Deleuze e o conceito Em seu livro “O que é a filosofia”, Deleuze deixa claro a importância do conceito, pois “o filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência”. Não que a filosofia seja uma fábrica de conceitos, mais que isso, o conceito é um ato de criação, e cada um assina “embaixo”, deixa registrado sua marca, através dos conceitos que cria. Contemporaneamente a filosofia ganhou diversos rivais, pois outros se deram o direito de criar, inventar conceitos. Primeiro foi a sociologia, depois a indústria da propaganda, do design... Mas... afinal, o que é um conceito? Primeiro é preciso entender que um conceito jamais pode ser simples. Não existem conceitos simples, todos são compostos por multiplicidades. Não há tirania no reino do conceito! O um não exclui o outro, ao contrário, é preciso que haja o outro, essa multiplicidade à qual o conceito possa ser remetido, pois é apenas a multiplicidade que dá sentido à sua existência: “mesmo na filosofia, não se cria conceitos, a não ser em função dos problemas que se consideram mal vistos ou mal colocados”. O problema do conceito para Deleuze atinge instâncias mais profundas, pois vai diretamente ao âmago da questão ontológica do “eu/outrem”, da “unidade/multiplicidade”, o que se percebe é que o “outrem” é toda a possibilidade, todo mundo possível, que se exprime e se efetua numa linguagem, “nesse sentido é um conceito com três componentes inseparáveis: mundo possível, rosto existente, linguagem real ou fala”. Uma outra característica importante do conceito é que ele tem uma história, no entanto ele é sempre singular, um conceito jamais é o mesmo, ele é sempre um emaranhado que por vezes conserva “pedaços ou componentes vindos de outros conceitos”. O que se faz é recortar, delimitar um novo problema, de tal modo que o conceito assume cores e sons diferentes, novos contornos... Não importa! Um conceito é sempre uma multiplicidade, não há conceito que não remeta a um outro e assim infinitamente, pois o conceito também tem um devir além de ter vindo de algum outro conceito que veio de outro e assim por diante: uma multiplicidade! Conceitos são vizinhos que não delimitaram muito bem seus terrenos, não se pode saber exatamente a linha demarcatória entre o começo de um e o término de outro, eles se mesclam: conceitos não são nazistas! Há por certo A e B no entanto, haverá sempre um domínio AB onde A e B serão indiscerníveis, pois este pertencerá tanto a um quanto ao outro: “um conceito é uma heterogênese, isto é, uma ordenação de seus componentes por zonas de vizinhança”. O conceito não pode ser medido, é um engodo acreditar que ele seja mensurável ou restrito às gramáticas filosóficas ou lógicas: conceitos são “pontes moventes”! Há cruzamentos e labirintos por onde ele caminha, às vezes se perde, mas nunca se isola, nunca se purifica de todo, é sempre aquele que carrega a bandeira da multiplicidade!