INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO ELVIRA DAYRELL GESIEL MARTINS EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A INCLUSÃO SOCIAL: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO VIRGINÓPOLIS, 2008. GESIEL MARTINS EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A INCLUSÃO SOCIAL: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação Elvira Dayrell como um dos prérequisitos para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Educação Física. RENATO VALONY FERREIRA PINTO ORIENTADOR VIRGINÓPOLIS, 2008. GESIEL MARTINS EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A INCLUSÃO SOCIAL: NOVAS PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO Monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciatura Plena em Educação Física, à comissão julgadora do Instituto Superior de Educação Elvira Dayrell. Aprovada em ___/___/___ __________________________________________ Renato Valony Ferreira Pinto Instituto Superior de Educação Elvira Dayrell À minha avó Maria (in memorian) À minha esposa Carla Ao meu filho Otávio AGRADECIMENTOS A minha família que eu amo tanto pelo imenso e incessante apoio durante essa trajetória, que muitas vezes abdicando de seus sonhos realizaram os meus, acreditando em mim. Aos meus amigos que estiveram sempre do meu lado e torceram pela minha vitória. Ao meu orientador Renato Valony pelo importante auxílio prestado durante a realização deste trabalho. Ao diretor geral do ISEED Argemiro A.D. Lessa pela amizade, carinho, respeito e, principalmente pelo enorme apoio e incentivo durante essa jornada. À assistente social Fernanda pela convivência amigável durante estes três anos de curso e pelo apoio nos momentos difíceis. Aos professores, mestres que com a arte de ensinar me despertaram a vontade de crescer com afeto, amizade e sabedoria. Aos meus colegas da turma que estiveram comigo desde o início, passando juntos por momentos de muitas alegrias e também de tristeza, mas firmes vencemos. A todos, muito obrigado. Entende-se a Educação Física Escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, capacitando-o para usufruir os jogos, os esportes, as danças, as lutas e as ginásticas, em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. CONFEF (2002) RESUMO Este trabalho discute a Educação Física praticada na escola, partindo de uma análise de sua origem na Europa do final do século XVIII e início do século XIX, onde surgiu com o nome de Ginástica e, retrata seu percurso histórico ao longo dos séculos aqui no Brasil. Salienta ainda, as influências e tendências sofridas por essa disciplina em nosso país, o que pode ter causado à Educação Física uma crise de identidade, desvalorização de sua prática e importância no processo de ensino e aprendizagem do aluno para sua formação plena como cidadão crítico e consciente. Essa retrospectiva do processo histórico da Educação Física Escolar Brasileira visa compreender seu momento atual nas escolas, a fim de melhorar sua prática educacional, mostrando alternativas para aulas dinâmicas e inclusivas. Dessa forma a Educação Física será respeitada e valorizada no contexto escolar. Palavras Chave: Educação Física; Esportes; Corpo; Educação Inclusiva. ABSTRACT This work discusses the Physical Education practiced in the school, leaving from an analysis of his origin in Europe of the end of the century XVIII and beginning of the century XIX, where it appeared with the name of Gymnastics and, shows his historical distance along the centuries here in Brazil. Point out still, the influences and it disciplines tendencies suffered by that one in our country, which can have caused to the Physical Education a crisis of identity, devaluation of his practice and importance in the process of teaching and apprenticeship of the pupil for his full formation like critical and conscious citizen. This retrospect of the historical process of the Physical School Brazilian Education aims to understand his current moment in the schools, in order to improve his education practice, showing alternatives for dynamic and included classrooms. In this form the Physical Education will be respected and valued in the school context. Key words: Physical education; Sports; Body; Included Education. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... ........09 2 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR BRASILEIRA: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA............................................................................................14 2.1 Tendências da Educação Física...........................................................................................19 2.1.1 Educação Física Higienista.........................................................................................20 2.1.2 Educação Física Militarista.........................................................................................20 2.1.3 Educação Física Pedagogicista...................................................................................21 2.1.4 Educação Física Competitivista..................................................................................22 2.1.5 Educação Física Popular.............................................................................................23 2.2 A Educação Física Após os Anos 80....................................................................................24 2.3 Educação Física Escolar: Considerações do Século XXI.....................................................27 3 ESPORTES E CULTURA CORPORAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM IMPORTANTE MEIO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA...............................31 3.1 Esportes e Educação Física ao Longo dos Anos..................................................................32 3.2 Cultura e Cultura Corporal...................................................................................................36 3.2.1 Corpo e Corporeidade na Educação Física..................................................................40 3.3 Educação Inclusiva...............................................................................................................42 3.3.1 Portadores de Deficiências Físicas nas Aulas de Educação Física..............................45 3.3.2 Educação Nova e Papel do Professor de Educação Física: Contribuições Para a Inclusão Escolar...........................................................................................47 4 CONCLUSÃO..................................................................................................................... .......49 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................53 1 INTRODUÇÃO Há muito tempo a Educação Física vem sendo palco de discussões e objeto de estudo de diversas áreas (Filosofia, Antropologia, Ciências Humanas) que procuram encontrar explicações e teorias definitivas para chegar a um conceito do que realmente seja a Educação Física, surgindo assim, alguns questionamentos: O que é Educação Física? Para que serve a Educação Física? Para que se compreenda o momento atual da Educação Física Escolar é necessário conhecer todo o seu contexto histórico, abordando suas origens e principais influências que marcaram sua implantação aqui no Brasil e que ainda caracterizam esta disciplina em nossas escolas, delineando seus novos rumos tanto em relação aos seus conteúdos quanto à forma de ensino. Assim, iniciaremos este estudo, com uma retrospectiva ao final do século XVIII e início do século XIX na Europa, onde se encontram as raízes da Ginástica, primeiro nome dado à Educação Física. A Ginástica compreendia marchas, corridas, lançamentos, esgrima, natação, equitação, jogos e danças. Surgiu inicialmente como um movimento de caráter popular e sem qualquer relação com a instituição escolar. Mas com a criação dos chamados Sistemas Nacionais de Ensino, a Ginástica de caráter bastante abrangente foi introduzida na escola como conteúdo escolar obrigatório. Este movimento, bastante vigoroso em todo o século XIX, teve sua denominação definida a partir do seu país de origem e ficou conhecido como “escolas” ou “métodos de ginástica”. “Os mais conhecidos no Brasil foram o Método francês, alemão e sueco, sendo o mais divulgado e que serviu de modelo para um método nacional de ginástica em nosso país, o Método francês” (SOARES, 1996, p. 08). A Educação Física Escolar Brasileira, durante muito tempo esteve vinculada às instituições militares e à classe médica. Esses vínculos foram determinantes, tanto no que diz respeito à concepção da disciplina e suas finalidades, quanto ao seu campo de atuação e à forma de ser ensinada. Os médicos que tinham grande influência sobre a Educação Física, visando melhorar a qualidade de vida, assumiram uma função higienista tentando mudar os hábitos de saúde e higiene de toda a população. Nessa concepção, as aulas de Educação Física, então, favoreciam a disciplinarização do corpo, tendo como meta a constituição de um físico forte, saudável e equilibrado organicamente, menos suscetível às doenças; não importando os meios usados para a obtenção destes objetivos. Além disso, “havia no pensamento político e intelectual brasileiro da época uma forte preocupação com a eugenia¹. Como o contingente de escravos negros era grande, havia o temor de uma ‘mistura’ que ‘desqualificasse’ a raça branca” (PCNs, 1997). Com o passar dos anos, sofrendo várias influências e tendências, a Educação Física sempre esteve em conformidade com o contexto histórico e o momento político mundial; alternando assim, seus objetivos e sua forma de ser trabalhada (processo de ensino-aprendizagem); até que em 1971, a partir do Decreto nº. 69.450, em âmbito escolar considerou-se a Educação Física como: a atividade que, por seus meios, processos e técnicas, desenvolve e aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando. A falta de especificidade do decreto manteve a ênfase na aptidão física, tanto na organização das atividades como no seu controle e avaliação. A iniciação esportiva, a partir da quinta série, tornou-se um dos eixos fundamentais de ensino; buscava-se a descoberta de novos talentos que pudessem participar de competições internacionais, representando a pátria. Nesse período o chamado ‘modelo piramidal’ norteou as direções políticas para a Educação Física: a Educação Física Escolar, a melhoria da aptidão física da população urbana e o empreendimento da iniciativa privada na organização desportiva para a comunidade comporiam o desporto de massa que se desenvolveria, tornando-se um desporto de elite, com a seleção de indivíduos aptos para competir dentro e fora do país (PCNs, 1997). Para alguns professores, o esporte, apareceu como uma alternativa ao descaso e a 1. A Eugenia é uma ação que visa o melhoramento genético da raça humana, utilizando-se para tanto de esterilização de deficientes, exames pré-nupciais e proibição de casamentos consangüíneos. improvisação, que então grassavam nas aulas de Educação Física. Para eles, o esporte era uma atividade educativa por excelência. Para Oliveira (2002), “o esporte aliado à interferência do governo no desenvolvimento da educação física escolar, tornava-se referência praticamente exclusiva para a prática de atividades corporais, dentro ou fora da escola”. Assim, todo o conjunto de atividades físicas passíveis de serem abordadas e desenvolvidas no interior da escola resumiu-se à prática de algumas modalidades esportivas; as práticas corporais de Educação Física passaram a ter como objetivo principal a técnica esportiva, o gesto técnico, a repetição excessiva de movimentos, enfim, a redução da gama de possibilidades corporais a algumas poucas técnicas estereotipadas para a busca de alto rendimento. Dessa forma, a Educação Física Escolar torna-se competitiva, um verdadeiro “campo de guerra” com caráter seletivo, onde os mais fortes vencem e são agraciados. Os alunos que possuíam algum talento ou habilidades para uma modalidade esportiva eram selecionados em um “grupo elite” para o seu treinamento específico e se tornarem “atletas-herói”, exemplo de superação para todos e orgulho para a pátria. Enquanto que os outros sem tais habilidades, os “incapacitados fisicamente” eram excluídos, marginalizados. Na década de 80 esse modelo começa a perder força e ser contestado, causando uma significativa mudança nas políticas educacionais: a Educação Física Escolar passou a priorizar o segmento de primeira à quarta série e também a Educação Infantil, enfocando o desenvolvimento psicomotor do aluno. A partir daí o campo de debates se ampliou e uma nova tendência para a Educação Física começou a surgir, um novo enfoque quanto à natureza da área, seus objetivos, conteúdos e pressupostos pedagógicos de ensino e aprendizagem começaram a ser discutidos. Foram enfatizadas as dimensões psicológicas, sociais, cognitivas e afetivas, para a formação do aluno como ser humano integral (LIMA, 2004). Com a afirmação da Psicomotricidade, a Educação Física, então, perde sua especificidade de caráter técnico e esportivo. Ela se envolve com as tarefas pedagógicas da escola, com o pleno desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores. A Educação Física se torna ainda, um meio para aprender outras disciplinas (Matemática, Língua Portuguesa, História, Geografia, Ciências...), um importante meio para socialização (SOARES 1996). As aulas de Educação Física tomam novos rumos, elas tornam-se mais dinâmicas. Mesmo trabalhando com modalidades esportivas e ginástica na escola, a Educação Física, por meio de suas atividades motrizes, desenvolve na criança a ludicidade, a interação social, a afetividade, o respeito mútuo; transmitindo ainda, conhecimentos sobre a cultura corporal de movimento. Assim: O processo de ensino e aprendizagem em Educação Física, portanto, não se restringe ao simples exercício de certas habilidades e destreza, mas sim de capacitar o indivíduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada (PCNs, 1997). A Educação Física está na escola como componente curricular e matéria de ensino. Ela é, antes de tudo Educação e como tal participa no processo educacional do aluno, contribuindo para a sua formação cultural por meio de suas diversas atividades. Portanto, cabe ao professor lutar para que a Educação Física continue na escola e seja a cada dia, mais valorizada; para isso deve trabalhar de forma integrada e dinâmica, buscando a inclusão de todos em suas aulas, independentemente de cor, etnia, religião, condições financeiras ou limitações físicas; evitando assim, qualquer forma de preconceito ou discriminação. Assim estará contribuindo para a formação de cidadãos críticos e conscientes. A Educação Física ainda é inferiorizada em grande parte das escolas e desvalorizada por outros professores, alunos e pais. Há muito tempo temos preocupação em ver a Educação Física ocupar o espaço que lhe é de direito dentro do sistema educacional, mas há muito a ser feito; por isso, a necessidade de compreensão de seu contexto histórico para um novo direcionamento do processo ensino-aprendizagem desta área. O presente trabalho consiste em uma revisão bibliográfica de literatura descritiva. Este estudo objetiva-se em investigar o processo histórico da Educação Física Escolar Brasileira para compreender o seu momento atual, mostrando alternativas para o processo de ensino e aprendizagem mais inclusivo na escola, de forma que a Educação Física possa ser mais valorizada e que os profissionais da área conscientizemse de sua importância no contexto escolar para a formação do aluno. 2- EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR BRASILEIRA: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA Para grande parte das pessoas que freqüentaram ou ainda freqüentam a escola, a lembrança das aulas de Educação Física é marcante: para alguns, uma experiência prazerosa, de sucesso; para outros, uma memória amarga, de sensação de incompetência, de medo de errar... Sob esses aspectos, a Educação Física Escolar no Brasil, vem se constituindo ao longo dos séculos com mudanças em suas características tanto em relação aos seus objetivos e pressupostos quanto aos seus conteúdos curriculares, prática pedagógica e metodologias de ensino em determinados momentos de seu contexto histórico. “A Educação Física, no âmbito escolar, vem mudando, ao longo do tempo, de acordo com os princípios éticos da sociedade e os projetos político-pedagógicos construídos em cada época” (SOUSA et al.). Dessa forma, o que hoje chamamos de Educação Física Escolar, passa, invariavelmente, pela reflexão sobre o seu processo de constituição como componente curricular na história da escola brasileira. Em 1882, Rui Barbosa (apud PCNs, 1997), deu seu parecer sobre o Projeto 224-Reforma Leôncio de Carvalho, Decreto nº. 7.247, de 19 de abril de 1879, da Instrução Pública, no qual defendeu a inclusão da ginástica [Educação Física] nas escolas e a equiparação dos professores de ginástica aos das outras disciplinas. Nesse parecer, ele destacou e explicitou sua idéia sobre a importância de se ter um corpo saudável para sustentar a atividade intelectual. No início do século XX, a Educação Física, até então chamada de ginástica foi incluída nos currículos escolares de alguns estados brasileiros. Nessa mesma época a educação brasileira sofria uma forte influência do movimento escola-novista, que evidenciou a importância da Educação Física no desenvolvimento integral do ser humano. Essa conjuntura possibilitou que profissionais da educação na III Conferência Nacional de Educação em 1929, discutissem os métodos, as práticas e os problemas relativos ao ensino da Educação Física. A Educação Física que se ensinava nesse período era baseada nos métodos europeus - o sueco, o alemão e, posteriormente, o francês-, que se firmavam em princípios biológicos. Faziam parte de um movimento mais amplo, de natureza cultural, política e científica, conhecido como Movimento Ginástico Europeu, e foi a primeira sistematização da Educação Física no Ocidente (PCNs, 1997, p.21). A Educação Física pouco mudou no século XX, pois o caráter utilitário do século XIX continuou, na medida em que o seu objetivo na escola seria formar homens fortes para o bem da pátria. Enfatiza-se no decorrer desse século, três períodos: o estado novo, a ditadura militar e a pós-ditadura ou período de abertura política. No período denominado de Estado Novo, a Educação Física continuou a servir como instrumento de ideologia do poder constituído, ganhando novos objetivos passou a atender as necessidades de segurança nacional frente aos perigos internos (revoltas existentes no país) e externos (entrada do Brasil na 2ª guerra); e suprir a demanda de mão de obra fisicamente adestrada e capacitada tecnicamente para assegurar o processo acelerado de industrialização no país (BRAID, 2003). Ao final do Estado Novo iniciou-se uma série de discussões envolvendo a educação e especificamente, houve um forte interesse pela Educação Física, enquanto elemento curricular. Em conseqüência dos debates surgiu a proposta de um novo enfoque para a área, o de integrá-la como disciplina eminentemente educativa no currículo de ensino das escolas públicas. Durante a Ditadura Militar, foi grande o incentivo do governo à Educação Física e, principalmente, ao esporte. A história identifica nesse período um objetivo de atuação do desporto como “analgésico” no movimento social; ...A ditadura foi pródiga em enaltecer a necessidade da Educação Física em todos os níveis de ensino, sendo inclusive nesse período que instituiu a obrigatoriedade desta no Ensino Superior. Esta obrigatoriedade é analisada como uma tentativa de ocupação do tempo do estudante universitário, isolando-o de outros movimentos socialmente importantes para a época (BRAID, 2003). Nas últimas décadas do século XX, a pós-ditadura se caracterizou como um período de muitas discussões acerca da Educação Física. Pesquisadores identificam uma crise de identidade pela negação de paradigmas existentes e ausência de novos que os substituíssem. “Foi um período de busca de mudanças quanto a questões filosóficas e didático-metodológicas” (BRAID, 2003, p.55). Na década de 30, com a ascensão das ideologias nazistas e fascistas, ganham força novamente no Brasil, as idéias que associam a eugenização da raça à Educação Física. O exército passou a comandar um movimento em prol do “ideal” da Educação Física que se mesclava aos objetivos patrióticos e de preparação pré-militar. Não levou muito tempo e este discurso cedeu lugar aos objetivos higiênicos e de prevenção de doenças, passíveis de serem trabalhados em âmbito escolar. Segundo produções acadêmicas da área a partir de 1980, “a Educação Física Escolar foi conformada de forma autoritária pelo Estado no Brasil, a partir das reformas educacionais de 1968 (Lei 5.540) e 1971 (Lei 5.692 e decreto 69.450)” (OLIVEIRA, 2002, p. 53). Com interesse no desenvolvimento da eficiência produtiva no mundo do trabalho e, utilizando a educação escolarizada para se atingir este fim, a tecnização do ensino patrocinada pelo governo teria como objetivo a disciplinarização, a normatização, o alto rendimento e a eficácia pedagógica, por meio das atividades físicas. Enquanto elemento do currículo, a Educação Física, historicamente, tem assento na escola através de leis e decretos. A literatura indica ser este um dos motivos para uma das características que ela manteve por longo período de tempo, qual seja a de desenvolver a sua prática em função das necessidades do Estado (BRAID, 2003,p.54). A história da Educação Física Brasileira é longa e conhecida na dedicação de fabricar corpos disciplinados, sadios e submissos. Durante todo o seu processo de construção, de acordo com o contexto político, a Educação Física sofreu diversas influências que acarretaram conceituações diferentes em determinados períodos históricos, mudando assim, seus objetivos e a forma de ser trabalhada tanto em relação aos conteúdos adotados, quanto à maneira de serem transmitidos para os alunos. Influenciada inicialmente por médicos e posteriormente por militares, a Educação Física no Brasil desenvolveu-se desde sua introdução, apoiada em princípios biológicos e de disciplina. A inclusão do esporte, [mais tarde] como conteúdo hegemônico das aulas de Educação Física, mudou apenas a ‘aparência’, mas as finalidades, os valores e as características continuaram sendo as mesmas (PAIANO, 2006, p. 48). No Brasil, em toda sua trajetória e constituição histórica, a Educação Física Escolar, mesmo mudando sua ênfase em determinados momentos ou contextos políticos e econômicos em conformidade com os interesses do Estado, sempre desenvolveu-se fundamentada de maneira explícita ou implicitamente sob alguns aspectos básicos: tecnicismo, repetição, princípios biológicos e de disciplina. Segundo Castellani Filho (apud FREITAS, 1999, p.60): No Brasil, a Educação Física iniciou-se seguindo o modelo de corpo disciplinado e dócil. Dela lançaram mão os higienistas, que, à procura de um corpo saudável, robusto e harmonioso organicamente com o qual pudessem identificar os ideais burgueses, recomendavam a prática de atividades físicas. Ao ideal higienista veio somar-se o ideal eugênico, visando à construção racial de um tipo física brasileiro branco, forte, saudável. Assim foram modelados os corpos feminino e masculino, por meio de práticas diárias e atividades físicas diferenciadas (que levassem em conta a fragilidade da mulher e sua função primordialmente materna). Os programas [de aula] eram distintos para meninos e meninas. Para eles, prática de variações de marchas, que deveriam ser executadas observando-se as regras militares. Enquanto que para as meninas, brincadeiras em liberdade no pátio e exercícios de extensão e flexão dos músculos, realizados à sombra. Essa diferenciação de práticas corporais para meninos e meninas expressa as concepções acerca do corpo masculino e feminino: os homens deviam ser fortes e viris; ao passo que, as mulheres precisavam conservar seu corpo delicado com exercícios livres e leves. Para ambos, uma educação racional de seus corpos sob forte disciplina, mas que deveria respeitar as diferenças entre eles (VAGO, 1999). Apesar de exercícios diferentes para homens e mulheres, as aulas de Educação Física ainda voltavam-se para as técnicas e repetição excessiva de movimentos. Em razão da concepção eminentemente prática das aulas, da profissão Educação Física e da ausência de um corpo de conhecimentos devidamente estruturado, a ênfase recaía invariavelmente nas disciplinas de orientação para as atividades práticas. Assim, as instituições destinadas à formação desses profissionais, voltavam-se exclusivamente para a prática educacional, cujo lema era: “aprender a executar para poder ensinar” e, portanto, ofereciam-se muitas disciplinas práticas, particularmente vinculadas às modalidades esportivas tradicionais, nas quais os graduandos experimentavam uma grande variedade de movimentos com o objetivo de adquirir habilidades motoras específicas e melhorar as então chamadas valências físicas. O professor deveria ser um modelo para seus alunos, não apenas na execução de movimentos para demonstrar, como também no que se refere a hábitos de saúde, higiene e asseio corporal. (MANOEL; TANI, 1999, p. 14-15) Traçando um paralelo constante entre Educação e Educação Física Escolar, percebe-se, ao longo dos séculos o caráter reprodutivista da Educação Física Escolar Brasileira. Intimamente ligada às teorizações críticas baseadas na relação de causa e efeito de toda a estrutura educacional. Nota-se também o caráter de continuidade das propostas educacionais do Estado nas décadas de 1960 e 1970 e a tecnização da Educação Física em particular e da Educação de forma geral, como adequação do modelo de desenvolvimento político-econômico adotado pelo Brasil. De acordo com Paiano (2006, p.48): Na maioria das escolas, até meados dos anos 80, [a Educação Física], possuía as seguintes características: era tratada de uma forma acrítica e alienante; não permitia a participação dos alunos na sugestão de atividades, na liberdade de movimentos nem no processo de avaliação. O conteúdo resumia-se à prática de algumas modalidades esportivas; o professor buscava a perfeição técnica de seus alunos e o alto rendimento, com isso, perdia a função pedagógica de educador e se transformava em treinador ou adestrador de corpos. Enfim, todas as influências e tendências sofridas pela Educação Física Brasileira, devido à inconstância, desde sua implantação, levaram-na a uma crise de identidade, acarretando desvalorização e a diminuição da sua importância, vivenciada atualmente nas escolas. 2.1 Tendências da Educação Física A História tem consagrado muitos conceitos que, de uma forma ou de outra, ainda estão presentes na Educação Física Escolar Brasileira que a caracterizam atualmente; alguns desses conceitos ou “termos” são bons, outros nem tanto. O autoritarismo, o individualismo, a competitividade, o tecnicismo e a neutralidade estão entre os tantos traços que distinguem a Educação Física (OLIVEIRA 1994). Sem pretender seguir fielmente (passo a passo) todos os acontecimentos que marcaram a história da Educação Física aqui no Brasil e nem escrever com riquezas de detalhes as influências sofridas por essa disciplina; vale destacar os momentos principais que fixaram alguns valores e foram alvo de crítica e discussão ao longo dos séculos. Vamos nos prender aqui, às cinco tendências da Educação Física Brasileira: Educação Física Higienista (até 1930); Educação Física Militarista (1930-1945); Educação Física Pedagogicista (1945-1964); Educação Física Competitivista (pós 64) e Educação Física Popular. Cada uma delas em um contexto histórico, político-econômico diferentes e possuindo objetivações peculiares. 2.1.1 Educação Física Higienista A ênfase em relação à questão da saúde está em primeiro plano. Há o culto exacerbado da prática de atividades físicas para se atingir esse objetivo de corpo puro, sem a presença de doenças...“cabe à Educação Física um papel fundamental na formação de homens e mulheres sadios, fortes, dispostos à ação” (JÚNIOR, 2001, p. 17). A Educação Física Higienista não se responsabilizava somente pela saúde individual das pessoas. Ela agia como um bem comum em toda a sociedade brasileira, era protagonista num projeto de “assepsia social”, se tratava de eliminar todas as enfermidades. Desta forma, para tal concepção: a ginástica, o desporto, os jogos recreativos etc. devem, antes de qualquer coisa, disciplinar os hábitos das pessoas no sentido de levá-las a se afastarem de práticas capazes de provocar a deterioração da saúde e da moral, o que ‘comprometeria a vida coletiva’ (JÚNIOR, 2001, p. 17). Assim, a perspectiva da Educação Física Higienista vislumbra a possibilidade e a necessidade de resolver o problema da saúde pública de toda a sociedade pela educação, usando como meio principal para alcançar esse objetivo, as atividades físicas sistematizadas (na escola). Sua idéia central se constitui pela disseminação de padrões de conduta “corretos”, forjados pelas elites dirigentes, entre todas as classes sociais. 2.1.2 Educação Física Militarista Ocorreu no período da Ditadura Militar e tinha caráter autoritário, os alunos deviam ser submissos a tudo e a todos; não podiam se manifestar de forma alguma nem questionar o que lhes era imposto pelos professores/disciplinadores de ordem militarista. As aulas de Educação Física nessa época eram ministradas por oficiais militares. O objetivo fundamental da Educação Física Militarista é a obtenção de uma juventude capaz de suportar o combate, a luta, a guerra. As aulas destinavam-se de certa forma ao treinamento militar dentro da escola. Para tal concepção, segundo Júnior (2001, p. 18), “a Educação Física deve ser suficientemente rígida para ‘elevar a Nação’ à condição de ‘servidora e defensora da pátria’”. De acordo com a concepção da Educação Física Militarista, a educação popular possui suas possibilidades limitadas. Assim, a Educação Física se torna selecionadora de “elites condutoras”, capaz de distribuir melhor os homens e as mulheres nas atividades sociais e profissionais dentro da sociedade, observando sua cultura. ... “A coragem, a vitalidade, o heroísmo, a disciplina exacerbada compõem a plataforma básica da Educação Física Militarista” (JÚNIOR, 2001, p. 18). Seguindo fielmente essas características, a Educação Física Militarista visa incontestavelmente à formação do “cidadão-soldado”, capaz de obedecer cegamente e de servir de exemplo para o restante da juventude pela sua bravura e coragem; servidor e defensor da pátria. 2.1.3 Educação Física Pedagogicista A Educação Física Pedagogicista surge com uma visão inovadora voltada para princípios pedagógicos. É, pois a concepção que vai reclamar da sociedade a necessidade de encarar a Educação Física não somente como uma prática de atividades físicas com movimentos corporais repetitivos, capazes de promover saúde ou de disciplinar a juventude. Mas, vem expor a necessidade de encarar a Educação Física como prática eminentemente educativa. Ela vai defender veementemente a “educação do movimento” como a única forma capaz de promover de maneira significativa a chamada “educação integral” do indivíduo (JÚNIOR, 2001). Nesta classificação, a Educação Física vai além das outras disciplinas escolares; ela é instrutiva e também educativa. Desta forma, é a Educação Física que colabora decisivamente para que a juventude venha “melhorar sua saúde, adquirir hábitos fundamentais, preparo vocacional e racionalização do uso das horas de lazer”, com consciência e eficiência, sentindo prazer em suas atividades físicas escolares. O profissional de Educação Física, então, é verdadeiramente valorizado dentro da concepção Pedagogicista. Segundo Júnior (2001, p. 19) “A Educação Física é encarada como algo ‘útil e bom socialmente’, e deve ser respeitada acima das lutas políticas dos interesses dos diversos grupos ou de classes”. Assim, a Educação Física é capaz de promover uma boa formação ao homem brasileiro, respeitando suas peculiaridades culturais, físico-morfológicas e psicológicas. 2.1.4 Educação Física Competitivista Como a Educação Física Militarista, a Educação Física Competitivista, também está a serviço de uma hierarquização e elitização social, havendo para tal a exaltação dos “fortes” e a exclusão dos “fracos” de forma a selecionar os membros da sociedade, usando como meio para esse objetivo, os desportos. “Seu objetivo principal é a caracterização da competição e da superação individual como valores fundamentais e desejados para uma sociedade moderna” (JÚNIOR, 2001, p. 20). A Educação Física Competitivista volta-se então, para o culto do atletaherói; aquele que a despeito de todas as dificuldades chegou à vitória, exemplo de superação para a sociedade e “espelho” para a juventude que se desvencilhava dos padrões e normas de boa conduta a que todos eram submetidos pela elite detentora do poder dentro do Brasil. Assim, quando essas pessoas vissem o êxito de atletas jovens, se inspirando neles poderiam então se interessar por atividades físicas, conseqüentemente praticariam os desportos de competição e alto nível internacional. A ginástica, as lutas, os jogos recreativos, etc. no âmbito da Educação Física Competitivista ficam desta forma submetidos ao desporto de elite (profissional). A partir daí, desenvolve-se então, o Treinamento Desportivo baseado nos avançados estudos da Fisiologia do Esforço e da Biomecânica, com o objetivo de melhorar a técnica desportiva dos alunos/atletas para alcançar melhores resultados em competições nacionais e até mesmo internacionais. Dentro desta concepção, a Educação Física torna-se sinônimo de desporto, e este, sinônimo de verificação de performance e de superação dos limites humanos, tanto físicos quanto psicológicos, não importando o que deveria ser feito para se atingir tal superação. 2.1.5 Educação Física Popular Surge a partir dos interesses, necessidades e, principalmente, dos anseios dos trabalhadores, do povo. A Educação Física Popular, ao contrário da Educação Física Militarista e da Competitivista, não se fundamenta na disciplinarização de homens e muito menos está voltada para a superação dos limites e das capacidades humanas para alcançar vitórias e conquistar medalhas. Ela é, antes de tudo, ludicidade e cooperação; destina-se ao prazer e à diversão por meio das atividades físicas voltadas para a descontração e recreação, sem exigência de regras e perfeição na execução dos movimentos. ... “e aí o desporto, a dança, a ginástica etc. assumem um papel de promotores da organização e mobilização dos trabalhadores” (JÚNIOR, 2001, p. 21), em busca de diversão e qualidade de vida. E, mais que isso, a Educação Física com suas diversas atividades, serve então aos interesses daquilo que os trabalhadores vêm chamando historicamente de “solidariedade operária” baseada na interrelação social. Enfim, a Educação Física já passou por várias fases: Historicamente já passamos pela constituição da Educação Física como higienismo, eugenia e militarismo. Atravessamos a fase rudimentar adentrando na fase romântica, aquela em que os professores ensinavam e reproduziam as bases de um conhecimento dito novo no jogo, no esporte, no lazer. Na seqüência vivemos um período de redemocratização e a crítica da área sedimentou uma série de preocupações com o desenvolvimento dos padrões corporais, metodológicos, históricos, sociológicos e psicológicos (SADI, 2004, p. 1-2). A partir da década de 70, com a afirmação da Psicomotricidade nas instituições escolares como conteúdo de ensino, a Educação Física passa a ter um vigoroso e verdadeiro envolvimento com as tarefas educacionais da escola, com o desenvolvimento crítico e consciente da criança, com o ato de aprender mais do que o de ensinar, com os processos cognitivos, afetivos, sociais e psicomotrizes, mergulhando num universo teórico, metodológico e lingüístico, contribuindo para a formação integral do aluno e, principalmente, respeitando suas opiniões e limites físicos de maneira a valorizar as diferenças existentes entre eles. 2.2 A Educação Física Após os Anos 80. Embora com atraso em relação às outras áreas do conhecimento contemporâneo, a Educação Física Escolar Brasileira passou por um verdadeiro renascimento nos anos 80, através de um lento e gradual processo de abertura política ocorrido no país, após mais de quinze anos de ditadura militar. Foi, sem dúvida, um período em reflexões, do qual surgiram novas idéias importantes para a área, em que a crítica fundamentada academicamente começou a sedimentar-se, provocando um repensar amplo quanto ao papel sociocultural e político-educacional que ela vinha desempenhando na escola e na sociedade em geral ao longo de nossa história, até os dias atuais (OLIVEIRA 1994). Até o final dos anos 1970, apesar de sua pedagogização, a Educação Física ainda não era analisada em suas implicações políticas. Neste período, mesmo que em uma versão tecnicista, foram incorporados elementos da pedagogia ao corpus da Educação Física, via didática. Nas palavras de Oliveira (1994, p.17) “Os influxos médico-militares criaram a falsa idéia de que as práticas corporais eram neutras, cabendo aos professores de Educação Física preocupação eminentemente técnicas”. Essa postura tecnicista, baseada em repetições excessivas e na perfeição da execução de movimentos, vinha ao encontro da censura e da repressão impostas à sociedade brasileira, subproduto do golpe militar de 1964. É sabido que a Educação Física Escolar Brasileira nos anos 80 deu um importante salto qualitativo não somente em relação a sua prática, mas também quanto aos seus pressupostos teóricos, conteúdos, processo de ensino e aprendizagem, dialeticamente produzidos e responsáveis pela superação dessa prática, que se torna mais dinâmica. A velha expressão de que Educação Física é educação tornou-se realidade. A produção teórica da Educação Física Escolar Brasileira sofreu um impulso significativo a partir do início dos anos 1980. Tornou-se, assim, um espaço multidisciplinar em busca da sua própria compreensão como prática social de suma importância no contexto escolar para a formação integral do aluno. Sendo reconhecida inclusive por intelectuais de outras áreas que têm participado dessas reflexões: As preocupações e os questionamentos dos profissionais da área da Educação Física mostravam uma visão de um novo e grande espaço, onde as atividades da Educação Física e as práticas esportivas deveriam construir uma nova paisagem humana, abrangendo o indivíduo, a escola e a sociedade (SANTIN apud OLIVEIRA, 1994, P. 26). A Educação Física neste momento toma novos rumos; torna-se inovadora, abrangente e dinâmica. Ela volta-se para a psicomotricidade, priorizando o segmento de primeira à quarta série e a Educação Infantil. Nas aulas de Educação Física então, a ludicidade é de suma importância para o aprendizado e o desenvolvimento do educando. O ensino e prática dos conteúdos curriculares da área tornam-se dinâmicos, os limites físicos e as capacidades dos alunos na execução das atividades são respeitadas. As aulas de Educação Física são descontraídas e prazerosas. Com essa mudança na Educação Física, no final dos anos 80, surgem escolas nas quais os alunos participam da proposição dos conteúdos, sendo assim, coresponsáveis pela sua educação e até pela avaliação; há a valorização do gesto corporal expressivo e o respeito das possibilidades de movimento do aluno; surgem turmas mistas. Temas da cultura corporal são incluídos nos conteúdos de ensino das aulas; a Educação Física Escolar passa a ser vista e valorizada nas suas dimensões conceitual2, procedimental3 e atitudinal4 (PAIANO 2006). As atividades físicas então, passam a ser vistas não mais com a intenção de adaptar 2. Conceitual: conteúdos relacionados a conceitos ou idéias-chave presentes na base da construção da identidade das ações pedagógicas. São informações e fundamentos básicos para a aprendizagem dos porquês, da importância, dos limites e possibilidades das vivências corporais. A aprendizagem desses conteúdos não se mostra apenas quando o educando repete a definição do conceito, mas quando é capaz de utilizá-lo para a interpretação, compreensão, exposição, análise ou avaliação de uma situação. 3. Procedimental: conteúdos que se referem aos fazeres/vivências das diferentes práticas educativas: jogar, fazer exercício físico, dançar, ler, escrever, desenhar dentre outras. A aprendizagem desses conteúdos implica, assim, a realização de ações e a reflexão sobre a atividade, tendo em vista a consciência da atuação e a utilização deles em contextos diferenciados. 4. Atitudinal: conteúdos relacionados à aprendizagem de valores (princípios ou idéias éticas), atitudes (predisposições relativamente estáveis para atuar de determinada maneira) e normas (padrões ou regras de comportamento segundo determinado grupo social). Esses conteúdos são configurados por componentes cognitivos (conhecimentos e crenças), afetivos (sentimentos e preferências) e de conduta ( ações e intenções). o ser humano à atividade como algo que existe externamente a ele, que é imposto pelo professor e os alunos, sem questionar, repetem os movimentos desprovidos de sua significação. Ao contrário, como expressão cultural da humanidade, as atividades físicas (movimentos corporais) acontecem nas escolas por meio da Educação Física para satisfazer às necessidades e vontades humanas com expressividade, de tal maneira que possam ser compreendidas e transformadas, assumindo significações e sentido para a comunicação dos alunos e cumprir com os propósitos de uma educação emancipadora e inovadora, cuja finalidade é alcançar o desenvolvimento integral do educando e sua formação crítica e consciente para o exercício da cidadania e a prática do lazer (KORSAKAS; JÚNIOR, 2002). A Educação Física, enquanto uma prática pedagógica, por meio de suas múltiplas atividades, pode e deve oferecer conhecimentos úteis para esse processo de formação integral dos alunos, tornando-os cidadãos participativos do mundo atual. Sendo respeitada e valorizada por todos dentro e fora da comunidade escolar; desta forma a Educação Física se destacará no processo de ensino e aprendizagem do aluno. Entretanto se torna necessário que ela seja vista como uma disciplina séria e comprometida com esse objetivo educacional. 2.3 Educação Física Escolar: Considerações do século XXI Devido às várias influências sofridas pela Educação Física Escolar no Brasil ao longo dos séculos; ainda hoje, em pleno século XXI em meio à modernização e à democracia social, percebemos em algumas escolas a sua desvalorização em relação às outras disciplinas: as aulas de Educação Física são encaixadas nas “janelas” que sobram nos horários, são vistas como hora de diversão, os professores de outras áreas julgam a Educação Física como barulhenta e perturbadora da “ordem escolar”, etc. Parte desta culpa também é nossa. “Pelas características de nossa atividade, pela nossa postura, pelos profissionais que somos e pelo imobilismo que tivemos por muitos anos” (PAIANO, 2006, P. 56). Segundo uma pesquisa feita por Moreira (1995 apud LIMA,2004, p.6-7): [...], ainda é possível identificar que alguns professores de Educação Física mantêm relações autoritárias e formais com os alunos; explicita a aula como sinônimo de cumprimento mecânico e rigoroso dos exercícios; transmitem o conteúdo da Educação Física como um produto acabado e não como um processo a ser descoberto e desenvolvido. Isso é percebido quando, muitas vezes o aluno é tratado como um repetidor de movimentos mecanizados, em que o professor é o comandante e os alunos meros cumpridores de deveres. Mas este quadro já está mudando. Lutamos diariamente contra os preconceitos sofridos pela nossa profissão e por nós profissionais de Educação Física. Cabe a nós profissionais da área, vencer esta luta pela melhoria e valorização de nossa profissão, pelo reconhecimento da importância da Educação Física Escolar, pela conquista de novos espaços e ainda, pela descoberta de nossa função como educadores na formação dos alunos como cidadãos críticos, conscientes e atuantes na sociedade. Nas palavras de Lima (2004): Numa sociedade mecanizada e tecnológica como a de hoje, a criança necessita de amor, compreensão, carinho, alegria, comunicação para satisfazer as suas necessidades, quer físicas, sociais e psíquicas, condições básicas para a formação de uma personalidade sadia. A Educação Física, através de suas inúmeras atividades com dinamismo e flexibilidade das aulas, é um importante meio para que o aluno saia do monotonismo de uma vida sedentária gerado pela evolução tecnológica e consiga, com a prática de atividades físicas de forma prazerosa e segura satisfazer suas necessidades físicas, sociais psíquicas em um ambiente de interação; obtendo assim, uma boa formação educacional. Segundo o Confef (2002 apud LIMA, 2004): Entende-se a Educação Física Escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando um cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, capacitando-o para usufruir os jogos, os esportes, as danças, as lutas e as ginásticas, em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. A visão da Educação Física, neste caso, passa a ser ampliada, uma vez que procura contemplar não só as dimensões físicas, psicológicas e sociais humanas, mas ver o ser humano como a totalidade indissociável entre esses aspectos, contribuindo para a atuação consciente do homem na atual sociedade (DAOLIO, 2004). Novas possibilidades de vivenciar situações diversas nas aulas de Educação Física como atividades de socialização, respeito e cooperação; ainda, oportunizar o desfrute de atividades lúdicas sem caráter utilitário como forma de descontração e lazer, se tornam necessárias para a promoção da saúde e contribuem para o bem-estar coletivo. As situações lúdicas, competitivas ou não, são contextos favoráveis e importantes para a aprendizagem, pois, permitem o exercício de uma ampla gama de movimentos e expressões para a interação entre os alunos na execução das atividades e que solicitam sua atenção na tentativa de realizá-las de forma satisfatória e adequada (PCNs, 1997). Todo e qualquer aluno precisa e deve ser considerado como um todo, no qual, aspectos cognitivos, afetivos e corporais estão inter-relacionados e indissociáveis em todas as situações vividas por ele, seja dentro da escola ou no seu cotidiano fora dela. A Educação Física, através do ato de se movimentar e interagir no coletivo por meio da pedagogia de jogos, danças, esportes, ginásticas e lutas torna-se uma das formas privilegiadas de atuação entre os homens, tendo como instrumento potencialmente criativo, a linguagem. Trata-se de uma ação global, sócio-educativa e de socialização que busca explicitar a maneira de ser, sentir e agir dos indivíduos com dinamismo e cooperação. Assim, a Educação Física “incide sobre uma multiplicidade de questões relacionadas à organização do corpo no tempo e no espaço, sua interação com outros sujeitos, sua mobilização consciente e crítica” (SADI, 2004). Devido a sua multiplicidade de atividades, a Educação Física Escolar pode sistematizar situações de ensino e aprendizagem que garantam aos alunos o acesso a conhecimentos práticos e conceituais de maneira prazerosa e satisfatória. Para isso é necessário mudar a ênfase na aptidão física e no rendimento padronizado que a caracterizavam, para uma concepção mais abrangente, de uma Educação Física inovadora que contemple todas as dimensões envolvidas em cada prática corporal dotada de significados e sentidos para os alunos. A partir destas considerações, trata-se então de saber utilizar os benefícios fisiológicos e psicológicos que os jogos, os esportes, as danças, as ginásticas e as lutas proporcionam como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas do conteúdo de ensino para a Educação Física Escolar. É de suma importância que o professor de Educação Física perceba os diversos significados que uma atividade motriz pode trazer para as crianças, identifique também os possíveis benefícios e consiga ainda, minimizar os riscos ao realizá-la. Assim, ele ajudará os alunos na percepção adequada dos seus recursos corporais, de suas possibilidades e limitações, sempre em constante transformação, dando-lhes condições de se expressarem com liberdade e de aperfeiçoarem suas competências motrizes. 3 ESPORTES E CULTURA CORPORAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM IMPORTANTE MEIO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A área da Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento como forma de expressão corporal. Entre eles, destacam-se as atividades de movimento como finalidade de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções e com o objetivo de promoção, manutenção e recuperação da saúde; além é claro, da interação social entre os sujeitos. Segundo Mattos e Neire (apud LIMA, 2004): a aula de Educação Física não deve ser mera repetição de movimentos tidos como ideais ou ‘mais perfeitos’. Os movimentos dessas aulas devem ser descobertos pelas crianças que buscando alcançar uma meta, vai dia após dia superando o que fazia anteriormente e estabelecendo novas formas de conduta que queiramos ou não, não surgem do nada, trata-se de transformações daquilo que a criança já possui. A Educação Física tem a função, através de atividades motrizes, de aprimorar as potencialidades da criança respeitando seus limites e capacitando-a para que haja interação com o meio ao qual está inserida; colaborando ainda, para a formação do cognitivo, à medida que provoca reações que a faz tirar conclusões próprias à cerca do que foi proposto durante as aulas. “É tarefa da Educação Física Escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente” (PCNs, 1997, p. 25). Assim, as danças, as ginásticas, as lutas, os jogos, em especial os esportes e a cultura corporal que serão tratados nos tópicos seguintes compõem um vasto patrimônio cultural de movimentos que deve ser utilizado, conhecido e desfrutado pelos alunos nas aulas de Educação Física. Além disso, todo esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não-preconceituosa nem discriminatória diante das manifestações e expressões tanto corporais quanto culturais dos diferentes grupos étnicos e sociais que compõem as instituições escolares e às pessoas que deles fazem parte; valorizando desta forma a relação interpessoal e a inserção social. 3.1 Esportes e Educação Física ao Longo dos Anos. Os esportes de forma geral são vistos como uma manifestação específica da cultura de movimentos, que vem se constituindo na sociedade contemporânea como principal referência, seja como prática corporal propriamente dita, seja pelos princípios e valores que expressa e ajuda a consolidar como um importante auxílio educacional e de socialização, principalmente dentro das instituições escolares (PCNs, 1997). “Desde a Idade Antiga já se pensava no esporte como elemento importante na educação do homem. Nessa época, os gregos atribuíam um grande valor às atividades físicas e esportivas na formação física e moral de seus cidadãos” (JÚNIOR; KORSAKAS, 2002, p.84). Ainda segundo Júnior e Korsakas (2002, p.84): A expansão do esporte moderno, um dos fenômenos sociais mais significativos dos últimos tempos, impulsionada pelas transformações sociais ocorridas no século XIX, acompanhou toda a evolução tecnológica e os costumes do século XX e chega ao novo milênio atingindo uma dimensão ímpar pela sua abrangência dos campos político, econômico, cultural e educacional. O esporte moderno refere-se a uma atividade corporal de movimento com caráter competitivo surgida no âmbito da cultura européia, em especial na Inglaterra por volta do final do século XVIII e início do século XIX. Nesse período, iniciou-se a utilização dos jogos populares ingleses em uma perspectiva pedagógica. Tais jogos foram gradualmente codificados e organizados, impulsionando o movimento esportivo inglês do século XIX e, as escolas públicas inglesas que facilitaram o processo de proliferação do esporte em outras camadas sociais, enfatizando a influência socializante dos jogos na promoção da lealdade e cooperação, entre outros valores; acabaram colaborando para a transformação deste “esporte educador” em esporte de competição e de alto rendimento que se expandiu para o resto do mundo, ficando de certa forma excludente, porque neste nível (competitivo) só participam aquelas pessoas que possuem habilidades, destreza e dominam as técnicas de determinada modalidade esportiva (BRACHT, 2003); (JÚNIOR; KORSAKAS, 2002). No início de sua trajetória, o esporte, hoje chamado de moderno, parece ter favorecido de um lado a idéia de sua prática com fins educativos voltados para a socialização e do outro, uma versão com finalidade única e exclusivamente de atingir a melhor performance, no decorrer de seu desenvolvimento no século XX causando vários problemas geradores de importantes críticas que culminaram em uma revisão conceitual. Revisão esta, baseada em discussões que giraram em torno da busca de uma compreensão mais ampla do esporte como fenômeno social e cultural, rompendo assim, com a perspectiva única do rendimento. O esporte entendido como campo de conhecimento da Educação Física e conteúdo curricular, por algum tempo pareceu não ter sido apenas adotado como seu principal objeto de estudo e intervenção prática na educação e promotor da saúde, como chegou até mesmo a ser confundido num processo conhecido como esportivização da Educação Física Escolar. Desse modo, o esporte torna-se o conteúdo determinante das aulas tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio. Isso, porém, não aconteceu sem que críticas fossem feitas às conseqüências que essa transposição dos sentidos do esporte de rendimento para o âmbito escolar poderiam acarretar. Criticar o esporte, porém, não significa desvalorizar sua aprendizagem dentro da instituição escolar ou, mesmo, desejar sua total desportivização. Mas, sim, criar adaptações e contextualizar a vivência de sua prática nas aulas de acordo com a realidade escolar, as capacidades e limitações físicas e psíquico-sociais dos alunos, não se restringindo apenas ao ensino e domínio de técnicas de algumas modalidades esportivas, (SOUSA et al.) Sob esse aspecto, o esporte se torna aliado da educação no processo de ensino e aprendizagem dentro da escola como forma de inclusão e interação social na formação educacional dos alunos. Dessa forma; a vivência dessas práticas corporais de movimento na escola encerra dupla alternativa: podemos continuar reforçando maneiras excludentes e preconceituosas de vivenciá-las ou apostar no potencial educativo e, particularmente, do tempo e do espaço das aulas de Educação Física como lugar de produção cultural capaz de sair de seus muros, na perspectiva da transformação dos valores sociais vigentes (SOUSA et al.). Para que seja realmente entendido como prática educativa escolar, o esporte precisa, portanto, ser situado histórica e socialmente e, vivenciado criticamente a partir da compreensão de seus fundamentos e da ressignificação de seus sentidos. É preciso ainda, conhecer os benefícios e os riscos ao se praticar as diferentes modalidades esportivas, bem como analisar os valores que as orientam. O esporte desenvolvido nas aulas de Educação Física dentro da escola deve ser diferente do esporte que a criança pratica na rua ou em qualquer outro lugar fora da instituição escolar, uma vez que o primeiro deve ser analisado e estruturado de acordo com as condições dos alunos para atender a determinados objetivos, como o desenvolvimento de certas habilidades motrizes e perceptivas, ou a formação de noções lógicas, com atividades dinâmicas visando à cooperação, o respeito mútuo e a socialização (DAOLIO, 2004). É importante também que a escola discuta o esporte como um direito garantido na Constituição Brasileira. A Lei nº. 9.615/98, conhecida como “Lei Pelé”, regulariza o esporte em nosso país, caracterizando-o da seguinte maneira: Esporte Educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer; Esporte de Participação, praticado de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente; Esporte de Rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e das práticas desportivas, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País, e estas com as de outras nações. Ao assumir o esporte como uma prática educativa é preciso considerar algumas ações didático-pedagógicas e metodológicas durante as aulas que precisam ser problematizadas, objetivando uma ressignificação para evitar seletividade e atos discriminatórios. Pensar, então, no esporte educacional como um importante meio para concretizar essa Educação Inclusiva e Transformadora no século XXI é entendê-lo como uma ferramenta para o pleno desenvolvimento do ser humano atuante na sociedade. Identificamos tal possibilidade nas palavras de Barbieri (1999), que, ao versar sobre o esporte educacional, também defende uma educação emergenteemancipadora, que tenha como princípio fundamental o desenvolvimento da autonomia do homem, do seu pensamento crítico, da sua criatividade e da sua participação ativa na construção e transformação do mundo: [...] A visão contemporâneo-integradora do esporte é aquela que, reconhecendo a necessidade premente [...] de ações que objetivem restaurar o humano do homem, concebe como sendo insubstituíveis o valor e a importância atribuídos à emancipação do homem, à sua autonomia, à sua participação efetiva na construção da realidade, ao desenvolvimento da sua auto-estima, de sua criatividade, de seu auto-conhecimento, de sua ludicidade, da sua capacidade de cooperar, bem como da preservação da sua identidade cultural. Admite a necessidade do desenvolvimento do esporte intrinsecamente relacionado à educação (significada como um processo do homem se fazer no mundo) e que se fundamente também numa relação de co-educação entre aqueles que, juntos, aprendem; se fundamente no respeito e na preservação da individualidade de cada um dos participantes de processo em relação às diversas outras individualidades, tendo em vista o contexto uno e diverso no qual o homem está inserido (BARBIERI, 1999 apud JÚNIOR; KORSAKAS, 2002, p.90). Dessa forma, é importante que a prática educacional desenvolva-se ancorada pelos princípios da totalidade, co-educação, emancipação, participação, cooperação e respeito. De acordo com os princípios educativos, a heterogeneidade enriquece o processo de aprendizagem por meio da transformação recíproca. Esse princípio, na prática, estimula que uma criança ajude a outra na aprendizagem de algo que ela já domina ou possua maior facilidade, fazendo com que ela vislumbre novas possibilidades de aprendizado pelo contato com o diferente. 3.2 Cultura e Cultura Corporal Hoje, a expressão “cultura”, em especial a cultura corporal, parece definitivamente fazer parte da Educação Física Escolar, o que não acontecia há alguns anos atrás; talvez esse fato se deu por influência das Ciências Humanas na área. Segundo Daolio (2004) “somente a partir da década de 1980, com o incremento do debate acadêmico da Educação Física, o predomínio biológico na área passou a ser questionado, realçando a questão sociocultural na Educação Física”. Os profissionais formados nessa época - e, infelizmente, ainda hoje em alguns cursos - não tiveram acesso a conhecimentos e discussões da área, de seus conteúdos e temas como parte integrante e de suma importância das dimensões socioculturais. Até então o corpo era visto somente como um conjunto de ossos e músculos e não como elemento fundamental da cultura de um povo; o esporte era apenas um passatempo ou atividade de competição que visava ao alto rendimento atlético e, superação dos limites humanos e não como fenômeno político-social, importante meio de sociabilidade. A Educação Física era vista como área exclusivamente bio-fisiológica e não como fenômeno cultural, área que pode ser explicada pelas Ciências Humanas. “Cultura”, dessa forma, se torna o principal conceito para a Educação Física Escolar, porque todas as manifestações corporais humanas são geradas e vivenciadas dentro de uma dinâmica cultural, desde os primórdios da evolução humana até hoje, expressando-se diversificadamente e com significados próprios no contexto histórico de grupos culturais específicos. O profissional de Educação Física não atua sobre o corpo ou o movimento em si, não trabalha com o esporte, as lutas ou lida com a ginástica somente. Ele lida com o ser humano num todo indissociável, com suas manifestações culturais e implicações político-sociais relacionadas ao corpo e ao movimento humanos na sociedade (DAOLIO, 2004). Ainda se vê muita confusão na conceituação e uso da expressão cultura dentro do campo da Educação Física Escolar. O termo ainda é facilmente confundido com conhecimento formal, às vezes chega a ser utilizado de forma preconceituosa e discriminatória quantificando-se o grau de cultura dos indivíduos, ou como sinônimo de classe social mais elevada. A cultura ocorre como manifestação histórico-social de um povo sendo a própria condição de vida dos seres humanos. É produto das ações humanas, as quais passam por um processo contínuo, ganhando sentido e manipulando padrões de significados que fazem parte de um contexto específico, que por mais que se misture ainda mantém características que identificam um determinado grupo. A consideração simbólica de cultura permite compreender os conteúdos de Educação Física de forma menos determinista e menos arraigada em padrões de conduta estipulados pela sociedade. Permite ainda, compreender a dinâmica escolar do processo de ensino e aprendizagem da Educação Física como importante prática cultural que atualiza, ressignifica e revaloriza os conteúdos tradicionais da área, considerando as especificidades e características próprias de cada grupo, respeitando-as. Segundo Valter Bracht (apud DAOLIO, 2004), a Educação Física é uma “[...] prática pedagógica que tematiza com a intenção pedagógica as manifestações da cultura corporal de movimento”. Quando se discute o movimento, o autor afirma que é esta manifestação e expressão corporal humana (movimento) que confere especificidade à Educação Física no interior da escola. Mas ressalva que não é qualquer movimento: É o movimento humano com determinado significado/sentido, que por sua vez, lhe é conferido pelo contexto histórico-cultural. O movimento que é tema da educação física é o que apresenta na forma de jogos, de exercícios ginásticos, de esportes, de danças, etc. (BRACHT apud DAOLIO, 2004, p.42-43). Quando se pensa em movimento humano entende-se neste contexto o ato de andar, correr, pular, gesticular, arremessar algo, dentre tantas outras manifestações corporais cotidianas, realizadas individualmente por um sujeito ou de forma conjunta com outras pessoas da sociedade. Aprender a movimentar-se implica planejar, experimentar, avaliar, optar entre alternativas, coordenar ações do corpo com sentidos e significados próprios, tendo objetivos e noções no tempo e no espaço; enfim, há uma série de procedimentos psíquico-sociais que devem ser trabalhados e favorecidos dentro do processo de ensino e aprendizagem na área da Educação Física Escolar para que as aulas de expressão corporal não sejam apenas meras repetições de movimentos que os alunos já estão habituados a fazer. Portanto: ...a cultura corporal não se esgota no já existente, aceito e praticado. E então a educação física pode ser também tempo e lugar de investigação e problematização da história de alunos e alunas encarnados e presentes na escola, que revela o conhecimento sobre as práticas corporais da cultura de que são portadores (as); de invenção de outras maneiras de fazer os esportes, as danças, a ginástica, os jogos, as lutas, os brinquedos, as brincadeiras; de questionamento de padrões éticos e estéticos construídos culturalmente para a realização dessas e de outras práticas corporais; de realização do princípio de que os alunos e as alunas podem (e devem) se colocar à disposição de si mesmos quando partilham, fruem, usufruem, criam, recriam as práticas corporais da cultura; de garantia do direito de todos (as) participarem, sem exclusão por nenhum motivo; de respeito à corporeidade singular a cada um, construída em sua história de vida (VAGO, 1999, p.9). “As experiências individuais e as vivências anteriores do aluno ao deparar com cada situação constituem o ponto de partida para o processo de ensino e aprendizagem das práticas da cultura corporal” (PCNs, 1997, p.31). Gradualmente, ao longo do processo de aprendizagem, a criança passa a entender e conceber as práticas culturais de movimento como instrumentos importantes para o seu conhecimento e formação; sendo ainda, uma das formas de expressar sentimentos, sensações e emoções individuais nas relações da prática da cultura corporal com o outro de maneira integrada, respeitando e valorizando sempre as diferenças existentes entre os membros de determinado grupo e da sociedade em geral. Nós, profissionais da área devemos então insistir na defesa e na prática de um enraizamento da cultura corporal dentro da Educação Física Escolar como uma área do conhecimento responsável pela problematização das expressões corporais como manifestação cultural da sociedade através dos movimentos produzidos pelos seres humanos. 3.2.1 Corpo e Corporeidade na Educação Física. O corpo humano desde a Antiguidade vem sendo um assunto conflitante e estudado por diversas áreas (Sociologia, Teologia, Ciências Humanas, Filosofia), cada uma a sua maneira tentando criar significados a esse corpo. Platão, filósofo antigo, um dos primeiros pensadores e estudiosos da sociedade e do ser humano “entendia o corpo numa visão dualista na qual o corpo representava o símbolo de alienação” (TUBINO, 2002, p.22). A Igreja, por muito tempo pregou que o corpo (físico) era inferior e por isso estava submisso à alma (espírito); sendo assim, o primeiro, fonte de todos os pecados humanos na terra. O homem pecador do plano terrestre somente conseguiria a sua salvação através do sacrifício da carne/corpo em benefício da alma em um plano superior ao humano. René Descartes (1596-1650), embora, ao contrário de Platão, preconizasse um corpo unido à alma, essa visão era instrumental e idealista. “O trabalho na área da Educação Física tem seus fundamentos nas concepções de corpo e movimento. [...], a natureza do trabalho desenvolvido nessa área tem íntima relação com a compreensão que se tem desses dois conceitos” (PCNs, 1997, p.23). Por suas origens médicas e militares em nosso país e por seu atrelamento quase servil aos mecanismos elitistas de manutenção do status quo vigente na história brasileira, tanto a prática quanto a reflexão teórica dentro da Educação Física restringiram os conceitos de corpo e movimento -fundamentos de seu trabalho - aos aspectos fisiológicos e técnicos. “O corpo era visto somente como um conjunto de ossos e músculos e não como expressão da cultura [...]” (DAOLIO, 2004, p.2). Atualmente, a análise crítica e a busca de superação dessa concepção restrita mostram a necessidade e a importância de que, além daqueles conceitos - fisiológicos e técnicos-, também se considere as dimensões cultural, social, política e afetiva existentes no corpo humano, isto é, corpo vivo e atuante das pessoas que interagem e se movimentam como sujeitos sociais, como cidadãos ativos e participativos na sociedade em que está inserido. O corpo então, deixa de ser uma análise minimizada para se tornar uma complexidade de significados. O conceito de corporeidade situa o homem, por meio de suas expressões como um corpo no mundo, uma totalidade que age movida por intenções. É só por meio do corpo que a manifestação cultural se dá, e esse corpo, aliado a essa manifestação no mundo é o significado pleno da corporeidade humana. Assim, A corporeidade implica, portanto a inserção de um corpo humano em um mundo significativo, a relação dialética do corpo consigo mesmo, com outros corpos expressivos e com os objetos do seu mundo (ou ‘coisas’ que se elevam no horizonte da sua percepção) (FREITAS, 1999, p.57). Para Tubino (2002, p.23 e 38): A corporeidade é a referência da Educação Física, quando essa busca a realidade do homem e representa uma idéia de sistematização. Nessa perspectiva, a relação do homem com o corpo deve ser criticamente discutida. [...] A Educação Física como ciência aplicada da Cineantropologia, é o processo ou sistema para ajudar os indivíduos no desenvolvimento de suas possibilidades pessoais e de relação social por meio de suas capacidades físicas de movimento e de expressão. O corpo humano, dotado de significados, como corporeidade - como permanência que se constrói expressivamente no emaranhado das relações históricas, sócio-culturais e que traz em si a marca da individualidade que se mescla às diferenças dos sujeitos que se interrelacionam - esse corpo não termina nos limites que a Anatomia e a Fisiologia lhe impõem. Ao contrário, estende-se por meio da cultura, das roupas e dos instrumentos criados pelo homem, tornando-se ainda mais complexo e com uma ampla gama de expressividade. “O corpo confere-lhes um significado e sua utilização passa por um processo de aprendizagem construtor de hábitos” (FREITAS, 1999, p.53). Sob esses princípios e aspectos, podemos trabalhar com a corporeidade no âmbito da Educação Física Escolar de forma diversificada, objetivando o corpo humano como um meio de se comunicar e de expressar sentimentos e emoções, dotado de eficácia simbólica, grávido de significados, rico em valores dinâmicos e específicos. E mais que isso: [...] Podemos vê-lo a partir do seu significado no contexto sócio-cultural onde está inserido. Podemos considerar, ao invés de suas semelhanças biológicas, suas diferenças culturais; podemos reconsiderar nossos critérios de análise sobre o corpo, fugindo de padrões preconceituosos que durante muitos anos subjugaram e excluíram pessoas da prática de educação física (DAOLIO, 2004, p.8-9). O professor de Educação Física no processo de ensino e aprendizagem na escola deve considerar o aluno como um corpo que não foi programado para imitar, que o aluno só estará satisfeito e plenamente realizado em sua corporeidade, a partir do momento em que estiver participando ativamente de todas as atividades e podendo explorar sua criatividade, expressividade, espontaneidade; rompendo assim com as limitações de seu corpo, descobrir por si só, as coisas maravilhosas que pode realizar com suas expressões e manifestações corporais. 3.3 Educação Inclusiva. Quando se pensa em Educação, logo vem a nossa cabeça, aquela formal desenvolvida durante longos anos dentro de um espaço físico (escola); com horário para entrar e sair, professores explicando o conteúdo das aulas, etc. E esquecemos da nossa formação educacional que ocorre fora desse ambiente por meio de nossas vivências e experiências individuais, com o conhecimento transmitido por nossos pais, dentre outras coisas que não damos importância. Da mesma forma acontece com a Educação Inclusiva. Atribuímos sempre essa expressão aos portadores de necessidades especiais, sejam físicas ou psíquicas, defendendo o direito de acesso e permanência desses sujeitos nas escolas ou uma profissão. Muitas vezes, cotas de empregos ou bolsas escolares são reservadas para essas pessoas como forma de garantir-lhes a inclusão social. Isso é feito para os portadores de necessidades especiais; mas, negros, índios, mulheres, pobres, pessoas de religião diferente, homossexuais são discriminados e ficam marginalizados na sociedade dita democrática. Fazer valer a Educação Inclusiva nas escolas regulares é uma tarefa árdua que requer empenho de todos - governos, comunidade escolar, pais, alunos - na luta por direitos iguais. É mais que formar consciências, explicitar significados e promover harmonia na diversidade – é preciso construir condições de trabalho específicas, tanto do ponto de vista dos recursos humanos, como adaptação das instalações, dos recursos pedagógicos, didáticos e paradidáticos. [...] a construção da educação inclusiva continuará sendo uma missão coletiva. Afinal, não se trata apenas de incutir na escola comum parcelas da educação especial, trata-se, principalmente, de habilitar a escola para o exercício e a promoção do convívio e da harmonia entre os diferentes. Trata-se de ampliar as possibilidades de uns para buscar a igualdade de oportunidades, para que cada um tenha possibilidades reais de construir-se como participante do mundo que o cerca, completo como indivíduo, integral como ser humano (HINGEL apud GUIMARÃES (org.), 2002, p.5-6). Ao pararmos para analisar a expectativa da sociedade brasileira em relação à instituição escolar, verificamos que, até mais ou menos o final do século XX, o que se via na escola, principalmente na pública de um modo geral, era a seletividade dentre a população de um pequeno número de indivíduos que comporiam os quadros operativos do setor produtivo da sociedade. Esta constatação é importante para se compreender a natureza excludente da escola. “Então nós temos escola atendendo a um propósito, que é o de selecionar/excluir indivíduos, legitimando o terrível e criminoso processo de exclusão social que o povo brasileiro está condenado” (SIQUEIRA apud GUIMARÃES (org.), 2002, p.10). Na proposta inclusiva, a educação deve contemplar os objetivos individuais de cada aluno, ao contrário da proposta tradicional, na qual, todos os alunos devem atingir os mesmos propósitos (objetivos). Assim, é extremamente necessária uma ressignificação da escola para que esta ofereça realmente educação de qualidade para todos, surgindo um novo paradigma de pensamento e ação. A expressão educação inclusiva redimensiona todo este conjunto de ações que ocorrem no interior dessa “nova escola”. Antes, cabia ao aluno adaptar-se à escola; agora é ela quem deve modificar seu ambiente e funcionamento para atender ao pluralismo cultural de seu aluno, buscando respostas individuais para as necessidades especiais e especificidade de cada um, com uma ação pedagógica em constantes transformações (GUIMARÃES (org.), 2002). De acordo com os princípios educativos, nas palavras de Júnior; Korsakas (2002, p.90-91): A heterogeneidade enriquece o processo de aprendizagem fundamentado na co-educação como processo de transformação recíproca. Esse princípio, na prática, estimula que uma criança ajude a outra na aprendizagem de algo que ela já domina e, ao mesmo tempo, faz com que ela vislumbre novas possibilidades de aprendizado com o diferente. Por exemplo, propor que meninos e meninas trabalhem juntos em atividades em que a força dos meninos, aliada à flexibilidade das meninas, facilite o alcance do objetivo proposto; e também possibilitar a inversão de papéis, exigindo dos garotos a flexibilidade que lhes falta e das garotas a força que não desenvolveram, pode fazer com que, em vez de rivalizarem pelos modelos estereotipados de masculino e feminino, valorizem a contribuição do outro para completar a tarefa. Educação inclusiva ou inclusão escolar é o processo de adequações pelo o qual uma escola procede, permanentemente, à mudança do seu sistema e ambiente, adaptando sua estrutura física e conteúdos curriculares programáticos, suas metodologias de ensino e tecnologias e capacitando continuamente professores, especialistas e demais membros da comunidade escolar; inclusive todos os alunos e seus familiares, envolver a sociedade nessas transformações em prol da inclusão social. “[...] a escola deve ser capaz de responder às diferenças e necessidades individuais de um alunado que reflete a diversidade humana presente numa sociedade plural” (SASSAKI apud GUIMARÃES (org.), 2002, p.17). 3.3.1 Portadores de Deficiências Físicas na Aula de Educação Física. A educação de forma geral e a Educação Física em particular enfrentam hoje um grande desafio: garantir escolarização e ensino adequados aos alunos, em especial àqueles portadores de deficiências físicas. Sob o ponto de vista legal, educacional, político e filosófico, o direito à educação inclusiva está assegurado a todos, mas faz-se necessário buscar coerência entre o discurso legal e a sua prática nas escolas de ensino regular. “Há que buscar soluções para a convivência e a familiaridade com as pessoas com deficiência, derrubando as barreiras físicas, sociais, psicológicas e instrumentais que as impedem de circular no espaço comum” (ARANHA apud GUIMARÃES (org.), 2002, p.49). Por desconhecimento, receio ou até mesmo discriminação, a maioria dos portadores de deficiências físicas, senão todos, foram (e são) excluídos das aulas de Educação Física. Poucas pessoas sabem que “A participação nessa aula pode trazer muitos benefícios a essas crianças, particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento das capacidades afetivas, de integração e inserção social” (PCNs, 1997). Entretanto, para que esses alunos participem das aulas são necessários alguns cuidados: Em primeiro lugar, deve-se analisar o tipo de necessidade especial que esse aluno tem, pois existem diferentes tipos e graus de limitações, que requerem procedimentos específicos. Para que esses alunos possam freqüentar as aulas de Educação Física é necessário que haja orientação médica e, em alguns casos, a supervisão de um especialista em fisioterapia, um neurologista, psicomotricista ou psicólogo, pois as restrições de movimentos, posturas e esforço podem implicar riscos graves (PCNs, 1997). Depois de garantidas as condições de segurança, o professor pode fazer adaptações, criar situações de modo a possibilitar e garantir a participação e integração desses alunos nas aulas de Educação Física. A aula não precisa ser estruturada em função desses alunos, mas o professor pode ser flexível, dinamizando as atividades e fazendo as adequações necessárias para garantir a inclusão de portadores de deficiências na Educação Física junto com os outros alunos, sem nenhum preconceito, acabando com a vergonha e o medo de se expor nas aulas ao realizarem as atividades propostas. A maioria das pessoas portadoras de deficiências tem traços fisionômicos, alterações morfológicas ou problemas de coordenação que as destacam das demais. A atitude dos alunos diante dessas diferenças é algo que se construirá na convivência e dependerá da postura que o professor adotar. É possível integrar essas crianças especiais ao grupo, respeitando suas limitações e ao mesmo tempo dar oportunidades para que desenvolvam suas potencialidades. É importante observar a diferença entre os princípios de integração que dizem respeito à adaptação do aluno às condições do ensino/escola regular: Do conceito de escola inclusiva que implica uma nova visão da escola, propondo no seu projeto político-pedagógico (currículo, metodologia, avaliação, atendimento educacional especializado, formação continuada do professor, aprendizagem como centro das atividades escolares e o sucesso dos alunos como a meta da escola, trabalho coletivo e diversificado) ações que favoreçam a interação social através de práticas heterogêneas adequadas à diversidade de seu alunado. É a escola se modificando para receber o aluno (GUIMARÃES (org.), 2002, p.49). A aula de Educação Física pode favorecer a construção de uma atitude digna e de respeito próprio por parte do deficiente e a convivência com ele pode possibilitar a construção de atitudes de solidariedade, de respeito, de aceitação, sem preconceitos. 3.3.2 Educação Nova e Papel do Professor de Educação Física: Contribuições para a Inclusão Escolar. Muitos professores consideram a prática da Educação Física Escolar muito importante para a formação plena da criança por meio de sua ampla gama de atividades e, apontam a socialização, promovida principalmente pelas atividades realizadas em grupo, sendo um dos fatores mais importantes desenvolvidos pela disciplina. A Educação Física enquanto componente curricular busca a interação social do aluno, na perspectiva da solidariedade, da cooperação e do respeito mútuo, o que se torna fundamental para formar cidadãos críticos, criativos, conscientes e atuantes na sociedade como forma de desenvolvimento de sua autonomia (LIMA, 2004). O eixo norteador para a “Nova Educação” ou “educação do futuro” é a atenção à diversidade cultural, a fim de se evitar rótulos e preconceitos com o objetivo de atender melhor a todos, observando sempre a individualidade de cada aluno. O respeito e a valorização desse alunado exigem que a escola (re) defina sua responsabilidade no estabelecimento das relações educacionais, envolvendo seus profissionais num amplo processo de discussão e transformação, estudo e reflexão como parte importante na inclusão social. “Não basta simplesmente colocar o aluno na escola e sim, dar-lhe condições de acesso e permanência com sucesso em todo o fluxo de escolarização” (GUIMARÃES (org.), 2002, p.39). O contexto escolar em que vivemos atualmente, sem dúvida, requer uma adaptação do professor de Educação Física, quanto à preparação de suas aulas, ressignificação de seus sentidos e objetivos para melhor lidar com a diversidade de seus alunos. Esse professor deve estar preparado para lidar com alunos mais críticos e até mesmo indisciplinados, e ainda, vencer alguns preconceitos existentes na área. Precisa sempre dinamizar suas aulas e procurar motivar seus alunos para que não desenvolvam a falta de interesse em participar das aulas de Educação Física. Na opinião de Freire (1997 apud LIMA, 2004, p.7): ... é muito importante que o profissional de Educação Física perceba os diversos significados que pode ter uma atividade motora para as crianças. Assim, ele ajudará na percepção adequada dos seus recursos corporais, de suas possibilidades e limitações, sempre em transformação, dando condições de expressarem com liberdade e de aperfeiçoarem suas competências motoras. Cabe ao bom professor de Educação Física, única e exclusivamente, saber valorizar suas aulas e acabar definitivamente com a imagem de que a Educação Física Escolar só serve para distrair os alunos, deixando-os à vontade para correr, descarregar as energias e quebrar a rotina da sala de aula. Essa é a chance de firmar a Educação Física na escola, dando-a lugar de destaque e adaptar a disciplina aos novos tempos da educação para que possa contribuir de forma significativa na formação integral do aluno. CONCLUSÃO Mais do que rever a trajetória histórica e a evolução da Educação Física no Brasil desde sua implantação até hoje, a intenção deste trabalho foi atribuir a essa retrospectiva um sentido mais amplo, profundo, valendo-se das influências e tendências sofridas pela área ao longo dos séculos. E, mais que isso, entender seu papel como meio de educação na história da humanidade e suas contribuições para a formação plena do educando como forma de refletir e compreender a importância da Educação Física como componente curricular das escolas. A Educação Física Escolar tal como a concebemos hoje aqui no Brasil como matéria de ensino - tem suas raízes na Europa de fins do século XVIII e início do século XIX. “Surgiu na sociedade ocidental moderna como um movimento de caráter popular e sem qualquer relação com a instituição escolar” (SOARES, 1996, p.8). Mas com a criação dos chamados Sistemas Nacionais de Ensino, a Ginástica, primeiro nome dado à Educação Física, foi introduzida na escola como conteúdo obrigatório, ela possuía caráter bastante abrangente. No Brasil, “a Educação Física Escolar foi conformada de forma autoritária pelo Estado, a partir das reformas educacionais de 1968 (Lei 5.540) e 1971 (Lei 5.692 e decreto 69.450)” (OLIVEIRA, 2002, p.53). Enquanto elemento do currículo escolar, a Educação Física, historicamente, tem assento na escola através de leis e decretos. A literatura mostra ser esse um dos principais motivos para uma das características que ela manteve por um longo período de tempo: desenvolver sua prática em função das necessidades do Estado de acordo com o contexto político-econômico (BRAID, 2003). Inicialmente, influenciada por médicos e militares, a Educação Física no Brasil desenvolveu-se desde sua introdução no país apoiada em princípios biológicos e de disciplina, passando ao longo de sua história por várias fases: Historicamente já passamos pela constituição da Educação Física como higienismo, eugenia e militarismo. Atravessamos a fase rudimentar adentrando a fase romântica, aquela em que os professores ensinavam e reproduziam as bases de um conhecimento dito novo no jogo, no esporte, no lazer. Na seqüência vivemos um período de redemocratização e a crítica da área sedimentou uma série de preocupações com o desenvolvimento dos padrões corporais, metodológicos, históricos, sociológicos e psicológicos (SADI, 2004, p.1-2). Diante do exposto podemos dizer que todas essas influências e tendências sofridas pela Educação Física Brasileira ao longo dos séculos desde sua implantação em território nacional, levaram-na a uma crise de identidade, acarretando a desvalorização e a diminuição da sua importância, vivenciada nas escolas atualmente. Hoje, lutamos diariamente contra os preconceitos a que nossa profissão e os profissionais da área (Educação Física) são submetidos. Parte desta culpa é nossa. Pelas características de nossa atividade, pela nossa postura, pelos profissionais que somos e pelo imobilismo que tivemos por muitos anos (PAIANO, 2006, p.56). Portanto, cabe a nós, profissionais da área, mudarmos esta visão de Educação Física, vencendo a batalha pela sua melhoria, pelo reconhecimento de sua importância como disciplina educativa e de grande contribuição para a inclusão social. Devemos lutar pela reconquista do espaço da Educação Física, pela descoberta de nossa função no processo de ensino e aprendizagem dos alunos para sua formação plena como cidadãos críticos, criativos e atuantes na sociedade (PAIANO, 2006). A Educação Física por meio de sua multiplicidade de atividades, como uma das formas privilegiadas de atuação na sociedade e de suma importância como disciplina educativa lida com o aluno como um ser integral e trabalha entre outras formas, o se movimentar e interagir no coletivo através da pedagogia de jogos, esportes, ginástica, lutas, danças dentre outros. Além de promover a socialização, a cooperação, a inclusão social e o respeito mútuo, “tem como instrumento potencialmente criativo, a linguagem” (SADI, 2004, p.4). Esta linguagem nas aulas de Educação Física, na visão do mesmo autor: Trata-se de uma ação global, sócio-educativa e de socialização que busca conduzir a maneira de ser, sentir e agir dos indivíduos. Incide sobre uma multiplicidade de questões relacionadas à organização do corpo no tempo e no espaço, sua interação com outros sujeitos, sua mobilização consciente e crítica (SADI, 2004, p.4). Discutir então, a importância da prática da Educação Física hoje nas escolas, permite redimensionar suas finalidades como forma de transformação na educação. Neste contexto, a Educação Física deve propiciar ao aluno oportunidades de aprender a conhecer e perceber de forma permanente e contínua seu corpo, suas limitações na perspectiva de superá-las e ainda desenvolver suas potencialidades; conviver consigo, com o outro e com o meio ambiente. É por meio de vivências corporais que o indivíduo se manifesta e se comunica. Nessa perspectiva, a Educação Física ensina o aluno a ser cidadão consciente, autônomo, responsável, competente, crítico, criativo e sensível, aprendendo a viver plenamente sua corporeidade, de forma lúdica, tendo em vista a qualidade de vida, promoção e manutenção da saúde (SOUSA et al.) Este trabalho buscou compreender o fenômeno Educação Física e sua dinâmica ao longo da história para entender seu momento presente e mostrar alternativas para a educação futura. Assim, a mensagem que fica neste trabalho é a de um espaço para uma profunda reflexão a respeito da prática da Educação Física dentro da escola. Reflexão esta que indique um caminho de renovação, redirecionamento e transformação quanto à atuação de professores desta área, a fim de que haja condições de, modificando a prática desta disciplina, esta renasça a partir de uma nova visão acerca das atividades corporais na escola, mais crítica e mais humana, (BRAID, 2003). É necessário ainda, que o professor de Educação Física perceba a importância e o alcance cultural de sua prática, pois assim, terá condições de realizar um trabalho competente e inclusivo, vislumbrando uma prática de Educação Física Escolar dinâmica e inovadora que leve à transformação da realidade, permitindo ao homem uma evolução em todos os aspectos, porque o ser humano desenvolve de forma integrada e total. O homem mais do que fruto, é agente da cultura. Esse processo de “reconstrução” da Educação Física tem como desafio contribuir com uma educação inovadora, compreendida como um processo de formação humana que valoriza não só o domínio de conhecimentos, competências e habilidades, sejam intelectuais ou motrizes, mas também, a formação estética, política e ética dos educandos. Um processo integral de formação humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRACHT, Valter. A Gênese do Esporte Moderno. 21. ed. rev. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2003. BRAID, Liana Maria Carvalho. Educação Física na Escola: Uma Proposta de Renovação. Universidade Federal do Ceará. 2003, p.54-58. Disponível em: http://www.unifor.br/revista. Acessado em: 05 fev. 2007. BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997. DAOLIO, Jocimar. Educação Física e o Conceito de Cultura. São Paulo: Autores Associados, 2004. FREITAS, Giovanina Gomes de. 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