CAPITALISMO: DA CRISE TERMINAL DA HEGEMONIA DOS ESTADOS UNIDOS AO MITO DO COLAPSO DO PODER AMERICANO Modalidade: Artigo completo GT 2 – Economia Internacional, Economia Brasileira, Economia Regional e Baiana Marcos Antonio Tavares Soares1 Andréa Braz da Costa2 Antônio Andrade Leal3 Balzac já disse que, quando um devedor deve muito, tem poder sobre os credores; o que mata é ser um pequeno devedor. (NIAL FERGUNSON apud ARRIGHI) RESUMO: Esse texto tem como objetivo compreender melhor a dinâmica do capitalismo e as implicações do seu avanço na economia mundial, observando qual o papel que cabe a economia americana nos rumos do capitalismo do século XXI. Para tanto é feita uma discussão acerca das interpretações de autores que nos anos de 2008 apresentaram suas reflexões sobre a dinâmica do capitalismo contemporâneo, tendo como centro da análise a economia dos EUA. São eles: Reich (2008) com a tese do “Supercapitalismo”; Guttmann e Plihon (2008) e Arrighi (2008) que analisam a dinâmica econômica oriunda da nova fase do capitalismo e os seus impactos na economia e no poder americano; e Fiori (2008) que é crítico radical da tese do fim do poder americano. A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica centrada principalmente nos textos dos autores supracitados. Conclui-se que, apesar do dólar americano vir sofrendo depreciação ao longo dos anos e do grau de endividamento das famílias e do governo vir crescendo, os EUA ainda se apresentam como economia líder, sendo este país detentor de poder político, econômico e militar em escala global. Palavras chaves: hegemonia, crise, poder, supercapitalismo ABSTRACT: This paper has as objective to better understand the dynamics of the capitalism and the implications of its advance in the world-wide economy, observing which the paper that fits the American economy in the routes of the capitalism of century XXI. For in such a way a quarrel concerning the interpretations of authors is made who in the years of 2008 had presented its reflections on the dynamics of the capitalism contemporary, having as center of 1 Doutorando em Desenvolvimento Econômico. Professor de Economia da UESB. Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Trabalho, Política e Sociedade (NETPS).E-mail:[email protected] 2 Doutoranda em Ciências Soicias. Professora de Economia da UESB. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Trabalho, Política e Sociedade (NETPS). E-mail: [email protected] 3 Especialista em Economia. Professor de Economia da UESB. Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Trabalho, Política e Sociedade (NETPS). E-mail: [email protected] Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB the analysis the economy of U.S.A. They are: Reich (2008) with the thesis of “Supercapitalism”; Guttmann and Plihon (2008) and Arrighi (2008) that they analyze the deriving economic dynamics of the new phase of the capitalism and its impacts in the economy and the American power; e Fiori (2008) that it is critical radical of the thesis of the end of the American power. The methodology adopted is the bibliographical research centered on the texts of the authors mentioned above.The American dollar is concluded that, although to come suffering to depreciation throughout the years and the degree from indebtedness of the families and of the government to come growing, U.S.A. did not lose the power politician, economic and military in the world. Words keys: hegemony, crisis, power, supercapitalism INTRODUÇÃO O modo de produção capitalista traz algumas condições na sua forma de se firmar como sistema econômico global. Diferente de outros modos de produção que tinham seus pilares de sustentação na produção da riqueza material, na propriedade privada do patrimônio físico e do controle da força de trabalho, o capitalismo para além desses requisitos de sustentação, parece também se edificar, a partir de 1970, na reprodução ampliada da riqueza fictícia. É com o intuito de melhor entender a dinâmica contemporânea da economia mundial que esse texto vai discorrer acerca das interpretações de Reich (2008) sobre o Supercapitalismo; da tese que aponta para o declínio do poder americano de Guttmann e Plihon (2008); e da tese de Arrighi (2008) que afirma categoricamente a crise terminal da hegemonia americana. Também será analisada a tese de Fiori (2008), a qual destoará radicalmente das teses que apontam para o fim do poder americano ou de crise terminal do capitalismo, afirmando que o capitalismo passa por uma explosão expansiva, na qual se integraram ao seu núcleo a China e possivelmente a Rússia. As transformações econômicas que se processam desde a década de 1970, fundam aquilo que Reich (2008) vai chamar de supercapitalismo. Nesse livro, o autor vai observar que o sucesso do capitalismo se dá pari passu à crise da política. Para Arrighi, as mudanças ocorridas na economia mundial (no período do supercapitalismo, se quisermos chamar assim) fundam o movimento que sustenta a ascensão chinesa e ao mesmo tempo levam à crise final da hegemonia dos Estados Unidos (EUA). Guttmann e Plihon (2008) também vão destacar que a economia americana vem acumulando perda de poder e que a crise de 2008 é uma crise Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB sistêmica, contudo não afirmam ser esta crise anunciadora do fim da hegemonia norte americana. Fiori (2008), assim como Arrighi, parte da análise da mesma realidade, com o mesmo método (histórico) e com a mesma matriz teórica (Braudel), conclui que há mudanças estruturais na economia mundial, entretanto essas mudanças ao contrário de sinalizarem para o colapso do poder americano, na verdade, revelam a explosão expansiva da economia mundial sob a liderança dos Estados Unidos. Dessa maneira, esse texto tem como objetivo compreender melhor a dinâmica do “supercapitalismo” e as implicações do seu avanço na economia mundial, observando qual o papel que cabe à economia americana nos rumos do capitalismo do século XXI. Propõe-se, desse modo, discutir as interpretações de autores que no ano de 2008 apresentaram suas reflexões sobre a dinâmica do capitalismo contemporâneo tendo como centro da análise a economia dos EUA. São eles: Reich (2008), Guttmann e Plihon (2008), Arrighi (2008) e Fiori (2008). Para tanto, o texto se estrutura da seguinte forma: no tópico primeiro, será apresentada a dinâmica da economia mundial na fase do supercapitalismo de Reich; no tópico seguinte, com base em Guttmann e Plihon (2008) e Arrighi (2008) será analisado o impacto desse supercapitalismo na economia e no poder americano. No tópico terceiro, partindo do texto de Fiori (2008), serão analisadas as razões que levam esse autor a ser crítico radical da tese do fim da hegemonia americana. Por fim, as considerações finais que tentam sintetizar as idéias principais do texto e também serão apresentadas as críticas que se fizerem necessárias. . I – O Supercapitalismo ou o capitalismo na sua forma madura O capitalismo nos últimos 30 anos vem passando por fortes modificações que o aproxima da sua forma ideal de valorização que pode ser representada pela fórmula D-D’. A sua forma geral – D-M-D’ – nos diz que o capital no seu processo de valorização se apropria da riqueza gerada pelo trabalho na produção, sendo a esfera da circulação, apenas, o lócus de realização da mais-valia gerada. A partir dos anos de 1980, observa-se que cada vez mais o capital busca se reproduzir na esfera financeira, o que pode ser representado por D-D’. Essa seria a forma ideal de valorização do capital, pois encurtaria o percurso e o tempo para sua reprodução, ao mesmo tempo em que alcançaria maior liquidez e mobilidade. Desse modo, a reprodução capitalista em geral tende a se aproximar da fórmula D-D’, ou seja, a tendência no capitalismo é o Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB regime de acumulação, buscar a forma de reprodução que elimine o tempo morto na produção, que dê maior flexibilidade e liquidez ao capital. Na esfera financeira, obviamente, essa é sua forma de reprodução, D-D’. Já na esfera da produção4, D-D’ se apresenta só como ideal a ser alcançado ou, como sentido tendencial de movimento do capitalismo. Com isso, observa-se que o capital buscará reduzir os obstáculos para sua reprodução de modo a aumentar a sua mobilidade, flexibilidade e grau de liquidez, aproximando-se ao máximo do processo de auto-valorização. Roberto Reich (2008) ao analisar a dinâmica contemporânea do capitalismo nos EUA, constata que as mudanças tecnológicas e o avanço da microeletrônica permitiram maior flexibilidade ao capital, o que o faz se aproximar do seu ideal de reprodução. Essas mudanças vão fundar o que ele chama de supercapitalismo. Nessa nova fase de acumulação o capital ganha em eficiência, pois não está mais preso ao pacto entre grandes empresas e grandes sindicatos, os quais, via acordos/negociações, controlavam os aumentos dos salários e das margens de lucros num sistema de produção verticalizado, rígido e com baixa flexibilidade do capital investido na produção. Ao se libertar do pacto entre o capital e o trabalho, da regulação e das fortes intervenções do Estado na economia, típico da “Era de ouro não tão dourada” o capitalismo pode se desenvolver de modo mais eficiente. Contudo, observa o autor, que o sucesso do capitalismo não quer dizer avanço da democracia. Na verdade, há uma crise da democracia no supercapitalismo e isso se dá em função, por um lado, do envelhecimento das velhas instituições do capitalismo democrático – não sendo mais possível realizar as negociações entre capital e o trabalho como na fase anterior -, e por outro lado, não foram desenvolvidas novas instituições. Como resultado desse processo, os temas prioritários no modelo de desenvolvimento anterior, como emprego, segurança econômica, meio ambiente e princípios morais, tornaram-se secundários. O lado investidor/consumidor das pessoas passou a determinar o processo de desenvolvimento do capitalismo em detrimento dos interesses das pessoas enquanto cidadãs. No supercapitalismo, de acordo com o autor, as pessoas potencializam o seu lado consumidor e investidor em detrimento do seu lado cidadão, o qual continua a existir só que 4 A esfera da produção representada por P na expressão D-M...P...M’-D’. A produção de mais-valia em P se dá com a geração de riqueza material e de mais valor para o capitalista via exploração do trabalhador. Já em D-D’ tem-se o valor se autovalorizando sem, contudo, perder relação com a esfera da produção. Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB não se firma, não encontra instituições que o represente. Já o lado investidor e consumidor teriam, respectivamente, Wall Street e os grandes varejistas, como o Wal-Mart, para os representar. O Wal-Mart5 e outros grandes varejistas congregam o poder de compra dos consumidores americanos (e não só deles) para conseguir os melhores negócios a preços mais baixos possíveis. Para isso, o Wal-Mart vai levar adiante a pressão por preço baixos e, por conseguinte, pressionará a redução de custo por parte dos seus fornecedores que agirão no sentido de reduzir salários. Os fundos de pensão e de investimento reúnem a capacidade dos investidores, os quais buscam os melhores rendimentos (futuros). Reich, analisando o comportamento dos investidores, constata que eles estão cada vez mais exigentes e volúveis, pois, enquanto na década de 1990, mantinham suas ações em carteira por mais de dois anos, em 2004 os papéis não ficavam nos portfólios nem seis meses. Com isso, conclui: “Antes de 1980, Wall Street desempenhava o papel de serva da indústria, ajudando os grandes monopólios a levantar capital, quando necessário. Depois de 1980, os papéis se inverteram e a indústria passou a atuar como serva de Wall Street” (REICH, 2008, p.72). Se antes o mercado financeiro e de capitais nutriam o desenvolvimento industrial e a produção de riqueza, no supercapitalismo o movimento dos mercados se dá em busca de riqueza sem a preocupação em produzi-la, é o caminho no sentido do capital-dinheiro gerando capital-dinheiro (D-D’). É verdade que o Autor faz constatações irrefutáveis, contudo, parece maximizar a responsabilidade do indivíduo como consumidor/investidor em relação aos rumos tomados pelo sistema capitalista. Na nossa compreensão, o capitalismo apresenta como tendência um processo de desenvolvimento anárquico em que prescinde da regulação e dos valores civilizatórios, sendo imanente à sua lógica de reprodução a valorização do valor sempre e de forma maximizada. Há um imperativo, a busca do lucro a qualquer custo, ou melhor, ao menor custo possível. Acontece que ao deixar o capitalismo entregue à sua lógica de reprodução, ou seja, o capitalismo entregue aos capitalistas, a sociedade parece caminhar para a deterioração das suas relações sociais e das condições de vida. Como Reich bem percebeu, há no supercapitalismo um grande aumento da desigualdade de renda, aumento da insegurança 5 Multinacional do varejo que desenvolve estratégias de atuação no mercado mundial com base em um determinado país para onde remete boa parte dos sus lucros, quando não a sua totalidade. Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB econômica e degradação dos princípios morais. Apesar disso, ele conclui que o supercapitalismo triunfou. A questão que se coloca nesse momento é: seria sensato afirmar que o capitalismo (o super) triunfou se sua base de reprodução se dá cada vez mais de forma artificializada, ou seja, a expansão do consumo nos EUA avança pari passu ao avanço do crédito para as famílias e do respectivo endividamento? As empresas americanas para terem preços competitivos e resultados que atraiam os investidores, precisam deslocar a produção/serviços para outros países que apresentem baixo custo da mão-de-obra, como afirma o autor no seguinte trecho, Como a remuneração de pessoal representa 70% dos custos de uma empresa típica, é quase inevitável que as reduções de preços também afetam salários e benefícios. Se a mão-de-obra for muito cara nos EUA, os fornecedores transferirão parte de suas atividades para a China, Sudeste Asiático [...] ou substituirão seres humanos por produtos computadorizados (REICH, 2008, p. 92-93). Desse modo, as estratégias competitivas foram ancoradas nas mudanças tecnológicas que permitiram uma maior flexibilidade ao processo produtivo, nas inovações organizacionais e na intensificação da construção de redes de cadeia de produção global. Isso revela que ao lado do avanço da financeirização mundial também ocorre a globalização produtiva como estratégia adotada pelas empresas não-financeiras. As empresas financeiras expandem os seus negócios e inovam a cada dia criando novos papéis comerciais; as empresas não-financeiras inovam na organização da produção ao promover a separação entre a produção e a concepção das mercadorias. Nesse processo grandes marcas têm suas mercadorias produzidas por terceiros ou subcontratadas, as quais realizam os investimentos em máquinas, equipamentos e espaço físico. Se por um lado as redes de produção global se apresentam como uma forma de reduzir preços via a redução do custo da força de trabalho, como bem observou Reich, as redes de produção global também, por outro lado, provocam desemprego e reduções de salários nos EUA, e não só na América do Norte, mas pressionam os salários para baixo em quase todos os países industrializados. Os ganhos de eficiência oriundos da externalização da manufatura se dariam em função desse processo permitir maior flexibilidade ao capital, maior mobilidade e especialização do capital da grande empresa. As grandes empresas deixam de imobilizar montantes significativos de capital na produção (capital constante e também capital variável), Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB pois a parte do capital destinada à compra de máquinas e equipamentos (capital constante e/ou capital fixo) já não é mais imobilizada na esfera produtiva pelas grandes marcas, podendo ser destinada a investimentos em P&D e/ou em aplicação no mercado financeiro. Com isso, aumenta a mobilidade e liquidez do capital da grande empresa. A produção ganha em flexibilidade, pois a grande empresa ao identificar queda na demanda de um determinado bem pode suspender sua produção de imediato sem arcar com os prejuízos de tal medida. Quem arcará com as conseqüências da decisão serão as contratadas pelas grandes marcas6. Assim, o capitalismo no seu estágio atual está a promover a separação entre concepção e manufatura. Se nos séculos XVIII e XIX esta separação significava que na mesma fábrica parte diminuta dos trabalhadores assalariados serviriam nas funções administrativas e de supervisão, agora, a nova separação se dá entre as empresas. As grandes marcas se especializam na concepção, desenvolvimento e marketing dos produtos, enquanto as contratadas se especializam na produção dos bens e serviços para diversas empresas de marcas do setor e também acabam por produzir uma marca própria. Essa divisão entre concepção e produção das mercadorias está se constituindo numa tendência do capital destinado a produção industrial. A empresa contratada concentra a produção de diversas marcas, além de produzir sua própria marca, se especializa e com isso ganha em escala, escopo e velocidade. A grande marca passa a concentrar seu trabalho na administração e atividades correlatas, podendo inclusive não ter operários vinculados formalmente a ela. Além disso, mantém o controle sobre a produção e determina o padrão de qualidade dos bens demandados. A externalização da produção pode também se dar via contratação de pequenas empresas, de cooperativas e, inclusive, de trabalho domiciliar geralmente informal. Como bem destacou Reich, esse processo de globalização das cadeias produtivas serve para “lubrificar” e “turbinar” a produção capitalista, ou seja, em outras palavras, a externalização da manufatura é um método de organizar a produção que acelera e viabiliza o processo de inovação, dar maior mobilidade e liquidez ao capital das empresas nãofinanceiras e se contrapõe ao “espectro” da tendência à queda da taxa de lucro das grandes corporações7. Essa estratégia permitiu ao capital destinado a produção competir com as taxas de lucro alcançadas pelo capital destinado a reprodução fictícia nos mercados financeiros e 6 7 Para saber mais sobre o assunto ver Caroline Andrade (2004) e J. Furtado (2003). D. Harvey, 1998 Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB serviu para oxigenar as velhas grandes empresas que durante algum tempo imaginou-se que iriam desaparecer. Se for analisado o capitalismo, pelo lado da empresa, de fato Reich está correto na sua observação sobre o sucesso do supercapitalismo, se por outro lado, analisarmos o capitalismo enquanto sistema, no qual economia e política estão imbricadas e que o capitalismo não sobrevive sem instituições fortes para assegurar a ordem social e a própria reprodução do capital, aí então o sucesso vem com contradições que apontam uma maior flexibilidade para o capital no processo de acumulação, mas também traz conseqüências como o aumento da instabilidade do sistema. Mais do que isso, ao considerar o supercapitalismo no âmbito da economia americana, os resultados são ainda mais duvidosos quanto ao seu sucesso. O tópico seguinte se ocupará de apresentar as conseqüências concretas e potencias da dinâmica econômica imanente ao supercapitalismo para a economia norte-americana. Para tanto, serão apresentadas reflexões de autores como R. Guttmann e D. Plihon (2008) e também G. Arrighi (2008). Ambos partem da mesma realidade analisada por Reich (2008) sobre o supercapitalismo, reconhecendo a importância das transformações tecnológicas e organizacionais da produção e o avanço da financeirização da economia na formatação de um novo padrão de concorrência num regime de acumulação flexível. II – Desenvolvimento do supercapitalismo e a crise da economia norte-americana Com a crise econômica dos anos de 1970, revela-se o esgotamento do padrão de acumulação típico do período conhecido como os “trinta anos gloriosos”. Para sair da crise, os EUA e a Grã-Bretanha lideraram o processo de liberalização financeira, de maior abertura comercial e de desregulação dos mercados de trabalho das economias capitalistas. A União Européia, a partir de 1987, seguiu a mesma orientação das políticas liberalizantes e desreguladoras dos mercados (GUTTMANN e PLIHON, 2008). Nos anos de 1990, sob a regência do Fundo Monetário Internacional (FMI), chegou a vez dos países em desenvolvimento cumprirem a agenda (neo)liberal. Assim, os mercados financeiros se integraram ainda mais e de modo desregulado. Os países em desenvolvimento e também os desenvolvidos, pós integração financeira, ficaram mais suscetíveis a crises financeiras, as quais não tardaram a ocorrer: México em 1994, Leste Asiático em 1997, Rússia em 1998, Brasil em 1999, Argentina em 2001 e por fim, mas não a última, EUA com a crise subprime em 2008. Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB A liberalização financeira permitiu a entrada de capitais nos países em desenvolvimento, o que ampliava as possibilidades de desenvolvimento econômico, contudo, essas economias tornaram-se mais instáveis em função da volatilidade do capital entrante e da euforia que o mesmo gerava nos agentes que se arriscavam em demasia, o que resultou nas crises supracitadas. No caso dos EUA a dinâmica foi outra: a liberalização serviu para expandir o financiamento às famílias e às empresas. Isso foi possível porque com a desregulação o mercado financeiro ficou livre para inovar, o que levou à criação de diversas formas de alavancar o capital dos especuladores e de ampliar o financiamento para as famílias. Guttmann e Plihon (2008), afirmam que uma das inovações que merece destaque é a securitização. Por meio dela os bancos assumiram mais riscos e repassaram para terceiros. Ao fazer isso, a securitização potencializou a possibilidade de uma crise em um mercado nacional se propagar internacionalmente, como o que aconteceu na crise do subprime nos EUA em 2008. Desse modo, observa-se que, se por um lado, a desregulação financeira acompanhada das inovações aumentam os riscos de uma crise sistêmica, por outro lado, ela também contribui para o crescimento da economia ao financiar a expansão do consumo. Assim, é possível afirmar que a desregulação das finanças somada a liberalização comercial e as mudanças do padrão de concorrência, em função do avanço tecnológico, fizeram florescer o supercapitalismo. Este pode ser caracterizado, segundo Reich, pela lógica da acumulação flexível, pela expansão das finanças, pela produção flexível das grandes empresas (grandes marcas) organizadas em redes de produção globalizada e pelo enfraquecimento de velhas instituições. O aumento da capacidade produtiva advindo da produção flexível no supercapitalismo precisa ser acompanhado pelo aumento da demanda. Como a renda se encontra estagnada e a oferta de emprego não se ampliou de modo significativo, o consumo passa a ser fortemente assegurado pelo endividamento das famílias. Gutmann e Plihon (2008) observam que a tendência a elevação do endividamento das famílias se manifesta nas principais economias capitalistas avançadas, sendo que as famílias americanas apresentam níveis de endividamento mais altos quando comparados com o endividamento das famílias de outros países. Isso decorre do fato dos EUA possuírem um sistema de crédito para as famílias americanas desenvolvido há várias décadas. Esse sistema Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB de crédito com a desregulação do sistema financeiro impulsionou as inovações financeiras, que associadas à elevação continuada dos preços dos imóveis deram acesso as famílias a mais empréstimos de custo baixo. Esse “círculo virtuoso” das finanças levou os EUA em 2006, a gastar coletivamente 7% mais do que gerou de riqueza, sendo esse déficit financiado pelos países superavitários em suas contas correntes, como China, Japão e os membros da OPEP, entre outros (GUTTMANN e PLIHON, 2008). É justamente essa capacidade de endividamento das famílias americanas, das empresas e do governo que permitem o ajuste dos desequilíbrios globais e dinamiza o crescimento econômico global. Essa capacidade de endividamento e os déficits constantes no balanço de pagamentos fazem dos EUA a locomotiva da economia global. Apesar do elevado endividamento das famílias e do governo americano, o poder americano se mantém, pois a sua moeda continua a ser a moeda dominante nas transações internacionais. Assim sendo, os EUA nas crises econômicas promovem ajustes via políticas econômicas fortemente expansionistas e podem continuar a acumular déficits em conta corrente. Nesse processo os países Emergentes (EMEs) passaram a posição de exportadores de capitais e os EUA assumiram a posição de importador de capitais oriundos dos países EMEs. Mantida essa dinâmica, os EUA permanecem como a economia central, pois é o único país a dispor da senhoriagem em função de ser a sua moeda a unidade de conta e reserva de valor internacional. Contudo, a crise mais recente da economia norte-americana e de dimensão internacional sinaliza para o possível esgotamento do modelo. Nesse sentido, Guttmann e Plihon, afirmam que a crise de 2008, [...] atinge três pilares fundamentais do capitalismo conduzido pelas as finanças: um padrão de crescimento global centrado nos EUA, [...] o paradigma das finanças modernas, que enfatiza a gestão de riscos; e a pretensa estabilização do padrão de crescimento outrora cíclico. (GUTTMANN e PLIHON, 2008, p. 604) Em 2009, os efeitos deletérios da crise estão em plena manifestação nas economias de mercado, principalmente, nos EUA e na Europa. Falências e concordatas, desemprego e recessão econômica são alguns dos efeitos da primeira grande crise na era do supercapitalismo. Economias emergentes, como a China e o Brasil parecem sofrer menos com a crise. Esse dado pode revelar que o padrão de crescimento global puxado pelos EUA esteja Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB mudando e que as economias emergentes, puxadas pela China, assinalam o desacoplamento entre o resto do mundo e a economia norte-americana (GUTTMANN e PLIHON, 2008). Giovanni Arrighi (2008), ao analisar esse mesmo movimento de possível desacoplamento da economia mundial da economia central dos EUA e, adicionando a ele a paulatina perda de poder do dólar como moeda internacional, vai desenvolver sua tese da “crise terminal da hegemonia norte-americana”. Enquanto Guttmann e Plihon identificam uma crise sistêmica, mas não necessariamente final, sem apontar qual o rumo do capitalismo daí em diante, Arrighi é categórico ao afirmar que caminhamos para o fim da hegemonia norte-americana e que o ajuste recessivo dessa economia, se brando ou abrupto, se aproxima. No tópico que segue, será apresentada a tese da “crise da hegemonia dos EUA” e os rumos do capitalismo. III – Crise de hegemonia e o avanço do supercapitalismo Arrighi, partindo de uma análise histórica, observa que o desenvolvimento do capitalismo é marcado por ciclos de expansão, estando cada ciclo responsável pela consolidação de uma hegemonia. O país que assume a hegemonia no ciclo é aquele que apresenta as melhores condições para a reprodução do capital. A ascensão e consolidação dos EUA como hegemonia mundial está associada às inovações tecnológicas e institucional do início do século XX, as quais permitiram a internalização dos custos de transação e o surgimento da corporação vertical americana, ambos fatores dinamizadores da reprodução ampliada do capital O autor, olhando o movimento da economia mundial, constata que a ascensão econômica da China se dá pari passu à perda de importância da economia americana no mundo. Nesse movimento, a economia americana começou a ficar para trás com as transformações que ocorreram na economia mundial a partir, principalmente, dos anos de 1980. A grande empresa, típica do modelo americano, passa a ter dificuldades em competir no mundo que se caracteriza por demanda flutuante, acirramento da concorrência internacional e produção flexível. Esse processo levou A retomada de formas empresariais mais descentralizadas, muito mais baseadas na divisão social do trabalho entre unidades de produção do que na divisão técnica do trabalho dentro das unidades [...] Na década de 1980, a crise das empresas com integração vertical e administração burocrática tornou-se real (ARRIGHI, 2008, p. 178-179). Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB Nessa nova fase do capitalismo, a grande empresa ao externalizar a manufatura, via subcontratação de outras empresas, transformam as vantagens das pequenas empresas em “instrumento de consolidação e expansão do seu próprio poder” (p.180). O autor vai destacar que em nenhum outro lugar essa estratégia deu tão certo quanto na Ásia Oriental, sendo esse sucesso a base da ascensão chinesa. Nos EUA a adoção da mesma estratégia competitiva resulta no aprofundamento da crise da indústria antes dominante. Com isso, a economia americana perde a condição de produtora, passando para a centralidade de entreposto financeiro e comercial. Na verdade, as grandes empresas americanas ao adotarem a estratégia da descentralização e externalização da produção, obtiveram lucros crescentes, contudo, estes crescem com a produção no exterior. Para as empresas americanas poderem manter sua participação no mercado são obrigadas a reinvestirem seus lucros no exterior, principalmente, em países de baixos salários. Depois de apresentar a redução de competitividade da grande empresa americana verticalizada na concorrência entre capitais e de mostrar que no novo padrão de concorrência, a empresa precisa, cada vez mais, (re)investir os seus lucros em outros países para assegurar a sua participação no mercado internacional, Arrighi conclui que a saída para a empresa americana recuperar competitividade passa por um forte ajuste estrutural, no qual o dólar passe por uma desvalorização capaz de devolver a competitividade a indústria americana e que também permita reverter o déficit norte americano. A questão é: essa substancial desvalorização da moeda tende a diminuir o papel do dólar na economia mundial, o que não é desejado pelo governo norte americano. Contudo, o autor não vê outro caminho e, mais do que isso, observa que a depreciação da moeda americana já é um fato em curso. Entre 2001 e 2003, a moeda americana sofreu uma depreciação na ordem de 35%, com relação ao Euro; e com relação ao Iene a desvalorização foi de 24%. É certo que a desvalorização da moeda americana faria desaparecer alguns trilhões de dólares dos títulos em poder dos estrangeiros e acarretaria a perda da supremacia do dólar, retirando possivelmente dos EUA o privilégio da senhoriagem, o que reduziria em larga medida a capacidade desse país de sair da crise com políticas expansionistas, como vem fazendo na crise do subprime. Também se observa que os instrumentos que foram utilizados para sair da crise de 1980 não seriam eficazes agora, pois uma elevação das taxas de juros pelo FED teria impacto negativo na economia, a qual já se encontra em recessão e com perda de competitividade. Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB Arrighi conclui que já está em curso a transformação da hegemonia americana em dominação sem hegemonia. Salienta também que um Estado pode manter a dominação mesmo depois da crise terminal da sua hegemonia, sendo esse o caso americano. Observa que está em processo a transferência do poder econômico para a Ásia oriental, a qual tem como economia líder a China. Depois de analisar a tese da crise terminal da hegemonia americana, apesar de concordar com o argumento de que a economia americana passa por mais uma crise que abala as suas estruturas ao mesmo tempo em que a China está em franca ascensão, a pergunta que surge é: teria a economia americana perdido a hegemonia mesmo sendo responsável por parte significativa da produção mundial? E as grandes empresas americanas não estariam ainda sendo competitivas e mantendo a participação no mercado? O capital já teria encontrado um novo “porto seguro” para sua reprodução, como ocorreu nas transferências de hegemonias anteriores analisadas por Arrighi, principalmente no seu livro “O longo século XX”? Mesmo com as desvalorizações do dólar nos últimos anos – exceto, paradoxalmente, no ápice da crise do subprime – surgem, por um lado, dois argumentos a favor da manutenção do poder do dólar, e por outro lado, surge um contra a manutenção do seu valor. A favor: primeiro, sendo verdade que o poder americano se sustenta no hegemoney, dificilmente o governo levará adiante uma desvalorização substancial do dólar sob pena de perder o privilegio da senhoriagem e de não conseguir fazer a empresa americana ganhar competitividade; segundo, em consonância com a epígrafe desse texto, é de se esperar que os credores do governo americano não planejem e nem pretendam promover um ataque a moeda americana, sob pena deles arcarem com grandes prejuízos. Contra a manutenção do poder do dólar: observa-se que o mundo já vem mostrando num movimento lento a tendência por acumular reservas com base em várias moedas. O certo é que ainda não está claro, nem mesmo depois da eclosão da grande crise do supercapitalismo em 2008, qual o rumo do capitalismo. Mesmo havendo razões para mudanças radicais na economia mundial, observa-se a ausência de transformações substanciais. Pode ser que alguém argumente que com a crise o Estado voltou à economia! Mas, teria ele em algum momento deixado de intervir no sentido de facilitar o desenvolvimento das finanças? E a sua forte intervenção recente não é para manter o atual padrão de acumulação e os ganhos no mundo das finanças? Bem, parece que as mudanças recentes no comportamento do Estado se dão para que tudo continue como está. Nesse Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB sentido, Fiori desenvolve sua tese afirmando ser um mito o colapso do poder americano, pois essa economia continua a ser central no desenvolvimento do capitalismo. Mesmo reconhecendo que há mudanças estruturais em curso, estas se dão sob a liderança dos EUA. IV – O mito do colapso americano Fiori (2008), também utilizando o método histórico para analisar a dinâmica capitalista chega à conclusão de que o poder americano não está em fase terminal. O autor prefere trabalhar com a idéia de poder e império no lugar de hegemonia, pois, a partir da crise dos 1970, afirma ele: “pouco a pouco, o sistema mundial foi deixando para trás um modelo regulado, [...] e foi se movendo na direção de uma ordem mundial com características mais imperiais do que hegemônicas” (p. 18). O autor critica a teoria dos ciclos hegemônicos por entender que ela maximiza os aspectos positivos do poder hegemônico, descuidando-se de analisar as ações desestruturantes do hegemon. Apesar de reconhecer que os EUA sofrem uma crise de liderança, no tempo breve, e que vem enfrentando uma sucessão de bolhas especulativas desde 1987, no tempo cíclico da economia, no plano das longas durações, os EUA continua a liderar a política e a economia mundial. Nesse cenário, a expansão chinesa está vinculada a grande transformação expansiva do sistema mundial associada à expansão do poder americano. A incorporação da China ao mercado sob a liderança dos EUA foi um passo importante para a expansão do poder americano e para multiplicação do capital financeiro. É certo que a transformação expansiva se dá com conflitos, os quais tendem a se avolumar. Os Estados intervêm cada vez mais no comando estratégico de suas economias, levando ao movimento contraditório entre internacionalização do capital e avanço da nacionalização do poder e do capital, sendo as guerras e as crises produto do processo de expansão do sistema e não sinal de crise terminal. Depois de 1990, o crescimento da China assumiu uma feição mais nacionalista o que resultou na expansão do seu poder regional. Esse crescimento da China vinculado a expansão americana resulta, no inicio do século XXI, em mudança estrutural no sistema mundial, sendo criado um “novo centro nacional de acumulação de poder e de capital com capacidade gravitacional equivalente à dos Estados Unidos” (FIORI, 2008, p. 67). Fiori observa que essa mudança estrutural no sistema mundial é produto da crescente pressão competitiva - entre capitais e Estados nacionais - que anuncia uma nova configuração Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB do núcleo duro da geopolítica mundial, a qual deve se apresentar nas próximas décadas composto por EUA, China e Rússia. O processo que levará à consolidação da nova estrutura levará a uma nova corrida imperialista entre as principais nações. Fiori conclui que “não haverá nada parecido a um ‘duelo final’ entre os Estados Unidos e a China nesta primeira metade do século XXI. Pelo contrário, do ponto de vista econômico o que se deve esperar é uma fusão financeira cada vez maior entre a China e os Estados Unidos” (p. 68). V – CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o estudo, observou-se que a economia mundial nos últimos trinta anos se expandiu de modo a incorporar diversas economias que antes não estavam integradas a economia capitalista e a lógica de valorização do valor. Nesse processo, os EUA foram os responsáveis por liderar as mudanças e a expansão do capitalismo. As transformações desse período levaram a um novo padrão de concorrência em que as empresas se vêem obrigadas a descentralizar e flexibilizar a produção se quiserem obter êxito no mercado. Isso porque, com a liberalização financeira e a abertura comercial a demanda passou a flutuar mais e a concorrência internacional entre capitais se acirrou. Resultou desse processo a expansão da economia e a eclosão de crises financeiras cada vez mais freqüentes. No caso dos EUA, a economia líder, ocorreu na esfera da produção mudanças substanciais. Para manter a competitividade as empresas americanas passaram a externalizar a manufatura, deslocando a produção para países de baixos salários, principalmente para a Ásia oriental. A perda de competitividade da indústria em solo americano associado ao avanço do consumismo americano sustentado pelo financiamento às famílias e mais os déficits gêmeos do governo, colocam os EUA em uma situação econômica delicada o que pode levar a reformas importantes na condução da economia. É bem verdade que, passado o ápice da crise financeira, as medidas adotadas pelo governo foram no sentido de manter o mesmo padrão de acumulação com pequenas reformas e um pouco de regulação. O certo é que no regime de acumulação flexível o capital continua a avançar e a reverter, na esfera da produção, a queda tendencial da taxa de lucro, oxigenando assim a vida de grandes empresas que tendiam a desaparecer. Se nos “anos dourados” os ganhos de produtividade eram distribuídos entre os capitalistas e os trabalhadores, nos anos do Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB supercapitalismo os salários estão estagnados, a jornada média de trabalho estancou e os direitos sociais ou pararam de avançar ou foram deteriorados. Diante desse quadro surge a pergunta: o que podemos esperar do supercapitalismo? O supercapitalismo é justamente o avanço do capital sobre o trabalho e a subsunção da política ao capital, ou seja, o desenvolvimento da política se dá em função dos interesses do capital, ela passa a se desenvolver para garantir vida longa ao capitalismo. Desse modo, o capitalismo vai cada vez mais se aproximando do seu ideal reprodutivo de auto-valorização do valor (D-D’). Certamente sem alcançá-lo na esfera da produção na sua plenitude, apenas se aproximando. Deve-se salientar que esse processo tem sido conduzido com a liderança dos Estados Unidos (empresas/dinheiro + Estado/poder político). Então, como afirma Fiori, parece-nos que o poder americano não se esvaziou. Contudo, também sabemos que o capital no seu movimento de reprodução gera contradições, sendo uma dessas contradições evidenciadas pelo fato de que para o capitalismo se expandir na economia líder, também precisa se expandir em outros países que podem ameaçar a sua estabilidade. No caso específico, a expansão do padrão de crescimento americano é sustentada pela a expansão do capitalismo no mundo e pelo sucesso das estratégias competitivas das empresas não-financeiras em países emergentes. Esses são responsáveis por financiar os déficits coletivos (famílias, empresas e governo) produzidos na economia americana, os mesmo déficits que em parte são responsáveis pela expansão da demanda dos produtos exportados pelos mesmos países emergentes. Assim como afirmou Plihon e Guttmann, concorda-se com a ideia de que a crise financeira dos subprimes em 2008 transformou-se numa crise sistêmica. Com isso não afirma-se ser uma crise terminal, pois como argumentou-se ao longo do texto, o capital avança sobre o trabalho e consegue se reproduzir mantendo os salários baixos e a renda concentrada nas mãos dos mais ricos. Entende-se ser a crise sistêmica porque ela atingiu todo o sistema com impactos na esfera das finanças e da produção, envolvendo as principais economias do mundo e impondo para estas economias adoção de medidas emergenciais para promover ajustes na economia. Quanto ao poder americano, até o momento não parece ter surgido uma moeda que venha a substituir o dólar americano, o qual na nossa interpretação é o principal pilar de sustentação do poder americano, derivando em grande parte dele os recursos para manter a base militar e o controle sobre os mercados financeiros, nos quais prevalece a supremacia Vitória da Conquista, Bahia, 13 a 17 de fevereiro de 2017 XV Semana de Economia e I Encontro de Egressos de Economia da UESB americana. Com isso, não nega-se que o dólar vem se depreciando e que outros países, como a China venham crescendo em importância na geopolítica mundial, contudo parece ser cedo para afirmar que os EUA já perderam seu poder de liderança da economia mundial. Ainda com relação aos EUA, reconhece-se aqui que o seu poder vem se deteriorando e que o crescimento da sua economia vem acompanhado da elevação do grau de fragilidade, principalmente financeiro. Ao manter essa dinâmica, é muito provável que os capitais busquem um novo “porto seguro” para comandar a sua reprodução, a questão é que no momento nenhuma moeda e nenhum país se apresentam como esse novo “porto seguro” para o capital. BIBLIOGRAFIA ANDRADE, C. A. Inovação e manufatura em setores de alta tecnologia: modelos de organização industrial e estágios de reestruturação produtiva. Campinas. Dissertação apresentada no Inst. De Geociências da Unicamp, 2004. ARRIGHI, G. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. CINTRA, M. A. M. O dólar e o iuane como moeda-reserva internacional. Campinas, 2009. FIORI, J. L. O sistema interestatal capitalista no início do século XXI. In: Fiori, J. L. et & AL. O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro: Record, 2008. FURTADO, J. Globalização Edufscar/FAPESP, 2003. das cadeias produtivas no Brasil. São Carlos: GUTTMANN, R; PLIHON, D. 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