SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2002. 365 p. Diretrizes lógicas, técnicas e metodológicas para nortear a vida acadêmica Por Rafael Vergili A pesquisa deve ser considerada um importante elemento da educação em universidades brasileiras. No livro “Metodologia do Trabalho Científico”, ao buscar a valorização desse processo, que leva à produção do conhecimento, o autor Antônio Joaquim Severino, doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e livre-docente pela Universidade de São Paulo, apresenta diretrizes lógicas, técnicas e metodológicas para sistematizar produções científicas e guiar a trajetória acadêmica de estudantes em diferentes níveis de treinamento. Com mais de 25 anos desde o seu lançamento, a obra conta com prefácio à edição, em que são explicadas as necessidades de atualizações realizadas com base na inserção das novas tecnologias e mudanças estruturais, como a eliminação da listagem de editoras, com endereços e linhas de publicações, devido às transformações constantes no cenário de surgimento e desaparecimento das empresas que trabalham com material impresso, o que tornaria o material rapidamente obsoleto. O tradicional prefácio e a introdução indicam os objetivos e a estrutura da obra, composta por oito capítulos. No primeiro capítulo, aborda-se a questão da autonomia que o estudante deve adquirir com o aprofundamento da vida científica, oferecendo exemplos da importância em ter disciplina no estudo – com auxílio de um fluxograma de preparação, participação e revisão de atividades em casa e em aula – e utilizar os instrumentos de trabalho de maneira correta, principalmente no aspecto bibliográfico, com o uso de revistas, livros e dicionários especializados. O segundo capítulo possui relação intrínseca com o conteúdo exposto no parágrafo anterior, uma vez que expõe a ideia de que o estudante precisa entender que a aula “não é um ponto de chegada, mas um limiar a partir do qual constitui toda uma atividade de estudo e de pesquisa, que lhe proporciona instrumentos de trabalho criativo em sua área” (p. 35). O autor reforça a ideia de realizar tarefas pessoais para aprimorar o conhecimento sobre temas de interesse. Nesse sentido, destaca a documentação (geral, temática, bibliográfica, entre outras, cada uma com suas especificidades) como uma técnica importante para destacar os principais pontos de textos e obras, que poderão ser retomados com facilidade futuramente ou contribuir de maneira imediata para o desenvolvimento de trabalhos científicos. O terceiro capítulo trata da dificuldade inicial que os estudantes de graduação enfrentam ao terem que ler textos de ciência e filosofia, sendo que, na maioria das vezes, tiveram contato apenas com obras literárias. Para facilitar a retenção de conteúdo desse tipo de texto e se chegar a uma síntese, fundamental instrumento para o ensino superior, Severino propõe um método de estudo (leitura analítica) composto por: análise textual, análise temática, análise interpretativa, problematização e síntese pessoal. No quarto capítulo são detalhadas as diretrizes para a realização de um seminário, descrita como uma atividade específica de cursos universitários, geralmente em grupo, a partir de leitura de documentação, leitura analítica e reflexão, servindo como base para pesquisas específicas futuras do estudante. Destaca-se a necessidade de que todos os alunos estejam preparados para a apresentação de um colega ou grupo, uma vez que o seminário não deve ser apenas uma aula expositiva comentada exclusivamente pelo professor, mas um círculo de debates com todos da sala de aula. O quinto capítulo apresenta as principais etapas para a elaboração de uma monografia científica, que são: “1. determinação do tema-problema do trabalho; 2. levantamento da bibliografia referente a esse tema; 3. leitura e documentação dessa bibliografia após seleção; 4. construção lógica do trabalho; 5. redação do texto” (p. 7374). Além disso, o autor demonstra uma série de exigências metodológicas e aspectos técnicos da redação de trabalhos, como: apresentação gráfica, maneira correta de utilizar citações e quando usar notas de rodapé ou referências no corpo do texto. Por fim, é realizada uma distinção entre o resumo de textos (síntese das principais ideias do autor, mas com utilização de palavras do estudante) e a resenha bibliográfica (pode ser informativa, crítica ou crítico-informativa), dois trabalhos didáticos importantes para a formação científica do estudante. A Internet como fonte de pesquisa é o mote para o desenvolvimento do sexto capitulo da obra. Severino oferece diretrizes iniciais para a busca de informações a serem utilizadas em trabalhos científicos, principalmente pela exposição de sites de busca, bibliotecas digitais e acervos on-line. O sétimo capítulo tem como foco os trabalhos exigidos nos cursos de pósgraduação, abordando principalmente questões relacionadas à qualidade e formas (tese de doutorado, dissertação de mestrado e ensaio), ressaltando aspectos técnicos e de profundidade, que devem sempre exigir envolvimento, autonomia, criatividade e rigor do aluno com o estudo. Antônio Joaquim Severino ainda detalha como elaborar um projeto de pesquisa que permita planejar a trajetória do trabalho do estudante, siga as exigências didáticas, possa ter base suficiente para o requerimento de bolsas de pesquisa e dê uma visão geral do trabalho aos orientadores. Para isso, o projeto deve seguir a seguinte estrutura: título, delimitação do tema, problema de pesquisa, hipóteses, quadro teórico de referência, procedimentos metodológicos, cronograma e bibliografia. Ainda no sétimo capítulo, o autor cita outras exigências acadêmicas, distinguindo resumos técnicos (devem ter entre 200 e 250 palavras e transmitir ao leitor a ideia completa do documento analisado), relatórios técnicos de pesquisa (tem o intuito de historiar o desenvolvimento da pesquisa) e memoriais (relato da trajetória acadêmica do estudioso). A diferença entre congressos, conferências, encontros, seminários, simpósios, entre outras atividades científicas extra-acadêmicas também podem ser conferidas no livro. Utilizando-se do ponto de vista lógico, Severino apresenta, no oitavo capítulo, o principal objetivo de um trabalho científico, que é “demonstrar, mediante argumentos, uma tese, que é uma solução proposta para um problema, relativo a determinado tema” (p. 183). Conclui-se, a partir do contexto apresentado na descrição dos capítulos anteriores, que o livro, uma referência no que tange à metodologia, serve como guia para todos os interessados em desenvolver um trabalho científico e possui especial relevância para estudantes que ainda estão no início de uma nova etapa de formação, a do ensino superior. A obra indica a importância de que o aluno tome consciência, desde a sua entrada na graduação, que o modelo passivo, adotado nos anos pregressos de estudo, precisa ser substituído por uma postura mais ativa e organizada, deixando clara a ideia de que o processo de amadurecimento intelectual está inextricavelmente relacionado às práticas pessoais (fora da sala de aula) e disciplina no estudo, sugestões que podem nortear a trajetória acadêmica dos leitores.