab PGTSTAT-30 (Ecochemie). 37 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva As medidas de pH foram realizadas pelo uso de pHmetro digital Analion PM 680 pH meter. E nas medidas espectrofotométricas foi utilizado um espectrofotômetro da marca Biochrom, modelo Libra S12 em célula de quartzo com comprimento ótico de 1,0 cm. III.3 – Preparo dos Eletrodos Para esse estudo foi usado um reator eletroquímico com capacidade de 250 mL e equipado com um sistema de agitação. Foram empregados como eletrodo auxiliar e eletrodo de trabalho dois eletrodos compostos por Ti/Ru0,34 e Ti0,66O2 obtido comercialmente (De Nora do Brasil) e confeccionados nas dimensões: 4 x 4 cm, com área ativa de 16 cm-2. O eletrodo de referência foi de Ag/AgCl. A oxidação eletroquímica foi realizada utilizando como fonte geradora de corrente um Potenciostato/Galvostato AutoLab PGTSTAT-30 (Ecochemie) conectado a um microcomputador controlado pelo software GPES de versão 4.8. Figura 12. Reator Eletroquímico, adaptado de SANTOS, 2010. III.4 – Preparo de Soluções A solução de ciprofloxacina foi preparada a partir da dissolução de 0,0331g em 1 L de água deionizada. 38 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva As soluções de tampão foram preparadas a partir da neutralização de uma solução contendo 0,04 mol L-1 de ácido acético; 0,04 mol L-1 de ácido bórico e 0,04 mol L-1 de ácido fosfórico, com volume de NaOH 0,2 mol L-1, de acordo com Britton & Robinson (Britton, 1952). O pH final de cada solução tampão no intervalo de 2 a 12 foi medido com pHmetro Analion, modelo PM 608 calibrado com soluções de tampão universal nos valores de pH de 4,00; 7,00 e 10,00. III.5 – O Efeito do Eletrólito Suporte na Eletrodegradação Para análise da influência do eletrólito suporte na eletrodegradação da ciprofloxacina foram utilizados como eletrólito, ácido sulfúrico (H2SO4), ácido clorídrico (HCl), cloreto de sódio (NaCl), nitrato de sódio (NaNO3), cloreto de potássio (KCl) e sulfato de sódio (Na2SO4), mantendo-se a mesma densidade de corrente e concentração do fármaco em todos os experimentos. III.6 – Efeito das Densidades de Corrente Foram aplicadas sobre eletrodos ADE® intensidades de corrente no intervalo entre 20 e 160 mA. III.7 – Efeito do pH Nessa etapa do trabalho foi estudada a influência do pH na oxidação eletroquímica da ciprofloxacina mantendo-se a densidade de corrente constante e variando o pH de 2 a 12 na eletrólise com adição de NaOH 0,1 mol L-1 ou HCl 0,1 mol L-1. 39 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva III.8 – Preparo da Solução Tampão (Britton-Robinson) Por neutralização de uma solução contendo 0,04 mol L-1 de ácido acético; 0,04 mol L-1 de ácido bórico e 0,04 mol L-1 de ácido fosfórico, com volume suficiente de NaOH 0,2 mol L1 , de acordo com Britton & Robinson (Britton, 1952). O pH final de cada solução tampão no intervalo de 2 a 12 foi medido com pHmetro Analion, modelo PM 608 calibrado com soluções de tampão universal nos pHs 4,00; 7,00 e 10,00. Figura 13. pHmetro digital Analion PM 680 pH meter. III.9 – Espectrofotometria no UV-Vis Os estudos de espectrofotometria foram realizados em espectrofotômetro Libra S12 (Figura 13) com o comprimento de onda analisado variando entre de 200 – 800 nm. Figura 14. Espectrofotômetro UV-Vis modelo Libra S 12. Para os experimentos, as soluções estoque foram preparadas e as medidas foram efetuadas utilizando-se o tampão BR como branco para quantificar a absorção da ciprofloxacina em meio tamponado. 40 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Esquema 1. Fluxograma de Otimização do Método de Eletrodegradação da Ciprofloxacina A metodologia empregada e simplificada no fluxograma do esquema 1 foi desenvolvida segundo SANTOS, 2010. Os parâmetros pH, intensidade de corrente, força iônica e meio reacional possibilitam uma maior confiabilidade no método e são parâmetros importantes em uma rotina de validação. Capítulo IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO IV.1 Espectrofotometria Para identificar e acompanhar a mudança da concentração da ciprofloxacina foi analisado seu espectro de absorção na região do ultravioleta e vísivel (200-800 nm), onde foram caracterizadas as bandas de absorção máxima e a influência do pH. Recentemente, foram descritos dois métodos espectrofotométricos, um utilizando o sistema FIA (análise por injeção em fluxo) e o outro a espectrofotometria em fase sólida para a determinação da ciprofloxacina (SANDERSON, 2009; ONESIOS, 2009). 41 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva A ciprofloxacina em solução aquosa apresenta um pico de absorção bem definido e com banda completamente distinta em 270 nm. De acordo com a literatura, a absorção da radiação eletromagnética na região do ultravioleta e visível (UV/Vis) é característica de moléculas que sofrem transições eletrônicas nos orbitais de baixa energia (BOLONG, 2009). O espectro no UV-Vis da ciprofloxacina (Figura 15) apresenta duas bandas de absorção referentes aos grupos cromóforos presentes na molécula, uma amina e um grupo carboxílico (VIEIRA, 2007). 3,0 Absorbância 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 200 300 400 500 600 (nm) Figura 15. Espectro de absorção molecular da ciprofloxacina a 10-1 mol L-1 em tampão pH 2,0. IV.2 Estudo analítico Para desenvolver, adptar ou implementar um método analítico devemos avaliar a eficiência de um método conhecido aplicado na rotina do laboratorio. Esse procedimento é chamado, simplificadamente, de validação. O objetivo principal é desenvolver alterações em metodologias já validadas, uso de novos equipamentos ou técnicas. 42 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva No Brasil, os parâmetros de validação são verificados de acordo com as orientações da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO). Segundo critério descrito na norma RE n0 899 de 2003 da ANVISA, os parâmetros analíticos exigidos para o desenvolvimento do método são: Linearidade, Limite de Detecção (LD), Limite de Quantificação (LQ), Precisão e Exatidão, sempre observando as condições experimentais do estudo (PITANGA, 2009). A curva analítica da ciprofloxacina teve um comportamento linear na faixa de concentração entre 1 10-5 e 9 10-5 mol.L-1, podendo ser descrita pela equação linear: i = 2,7 10-2 + 3,4 104, com r = 0,9998, n=6, cujo desvio padrão foi da ordem de 0,012 (Figura 16). 3,0 2,5 Abs 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 10 20 30 40 50 con. de ciprofloxacina 60 70 80 90 (mol/L) Figura 16. Curva de calibração da ciprofloxacina em solução tampão BR/pH 2,0 Segundo a ANVISA, 2012, o Limite de Detecção (LD) é a menor quantidade do analito presente em uma amostra que pode ser detectado, porém não necessariamente quantificado. É estabelecido por meio da análise de soluções de concentrações conhecidas e decrescentes do analito até o menor nível detectável. Em métodos instrumentais a estimativa do limite de detecção pode ser feita com base na relação de 3 vezes o ruído da linha de base. 43 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Pode ser determinado pela equação: LD = 3Sb/coeficiente angular da curva analítica padrão Onde: Sb é o desvio padrão que intercepta o eixo y de, no mínimo, 3 curvas de calibração construídas contendo concentrações do fármaco próximas ao suposto limite de quantificação. O Limite de Quantificação (LQ) é estabelecido por meio da análise de soluções contendo concentrações decrescentes do fármaco até o menor nível determinável com precisão e exatidão aceitáveis. Pode ser expresso pela equação: LQ = 10Sb/coeficiente angular da curva analítica padrão O Limite de Detecção encontrado foi de 2,9 10-6 mol L-1 e o de quantificação obtido foi de 9,6 10-6 mol L-1. IV.3 Comportamento eletródico A figura 17 apresenta o voltamograma cíclico típico da ciprofloxacina em eletrodo de carbono vítreo, constata-se a presença de um processo de oxidação irreversível em 0,83 V vs Ag/AgCl. No entanto, esse processo eletródico não pode ser facilmente observado em eletrodos de Ti/TiO2 devido a elevada corrente capacitiva. A atividade eletroquímica desses eletrodos é evidenciada pela liberação de gases, mudança da coloração da solução e o consumo de corrente durante a eletrólise. Para garantir uma superfície eletródica estável e uniforme, no final de cada experimento eletrolítico foi efetuada a limpeza nos eletrodos ADE®, através do enxague vigoroso com água deionizada e álcool etílico (P.A.). Um outro enxague com água deionizada foi realizado. Após a limpeza foi obtido o voltamograma cíclico do item c da figura 17. A comparação entre os voltamogramas permitiu acompanhar a eficiência da limpeza e a estabilidade da superfície do eletrodo. 44 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Figura 17. Voltamogramas cíclicos de HCl 0,1 mol L-1 a) em eletrodo de carbono vítreo, b) em eletrodo de carbono vítreo com 1 10-4 mol L-1 de ciprofloxacina, c) em eletrodo ADE® com ciprofloxacina 1 10-4 mol L-1. Condição: =80 mVs-1. IV.4 Tipo de eletrólito A escolha do eletrólito suporte foi considerada uma etapa importante na descrição do modelo da cinética eletroquímica e, das propriedades elétricas da solução aquosa de ciprofloxacina. Apesar de serem escassas as informações a respeito, algumas abordagens termodinâmicas podem ser deduzidas através do estudo do tipo de eletrólito. Podemos relatar que um eletrólito é uma substância que ao ser dissolvido num dado solvente, produz uma solução com uma condutividade elétrica maior que a do solvente. Considerando a água como solvente, os eletrólitos suporte testados foram os sais: NaCl, KCl, NaNO3 e Na2SO4 e os ácidos HCl e H2SO4. Nos sistemas eletroquímicos o eletrólito suporte é adicionado em altas concentrações onde confere à solução e à interface metal-solução uma série de propriedades, como por exemplo, a força iônica. A ciprofloxacina em solução aquosa de sulfato de sódio (Na2SO4) apresentou baixa solubilidade, provavelemente em função da presença dos íons Na+ e SO4-2 que dificultam a 45 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva interação dos sítios ácidos e básicos na molécula da ciprofloxacina com os íons H+ e OHresultantes da auto-ionização da água. Portanto, não houve análise do comportamento eletródico neste meio. Já nos estudos com HCl, NaCl e KCl foi observado 100% de remoção da cor amarelada, característica da presença do ânion Cl- e da posterior formação de hipoclorito (ClO-), que é mais eficiente para a eletrodegradação das substâncias orgânicas. Os eletrólitos de HCl e KCl apresentaram o melhor desempenho em pH 2 (Figura 18), o que pode ser observado através da maior quantidade de ciprofloxacina degradada. Para o pH 4, o melhor desempenho foi observado para o NaCl. O comportamento de eletrólitos contendo cloreto em processos de corrosão é bem conhecido. A adsorção do íon cloreto na superfície do eletrodo afeta a cinética do processo ou muda o produto da oxidação. O efeito do eletrólito suporte sobre a reação H+/H2 vem sendo estudado por diversos autores (MARQUES, 2010). Eletrolitos 0,1 mol L H2SO4 1,0 0,8 NaCl HCl KCl NaNO3 0,6 0,4 A(nm) -1 0,2 0,0 -0,2 -0,4 -0,6 2 4 6 8 10 12 pH Figura 18. Variação da absorbância da ciprofloxacina (270 nm) em diferentes eletrólitos em função do pH. Condições: i: 80 mA; concentração de ciprofloxacina de 10-4 mol L-1. 46 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva IV.5 Efeito da densidade de corrente O consumo de energia em processos eletroquímicos é de suma importância para verificar a sua viabilidade. A eficiência da corrente aplicada é maior para menores densidades de corrente. Aumentando-se a densidade de corrente, diminui-se a eficiência do processo, uma vez que altos valores favorecem a reação de desprendimento de oxigênio. Além disso, em menores densidades de corrente, o consumo de energia é menor. Esse comportamento é explicado pelo fato de que em menores correntes a reação de desprendimento de oxigênio não interfere na oxidação do composto orgânico, assim a maior parte da corrente aplicada se concentra na oxidação da ciprofloxacina. Maiores densidades de corrente apresentam maior consumo de energia, uma vez que uma parte da corrente aplicada não é utilizada para a reação de interesse que é a oxidação do fármaco. O consumo de energia, em kWhm-3, pode ser calculado por UIt/1000V, onde U é o potencial médio da célula durante a eletrólise (V), I é a corrente aplicada em ampére (A), t é o tempo da eletrólise em horas e V, o volume do efluente em m3. Para verificar a influência da densidade de corrente na eletrodegradação da ciprofloxacina foram testados os valores de corrente de 20, 40, 80 120 e 160 mA cm-2, que estima-se corresponder a potenciais entre 0,8 e 2,6 V. Foram retiradas e analisadas amostras da solução por espectrofotometria no intuito de monitorar o clareamento da solução de ciprofloxacina. Observou-se, uma diminuição na intensidade da cor a partir da densidade de corrente de 40 mA cm-2. O aumento da eficiência da oxidação eletroquímica da ciprofloxacina, com o aumento da densidade de corrente, é atribuído ao acréscimo de transporte iônico que propicia um aumento na velocidade das reações no eletrodo. Com cerca de 120 segundos, todas as densidades de corrente foram eficientes no rompimento dos grupos cromóforos da ciprofloxacina, visto que os radicais hidroxilas OH• produzidos nos processos eletroquímicos reagem rapidamente, com compostos orgânicos que contém anéis aromáticos, como a ciprofloxacina. Aplicando-se os valores de densidade de corrente de 20 e 40 mA foi possível notar, em 47 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva torno de 300 s, uma baixa porcentagem de remoção de ciprofloxacina, no entanto ao aumentarmos a densidade de corrente até 120 mA o percentual de remoção subiu para 100%. Além disso, em densidades de corrente superiores a 120 mA e, na ausência de compostos orgânicos oxidáveis, os radicais O- ativos e dissolvidos formam gás oxigênio de forma mais rápida que a oxidação eletroquímica da ciprofloxacina. Na Figura 19, observa-se o comportamento do sistema quando da aplicação de diferentes intensidades de corrente. A corrente ótima está abaixo de 120 mA, sendo o melhor resultado obtido em 80 mA. Acima deste valor a energia disponível tende a ser consumida em reações paralelas, como pode ser observado pelo aumento da corrente após um tempo de 1000 minutos. Por sua vez, valores de corrente muito baixo como 20 mA não permitem que a reação se propague na velocidade ideal como numa reação homogênea em regime de pseudoprimeira ordem. 2 20mA/cm 2 40mA/cm 2 80mA/cm 2 120mA/cm 2 180mA/cm 2.6 2.4 2.2 Absorvância(270nm) 2.0 1.8 1.6 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Tempo(s) Figura 19. Comportamento da absorbância em 270 nm em função do tempo de eletrodegradação da ciprofloxacina em eletrodo de Ti/TiO2. Condições: 2,5 10-5 mol L-1 de ciprofloxacina, pH = 2,0 e HCl 0,1 mol L-1 e i: 80 mA. 48 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva IV.6 Efeito de pH A natureza do eletrólito e o pH apresentam grande influência na velocidade do processo de degradação. Em meio a Cl- ocorre uma maior eficiência na degradação, que pode ser caracterizada pela acentuação na inclinação das curvas de absorbância. Entretanto, o pH é um dos fatores limitantes deste processo, a reação acontece de maneira mais adequada em valores de pH ácidos abaixo de 4,0. Como já foi comentado anteriormente, o espectro no UV-Vis da ciprofloxacina é composto de duas bandas de absorção. Para diferentes valores de pH há uma mudança no espectro referente a cada banda e, a medida que o pH da solução aumenta ocorre o favorecimento do processo de protonamento/desprotonamento, que corresponde aos grupos amina e ácido carboxílico, respectivamente. O efeito do pH na absorção da ciprofloxacina, pode ser notado pela mudança nos valores de corrente cujo comportamento adequa-se a uma curva sigmoidal típica de equilíbrio ácido-base. Os valores a 20% e 80% correspondem aos pHs 6,0 e 7,9, estes valores são atribuídos ao pKa1 e ao pKa2 da ciprofloxacina que segundo a literatura encontram-se próximos a 6,2 e 8,8, respectivamente (Figura 20). Na medida em que diminuímos a acidez do meio, favorecemos o deslocamento do equilíbrio no sentido da desprotonação da molécula. O primeiro equilíbrio corresponde a desprotonação do grupo amina e o segundo a desprotonação do grupo carboxílico que é influenciado pelo pH da solução. Consequentemente, podemos encontrar em solução quatro espécies: a espécie mais protonada (1), a espécie neutra (2), a espécie anfotérica (3) e a espécie com carga negativa (4). A alteração do pH promove alteração desse equilíbrio, favorecendo a formação de uma ou duas dessas formas. 49 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva Figura 20. Espectro de absorção da ciprofloxacina, 10-4 mol L-1, em diferentes valores de pH (λ = 270 nm). IV.7 Efeito da Força Iônica De acordo com a teoria de P. Debye e E. Hückel, 1923, em soluções de eletrólitos fortes como o HCl, os íons estão sujeitos a ação da Lei de Coulomb. Portanto, quanto maior a carga desses íons e maior a concentração da solução, maior será à força de atração interiônica. Para soluções diluídas a probabilidade de formação de aglomerados iônicos é muito pequena ou quase nula, nesse caso a atividade se aproxima ou até se iguala à concentração analítica. Já a intensidade do campo elétrico gerado pela presença de íons em solução é quantificada através do parâmetro força iônica, introduzida por Lewis em 1921. Para avaliar o efeito da força iônica foram realizados experimentos em diferentes concentrações do eletrólito suporte na faixa de 0,1 a 0,0001 mol L-1. A figura 21 mostra a influência da força iônica no processo de eletrólise da ciprofloxacina, onde para as soluções diluídas houve um comportamento semelhante para a eletrodegradação. Este fenômeno pode ser explicado pela natureza do eletrólito, onde sais 50 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva que apresentam valências para os íons formados na mesma proporção, por exemplo, na relação de 1:1 do HCl, a força iônica consiste na própria concentração do eletrólito. 3.4 3.2 3.0 2.8 Absorbância(nm) 2.6 2.4 -1 -1 10 mols.L HCl -2 -1 10 mols.L HCl -3 -1 10 mols.L HCl -4 -1 10 mols.L HCl 2.2 2.0 1.8 1.6 1.4 1.2 1.0 0.8 0.6 0.4 0s 300s 600s 900s 1200s 1500s 1800s 2100s 2400s 2700s Tempo(s) Figura 21. Estudo da Força iônica em HCl, pH=2,0 e i: 80 mA cm-2 Com o estudo da força iônica foi possível perceber que o aumento na concentração do eletrólito interfere diretamente na taxa de degradação da ciprofloxacina. Nos experimentos com HCl foi observado que, para uma mesma densidade de corrente e em concentrações maiores, ocorre uma maior velocidade de remoção da cor. Com o HCl, provavelmente ocorreu a eletrólise indireta, ou seja, a oxidação da ciprofloxacina devido a formação das espécies ClO- e o –OH. Não obstante, o excesso de H+ no meio pode interferir na reação de protonação/desprotonação da ciprofloxacina, onde o excesso desta espécie estabiliza a molécula orgânica encobrindo possíveis sinais de reações redox que possam vir a ocorrer. A saída para evitar esse comportamento é trabalhar com a concentração intermediária, ou seja, a concentração de HCl de 0,01 mol.L-1. 51 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva IV.8 Aplicação da eletrodegradação da ciprofloxacina em água de abastecimento público A eletrodegradação da ciprofloxacina (BOLONG, 2009; MARQUES, 2010) foi acompanhada por voltametria cíclica. Esta técnica foi escolhida pela versatilidade em adquirir informações qualitativas no estudo dos processos eletroquímicos, além de ser mais indicada quando se trata da investigação de processos eletródicos. Com o auxílio da espectrofotometria, que é uma técnica menos seletiva que a voltametria cíclica, foram monitoradas as moléculas de ciprofloxacina, seus compostos intermediários e os metabólitos resultantes da sua eletrodegradação. Os resultados da aplicação da eletrodegradação da ciprofloxacina (COELHO, 2008; ONESIOS, 2009) em água de rio utilizando HCl como eletrólito suporte em meio reacional de pH 2,0 encontra-se no gráfico da figura 22, onde a cada 5 minutos com aplicação de uma intensidade de corrente de 80 mA é possível perceber a viabilidade técnica do método. Atualmente, usa-se para o monitoramento das técnicas de degradação eletroquímica o teor de carbono orgânico total (TOC), no entanto, esta técnica foi considerada inviável em função da quantidade traço de ciprofloxacina usada nos experimentos que estão abaixo do limite de detecção, que encontram-se na faixa de 50 ppm a 10.000 ppm. Figura 22. Redução da absorbância da ciprofloxacina (c = 1 10-4 mol L-1), utilizando como 52 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva eletrólito suporte o HCl a 0,1 mol L-1 em água de abastecimento no meio reacional pH 2,0 sobre eletrodos ADE® em função do tempo de eletrólise a cada 5 min. (λ = 270 nm). No acompanhamento da eletrodegradação da ciprofloxacina em água de rio, observouse um decréscimo acentuado da absorbância em torno de 500s de eletrólise. Nas diferentes amostras coletadas e corrigindo-se o pH até próximo de 2,0, com a adição de HCl 0,1 mol.L-1, foi possível observar que em torno de 1000s a degradação tornou-se efetiva confirmando a viabilidade do uso desta técnica (figura 22). Capítulo V - CONCLUSÃO V.1 Considerações Finais Nesse trabalho estudou-se a eletrodegradação do antibiótico ciprofloxacina em meio aquoso com Ânodos Dimensionalmente Estáveis, onde a eficiência do processo foi avaliada através da eletroatividade da ciprofloxacina nesses eletrodos. Na otimização do método de eletrodegradação, a intensidade de corrente mais adequada foi encontrada a 80mA. Observou-se, que o uso de HCl e NaCl como eletrólitos suporte favoreceram o processo de eletrodegradação, sendo que a diferença nos resultados obtidos usando-se essas substâncias é muito pequena. Optou-se pelo uso de HCl por não haver necessidade de correção do pH do meio. Em estudos na presença de cloreto houve a remoção de 100% da cor amarelo claro, característica da degradação da solução aquosa de ciprofloxacina. Em ambos os eletrólitos a presença do ânion Cl- determinou a formação de ácido hipocloroso (HOCl) que contribuiu para uma melhor eficiência na eletrodegradação. Nos estudos com variação de pH, foi possível perceber que este é um fator limitante, uma vez que a reação acontece com maior eficácia em pH abaixo de 4,0. Por espectrofotometria foi possível determinar as formas presentes em cada ambiente 53 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva protônico, dois valores de pKa. O primeiro em 6,0 atribuído ao equilíbrio de protonação do grupo amina e o segundo atribuído ao equilíbrio do grupo carboxílico. A molécula de ciprofloxacina foi degradada após 5 min., aproximadamente, após este tempo e até 33 min. de eletrólise foi possível acompanhar a degradação dos seus subprodutos. Já a degradação em água de abastecimento público ocorreu em um tempo maior, cerca de 500s aproximadamente. Esse fato demonstra que o tratamento com eletrodos do tipo Ânodos Dimensionalmente Estáveis são efetivos para a degradação e remoção da ciprofloxacina no ambiente aquático, mesmo em concentrações em nível de traço. Uma etapa importante que não foi desenvolvida neste trabalho consiste na determinação do mecanismo de degradação do fármaco. Além disso, a identificação dos metabólitos formados e a influencia que cada estrutura exerce em decorrência do pH do meio reacional, não pode ser descartada também. A identificação das etapas e em quais moléculas menores a ciprofloxacina é convertida, até chegar a formação de gás carbônico e água, pode ser útil nos estudos dos tratamentos combinados, como a associação ao tratamento biológico, por exemplo. Outra sugestão de trabalho futuro é utilizar a eletrodegradação com ADE para fármacos de classes diferentes, testando assim a viabilidade do método para aplicação em estações de tratamento de águas e esgotos. 54 Dissertação de Mestrado – PPGQ/UFS Jaime Rodrigues da Silva REFERÊNCIAS ALEXY, R., KUMPEL, T., KUMMERER, K. (2004) Assessment of degradation of 18 antibiotics in the Closed Bottle Test. Chemosphere 57, 505-512. ALVES, J. F., Aplicação do reagente de Fenton no tratamento de líquidos lixiviados de aterros sanitários. 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