IX Encontro Nacional de Diagnóstico Veterinário Fig.1. Intestino delgado ixado em formol 10%, sucuri (Eunectes murinus). Invaginação intestinal com extensa necrose da mucosa e deposição de ibrina. rada autólise. Foram coletados fragmentos de rim, ovários, pulmão, ígado, coração, estômago, intestino delgado e grosso. Em seguida foram ixados em formol a 10% para processamento histopatológico e coloração em HE, e de Giemsa para a pesquisa de protozoários. Resultados: O animal, proveniente de um Zoológico de Brasília, foi encontrado imóvel em seu recinto e teve a morte con irmada através de auscutação e eco-doppler. Durante a necropsia, apresentava as mucosas conjuntivais e oral moderadamente pálidas e lesão focal ulcerativa e crostosa na região externa do lábio inferior. Após a abertura da cavidade celomática, foi observada no intestino in lamação acentuada difusa caracterizada por intensa hiperemia transmural. Entre a porção distal do íleo e o intestino grosso havia uma intussuscepção medindo 4,5 x 3,5 cm (Fig.1). Ao corte observou-se conteúdo mucoso amarronzado contendo estruturas dentária milimétricas e pontiagudas, provenientes da alimentação com roedores. Nesse local, a mucosa estava difusamente enegrecida, com deposição super icial de material amarelado a enegrecido de aspecto ibrilar. A avaliação microscópica do intestino delgado e grosso no local da intussuscepção demonstrou extensa necrose da camada mucosa, que estava difusa e transmuralmente substituída por debrís celulares, material amorfo, eosino ílico, hemorragia e edema moderado. Circundando as áreas necróticas, in iltrando difusamente a submucosa e estendendo-se até a serosa, havia acentuada quantidade de heteró ilos, alguns linfócitos, plasmócitos e macrófagos e raras células gigantes multinucleadas dispersas. As ibras musculares lisas, na túnica muscular, estavam distendidas por edema e hemorragia. Nos vasos adjacentes à lesão intestinal, havia vasculite hetero ílica multifocal com trombos e restos necróticos ocluindo a luz vascular. O lúmen do intestino delgado estava preenchido por abundantes debrís celulares, material amorfo, eosino ílico, por vezes, ibrilar ( ibrina e necrose), associado à acentuada quantidade de material granular hiperebaso ílico, por vezes organizado em 31 grumos (bactérias). Segmentos do intestino delgado e grosso, fora da área de intussuscepção, apresentavam vasos congestos, in iltração discreta a moderada de células mononucleares na lâmina própria e edema moderado adjacente. Não foram observadas estruturas compatíveis com protozoário nas secções histológicas na área de intussuscepção e outras regiões do intestino. A coloração especial de giemsa não evidenciou a presença de protozoários nos fragmentos analisados. Discussão: Existem poucos relatos de intussuscepção em répteis, especialmente em cobras. Trata-se de uma lesão com prognóstico reservado em serpentes, uma vez que é praticamente impossível fazer a ressecção da área afetada sem que o órgão seja tensionado demais, considerando o seu caráter linear (Wosar & Lewbart 2006). A enterite causada pelos protozoários Entamoeba invadens, que acomete o intestino grosso, e o Monocercomonas sp, que acomete o intestino delgado, são considerados os principais agentes causais da intussuscepção em répteis (Jacobson 2007, Rojas et al. 2009 ). Ainda é possível atribuir enterites a bactérias gram-negativas da lora normal das serpentes, como Salmonella, Pseudomonas e Aeromonas, que, neste caso, agem de maneira oportunista secundariamente a estados de imunossupressão. Serpentes podem ter a sua imunidade afetada por estresse causado pela manutenção de iciente do cativeiro, do manejo e má adaptação do animal às condições do ambiente (Rojas et al. 2009). A não observação de protozoários no intestino que pudessem justi icar o desenvolvimento de enterite, sugerem que outra causa possa estar envolvida na gênese dessa lesão e da intussuscepção. A criação de serpentes em Zoológico e o crescimento do interesse nesses animais como animais de estimação reforçam a importância de se conhecer as enfermidades que a ligem esses animais. Conclusão: Os achados macro e microscópicos sugerem que o quadro de enterite tenha sido responsável pelo surgimento da intussuscepção. Não foi possível determinar a causa do processo in lamatório intestinal. Referências: Brown C.C., Baker D.C. & Barker I.K. 2007. Alimen- tary system, p.1-297. In: Jubb, Kennedy & Palmer (Eds), Pathology of Domestic Animals. Vol.2. 5th ed. Saunders Elsevier, Philadephia. - Gelberg H.B. 2012. Alimentary system and the peritoneum, omentum, mesentery, and peritoneal cavity, p.322-401. In: MgGavin M. D. & Zachary J.F. (Eds), Bases da Patologia em Veterinária. 4ª ed. Elsevier, Rio de Janeiro. - Jacobson E.R. 2007. Parasites and parasitic diseases of reptiles, p.571-666. In: Jacobson E.R (Ed.), Infectious Diseases and Pathology of Reptiles: color atlas and text. CRC Press, Florida. - Orós J., Calabuig P. & Déniz S. 2014. Digestive pathology of sea turtles stranded in the Canary Islands between 1993 and 2001. Vet. Rec. 155:169-174. - Rojas C.A & Nomura R.H.C. 2009. Intussuscepção jejuno-jejunal em jibóia (Boa constrictor amarali): relato de caso. Vet. Zootec. 2:316-320. - Wellehan J.F.X. & Gunkel C.I. 2004. Emergent Diseases in Reptiles. Sem. Avian Exotic Pet Med. 13:160-174. - Wosar M.A. & Lewbart G.A. 2006, Ileocolic intussusception in a pine snake (Pituophis melanoleucus). Vet. Rec. 20:698-699. TERMOS DE INDEXAÇÃO: Doenças de répteis, doenças de serpentes, intussuscepção ileocólica, enterite, patologia, distúrbio digestivo. 17. Caldas S.A., Nogueira V.A., Cid G.C., França T.N., Oliveira L.C., Gonçalo V.V., Santos A.M. & Peixoto P.V. 2016. Lesões cutâneas causadas por espinhos de Mimosa debilis (Família Fabaceae) em equino no Estado do Rio de Janeiro. Pesquisa Veterinária Brasileira 36(Supl.2):31-33. Departamento Epidemiologia e de Saúde Pública, Setor de Anatomia Patológica, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, BR-465 Km 47, Seropédica, RJ 23890-000, Brasil. E-mail: [email protected] Pesq. Vet. Bras. 36(Supl.2), outubro 2016 32 IX Encontro Nacional de Diagnóstico Veterinário Introdução: As lesões de pele estão entre as queixas clínicas mais frequentes em medicina equina e, embora não seja um sério problema econômico, podem causar prejuízos pela incapacidade temporária de locomoção e pelos custos com tratamentos, por vezes prolongados (Traub-Dargatz et al. 1991, Scott & Thomas 2007). Além disso, as lesões resultam em uma aparência externa desagradável, di icultando inclusive o transporte e a utilização dos animais em provas hípicas e exposições (Radostits et al. 2002). Existem vários fatores endógenos e exógenos que podem determinar, potencialmente, agressão à pele. Os fatores endógenos envolvidos na agressão à pele podem ser de origem imunológica, congênita, hereditária, hormonal ou metabólica (Hargis & Ginn 2009), já os exógenos agem por efeito ísico, químico ou alergênico. Dentre os fatores exógenos que agem por efeito ísico, encontram-se as plantas que possuem espinhos ou cerdas em sua estrutura e determinam lesões mecânico-traumáticas. Anteriormente já havia sido observado um surto de dermatite ulcerativa em equinos causada por Mimosa setosa na Região Sudeste (Cid 2016). O objetivo deste estudo foi descrever a ocorrência de lesões cutâneas causadas por Mimosa debilis em um equino no Estado do Rio de Janeiro. Material e Métodos: Em maio de 2016, um equino da raça tas capazes de induzir a lesões cutâneas de natureza mecânico-traumáticas que cursam com processo in lamatório granulomatoso (reação do tipo corpo estranho). Opuntia spp. e Xanthium spp., plantas presentes, na África do Sul e América do Sul (Kellerman et al. 2005), as lesões causadas por Mimosa spp. são de natureza diversa: tratam-se de ulcerações cutâneas, mais ou menos profundas, com proliferação de variável quantidade de tecido de granulação. Lesões mecânico-traumáticas na pele, causadas por espinhos Mangalarga Marchador com 12 anos de idade, do Setor de Equinocultura da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresentou lesão cutânea ulcerativa. Para o exame histopatológico, realizou-se biopsia de pele e o material foi enviado para o Setor de Anatomia Patológica da UFRRJ. Os fragmentos foram ixados em formalina tamponada a 10% por um período de 48 horas. Em seguida, o material foi processado rotineiramente para histopatologia, corado pela Hematoxilina e Eosina e avaliado em microscópico óptico. Resultados: A ferida localizava-se no membro anterior direito na porção látero-posterior da quartela (Fig.1). A princípio, o animal apresentou lesão linear, com aumento de volume local, que evoluiu para ulceração arredondada, com contorno irregular e exsudação de aspecto serosanguinolento. O exame histopatológico revelou ulceração da epiderme e in iltrado in lamatório piogranulomatoso, delimitado por tecido de granulação subjacente. Adicionalmente, foram observados microespículos (tricomas hirsutos) em meio à reação in lamatória. O equino era mantido de forma extensiva em pastagem de Brachiaria spp. e recebia concentrado uma vez ao dia. À inspeção da pastagem constatou-se a presença de uma planta traumatizante com caules providos de espinhos, que foi identi icada como M. debilis (Fig.2). Havia também outra planta espinhosa do gênero Mimosa (M. bimucronata), popularmente conhecida como Maricá. Discussão e Conclusão: O diagnóstico de dermatite ulcerativa por M. debilis baseou-se nos achados clínico-patológicos característicos e na massiva presença da planta na pastagem. Na pastagem, constatou-se ainda a presença de M. bimucronata, porém por tratar-se de um arbusto/árvore, pôde-se descartar a possibilidade desta planta ter ocasionado danos, uma vez que a ferida localizava-se na porção distal do membro, o que indica que a causadora da lesão foi uma planta herbácea. Mimosa spp. são espécies comuns na América tropical. Existem, em todo o mundo, diversas planPesq. Vet. Bras. 36(Supl.2), outubro 2016 Fig.1. Pele de equino. Lesão ulcerada de super ície irregular em membro anterior direito na porção látero-posterior da quartela com exsudato serosanguinolento. Fig.2. Planta Mimosa debilis na pastagem. IX Encontro Nacional de Diagnóstico Veterinário de M. pudica em bovinos e ovinos (Barbosa et al. 2009) e M. pudica e M. debilis em equídeos (Belo Reis et al. 2011) já haviam sido descritas no Pará. A localização das lesões nos equinos foi, em parte, semelhante à observada no animal deste estudo, ou seja, estavam presentes nas regiões cranial, caudal e lateral do boleto e da quartela (Belo Reis et al. 2011). Não observamos, todavia, lesões na cabeça, lábios, bochechas, chanfro e gengiva. Recentemente, descreveu-se um surto de dermatite ulcerativa em equinos causado por M. setosa em Seropédica, RJ (Cid 2016). As lesões ocorreram entre os meses de dezembro a fevereiro e abril a maio, épocas de maior pluviosidade nos anos de 2013 e 2014, no estado do Rio de Janeiro. Tudo indica que, em épocas de chuva, como o terreno se torna inundado, esses animais não possam evitar a exposição à planta, por não visualizarem ao caminhar. Desta forma, esses animais desenvolvem lesões de pele, por vezes de forma enzoótica. Outro fator importante é a característica dessas espécies de planta, de se disseminarem de forma rápida na pastagem em períodos chuvosos, quando o ambiente torna-se propício para propagação da planta (Lorenzi et al. 2004). Os achados histopatológicos são semelhantes aos observados por Barbosa et al. (2009) e Belo Reis et al. (2011). Adicionalmente, havia fragmento de ibra vegetal em meio ao exsudato supurativo na super ície ulcerada. Os espinhos da planta, ao penetrarem na pele, causam laceração e consequente resposta in lamatória. Dentre os necessários diagnósticos diferenciais, destacam-se habronemose, pitiose, sarcóide equino, fotossensibilização, tecido de granulação pós-traumático e carcinoma de células escamosas. A identi icação de pastagens invadidas por plantas traumatizantes que se difundem rapidamente é fundamental. Em muitos casos, pelo não reconhecimento da causa da lesão, ou ainda, pela falta de informação sobre o controle e a pro ilaxia para evitar a invasão da planta, os produtores rurais abandonam os pastos sem solucionar o problema. Medidas para o controle e pro ilaxia ainda não são bem estabelecidas, no entanto, o ideal seria erradicar a planta e, caso não seja possível, deve-se evitar a utilização das pastagens onde há a presença da planta em períodos de alta pluviosidade, a im de impedir o pastejo desses animais por áreas alagadas. O processo de 33 cicatrização das feridas iniciou-se aproximadamente sete dias após da retirada dos equinos da pastagem. O mesmo foi veri icado em estudos anteriores (Barbosa et al. 2009, Belo Reis et al. 2011, Cid 2016). Deuber (2014) propõe o controle mecânico para plantas daninhas perenes por meio de corte da parte aérea e cita este método como o mais utilizado pelos pecuaristas, apesar da baixa e icácia. Outro estudo ressalta que o uso de um único herbicida para controle destas plantas daninhas é pouco e icaz (Ferreira et al. 2014). De qualquer forma, essas espécies di icilmente são eliminadas, pois são plantas invasoras com alto poder de disseminação na pastagem. Adicionalmente, as feridas devem ser tratadas, com o propósito de acelerar o processo de cicatrização. Referências: Barbosa J.D. Silveira J.A.S., Albernaz T.T., Silva N.S., Belo Reis A.S., Oliveira C.M.C., Riet-correa G. & Duarte M.D. 2009. Lesões de pele causadas pelos espinhos de Mimosa pudica (Leg. Mimosoideae) nos membros de bovinos e ovinos no estado do Pará. Pesq. Vet. Bras. 29:435438. - Belo Reis A.S., Duarte M.D., Sousa M.G.S., Freita S.N.F.Q.R., Yamasaki E.M., Silva A.G.M., Oliveira C.M.C. & Barbosa J.D. 2011. Lesões traumáticas de pele causadas pelos espinhos de Mimosa pudica e Mimosa debilis em equídeos. Pesq. Vet. Bras. 31:768-772. - Cid G.C. 2016. Dermatite ulcerativa causada por espinhos de Mimosa setosa, Mimosa debilis, Mimosa pudica (Família. Fabaceae) em equinos. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 113p. - Deuber R. 1997. Ciência das plantas infestantes: manejo. Vol.2. Degaspari, Campinas. - Ferreira E.A. Fernandez A.G., Souza C.P., Felipe M.A., Santos J.B., Silva D.V. & Guimarães F.A.R. 2014. Levantamento itossociológico de plantas daninhas em pastagens degradadas do Médio Vale do Rio Doce, Minas Gerais. Revta Ceres 61:502-510. - Hargis A.N. & Ginn P.E. 2009. As respostas da pele à lesão, p.1125. In: McGavin M.D. & Zachary J.F. (Eds), Bases da Patologia em Veterinária. 4ª ed. Elsevier, Rio de Janeiro. - Kellerman T.S., Coetzer J.A.W., Naudé T.W. & Botha C.J. 2005. Plant Poisonings and Mycotoxicoses of Livestock in Southern Africa, 2nd ed. Oxford University Press, Cape Town. 310p. - Lorenzi H., Souza H.M., Costa J.T.M., Cerqueira L.S.C & Ferreira E. 2004. Palmeiras Brasileiras e Exóticas Cultivadas. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Nova Odessa. - Radostits O.M., Gay C.C., Blood D.C. & Hinchcliff K.W. 2002. Clínica Veterinária: um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e equinos. 9ª ed. Guanabara Koogan, São Paulo. 1770p. - Scott S. & Thomas C. 2007. Poisonous Plants of Paradise: irst aid and medical treatment from Hawaii’s plants. University of Hawaii’s Press, Honolulu. 178p. - Traub-Dargatz J.L., Salman M.D. & Voss J.L. 1991. Medical problems of adult horses, as ranked by equine practitioners. Am. J. Vet. Res. 198:1745-1747. TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Plantas tóxicas, Mimosa spp., dermatite, patologia. 18. Hammerschmitt M.E., Argenta F.F., Souza S.O., Veit E.A., Marsicano G., Pavarini S.P. & Driemeier D. 2016. Estomatite ulcerativa associada à doença do corpúsculo de inclusão em uma jiboia (Boa constrictor constrictor). Pesquisa Veterinária Brasileira 36(Supl.2):33-34. Setor de Patologia Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9090, Prédio 42505, Agronomia, Porto Alegre, RS 91540-000, Brasil. E-mail: [email protected] Introdução: A doença do corpo de inclusão (DCI) é uma doença transmissível e progressiva, considerada a infecção viral multissistêmica mais importante devido a sua elevada morbidade e mortalidade, principalmente, em cobras pertencentes às famílias Boidae e Pythonidae em todo o mundo (Schumacher et al. 1994, Chang & Jacobsen 2010). Cobras afetadas pela doença podem apresentar distúrbios neurológicos, estomatite, regurgitação, pneumonia, distúrbios linfoproliferativos e neoplasias (Jacobsen 2007), ou podem ser portadoras assintomáticas, especialmente, em animais adultos (Chang & Jacobsen 2010, Hellebuyck et al. 2015). O agente etiológico ainda não está estabelecido, embora alguns agentes virais tenham sido identi icados e isolados de cobras com a DCI (Chang & Jacobsen 2010). O presente trabalho descreve os achados macroscópicos e microscópicos de um caso de estomatite ulcerativa bacteriana associada à DCI em uma jiboia (Boa constrictor constrictor). Material e Métodos: Uma jiboia proveniente de cativeiro, fêmea, com 12 anos de idade, foi encaminhada para o exame de necropsia. Fragmentos de todos os órgãos foram coletados, ixaPesq. Vet. Bras. 36(Supl.2), outubro 2016