Ler Crónica - Chico Amaral

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ESTADO DE MINAS - SEXTA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2001
"DOMINGO. SOBE O VERÃO
BRASILEIRO. EM TODO O PAÍS
MULHERES TOMAM INEXPLICÁVEIS
ARES DISTRAÍDOS"
CHICO AMARAL
São Paulo em
dois ou três dias
PÁGINA 10
● SEGUNDA-FEIRA - Alcione Araújo e Fernando Sabino
● TERÇA-FEIRA - Roberto Drummond
● QUARTA-FEIRA - Fernando Brant
● QUINTA-FEIRA - Frei Betto
● SEXTA-FEIRA - Chico Amaral
● SÁBADO - Cyro Siqueira
● DOMINGO - Affonso Romano de Sant’Anna
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Parque. Bênçãos para todos. O sol, as árvores, o lago, e sobre as águas, dançando, os
orixás de Tatti Moreno, os mesmos do dique
do Tororó em Salvador. Sua presença na capital paulista, sim, tem uma significação que
importa muito.
Banho de sol. De cueca mesmo, com medo
da polícia e dos estetas.
Metrô. “Acha que tudo é parque e bem-tevi? Pega o metrô pr’ocê ver!”
Porta do Inferno. Obra de Rodin exposta
na Pinacoteca, em gesso. Há oito cópias em
bronze pelo mundo, que Rodin nunca chegou
a ver. Dela saíram várias obras individualizadas importantes: o Pensador, o Beijo, o Filho Pródigo. Dominando a parte superior, o
Pensador inicialmente seria Dante, meditando sobre sua criação. As roupas medievais
não ficariam bem ali, Rodin depois ponderou. A obsessão de Rodin pela infinita expressividade do corpo é um olhar quase
afrontoso nos olhos do Criador. E Deus com
certeza lhe deu muito mais que o silêncio.
Ainda na Pinacoteca. Em outras salas, exposição de Amilcar de Castro. Amilcar é
muito claro ao falar do próprio trabalho.
Mais do desenho e do grafismo que da pintura (vou aprendendo com ele). O retângulo
de aço dobra-se em triângulos; e como foi
mesmo que essa esfera apareceu em torno
de três retângulos cortados (e unidos), a gente vai se perguntando e aprendendo a olhar.
O que é cortado não é excluído, num incessante jogo de forma e contraforma (de novo
é ele quem nos fala). A obra de Amilcar, com
a docilidade do aço aquecido, supera muitas
outras antíteses da arte.
Visitas ao acervo do museu estavam suspensas naquele dia. Que pena.
E lá fora. No Jardim da Luz, ao redor da
Pinacoteca, os estudantes, os aposentados,
os vadios e até as grandes árvores, todos pareciam se perguntar o mesmo: quando é que
no Brasil florescerá uma civilização original,
humana, que faça justiça a toda sua arte, a
todo conhecimento e a toda sua natureza, ultrapassando antíteses já velhas?
N
o Masp. Olhos intrigados da nona dinastia acompanham olhos
intrigados da turba. Íbis, juncos
e felinos na faiança de tardes
africanas. O Egito foi apenas ontem. Na Paulista. Pirâmides
não-tumulares, palácios piramidais, corredor de ônibus e não
mais do ford bigode de Oswald, a quem abandono na casa do Barão.
Hotel. “Qual o propósito de sua viagem?”
Sei lá! E se a pergunta tiver algum sentido
metafísico? Pergunto aos guardiães dos destinos humanos? De qualquer forma, acho
que é... ouvir Phill Woods no festival de jazz.
Turismo? Vagabundagem?
Domingo. Sobe o verão brasileiro. Em todo o País mulheres tomam inexplicáveis ares
distraídos. Feiras e camelôs pelas ruas. Ela
compra antigüidades como quem encontra
flores. São Paulo tem acarajé e água de coco.
Música-tema: Razão de Viver, de Eumir Deodato. Assobio baixinho.
Comida. Não foi à toa que os Titãs compuseram uma música com esse título.
Se Nova York é a maçã, São Paulo é a
monstruosa boca.
Free Jazz. Uísque em copo de plástico e
castanha a 16 paus. Doce fantasia subdesenvolvida. O palco é o “clâbi”, anuncia a voz esnobe.
Free Jazz 2. O som de Phill Woods é invadido pela rave ao lado. Falar o quê?
Free Jazz 3 e Procon. Metáfora dos novos
tempos musicais coisa nenhuma. Simples
avacalhação amadorística. O meu (dinheiro
de volta) pode ser enviado pra esse jornal,
que me será entregue. Não se esqueçam de
incluir algum referente às castanhas.
SHOW
MOSKA APRESENTA, AMANHÃ E DEPOIS, NO TEATRO ALTEROSA, SEU MAIS RECENTE CD, “FALSO”, ALÉM DE NOVOS ARRANJOS PARA CANÇÕES DOS PRIMEIROS DISCOS
MÚSICA ALÉM DAS CONVENÇÕES
HELVÉCIO CARLOS
Lançar o mais recente disco,
Falso, em Belo Horizonte não
foi uma escolha de Moska, que
um dia assinou Paulinho Moska. “Minha carreira não tem tamanho para poder escolher os
locais. Foi uma coincidência de
agenda”, diz ele, que sábado e
domingo, faz show de lançamento do CD no Teatro Alterosa. Coincidência que também
deixa o músico satisfeito. “Afinal a grande mudança na minha carreira, registrada entre
Mobille e Falso, surgiu em Belo
Horizonte em show que apresentei no Lapa Multshow”, rememora. “Falso é uma continuação sonora mais apurada
do disco anterior”. Moska considera as apresentações deste
final de semana na cidade como as primeiras oficiais. Antes
foram duas meio escondidas
em Campo Grande e em Cuiabá. “Um show só se faz depois
de muito tempo na estrada”,
reconhece. No entanto, acredita, chegou a um formato interessante. “Retirei alguns excessos. Mantive a essência do novo
disco com oito canções e acrescentei mais oito músicas conhecidas do público”, informa. Último Dia, A Seta e o Alvo, Relampiando, Admito que Perdi
são algumas delas que ganham
novos arranjos.
Moska mantém a mesma
preocupação desde o início de
sua carreira: uma busca estética sonora em seu trabalho. “Tenho uma sonoridade diferente
do que normalmente fazia. Ain-
da não encontrei o caminho
correto e sei que não é fácil,
não”, constata. Moska defende
o fim da repetição que está comum na música pop. “Ela está
presa a formação baixo, bateria, guitarra. É preciso se livrar
para evitar a repetição”, acredita. “Música é arte. É busca de
uma identidade”, emenda.
Sobre sua carreira, faz um
balanço positivo. “Estou sempre
balançando. Minha carreira é
um balanço, um movimento”,
brinca. Com cinco discos autorais, cada um com dez música
compostas por Moska, ele afirma ter assim o registro de sua
obra. “Se é boa ou não, não sou
eu quem vai dizer. Estou a fim
de fazer”, sentencia. “O caminho
que se percorre é mais importante”, acredita. Para ele, o va-
VOZ
PRÓPRIA
Moska
assegura
que
mantém o
espírito
inquieto e
pesquisador
lor de uma carreia não pode ser
medido pela vendagem dos discos. “Isso é visão capitalista”, critica. “Não é possível fazer nada
profundo com retorno imediato.
Minha música não é datada”.
SERVIÇO
FALSO
Show de lançamento do novo CD de
Moska que vao estar acompanhado
de Marcos Suzano (percussão),
Sacha Amback (teclados) e Walter
Costa (manipulação sonora).
Amanhã, às 21h, e domingo, às 20h
no Teatro Alterosa (av. Assis
Chateaubriand, 499, Floresta).
Ingressos a R$ 20. Informações pelo
telefone (31) 3237-6611.
ANDRÉS OTERO
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m
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CYAN
MAGENTA
AMARELO
PRETO
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