EXTENSIVO 2012 Disciplina: História Professora: Aline Vital Estudante:________________________________________________ Aula 04 - A mentalidade medieval no quadro do Antigo Regime Estudamos na última aula o período da Idade média, onde vimos um mundo que foi gradativamente se separando do Romano e adquirindo características próprias através de novas formas de organização social, política e econômica: uma sociedade dividida em três estamentos (Clero, nobreza e servos/camponeses), organizada em torno de feudos auto-suficientes e com poder exercido pelos senhores feudais. Vimos que ao final desse período, instalou-se uma crise demográfica que resultou em feudos superlotados, piorando em muito as condições de vida naquele momento. A solução veio com as Cruzadas, uma “guerra santa”, que permitiu o fim do controle do mar Mediterrâneo pelos árabes, trazendo como conseqüência o renascimento do comércio. Através do comércio, muitos camponeses voltam a habitar as cidades (não podemos nos esquecer também, que com as feiras nascem os burgos). Esse é o quadro do Renascimento Comercial e Urbano, que transforma drasticamente o mundo medieval entre 1100 e 1300. Contudo, o Renascimento comercial e Urbano acaba trazendo como resultado enormes mudanças na forma como estava organizado o mundo medieval. As atividades urbanas requeriam novas habilidades e conhecimentos dos homens medievais. Ler, escrever e calcular eram indispensáveis à prática do comércio e assim uma série de transformações culturais começam a se processar. Com os burgos prosperando, muitos camponeses largavam a vida de servidão no campo para se tornarem comerciantes burgueses. Através do comércio dos produtos do Oriente (especiarias, sedas, entre outros artigos de luxo) essa burguesia enriqueceu rapidamente. Contudo, esta tendência crescente de migrações para as cidades, começou a entrar em choque com o sistema feudal, já que os senhores precisavam dos camponeses para lavrar suas terras. Para os próprios burgueses, o sistema feudal também trazia seus inconvenientes já que cada feudo possuía suas leis próprias, sua própria moeda, seu próprio sistema de pesos e medidas, dificultando, consideravelmente, as trocas comerciais. Para contornar essas dificuldades, durante a Baixa Idade Média, passa a existir uma cooperação entre os reis e a burguesia: os reis (figuras bastante enfraquecidas, não podemos nos esquecer) passaram a tomar enormes quantias em dinheiro dessa burguesia na forma de empréstimos ou negociações (dinheiro por títulos de nobreza) e em troca passaram a regimentar e facilitar o comércio. Com esse dinheiro, o rei poderia pagar exércitos que fariam valer sua lei, ou seja, pouco a pouco esses reis apagados e fracos vão ganhando nova força e se inicia um processo de centralização política e econômica. Tendo em vista todo esse quadro de mudanças, podemos partir para o estudo de como todo esse processo se desenvolveu e culminou naquilo que chamamos de Antigo Regime. A formação das Monarquias Nacionais (França, Inglaterra, o Sacro Império Romano Germânico, Portugal e Espanha) França: Na aula passada, estudamos a formação do Reino dos Francos com a dinastia Merovíngia e depois seu ápice com a dinastia Carolíngia. Contudo, tratava-se do período da alta Idade Média e, portanto, da formação do feudalismo clássico. Agora, entramos em outro momento, de mudanças bastante intensas como vimos anteriormente. Após a desintegração do Império de Carlos Magno, a região do reino franco ficou completamente absorvida dentro das estruturas feudais, ou seja, reis sem muito poder e representatividade, em detrimento do poder local dos senhores feudais (poder descentralizado). Em 987, uma nova dinastia assume o poder no lugar dos Carolíngios: a Dinastia Capetíngia. Dentro desse processo de centralização, a figura de maior destaque foi o capetíngio Felipe Augusto (1180-1223), mais conhecido como Felipe II. Tendo como objetivo reunir um grande exército para lutar ao norte com a Inglaterra, inicia uma grande co- brança de impostos rigorosos por toda a Gália, culminando na centralização do poder (Observe que a rivalidade com a Inglaterra já existia de longa data, lembrando que a Guerra dos Cem Anos se inicia apenas em 1337 e termina por volta de 1453). Saindo vitoriosos contra a Inglaterra, Felipe instalou um sistema régio de funcionários cobradores de impostos e fiscais da lei na região, o que contribuiu ainda mais para o fortalecimento de sua figura. Também passou a vender aos burgos “cartas de franquia”, ou seja, oferecia proteção real aos burgos cujos senhores feudais não quisessem liberar de seu controle. Desse modo, estabeleceu alianças com a burguesia. Dando continuidade ao trabalho de seus antecessores, Filipe IV, o Belo (1285-1314), procurou acelerar a centralização política e o controle governamental, transformando vários dos impostos feudais em impostos nacionais, criando novas taxas, inclusive sobre os bens da Igreja. Por isso, Filipe IV sofreu uma intensa oposição do clero, e até mesmo ameaça de excomunhão por parte do papa Bonifácio VIII. Nessa ocasião, por volta de 1302, convocou, pela primeira vez, uma assembléia de representantes do clero, da nobreza e do restante da população (desde camponeses até comerciantes), a Assembléia dos Estados Gerais. Nessa reunião ficou decidida a cobrança dos impostos clericais. Desse modo, o conflito com a Igreja acabou se agravando ao ponto de Bonifácio VIII excomungar Filipe IV. Com a morte desse papa, em 1303, Filipe interferiu diretamente na escolha do sucessor elegendo como papa, o cardeal francês, Clemente V. Além disso transferiu a sede do papado para a cidade de Avignon. Esse episódio iniciou o período que ficou conhecido como cativeiro de Avignon: durante aproximadamente 70 anos os papas se submeteram à autoridade do rei francês. Completamente descontentes com a situação, as autoridades religiosas de Roma não concordaram com a decisão do monarca e elegeram outro papa. Essa divisão da cristandade ficou conhecida como Cisma do Ocidente (Relembrando: Cisma do Oriente – Divisão da Igreja em Igreja Católica Romana E Igreja Católica Ortodoxa). Além de toda essa situação complicada no campo político, não podemos nos esquecer que estamos falando do século XIV que, como visto na última aula, foi um período de estagnação para a Europa devido à Guerra dos Cem Anos e à Peste Negra. Essas dificuldades do século XIV trouxeram ainda mais um problema para o recém-formado Estado francês: as jacqueries, rebeliões camponesas. Inglaterra A Ilha da Britânia havia sido uma das províncias romanas. Posteriormente foi ocupada por Bárbaros Germânicos especialmente anglos e saxões. Em 1066, o último rei anglo-saxônico foi destituído por invasores normandos, chefiados pelo rei Guilherme, o Conquistador (Guilherme I). Guilherme organiza o território britânico dentro dos moldes feudais e deu início à dinastia dos Normandos. Com a morte do último herdeiro direto de Guilherme I, o trono foi assumido por Henrique, conde de anjou (Henrique II), dando início a uma nova dinastia: a dinastia Plantageneta. Esta dinastia foi a principal responsável pelo fortalecimento do poder real através da Common Law: leis reais que seriam aplicadas em todo o reino. Seu sucessor foi Ricardo I, ou Ricardo Coração de Leão, que se envolveu em guerras com a França e participou da terceira cruzada. Acabou por falecer na volta da terceira cruzada dando o poder ao seu irmão conhecido como João Sem Terra (1199-1216). Em seu governo, João procurou acelerar o processo de centralização política. Para tanto, se envolveu em diversas guerras contra a França, confiscou terras da Igreja (sendo por isso excomungado) e aumentou os impostos. Desse modo, João, se tornou um dos reis mais mal vistos pelo povo da Grã-Bretanha. Em 1215, a nobreza se revoltou e impôs-lhe a Magna Carta, que determinava que, a partir de então, o monarca só poderia criar novos impostos ou alterar leis com a aprovação do Grande Conselho, órgão formado por membros do clero e nobreza. De certa maneira, o Grande Conselho é o órgão predecessor do parlamento inglês e, a partir de 1215, alguns membros da burguesia passaram a ser aceitos. Foram nessas condições que a Inglaterra entrou na Guerra dos 100 anos, 1347. Em 1453, derrotada, a Inglaterra entre numa crise profunda de política. O trono inglês começou a ser disputador por duas im- portantes famílias inglesas, Lancaster e York, cada uma delas representada por uma rosa: a rosa branca representava os York e a vermelha os Lancaster. Iniciou-se então a Guerra das duas Rosas. Contudo, nem York, nem Lancaster venceram a guerra: houve uma união formando única família poderosa através de um casamento, a família Tudor (da qual falaremos mais adiante), subindo ao poder Henrique VII. Sacro Império Romano Germânico A região da Germânia (atual Alemanha) havia conquistado sua autonomia em 843, quando o Tratado de Verdun dividiu o Império de Carlos Magno em três partes. O poder da dinastia carolíngia durou até 911. Em 936, o trono germânico foi assumido por Oto I, de origem saxônica, que anexou o território italiano, após vencer os invasores lombardos. Em 962, aliado ao Papa, Oto I foi coroado Imperador do Ocidente, ainda numa lembrança ao destruído Império Romano do Ocidente. No final do século X, o Império encontrava-se totalmente submetido às estruturas do feudalismo e às disputas entre os poderes do imperador, dos senhores feudais locais e do clero. No século XI as principais forças em oposição no Império eram o papa Gregório VII, em luta com o imperador Henrique IV. Henrique IV liderava uma importante oposição ao Papa, que recebia acusações que simonia (venda de cargos eclesiásticos) e de corrupção. Henrique IV foi excomungado da Igreja Católica, mas dirigiu-se a Canossa, cidade italiana, onde implorou o perdão ao Papa. No entanto, mais tarde Henrique IV retornou para a Itália com numerosos exércitos que obrigaram o papa a fugir. Assinase então a Concordata de Worms, em 1122, que limitava o poder imperial em questões religiosas. As agressões físicas e morais entre Papa e Imperador ficaram conhecidas como Querela ou Questão das Investiduras. O conflitou que percorreu toda a Baixa Idade Média enfraqueceu tanto Papa quanto Imperador, dando impulso ao feudalismo na região. Mais tarde, a questão seria resolvida com o poder temporal (material) ficando com o Imperador e o poder espiritual com o Papa. Portugal e Espanha A formação das monarquias nacionais ibéricas, particularmente a portuguesa, teve grande importância no processo da passagem da Idade Média para a Idade Moderna por dois motivos básicos: primeiro, por seu pioneirismo, pois Portugal foi o primeiro país europeu a ter uma monarquia nacional centralizada; segundo, porque as monarquias portuguesa e espanhola, ao promoverem as grandes navegações dos séculos XV e XVI, deram um ponto decisivo para a formação do mundo moderno, na medida em que estimularam a expansão ultramarina européia, o crescimento do comércio e a prática do Mercantilismo (que estudaremos melhor adiante). Província romana de origem visigoda, a Espanha enfrentou uma forte ocupação mulçumana no século VII que perduraria até 1492. Contudo, por muito tempo a região da Espanha não constituía um único reino. Nela viviam povos diferentes, de origens diferentes: De origem visigoda haviam os bascos, em Granada os islâmicos, de origem francesa o Catalões, além dos sevillianos, dos lusitanos e dos castelhanos. Assim, Cada um desses povos dava origem a um reino diferente: Leão, Castela, Navarra, Granada, Lusitânia, etc. No entanto, em 1492, ano da derrocada de Granada, último território islâmico, a princesa de Leão & Castela, Isabel, se casou com o príncipe de Aragão. O casamento centralizou os reinos num único Estado Nacional conhecido como Espanha, que anexou todos os outros exceto a Lusitânia, ou Portugal. Quanto a Portugal, suas origens remontam à doação de terras feitas pelo rei Afonso IV de Leão a Henrique de Borgonha, nobre francês participante da guerra de Reconquista. As terras doadas correspondiam ao condado portucalense. A independência desse feudo em relação ao reino de Leão seria conseguida, após muitas disputas familiares, em 1139. A expansão do feudo e a libertação de Leão deram origem à dinastia de Borgonha, a primeira de Portugal. Em Portugal prevalecia a monarquia centralizada desde o início e uma nobreza muito controlada pelo rei. A burguesia mercantil portuguesa também se transformou rapidamente numa das mais fortes da Europa, uma vez que Portugal se tornou entreposto comercial para a Rota: Mediterrâneo-Norte da Europa. Após a morte de Fernando I de Borgonha, sem herdeiros, desencadeia-se uma acirrada disputa sucessória. Parte da nobreza apoiava a entrega da coroa portuguesa ao genro de D. Fernando, o rei de Castela, e parte a uma nova política. Após um confronto, D. João, mestre de Avis, assumiu o comando dando origem à dinastia de Avis, uma dinastia intimamente ligada à burguesia mercantil. Bem, essas monarquias formam-se antes e depois de 1453 (marco do fim da Idade Média), ou seja, fazem parte tanto da Idade Média quanto da Idade Moderna. O Antigo Regime Estamos agora começando a caminhar rumo a um novo momento histórico: a Idade Moderna, onde se inicia uma nova fase para a política e para a economia européia. Essa nova fase é denominada Antigo Regime e está baseada em três fundamentos: uma política absolutista, uma economia mercantilista e numa mentalidade católica (que como vamos ver é bem diferente da que predominou durante toda a Idade Média). O Mercantilismo Com a decadência do feudalismo, a classe que vigorava na economia se tornou a burguesia. Esta classe agora dominava não só as feiras, mas também as rotas marítimas que levavam produtos desde a Itália até as gélidas terras do norte da Europa. Os produtos mais cobiçados e valiosos em toda a Europa não eram prata e ouro, mas as especiarias. As especiarias eram importantes para conservar e dar sabor aos alimentos. Apenas os mais ricos podiam comer especiarias. Para entender o quão preciosos podiam ser essas especiarias, basta lembrar que na Idade Média a carne era ingerida quase em putrefação e agora ela poderia ser ingerida quase como comemos hoje em dia. A alimentação é uma ferramenta muito forte, ela se torna a principal mercadoria a mobilizar um comércio gigantesco, e hoje em dia se tornou um marco muito forte de dominação cultural. Em 1488 o navegador português Bartolomeu Dias chegou ao cabo da boa esperança, região do extremo sul da África e em 1492, o navegador espanhol Cristovão Colombo chegou, mesmo sem saber, às Antilhas, ilhas do continente Americano. Em 1498 o navegador português Vasco da Gama, conseguiu alcançar o tão desejado sonho português: Achar um novo caminho até as Índias contornando a África. Mas, por que um novo caminho para as Índias era tão importante se já existia um caminho através do Mar Mediterrâneo? As especiarias vindas da Índia passavam por um complexo caminho em caravanas até o litoral da Ásia com o Mediterrâneo. A partir do Mediterrâneo, o entreposto mais próximo capaz de receber especiarias eram as Cidades República Italianas, como Gênova e Florença. Estas cidades controlavam o comércio de especiarias para toda a Europa, e aumentavam os preços drasticamente. Se algum país en- contrasse um caminho alternativo para a Índia, poderia fazer o comércio sem pagar os altos impostos para as cidades italianas. Assim, em 1498 Vasco da Gama consegue finalmente achar esta rota alternativa. Em 1500 uma outra expedição é enviada às Índias pela rota alternativa buscar mais especiarias. Desta vez o reino Português investiu em 15 embarcações da mais alta tecnologia, chamadas caravelas, e na impossibilidade de Vasco da Gama viajar novamente, o comandante da frota passou a ser Pedro Álvares Cabral. No caminho para as Índias, Cabral acaba contornando os ilhéus africanos de maneira muito acentuada e acaba encontrando a parte sul do continente americano, as terras do Brasil. Após uma parada de poucos dias, Cabral continua sua expedição, chega às Índias e volta carregado de especiarias. As navegações espanholas ocorreram simultaneamente. Mas, por que Portugal e Espanha? Estes países foram os primeiros a se centralizar em torno de um Estado. França e Inglaterra ainda estavam muito enfraquecidos com a guerra dos 100 anos e não tinham capital para uma empreitada tão gigantesca. Por exemplo, a construção de uma caravela, é algo tão custoso e grandioso que equivaleria à construção de uma linha inteira de metrô, como todos os trens, funcionários e custos de manutenção. É raro que interessasse ou que houvesse uma única pessoa com tanto dinheiro para investir, exceto é claro um Estado Nacional forte, com uma burguesia forte. Além disso, Portugal e Espanha ficavam mais próximos do Atlântico e possuíam uma burguesia consolidada e rica. A Espanha fez a viagem para além das Índias e chegou à costa do Pacífico da América do Sul. Lá encontram os Incas, e aproveitando-se dos conflitos e da exploração que já acontecia entre eles, entram como líderes no sistema de exploração das riquezas (chamado de encomiendas ou mitas). Também chegaram à América Central, onde entraram em conflito com o Império Asteca, muito organizado e forte. Os maias, também conhecidos desta época já estavam quase desaparecidos, havendo poucos remanescentes na América Central. A exploração espanhola se baseou no ouro e na prata abundantes nos Impérios Incaico e Asteca. Exploraram a mina de prata de Potosí, além dos muitos outros objetos que já havia em posse dos incas. Toda esta nova economia de exploração de colônias, de exploração de ouro, prata e especiarias tomou o nome de Mercantilismo. Como já foi exposto o mercantilismo teve duas fases: uma das buscas de especiarias e comércio, seguida por outra de exploração colonial. Organizemos o mercantilismo em alguns pilares: Metalismo: Busca incessante por acúmulo de metais preciosos como ouro e prata. Balança comercial favorável: Vender mais produtos do que se compra. Ou seja, protecionismo, colocar altos impostos para comprar produtos e facilitar a venda. Colonialismo: Exploração das colônias, que poderiam oferecer tanto metais preciosos quanto madeiras, gêneros, etc. Esta é a política econômica que vigorava na Europa, uma política de exploração das riquezas visando o lucro, muito diferente da economia de subsistência da Idade Media. Esta fase da economia histórica é chamada de pré-capitalismo, ou seja, é a primeira parte de um novo sistema que começará a se fixar no mundo. O Absolutismo A política do Antigo Regime baseava-se na constante reafirmação do governo centralizado. Desde o fortalecimento dos Estados nacionais o governo do rei já vinha sendo bastante autoritário, principalmente por linhas teóricas que vinham fortalecendo a ideia de que o Estado tinha que ser forte: Nicolau Maquiavel (1469-1527): Viveu com a família Medici em Florença, defendia a restauração da unidade italiana e o uso ilimitado de poderes pelo soberano em pró de uma sociedade pacífica e organizada. Escreveu a obra O Príncipe, e ficou famoso pela frase “os fins justificam os meios”, ou seja, uma síntese de sua teoria. Thomas Hobbes (1588-1679): Escreveu a obra “Leviatã”. Para Hobbes, o Estado absoluto representa a superação de um “estado de natureza”. Devido ao egoísmo intrínseco do homem (maldade) a sociedade humana apresentava uma tendência ao caos. Assim, o soberano seria o responsável por colocar ordem nestes homens porque, segundo sua mais célebre frase, “o homem é o lobo do homem”. Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704): O bispo francês Bossuet defendia que o poder do rei era próximo do poder de Deus, e se isso acontecia Deus havia dado direito aos reis para governar. Assim, o rei teria o direito divino de governar, de Deus emanaria a autoridade do rei. Grandes personagens do Absolutismo: França Luís XIV (1643-1715): foi o ápice do absolutismo francês, autor da famosa frase “O Estado sou Eu”. Além disso, associou sua imagem ao sol, tornandose o Rei Sol, o rei com direito divino de governar. Inglaterra Henrique VIII (1509-1547): Foi o filho de Henrique VII. Após ter submetido o Parlamento, decretou o Ato de Supremacia, que tornava oficial uma nova corrente religiosa na Inglaterra. Elizabeth I: Ultima rainha Tudor, filha de Henrique VIII com Ana Bolena, colocou em prática uma agressiva política mercantilista, com a construção de uma poderosa frota naval e a exploração de colônias na América. Reforma Protestante A mentalidade dominante durante a Idade Moderna e o Antigo Regime é definitivamente a católica. Sobretudo, por conta de um evento que ocorreu na Alemanha. As reformas protestantes são as primeiras expressões, desde o Império de Otávio Augusto, de uma nova religião para a Europa, e começam com um eclesiástico chamado Martinho Lutero. Lutero: O grande rompimento iniciou-se na Alemanha, região do Sacro Império Romano Germânico. A Alemanha era ainda basicamente feudal, agrária, com alguns enclaves mercantis e capitalistas ao norte. A Igreja era particularmente poderosa no Sacro Império, onde possuía cerca de um terço do total das terras. A nobreza alemã, por essa razão, encontravase ansiosa por diminuir a influência da instituição, além de cobiçar suas propriedades, o que estimulou ainda mais o rompimento. A reforma teve início com Martinho Lutero (14831546), membro do clero e professor da Universidade de Wittenberg. Em 1517, o monge insurgiu-se contra a venda de indulgências. Certo, o que são indulgências? Indulgências, Simonia, Nicolaísmo, Mundanismo e outros são termos para condenar as contradições da igreja católica. Indulgência significava “perdão”, a Igreja Católica costumava vender o perdão, vender uma parte do paraíso, muitas vezes o paraíso era vendido em lotes de diferentes tamanhos e valores. Simonia era a venda de cargos eclesiásticos, ou seja, os mais ricos poderiam comprar altos cargos como bispos e cardeais, enquanto os mais pobres ficavam com os piores cargos. Nicolaísmo era o lucro em torno de verdadeiros ou falsos objetos sagrados, por toda a Europa as pessoas gas- tavam muito para ver os diversos crânios de cristo, costelas de Judas, Santos Graais e mantos de Maria. E mundanismo eram os pecados cometidos pelos membros do clero como a Gula, o sexo e as perdições em luxo. Era contra essa realidade que Lutero estava se impondo em 1517, e para tal, escreveu 95 teses, pregou na porta da Igreja, e mandou enviar ao clero e ao Papa. O Papa devolveu as críticas de Lutero com uma bula, ou seja, um documento, que mandava Lutero se reportar a um tribunal em Roma. Lutero queimou a bula em praça pública. Começou então um intenso movimento contra o papa onde Lutero recebeu o apoio da nobreza local, muito insatisfeita com os impostos e terras da Igreja em seu território. Os nobres acolhem Lutero, e escondido durante um ano ele traduziu a Bíblia para o Alemão. A partir de então tem início uma nova doutrina chamada de “protestantismo” ou luteranismo. Até então a Bíblia existia apenas em latim, e as pessoas sempre conheciam a sua fé através das palavras dos papas. Eis os princípios do Luteranismo: Salvação pela fé Livre leitura da Bíblia Manutenção do batismo e da eucaristia Usar o alemão nos cultos religiosos Negação da transubstanciação (transformação do pão e vinho no corpo e sangue de cristo) Submissão da Igreja ao Estado Calvino: Um seguidor de Lutero, João Calvino (1509-1564) passou a divulgar na Suíça e depois na França a sua própria versão das ideias de Lutero. Calvino era tão protestante quanto Lutero, no entanto, criou uma crença totalmente diferente baseada na predestinação absoluta, segundo a qual todos os homens estavam sujeitos à vontade de Deus, e apenas alguns estariam destinados à salvação eterna. O sinal da graça divina estaria em uma vida plena de virtudes, dentre as quais o trabalho diligente, a sobriedade, a ordem e a parcimônia (contenção de gasto). Dessa forma, a doutrina calvinista exaltava características individuais necessárias às práticas comerciais. Suas ideias, portanto, estavam próximas dos valores capitalistas e dos valores da burguesia. Inspirado em Lutero, Calvino considerava a Bíblia a base da religião, não sendo necessária sequer a existência de um clero regular. Criticava o culto às imagens e admitia apenas os sacramentos da eucaristia e batismo. O calvinismo espalhou-se pela Europa mais do que o luteranismo: na Escócia foram chamados presbiterianos, na França, huguenotes e na Inglaterra, puritanos. Henrique VIII Não apenas um rei absolutista, Henrique VIII, Henrique Tudor, foi o propagador de uma religião paralela à católica, mas muito diferente da protestante. Henrique casou-se com a noiva de seu falecido irmão, que não chegou a ser rei. Esta noiva era Catarina de Aragão, filha de Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Com Catarina Henrique teve sua primeira filha, Mary, a futura Mary I. A dificuldade de Catarina de ter filhos homens e a elevada idade da rainha levou o rei a ter inúmeros casos extraconjugais, mal vistos pela Igreja, mas comuns no interior da corte. No entanto, Henrique VIII se encantou pela jovem cortesã Ana Bolena, que servia na corte do rei da França. Henrique pediu, então, o divórcio diretamente ao Papa. Naquela época, o Sacro Império Romano Germânico estava nas mãos de Carlos V, sobrinho de Catarina, que a pedido da rainha, fez com que o papa negasse o divórcio. Henrique enfurecido com a recusa do papa rompeu com a Igreja Católica, nomeou-se senhor supremo da Igreja da Inglaterra, Igreja anglicana e oficializou o divórcio. A nova religião foi jurada, então, por todos do reino. Este juramento passou a ser o ato de supremacia, que nomeava Henrique o chefe supremo da Igreja anglicana, como um papa. Surge então a nova religião da Inglaterra, o anglicanismo. Contra Reforma: Apavorada com todas estas oposições, a Igreja Católica se reuniu no chamado Concílio de Trento, uma reunião que durou 20 anos a fim de reafirmar a fé católica. Ao término dos 20 anos, definiu-se: O Index Librorum Prohibitorum: A lista de livros proibidos pela Igreja Católica. Esta lista incluía as obras do protestantismo e do anglicanismo. O ultimo Index foi lançado na década de 1960. A criação da Companhia de Jesus: Seria uma ordem especial da Igreja chamada de Jesuítas, os Jesuítas teriam a missão de se espalhar pelo mundo em busca de novos fieis. Graças a eles o continente americano se formou extremamente católico. O renascimento do tribunal do Santo Ofício: Era o tribunal da Inquisição, segmento da igreja criado para caçar as heresias, investigar, torturar se necessário, e eliminar toda forma de heresia pela violência (fogueira, óleo fervente, decapitação).