DESCRITORES DE CARACTERIZAÇÃO DO

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DESCRITORES DE CARACTERIZAÇÃO DO ECOTIPO MAGUEY DO CERRADO
Descriptors of characterization of the ecotype Maguey do Cerrado (A. salmiana)
1
Adriana Parada ​; Marcela Gilberti
2
Agave salmiana; Ecotipo; Metabolismo CAM
Agave salmiana, Ecotype; Metabolism CAM
RESUMO
O Maguey do Cerrado é uma variedade morfológica da seção Salmiana do Agave. Com o objetivo
de caracterizar morfologicamente o ecotipo Maguey do Cerrado, para fins de proteção, foram
realizados procedimentos para a avaliação de distinção, homogeneidade e estabilidade em dois
ciclos de crescimento das plantas entre os anos de 1999 a 2016, no município de Goiânia (GO). Este
artigo apresenta os descritores de caracterização do ecotipo Maguey do Cerrado em 4 etapas: Na
primeira é feita uma revisão fenológica, ecológica e botânica sobre Agave salmiana, com o objetivo
de suprir uma lacuna sobre a identidade taxonômica dessa espécie no Brasil. Na segunda etapa são
descritas as características de diferenciação da Agave americana L., espécie que mais se aproxima à
Agave salmiana no Brasil. Na sequência identifica-se o taxão e determina-se o ecotipo Maguey do
Cerrado. Finalmente caracterizam-se os descritores de diferenciação do Maguey do Cerrado - uma
variedade morfológica da seção Salmiana do Agave que passou por um processo de humanização,
adaptação ao meio e domesticação.
ABSTRACT
Maguey do Cerrado is a morphological variety of the Salmiana section of the Agave genus. In order
to morphologically characterize the ecotype Maguey do Cerrado, for the purpose of protection,
procedures were performed to evaluate distinction, homogeneity and stability in two growth cycles
of the plants between the years 1999 and 2016, in the city of Goiânia (GO). This article presents the
descriptors for characterization of the ecotype Maguey do Cerrado in 4 stages: First a phenotypical,
ecological and botanical review on Agave salmiana is made, with the goal to fill the gap on the
taxonomic identity of this species in Brazil. The second stage describes the differentiation
characteristics of Agave americana L., the species that most closely resembles Agave salmiana in
Brazil. Afterwards, the taxon is identified and the ecotype Maguey do Cerrado is determined.
Finally, the differentiation descriptors of Maguey do Cerrado - a morphological variety of the
Salmiana section of Agave which has undergone a process of humanization, adaptation to the
environment and domestication - are characterized.
​Especialista em Gestão do Desenvolvimento Local e Mestre em Fundamentos dos Processos Educativos. Atualmente
coordena o Coletivo Cultural Koskatl e participa da Rede de diálogos Casa Brasil Digital. Casa Brasil Digital: Rua do
salmão, Qd. 20, Lt. 31, Jd. Atlântico, Goiânia, Goiás. CEP: 74.353-500. E-mail: [email protected].
2
​Marcela Gilberti é Bióloga e trabalha no Centro de Recepção e Triagem de Animais Marinhos, instalado no Instituto
Gremar – Pesquisa, Educação e Gestão de Fauna na cidade do Guarujá/SP. E-mail: [email protected]
1
INTRODUÇÃO
Este trabalho é parte de uma pesquisa de melhoramento do ecotipo Maguey do Cerrado,
uma variedade morfológica da seção Salmiana do Agave. O Maguey do Cerrado é uma cultivar
fonte de alimentos, fibras e combustíveis que a partir de uma interação com o meio ambiente requer
menos volume de água (metabolismo CAM). A partir da comprovação da eficiência no uso da água
o Maguey do Cerrado constitui uma importante adaptação fisiológica, que permite às plantas
ocuparem habitats caracterizados por uma disponibilidade hídrica intermitente, tornando-se uma
espécie de valor econômico potencial.
No Brasil a necessidade de preservação de recursos genéticos voltados para alimentação é
especialmente importante, uma vez que a maioria dos cultivos que compõem a base alimentar do
país é de origem exótica (EMBRAPA, 2010). Por meio de um Estudo longitudinal realizado entre
os anos de 1998 e 2016, foram conduzidas atividades de pré-melhoramento, melhoramento e
estabelecido um micro modelo de cultivo de Maguey do Cerrado, que foi acompanhado por meio de
observações e manejos específicos. A partir dos resultados de produção foi possível afirmar que a
combinação das características morfológicas encontradas no ecotipo Maguey do Cerrado coincidem
com as pertencentes à espécie Agave salmiana Otto ex Salm-Dyck (Gentry, 1982), que se aplica
principalmente às plantas cultivadas para a exploração da produção de insumos alimentícios.
Trata-se da primeira cultivar no Brasil do segmento de Agave, para de obtenção de matéria prima e
desenvolvimento de bebidas, alimentos nutritivos, adoçantes concentrados e fermentos.
Este trabalho tem como objetivo apresentar os descritores de diferenciação do ecotipo
Maguey do Cerrado e divide-se em quatro etapas:
1. Revisão fenológica, ecológica e botânica sobre Agave Salmiana com o objetivo de suprir
uma lacuna sobre a identidade taxonômica desta espécie no Brasil.
2. Caracterização de diferenciação entre Agave salmiana e a espécie de Cultivar que mais se
aproxima no Brasil Agave americana L.. Os aspectos morfológicos das plantas foram
classificados a partir da seleção de caracteres de agrupamento, referenciados pelo Guia
Técnico de Descrição Varietal para Agave (SNICS, 2014). O guia é baseado nos critérios
estabelecidos pela União Internacional para a Proteção das Espécies Vegetais (UPOV,
2011). Foram elencadas as características de diferenciação entre as duas espécies utilizando
descritores oficiais das Espécies/gêneros.
3. Identificação taxonômica e determinação do ecotipo Maguey do Cerrado.
4. Caracterização das diferenciações do ecotipo Maguey do Cerrado - uma variedade
morfológica da seção Salmiana do Agave que passou por um processo de humanização,
adaptação ao meio e domesticação.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a revisão fenológica, ecológica e botânica sobre Agave salmiana foi realizada pesquisa
bibliográfica em descritores internacionais. Para a caracterização de diferenciação entre A. salmiana
e A. americana foram localizadas, quantificadas, mapeadas e identificadas as duas espécies exóticas
de Agave em Goiânia (Parada & Gilberti, 2016). As plantas foram agrupadas por espécie,
quantificadas, georreferenciadas e os dados coletados foram incluídos em banco de dados
específico. O município de Goiânia possui uma área territorial de 789 km², e uma população de um
milhão e quatrocentos mil habitantes (Figura 1).
Figura 1: Delimitação de área de estudo para identificação das espécies de Agave
A fim de garantir condições ambientais similares durante pesquisa de campo, foi realizado
um recorte espacial que correspondeu um segmento de 7 km, partindo do diâmetro norte sul da área
do município, no sentido sudoeste. Foi delimitado um polígono de estudo, que corresponde a 2.5%
da área urbana de Goiânia e que perpassa seis bairros: Jardim Atlântico, Parque Anhanguera,
Parque Amazonas, Jardim América, Nova Suíça e Setor Marista (Figura 2). Em seguida foi
realizado um levantamento quantitativo do número de exemplares cultivados que somaram 250.
Figura 2: Delimitação de polígono de estudo que corresponde a 2.5% da área urbana de Goiânia
Para a realização das medições específicas com fins de descrição varietal, foram
selecionadas plantas adultas e maduras, que foram avaliadas a partir das características da terceira
folha a partir do coração de cada planta. A circunferência do talo foi registrada a partir da parte
mais inferior da base, as medidas foram tomadas com fita métrica e trena. Os hábitos de
inflorescência foram detalhadamente registrados e exemplares das folhas, frutos, sementes,
bulbilhos e brotos rizomatosos, foram coletados para medidas morfológicas. As informações foram
registradas em formulário específico e arquivos fotográficos.
A identificação prévia dos exemplares se deu por meio de observação das folhas, a partir das
características listadas por Gentry (1982): dispostas em forma de roseta ao redor do talo (basal);
lanceadas e carnosas, medindo mais de 90 cm de comprimento; coloração verde acinzentado ou
azulada e ladeadas por uma fileira de espinhos que termina no ápice com uma espinha de
aproximadamente 3cm de comprimento. O tipo de avaliação selecionado para a pesquisa foi a
visual, mediante observação de várias plantas e partes de plantas individuais, seguindo as diretrizes
do Guia Técnico de Descrição Varietal para Agave (SNICS, 2014). O guia é baseado nos critérios
estabelecidos pela União Internacional para a Proteção das Espécies Vegetais. A tabela 1 reúne
reunindo 13 caracteres de agrupamento, categorizados a partir das chaves descritoras das duas
espécies.
Tabela 1: Caracteres de agrupamento (planta, talo e folha) e chaves descritoras de Agave (A.
americana e A. salmiana):
RESULTADOS
Revisão fenológica, ecológica e botânica sobre Agave Salmiana
Identificação taxonômica do Maguey Pulquero (Agave salmiana): As Agaves Salmianas são
originárias do Altiplano Mexicano e seu cultivo se desenvolve entre 1.200 a 2.500m de altitude com
chuvas de 350 a 1.000 anuais. As principais características da planta são: Raízes rizomatosas
subterrâneas, troncos curtos, grandes folhas grossas e carnosas que nascem do tronco dispostas em
rosetas. Inflorescências em forma de panículas, com flores hermafroditas. Frutos em formato de
cápsulas com numerosas sementes comprimidas (Ramírez, 1995).
Identificação taxonômica:
Reino: Vegetal;
Divisão: Fanerógamas;
Subdivisão: Angiospermas;
Classe: Monocotiledôneas;
Família: Agavaceae;
Gênero: Agave;
Espécie: Salmiana.
Descrição morfológica da Agave Salmiana proposta por Gentry (1982): Filotaxia: as folhas
dispostas em forma de Rosetas medindo 1.5 a 2.8 de altura, 2 a 8 metros de diâmetro. Folhas: 1 a
2.2 metros de comprimento por 20 a 35 cm de largura, amplamente lançadas, nas cores verde
amarelado ou verde Glauco com corte transversal oblato ou hemioblato e curvatura ondulada.
Bordas dentadas com proeminências imperceptíveis do meio para a ponta. Espinhos laterais
homogêneos, retos ou ligeiramente encurvados, com 0.5 cm de largura, 0.3 de altura e 03 de
diâmetro, com distribuição uniforme da parte média da folha até a base (1 a 4 cm). Espinha terminal
ligeiramente encurvada com 3 a 4 cm de comprimento, contorno piramidal. Inflorescência: do tipo
panícula, flexível, com 5 a 9 metros de altura, contorno geral piramidal, fértil no terço ou quarto
superior, com ramas primárias de até 1 metro de largura. Pedúnculo esverdeado, composto de
brácteas com 25 a 45 cm de comprimento, base com 10 a 18 cm de largura, carnosas, imbricadas ou
separadas, deltóides, margem inteira ou com alguns pequenos espinhos. Flores de 6 a 9 cm de
comprimento, afuniladas, amareladas. Receptáculo floral com 2 a 3 cm de comprimento, oblongo,
ápice encurvado para dentro, grosso, em forma de quilha interna, tubo do perigônio com 2 a 2.5 cm
de comprimento, ovário 3 a 5 cm de comprimento. Estames com filamentos de 5 a 8 cm de
comprimento, incertos na parte mediana, no quarto superior ou na boca do tubo. Flores em formato
de cápsulas com 6 a 7 cm de comprimento, 2 a 3 cm de largura. Sementes com 7 a 9 mm de
comprimento e 5 a 7 mm de largura (pretas).
As espécies foram localizadas e identificadas. Da população de Magueys encontrada no
estudo foram selecionados 250 exemplares que convivem dentro do mesmo espaço geográfico. A
fim de subsidiar pesquisas futuras sobre o impacto ambiental da presença dessas espécies, os
exemplares estudados tiveram sua fase de maturação divididas em 4 etapas (Tabela 1)
Tabela 2: Divisão dos exemplares por etapa de maturação
Dos 250 exemplares avaliados, 200 foram identificados como Agave Americana e 50
exemplares como Agave Salmiana.
Caracterização de diferenciação entre Agave salmiana
A Tabela 2 detalha os descritores para identificação morfológica a partir de três
agrupamentos (planta, folha e proliferação) reunindo 22 caracteres, categorizados a partir das
chaves descritoras das duas espécies de Agave (SNICS, 2014).
Tabela 2: de descritores contendo: agrupamento (planta, folha e proliferação), chaves descritoras de
Agave (caracteres) e itens encontrados nas espécies avaliadas em Goiânia (A. americana e A.
salmiana):
Descrição morfológica da Agave Americana no Município de Goiânia:
Os caracteres morfológicos das plantas no município de Goiânia foram compatíveis com a
combinação de caracteres proposta por Gentry (1982) para Agave americana (Figura 3).
Figura 3: Grupo de Agaves americanas. Bairro Parque Amazônia. Goiânia (GO).
Os exemplares estudados apresentaram as seguintes características: Plantas de tamanho
mediano, com diâmetro de roseta de pequeno a médio, folhas em formato de espátulas, eretas,
glaucas, com a superfície lisa, borda serrilhada e amplamente dentada, com espinha terminal
medindo menos de 3 cm a 4 cm de comprimento.
Figura 4: Combinação de caracteres da Agave americana cultivada em Goiânia (GO).
Inflorescência da A.Americana: O pedúnculo, ou talo floral, é esverdeado, alto, com 6 a 10
metros de altura, sendo que sua base mede entre 25 e 45cm de circunferência. De contorno geral
ovalado é composto de brácteas com 25 a 45 cm de comprimento, sendo fértil no quarto superior,.
Talo floral é do tipo panícula, flexível, com ramos primários de até 1 metro de largura. As flores
medem de 6 a 7.5 cm de comprimento, com formato afunilado e cor amarelada. O receptáculo floral
mede cerca de 2 a 3 cm de comprimento, de formato oblongo, ápice encurvado para dentro, grosso,
em forma de quilha interna. O tubo do perigônio mede de 2 a 2.5 cm de comprimento, o ovário de 3
a 5 cm de comprimento e o pescoço mede entre 5 a 10 mm. Frutos em formato de cápsulas com 6 a
7 cm de comprimento, 2 a 3 cm de largura. Sementes com 7 a 9 mm de comprimento e 5 a 7 mm de
largura, de coloração creme e preta dentro de um mesmo fruto.
Descrição Morfológica da Agave Salmiana no Município de Goiânia:
Os caracteres morfológicos das plantas identificadas como A. salmiana foram compatíveis
com a combinação de caracteres proposta por Gentry (1982): Plantas de tamanho mediano a grande,
com diâmetro de roseta grande, folhas em formato de lança, firmes, longas, com alargamento na
parte mediana, curvatura ondulada, borda lisa, com dentes distribuídos homogeneamente (Figura 5).
Figura 5: Grupo de Agaves salmianas. Bairro Jardim Atlântico e Setor Marista em Goiânia (GO).
A superfície anterior da folha é lisa, e a posterior ligeiramente áspera ao toque. A finalização
da folha é margeada por borda espessa, culminando com espinho de 3cm de comprimento e
contorno piramidal. Inflorescência da A. Salmiana: A Inflorescência se dá a partir do talo floral, do
tipo panícula, flexível, com ramos primários de 65cm a 1 metro de largura. O Pedúnculo esverdeado
mede de 3 a 6 metros de altura, com base entre 45 e 70cm de circunferência, contorno geral
piramidal, fértil a partir do 2/4 mediano, composto de brácteas com 25 a 45 cm de comprimento. As
flores medem cerca de 7cm de comprimento por 2.5 de circunferência, de coloração amarelada e
formato afunilado. O receptáculo floral mede cerca de 2cm de comprimento, de formato oblongo,
ápice encurvado para dentro, grosso, em forma de quilha interna. As flores apresentam órgãos
masculinos e femininos que se desenvolvem em duas fases consecutivas: primeiro a masculina,
depois a feminina. Os frutos em formato de cápsulas com 6 a 8 cm de comprimento, 2 a 4 cm de
largura envolvem dezenas de sementes de coloração preta medindo 7 a 9 mm de comprimento por 5
a 7 mm de largura.
Figura 6: Combinação de caracteres da Agave salmiana cultivada em Goiânia (GO).
A Tabela 3 lista os principais atributos de diferenciação entre as duas Espécies.
Tabela 3: principais atributos de diferenciação entre as duas espécies A. americana e A. salmiana
Diferenças entre a forma e as medidas das folhas de
A. Americana e A. Salmiana
Em sua fase adulta a Agave americana cultivada em
Goiânia possui folhas eretas, em formato de espátulas,
medindo cerca de 150 a 160 cm de comprimento. A
parte mais larga da folha mede entre 14 e 15 cm, por 8
cm de base (Figura 7).
Já as folhas da Agave Salmiana medem entre 150 e 170
cm de comprimento, apresentando um alargamento
marcante na parte mediana, com 22 a 25 cm de largura,
com base e finalização medindo de 15 a 17 cm de
largura, adquirindo um formato de barco. Especialmente
na maturidade as folhas tornam-se mais côncavas na
direção do ápice
Figura 7: Formas e medidas das folhas
A Agave americana possui a finalização da folha espatulada,
afunilada, sem borda demarcada, com um espinho terminal de 2 a 3
cm de comprimento. Já a Agave salmiana cultivada em Goiânia
possui a finalização da folha abaulada, adquirindo um
formato
acanelado, margeadas por bordas bem demarcadas, sem espinhos, na
coloração marrom avermelhado e finalizando com espinho terminal
medindo cerca de 4 cm de comprimento (Figura 8).
Figura 8: Finalização das folhas
As folhas da Agave americana apresentam borda fortemente
serrilhada, com dentes pouco espaçados distribuídos a
distâncias de cerca de 1 cm. Já a Agave salmiana apresenta
folhas com borda lisa e dentes espaçados variando entre 3 e
4 cm na parte média da folha (Figura 9)
Figura 9: bordas e espinhos
Identificação taxonômica e determinação do ecotipo Maguey do Cerrado
Foram avaliadas 70 unidades a partir de variáveis de crescimento, fisiológicas e de
reprodução: 50 unidades correspondem aos acesso de campo e 20 unidades correspondem aos
exemplares da Cultivar Maguey do Cerrado. As plantas foram agrupadas por localidade,
quantificadas, georreferenciadas. Os dados coletados foram inseridos em planilhas, sistematizados,
analisados e comparados com as respectivas chaves identificadoras:
A. Os aspectos morfológicos das plantas foram classificados a partir da seleção de 30
caracteres pertinentes, de acordo as orientações do Guia Técnico de Descrição Varietal para
Agave (SNICS, 2014). O guia é baseado nos critérios estabelecidos pela União Internacional
para a Proteção das Espécies Vegetais.
B. As características de adaptação dos exemplares estudados foram avaliadas a partir dos
atributos morfológicos da roseta, das folhas e do talo floral, utilizando as Chaves
identificadoras propostas por Gentry (1982).
Os 50 exemplares estudados mantiveram características uniformes, homogêneas e
compatíveis com os descritores da Agave Salmiana listados no Guia Técnico de Descrição Varietal
Para Agave (SNICS, 2014). Mantiveram, ainda, características uniformes e homogêneas, ao serem
comparadas com 20 exemplares da Cultivar Maguey do Cerrado. Os dois agrupamentos, que
somaram 70 exemplares, se integraram pelas variantes cultivadas de: corpulência mediana a grande;
rosetas com mais de 50 folhas de cor verde glauco, firmes, longas, com curvatura ondulada, bordas
com dentes laterais homogêneos e distribuição uniforme, culminando com uma espinha terminal de
3 cm e contorno piramidal. Entretanto foram identificadas modificações morfológicas marcantes,
que se apresentaram de forma constante em todas as plantas avaliadas. Os caracteres que
apresentam maior índice de diferenciação em relação à seção Salmiana do Agave referem-se à
estrutura das plantas (rosetas maiores e talo floral menor, com menos de 6 m), ao formato das folhas
(muito alargadas na parte mediana) e ausência de propagação por brotos rizomatosos.
As modificações específicas encontradas nesses caracteres são compatíveis com os recursos
de adaptação estrutural para redistribuição hídrica, identificadas em outras espécies de plantas que
se desenvolvem no cerrado (Oliveira, 2005). O cerrado é um bioma tipo savana que reúne um
complexo mosaico de vários tipos de vegetação, que cobrem cerca de 2.000.000 km2 do Brasil
Central. Esse bioma é frequentemente associado com um relevo do tipo planalto, e apresenta solos
profundos com uma textura friável, que tendem a ser pesados e com baixa fertilidade natural (Valls,
2008). As características climáticas do Cerrado promovem a distribuição da precipitação anual com
média ao redor de 1.500 mm, distribuídas em duas estações bem definidas, chuvosa e seca, com
duração entre cinco e sete meses cada.
Nesse sentido é possível afirmar que a população local de Magueys apresenta características
ecológicas típicas, em decorrência da interação com o meio ambiente (bioma cerrado), podendo ser
provisoriamente denominada como Maguey do Cerrado. O ecotipo Maguey do Cerrado se
distingue:
a) da espécie Agave Sisalana cultivada no Brasil, principalmente pela capacidade de
produção de uma seiva adocicada na sua fase madura;
b) da espécie local denominada Agave americana no formato do tronco, da roseta, e das
folhas; distingue-se também na inflorescência e na forma de propagação que se deu exclusivamente
por sementes fecundadas e Bulbos.
c) da própria espécie, já que o ecotipo apresenta diferenciações morfológicas, fisiológicas e
ecológicas em relação à seção Salmiana. As variações se mantiveram tanto nos 20 exemplares da
cultivar, quanto na população identificada de 50 exemplares cultivados no município de Goiânia.
Descrição morfológica do ecotipo Maguey do Cerrado
O Maguey do Cerrado é uma planta corpulenta, da família das suculentas, o que significa
que armazena água e nutrientes nas folhas e no talo. É uma variedade ornamental de grandes
proporções, que em sua fase adulta pode atingir 1,80m de altura por 3m de diâmetro, alcançando
por vezes 10m de circunferência. Possui um tronco imperceptível (acaulescente) do qual se
desenvolvem as folhas, que crescem em forma de espiral (roseta). As folhas em grande número
(superior a 60 na fase adulta), armazenam água e açúcares redutores distribuídos de acordo com a
posição que as folhas ocupam na planta, sendo que as folhas internas (mais jovens) armazenam
mais água e nutrientes que as folhas externas (mais velhas).
Seu sistema radicular robusto, cresce de maneira superficial e circular para facilitar a
captação de água do solo, sendo que as raízes mais velhas são grossas e fibrosas, e as mais jovens
são ramificadas. O Maguey do Cerrado se desenvolve ao longo de oito a doze anos, quando atinge a
maturidade e nesse momento faz crescer do centro de seu tronco um talo alto, do qual nascem as
flores, frutos e sementes. Esse momento do desenvolvimento do Maguey requer um grande
dispêndio de energia que é armazenado em forma de açúcares no centro da espiral de folhas. São
compostos químicos que a planta produz a partir da captação dos raios solares pelas folhas, que
acrescidos dos nutrientes que reúne do solo, combinados com os compostos do ar durante a
fotossíntese produz açúcares de cadeias longas (frutanos) enchendo a planta de energia. De
reprodução monocárpica é uma planta que têm uma única floração na vida e depois morre.
Hábito de crescimento: ​O tempo de desenvolvimento do Maguey do Cerrado varia de
acordo com o manejo e a disponibilidade de água. De maneira geral se desenvolvem melhor em
lugares abertos, com solos pedregosos, com muita incidência de sol e com a face orientada para o
norte. Nessas condições atingem a maturidade por volta dos 10 aos 12 anos de vida (Figura 10).
Figura 10: Maguey do Cerrado com 9 anos de idade.
De crescimento lento e constante, aos dois anos de plantio o Maguey do Cerrado apresenta
uma dimensão de 50cm de altura, por de 1m de diâmetro de roseta. Aos quatro anos de idade a
planta pode atingir cerca de 1m de altura por 2m de diâmetro de roseta.
A partir do quinto ano a planta, já adulta, ultrapassa 1,40m de altura por 3m de diâmetro de
roseta. Como indicadores de chegada à fase adulta, destacam-se: o número de folhas superior a 40
unidades, o tamanho das folhas superior a 90cm, e o tamanho do espinho terminal das folhas, que
atinge a dimensão máxima de 3cm.
O Maguey do Cerrado começa a dar os
primeiros sinais de maturidade por volta dos oito
anos
de idade,
apresentando um aspecto
majestoso, com um número de folhas que
ultrapassa, facilmente, as 60 unidades. Os
pequenos dentes distribuídos ao longo das
folhas, tornam-se mais firmes e modificam a
coloração avermelhada, para marrom escuro ou
preta. O espinho terminal das folhas se enrijece e
escurece.
O Ápice da maturidade da planta acontece por
volta dos 10 aos 12 anos de vida, momento em
que desenvolve o escapo floral: um tronco alto,
do qual nascem as flores, frutos e sementes que
permitirão a sua reprodução (Figura 11). O final
do ciclo de vida do Maguey do Cerrado
divide-se em três etapas distintas: o surgimento
do
pendão
floral que indica a fase de
maturidade; seguida da floração; e a formação
da semente ou dos bulbilhos - última fase antes
a planta cumprir seu ciclo.
Figura 11: Formação do Escapo Floral
Folhas: As folhas em formato de lança, são
firmes e longas, medindo cerca de 150cm de
comprimento.
Apresentam
um alargamento
marcante na parte mediana, medindo entre 22 e
25cm, com curvatura ondulada e, em corte transversal, apresentam formato oblato ou hemioblato
(Figura 12).
As cores das folhas podem variar de verde amarelado a
verde Glauco, e, ainda, apresentar algumas tonalidades de
laranja na fase madura.
As folhas são
apresentam-se
dentadas e os
homogêneos,
retos
espinhos laterais
ou
ligeiramente
encurvados, com 0.5cm de largura, 0.3 de altura e 03 de
diâmetro, com distribuição uniforme da parte média da
folha até a base (3 a 4 cm).
O espinho terminal da folha é ligeiramente encurvado e
atinge o tamanho máximo de 4 cm de comprimento e
contorno piramidal.
Figura 12: Folhas do Maguey do Cerrado
Inflorescência: Quando o Maguey do Cerrado amadurece, as folhas centrais se afinam
formando o pendão floral. Esse momento do desenvolvimento da planta requer um grande
dispêndio de energia que é canalizada para o desenvolvimento do escapo floral que cresce rápido,
cerca de 8 cm por dia e atinge entre 4 a 6 metros de altura. O escapo se origina no talo e
desenvolve-se a partir da parte central da planta, que juntamente com a base das folhas centrais
intercaladas em forma de espiral, forma uma massa de tecido fibroso, meristemático e branco.
Quando as partes verdes das folhas são retiradas o talo arredondado tem o aspecto de uma pinha. A
circunferência do escapo pode chegar a 20cm na parte alta, até os 70cm na base. Durante o
crescimento emite ramificações com cerca de 50cm de comprimento que subdivididas formam um
tipo diferente de folhas ou brácteas que sustentam largos ramos de flores do tipo panícula, flexível e
de contorno piramidal.
As flores do Maguey do Cerrado nascem com tonalidade verde amarelada e a medida que se
desenvolvem adquirem uma tonalidade amarelo forte. As flores dos ramos mais baixos se
desenvolvem primeiro, seguidas das flores dos ramos médios e finalmente as dos ramos mais altos.
Quando as últimas flores se abrem as primeiras já estão secas. As flores medem cerca de 7cm de
comprimento por 2.5 de circunferência. São amareladas e afuniladas. O receptáculo floral mede
cerca de 2cm de comprimento, de formato oblongo, ápice encurvado para dentro, grosso, em forma
de quilha interna. O tubo do perigônio mede cerca de 2cm de comprimento e o ovário, também
mede 2 cm de comprimento.
As flores do Maguey do Cerrado possuem órgãos masculinos e femininos que se
desenvolvem em três tempos diferentes (Figura 13): quando a flor se abre, revela o androceu com
seis estames. É a fase masculina da flor. Nesse período o gineceu permanece protegido dentro do
perianto porém, o estigma já é visível pela corola, com a haste medindo cerca de 1cm. Na fase
masculina da flor os filetes, medindo cerca de 3.5cm de comprimento, apresentam um formato
tubular, com afinamento súbito próximo ao conectivo. As anteras com dimensões de 2cm de
comprimento por 3mm de largura carregam dois sacos polínicos. Na segunda fase de
desenvolvimentoda flor (+-8dias) os estames começam a secar e o estigma se desenvolve. Na
terceira fase, o estigma se sobressai atingindo 4 cm de comprimento. É a fase feminina da flor.
Figura 13: Etapas masculina e feminina da flor do Maguey do cerrado
O Maguey do Cerrado é uma planta alógama, o que significa que mesmo
sendo hermafroditas, suas flores precisam do pólen de outra flor para
serem fecundadas por meio de polinização cruzada (Figura 14). Foram
identificadas duas espécies de abelhas polinizadoras, que frequentam as
flores do Maguey do Cerrado: a abelha Mandasái (Melipona
quadrifasciata) e a abelha Iraí (Nannotrigona testaceicornis).
Figura 14: Polinizadoras das Flores do maguey do Cerrado
Propagação: ​O Maguey do Cerrado apresenta duas formas de propagação: por sementes
fecundadas (sexuada) e por bulbilhos (assexuada).
Reprodução das sementes: as sementes se formam nos frutos depois que as flores são
fecundadas. Numa mesma planta são encontradas flores fecundadas e não fecundadas. As
fecundadas desenvolvem sementes dentro do ovário e as outras partes da flor secam e caem
permanecendo apenas o fruto, com dezenas de
sementes que são dispersadas pelo vento. Durante
a produção dos frutos e das sementes as plantas
despendem uma enorme quantidade de energia e
ao final desse processo todas as folhas da planta
estão murchas ou secas e a planta, finalmente,
morre.
Figura 15: Sementes de Maguey do Cerrado
Reprodução por Bulbilhos: se algo funciona mal na transição das flores para sementes
(flores não fecundadas), a planta recorre à formação de bulbilhos: pequenos clones idênticos à
planta mãe que se desenvolvem na base do
talo floral. Aproximadamente 8 semanas
após
o
formam-se
desaparecimento
os
bulbilhos,
das
flores
que
são
reproduções exatas da planta mãe. Uma
única planta produz centenas de bulbilhos
podendo chegar a um milhar (Figura 16).
Os bulbilhos se desenvolvem por um
período de até três meses, quando atingem
a maturidade: apresentam roseta com cerca
de
15cm
de
diâmetro,
oito
folhas
desenvolvidas e primórdios de raiz. Nesse
ponto começam a cair ao redor da
planta-mãe, ou podem ser facilmente
derrubados ao balançar a haste floral.
Figura 16: Bulbilhos de Maguey do Cerrado
Reprodução por Rizomas: ​Nenhum dos exemplares avaliados apresentaram reprodução por
rizomas, ainda que a literatura internacional indique essa possibilidade em algumas espécies de
Agave Salmiana. Nesse tipo de reprodução os rebentos são mini clones da planta mãe, originados a
partir de rizomas, que começam a aparecer a partir do segundo ano de plantio.
Caracterização das diferenciações do ecotipo Maguey do Cerrado
As características de adaptação ao meio identificadas nos 70 exemplares de Maguey do
cerrado estudados dividem-se em estruturais e funcionais. A partir das chaves descritivas utilizadas
como referência neste estudo, foi possível categorizar três indicadores de modificação estrutural no
ecotipo Maguey do Cerrado que podem ser interpretados como adaptações para maior eficiência na
captação hídrica e menor dispêndio de energia: o primeiro indicador refere-se ao do tamanho das
rosetas que desenvolveram diâmetros maiores. O segundo refere-se à altura do talo floral que
alcançou em média 4 metros. O Terceiro indicador refere-se ao desenho das folhas, que
apresentaram um alargamento proeminente na parte mediana.
Como
indicador
de
adaptação
funcional
destaca-se o comportamento de movimentação
das folhas com a finalidade de redistribuição
hídrica. Durante
os períodos de seca severa
(meses de julho a outubro) as folhas do maguey
do Cerrado, dispostas de forma radial e
alargadas na parte mediana, tornam-se mais
flexíveis e posicionam-se mais horizontalmente
em relação ao eixo do talo, ampliando a área de
captação de humidade do ar.
A parte média e superior das folhas realiza
movimentos rotacionais, funcionando como uma
espécie de radar esponjoso (Figura 17).
Figura 17: Movimentação das folhas para captação de humidade
Já durante os meses de chuva as folhas se enrijecem, posicionam-se mais verticalmente em
relação ao eixo do talo e se contraem formando canaletas a fim de direcionar a água da chuva em
direção à base do corpo da planta (Figura 18). Com esse movimento o alargamento na parte
mediana da folha torna-se côncavo, impedindo o extravasamento da água pelas laterais da folha.
Figura 18: Verticalização das folhas para captação e redirecionamento da água da chuva.
Os 20 exemplares da Cultivar Maguey do Cerrado apresentaram as características de
adaptação ao meio listadas acima e ainda variações compatíveis com processos de humanização e
de domesticação.
Características de humanização e de domesticação da cultivar Maguey do Cerrado
As variações resultantes dos processos de humanização se apresentaram desde a origem do
material genético coletado, já que existem registros históricos de convivência da espécie com o
homem há séculos. As plantas cultivadas apresentaram resultados positivos a partir da interação
com o homem, tornando-se funcionais e produtivas em ambientes humanos. Tais espécies,
cultivadas com êxito, desenvolveram diferenciações morfológicas, fisiológicas e ecológicas em
relação aos pares silvestres. É o caso da Agave Salmiana, fonte do material genético da Cultivar
Maguey do Cerrado (Parada & Castro, 2016).
Nos exemplares da Cultivar Maguey do Cerrado foram detectadas variações resultantes dos
processos de domesticação, apresentando as seguintes características:
a) redução das estruturas de proteção desenvolvendo espinhos menores e mais flexíveis
(estruturais);
b) maturidade precoce, por volta dos sete anos, estimulada por manejo mecânico de abertura
do talo floral a partir do quinto ano de plantio (funcionais);
c) resposta funcional ao estímulo diário de produção de "aguamiel", apresentando
abundância na produção da seiva adocicada, em volume (2l/dia) e tempo de produção (6 meses);
Foi detectada, ainda, uma nova característica estrutural de adaptação ao meio, tendo como
indicador a qualidade da seiva produzida pelo Maguey do Cerrado, que pode ser verificada por sua
composição química e bromatológica, rica em polissacarídeos, açúcares simples e álcool.
Em 2015 o primeiro lote das plantas do Cultivar Maguey do Cerrado (plantadas em 2004)
atingiu seu estado ideal de maturação, permitindo o início do processo de extração da matéria prima
“aguamiel” e desenvolvimento de produtos alimentícios derivados. As plantas melhoradas
apresentaram um bom potencial produtivo, possibilitando o estabelecimento de um modelo de
produção, a partir do qual foram sistematizados protocolos de desenvolvimento de produtos, que
foram então reproduzidos e aperfeiçoados, até o alcance de amostras de alta qualidade
bromatologica e 100% ecológicas (Figura 19).
Figura 19: Maguey do Cerrado em fase de produção da seiva
Nesse sentido, pode-se atribuir ao ecotipo Maguey do Cerrado, a identificação espécie e
subespécie de Agave Salmiana Otto ex Salm-Dyck, que se aplica principalmente às plantas
cultivadas para a exploração da produção de insumos alimentícios.
DISCUSSÃO:
Os Magueys são plantas adaptadas a ambientes secos, que possuem folhas suculentas
cobertas por uma grossa cutícula, que armazenam água e nutrientes. Como resposta ao estresse
hídrico, realizam fotossíntese do tipo CAM, acumulando prolina nas raízes, por meio da abertura
noturna dos estômatos que favorece a absorção de dióxido de carbono e proporciona maior rapidez
no início da fotossíntese (Nobel, 1985).
A partir das chaves descritivas utilizadas como referência neste estudo, foi possível
categorizar três indicadores de modificação estrutural no ecotipo Maguey do Cerrado que podem
ser interpretados como adaptações para maior eficiência na captação hídrica e menor dispêndio de
energia: o primeiro indicador refere-se ao do tamanho das rosetas que desenvolveram diâmetros
maiores. O segundo refere-se à altura do talo floral que alcançou em média 4 metros. O Terceiro
indicador refere-se ao desenho das folhas, que apresentaram um alargamento proeminente na parte
mediana. Uma quarta modificação encontrada, em 100% dos exemplares avaliados, refere-se à
ausência de propagação a partir de brotos rizomatosos. A literatura internacional indica essa forma
de propagação das Agaves Salmiana, a partir do segundo ano de plantio. A inibição dessa forma de
propagação também foi identificada nos exemplares da Cultivar Maguey do Cerrado, indicando a
necessidade de estudos complementares que possibilitem a categorização desta distinção como
adaptação estrutural ou funcional.
Como indicador de adaptação funcional destaca-se o comportamento de movimentação das
folhas com a finalidade de redistribuição hídrica. As modificações morfológicas identificadas nos
exemplares de Maguey do Cerrado podem ser interpretados como recursos de adaptação às
condições climáticas específicas da região que apresenta temporadas de restrição hídrica. Tais
adaptações podem ser atribuídas à necessidade de um melhor aproveitamento na captação de água,
em resposta ao clima temperado úmido característico das regiões do cerrado, em que a sazonalidade
de chuvas é demarcada por duas estações bem definidas: uma seca e outra chuvosa.
Outra característica climática marcante é que o município de Goiânia recebe um ângulo
solar incidente, com uma baixa velocidade de ventos, condições que provocam consequências
significativas no comportamento da temperatura e da umidade relativa do ar, alcançando
temperaturas elevadas na estação seca (38ºC), e baixa umidade relativa do ar (15%).
Tanto a estratégia de utilização do metabolismo CAM, quando a de adaptação estrutural
para redistribuição hídrica, foram identificadas em outras espécies de plantas que se desenvolvem
no cerrado.
CONSIDERAÇÕES
Os resultados encontrados neste estudo indicaram que o ecotipo Maguey do Cerrado,
cultivado no município de Goiânia, apresenta características que correspondem com a espécie
Agave Salmiana Otto ex Salm-Dyck. As modificações estruturais e funcionais identificadas no
ecotipo local são consideradas estratégias de adaptação eficientes já que, apesar do déficit hídrico,
as plantas apresentaram excelente desenvolvimento físico, ciclos de maturação bem demarcados,
propagação eficiente e produção de seiva com potencial industrial. Identifica-se a necessidade de
realização de estudos complementares a fim de determinar e registrar os traços genéticos da
subespécie Maguey do Cerrado que favorecem sua resistência à seca a partir do cultivo tradicional.
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