UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL KERLLIN TAIS PEREIRA A VOLTA DOS BONS TEMPOS: A NOSTALGIA APLICADA ÀS MARCAS Caxias do Sul 2016 2 UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA KERLLIN TAIS PEREIRA A VOLTA DOS BONS TEMPOS: A NOSTALGIA APLICADA ÀS MARCAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Comunicação Social Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientadora: Profa. Dra. Ivana Almeida da Silva Caxias do Sul 2016 3 KERLLIN TAIS PEREIRA A VOLTA DOS BONS TEMPOS: A NOSTALGIA APLICADA ÀS MARCAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II, do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul. Aprovada em: __/__/__ Banca Examinadora _________________________________________ Prof. Dra. Ivana Almeida da Silva Universidade de Caxias do Sul – UCS _________________________________________ Prof. Me. Maria Goréte do Amaral Gedoz Universidade de Caxias do Sul – UCS _________________________________________ Prof. Me. Ronei Teodoro da Silva Universidade de Caxias do Sul – UCS Caxias do Sul 2016 4 AGRADECIMENTOS Agradeço à orientadora, aos professores, aos amigos, à família e ao café. 5 A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. Albert Einstein 6 RESUMO A presente monografia possui como tema a nostalgia aplicada às marcas. O estudo aborda a utilização do marketing nostálgico como estratégia de comunicação pela publicidade, apresenta o consumo simbólico do passado centrado na publicidade emocional, a nova dinâmica de relacionamento entre marcas e consumidores, a importância da estratégia na comunicação e a utilização da nostalgia como argumento comercial. Tem como metodologia o estudo de caso múltiplo de caráter explanatório, descritivo, com abordagem qualitativa, para as análises das marcas Volkswagen, Netflix e Parmalat e a nostalgia pelas décadas de 1970, 1980 e 1990 como apelo nostálgico. O estudo conclui que o marketing nostálgico é utilizado pela publicidade como uma maneira de conectar emocionalmente marcas e consumidores pela reminiscência de épocas passadas, a partir de elementos e estímulos que resultam no consumo simbólico do passado, de forma variada e criativa. Palavras-chave: Nostalgia. Publicidade. Marketing Nostálgico. Marcas. Consumo. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Pokémon Go: aplicativo para dispositivos móveis....................................23 Figura 2 – Montagem com os produtos da linha Brastemp Retrô..............................25 Figura 3 – Linha Vintage Granado.............................................................................26 Figura 4 – Três elementos que diferenciam os conceitos de Publicidade e Propaganda................................................................................................................42 Figura 5 – Composto de marketing (4 P’s) ................................................................44 Figura 6 – Garrafas Históricas da Coca Cola.............................................................46 Figura 7 – Anúncio das Garrafas Históricas da Coca-Cola........................................47 Figura 8 – Marcas e a nostalgia dos anos 1970, 1980 e 1990..................................49 Figura 9 – Montagem de frames do comercial Brasil 70 Volkswagen........................52 Figura 10 – Montagem com peças da campanha digital do Novo Fusca com Mussum......................................................................................................................53 Figura 11– Linha de cervejas artesanais Mussum – Brassaria Ampolis....................55 Figura 12 – Linha de cervejas artesanais em lata Mussum – Brassaria Ampolis......56 Figura 13 – Fanpage humorística Mussum Forévis..................................................56 Figura 14 – Pôster promocional da primeira temporada da série Stranger Things....58 Figura 15 – Montagem com capas de livros de Stephen King..................................59 Figura 16 – Captura de tela do site Filmow com a listagem de referências que aparecem na série Stranger Things...........................................................................60 Figura 17 – Montagem com frames contendo algumas referências à filmes clássicos dos anos 1980 presentes na série Stranger Things...................................................61 Figura 18 – Montagem com fitas VHS produzidas por fãs da série Stranger Things.........................................................................................................................62 Figura 19 – Montagem com frames do vídeo promocional de Stranger Things no Brasil...........................................................................................................................65 Figura 20 – Montagem de anúncios da promoção Mamíferos Parmalat – Versão 1996............................................................................................................................68 Figura 21 – Pelúcias da promoção Mamíferos Parmalat...........................................69 Figura 22 – Montagem com frames do comercial Mamíferos Parmalat – Versão 1996............................................................................................................................69 Figura 23 – Anúncio de revista Mamíferos Parmalat crescidos – Versão 2007........ 70 Figura 24 – Montagem com frames do comercial Mamíferos Parmalat Crescidos – Versão 2007...............................................................................................................73 8 Figura 25 – Captura de tela do site oficial da Parmalat anunciando o retorno da marca ao mercado brasileiro......................................................................................74 Figura 26 – Montagem com frames do comercial Mamíferos Parmalat – Versão 2015............................................................................................................................75 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................10 2 NOSTALGIA E CONSUMO SIMBÓLICO DO PASSADO.......................................13 2.1. Nostalgia no contexto de consumo..................................................................13 2.1.1 Memória e Memória Coletiva...........................................................................16 2.2 CONSUMO SIMBÓLICO DO PASSADO..............................................................18 2.2.1 A saudade idealizada: retrô e vintage.............................................................24 2.3 UM CONSUMIDOR NOSTÁLGICO.......................................................................29 3 MARKETING NOSTÁLGICO E A COMUNICAÇÃO VOLTADA AO PASSADO...........34 3.1 SOBRE O MARKETING NOSTÁLGICO................................................................35 3.2 COMUNICAÇÃO E A NECESSIDADE DA ESTRATÉGIA.....................................41 4 MARCAS E NOSTALGIA........................................................................................48 4.1 Volkswagen: o Novo Fusca direto dos anos 1970............................................49 4.1.2 Netflix: a homenagem aos anos 1980.............................................................57 4.1.2.1 Stranger Things...............................................................................................59 4.1.2.2 Boneca da Xuxa e o mistério dos anos 1980...................................................64 4.1.3 Parmalat: a volta dos anos 1990......................................................................67 4.1.3.1. Mamíferos Crescidos 2007.............................................................................70 4.1.3.2. Mamíferos Parmalat 2015..............................................................................73 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................77 REFERÊNCIAS..........................................................................................................80 ANEXOS.....................................................................................................................85 10 1 INTRODUÇÃO Em uma década caracteriza por avanços tecnológicos, algumas marcas encontram na nostalgia uma ponte de conexão social para alavancar sentimentos otimistas ao propor conexões entre passado e presente. Diferentes indústrias estão se apropriando dessa tendência e apostando em estratégias que utilizam o apelo nostálgico como carro-chefe, buscando atingir o público-alvo com produtos familiares e memórias culturais positivas e simbólicas. As representações simbólicas proporcionadas pela manifestação da nostalgia trazem consigo diferentes significados e discursos de atmosferas passadas. Esses aspectos estimulam desejos e necessidades, e determinam a intensidade do interesse e da identificação dos consumidores com os objetos de consumo. O perfil do consumidor contemporâneo é marcado por indivíduos que se mostram preocupados com os valores intangíveis dos produtos, fazendo com que as funções destes sejam tão importantes quanto o atributo emocional a eles conferido. A transferência de significado para os bens de consumo é um importante papel da publicidade, que auxilia os consumidores a associarem a significância pessoal e os benefícios emocionais à marcas, produtos e serviços. Dessa forma, a utilização da nostalgia como estratégia de marketing demonstra-se efetiva e ganha cada vez mais espaço, consolidando-se como uma ferramenta poderosa na aceitação de produtos. O marketing nostálgico, percebido pela publicidade como um mediador de emoções e recordações do passado, permite que o consumidor reviva memórias positivas e auxilia no processo de humanização de marcas, ao evidenciar que o consumidor reage favoravelmente às marcas que evoquem reminiscência a partir de estímulos nostálgicos. Sendo assim, o trabalho apresentado se propõe a responder a seguinte questão: como as marcas utilizam o marketing nostálgico como estratégia de comunicação? Como objetivos específicos de pesquisa foram propostos: caracterizar a nostalgia no contexto de consumo; o consumo simbólico do passado e o marketing nostálgico, apresentar os consumidores com maior propensão à nostalgia, bem como a comunicação e a necessidade da estratégia, e analisar campanhas publicitárias que fazem uso do marketing nostálgico. 11 Para alcançar esses objetivos, o trabalho foi divido em três capítulos: O capítulo 2 “Nostalgia e consumo simbólico do passado” aborda o conceito de nostalgia no contexto de consumo e sua relação intrínseca com a memória do consumidor; caracteriza o consumo simbólico do passado centrado na publicidade emocional, a nova dinâmica de relacionamento entre marcas e consumidores na fase do hiperconsumo, e a saudade idealizada representada pelo retrô e vintage. Além disso, apresenta dois tipos de consumidores com maior disposição à nostalgia, os millennials e os geeks. O capítulo 3 “Comunicar com o apelo do passado” apresenta o conceito de marketing e de marketing nostálgico, de comunicação e de publicidade e de propaganda, os atributos emocionais das marcas, a nostalgia como argumento comercial, o composto de marketing e a importância da estratégia na comunicação. Por fim, o capítulo 4 destina-se a realizar a análise da utilização do marketing nostálgico como estratégia de comunicação pelas marcas Volkswagen, apresentando o comercial retrô dos anos 1970 e o endosso ao personagem Mussum; Netflix e a homenagem aos anos 1980 pela série Stranger Things, reforçando o link com o passado ao trazer Xuxa como ícone representativo da década, e a aposta da Parmalat em relançar em dois momentos a campanha Mamíferos dos anos 1990, em 2007 e em 2015. A metodologia para a realização da presente monografia é o estudo de caso múltiplo, de caráter explanatório, descritivo, com abordagem qualitativa. Essa metodologia foi selecionada após revisões bibliográficas prévias ao seu desenvolvimento, que evidenciaram relações entre o fenômeno da nostalgia e a preferência do consumidor por décadas passadas, expondo como e por quê se dão tais relações. Segundo Gil (2002), classificar uma pesquisa utilizando critérios lógicos aos seus objetivos concede a esta relevância científica. O estudo de caso “consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento” (GIL, 2002, p.54). Ainda segundo o autor, quando há espaço para interpretação e a busca pelo entendimento geral de uma questão, as pesquisas qualitativas são adequadas e implicam em interpretar sentidos e significações do fenômeno estudado. 12 Segundo Yin (2001, p. 19), a metodologia de estudo de caso é uma estratégia relevante para responder questões científicas do tipo "como" e "por quê", que beneficia a discussão de relações entre problemas contemporâneos, em contextos da vida real, com pouca possibilidade de controle pelo pesquisador. Devido a tais problemas se tratarem muitas vezes de fenômenos psicológicos, sociológicos e educacionais, em que se busca compreender perspectivas, o estudo de caso com abordagem qualitativa é adequado, já que a análise está em pessoas e subjetividades. Dessa forma, para o desenvolvimento deste trabalho, será realizada uma pesquisa bibliográfica com caráter qualitativo. Para análise, será utilizado o estudo de caso múltiplo, de caráter explanatório, descritivo, com abordagem qualitativa. 13 2 NOSTALGIA E CONSUMO SIMBÓLICO DO PASSADO Este capítulo aborda o conceito de nostalgia no contexto de consumo, sua relação indissociável com a memória do consumidor; caracteriza o consumo simbólico do passado com a aquisição da emoção nostálgica intrínseca à compra de objetos que remetam ao passado, exemplificado pelos estilos retrô e vintage, e apresenta dois tipos de consumidores com maior disposição ao consumo de produtos e serviços que remetam ao passado, os millennials e os geeks. 2.1 Nostalgia no contexto de consumo A relação entre o fenômeno da nostalgia e o comportamento de consumo, é investigada por duas das grandes áreas do conhecimento, as Ciências Humanas e as Ciências Sociais Aplicadas. As aproximações entre essas áreas tornaram-se possíveis com a transformação dos paradigmas científicos do final do século XX e início do século XXI, que desamarraram as fronteiras dogmáticas do pensamento, favorecendo assim, conexões acadêmicas. (SANTOS, 1988) As pesquisas sobre a influência da nostalgia ligadas ao consumo foram realizadas desde o início da década de 1990 e inferem que a mesma tem um forte efeito nas preferências do consumidor. Dentre os estudos relacionados à nostalgia no contexto de consumo, destacam-se: Nostalgia and consumption preferences: Some emerging patterns of consumer tastes1 (HOLBROOK, 1993); Nostalgic bonding: Exploring the role of nostalgia in the consumption experience2 (HOLBROOK, 2003a); Death by nostalgia: A diagnosis of context-specific cases3 (BAKER; KENNEDY, 1994), Echoes of the dear departed past: Some work in progress on nostalgia 4 (HOLBROOK; SCHINDLER, 1991), The good old days: observations on nostalgia and its role in consumer behavior5 (HAVLENA; HOLAK, 1991), Nostalgia: An Exploratory Study of 1 Nostalgia e preferências de consumo: Alguns padrões emergentes nos gostos do consumidor (tradução nossa) 2 Ligação nostálgica: Explorando o papel da nostalgia na experiência de consumo (tradução nossa) 3 Morte por nostalgia: diagnóstico de casos específicos (tradução nossa) 4 Ecos do passado desaparecido: Alguns trabalhos em andamento sobre nostalgia (tradução nossa) 5 Os bons velhos tempos: observações sobre a nostalgia e seu papel no comportamento do consumidor (tradução nossa) 14 Themes and Emotions in the Nostalgic Experience6 (HOLAK; HAVLENA, 1992), Nostalgia in Advertising Text: Romancing the Past 7(STERN, 1992). A nostalgia, vista como uma emoção social, fortalece laços simbólicos e possui a capacidade de transformar algo do passado momentaneamente em parte do presente. O sentimento causado pela manifestação da nostalgia está relacionado a um desejo sentimental de significado duradouro relacionado ao passado. (JUHL et al., 2010) A definição comumente utilizada para nostalgia, segundo os estudos iniciais de Holbrook (1993) sobre o tema, caracterizam o fenômeno como “saudade do passado ou anseio por ontem” (DAVIS apud HOLBROOK, 1993), um sentimento nostálgico que tende a evocar boas lembranças de um território remoto. Baker; Kennedy (1994, p. 70) exemplificam a informação quando apontam que “nostalgia é a capacidade de lembrar os preços de ontem, esquecendo os salários de ontem", propondo que os indivíduos tendem a recordar os bons momentos e ignorar os momentos negativos quando se trata do passado. Hirsch (apud BAKER; KENNEDY, 1994) mencionou em seu artigo Nostalgia: A Neuropsychiatric Understanding8, a probabilidade da alta relevância da utilização da nostalgia como apelo publicitário. Segundo ele, os entrevistados indicavam insatisfação com o atual momento de suas vidas e indicavam o desejo de voltar ao passado e a preferência, em geral, por anos anteriores de suas vidas. Segundo o estudo, o saudosismo dos indivíduos representava um comportamento que apontava para a repetição nos anos seguintes. Holbrook; Schindler (2003a) destacam, ainda, que há a necessidade de uma melhor compreensão do fenômeno da nostalgia para melhor entendimento da influência. Holbrook; Schindler (1991), em seu estudo exploratório Echoes of the Dear Departed Past: Some Work in Progress on Nostalgia9, acrescentam a definição de nostalgia relacionada aos objetos como: 6 Nostalgia: um estudo exploratório de temas e emoções na experiência nostálgica (tradução nossa) Nostalgia na redação publicitária: Romantizando o passado (tradução nossa) 8 Nostalgia: um entendimento neuropsiquiátrico (tradução nossa) 9 Ecos de um querido passado afastado: alguns trabalhos em andamento em nostalgia. (tradução nossa) 7 15 Preferência (gosto geral, atitude positiva ou efeito favorável) com relação a objetos (pessoas, lugares ou coisas) que eram mais comuns (populares, da moda, ou mais presentes) quando se era mais jovem (na juventude, adolescência, na infância ou até mesmo antes do nascimento) (HOLBROOK; SCHINDLER 1991, p. 331). Treze anos depois, em estudo realizado no ano de 2003, os pesquisadores acrescentam que a nostalgia pode ser uma “preferência com relação a experiência com objetos que eram mais comuns quando se era mais jovem” (HOLBROOK; SCHINDLER, 2003ª), destacando que a nostalgia experienciada por determinados indivíduos se dava não apenas por meio da preferência por objetos, como também pela experiência que os mesmos tiveram com esses produtos. Por sua vez, Holak; Havlena (1998) argumentam em sua investigação que “a nostalgia não é uma preferência pelo passado, mas um sentimento ou estado que pode resultar nas preferências por coisas que tendem a produzir reações nostálgicas” (HOLAK; HAVLENA, 1998, tradução nossa). Holbrook; Schindler (2003a), apontam que existem determinadas características e motivações pessoais que induzem os indivíduos a possuir maior vulnerabilidade e propensão a estimar o que era mais comum no período de sua juventude. Os autores dizem que há uma boa explicação para esse fenômeno e que essa reação nostálgica se explica no valor das experiências. Eles afirmam que ligações são feitas com objetos tangíveis que fazem com que a experiência vivida naquela época seja evocada pelo objeto, tendo assim uma significância pessoal para o indivíduo. Essa experiência é associada com um campo agradável na memória do passado (HOLBROOK; SCHINDLER, 2003a). Já Holak; Havlena (1992) afirmam que o indivíduo, ao acessar as experiências nostálgicas, tende a voltar a este período e que, possivelmente, são experiências seletivas e que se referem à época da vida entre os dez e os dezessete anos. No mercado de consumo, a nostalgia se mostra uma forte ferramenta facilitadora de aceitação do produto pelo consumidor, na relação entre sentimento nostálgico evocado a partir da experiência de vivência de consumo de um produto, ao evidenciar que o consumidor reage favoravelmente às marcas que evoquem o sentimento de nostalgia a partir de estímulos nostálgicos. 16 Solomon (2008) propõe em seu livro O comportamento do consumidor comprando, possuindo e sendo, que a aprendizagem causada pela experiência é uma importante e poderosa maneira de trabalhar as correlações entre publicidade (produtos) e recordações (nostalgia) como forma de construção e lealdade a uma determinada marca, produto ou serviço: A aprendizagem é uma mudança relativamente permanente no comportamento causada pela experiência. O aprendiz não precisa ter a experiência diretamente; nós também podemos aprender através da observação de eventos que afetam outros. (BARON apud SOLOMON, 2008, p. 73). Ainda segundo o autor, o relacionamento criado pelos consumidores com determinados produtos é adquirido através de ligações que podem ser subdivididas entre: ligações de autoconceito, de nostalgia, de interdependência ou de amor. No caso de ligações de nostalgia, o produto atua como elo com o eu do passado. 2.1.1 Memória e Memória Coletiva No início da década, Andreas Huyssen (2000, p. 15), traduziu o fascínio pelo passado no livro Seduzidos pela Memória: arquitetura, monumentos, mídia, cujo autor aponta que estamos obcecados com o passado e passamos a viver em uma cultura da memória “obsessões com a memória e com o passado.”. Ele afirma que essa obsessão se dá, principalmente, a partir da década de 1980, período significativo em que “o foco parece ter-se deslocado dos futuros presentes para os passados presentes”. (HUYSSEN, 2000, p. 9). O psicólogo Michael Gazzaniga (2005, p. 216), em seu livro Ciência Psicológica: memória, cérebro e comportamento, define memória como “a capacidade do sistema nervoso de adquirir e reter habilidades e conhecimentos utilizáveis, permitindo que os organismos se beneficiem da experiência.”. Para o autor, nossas lembranças e experiências pessoais – o que entendemos por memória - é o que forma nosso self. A memória, então, não deve ser pensada como uma câmera de vídeo que captura fielmente imagens objetivas, mas sim como uma história que pode ser sutilmente alterada. (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 217). 17 Bergson (1999, p. 77) diz que a memória é inseparável da percepção e intercala passado no presente. O autor afirma que a principal função da memória é “evocar todas as percepções passadas análogas a uma percepção presente, recordar-nos o que precedeu e o que seguiu, sugerindo-nos assim a decisão mais útil”. (BERGSON, 1999, p. 266). Assim, Bergson conclui: A percepção presente vai sempre buscar, no fundo da memória, a lembrança da percepção anterior que se assemelha: o sentimento do deja vú viria de uma justa posição ou de uma fusão entre a percepção e a lembrança (BERGSON, 1999, p. 100). O teórico Maurice Halbwachs (2006) apresenta em seu livro Memória Coletiva uma perspectiva sobre esse recorte de memória. Para Halbwachs (2006), a memória de um indivíduo não é individual, pois suas lembranças não são apenas suas, visto que as recordações são construídas socialmente. Para ele, são as memórias que determinam o que é memorável e de que forma essa lembrança será preservada, definindo-a como construções de grupos sociais. A lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada. (HALBWACHS, 2006, p. 71). Com base nessas investigações, a memória pode ser entendida como um mecanismo humano que, embora possa ser pessoal, ganha evasão a partir da interação com o outro, ou seja, se sustenta nas lembranças dos indivíduos enquanto integrantes de um grupo. Halbwachs (2006, p. 69) sustenta essa informação ao apontar que “cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva.”. Ele exemplifica, ainda, que um acontecimento só se torna um fato histórico algum tempo depois do ocorrido, portanto somente depois de alguns anos iremos associar algum evento a alguma fase de nossas vidas. (HALBWACHS, 2006, p. 74). Entende-se que a constituição de memória de um indivíduo se dá a partir da combinação de memórias de grupos dos quais ele recebe alguma influência, seja na esfera escolar, no ambiente familiar, em seu círculo de amigos ou em seu local de trabalho. Essa relação intrínseca entre memória individual e memória coletiva é sustentada por Halbwachs (2006, p. 72) que diz que “o funcionamento da memória 18 individual não é possível sem esses instrumentos que são as palavras e as ideias, que o indivíduo não inventou, mas que toma emprestado de seu ambiente.”. No entanto, o conjunto de experiências coletivas constituído por lembranças passadas será memorizado e acessado se o indivíduo se identificar com as memórias. Para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não tenha deixado de concordar com as memórias deles e que existam muitos pontos de contato entre uma e outras para que a lembrança que nos fazem recordar venha a ser constituída sobre uma base comum. (HALBWACHS, 2006, p. 39) Halbwachs (2006) explica que a memória funciona dentro de um modelo bidimensional, que é composto por uma função global e por uma função grupal, sendo a principal característica da função global a nostalgia (BELLELLI&AMATULLI apud DA COSTA, 2014). A função grupal se relaciona com as necessidades e interesses atuais dos grupos. “A memória coletiva atuaria como uma reconstrução do passado, adaptando a imagem dos fatos antigos às crenças e necessidades do presente” (SCHWARTZ apud DA COSTA, 2014, p. 3). 2.2 CONSUMO SIMBÓLICO DO PASSADO A evolução tecnológica provocou a abundância de produção de dados e novas informações adventos da internet. Esse fenômeno juntamente com a globalização, permite a realização de intercâmbios sociais, ideológicos, comerciais, financeiros e culturais, originando a sociedade de informação. Tal expressão vem sendo utilizada como substituta do complexo conceito de “sociedade pós-industrial”. Segundo Castells (2000), a sociedade informacional, como prefere o autor, está ligada a reestruturação e expansão do capitalismo desde a década de 1980. Em sua obra intitulada Tempos Hipermodernos, o filósofo francês Gilles Lipovetsky (2004), corrobora com essa ideia e aponta que estas são algumas características da hipermodernidade, termo criado pelo autor para definir o momento atual da sociedade humana, substituindo o conceito de pós-modernidade. Para o filósofo, o conceito de tempos hipermodernos se dá pelo surgimento de uma nova fase da modernidade que foi do pós ao hiper, caracterizada por uma cultura de excesso que ocorre em um ritmo exorbitante e revela o paradoxo da sociedade contemporânea 19 “a pós-modernidade não terá sido mais que um estágio de transição, um momento de curta duração.” (LIPOVETSKY, 2004, p. 58). Tal conceito de hipermodernidade se origina a partir da queda do muro de Berlim e do declínio da União Soviética, que marcam a passagem da economia de produção para a economia de consumo. Para o sociólogo contemporâneo Zygmunt Bauman (apud GAMBARO, 2012), esse estágio de transitoriedade para a fase líquida da era moderna é definido como modernidade líquida: Nada no mundo se destina a permanecer, muito menos para sempre [...] nada é necessário de fato, nada é insubstituível [...] tudo deixa a linha de produção com um prazo de validade afixado [...] A modernidade líquida é uma civilização do excesso, da superfluidade, do refugo e da sua remoção. (BAUMAN, apud GAMBARO, 2012). O consumo hedonista e a busca incessante dos indivíduos pela felicidade e bem-estar individual são discutidos por Lipovetsky (2007) em sua obra A Felicidade Paradoxal: Ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Na obra citada, o autor apresenta três marcos específicos da evolução do capitalismo de consumo: a) Fase I, teve início por volta de 1880 e término após o fim da Segunda Guerra Mundial. A partir do desenvolvimento e facilidade de produção das indústrias, caracterizou-se como a fase de distribuição. b) Fase II, se apresentou em torno de 1950 e foi marcada pela economia fordista. Apresentou-se como modelo da sociedade do consumo de massa. c) Fase III, desde 1970, a sociedade se encontra atualmente no terceiro ciclo de consumo, a sociedade do hiperconsumo. Lipovetsky (2007) aponta que a fase de hiperconsumo (fase III), é emocional e subjetiva e traz consigo o consumo experiencial, norteado por motivos estéticos e sensoriais de satisfação emocional e corporal, ou consumo emocional. Diferentemente do argumento da fase anterior que explica o principal motivo de consumo sob a ótica de diferenciação social, aqui o autor aponta que os objetos são desejáveis e atrativos por si mesmos. 20 Dessa forma, o principal motivo para a obtenção de bens fundamenta-se nas escolhas individuais e no consumo cada vez mais individualizado, cuja ideia de consumo 'para si' ultrapassa a de consumo 'para o outro’. “Espalha-se toda uma cultura que convida a apreciar os prazeres do instante, a gozar a felicidade aqui e agora, a viver para si mesmo” (LIPOVETSKY, 2006, p 102). Lipovetsky (2007), então, define o consumidor como: Um “colecionador de experiências” sensitivas ou estéticas, lúdicas ou comunicacionais, mas, em todo caso, fugazes e de movimentos incessantes, como um jogo que “torna-se por si mesmo sua própria recompensa. (LIPOVETSKY, 2007, p. 68) Esse consumidor colecionador de experiências também é o “consumidor rei” que agora assume uma postura ativa frente ao consumo, ditando o que precisa e o que deseja e como o quer. Por conseguinte, o mercado que antes funcionava com a lógica de produção de massa passa a ter que se adaptar para a produção personalizada de massa, que exige cada vez mais rapidez e estratégias capazes de suprir a diversificação do público. Esse novo modelo quebra a ideia de produzir para vender. Atualmente os produtos são criadores de expectativas, sendo anunciados muitas vezes alguns anos antes de seres produzidos, ou seja, os objetos de consumo não mais necessitam concretização material para serem consumidos. (LIPOVETSKY, 2007) De acordo Bauman (apud VIVARTA et al., 2009), escolha e liberdade são sinônimos na cultura de consumo, pois “só é possível abstrair-se da escolha se, ao mesmo tempo, subjugar sua liberdade”. Dessa forma, os consumidores podem escolher a não-fidelização a nenhuma das infinitas opções de marcas, “exceto a opção de escolher entre uma delas, isto é, a opção que não parece ser uma opção. Ou se escolhe, ou não se é livre, e sendo livre, está se escolhendo algumas das opções”. Para ele, os consumidores não percebem que selecionam e classificam produtos e serviços de acordo com suas necessidades, e que em uma sociedade de consumo a liberdade está associada ao ato de uma escolha. 21 A propaganda, na verdade, não reflete simplesmente o mundo real como nós o vivenciamos: o mundo da publicidade funciona ao nível do devaneio, o que implica uma insatisfação com o mundo real expressa por meio de representações imaginárias do futuro tal como ele poderia ser: uma Utopia. (VESTERGAARD; SCHRODER, apud VIVARTA et al., 2009) Para Solomon (2008), existem três principais fatores que influenciam o comportamento de compra, sendo estes: fatores psicológicos, fatores socioculturais e fatores pessoais. Já para Kotler e Armstrong (2007), no livro Princípios do Marketing, existem determinadas características pessoais que influenciam nas decisões do comprador que devem ser consideradas: As decisões do comprador são influenciadas também por suas características pessoais como idade e estágio no ciclo de vida, ocupação, situação financeira, estilo de vida, personalidade e autoimagem. (KOTLER; ARMSTRONG, 2007, p. 120). O perfil de consumidores contemporâneos é marcado por indivíduos que se mostram preocupados com os valores intangíveis dos produtos, fazendo com que as funções dos produtos sejam tão importantes quanto o atributo emocional a eles conferido. Segundo Kotler (2010), esse período em que os princípios das marcas e a nova dinâmica de relacionamento entre marcas e consumidores se torna um dos mais importantes fatores influenciadores de escolha e representa o surgimento de uma nova maneira de fazer marketing, denominada Marketing 3.0: Os consumidores estão em busca de soluções para satisfazer seus anseios de transformar o mundo globalizado em um mundo melhor. Em mundo confuso, eles buscam empresas que abordem suas mais profundas necessidades de justiça social, econômica, e ambiental em sua missão visão e valores. Buscam não apenas satisfação funcional e emocional, mas também espiritual, nos produtos e serviços que escolhem. (KOTLER, 2010, p. 4). Devido as homenagens à memória e ao antigo se mostrarem cada vez mais frequentes, Lipovetsky (2007), aponta a antiguidade como um argumento comercial, indicando o êxito de vendas de objetos que possuem tradição e despertam nostalgia por serem considerados antigos: 22 Embora a mania do antigo comporte uma dimensão nostálgica, ela também ilustra a intensificação dos desejos individualistas de qualidade de vida, uma cultura hipermoderna do bem-estar indissociável de critérios mais qualitativos e sensoriais, mais estéticos e culturais. Subjacentes ao gosto pelo passado, avançam as paixões hiperindividualistas de conforto recreativo e conforto existencial (...) (LIPOVETSKY, 2004, p.91). Haja vista as transformações dos consumidores em relação a aquisição de bens, compreende-se que um novo tipo de publicidade se faz necessário. Para tal, é importante implementar estratégias que foquem na ressignificação da marca, não limitando-as tão somente na funcionalidade dos produtos, mas também na criação de novos significados e ligações pessoais, como observa Lipovetsky (2007) no seguinte trecho: A publicidade passou de uma comunicação construída em torno do produto e de seus benefícios funcionais a campanhas que difundem valores e uma visão que enfatiza o espetacular, a emoção, o sentimento não literal, de todo modo significantes que ultrapassam a realidade objetiva dos produtos. (LIPOVETSKY, 2007, p. 46) No artigo publicado na Forbes10, Why Nostalgia Marketing Works So Well With Millennials, And How Your Brand Can Benefit11, Friedman (2016) alerta que apesar de que táticas centradas na nostalgia contribuem para a publicidade do século XXI, devese atentar para alguns riscos. Ela evidencia a relevância como principal ameaça às marcas que tentam empregar estratégias retrô sem conter histórico significativo ou não atentando a colocar o mundo moderno em contexto, tornando a tática irrelevante. “A chave é criar um gancho emocional usando a nostalgia e também oferecer algo novo. A combinação perfeita de passado e presente” (FRIEDMAN, 2016). Friedman cita o aplicativo para dispositivos móveis, Pokémon Go12, como exemplo de uma estratégica nostálgica bem-sucedida aliada à tecnologia e aos dias atuais, afirmando que o fenômeno se dá porque os jovens revivem o passado sem deixar de lado as ferramentas tecnológicas disponíveis atualmente, nesse caso o dispositivo móvel, internet e realidade aumentada. “Para muitos, o jogo satisfaz 10 Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo. (FORBES, 2016) Porque o Marketing Nostálgico funciona tão bem com Millennials e como sua marca pode se beneficiar. (tradução nossa) 12 Aplicativo para dispositivos móveis de realidade aumentada, desenvolvido para as plataformas iOS e Android, em uma colaboração entre a Niantic, Inc., a Nintendo e a The Pokémon Company. 11 23 critérios duplos - felicidade inata e exploração de algo novo e emocionante.”. (FRIEDMAN, 2016). No estudo realizado pela SurveyMonkey13, presente no artigo de Friedman (2016), revela-se que 46% dos usuários do aplicativo se encontram entre a faixa etária de 18 e 29 anos, encaixando-se na geração do milênio. Figura 1 – Pokémon Go: aplicativo para dispositivos móveis Fonte: Forbes14 Para Friedman (2016, s.p., tradução nossa), a indústria finalmente encontrou uma estratégia que funciona, principalmente com os Millennials, após anos de pesquisas. Segundo ela “as melhores campanhas são oportunas e relevantes, mas também são autênticas, com um forte gancho emocional para capturar o coração”. E afirma que a nostalgia está se mostrando uma das tendências mais interessantes no campo do marketing moderno, pois se mostra mais eficaz para essa geração do que outras táticas já apresentadas e testadas anteriormente. 13 Companhia baseada em nuvem que oferece uma plataforma para a realização de questionários e pesquisas online. 14 Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/olliebarder/2016/07/10/pokemon-go-shows-that-thefuture-of-gaming-is-ar-not-vr/#1dd3bbf715b5> Acesso em: 14 ago. 2016. 24 2.2.1 A saudade idealizada: retrô e vintage O sentimento de nostalgia é capaz de criar a ligação emocional entre a marca e o público-alvo quando utilizado como ferramenta de estratégia na comunicação de uma mensagem. As representações simbólicas proporcionadas pela manifestação do retrô trazem consigo diferentes significados e discursos de atmosferas passadas. Esses aspectos estimulam desejos e necessidades, ao passo que determinam a intensidade do interesse dos consumidores e de sua identificação com os objetos de consumo. A estética retrô ganhou maior popularidade na virada do milênio. (BROWN, 2001). O retrô é caracterizado como um estilo que resgata, enriquece, homenageia e faz uma releitura nostálgica do passado. Faggiani (apud HERNANDEZ, 2011) conceitua o retrô como uma estética inspirada em características do estilo do passado, realizado com processos atuais. A busca pelo retrô, portanto, se trata da modernização ou atualização de um estilo antigo que é substituído por mais eficazes e recentes componentes. Elizabeth Guffey (2006), em seu livro Retro: The Culture of Revival15, apresenta diversas definições para o retrô. Para a autora, o retrô é mais do que um simples sinônimo para produtos velhos ou ‘à moda antiga’, e que o termo é ligado ao atemporal e ao clássico. Essa preferência se deve a uma predisposição cultural e gosto pessoal relacionados a um passado não muito distante. O retrô também pode ser descrito como um estilo de vida que engloba sujeitos conservadores que tendem a possuir predisposição ao tradicional e valores do passado. De todas as formas e apesar das diferentes formas de representação, o retrô sugere uma mudança fundamental na relação dos sujeitos com o passado. (GUFFEY 2006, p. 7-11). Outro fator característico desse estilo são as cores características utilizadas para apresentar novas versões de peças e artigos inspirados em itens antigos. Em 2011, a Brastemp pegou carona na tendência e lançou uma linha retrô. Apresentando ao mercado modelos com traços modernos e clássicos e cores características do estilo retrô, inspirados na tendência vintage, a linha de geladeiras, 15 Retrô: A cultura do renascimento (tradução nossa) 25 fogões e frigobares, foi disponibilizada nas cores preto Tremendão, amarelo Supimpa e vermelho Brasa, nomes que remetem a expressões comumente utilizadas nos anos 60 e 70. O logotipo da marca Brastemp presente nos produtos da linha retrô é o mesmo dos 70. Figura 2 – Montagem com os produtos da linha Brastemp Retrô Fonte: Brastemp16 16 http://loja.brastemp.com.br/linhas/retro 26 Por outro lado, o vintage se caracteriza não pela representação de itens inspirados no passado, mas sim por se tratar das verdadeiras peças de outras épocas. Melo; Brito (2014) apresentam uma definição das manifestações vintage no livro Novos Horizontes do Marketing: As manifestações vintage referem-se a algo do passado, que recebe uma atribuição de valor importante no presente e funciona como um signo de distinção. O foco é pôr em evidência a história e trajetória particular de uma pessoa ou de uma marca, principalmente por meio das manifestações relacionadas às tradicionais redes de proteção, tais como a família, a etnia, a nacionalidade, etc. (MELO; BRITO, 2014, n.p.) A marca Granado Pharmácias, que se intitula “a botica mais antiga do Brasil” é uma perfumaria fundada em 1890, no Rio de Janeiro. A marca caracteriza-se pelo aspecto retrô, que cultiva desde a decoração e arquitetura de suas lojas, que remetem ao passado, até os produtos e embalagens inspirados no design original dos rótulos (LOBATO, 2016). A linha vintage é um exemplo: Figura 3 – Linha Vintage Granado17 Fonte: Granado18 17 Lata de metal vintage decorada com rótulos de produtos da Granado. A lata contém cinco sabonetes da linha Vintage: Alfazol, Um Sonho, Benjoim, Superfino e Salomé. 18 https://www.granado.com.br/loja/linha/granado/vintage 27 De acordo com Solomon (2008), os publicitários evocam memórias e recordação dos ‘bons e velhos tempos’ almejando que esses sentimentos sejam transportados para os itens que estão anunciando e por isso o apelo nostálgico tem se tornado cada vez mais comum nas campanhas atuais. O autor explica que os produtos também podem ser marcadores de memória: Os produtos também desempenham um papel como marcadores de memória; os consumidores usam-nos para recuperar recordações de experiências passadas (memórias autobiográficas) e com frequência os valorizamos por sua capacidade de fazer isso. Essa função também contribui para a utilização da nostalgia em estratégias de marketing.”. (SOLOMON, 2008, p. 240) Rokka (apud JUDAR, 2013) diz que as tendências retrô e vintage são bons exemplos de que a cultura de consumo é muito apegada ao seu passado. No entanto, o autor enfatiza que o saudosismo não seria a única explicação para a atual onda de nostalgia, exemplificando que muitos de seus entrevistados não haviam tido necessariamente algum contato ou experiência real no passado com esses objetos de consumo. Ele propõe que esse fascínio poderia se dar pela estética que o analógico oferece. Para Lipovetsky (2004, p. 88), a valorização do passado é um fenômeno hipermoderno que ilustra o novo consumidor. O autor aponta que o consumidor está em busca de emoções instantâneas ao invés de mero status relacionado a produtos. Esse fenômeno resulta no êxito de objetos retrô e vintage que despertam a nostalgia, sendo rotulados como “legítimos ou autênticos”. Segundo Lipovetsky: A voga do passado se vê ainda no sucesso dos objetos antigos, da caça a antiguidade do retrô, do vintage, dos produtos rotulados com um ” legítimo” ou ” autêntico “, que despertam a nostalgia. Cada vez mais, as empresas fazem referência a seu passado, explorando seu patrimônio histórico, divulgando- o, lançando produtos de cunho saudosista que revivem os tempos de antanho. Letreiros comerciais apresentam artigos oriundos do patrimônio histórico, e muitas marcas oferecem receitas à moda antiga e produtos inspirados em tradições ancestrais. Na sociedade hipermoderna, a antiguidade e a nostalgia se tornam argumentos comerciais, ferramentas mercadológicas (LIPOVETSKY. 2004, p 88-89). 28 Ao identificar fenômenos associados à memória, Huyssen (2000), comenta que é através de estratégias de rememoração que os indivíduos tentam evitar o sistema de obsolescência e desaparecimento de produtos. Para o autor, o passado tem vendido mais que o futuro, e podemos observar esse fenômeno através da obsessão atual com a representação, repetição, replicação e com a cultura da cópia. No artigo Tecnologia movida a carvão, publicado na Revista da Cultura e Tecnologia, Judar (2013) propõe os principais motivos que seduzem as novas gerações pelo consumo de itens retrô. A autora traz um estudo sobre branding, cultura e consumo, realizado por Jonas Rokka (apud JUDAR, 2013) que aponta que a tendência nostálgica se trata de um fenômeno cultural/comportamental que atinge especialmente jovens da geração Y que preferem a cena alternativa e se interessam pouco pelo consumo massificado de conteúdo online. Ele enfatiza, ainda, que essa atração pelo analógico estaria diretamente relacionada à sobrecarga do mundo digital, fazendo com que esses indivíduos prefiram consumir itens que os façam entrar em contato com outra realidade ou optem por eles pelo simples desejo de diferenciação. As mídias analógicas oferecem uma estética particular, não polida, que pode ser explorada e usada para criar novos significados. Eu diria que se trata de uma reação às emergentes e massificadas mídias digitais. (ROKKA apud JUDAR, 2013) O pesquisador assegura que “as pessoas encontram conforto e aconchego ao fazer links com o passado em um mundo que se encontra cada vez mais focado no futuro e se movendo a uma velocidade estonteante.”. (ROKKA apud JUDAR, 2013). Para Randazzo (1997), a transferência do significado cultural para os bens de consumo é realizada pelos publicitários, que transformam simples objetos em instrumentos versáteis e repletos de variedades e riquezas simbólicas. O autor afirma que é através da publicidade que os consumidores compreendem os benefícios dos produtos e aprendem a associa-los com seus benefícios emocionais. Oliveira (2012), ressalta que o principal motivo do consumo de objetos antigos não é apenas conforto material, mas o valor emotivo ligado ao sentimento nostálgico, ao evocar o passado. Assim sendo, compreende-se que as emoções são 29 determinantes nas relações dos consumidores com os objetos, bem como no processo de interação e de como os objetos são percebidos. As emoções, portanto, resultam em um importante fator de construção de relações simbólicas e valor simbólico e imaterial de objetos. 2.3 UM CONSUMIDOR NOSTÁLGICO Em seu livro O tempo das tribos, Michel Maffesoli (2006), explica o fenômeno das representações coletivas, apontando que o neotribalismo, como define o autor, pode ser explicado pela constatação empírica de que as pessoas estão se agrupando em microtribos na busca pelo sentimento de pertencimento por meio do compartilhamento de emoções em comum, e denomina o fenômeno como cultura de sentimento (MAFFESOLI, 2006). Para Maffesoli (1995, p.117), o papel simbólico das representações coletivas é incontestável, e completa “a nostalgia, o ideal ou a utopia possuem uma eficácia que a geopolítica racional deveria reconhecer”. A emoção compartilhada das representações coletivas é tão intensa que os indivíduos pertencentes aos grupos repletos de multiplicidade, constituem, de alguma forma, sólidos laços sociais, pois são formadas por formas coletivas de empatia, dando origem a novas organizações sociais. No estudo Millennials: a portrait of generation next19, Taylor; Keeter (2010), apontam que a identidade coletiva das gerações se forma a partir do momento em que os membros mais antigos saem da adolescência e passam a agir de acordo com seus valores e suas próprias visões de mundo. (TAYLOR; KEETER; 2010). Holbrook (1993), realizou um estudo investigatório para verificar os graus de nostalgia em indivíduos da mesma faixa etária e a influência de estilo de vida que as levam a maior propensão à nostalgia. Os resultados mostram que existe uma relação entre a idade dos sujeitos e à propensão ao sentimento nostálgico, apontando para os millennials como principais consumidores. 19 Millennials: um retrato da geração seguinte. (tradução nossa) 30 Os millennials, também conhecidos como geração do milênio, geração Y ou geração da internet, é um grupo composto por jovens nascidos entre os anos de 1977 e 1997. Embora não haja um consenso entre autores em relação a data limítrofe dessa geração, essa é a média simples e variante mais aceitável. (FARRIS; CHONG; DANNING, 2002). Apesar da divergência de datas entre autores, os mesmos assentem quanto à característica principal que define a geração: um grupo que cresceu diante de avanços tecnológicos, abundância econômica e fascínio pela tecnologia (HERNANDEZ, 2011). Tapscott (1999) diz que os jovens da geração Y, comparados com gerações anteriores, consume muito mais. Isso se deve a que essa geração possui interesse em uma ampla lista de objetos de desejo. O autor aponta que a geração do milênio é responsável pela criação de culturas digitais. “Eles não apenas observam, mas também participam. Perguntam, discutem, argumentam, jogam, compram, criticam, investigam, ridicularizam, fantasiam, procuram e informam.”. (TAPSCOTT, 2010, p.33). Devido ao fato de haverem crescido com a tecnologia e assimila-la de maneira mais rápida, avanços tecnológicos não impressionam pois são tratados como algo cotidiano; o foco é a função. Taylor e Keeter (2010), acrescentam que essa é a geração mais confiante, liberal, auto expressiva, alegre e aberta a mudanças dos últimos tempos. Eles são o grupo mais etnicamente e racialmente diversificado de jovens na história da nação. [...] Eles estão se mostrando a faixa etária mais politicamente progressista na história moderna. [...] Eles são a primeira geração na história humana que consideram comportamentos como twittar e mensagens de texto, junto com sites como Facebook, YouTube, Google e Wikipedia, não apenas as inovações mais surpreendentes da era digital, mas como partes do cotidiano de suas vidas sociais e sua busca pelo entendimento; [...] Eles são os jovens menos inclinados à religião (TAYLOR; KEETER, 2010, s.p., tradução nossa) O estudo de Sedikides; Wildschut; Baden (2004), relata que a nostalgia geralmente é associada com a ideia de um passado melhor, mas que não significa que os indivíduos estejam insatisfeitos com o presente ou tenham uma visão pessimista em relação ao momento atual em que vivem. 31 Segundo os autores, os consumidores mais propensos à nostalgia procuram satisfazer suas inseguranças em relação ao futuro através de produtos culturais de outras gerações e possuem maior disposição para consumir produtos que remetam ao passado de alguma maneira. Os millennials formam a primeira geração a chegar a vida adulta no novo milênio, e tentam satisfazer suas inseguranças com itens que remetam ao passado, compreendido como uma época em que se vivia melhor e não havia tantos problemas como no presente (SEDIKIDES; WILDSCHUT; BADEN, 2004). Tocci (2007), aponta que os geeks são o público que possuem maior interesse por itens que despertam a nostalgia. Isso acontece porque ao adquirir itens nostálgicos, forma-se um ponto de referência comum para uma geração, ao passo que objetos considerados populares não transmitem o mesmo efeito. O interesse por objetos geek torna-se maior quando os jovens atingem os 20 anos e têm sua própria renda disponível. (TOCCI, 2007, p. 18, tradução nossa). O autor explica o fenômeno no trecho a seguir: [...] Imagens de mídia associadas à infância podem parecer inadequadamente geek para os adolescentes que tentam afirmar mais identidades adultas, mas algumas referências nostálgicas podem ter valor para os adolescentes, enquanto algumas referências parecem velhas o suficiente para ser "retro". [...] Além disso, itens nostálgicos e camisas com piadas evidentes podem ser usadas ironicamente, distanciando o usuário de uma identificação muito séria com a cultura geek. Mesmo que alguém realmente se identifique pessoalmente como um fã do assunto de um item que esteja usando, fazer piada do seu próprio gosto pessoal ou de si mesmo indica que esse interesse não é levado muito a sério. [...] (TOCCI, 2007, p. 18-19, tradução nossa) O termo geek, já foi considerado um sinônimo para a definição do termo nerd20. No entanto, essa tribo ganha destaque pois não possui a aparência clássica de um nerd. “Segundo esta definição, o geek não necessariamente é antissocial e não 20 A definição atual para o termo nerd, o caracteriza como uma pessoa que nutre alguma obsessão por um determinado assunto a ponto de pesquisar, colecionar coisas, escrever sobre e não sossegar enquanto não descobrir como funciona. Geralmente se interessa por computadores e tecnologia (chamado de Geek), HQ, ficção científica e games. (GALVÃO, 2009, p. 3) 32 possui a chamada aparência clássica; alguns podem ter um visual mais moderno, retrô ou até mesmo uma aparência desleixada.” (GALVÃO, 2009, p. 2). Para Galvão (2009), os geeks são a nova versão dos nerds, no entanto o termo geek não carrega o mesmo negativismo que o termo nerd. A maior diferença entre ambos se dá pelo fascínio dos geeks, principalmente, por tecnologia, cultura pop e interesses bem mais diversificados e específicos que os interesses considerados essenciais pela cultura nerd, como games e o já conhecido fascínio pelos estudos e boas notas. Tocci (2007), atribui o surgimento desta nova tribo ao mercado de nicho, que possibilita o consumo de interesses cada vez mais selecionados. Chris Anderson (2006), explica no best-seller A cauda longa, o fenômeno que está mudando o mercado de massa para o mercado de nicho. O autor justifica que a cultura de massa não irá deixar de existir, mas se tornará menos massificada, dando espaço à cultura de nicho. “[...] a cultura de massa não se transforma em outra massa diferente, mas em milhões de microculturas, que coexistem e interagem umas com as outras de maneira extremamente confusa.”. (ANDERSON, 2006, p. 152). Como citado no trecho a seguir, isso acontece, pois, apesar de compartilhar interesses genéricos, os indivíduos possuem interesses bastante específicos: Cada ouvinte, espectador ou leitor em si é, e sempre foi, um conjunto exclusivo de interesses genéricos e interesses específicos. Embora muitos desses indivíduos talvez compartilhem interesses genéricos, como as condições climáticas, a maioria, se não todos, também tem interesses específicos muito diferentes. E cada indivíduo é um mix verdadeiramente singular de interesses genéricos e específicos. Até cerca de trinta anos atrás, o americano médio não tinha acesso a nenhum meio capaz de satisfazer a cada um de seus interesses específicos. O que todos tinham era a mídia de massa, capaz de, com algum acesso, atender a muitos de seus interesses genéricos (ou seja, de “massa”) (ANDERSON, 2006, p. 151). Anderson (2006) aponta que a ascensão da cultura de nicho transformará o panorama social. O autor diz que não se trata de um novo comportamento, e aponta que a tecnologia permite explorar e expressar interesses específicos, dando espaço à formação de milhares de tribos. “As mesmas forças e tecnologias da Cauda longa, que estão levando a uma explosão de variedade e de escolha abundante naquilo que consumimos, também tendem a converter-nos em pequenos redemoinhos ou contracorrentes tribais.” (ANDERSON, 2006, p. 152) 33 Dessa forma, as conexões de interesses culturais abrem espaço para uma espécie de microcultura, na qual todos escolhem coisas diferentes e específicas. “Podemos considerar a cultura hoje, não como um grande cobertor, mas como uma superposição de muitos fios entrelaçados, cada um dos quais é acessível individualmente e interliga diferentes grupos de pessoas ao mesmo tempo” (ANDERSON, 2006, p. 153). Schindler; Holbrook (1993), evidenciaram que a ligação nostálgica acontece durante a faixa etária de vinte anos, cujas interações dos indivíduos com produtos ocorre durante a fase de formação de suas preferências de consumo. Dessa forma, os produtos mais populares comercializados durante a época da juventude do sujeito determinam suas preferências ao longo da vida. Isso explica a preferência do consumidor propenso à nostalgia por objetos de épocas anteriores no decorrer da vida (HOLBROOK; SCHINDLER, 2003a, 2003b). Holak; Havlena (1998), apontam que a preferência por objetos que remetam ao passado não é exclusividade desses grupos, uma vez que os entrevistados em seus estudos, classificados em diversas faixas etárias, apresentavam, de alguma forma, algum grau de nostalgia e propensão ao consumo de itens nostálgico. Para os autores, há uma rede de conexões dos indivíduos formada a partir da associação com o passado, e são essas as conexões que produzem a propensão à nostalgia e a resposta ao apelo nostálgico. 34 3 MARKETING NOSTÁLGICO E A COMUNICAÇÃO VOLTADA AO PASSADO Buscar compreender a dinâmica da comunicação e a evolução do marketing em uma sociedade altamente globalizada e marcada por avanços tecnológicos se faz necessária para buscar maneiras mais eficazes no relacionamento entre marcas e o público. A publicidade possui papel fundamental na estratégia de comunicação que pauta o relacionamento entre marcas e consumidores. Berger (apud HERNANDEZ, 2011), diz que a publicidade é em sua essência nostálgica, pois suas referências são tradicionais e retrospectivas: ela precisa vender o passado para o futuro. A utilização da nostalgia como estratégia de marketing tem se mostrado uma ferramenta poderosa na aceitação de um produto. O marketing nostálgico permite que o consumidor reviva memórias positivas do passado e ajuda marcas a construir uma identidade autêntica através de uma estratégia que demonstra ser efetiva e ganha cada vez mais espaço. Nesse cenário, o marketing nostálgico encontra o ambiente ideal para assumir um importante papel na diferenciação de marcas e nos significados e valores emocionais fundamentados nos ativos intangíveis. O marketing nostálgico “tenta transportar os consumidores para o seu passado através de referências culturais ou simbólicas” (BRAUN-LATOUR apud BARBOSA, 2013). Este capítulo apresenta o conceito de marketing nostálgico, percebido pela publicidade como um mediador de emoções e recordações do passado, conceitos de marketing e de comunicação, elementos que diferenciam os conceitos de publicidade e propaganda, os atributos emocionais das marcas, a nostalgia como argumento comercial, o composto de marketing e a importância da estratégia na comunicação. 35 3.1 SOBRE O MARKETING NOSTÁLGICO Pode-se dizer que a publicidade está diretamente relacionada ao marketing, servindo como meio de conexão com o público. A AMA,21 em sua mais recente definição do conceito de marketing, diz que “Marketing é a atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, oferecer e trocar ofertas que tenham valor para os consumidores, clientes, parceiros e para a sociedade como um todo”22 (AMA, 2008, p. 1, tradução nossa). Las Casas (2001), define marketing como: Marketing é a área do conhecimento que engloba todas as atividades concernentes às relações de troca, orientadas para a satisfação dos desejos e necessidades dos consumidores, visando alcançar determinados objetivos de empresas ou indivíduos e considerando sempre o meio ambiente de atuação e o impacto que essas relações causam no bem-estar da sociedade (LAS CASAS, 2001, p. 26) Nesse contexto, o marketing nostálgico é percebido pela publicidade como uma forma de atrair consumidores através de recordações e emoções do passado. Por sua vez, esse fenômeno impulsiona a cultura retrô que ganha mais espaço a cada dia. Sabendo disso, a indústria de entretenimento tem promovido uma grande quantidade de materiais com referências de décadas passadas que levam a esse sentimento, com produções inspiradas em sucessos dos anos 1980 e 1990 que tomam conta do cotidiano e caracterizam a era atual como a década da cópia original, na qual os profissionais criativos utilizam a nostalgia para criar fórmulas de sucesso. Ao contrário de décadas anteriores, a tecnologia permite fácil acesso e inserção em culturas passadas, de décadas que não necessariamente foram vivenciadas pelos indivíduos que procuram esse tipo de conteúdo (CARPANEZ; FUJITA, 2016). 21 A American Marketing Association é a maior associação profissional de marketing da América do Norte, voltada para profissionais envolvidas na prática, ensino e estudo de marketing em todo o mundo. É também a fonte que os profissionais buscam para aprofundar sua experiência de marketing, elevar suas carreiras e alcançar melhores resultados. 22 Texto original: “Marketing is the activity, set of institutions, and processes for creating, communicating, delivering, and exchanging offerings that have value for customers, clients, partners, and society at large.” Disponível em: <https://archive.ama.org/archive/AboutAMA/Documents/American%20Marketing%20Association%20 Releases%20New%20Definition%20for%20Marketing.pdf> Acesso em: 01 nov. 2016 36 Randazzo (1997), afirma que a publicidade possui papel fundamental na relação entre marcas e consumidores e permite que o anunciante desvende o que o consumidor deseja e estabeleça o posicionamento da marca não apenas no mercado, mas também na mente do consumidor. Isso se dá no momento em que a publicidade transmite os benefícios da marca baseados no produto e em seu cunho emocional e psicológico. Sendo assim, a publicidade permite que os anunciantes criem importantes ligações emocionais com o público, desempenhando papel fundamental no processo de posicionamento da marca (RANDAZZO, 1997). Keller e Machado (2006), acrescentam que as marcas são um meio rápido de facilitar as decisões de compra. Ao indicar o fabricante do produto, os consumidores se sentem autorizados a atribuir responsabilidade ao distribuidor. Pinho (1996, p. 11), aponta que como forma de “atestar a excelência do produto e seu prestígio” já era hábito indicar o fornecedor e o local de fabricação dos produtos. Gobé (2002), aponta que é essencial pensar e construir marcas visando a seu aspecto emocional e a sua identidade: Produtos bem projetados têm uma personalidade verdadeira, por isso nos ajudam a identificar a verdadeira pessoa através do que compramos e colocam algum aspecto de nossas vidas em movimento mais lento, num mundo que se move cada vez mais rápido (GOBÉ, 2002) Keller (2003) e Keller; Machado (2006), assinalam que toda marca deve ter uma personalidade própria, a partir de características e atributos próprios. Segundo os autores, existem duas funções básicas que se destacam na definição de uma marca: identificar e distinguir. Keller; Machado (2006), sugerem a separação dos atributos das marcas em duas categorias, a primeira categoria se refere aos atributos racionais das marcas e a segunda categoria aos atributos emocionais das marcas. Dessa forma, os atributos racionais da marca possuem funções de caráter técnico e desempenham o papel de satisfação de necessidades utilitárias dos consumidores, a partir de argumentos com fatos empíricos e verificáveis. Por sua vez, os atributos emocionais da marca criam laços afetivos entre as marcas e os consumidores, a partir de métodos que visam a satisfação das necessidades psicológicas dos consumidores. Para os autores, os atributos de marca são 37 importantes para a redução do impacto da concorrência e para a construção de pontos de acesso com os clientes (KELLER; MACHADO, 2006; BROWN, 1999). Kotler; Keller (2005), apontam que no momento em que os produtos passam a ser pautados pelos interesses e necessidades do consumidor e por seu valor, se dá uma grande mudança no mercado, pois o valor é definido entre o que o cliente recebe e o que ele dá. “O cliente recebe benefícios e assume custos. Os benefícios incluem benefícios funcionais e emocionais. Os custos incluem custos monetários, de tempo, de energia e psicológicos” (KOTLER; KELLER, 2005, p.33). Para Gobé (2002, p. 129), não são as máquinas que determinam como e o que será produzido, e sim as pessoas. Para tanto, o segredo para o sucesso é adequação ao consumidor e individualidade. Essa nova abordagem deve incluir as ambições, os sonhos e as emoções mais profundas do consumidor. Dessa forma, “o significado emocional da marca deve evoluir de ‘imposto’ para ‘pessoal’, de ‘impacto’, para ‘contato’” (GOBÉ, 2002, p. 175). Kotler (2010), acrescenta que o surgimento do marketing 3.0 se dá a partir do momento em que os princípios da marca passam a ser fatores influenciadores da escolha. Essa transformação foi observada quando o atributo emocional da marca passou a ser tão importante quanto a própria função de um produto, criando, assim, uma nova dinâmica de relacionamento com o cliente: Os consumidores estão em busca de soluções para satisfazer seus anseios de transformar o mundo globalizado em um mundo melhor. Em mundo confuso, eles buscam empresas que abordem suas mais profundas necessidades de justiça social, econômica, e ambiental em sua missão visão e valores. Buscam não apenas satisfação funcional e emocional, mas também espiritual, nos produtos e serviços que escolhem (KOTLER, 2010, p. 4). Surge então a necessidade de uma comunicação mais centrada no consumidor para que os ativos intangíveis ganhem maior relevância do que os ativos tangíveis de uma marca. (KOTLER, 2010). Diversos estudos na área de psicologia sugerem que a nostalgia proporciona conforto em épocas instáveis. Sedikides (2008), afirma que a ideia de bons e velhos tempos é capaz de diminuir a ansiedade, reduzir o estresse, melhorar o humor, 38 aumentar a autoestima e proporcionar ligações de conexão social e bons sentimentos em relação ao futuro. Em estudo recente, Nostalgia Weakens the Desire for Money23, publicado na JCR24, Lasaleta (2014), questiona se o efeito da nostalgia é capaz de fazer com que os consumidores gastem mais quando pensam no passado. Para tanto, a pesquisadora dividiu dois grupos de participantes, cujo primeiro grupo era convidado a pensar sobre eventos passados enquanto tomava decisões de compra, enquanto o segundo grupo pensava sobre memórias atuais ou futuras. A conclusão foi que os participantes estavam dispostos a investir uma quantia maior em um objeto de consumo que possibilitasse a rememoração de algum evento nostálgico. Segundo o estudo, o efeito também aumenta a possibilidade de que esses indivíduos realizem alguma compra, efetuem doações e até mesmo valorizem mais o dinheiro e o investimento realizado quando a sensação de conexão social evocada pela nostalgia estiver presente. Para Lasaleta (2014), durante os tempos de recessão como o atual, os consumidores economizam e se mostram mais relutantes em fazer investimentos, portanto a nostalgia pode ser utilizada para estimular uma economia cada vez menor. Assim, essa informação se torna útil para marcas que buscam provocar sentimentos nostálgicos em suas campanhas e linhas de produtos, bem como organizações políticas e de caridade que procuram angariar fundos. Descobrimos que quando as pessoas têm níveis mais elevados de conexão social e sentem que seus desejos e necessidades podem ser alcançados com a ajuda de outros, sua capacidade de priorizar e manter o controle sobre seu dinheiro se torna menos urgente (LASALETA, 2014, tradução nossa). Segundo Brown; Kozinets; Sherry (2003), o marketing retrô (nostálgico) utiliza a nostalgia como principal ferramenta de marketing. Os autores explicam que tanto marcas tradicionais quanto marcas novas estão recorrendo a essa abordagem para 23 Nostalgia enfraquece o desejo por dinheiro (tradução nossa) Journal of Consumer Research, é uma revista acadêmica bimestral publicada pelas universidades University of Chicago Press e Oxford University Press, que publica investigações relacionadas à área de comportamento do consumidor, incluindo psicologia, marketing, sociologia, economia, antropologia e comunicações. 24 39 fazer relançamentos de serviços e produtos já existentes, geralmente de uma década anterior ao relançamento, e buscam envolver pela autenticidade e combinação da estética retrô com as novas tecnologias e inovações disponíveis no presente. Apesar disso, esses produtos não são obrigatoriamente atualizados de acordo com os padrões contemporâneos, podem se tratar apenas de um retorno; reviver algo. (BROWN, 2001, p. 308). Gobé (2002), explica que a criação de marcas eficazes não depende de publicidade exagerada, mas sim de relevância cultural e conexão emocional. Para o autor, a conexão emocional deve ser sincera e percebida entre os consumidores, transmitindo significado e honestidade. No entanto, o marketing nostálgico não é exclusivo de marcas tradicionais, e algumas empresas utilizam esse apelo sem força suficiente para sustentá-lo. (BROWN et al., 2003). Esse erro se dá porque a maioria das empresas confunde percepção e conexão emocional. A relação das marcas com os consumidores, é uma relação de pessoas para pessoas, e não uma relação de fábrica para pessoas. Assim, uma marca precisa ter personalidade, qualidades humanas e valores emocionais para se diferenciar no mercado, expressando a cultura da empresa ao passo que seduzem os consumidores com sua comunicação. Para tanto, a fórmula do sucesso de uma conexão emocional duradoura é fazer com que os consumidores queiram formar uma parceria com a marca. (GOBÉ, 2012, p. 377-379) Gobé (2002, p. 363), aponta que a tendência à nostalgia já está no mercado e só tende a aumentar. “O retrô-chique futurista, sentimental, individualista, cafona, charmoso, viciado em internet... Hoje a tendência à nostalgia está a nossa volta”. A tendência aumenta à medida em que nos movimentamos no novo milênio cada vez mais tecnológico e menos analógico. Isso faz com que as pessoas queiram revisitar e buscar no passado coisas que consideram boas para trazer para o presente “muitas vezes personalizando e misturando essas redescobertas culturais numa sensibilidade moderna e até futurista.” (GOBÉ, 2002, p. 363) Gobé (2002), explica o fenômeno de convergência de épocas no seguinte trecho: 40 [...] Esta tendência trata parcialmente de avaliar a ansiedade; uma necessidade de confirmar a segurança e a estabilidade, enquanto seguimos adiante no novo século a um ritmo acelerado para um futuro incerto. Também trata do sentimento de agitação e de capacitação; encontrando-nos num lugar de vantagens no tempo, temos a possibilidade de escolher o melhor de todas as épocas. Ser capaz de conseguir tudo, faz parte de uma atitude global; com a liberdade de escolher e personalizar as coisas de todos os tempos, pois há tanta coisa “legal” ainda disponível (GOBÉ, 2002, p. 363). Para Gobé (2002, p. 367), uma marca que tenha mais de dez anos de mercado, que possua uma história interessante para contar sob uma perspectiva histórica, ou que tenha um forte relacionamento com seus consumidores, pode utilizar o marketing nostálgico para se beneficiar da tendência. Isso se deve a que “em nossa época de ‘tempo comprimido’, o retrô está se tornando rapidamente ‘pouco tempo atrás’. Dessa forma, não apenas entidades com um largo histórico cultural podem utilizar esse apelo, mas também entidades com menos tempo de mercado. O importante é ser fiel à sua história e atender ao desejo emocional dos consumidores de experimentar e vivenciar o passado com o presente. 41 3.2 COMUNICAÇÃO E A NECESSIDADE DA ESTRATÉGIA A comunicação é o momento mais importante de sedução entre marcas e consumidores. Para que haja comunicação entre empresas e clientes, é necessário que a mensagem comunicada seja clara e objetiva, informando os principais atributos dos produtos ou serviços oferecidos, causando o impacto desejado no consumidor. Para isso, é essencial que empresas e marcas desenvolvam um programa estruturado e contínuo de marketing, para que seja possível relacionar-se com os consumidores de maneira eficiente, com base em valores reais. O sucesso de uma campanha eficiente depende de um conceito integrado de comunicação e marketing, uma vez que a globalização dos mercados e a mudança de comportamento dos consumidores exigem que as ferramentas e ações de comunicação não sejam utilizadas de forma isolada, “torna-se então necessário incluir todas elas (atividades) [...] em um planejamento orgânico, que coordene os esforços e as ações empreendidas na busca de um propósito único e adequado ao momento atual”. (PINHO, 2001, p. 16) Cobra (2000); Pinho (2001), dizem que a comunicação pode ser informativa, casual e persuasiva. Na comunicação informativa, o objetivo principal é esclarecer informações sobre os produtos e serviços oferecidos. Já a comunicação casual trata apenas de comunicar ocasionalmente sobre os produtos e serviços oferecidos. Por sua vez, a comunicação persuasiva busca convencer clientes e prospectar novos consumidores a adquirirem os produtos e serviços ofertados. (COBRA, 2000) A publicidade é caracterizada principalmente pela comunicação persuasiva e seu poder de convencimento. Gonçalvez (2009), pontua que embora publicidade e propaganda sejam comumente confundidos e utilizados como sinônimos, há determinadas diferenças quanto a definição de cada termo, como é apresentado pelo autor no seguinte trecho: 42 [...] A publicidade é a arte de tornar público, divulgar um fato ou uma ideia, já com objetivos comerciais, uma vez que pode despertar o desejo de compra, levando-o à ação. É um conjunto de técnicas de ação coletiva com o propósito de tornar conhecido um produto, um serviço, uma marca promovendo assim uma atividade comercial. É mais ampla que a propaganda e engloba todas as formas de comunicação, tornando-se uma técnica comercial de comunicação de massa. [...] A propaganda pode ser definida como ações de atividades ideológicas que tendem a influenciar o homem, com objetivo político, cívico ou religioso. É o ato de propagar ideias, princípios e teorias sem fator comercial. Ou seja, a propaganda é uma atividade voltada para promover um sistema ideológico, como doutrinas religiosas ou princípios políticos. [...] (GONÇALVEZ, 2009, p. 78, grifo nosso). Compreende-se que a principal diferença entre os termos publicidade e propaganda se dá pelo caráter comercial e ideológico de cada uma, respectivamente. A figura a seguir, desenvolvida a partir do estudo A Dialética Conceitual da Publicidade e Propaganda25, e retirada do livro de Gonçalvez (2009), apresenta os três principais elementos que caracterizam e diferenciam os conceitos de publicidade e propaganda, como ilustrado na figura a seguir: Figura 4 – Três elementos que diferenciam os conceitos de Publicidade e Propaganda Fonte: Publicidade e Propaganda (2009, p. 8).26 Tendo os conceitos de comunicação e publicidade e propaganda definidos, é importante entender o papel do marketing e das estratégias comunicacionais no desenvolvimento de uma campanha publicitária. Para Kotler (2000, p. 30), o marketing é definido como: “um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas 25 Trabalho científico e didático que enfoca os três principais elementos que diferenciam, conceitualizam e condicionam os termos publicidade e propaganda. 26 GONÇALVEZ, M. C. Publicidade e Propaganda. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=mcjMntKor5gC&oi=fnd&pg=PA7&dq=GON%C3%87ALEZ,+M.+C.+Publicidade+e+Propag anda.&ots=9XervldJ0a&sig=jk2pYkCeQm8q_wSF8njkEoDBpyE#v=onepage&q&f=false> Acesso em: 01 nov. 2016 43 obtêm aquilo de que necessitam e que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros”. Para que o mercado, os produtos e os consumidores sejam estudados e compreendidos, o marketing faz uso de algumas ferramentas importantes, como o mix de marketing. O Marketing Mix, ou Composto de Marketing, é definido como a combinação de elementos variáveis que compõe as atividades de marketing. Kotler; Armstrong (1993), definem o composto de marketing como: “o grupo de variáveis controláveis de marketing que a empresa utiliza para produzir a resposta que deseja no mercado-alvo [...] conjunto de ações que a empresa pode fazer para direcionar a demanda para seu produto” (KOTLER; ARMSTRONG, 1993, p. 29). Posteriormente, Kotler (2000, p. 38), define o composto de marketing como: “os 4Ps que representam a visão que a empresa vendedora tem das ferramentas de marketing disponíveis para influenciar compradores”. Esse composto é formado pelos 4p’s do marketing, sendo constituído por produto, preço, praça e promoção. Esse conceito foi elaborado inicialmente no início dos anos 1960 por Jerome McCarthy, sendo popularizado posteriormente por Kotler e adotado como o modelo padrão, tradicionalmente utilizado pela maioria dos educadores e profissionais do campo de atuação (SILVA et al., 2006). O composto de marketing deve ser utilizado de maneira estratégica pelas empresas, para atingir de forma consistente os consumidores. Esses consumidores representam o público alvo e são a principal razão das ações dos 4 p’s. Para Cobra; Brezzo (2010), a aplicação dos 4 p’s por uma empresa é essencial para a satisfação dos consumidores em relação aos seus produtos, de modo que a empresa deve oferecer produtos e serviços que se encaixem neste composto de marketing. Kotler (2010, p. 59), acrescenta que “uma vez bem-sucedida, a marca deixa de ser propriedade da empresa”, indicando que a partir de então, os consumidores passam a ser os proprietários e o foco principal das empresas passa a ser satisfazer esses consumidores. Para melhor compreensão, a seguinte figura apresenta os quatro elementos do composto de marketing e suas principais funções: 44 Figura 5 – Composto de marketing (4 P’s) Fonte: Marketing para o Século XXI (KOTLER, 2000) 27 Sandhusen (2003, p. 4), apresenta uma definição dos 4P’s do composto de marketing. Para o autor, o produto é o principal elemento do marketing mix, uma vez que é a partir dele que uma empresa irá definir toda sua estratégia e moldar sua comunicação e necessidades. “O produto é definido como qualquer coisa tangível ou intangível, oferecida para atenção, aquisição, utilização ou consumo capaz de satisfazer necessidades". Já o preço se mostra o mais flexível dos itens do composto de marketing, pois pode mudar a qualquer momento. Esse item também é o que possui maior influência sobre as vendas, os lucros e os clientes. (SANDHUSEN, 2003). Kotler (2000), acrescenta que a principal diferença desse item para os demais é que o preço é o único elemento que gera receita, enquanto os demais geram custos. A praça, ou canal de distribuição, é definida por Sandhusen (2003), como o local em que o produto é disponibilizado no mercado, apontando a importância desse elemento na forma de distribuição de modo que fique acessível ao público alvo. 27 KOTLER, Philip. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados. Futura, 2000. 45 O item promoção é recomendado quando há a necessidade de aumentar o faturamento ou volume de vendas, a partir de uma estratégia de promoção de vendas, geralmente útil para desocupar estoque. Além disso, a promoção costuma ser uma boa maneira de aumentar o conhecimento da marca, a quantidade e novos espaços de pontos de vendas e a distribuição dos produtos oferecidos pela empresa. (SANDHUSEN, 2003). Kotler; Keller (2005, p. 553), acrescentam à definição de promoção de vendas como “uma variedade de incentivos de curto prazo para estimular a experimentação ou a compra de um produto”. Como exemplo recente que contempla o composto de marketing, a Coca-Cola comemorou os 100 anos do design da garrafa de vidro Contour, criada em 1915, que se tornou um ícone da marca e vem sendo utilizada desde então, sofrendo poucas variações. Para celebrar o fato histórico, a empresa lançou em 2015 no Brasil um pack retrô com a edição limitada de garrafas históricas da marca, em tamanho original, que inclui um folheto explicativo sobre a trajetória do design da embalagem. A edição conta com seis modelos de garrafas de vidro dos anos 1899, 1900, 1905, 1913, 1915 e 1923. O preço da edição limitada varia entre R$ 35 e R$ 45. O produto foi distribuído em pontos de vendas específicos, como mercados regionais, os supermercados: Walmart, Grupo Pão de Açúcar e Carrefour e em Lojas de Conveniência dos postos: BR, Ipiranga e Shell. A promoção foi ao ar durante o mês de dezembro de 2015. 46 Figura 6 – Garrafas Históricas da Coca Cola Fonte: Imagem elaborada pela autora.28 Para promover a ação, foram divulgados anúncios impressos e peças no Instagram29 oficial da marca, com ilustrações inspiradas no design retrô e vintage. A referência ao estilo retrô é marcada, inclusive, pela utilização de modelos pin-up30 em algumas ilustrações, como exemplificado no seguinte anúncio: 28 Fotografias disponíveis em: < http://www.novasalices.com/2016/01/as-garrafas-historicas-da-cocacola.html> Acesso em: 11 nov. 2016 29 Rede social de imagens. 30 Modelos com características sensuais femininas que obtiveram maior destaque principalmente nos anos 1940 e 1950 e são constantemente utilizadas pela publicidade como forma de retratar o retrô e o vintage. 47 Figura 7 – Anúncio Impresso - Garrafas Históricas da Coca-Cola Fonte: Clube de Criação.31 31 Disponível em: http://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/campanha-325/> Acesso em: 10 nov. 2016 48 49 4 MARCAS E NOSTALGIA A obsessão pelo passado no século XXI é um fenômeno crescente que ocorre, entre demais fatores citados anteriormente, devido a multiplicação e massificação de oferta cultural que permite a apropriação de obras já existentes e apresenta a arte como um campo que já não busca apenas novas formas de criar algo desde o zero, mas formas de adaptar e encontrar maneiras distintas de apresentar o velho, como algo novo (BOURRIAUD, 2009). No livro, Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo, Nicolas Bourriaud (2009), explica o comportamento como parte de uma tendência de reciclagem, e aponta que a pergunta artística de ‘qual novidade podemos apresentar?’ está sendo substituída para ‘o que fazer com o que já temos?’ (BOURRIAUD, 2009). Esse fenômeno não se limita apenas à arte. Diferentes indústrias, inclusive a indústria de comunicação, vêm se apropriando da tendência à reciclagem e apostando no marketing nostálgico como carro-chefe, assim como poderá ser observado no presente capítulo. Neste capítulo, será analisada a utilização do marketing nostálgico como estratégia de comunicação pelas marcas Volkswagen, Netflix e Parmalat, evidenciando a nostalgia presente na atualidade pelas décadas de 1970, 1980 e 1990, respectivamente. A Volkswagen, apresentando o comercial retrô dos anos 1970 e o endosso ao personagem Mussum. A Netflix e a homenagem aos anos 1980 pela série Stranger Things, reforçando o link com o passado ao trazer Xuxa como ícone representativo da década. E a aposta da Parmalat em relançar em dois momentos a campanha Mamíferos dos anos 1990, em 2007 e em 2015. - A década de 1970, representada pelo comercial retrô da Volkswagen, de 2013, apresentando o Novo Fusca ‘direto dos anos 1970’. E o endosso pelo personagem nostálgico, Mussum. - A homenagem da Netflix à década de 1980 com um turbilhão de referências culturais oitentistas na série Stranger Things. E o comercial com a mistério da boneca da rainha dos baixinhos dos anos 1980, Xuxa. - A Parmalat e a nostalgia da década de 1990 ao recriar a campanha Mamíferos de 1996, em 2007 e 2015. 50 A seguinte figura apresenta as marcas, produtos e objetos de análise para melhor compreensão: Figura 8 – Marcas e a nostalgia dos anos 1970, 1980 e 1990 Fonte: Imagem elaborada pela autora 4.1.1 Volkswagen: o Novo Fusca direto dos anos 1970 A Volkswagen é uma empresa que pertence ao Grupo Volkswagen, fundada em 1937, em Wolfsburgo, na Alemanha. O Grupo Volkswagen detém as marcas Audi, Bentley, Bugatti, Ducati, Lamborghini, Seat, Porsche, Skoda, MAN e Volkswagen Caminhões, e Scania e é considerada a maior fabricante de automóveis do mundo. A história da Volkswagen32 no Brasil teve início em 1953, em São Paulo. O portfólio da marca conta com 22 modelos de carros distribuídos atualmente no Brasil: Golf, Voyage, Saveiro, Fox, SpaceFox, Crossfox, Passat, Passat Variant, Passat CC, Sharan, Touareg, Tiguan, Gol, Gol G6, Jetta, Amarok, Up e New Beetle. 32 http://www.vw.com.br/pt/institucional.html 51 O primeiro modelo de carro produzido pela companhia alemã foi o Volkswagen Sedan (Fusca), também conhecido como Beetle nos Estados Unidos. De início, o motor traseiro e a forma arredondada causaram estranhamento nos consumidores, no entanto a Volkswagen investiu no marketing e soube capitalizar o maior diferencial do Fusca, a resistência. A reputação de ‘indestrutível’ se disseminou rapidamente e em pouco tempo o Fusca se tornou o carro mais vendido no mundo. O Volkswagen Sedan foi produzido por 65 anos, de 1938 a 2003. A Volkswagen apostou em uma reedição do Fusca, o New Beetle, em 1998. O New Beetle manteve o design do modelo original que tornou o Fusca um ícone do mercado automotivo. O modelo deixou de ser produzido em 2010, época em que a Volkswagen anunciou o ‘novo Fusca’, Volkswagen Fusca (A5), como seu sucessor a partir do ano de 2011. O modelo de 2013 do ‘novo Fusca’ é inspirado no modelo original do Fusca, e mantém tanto detalhes internos quanto sua silhueta, que lembra o carro original da Volkswagen. No entanto, o novo modelo, além de possuir alta tecnologia, é mais esportivo e ‘descolado’. Mais que um carro, o Fusca é um ícone da cultura e da indústria automobilística brasileira. Para a campanha de lançamento do Novo Fusca 2013, a Volkswagen apostou na tentativa de resgatar a imagem do Fusca como ícone e patrimônio emocional dos brasileiros, com a campanha intitulada Brasil 70. A proposta é levar o novo Fusca para a década de 1970, na qual o Fusca era o carro mais popular do Brasil. A agência responsável pelo comercial é a AlmapBBDO33, sob direção geral de criação dos premiados publicitários Marcello Serpa e Luiz Sanches. Já a produção do comercial é assinada pela produtora de filmes e conteúdo publicitário, ParanoidBR34. Para tanto, foi realizada uma reconstituição de época do Viaduto do Chá 35, localizado em São Paulo, nos anos 1970. O piso atualmente liso do Viaduto, composto na época por pedras portuguesas e mapas do estado de São Paulo foi reconstruído 33 A AlmapBBDO é uma agência de publicidade brasileira fundada em 1954, sob o nome de Alcântara Machado Publicidade - Almap. A Almap passou a dominar-se AlmapBBDO em 1988 após venda de ações para a rede de agências BBDO, fusão entre Barton, Durstine & Osborn e Batten Co. 34 http://www.paranoidbr.com/ 35 O Viaduto do Chá foi inaugurado em 1892 e é o primeiro viaduto da cidade de São Paulo. É localizado no Vale do Anhangabaú, na zona central de São Paulo. 52 digitalmente. Entretanto, os carros e ônibus utilizados no comercial são originais da década de 1970. O filme de 45’ segundos, intitulado Brasil 70, inicia com imagens aéreas do Viaduto do Chá, à medida que mostra pedestres curiosos aproximando-se do carro. Para contextualizar a época, é mostrado um outdoor anunciando um modelo de rádio toca-fitas “Grave bem. AM. FM. Cassete. Os personagens estão caracterizados com roupas que remetem ao movimento hippie36, caraterístico da época. No filme, também aparecem personagens negros com cabelo black power (força negra), movimento afro que ganhou destaque na década. Nesse momento, o apresentador Cazé Peçanha se aproxima dos curiosos e anuncia: “estamos aqui nos anos 70 pra saber a opinião do público sobre o Fusca 2013”, sendo indagado por uma pedestre: “2013? Então o mundo não acaba no ano 2000?”. O apresentador segue informando as novas características presentes no carro, como “GPS touchscreen, bluetooth, ABS, EBD, ESP”, sendo questionado por um pedestre: “tem rádio AM?”. Os curiosos demonstram não entender a linguagem do apresentador ao discursar sobre os recursos tecnológicos do carro e não acreditar no veículo que lhes está sendo apresentado, como demonstrado por um dos pedestres, que questiona “pousou aqui?”. A trilha sonora é composta pela música País Tropical37, do cantor e compositor brasileiro Jorge Ben Jor, canção de samba-rock que fez muito sucesso nos anos 1970, marcando a época. A influência do rock também fica clara quando o apresentador comenta que o carro “tem farol de led”, e um dos pedestres comenta “curto muito Led”, referindo-se à banda de grande influência na época, Led Zeppelin, demonstrando a única referência da palavra “led” que seria possível na época. A tomada seguinte mostra o ator e humorista brasileiro Mussum (1941-1994), carismático ícone dos anos 1970 que obteve notoriedade ao fazer parte do grupo Os 36 O movimento hippie teve início nos anos 1960, mas só ganhou popularidade no Brasil e outros países nos anos 1970. Além do comportamento coletivo contracultura, a frase “paz e amor”, o amor livre e vestimentas largas com aspecto velho ou cores que fazem apologia ao psicodélico, calças boca-de-sino e camisas floridas são marcas dos hippies. A predileção pelo gênero rock e rock psicodélico como Pink Floyd, Led Zeppelin, The Beatles, Janis Joplin, etc também é uma forte característica do movimento, entre outros. A Kombi, automóvel fabricado pela Volkswagen, se tornou um símbolo do movimento hippie. 37 Canção composta em 1969 pelo cantor de MPB e samba-rock, Jorge Ben Jor. Se tornou o maior sucesso da carreira do cantor, recebendo diversas versões de outros cantores. 53 Trapalhões38. O personagem de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, popularizou-se por utilizar gírias e expressões características do personagem: como forévis, cacíldis, coraçãozis. A participação do Mussum no comercial é realizada mediante pós-produção, que realizou a reconstituição digital do personagem. Nesse momento, Mussum vê o Novo Fusca e exclama: “Cacilds, é o Fusquis”. O narrador encerra o comercial com a sentença “Fusca 2013, perfeito para o Brasil de 2013”. Figura 9 – Montagem de Frames do comercial Brasil 70 Volkswagen Fonte: AlmapBBDO39 38 Programa humorístico brasileiro estrelado pelos integrantes Didi Mocó (Renato Aragão), Dedé Santana, Mussum e Zacarias. O grupo de atores fez sucesso desde a década de 1960, obtendo seu auge nos anos 1970 e 1980. 39 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QpC8BsyjEC0> Acesso em: 15 nov. 2016 54 O filtro em tom sépia, é utilizado durante o comercial com o intuito de remeter ao passado. O filtro está presente desde o início do vídeo até os 40 segundos do filme, momento em que é apresentada uma comparação entre o Fusca original e o Novo Fusca. A tomada mostra o Fusca em movimento, sendo ultrapassado rapidamente pelo Novo Fusca, que surge por trás do modelo original. Nesse momento, o filtro em tom sépia desaparece, marcando a transição do tempo. O narrador anuncia a volta do carro e assina o comercial: “O carro voltou. Volkswagen, O Carro. Volkswagen é Das Auto”. A escolha de Mussum, considerado um ícone dos anos 70, reforça o link com passado. A Volkswagen lançou ações de mídia digital como parte integrante da campanha publicitária do Novo Fusca. A participação do Mussum atrai a atenção pela participação do personagem em peças de mídia divulgadas nas redes sociais e em diversos portais, destacando a característica de falar do humorista: "Olha quem voltousis!". Em seu site oficial, a Volkswagen anunciou que a campanha digital do Novo Fusca com Mussum impactou 28 milhões de pessoas em um único dia.40 Figura 10 – Montagem com peças da campanha digital do Novo Fusca com Mussum Fonte: Imagem elaborada pela autora41 40 Disponível em: <http://www.vwbr.com.br/ImprensaVW/Release.aspx?id=4df37da3-ae7c-4aad-9cd3e243b33f63b2> Acesso em: 15 nov. 2016 41 Disponível em: < http://www.vwbr.com.br/ImprensaVW/Release.aspx?id=4df37da3-ae7c-4aad9cd3-e243b33f63b2> Acesso em: 15 nov. 2016 55 A campanha Brasil 70 cria uma dimensão de viagem no tempo, em que o público é apresentado ao carro do futuro. O aspecto retrô da estratégia do Novo Fusca é baseado na relação afetiva entre o público e o modelo clássico do produto. A reconstrução de época dos anos 1970, assim como os elementos utilizados no vídeo, evidenciam a utilização do apelo nostálgico no comercial. A lembrança da marca Fusca provoca o saudosismo e mostra-se uma forte influenciadora ao despertar o desejo antigo pelo modelo contemporâneo, fato que influenciou o mercado brasileiro a lançar o produto sob o nome de Novo Fusca ao invés de New Beatle. As conexões criadas entre o modelo original e o novo modelo mostram-se determinantes no sucesso da campanha pelo sentido afetivo, ao elevar a atenção dos brasileiros para o lançamento de um novo produto da marca histórica Fusca. No ano de 2013, além do comercial Brasil 70, o ator Mussum foi homenageado com o lançamento de uma linha de cervejas artesanais inspirada no personagem. A linha de cervejas artesanais é composta pelas cervejas: Cacilds, Ditriguis, Birits e a Edição Especial Limitada Biritis Sem Filtris™. 56 Figura 11– Linha de cervejas artesanais Mussum – Brassaria Ampolis Fonte: Cerveja Store42 A marca também lançou a linha de cervejas na versão em lata. A cerveja Forévis, é uma edição especial disponibilizada apenas nessa versão. 42 Disponível em: <http://www.cervejastore.com.br/fotos/grande/7638fg1/pack-cervejas-do-mussum-c4-itens.jpg> Acesso em: 15 nov. 2016 57 Figura 12 – Linha de cervejas artesanais Mussum – Brassaria Ampolis Fonte: Cervejaria Brassaria Anápolis 43 A relevância do personagem Mussum atualmente também pode ser observada nas redes sociais, como o Facebook. A fanpage Mussum Forévis, conta com mais de 2,5 milhões de fãs, que acompanham postagens humorísticas relacionadas, ou não, com o personagem. Figura 13 – Fanpage humorística Mussum Forévis Fonte: Fanpage Mussum Forévis44 43 44 Disponível em: <http://www.brassariaampolis.com.br/forvis/> Acesso em: 15 nov. 2016 Disponível em: <https://www.facebook.com/mussumforeviss> Acesso em: 15 nov. 2016 58 4.1.2 Netflix: a homenagem aos anos 1980 A Netflix45 é uma provedora via streaming46 norte-americana de filmes e séries para a televisão que revolucionou a maneira de assistir a filmes e séries. A empresa foi fundada em 1997, e iniciou como um serviço de entrega de DVDs pelo correio. Em 2007, a Netflix iniciou o serviço de transmissão online de seu catálogo de filmes e séries, permitindo aos assinantes a possibilidade de assistir ao conteúdo disponibilizado através da plataforma digital. Atualmente, a empresa conta com mais de 80 milhões de assinantes e está presente em mais de 190 países, consolidandose como a empresa líder no serviço de conteúdo digital. Desde 2013, a empresa aposta na produção de conteúdo original, que vem sendo recebida positivamente pelos usuários do serviço. As produções originais Netflix receberam, até o presente momento, 414 indicações nas maiores premiações da indústria, incluindo Emmy, Globo de Ouro, British Academy e Grammy Awards,47 tendo vencido 90 prêmios. Entre as séries de maior sucesso da Netflix, são citadas House of Cards, Orange is the New Black e Stranger Things. 4.1.2.1 Stranger Things Stranger Things é uma série americana de suspense, ficção científica e drama, distribuída pela Netflix. A primeira temporada da série, composta por 8 capítulos com média de 50 minutos de duração cada, foi disponibilizada no dia 15 de julho de 2016. A série se passa no ano de 1983, e conta a história de um garoto que desaparece misteriosamente na cidade de Hawkins, Indiana (Estados Unidos). Ao longo de oito episódios, a família e amigos tentam desvendar o sumiço, enquanto acontecimentos misteriosos continuam ocorrendo em diversas partes da cidade. O mistério é relacionado, posteriormente, com a descoberta de experiências secretas conduzidas pelo governo do país em uma base militar na cidade. O ponto alto da série acontece após o surgimento de Eleven, uma personagem que possui poderes especiais. 45 Disponível em: <https://media.netflix.com/pt_br/about-netflix > Acesso em 05 nov. 2016 O streaming, ou fluxo de mídia, é uma maneira de distribuir dados multimídia através da internet. 47 Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_awards_and_nominations_received_by_Netflix> Acesso em 05 nov. 2016 46 59 Figura 14 – Pôster promocional da primeira temporada da série Stranger Things - Netflix Fonte: IMDb48 48 Internet Movie Database, IMDb, é a mais popular base de dados de filmes na internet. Disponível em: <http://www.imdb.com/title/tt4574334/mediaviewer/rm2171737088> Acesso em: 10 nov. 2016 60 A série é altamente ambientada e tematizada por elementos culturais da década de 1980, apresentando um baú contemporâneo de cultura pop da década, por meio de referências cinematográficas, estéticas e musicais. Os criadores da série, irmãos Matt e Ross Duffer, contaram em entrevista ao site de entretenimento A.V. Club49, que exibiram um vídeo com imagens de 26 filmes para vender o projeto para a Netflix. Segundo eles, o trailer continha trechos de clássicos de filmes de terror, como Poltergeist (1982), A Hora do Pesadelo (1984), Tubarão (1975), Halloween (1978), entre outros. Os irmãos Duffer acrescentam que as principais inspirações na criação da série foram os mestres do terror e ficção científica: Steven Spielberg e Stephen King. Há diversas referências claras às obras dos ícones no decorrer da trama. A tipografia utilizada na abertura dos capítulos de Stranger Things e no logotipo da série é a ITC Benguiat50, criada em 1977 pelo designer Edward Benguiat, utilizada em diversas obras dos anos 1980. O logotipo de Stranger Things criado com a fonte serifada, característico da época, soa familiar, revelando a propriedade transcendental do design através do poder histórico da tipografia. A escolha se deu a partir de referências de livros do escritor de horror e fantasia, Stephen King. Figura 15 – Montagem com capas de livros de Stephen King Fonte: The Telegraph51 49 Disponível em: <http://hiddenremote.com/2016/08/01/a-guide-to-all-the-stephen-king-references-instranger-things/> Acesso em: 16 nov. 2016 50 Disponível em: < http://www.myfonts.com/fonts/itc/benguiat/> Acesso em: 10 nov. 2016 51 Disponível em: <http://www.telegraph.co.uk/on-demand/0/stranger-things-meet-the-design-geniusbehind-tvs-most-talked-ab/> Acesso em: 10 nov. 2016 61 A lista de referências utilizadas na série é grande. Os usuários da rede social de filmes brasileira, o Filmow, realizaram uma compilação contendo as obras homenageadas e referências diretas e indiretas que aparecem na série, totalizando, até o momento, 59 filmes. A figura a seguir apresenta uma captura de tela da rede social, com parte da listagem das referências encontradas na série. Figura 16 – Captura de tela do site Filmow com a listagem de referências que aparecem na série Stranger Things Fonte: Filmow52 A sensação de imersão na década pode ser percebida desde os segundos inicias até ao decorrer de toda a trama. A utilização de elementos constantemente presentes em obras dos anos 1980, como experimentos militares secretos, walkietalkies, jogos de RPG, personalidades da época, realidades paralelas, préadolescentes de bicicleta, estão presentes na obra. 52 Disponível em: < https://filmow.com/listas/outras-coisas-estranhas-as-referencias-e-homenagensde-stranger-things-l84802/> Acesso em: 10 nov. 2016 62 A figura a seguir apresenta uma montagem com frames de um vídeo criado por um fã da série que exibe a comparação entre cenas clássicas que foram refeitas na série. O vídeo possui até o presente momento mais de 1,3 milhões de acessos. Figura 17 – Montagem com frames contendo algumas referências à filmes clássicos dos anos 1980 presentes na série Stranger Things Fonte: Imagem elaborada pela autora53 53: Disponível em: <https://vimeo.com/175929311> Acesso em: 10 nov. 2016 63 Além disso, a imagem a seguir mostra fitas VHS54 produzidas por fãs da série e evidencia a cultura participativa na internet por meio do processo de garimpagem que esse tipo de conteúdo instiga e o entusiasmo dos espectadores ao detectar e reviver as lembranças nostálgicas proporcionadas pela obra. Figura 18 – Montagem com fitas VHS produzidas por fãs da série Stranger Things Fonte: Imagem elaborada pela autora55 Do mesmo modo, as referências à década de 1980 estão presentes em toda a trilha sonora, que inclui sucessos como Should I Stay or Should I Go, da banda The Clash (1982) e outros hits de grupos musicais que fizeram sucesso durante a época, como Joy Division, New Order, entre outros. A Netflix criou uma playlist oficial56 contendo todas as canções presentes na série na plataforma de músicas via streaming, Spotify. 54 Tipo de mídia de gravação de vídeo que possuiu pico de popularidade nas décadas de 1980 e 1990. 55: Disponível em: < https://www.instagram.com/p/BIHiu5NgcKn/?taken-by=iamsteelberg> Acesso em: 10 nov. 2016 56 Disponível em: <https://open.spotify.com/user/netflixmusic/playlist/2X6z5kU0wMnKoar8i1RN6B> Acesso em: 10 nov. 2016 64 O elenco infantil, faz referência à elencos infantis de clássicos, como: ET - O Extraterrestre (1982), Os Goonies (1985), Conta Comigo (1986) e Super 8 (trama ambientada em 1979, lançado em 2011). Há uma homenagem a quatro obras de Steven Spielberg: ET – O Extraterrestre (1982), Tubarão (1975), Poltergeist (1982) e Os Goonies (1985). A nostalgia proporcionada por Steven Spielberg é evidente, posto que apenas no ano de 2015 foram realizados dois remakes de clássicos do diretor, a nova versão de Poltergeist (1982) e a refilmagem de Jurassic Park (1993), – incentivando os cinéfilos a irem ao cinema para reviver a nostalgia que seus filmes proporcionam. A nostalgia Spielberguiana foi mencionada pelo jornal britânico The Guardian57, que define o diretor como um gerador de nostalgia: A nostalgia Spielberguiana no marketing se mostra funcional, pois antes mesmo da estreia, já se pode observar que a produção renderia bons frutos ao levar os expectadores em um turbilhão de nostalgia de Spielberg (THE GUARDIAN, 2015, tradução nossa). Seja por razões mercadológicas, por nostalgia ou crise de criativa de material autoral, os últimos anos do mercado audiovisual têm sido marcados por diversas refilmagens e homenagens aos clássicos dos anos 80, e 90, principalmente. A fórmula oferece segurança à indústria cinematográfica ao apresentar um modelo que já obteve sucesso no passado e mantém uma legião de fãs e adoradores desses clássicos. Dessa forma, é fazer com que os apreciadores das obras originais assistam por curiosidade, à medida que as obras conquistam novos fãs, que tiveram ou não contato com a obra original. 57 Disponível em: https://www.theguardian.com/film/2015/jun/29/jurassic-park-michael-crichton-microdreamworks-adaptation-steven-spielberg> Acesso em: 09 nov. 2016 65 4.1.2.2 Boneca da Xuxa e o mistério dos anos 1980 Para divulgar a série Stranger Things no Brasil, a Netflix divulgou um vídeo promocional com a boneca da Xuxa, conhecida pelo epíteto de ‘a rainha dos baixinhos’. Nos anos 1980, a apresentadora, cantora e atriz Maria da Graça "Xuxa" Meneghel, a Xuxa, consagrou-se como um ícone que se ramificou em todo o Brasil e América Latina. Somente entre os anos de 1986 e 1992, alcançou o número de 18 milhões de discos vendidos. Além disso, apresentou programas infantis por décadas, estrelou filmes e lançou diversos produtos relacionados à celebridade, incluindo uma boneca. A boneca da Xuxa foi lançada no final da década de 1980, época em que uma lenda urbana surgiu em torno dela. Naquela época, espalhava-se a lenda de que a boneca da personagem era possuída e cometia crimes misteriosos. Xuxa também era associada a outras lendas urbanas, como a de que se poderia ouvir mensagens satânicas ao tocar seus discos ao contrário, além de outros boatos que atualmente são satirizados pela apresentadora. A Netflix resgatou ‘a lenda da boneca demoníaca da Xuxa’ na ação promocional de Stranger Things no Brasil. A escolha de uma figura icônica da década de 1980 é uma clara tentativa de provocar a nostalgia oitentista nos espectadores. O vídeo promocional rapidamente viralizou pelas redes sociais, com mensagens repletas de nostalgia e comentários satirizando a lenda urbana gerada em torno da boneca. A ação da Netflix para promover a série no Brasil, funciona como peça nostálgica e vai de acordo com o que a série promove. O vídeo inicia com um quarto infantil repleto de elementos típicos da década representada, como o papel de parede, um rádio de pilha, um aparelho de vinil, uma televisão retrô, pôsteres de filmes famosos na época, entre outros brinquedos infantis retrô. O suspense é garantido pela trilha sonora crescente ao fundo, elevando-se ao ápice à medida em que a câmera se aproxima da boneca. Nesse momento, os olhos da boneca acendem em uma luz vermelha e a boneca, dublada por Xuxa, chama pela criatura do Mundo Invertido da série, “Demogorgon”. Em seguida, exibe-se a mensagem “Nos anos 80, só bastava acreditar”, referindo-se à lenda urbana criada em torno da boneca, e o vídeo é finalizado com o 66 logo da série exibido em uma televisão retrô. Xuxa anuncia, então, que todos os episódios da série já estão disponíveis na Netflix. Figura 19 – Montagem com frames do vídeo promocional de Stranger Things no Brasil Fonte: Netflix Brasil58 O resgate de elementos de filmes clássicos de terror, suspense e ficção científica dos anos 80 é apontado como o principal fator do sucesso da série Stranger Things. Uma breve busca no Google59, evidencia a relação entre a série e a nostalgia, ao apresentar mais de 1,1 milhão de resultados para os termos “stranger things; nostalgia”. 58: 59 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=cBNlhp7fjwc> Acesso em: 10 nov. 2016 Maior buscador online de pesquisas, 67 17 dias após o lançamento do produto na Netflix, Stranger Things alcançou em média 8,2 milhões60 de espectadores. A recepção do público e aprovação da crítica especializada foi tão positiva, que no mês seguinte do lançamento, em 31 e agosto de 2016, a empresa confirmou a produção da segunda temporada da série, que contará com 9 episódios, com previsão de lançamento para 2017. A série cativou o público instantaneamente ao proporcionar uma infinidade de memórias nostálgicas capazes de provocar uma onda satisfatória de saudosismo proporcionada pela imersão na década de 1980. O público encontra na narrativa uma sensação constante de já haver visto em algum lugar o que está sendo apresentado, mesmo que não esteja familiarizado com as referências presentes na obra. Dessa forma, Stranger Things mostra o antigo de uma maneira nova e desperta no público, que encontra na série uma maneira de vivenciar a era através de sua imersão nostálgica, uma resposta positiva e intensa baseada na memória afetiva e no culto à nostalgia. 60 Disponível em: <https://www.theguardian.com/tv-and-radio/2016/aug/05/netflix-hit-stranger-thingshighlights-tvs-trend-for-nostalgia> Acesso em: 20 nov. 2016 68 4.1.3 Parmalat: a volta dos anos 1990 Porque nós somos mamíferos e crescemos tomando leite. A Parmalat é uma empresa italiana do segmento alimentício da indústria de laticínios. Fundada em 1961, por Calisto Tanzi, na cidade de Collecchio, na província de Parma, a marca obteve notoriedade por patrocinar grandes equipes de futebol e a equipe Brabham de Fórmula 1. A justiça italiana declarou a falência da marca em 2003, após escândalos e uma crise financeira que a retirou do mercado. A Parmalat voltou ao mercado brasileiro no ano passado, em 2015, após recuperação judicial, apostando na releitura da tradicional campanha Mamíferos. A Parmalat teve seu ponto alto no Brasil em 1996, com a campanha Mamíferos, sob o slogan: Parmalat, porque nós somos mamíferos. Criada pela Agência DM9DDB e idealizada pelos publicitários Erh Ray, na época diretor criativo (de 1994 a 2002), e Nizan Guanaes, a campanha consistia em apresentar crianças da primeira idade, vestidas com roupas de pelúcia, representando mascotes. Na primeira fase da campanha, foram oferecidos 12 modelos de mascotes61, e posteriormente outros 9 modelos de espécies de mamíferos 62 foram acrescentados. A promoção pedia que os consumidores juntassem 20 códigos de barras de produtos Parmalat, somados a R$ 8,00. Feito isso, os clientes poderiam realizar a troca por uma das dezenas de pelúcias da série Mamíferos, que vinham segurando uma caixinha de leite Parmalat de pelúcia. 61 Os modelos de mascotes oferecidos na primeira fase da campanha, são: vaca, cachorro, porco, gato, macaco, ovelha, leão, leopardo, elefante, rinoceronte, foca e urso panda. 62 Nove novos modelos de espécies acrescentadas: girafa, leão-marinho, gambá, coelho, gorila, búfalo, zebra, urso polar e onça, cujos modelos carregavam uma caixa de leite Parmalat, também de pelúcia. 69 Figura 20 – Montagem de anúncios da promoção Mamíferos Parmalat – Versão 199663 Fonte: Propaganda em Revista Logo após seu lançamento, a campanha64 tornou-se febre nacional. A produção inicial contava com 300 mil pelúcias, no entanto, o sucesso da ação fez com que a Parmalat aumentasse a produção para 15 milhões de unidades distribuídas até o final da campanha. No dia 05 de maio de 1998, a campanha bateu recorde de 500 mil pelúcias distribuídas, sendo considerada a maior troca de ‘brindes’ já realizada no país. Durante a veiculação da campanha, foram distribuídos cerca de 17 milhões de pelúcias, totalizando 55% do market share65 do segmento. A promoção serviu como forma de fidelização da marca. A ação promocional aumentou o faturamento da Parmalat, que lucrava anualmente R$ 38 milhões, passou a faturar a quantia de R$ Montagem dos anúncios de revista da Promoção Mamíferos Parmalat. “Promoção Mamíferos de Pelúcia Parmalat” veiculado na Revista Nova, em janeiro de 1998; “A maior promoção do Reino Animal”, veiculado na Revista Cláudia, em dezembro de 2006. Disponíveis em: <http://www.propagandaemrevista.com.br/pesquisa/anunciante/parmalat/>. Acesso em: 01 nov. 2016 64 Dados retirados do site Propagandas Históricas. Disponível em: <http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/02/mamiferos-parmalat-1996.html > Acesso em: 10 out. 2006 65 O market share se refere à participação de mercado de uma empresa. Também desempenha um importante papel na avaliação das dificuldades e da força de uma empresa e da aceitação dos seus produtos. 63 70 1,87 bilhão, fazendo com que a marca se consolidasse como uma das três maiores empresas de produtos alimentícios do Brasil. (DA COSTA MACHADO, 2010). Figura 21 – Pelúcias da promoção Mamíferos Parmalat Fonte: Rebobine66 Figura 22 – Montagem com frames do comercial Mamíferos Parmalat – Versão 1996 Fonte: Propaganda Histórica67 66 Disponível em: <http://www.rebobine.com/objetos/colecoes/item/388-cole%C3%A7%C3%A3oparmalat-bichinhos-de-pel%C3%BAcia.html> Acesso em: 15 out. 2016 67 Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=mZOKGQZxH2k> Acesso em: 01 nov. 2016 71 4.1.3.1 Mamíferos Crescidos 2007 Em 2007, a Parmalat apostou na nostalgia ao recriar a campanha Mamíferos, visando evidenciar o crescimento saudável dos mamíferos da versão de 1996 e do público que também cresceu durante o período. Figura 23 – Anúncio de revista Mamíferos Parmalat crescidos – Versão 2007 Fonte: Propagandas Históricas68 O filme Mamíferos Crescidos, de 2007, é um remake, também conhecido como refilmagem, do comercial de 1996. Segundo DRUXMAN (apud CUNHA, 2015) existem três tipos de remakes: the disguised remake, the direct remake e the nonremake69. O disguised remake, é uma adaptação de caráter livre e não pretende ser associado ao seu material original. O direct remake, contém elementos que remetem à obra original, mas admite alterações até mesmo no título. Já o non-remake, utiliza o mesmo título da obra original, mas possui um enredo completamente novo. O 68 Imagem e comercial disponíveis em: <http://www.propagandashistoricas.com.br/2014/05/mamiferos-parmalat-crescidos-2007.html> Acesso em: 01 nov. 2016 69 O remake disfarçado, o remake direto e o não-remake. (tradução nossa) 72 comercial Mamíferos Crescidos utiliza o recurso de direct remake, pois visa ambientalizar o filme com elementos idênticos ao da obra original. O comercial consiste em apresentar os atores da versão original da campanha, dez anos depois, vestindo a fantasia correspondente ao mamífero utilizado na versão da campanha de 1996, visando provocar a sensação de nostalgia no público que cresceu nesse período e acompanhou a campanha. A campanha de evolução dos Mamíferos foi assinada pela Agência Africa, considerada uma das dez maiores agências de publicidade do Brasil 70, e foi fundada por Nizan Guanaes, co-criador da campanha original e idealizador da campanha Mamíferos Crescidos. Para criar uma atmosfera que remetesse à primeira campanha, manteve-se a melodia do jingle original, apenas com pequenas adaptações em três estrofes da letra. Na versão original, o jingle inicia com o seguinte trecho: “"O Elefante é fã de Parmalat / O Porco Cor de Rosa e o Macaco também são”. Já na versão de 2007, o trecho é adaptado para "O Elefante agora está grande / O Porco Cor de Rosa e o Macaco também estão.” O terceiro trecho que sofreu modificações foi “O Rinoceronte só quer Leite Parmalat”, tornando-se “O Rinoceronte espichou com Parmalat”. Todas as adaptações marcam a passagem de tempo. O restante do jingle não é alterado, e se mantém como na versão original. Figueiredo (2005, p. 111) diz que “jingles são peças cantadas compostas especialmente para a marca anunciante. Sua melodia costuma ser simples e cativante, fácil de ser repetida e cantarolada pelo ouvinte”. O jingle 71 da campanha apresenta, além das características acima citadas, o uso de rimas72, tornando-o ainda mais suscetível à fácil memorização. A mensagem musicada se tornou um ícone da publicidade brasileira, sendo cantado e reconhecido até os dias de hoje. A refilmagem do filme é composta por um cenário idêntico ao original, recriado com os mesmos elementos e cores presentes na versão original. O vídeo de 60 segundos, inicia com o já clássico jingle, - adaptado para a passagem de década - 70 Disponível em: <http://www.revistapropaganda.com.br/materia.aspx?m=595>. Acesso em: 04 nov. 2016 71 Mensagem publicitária em formato de áudio ou vídeo, de curta duração, elaborada com o intuito de ser lembrado com facilidade pelo público. 72 A rima consiste na repetição e coincidência sonora da última vogal tônica de um verso. 73 sendo tocado. No clipe, os mamíferos, agora adolescentes, tentam vestir as minúsculas fantasias da época em que eram crianças. Entre tomadas, é exibido ao telespectador cenas do clipe de 1996, cujos mamíferos adolescentes aparecem ao lado de sua versão infantil, imitando fielmente gestos e falas de quando eram crianças. Proporcionando a sensação nostálgica no telespectador, mediante comparação entre as duas versões. O jingle é interrompido pelo narrador, que anuncia a nova linha de leites Parmalat, agora sob a assinatura “Longa vida é Parmalat. Parmalat é vida longa.”. O termo “vida longa” presente no slogan reforça a justificativa de apresentar os mamíferos agora crescidos: “os mamíferos cresceram, a família de leites Parmalat também. Tem leite que faz bem para os ossos, para o intestino, para quem tem baixa tolerância à lactose. Todos em novas embalagens recicláveis. Longa vida é Parmalat, Parmalat é vida longa.”. Após isso, o jingle é repetido, enquanto exibem-se cenas dos mamíferos crescidos, intercaladas com cenas do vídeo de 1996. Entre tomadas73, alguns personagens apontam para uma tela que exibe cenas do comercial original e emitem frases como “sou eu” e “olha eu pequeninha”. A última cena do comercial é recriada exatamente como a cena do comercial original, na qual aparecem os mamíferos Gambá e Gato, proferindo a ilustre frase que encerrava o comercial original: “tomou?”. Na linguagem cinematográfica, o termo tomada, ou take, é entendido como “tudo que é registrado pela câmera desde o momento em que ela é ligada (REC) até o momento em que ela é desligada. Um mesmo plano pode ser filmado várias vezes, gerando, assim, várias tomadas.”. (GERBASE, 2012) 73 74 Figura 24 – Montagem com frames do comercial Mamíferos Parmalat Crescidos – Versão 2007 Fonte: Mamíferos Parmalat (YouTube)74 4.1.3.1 Mamíferos Parmalat 2015 A Parmalat está de volta, e os mamíferos também. A Parmalat apostou na premissa “A Parmalat está de volta, e os mamíferos também” para divulgar sua nova linha de produtos e reposicionar a marca no mercado. O sucesso da campanha não foi suficiente para sustentar a marca perante os escândalos e crises financeiras e de imagem que a Parmalat vinha protagonizando, causando o desaparecimento da marca do mercado brasileiro. Em 2015, o grupo francês Lactalis iniciou o processo de reestruturação da empresa, anunciando em maio do referido ano, o retorno da marca ao país, após adquirir fábricas e readquirir os direitos sobre a marca no Brasil. Após 20 anos do lançamento da primeira versão da campanha, a Parmalat apostou novamente nos Mamíferos, com o objetivo de relançar a marca no mercado 74 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4gsLhLFnr8Y> Acesso em: 04 nov. 2016 75 brasileiro e redefinir seu posicionamento. A Parmalat, agora em sua nova fase, apostou no resgate do vínculo emocional com o consumidor, anunciando uma nova versão da campanha Mamíferos como estratégia principal do retorno da marca ao país. Para além de um comercial de 30 segundos para TV e internet, a campanha de lançamento também é composta por ações nas redes sociais e nos pontos de venda, mídia impressa e online. Adequando-se a tecnologia, um aplicativo para dispositivos móveis que simula os mamíferos, chamado Mamificador, é disponibilizado ao público. Nele, o usuário carrega uma foto e o aplicativo o transforma em um dos mamíferos da campanha. A concepção da nova campanha ficou sob responsabilidade do publicitário Ehr Ray, que há 20 anos foi co-criador da campanha original. A agência de publicidade responsável pela nova versão da campanha Mamíferos é a BETC, fundada e presidida por Ehr Ray. Figura 25 – Captura de tela do site oficial anunciando o retorno da marca ao mercado brasileiro. Fonte: Mamíferos Parmalat75 Após o anúncio de retorno ao mercado brasileiro em 2015, apresentando novamente os Mamíferos, a empresa marcou sua volta com um filme de 30 segundos, sustentado pelo slogan “Todo mundo é fã de Parmalat". Na nova aposta da marca, além dos já conhecidos mamíferos presentes nas campanhas anteriores, são 75 http://mamiferosparmalat.com.br 76 apresentados ao público novos mascotes, agora de espécies típicas do Brasil, como o bicho-preguiça, lobo-guará, tamanduá, tatu e jaguatirica. Ray (2015), declarou que a Parmalat procurou o publicitário com o intuito de relançar a campanha de 1996, utilizando as mesmas imagens reeditadas. A proposta de relançamento foi refutada, contudo decidiu-se trabalhar em uma nova campanha baseada no conceito original, adaptada para o momento atual, mas mantendo a proposta original. Figura 26 – Montagem com frames do comercial Mamíferos Parmalat – Versão 2015 Fonte: Mamíferos Parmalat (YouTube)76 76 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TocdxWPMX94 Acesso em: 12 out. 2016 77 O jingle é novamente peça-chave e mantém, assim como nas versões anteriores, a mesma melodia, alterando apenas partes da letra de acordo com a versão repaginada. Assim como na versão original de 1996 do comercial, bem como na refilmagem de 2015, utiliza-se como enquadramento principal o plano médio, caracterizado por Gerbase (2012), quando “a câmera está a uma distância média do objeto, de modo que ele ocupa uma parte considerável do ambiente, mas ainda tem espaço à sua volta.”. O cenário e elementos presentes também permanecem iguais ao original. Os mamíferos fantasiados remetem ao comercial realizado 20 anos atrás, como pode ser observado através das figuras presentes no trabalho. O filme encerra com a marca registrada do comercial, “tomou?”. A ideia de apostar em uma nova versão da campanha foi corroborada através de uma pesquisa de mercado nas redes sociais, que apontava para a popularidade e associação da marca Parmalat à campanha Mamíferos. Ehr Ray, afirma “o objetivo é, em primeiro lugar, mostrar que a antiga Parmalat voltou e reativar o sentimento de confiança do consumidor”. A aposta da marca pela terceira vez na campanha evidencia o apelo nostálgico que a Parmalat busca provocar no público. O imenso sucesso dos Mamíferos Parmalat fez com que a marca recriasse posteriormente a campanha, em meio à crise que sofria, visando apagar a imagem ruim perante o mercado. 78 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS “Aquele que controla o passado, controla o futuro. Aquele que controla o presente, controla o passado” 1984 - George Orwell Esta monografia buscou responder à seguinte questão: como as marcas utilizam o marketing nostálgico como estratégia de comunicação? Para responde-la, foi importante compreender a nostalgia no contexto de consumo, dada pela preferência de consumidores por adquirir produtos e serviços que remetessem a épocas passadas. Soube-se que o interesse em reviver o passado, dá-se na relação entre memória e o presente, expressa pelo fenômeno psicológico da nostalgia. Entendeu-se também que esta relação é intrínseca à percepção de qualquer ser humano. Para tanto, foi apresentado o entendimento de memória coletiva que se sustenta na constatação de que a memória de um indivíduo não é apenas individual, visto que as recordações dos sujeitos são construídas socialmente enquanto integrantes de grupos sociais. “A memória coletiva atuaria como uma reconstrução do passado, adaptando a imagem dos fatos antigos às crenças e necessidades do presente” (SCHWARTZ apud DA COSTA, 2014, p. 3). Constatou-se que a nostalgia possui efeito positivo nos indivíduos, e isso deve-se as memórias nostálgicas serem usualmente memórias felizes. Ao conectarse com o passado, os indivíduos relatam benefícios psicológicos, como o aumento de bom humor e autoestima, redução de estresse, sensação de conexão social e sentimentos positivos e esperançosos relacionados ao futuro. De certa forma, a nostalgia pode ser comparada como um mecanismo de defesa psicológico, que tira o foco dos indivíduos de emoções negativas, posto que o elo com o passado é realizado através da lembrança de épocas mais prazerosas, ainda que ‘os bons tempos’ não tenham sido, de fato, tão bons. Nas análises realizadas, observou-se que a publicidade utiliza os valores simbólicos e o imaginário coletivo de determinada época para acessar a subjetividade dos consumidores. 79 O primeiro item analisado ‘Volkswagen: o Novo Fusca direto dos anos 1970’, apresenta o Novo Fusca em um comercial pautado pelo estilo retrô, retratado em uma dimensão de viagem no tempo, através da reconstrução de época da década de 1970. A rememoração e o patrimônio histórico e emocional da marca Fusca pode evidenciar a relação afetiva entre o consumidor brasileiro com o modelo popularmente visto como clássico. A estratégia de apresentar o Novo Fusca ‘direto dos anos 1970’, trazendo consigo as boas memorias dessa época, se deve à construção de conexões emocionais entre o modelo original e o contemporâneo, que mostraram-se determinantes no sucesso da campanha, pelo sentido afetivo. A utilização de diversos elementos característicos da década de 1970, como objetos vintage, demostraram-se influenciadores do despertar do ‘desejo antigo’ para o modelo contemporâneo, chamando atenção dos consumidores com o apelo nostálgico no comercial. O segundo item analisado, “Netflix: a homenagem aos anos 1980’, apresenta a série Stranger Things como um baú contemporâneo de cultura pop da década de 1980. A série foi ambientada e tematizada com dezenas de referências cinematográficas e elementos culturais, estéticos e musicais da década, além do resgate de elementos e cenas de filmes clássicos de terror, suspense e ficção científica dos anos 1980. A imersão nostálgica foi apontada como o principal fator do sucesso da série Stranger Things, que rapidamente consagrou-se como um dos produtos de maior sucesso da Netflix. Stranger Things desperta no público resposta positiva e intensa, baseada na memória afetiva e no culto à nostalgia ao mostrar o antigo de uma maneira nova. Já o terceiro item analisado, “Parmalat: a volta dos anos 1990”, evidenciou o apelo nostálgico que a Parmalat buscou provocar no público, ao relançar sua campanha de maior sucesso, Mamíferos Parmalat, vinculada originalmente em 1996, com nova vinculação nos anos de 2007 e 2015. As campanhas de 2007 e 2015 mantiveram o mesmo cenário, estilos de fantasias e elementos presentes na campanha de 1996, assim como o histórico jingle, que manteve a mesma melodia nas três versões da campanha, possuindo alterações apenas em partes da letra, de acordo com a versão repaginada. 80 Em 2007, sob o nome Mamíferos Crescidos, a Parmalat resgatou os atores da versão de 1996, já crescidos, visando evidenciar o crescimento saudável das crianças, provocando a sensação de nostalgia no público que também cresceu durante o período. Já em 2015, após escândalos de imagem e crises financeiras, a Parmalat apostou no resgate do vínculo emocional com o consumidor como estratégia principal para anunciar o retorno da marca ao país, anunciando uma nova versão da campanha Mamíferos sob a premissa ‘A Parmalat está de volta, e os mamíferos também’, após 20 anos do lançamento da campanha original. Os exemplos apresentados demonstraram formas em que o marketing nostálgico é utilizado pela publicidade como uma maneira de conectar emocionalmente marcas ao passado dos consumidores. A nostalgia permite reviver memórias criando associações positivas às marcas, que proporcionam, através do apelo nostálgico, a evocação de boas memórias de um determinado momento do passado. Sua utilização como ferramenta em campanhas publicitárias, demonstrou favorecer a aceitação do que é apresentado aos consumidores, pela ativação do desejo de reviver lembranças através do consumo simbólico do passado. As táticas centradas na nostalgia fortalecem a publicidade do século XXI, a conecta com diversas áreas do conhecimento e, contribui na sua relação com a sociedade, favorecendo seu desenvolvimento social. Entende-se, que a publicidade transmite os benefícios de marcas e produtos anunciados através de seu cunho emocional e psicológico, evoca memórias e recordações dos ‘bons tempos’, e ilustra a valorização contemporânea do passado pelo consumidor hipermoderno, que não mais se contenta com a mera funcionalidade dos bens de consumo e busca a conexão emocional e os valores intangíveis dos mesmos. 81 REFERÊNCIAS AMERICAN MARKETING ASSOCIATION et al. The American Marketing Association releases new definition for marketing. American Marketing Association Press Release, p. 1-3, 2008. ANDERSON, Chris; A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio De Janeiro, RJ: Elsevier, 2006. BARBOSA, Isabel Cristina Pinto. Modelo de Implementação de uma Estratégia de Retro Branding. 2013 BAKER, Stacey Menzel; KENNEDY, Patricia F. Death by nostalgia: A diagnosis of context-specific cases. Advances in consumer research, v. 21, n. 1, p. 169-174, 1994. BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Trad. Carlos Alberto Medeiros, Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2008 BERGSON, Henri. Matéria e memória. Trad. Paulo Neves. 2 a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. BOURRIAUD, Nicolas. Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo. São Paulo: Martins, 2009. BROWN, Stephen. Retro-marketing: yesterday's tomorrows, today!. Marketing Intelligence & Planning, v. 17, n. 7, p. 363-376, 1999. _______________. The retromarketing revolution: l'imagination au pouvoir. International Journal of Management Reviews, v. 3, n. 4, p. 303-320, 2001. BROWN, Stephen; KOZINETS, Robert V.; SHERRY JR, John F. Teaching old brands new tricks: Retro branding and the revival of brand meaning. Journal of Marketing, v. 67, n. 3, p. 19-33, 2003. CARPANEZ, Juliana; FUJITA, Gabriela. UOL. Cópia original: o lugar da criatividade em uma nostalgia obcecada por dados como fórmula de sucesso. 2016. Disponível em: <http://tab.uol.com.br/nostalgia#copia-original> Acesso em: 14 ago. 2016 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. In: A Sociedade em rede. São Paulo : Paz e Terra, 2000. v. 1. COBRA, Marcos. Marketing de Serviços Financeiros. São Paulo: Cobra Editora e Marketing, 2000. ________, Marcos; BREZZO, Roberto. O novo marketing. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. CUNHA, Bruno Miguel Silva. Slashers: do original ao remake. 2015. Tese de Doutorado. 82 DA COSTA, Alessandra de Sá Mello. História, Memória e Tradição no Discurso Publicitário. 2014. DA COSTA MACHADO, Maria Berenice. Tem leite para os mamíferos? Reflexões sobre marca e publicidade na cadeia produtiva do leite. Signos do Consumo, v. 2, n. 1, p. 6-20, 2010. FARRIS, Roy; CHONG, Frank; DANNING, Darlene. Generation Y: purchasing power and implications for marketing. Academy of Marketing Studies Journal, v. 6, n. 12, p. 89, 2002. FRIEDMAN, Lauren. Why Nostalgia Marketing Works So Well With Millennials, And How Your Brand Can Benefit. Forbes. 2016. Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/laurenfriedman/2016/08/02/why-nostalgia-marketingworks-so-well-with-millennials-and-how-your-brand-can-benefit/#57ed593b14bf> Acesso em: 17 ago. 2016 GALVÃO, Danielle Pini. Os nerds ganham poder e invadem a TV. Intr@ ciência. Revista Científica, p. 34-48, 2009. GAMBARO, Daniel. Bourdieu, Baudrillard e Bauman: O Consumo Como Estratégia de Distinção. Novos Olhares, v. 1, n. 1, p. 19-26, 2012. GAZZANIGA, Michael S.; HEATHERTON, Todd F. Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento. Artmed, 2005. GERBASE, Carlos. Cinema: primeiro filme: descobrindo, fazendo, pensando. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2012. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, v. 5, p. 61, 2002. GOBÉ, Marc. A emoção das marcas: conectando marcas às pessoas. Rio de Janeiro: Campus, 2002. GONÇALVEZ, M. C. Publicidade e Propaganda. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009. GUFFEY, Elizabeth E. Retro: The culture of revival. Reaktion Books, 2006. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. trad. Beatriz Sidou. São Paulo, 2006. HAVLENA, William J.; HOLAK, Susan L. The good old days: observations on nostalgia and its role in consumer behavior. Advances in consumer research, v. 18, n. 1, p. 323-329, 1991. HERNANDEZ, Júlia Nogueira. A nostalgia enquanto tendência de comportamento entre os jovens da geração Y. 2011. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/37563>. Acesso em: 21 out. 2016 HOLAK, Susan L.; HAVLENA, William J. Nostalgia: An Exploratory Study of Themes and Emotions in the Nostalgic Experience. Advances in consumer research, v. 19, n. 1, p. 380-387, 1992. 83 HOLBROOK, Morris B.; SCHINDLER, Robert M. Echoes of the dear departed past: Some work in progress on nostalgia. Advances in consumer research, v. 18, n. 1, p. 330-333, 1991. HOLBROOK, Morris B. Nostalgia and consumption preferences: Some emerging patterns of consumer tastes. Journal of Consumer research, p. 245-256, 1993. _____________. Nostalgic bonding: Exploring the role of nostalgia in the consumption experience. Journal of Consumer Behaviour, v. 3, n. 2, p. 107-127, 2003a. HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000. JUDAR, Cristina. Tecnologia movida a carvão. Revista da Cultura. p. 34-37 KELLER, Kevin Lane; MACHADO, Marcos. Gestão estratégica de marketing. São Paulo: Pearson, 2006. KEETER, Scott; TAYLOR, Paul. The millennials. Pew Research Center Publications, December, v. 11, 2009. KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de Marketing. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1993. KOTLER, Philip. Administração de marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2000. ____________. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados. Futura, 2000. ____________. Marketing de A a Z: 80 conceitos que todo profissional deve saber. Rio de Janeiro: Campus, 2003. KOTLER, Phillip. KELLER Kevin Lane. Administração em Marketing. 12ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de marketing. In: Princípios de marketing. Pearson Prentice Hall, 2007. KOTLER, Philip; KARTAJAYA, Hermawan; SETIAWAN, Iwan. Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. LAS CASAS, Alexandre Luzzi et al. Novos rumos do marketing. São Paulo: Atlas, 2001. LASALETA, Jannine D.; SEDIKIDES, Constantine; VOHS, Kathleen D. Nostalgia weakens the desire for money. Journal of Consumer Research, v. 41, n. 3, p. 713729, 2014. 84 LIPOVETSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. Tradução de Mário Vilela. São Paulo: Editora Barcarolla, 2004. _______________. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Tradução de Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. LOBATO, Mayara Luma Assmar Correia Maia. A cultura da memória e suas interfaces com a comunicação e o consumo: um estudo sobre a marca Granado. Signos do Consumo, v. 8, n. 1, p. 79-94, 2016. MAFFESOLI, Michel. A contemplação do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1995. _______________. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. MELO, Carlos; BRITO, Lencastre. Novos Horizontes do Marketing. Leya, 2014. OLIVEIRA, Vânia Braz de. O consumo retrô: valorizando o passado, evocando emoções. 2012. Disponível em: <http://www2.metodista.br/unesco/1_Ecom%202012/GT1/36.O%20consumo%20retr %C3%B4%20hoje_Vania%20Nogueira.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2016. PINHO, José Benedito. O poder das marcas. Summus Editorial, 1996. __________________. Comunicação em marketing. Papirus Editora, 2001. RANDAZZO, S. Criação de mitos na publicidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. SANDHUSEN, Richard L. Marketing Básico. 2ª. São Paulo: Saraiva, 2003. SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna. Estudos avançados, v. 2, n. 2, p. 46-71, 1988. SILVA, Newton Siqueira da; SOUZA, Renata de; GHOBRIL, ANH. O paradigma dos 4Ps do composto de marketing–origem, evolução e futuro. São Paulo: USP, 2006. SEDIKIDES, Constantine; WILDSCHUT, Tim; BADEN, Denise. Nostalgia: conceptual issues and existential functions. Handbook of experimental existential psychology, p. 205, 2004. SEDIKIDES, Constantine et al. Nostalgia past, present, and future. Current Directions in Psychological Science, v. 17, n. 5, p. 304-307, 2008. SLATER, Don. Cultura do consumo & modernidade–Exame. NBL Editora, 2001. STERN, Barbara B. Abstract – Nostalgia in Advertising Text: Romancing the Past. Advances in Consumer research, v. 19, p. 388-389, 1992. SOLOMON, Michael R. O Comportamento do Consumidor: Comprando, Possuindo e Sendo. 7. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. 85 TAPSCOTT, Don. Geração digital: a crescente e irreversível ascensão da geração Net. São Paulo: Makron Books, 1999. _____________. A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. Trad. Marcello Lino. Rio de Janeiro: Agir Negócios, 2010. TAYLOR, Paul; KEETER, Scott. Millennials: A portrait of generation next. Pew Internet & American Life Project. Washington DC: Pew Research Center, 2010. TOCCI, Jason. The well-dressed geek: Media appropriation and subcultural style. Massachusetts: MIT, 2007 VIVARTA, Veet et al. Infância e consumo: estudos no campo da comunicação. Brasília, DF: ANDI, 2009. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos; trad. Daniel Grassi - 2.ed. -Porto Alegre: Bookman, 2001. 86 ANEXOS