Memorial - Facom-UFBA

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Edna Matos
CÃO DE RAÇA
O REGGAE RESISTÊNCIA DE EDSON GOMES
Salvador, 2013
UFBA
Dedico este livro
aos meus pais, Seu Cecílio e D. Lourdes Matos de quem eu herdei a
inteligência e a determinação
aos meus filhos, Dandara e Adônis Matos como mais uma forma de
mostrar-lhes que “Nós podemos!”
ao meu irmão, Edson Matos que me ensinou que para se ter uma
grande vida os sonhos não podem ser pequenos
Edna Matos
CÃO DE RAÇA
O REGGAE RESISTÊNCIA DE EDSON GOMES
1ª Versão apresentada como Trabalho de Conclusão do Curso de
Comunicação social com habilitação em Jornalismo
Salvador, 2013
UFBA
© 2013 Edna Matos
Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social com Habilitação em
Jornalismo da Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia,
2013.
“O homem sem sua história – origem e
cultura – é como uma árvore sem raiz.”
Marcus Garvey
Orientador
Prof. Fernando Conceição
Diagramação
Edna Matos
Ilustração
Sueide Kintê
Revisão
Rogério Barros
_______________________________________________
Matos, Edna.
Cão de Raça: o reggae resistência de Edson Gomes / Edna Matos –
Salvador: UFBA, 2013.
1. Biografia. 2. Reggae. 3. Livro-reportagem. 4. Jornalismo literário 5.
Música 6. Edson Gomes
_______________________________________________
Edição do Autor
Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de
dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia,
gravação, etc., sem a permissão do autor.
“Nós, os negros, temos que prestar
muita atenção à nossa história se
quisermos tornar-nos conscientes.
Muita coisa tem que ser revelada e
seríamos ingênuos se esperássemos que
nossos conquistadores escrevessem
uma história imparcial sobre nós.”
Steve Biko
“A inspiração para a expressão “Cão de Raça” que
dá título a uma música minha e é o nome de
minha banda, do meu time de futebol e de minha
produtora, foi extraída da seca nordestina, do
povo nordestino, porque o cão que é vira lata,
quando o negócio pega vai embora e o cão que é
de raça fica. Então, o nordestino, o sertão e o
nordeste, todo ano, passam por esse problema,
essa dura seca. Esse povo é tratado como
cachorro, mas é de raça. E foi por isso que eu
tomei para mim esse nome, surgiu assim, e
depois ele foi ampliado, por que cão de raça é
todo aquele que luta, por um objetivo, ainda que
essa luta faça com que ele sofra e perca a
oportunidade. É aquele que bate de frente com os
dominadores, com o sistema. Esse é o Cão de
Raça.”
Edson Gomes
Agradecimentos
ÍNDICE
Reconheço que este trabalho não é resultado apenas do meu
esforço e das pessoas que me ajudaram diretamente. Ele traz a
contribuição dos que vieram antes e possibilitaram que eu aqui
Apresentação – “Reggae é música, Reggae é som” .................................................. 11
chegasse. A esses minhas respeitosas reverências.
CAPÍTULO 1 – “Eu também sou a ovelha negra da família” ................................ 23
A minha equipe da Diretoria de Gestão da Tecnologia da
CAPÍTULO 2 – “Surge mais um guerreiro do terceiro mundo” .......................... 39
Informação do Instituto Federal da Bahia, especialmente, sem
CAPÍTULO 3 – “Vamos dançar este Reggae” .............................................................. 59
desmerecer o apoio dos demais, Márcio Oliveira, Allan Freitas,
CAPÍTULO 4 – “Mesmo que o rádio não toque” ..................................................... 103
Rogério
Referências ............................................................................................................................ 119
Barros
e
Lázaro
Assunção
pela
compreensão,
cumplicidade, parceria e apoio sem os quais eu não teria podido
Discursos ................................................................................................................................ 125
realizar este trabalho.
Discografia............................................................................................................................. 129
À Sueide Kintê, Dandara Matos, Adônis Matos, Linda Gomes,
Denise Santos, Samadar Kintê, Jéssica Matos, Cíntia Castro, Deyse
Martins e tantos outros que contribuíram direta ou indiretamente
para este resultado.
Um agradecimento especial a meu amigo Marcelo Sousa pela
confiança, desprendimento e solidariedade.
Aos amigos e parentes que sempre acreditaram.
Galeria ..................................................................................................................................... 137
11
Apresentação – “Reggae é música, Reggae é som”
“Reggae é música
Reggae é som, beleza pura
Rastafári
Reggae é som, ê Bob Marley
E nasceu lá na Jamaica
Se expandiu pelo mundo
Mas, Deus criador Jah
Mandou chamar Marley
Mas, a gente que ficou não vai deixar morrer
A bela música
A bela música Reggae.”
(“Rastafári”, Edson Gomes)
Edna Matos
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As suas letras falam predominantemente da luta contra a
O Reggae se instalou na Bahia dos anos 1980 trazendo consigo as
discriminação racial. Junte-se a isto um fundo musical imenso, que
suas características jamaicanas, mas foi ressignificado ao entrar
faz com que quem o ouça imediatamente se pergunte que música
em contato com a cultura local. O ritmo acabou influenciando uma
é esta? É uma música sensível para pessoas sensíveis. Mas que
geração de artistas naquele período em que havia uma grande
poder é este que faz desta música quase uma religião, uma nova
movimentação pela afirmação da cultura negra em todo o mundo.
filosofia de vida? Nós acreditamos neste poder porque vimos que
O pesquisador Carlos Albuquerque no seu livro O Eterno Verão do
nele tudo faz sentido e tem seu lugar reservado na história. Essas
Reggae destaca que a música reggae se difundiu nos bairros
são as palavras que o pesquisador Marco Antonio Cardoso utiliza
jamaicanos habitados pela população negra marginalizada. As
para descrever a “magia do
reggae”.1
Eu as tomo emprestadas
letras do Reggae, entre outras coisas, denunciavam o sistema de
para descrever o trabalho daquele que para mim é o principal
opressão vivenciado pela população negra pobre das camadas
representante da música reggae no Brasil, Edson Gomes.
baixas. Isso possibilita considerar que o Movimento Rastáfari e o
Uma coisa que sempre me despertou a atenção era ouvir as
Reggae foram importantes meios de resistência do povo negro
músicas de Edson Gomes sendo tocadas com frequência nas ruas,
jamaicano, no combate, mesmo que simbólico, contra o sistema de
nas casas, nos carros, tanto aqui em Salvador como em outras
opressão vivenciado por ele.
cidades que eu visitava dentro e fora da Bahia. Algumas músicas
Segundo outra estudiosa da música reggae, Bárbara Falcón, autora
têm mais de 20 anos de gravação e não costumam tocar na
do livro Reggae de Cachoeira – Produção Musical em um Porto
programação normal das rádios, nem o cantor tem aparecido nos
Atlântico a tradição musical popular de Salvador e do Recôncavo,
programas de televisão, mesmo assim as pessoas o ouvem com
e os discursos cultos e populares em torno da musicalidade
bastante assiduidade. Pensando nisso, decidi investigar qual a
baiana, representaram o filtro pelo qual as influências “de fora”
causa desse fenômeno musical. Por que as músicas de Edson
foram percebidas e reinterpretadas. Talvez por isso o Reggae
Gomes são admiradas, principalmente, pelos mais jovens, muitos
tenha sido um ritmo bem absorvido pela cultura baiana, embora
dos quais nem eram nascidos quando a maioria delas foi lançada?
seja solenemente ignorado pela mídia, em especial, rádio e TV.
Com meio século de produção, o Reggae conseguiu subverter a
ordem e percorrer caminhos inimagináveis, principalmente se
1
CARDOSO, 1997, p. 9
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considerarmos que ele se originou na Jamaica, um pequeno país
Reggae muito bom. Era fevereiro de 1987 e desde então, tenho
de periferia. Nesse sentido, o Reggae pode ser considerado como
acompanhado a carreira de Edson Gomes e observado o
exemplo de cultura cosmopolita, pois extrapola os limites
comportamento quase religioso de seu público. Edson Gomes não
nacionais e se universaliza na sua expansão. E, tanto na capital
faz show e sim pregação. Os seus discursos trazem na essência
baiana como em cidades do interior – principalmente no
sempre o mesmo apelo de resistência ao sistema (babilônia).
Recôncavo Baiano – o ritmo acabou influenciando uma geração de
artistas que passou a utilizá-lo como um veículo de difusão de
suas mensagens políticas, religiosas e estéticas.
As pesquisas e observações preliminares mostram que o artista
não teve reconhecida pela mídia ou pela indústria de
entretenimento na Bahia a real importância do seu trabalho. O
Edson Gomes é um destes artistas. Trazendo na bagagem toda a
curto período de apogeu e o pouco material disponível para
musicalidade de Cachoeira ele acrescentou a sua música o
pesquisa apontam para o descaso de um trabalho que a primeira
discurso político passando a contar a realidade do negro oprimido
vista mudou a forma de se ouvir e fazer música em Salvador e
através de letras de protesto e lamento. De imediato conquistou a
Recôncavo e que contribuiu para a formação de um público de
simpatia do público regueiro da região que também se identificava
Reggae que extrapola os guetos e não respeita classe social, nem
com seu discurso/pregação durante os shows.
etnia, além de influenciar boa parte dos artistas atuais na cena
O meu interesse em registrar a relação entre a obra de Edson
musical da região. Foi diante deste quadro que nasceu o desejo de
Gomes, cantor e compositor de Reggae e o público regueiro de
preencher estas lacunas e resgatar em forma de registro em livro
Salvador e Recôncavo Baiano é, antes de tudo pessoal: eu faço
a história e a obra de Edson Gomes.
parte deste público! Mas, é principalmente pela curiosidade
A outra motivação, esta mais atual, foi verificar quão pouco se tem
despertada pelas observações que venho fazendo desde que o
produzido sobre o Reggae aqui na Bahia. Uma manifestação que é
ouvi pela primeira vez na noite da escolha da Rainha do Bloco
tão presente nos meios populares e tão ausente de registros
Afro Muzenza, a “Muzembela” no antigo Centro de Cultura Popular
acadêmicos. Foi pensar que os negros que agora têm a
no Forte de Santo Antonio Além do Carmo. Naquele momento, ele
possibilidade de ascender à Academia podem e devem escrever
foi apresentado por Barabadá, presidente do Bloco Afro Muzenza
sua história.
àquela época, como o garoto que veio de Cachoeira e que fazia um
Edna Matos
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Cão de Raça
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Enquanto acalentava este desejo fui me preparando para uma
cumprimentei pedindo desculpas pela ausência do professor que
tarefa árdua, afinal é ideia corrente de que Edson Gomes é uma
estava na expectativa do nascimento de sua filha e não poderia
pessoa inacessível e até mesmo grosseira. Por isso, estranhei a
viajar e explicando o motivo do meu atraso.
facilidade com que foi marcada a primeira entrevista e creditei o
fato na conta de Prof. Fernando Conceição cujo nome eu tinha
usado para facilitar o acesso ao artista. Marcamos nosso encontro
para uma terça-feira, 18 de junho de 2013, em São Félix, primeiro
às 14:00h depois o seu assistente, Sílvio Tourão retornou dizendo
que Edson tinha adiado para às 16:00h porque depois do almoço
ele costuma tirar uma soneca.
Todas as ideias preconcebidas caíram por terra, todas as
informações anteriores se mostraram falsas, Edson tratou a mim e
a minha equipe com muita simpatia e paciência. Ao ser informado
do objetivo do projeto falou que muitos outros já tinham
aparecido dizendo que iriam escrever sua história, mas depois
sumiram. Que a maioria das coisas que são divulgadas sobre ele
não são verdadeiras e que ele gostaria de ter uma oportunidade
O trânsito caótico de Salvador e as péssimas condições da estrada
de contar a sua própria história. Expliquei que não pretendia fazer
fizeram com que eu chegasse com um atraso de quase duas horas.
um livro de ficção, nem uma peça publicitária e muito menos uma
Confesso que não espera mais ser recebida. Cheguei em São Félix,
coluna de fofocas, mas, que para isso precisaria da colaboração
por volta das 18:00h e conforme o combinado, alguém foi chamá-
dele. E assim, expectativas acomodadas, gravamos a nossa
lo em sua casa. Edson veio me encontrar no bar de Grande, na
entrevista que durou cerca de uma hora e meia em uma sala
Rodoviária que eu vim saber depois ser o seu lugar preferido na
bastante iluminada que conseguimos por empréstimo no prédio
cidade, onde ele tem, inclusive, a “sua” mesa onde costuma beber
da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) em Cachoeira.
umas cervejinhas e conversar com os amigos e fãs. É também o
local em que recebe os jornalistas.
Os arranjos para o segundo encontro também não foram fáceis. A
entrevista foi agendada novamente para uma terça-feira (alguém
Já estava começando a escurecer e eu não fui preparada para
me informou que ele gosta deste dia da semana), mas só veio a
filmar a noite. Tudo parecia conspirar para que esse nosso
acontecer no dia seguinte, 24 de julho de 2013 porque o “baba”2
primeiro contato fosse um fracasso. Edson chegou olhando ao
redor, naturalmente procurando por Fernando Conceição. Fui me
aproximando, armada com o meu melhor sorriso e o
Baba, na Bahia, é o nome dado a uma partida recreativa de futebol com regras livres,
normalmente sem a preocupação com tamanhos de quadra/campo, condição dos
calçados e uniformes, marcações básicas (pequena e grande área, circulo central),
impedimentos, faltas, tempo de jogo sendo tudo resolvido em consenso pelos jogadores.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pelada_(futebol).
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Edna Matos
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do seu time de futebol o Cão de Raça estava voltando a acontecer
Cão de Raça – O Reggae Resistência de Edson Gomes foi baseado em
depois de um breve período suspenso. Como minha equipe não
quinze entrevistas realizadas nos meses de junho e julho de 2013,
poderia ficar utilizei, para esta gravação, os serviços de meu filho
nas cidades baianas de Salvador, São Félix e Cachoeira. Para que o
e sua namorada que estudam jornalismo lá na UFRB de Cachoeira.
leitor possa ter uma melhor compreensão do trabalho do artista
Edson me recebeu em sua residência acompanhado de seu filho
foram incluídas letras de algumas de suas músicas. A obra possui,
Jeremias e gravamos por duas horas e meia. Com essa entrevista
ainda, fotos, imagens e prints de matérias publicadas na imprensa;
eu estava honrando o compromisso assumido com ele de que os
transcrição de discursos proferidos em alguns shows e relação
casos, não comprovados documentalmente, só seriam publicados
dos discos gravados com as respectivas fichas catalográficas.
depois que ele tivesse tido a oportunidade de apresentar a sua
versão.
Os leitores, especialmente, os que acompanham o trabalho de
Edson Gomes irão notar no texto aqui apresentado, a ausência da
fala de seu filho Isaque Gomes. Nestes dois meses vi frustradas
duas tentativas de conversar com ele. Depois da segunda
entrevista com Edson percebi que as relações familiares dos
Para essa primeira versão alguns depoimentos e casos relatados
não foram utilizados na produção deste texto, porque necessitam
de uma verificação mais acurada.
O livro foi dividido em capítulos que agrupam informações de
quatro grandes fases da vida de Edson Gomes – o início em
Cachoeira e São Félix, a gravação do primeiro disco, o período de
auge na carreira e a luta para se manter em atividade.
Gomes se apoiam em um terreno não muito firme onde eu
precisarei pisar com bastante cuidado. Eu não tenho pressa e
Os títulos dos capítulos são frases retiradas de letras de músicas
tenho certeza que devagar acabarei conseguindo o depoimento de
de Edson Gomes que guardam relação com o assunto tratado em
todas as pessoas que interessam para esse trabalho.
cada um.
A trajetória de Edson Gomes é digna de registro pela persistência
A música “Rastafári” utilizada na epígrafe desta introdução foi a
com que enfrenta as dificuldades para poder realizar o sonho de
primeira composição feita pelo artista já em ritmo de Reggae. Ela
cantar do seu jeito, da forma que ele acredita ser a certa e falando
foi vencedora do Festival Canta Bahia, realizado na cidade de Feira
o que ele acha que vale a pena falar.
de Santana, Bahia, em 1985 e também a primeira música de Edson
Gomes gravada em disco. Em 1987, ela foi gravada pela cantora
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Sarajane, o que para alguns foi o motivo que despertou o interesse
gravação do disco com as pressões de Cristóvão Rodrigues e
da gravadora EMI Odeon pelo trabalho de Edson.
Wesley Rangel para dar o que eles entendiam como uma cara mais
O primeiro capítulo chamado de “Eu também sou a ovelha negra
da família” traz um resumo da juventude de Edson e suas
dificuldades para seguir a carreira de cantor. Aborda o difícil
relacionamento com seu pai para quem cantar era coisa de
vagabundo; as duas viagens ao sudeste do país para tentar a
carreira musical; a parceria com Nengo Vieira que o introduziu no
mercadológica para o produto e a resistência de Edson Gomes
para tentar preservar o que ele considerava como sendo a
originalidade do seu trabalho. A música “Guerreiro do Terceiro
Mundo” foi escolhida para nomear este capítulo por trazer na sua
letra a essência do sentimento de Edson com relação ao sistema
(babilônia) e como ele achava que deveria agir dentro dele.
mundo da música reggae; seu envolvimento com as drogas e a
O próximo capítulo do livro relata a fase de auge do cantor e ao
gravação do compacto duplo fruto do Festival Canta Bahia. A letra
mesmo tempo disseca as letras de algumas de suas músicas
da música “Ovelha”, escolhida para intitular o capítulo, foi escrita
relacionando as características do trabalho de Edson à sua
por Edson para mostrar como ele se sentia frente ao tratamento
personalidade contraditória. Edson Gomes é autodidata, o seu
recebido por parte de sua família que não aceitava a sua opção
conhecimento e sua visão de mundo ele afirma que adquiriu pela
pela arte e queria vê-lo trabalhando e constituindo família como
sua própria experiência na vida e pelas leituras da Bíblia. As suas
qualquer pessoa normal.
músicas são inspiradas nos fatos do cotidiano das pessoas, em
O capítulo intitulado “Surge mais um guerreiro do terceiro
mundo” apresenta ao leitor o processo que resultou na gravação
do primeiro disco, o LP Reggae Resistência, que para os
pesquisadores representa um marco da música reggae no
mercado fonográfico brasileiro. Este capítulo tem dois destaques.
Primeiro, a difícil negociação com a EMI Odeon tendo como
protagonistas, além dos diretores da gravadora e do cantor, o
radialista Cristóvão Rodrigues e o dono da gravadora WR, Wesley
Rangel. O segundo destaque fica por conta do processo de
acontecimentos pessoais ou se referem ao posicionamento
político e social do artista. Este momento do livro é reservado
também para relatar alguns dos casos polêmicos que o cantor se
envolveu e que, talvez, tenham ajudado a formar a imagem de
pessoa inacessível e de difícil trato que ele carrega. A sua
espiritualidade fortemente ligada ao cristianismo e a sua
resistência ao romantismo também são tratadas neste capítulo. A
música escolhida para o título do capítulo foi feita em homenagem
a seu filho Isaque Gomes que, embora sendo criança, já o
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acompanhava na maioria dos shows e cuja foto aparece nas capas
de três dos seus sete discos. “Vamos dançar esse Reggae” convida
o leitor a testemunhar esse período de sucesso e a entender
melhor esse artista tão controverso.
Por fim, o capítulo quatro “Mesmo que o rádio não toque” foi
escrito para mostrar ao grande público o que os seguidores do
Reggae, especialmente, os fãs de Edson Gomes sabem: ele
continua na ativa, desenvolvendo projetos na cidade de São Félix,
onde mora e mantém uma agenda senão cheia, como no auge da
carreira, com um número de shows suficiente para fazê-lo viajar
algumas vezes por mês pelas cidades do nordeste brasileiro,
CAPÍTULO 1 – “Eu também sou a ovelha negra da família”
“Há dias na vida que a gente pensa que não vai conseguir
Há dias na vida que a gente pensa em desistir
Há dias na vida que a gente pensa em sumir
E a turma lá em casa já está apavorada com a minha decisão
É que não ligo mais nada
Nem mesmo a namorada, que me deu o coração
Eu gostaria de ficar com você um pouco mais
Vou por aí, vou mesmo assim, vou por aí
Vou por aí, vou mesmo assim, vou caminhar
Eu também sou a ovelha negra da família.”
incluindo as capitais dos estados como, Recife, Maceió, Natal,
Fortaleza e Aracaju, além de vários municípios do interior baiano.
Apesar da sua última gravação de disco ter acontecido em 2001,
Edson Gomes tem apresentado durante esses anos, músicas que
alcançaram grande sucesso nos seus shows, mas que não constam
de nenhum disco oficial. Esse é um dos motivos apresentados pelo
artista para as dificuldades que está encontrando para compor o
repertório do disco que ele está preparando para lançar até o final
de 2013. Durante o período que esteve sem gravar o próprio
trabalho, Edson produziu os discos de seu irmão Tim Tim Gomes e
de seus filhos Isaque Gomes e Jeremias Gomes.
(“Ovelha”, Edson Gomes)
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A pequena cidade de São Félix localizada no recôncavo baiano às
Que o homem falível
margens do rio Paraguaçu encanta pela sua beleza natural, pelo
É sempre falível
E a gente que nunca tem nada a ver
patrimônio histórico e pela simplicidade dos seus moradores.
Vive pagando sem merecer.”3
O cruzeiro instalado no alto do morro onde as casinhas parecem
deslizar em direção ao rio dá ao lugar um formato de presépio.
Na outra margem do Rio Paraguaçu está Cachoeira, cidade natal
Dele é possível ver as cidades de Cachoeira e São Félix, um bom
de Edson Gomes. Tombada pela Unesco como Patrimônio da
trecho do rio Paraguaçu e a barragem de Pedra do Cavalo,
Humanidade, pelo seu valor histórico. Cachoeira possui diversas
construída para tentar controlar as cheias do rio que provocavam
belezas naturais, mas o destaque fica para seu acervo
destruição, morte e tristeza nos dois municípios.
arquitetônico de estilo barroco, que traz as lembranças do Brasil
Império. A cidade de Cachoeira conta um pouco das origens do
Nas ruas antigas, podem-se encontrar casas dos tempos do Brasil
colônia. As muitas igrejas católicas e o grande número de terreiros
de candomblé comprovam a religiosidade e o sincretismo,
características próprias do povo da região.
Brasil, pois preserva em seus monumentos e templos religiosos
características do período colonial. O seu povo mantém viva as
mais autênticas manifestações culturais, a exemplo das festas
populares e religiosas, seus terreiros de candomblé, sua culinária
O trem circula pelas ruas estreitas lembrando que o município foi
e o samba de roda do Recôncavo, declarado pela Unesco como
um grande entreposto para a troca de mercadorias entre o sertão
Patrimônio Imaterial Nacional e da Humanidade.
e a capital. Apesar de não transportar mais passageiros, continua a
ser um marco histórico da cidade.
As cidades de Cachoeira e São Félix cultivam uma rivalidade que é
comum entre irmãs que são criadas em casas diferentes,
Essa bela cidade foi o lugar que Edson Gomes escolheu para viver
fisicamente separadas por um rio e historicamente unidas por um
e que homenageia em uma de suas músicas.
passado tão concreto e resistente quanto a majestosa e imperial
“Bela cidade
Lindo presépio
Filho de Deus, Menino
Ponha sua mão nessa represa
3
“Bela Cidade”, Edson Gomes (disco Resgate Fatal - 1995)
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ponte D. Pedro II, inaugurada em 1885, com o objetivo de ligar
família não tinha condições nem intenções de incentivar essa
esses dois municípios4.
pretensão.
Foi nesse cenário que, em 3 de julho de 1955, nasceu Edson Silva
Assim, Edson acabou descobrindo a música e decidiu seguir por
Gomes. Filho de D. Maria de Lourdes Silva Gomes e de Seu Pedro
esse caminho contra tudo e contra todos. Ele conta que tudo
Nolasco Gomes. Sendo o primeiro de uma sequência de oito filhos
começou com um elogio: “Em casa eu não tinha apoio nenhum em
talvez, por isso fosse o mais cobrado a seguir os caminhos
relação a essas coisas do dom, como jogar bola ou fazer música.
normais destinados aos negros do Recôncavo Baiano nos anos 70
Porque naquele tempo, ninguém acreditava que poderia sair
e 80.
daqui desse lugar, um jogador de futebol ou um cantor de
Seu Pedro era um ferroviário de conceitos rígidos e repressores.
Edson afirma que teve uma infância bastante difícil e que seu pai
era muito duro na sua forma de educar: “As lembranças do
passado não são boas, era muita pressão, se saísse da linha
apanhava, naquele tempo os pais podiam bater nos filhos, então lá
em casa tinha muita porrada”.
Como tantos outros garotos negros, pobres e de família numerosa
tinha no futebol a sua principal diversão, já que era de graça.
Como jogava razoavelmente bem, nada mais natural que pensasse
em ser jogador profissional. Só que eram tempos difíceis, onde
não havia nenhum tipo de incentivo por parte dos clubes e a sua
categoria que fizesse sucesso. Eu morava, ainda, em Cachoeira e
tinha um vizinho chamado Venceslau, que consertava violão e me
ouvia cantar no banheiro. Um dia eu estava na porta e ele disse:
‘você tem uma boa voz, canta bem’. E aí, foi um estalo! Eu ri e
acreditei!”.
Mas, da mesma forma que no futebol, a carreira musical não era
bem vista pela sociedade cachoeirana da época. Tim Tim Gomes,
cantor e irmão de Edson acha que os conflitos entre o irmão e seu
pai aconteciam porque Seu Pedro queria que Edson aprendesse
uma profissão normal como, mecânico, pedreiro, carpinteiro ou
então que estudasse para ser mais alguém. Mas, Edson queria ser
artista: “Edson não era rebelde. Ele era persistente. E tanto
4 A ideia da construção da ponte deve-se à disputa de rivalidades entre as duas cidades
vizinhas. Levando em conta apenas a finalidade principal de escoamento da produção
mineral da Chapada Diamantina, a ponte não era necessária. Os trens da estrada de
Ferro Central da Bahia precisavam apenas chegar até São Félix, pois o rio é navegável.
Porém, a cidade vizinha Cachoeira, que era a segunda do Estado, não poderia perder a
oportunidade de ver realizado o sonho de cruzar o Paraguaçu. Além disso, com a ponte
poderia incorporar à cidade o distrito de São Félix.
Fonte: http://www2.transportes.gov.br/
insistiu que alcançou o seu objetivo. Não era a família toda que
não o apoiava. Era apenas o nosso pai por achar que música era
coisa de vagabundo”.
Edna Matos
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Hoje é assim, hoje é assim, sim, sim.”5
O temor do pai de Edson era que ele não seguisse por um caminho
decente, pois na sua concepção os negros precisavam se esforçar
mais do que os outros pra mostrar que eram dignos de confiança e
que poderiam ocupar algum espaço na sociedade. Para agradá-lo
Edson trabalhou como servente em várias firmas de construção
civil na ampliação do Polo de Camaçari e da Petrobrás. Mas, não
ficava empregado por muito tempo e sempre que retornava a São
Félix voltava a fazer música gerando novos conflitos com seu pai.
Pode-se dizer que a trajetória musical de Edson Gomes se iniciou
no Colégio Estadual da Cachoeira, onde ele concluiu a oitava série.
Em 1972 ao participar de um festival interno ao colégio, Edson foi
escolhido como o melhor intérprete. Assim, ele foi tomando gosto
pela música e em 1977, participou do Festival de Inverno, que era
um evento paralelo a tradicional Feira do Porto de Cachoeira e,
além de sua música “Todos devem carregar sua cruz” ter ficado
Quando Edson gravou seu primeiro disco, Seu Pedro deu o braço a
com o primeiro lugar, mais uma vez ele foi premiado com o troféu
torcer e passou a valorizar o trabalho do filho, principalmente as
de melhor intérprete.
músicas que falavam da realidade que os cercava. Edson, por
outro lado, o homenageou com a música “Hereditário”, que consta
do repertório do seu primeiro disco Reggae Resistência:
Dono de forte personalidade e um temperamento explosivo Edson
Gomes costuma defender suas crenças e ideias de forma bastante
aguerrida, talvez, por isso, a infância difícil e a forte repressão
“Era assim, era assim, sim, sim, sim
paterna não o intimidou. Edson foi cada vem mais sendo
No nascer do dia meu pai ia
envolvido pela música e já pensando em fazer carreira viajou para
E na morte do dia ele vinha
o Rio de Janeiro, no final de 1977, valendo-se do convite de um
Ele trazia sempre o suor no rosto
colega que tinha parentes por lá. Mas, chegou no período que
O corpo cansado e nada no bolso
antecedia ao carnaval e que por isso, não era muito propício para
Era assim, era assim, sim, sim, sim
quem pretendia batalhar por um espaço na música. Mesmo assim
Hoje eu que saio
Sou eu que trabalho
foi até a Rádio Globo participar do programa "Amigo da
Madrugada" apresentado pelo radialista Adelzon Alves6, que tinha
Conheço a dureza
De toda essa vida
5
Pai de família, pai de família
Hereditário, Edson Gomes (LP Reggae Resistência, 1988)
Apresentador do programa Amigo da Madrugada de 1966 a 1990, sempre no horário
de meia-noite até às três da madrugada, na Rádio Globo do Rio de Janeiro. Aldezon Alves
acolhia em seu programa, compositores talentosos que não tinham oportunidades em
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como referência, o fato de já ter acolhido o grupo Tincoãs7,
adiantando muito. Eu estava trabalhando e ganhando pouco, pois
também de Cachoeira. Apesar da vontade de ser cantor, Edson não
lá em São Paulo se trabalha muito e ganha pouco, e o pior é que eu
suportou a distância e resolveu voltar antes mesmo do carnaval
não estava tendo o contato com o meu objetivo, que era a música”.
começar: “Toquei e cantei. Aldezon gostou e me disse – agora não
posso fazer nada, está tudo parado, mas volte depois do carnaval –
só que eu não suportei a saudade e a distância e voltei para São
Félix”.
De volta a São Félix, Edson Gomes trabalhou em vários lugares e
por fim, foi contratado como auxiliar de produção na fábrica de
papel Tororó, em Cachoeira. Por decisão própria esse foi o seu
último trabalho de “peão”8. Segundo ele a gota d’água foi a rotina
Em 1981, deixando aqui a sua então companheira, Marivalda
da fábrica: “Eu carregava e descarregava caminhões e embora o
grávida, Edson Gomes decidiu ir para São Paulo, tentar mais uma
horário fosse administrativo, sempre, quando a gente já estava
vez, a sorte na carreira musical, só que não deu certo de novo. No
tomando banho, chegava o encarregado para avisar que tinha
pouco tempo que passou na capital paulista, aproveitando-se de
chegado mais caminhão. E, aí porra! A gente ficava até meia noite
um curso rápido que tinha feito antes de viajar, conseguiu ser
e, depois, tinha que retornar ao trabalho às sete da manhã. Uma
contratado como auxiliar de eletricista, em uma das lojas do grupo
loucura! Eu fiquei lá por oito meses e então disse para mim
Pão de Açúcar. Guarda como péssima recordação desta época, o
mesmo: ‘eu vou pedir para sair daqui e não vou trabalhar para
fato de ter sido obrigado a cortar os cabelos para poder assumir o
ninguém mais. Isso foi em 1982, de lá pra cá não trabalhei para
emprego. Em São Paulo não conseguiu sequer ter contato com a
mais ninguém”. Essa decisão marcou, definitivamente, a opção de
música, voltando, então, para acompanhar o nascimento de sua
Edson Gomes pela carreira musical.
filha, Edmara a primeira desse relacionamento que teve ainda
Isaque e Pedro. Segundo ele, morar em São Paulo não contribuiu
em nada para o seu sonho de fazer música: “Não estava
outras rádios. Divulgou artistas como Alcione, Bezerra da Silva, Jorge Aragão, Clara
Nunes, Zeca Pagodinho e Jovelina Pérola Negra.
Fonte: http://radiomec.com.br/aldezonalvesoamigodamadrugada/
7
O grupo musical Os Tincoãs tiveram seu segundo disco produzido por Adelzon Alves,
em 1973. Este LP tornou-se um marco importante da música brasileira, não apenas pela
qualidade das músicas, como também pelo arranjo com características de coral feitos a
partir de canções oriundas dos terreiros de candomblé.
8
Trabalhador braçal; aquele que faz o trabalho pesado na empresa.
Edna Matos
32
33
reggae, mas eu não quis levar isso em frente.” E, Tim Tim Gomes
“NÓS INVENTAMOS O SAMBA-REGGAE”
completa:
“Essa
banda
pioneira
que
era
formada
por
Nessa nova fase da vida, Edson começou a se apresentar com
instrumentos de percussão e violão fez muito sucesso aqui no
grupos de sambão9, como “A Balaiada” e “A Gatinhola” em
interior, chamando a atenção da televisão que veio filmar nosso
Cachoeira e São Félix. E antes de gravar o seu primeiro disco
trabalho. Aí o povo de salvador roubou o nosso ritmo. Porque o
cantava com um grupo chamado The People no qual seus irmãos,
samba-reggae é nosso, é daqui de Cachoeira. Edson Gomes que
Eddie Brown e Tim Tim Gomes faziam os vocais. Esse grupo era
inventou o samba-reggae, não foi o Olodum”.
formado por dois violões, um timbal e um maracas. Neste período,
era conhecido como o “Tim Maia do Recôncavo” pela forte
A DEFINIÇÃO DO ESTILO MUSICAL
influência deste artista em seu trabalho. Era, também, bastante
influenciado pelo cantor Jorge Ben Jor. Como não tinha ainda um
Em 1983, Edson tinha voltado a estudar, fazia o 1° ano do segundo
estilo musical definido ele denominou o som que fazia como
grau, quando foi convidado pelo cantor cachoeirano, Nengo Vieira
“Balanço” por ser uma música que tinha swing, mas o
para participar do show “Negritude Reggae”, que acontecia no
acompanhamento era feito por instrumentos de samba.
Forte de Santo Antonio Além do Carmo, em Salvador. Como
precisava viajar com frequência para ensaiar, Edson abandonou
Tanto Edson Gomes quanto seu irmão Tim Tim Gomes são
de vez os estudos.
enfáticos ao afirmar que eles inventaram o que hoje se costuma
músicas
Para esse show as suas músicas que já eram sucesso no
“Malandrinha”, “Samarina”, “Viu”, “Recôncavo”, “Criminalidade”,
Recôncavo, foram rearranjadas para o reggae pela banda Studio 5
“História
com
com direção musical de Nengo Vieira. Para Edson esse é o
acompanhamento de instrumentos típicos do samba e por esse
momento de definição do seu estilo musical: “Foi em 1983 que
motivo ele afirma que aquele som “era o verdadeiro samba-
meu ritmo passou a ser definido como reggae, e também foi a
chamar
de
do
samba-reggae.
Brasil”,
Edson
“Árvore”,
diz
eram
que
as
cantadas
primeira vez que eu trabalhei com uma banda legítima, eletrizada,
9Termo
utilizado por alguns críticos musicais para designar um tipo
de samba supostamente de qualidade duvidosa. O movimento, discriminado até hoje no
meio acadêmico, reunia o samba-rock (fusão de samba com soul music feita por nomes
como Jorge Ben) com elementos de bolero e Jovem Guarda. Fonte: SOUZA, Tárik de. Tem
mais samba. São Paulo: Editora 34, 2004.
com guitarra, baixo, bateria, e assim fui lançado em Salvador como
regueiro”.
Edna Matos
34
35
Nengo Vieira, músico e pesquisador, já cultivava o interesse em
bairros populares da cidade. A oportunidade de se apresentar
fazer reggae quando foi atraído pelo trabalho de Edson Gomes. A
neste projeto foi importante para a divulgação do nome e do
parceria deles começou em 1983 e continuou até o retorno de
trabalho de Edson Gomes. Nengo Vieira destaca desse período a
Nengo a Cachoeira, no início dos anos 1990 quando juntamente
aceitação imediata do público: “Começamos a arranjar e a ilustrar
com os músicos Sine Calmon, Marcos Oliveira e Tim Tim Gomes
as músicas de Edson Gomes, que até então só tinham o canto e o
criou a banda Remanescentes.
contracanto prontos. Aí começamos a botar os elementos, a
Durante o tempo em que esteve com Edson Gomes, Nengo Vieira
participou dos dois primeiros discos tocando baixo, guitarra,
percussão, além de fazer os arranjos. Foi, também, assistente de
direção do primeiro LP Reggae Resistência, gravado nos estúdios
da WR, em Salvador. Integrou a primeira formação da banda Cão
de Raça acompanhando Edson Gomes em algumas turnês pelo
Nordeste. Para Edson, a parceria com Nengo Vieira resultou em
um trabalho pioneiro com relação ao reggae no país: “Eu creio que
bateria, o contrabaixo, a guitarra e foi assim que nasceu o Reggae
Resistência, que é o seu primeiro disco. A partir do momento que
nós nos juntamos com Edson, nós percebemos uma força que era
imbatível. Edson quando subia no palco pra cantar, cara, ele
arrebanhava multidões. Dava um grito de guerra e a galera ia ao
delírio. Era uma coisa viva, uma coisa espontânea, uma coisa
visceral, tribal, que ninguém poderia deter, que ninguém poderia
abafar”.11
foi a primeira localidade no Brasil em que se fez uma leitura
A participação no festival Canta Bahia, na cidade baiana de Feira
correta do reggae. Porque até então não havia uma leitura correta
de Santana, em 1985, foi um marco na carreira de Edson Gomes.
do reggae. Então nós conseguimos isso porque eu tinha a letra e
Sua música “Rastafári” ficou em segundo lugar, perdendo para a
Nengo que era pesquisador de reggae, tinha o instrumental, e esse
música “Gueto” de Nengo Vieira. E como já tinha acontecido em
casamento foi perfeito. A melhor leitura que foi feita do reggae no
outros festivais, Edson foi escolhido como o melhor intérprete. O
Brasil
resultado desse festival foi a gravação de um compacto duplo com
inicialmente,
foi
aqui
em
Cachoeira,
por
dois
cachoeiranos”10.
as quatro músicas vencedoras.
Em 1984, a prefeitura de Salvador desenvolvia um projeto
chamado “Bairro a Bairro” que promovia atividades culturais nos
10
Bábara Falcón, Reggae de Cachoeira, p. 85
11
Bábara Falcón, Reggae de Cachoeira, p. 86
Edna Matos
36
37
“Rastafári” foi a sua primeira canção composta originalmente
voltei já foi para triunfar com o Troféu Caymmi, onde eu fui o
como reggae. Todas as outras do LP Reggae Resistência, foram
melhor interprete”.
rearranjadas para o reggae por Nengo Vieira e a banda Studio 5.
A BANDA CÃO DE RAÇA
DROGAS: ENVOLVIMENTO E SUPERAÇÃO
Durante o período em que trabalhou com Nengo Vieira e a Studio
Porém, foi nesse período de aproximação com Nengo Vieira
5, Edson sentiu necessidade de ter a sua própria banda onde
quando chegou, inclusive a morar na casa dele em Salvador, que
pudesse fazer a música que ele queria: “Os camaradas queriam
Edson Gomes enfrentou problemas com as drogas e precisou dar
fazer o próprio trabalho deles, não queriam se incorporar ao meu
um tempo para se tratar. Apesar de ter sido relativamente curto
trabalho. Então, eu tive que me virar e criar minha própria banda.
esse período foi muito difícil na vida Edson. As pessoas, inclusive
Primeiro eu criei o nome, Cão de Raça que já era o nome de uma
seus pais, acharam que ele tinha enlouquecido. Nessa época não se
de minhas músicas. A tarefa de selecionar músicos revelou-se
falava em clínicas de reabilitação e Edson conta que acabou se
muito difícil, eu armava a banda, mas sentia que ainda não estava
recuperando sozinho com ajuda de sua fé em Jesus Cristo e das
no nível, que não estava preparada, e fui tentando até quando
leituras que ele fazia da Bíblia.
consegui armar uma banda legal, e mesmo com os instrumentos
Edson faz questão de relatar esse fato e ressalta que após a
recuperação nunca mais usou nenhuma droga: “Eu, Nengo Vieira e
sendo rurais, como bongô, timbal, maracas, essas coisas, a banda
já ganhou esse nome”.
meu irmão, Tim Tim Gomes começamos um movimento de ler a
Na verdade, eram os músicos da Studio 5 que acompanhavam
Bíblia com música. Foi quando eles me ofereceram maconha e eu
Edson Gomes em seus shows no final da década de 1980. Eles
comecei a usar, mas me dei mal. Eu já cantava e era um artista
eram apresentados como Cão de Raça, uma vez que Edson Gomes
reconhecido aqui em Cachoeira e São Félix. Eu era querido e
não aceitava utilizar outro nome para sua banda. Seguiram
depois que comecei a usar maconha passei a ser rejeitado e isso
revezando o nome das bandas nas apresentações até 1991, ano de
me causou um desequilíbrio emocional. Eu fui ao fundo do poço,
gravação do terceiro LP de Edson, Campo de Batalha.
Fiquei entre 1985 e 1986, desligado, me curando, e quando eu
Edna Matos
38
39
Foram tempos em que a casa de Nengo Vieira no bairro do Alto
das Pombas, em Salvador, apelidada de “53”, era o ponto de
encontro de vários músicos da cidade. Ensaiaram por lá artistas
como Lazzo, Gerônimo e Raul Seixas. Em entrevista a Bárbara
CAPÍTULO 2 – “Surge mais um guerreiro do terceiro mundo”
Falcón, Nengo explica porque não houve fusão entre as bandas
Studio 5 e Cão de Raça: “A Studio 5 tinha uma proposta muito
aberta, porque era uma banda de músicos, né? Fazíamos funk,
fazíamos rock, salsa, fazíamos o próprio reggae e era um trabalho
de músicos. Edson Gomes queria fazer o trabalho dele. Então ele
seguiu a carreira dele como Edson Gomes & Cão de Raça. No inicio
eram os músicos da Studio 5 que o acompanhavam e ora eles
usavam o nome Cão de Raça e ora usavam Studio 5, porque a
gente também não abria mão do nosso nome. Gravamos o
primeiro disco como Cão de Raça, mas eram os músicos da banda
Studio 5”.
“Surge mais um guerreiro do terceiro mundo
Levantando suas armas
Com seu grito de alerta
Pondo sua vida em jogo, lutando pelo povo
Que vive tão desesperado
Sem ter o que comer
De manhã, à tarde e à noite
Sem saber o que fazer
Estamos enchendo as calçadas
Superlotando as prisões
As favelas não suportam mais
Tanta gente em aflição
Sei que vai chegar o dia
Em que tudo mudará, oh Jah
O alimento não faltará jamais
E a moradia sobrará”.
Em 1987, Edson Gomes participou em Salvador-BA do Festival de
Música – Troféu Caymmi e foi premiado como melhor intérprete e
teve a sua segunda experiência com gravação em estúdio. Em
1988, gravou o seu primeiro disco com o título de Reggae
Resistência, nos estúdios da WR e que foi distribuído com o selo
da EMI Odeon. A gravação desse disco deu início a um período de
grande sucesso na sua carreira artística.
(“Guerreiro do Terceiro Mundo”, Edson Gomes)
Edna Matos
40
Cão de Raça
41
A partir da metade da década de 1980, o mercado musical de
Edson Gomes faz questão de relatar esse ocorrido: “Primeiro eu
Salvador começou a se aquecer. Foi exatamente, nesta época, que
fui lá, porque ele era o ‘bambam’ da situação. Era ele, Cristóvão
saiu o compacto do festival Canta Bahia e Edson Gomes percebeu
Rodrigues, que dizia quem gravava e quem não gravava, porque
que era a oportunidade para tentar deslanchar a sua carreira. Esse
ele era o programador da rádio mais importante da época, a
momento coincidiu com a gravação da música “Visão do
Itapoan FM. Eu fui lá e ele me deixou de molho no corredor, nem
Cíclope”12, um reggae gravado por Luiz Caldas. Edson se sentiu
me recebeu. Depois, por ironia do destino, ele que me convidou
sabotado porque não considerava aquele ritmo como reggae: “Eu
para gravar, porque Sarajane que fazia parte do cast da EMI
achei que tinha chegado a minha hora. Foi quando apareceu Luiz
Odeon tinha gravado ‘História do Brasil’ e ‘Rastafári’ que eram
Caldas do axé, cantando reggae também, aí me acabou, porque
duas músicas minhas que já faziam sucesso nos meus shows”.
todo mundo estava no embalo do axé, mas ainda não sabia o que
era o embalo do reggae, então surge Luiz Caldas em cima do trio
elétrico com aquela levada, dizendo que era reggae, a galera foi de
cabeça atrás dele e eu fiquei no ponto esperando”.
Edson andou, ainda, por outras rádios, sem conseguir que
tocassem suas músicas, mas continuava sendo convidado para
fazer shows. O radialista Ray Company, que nessa época já
comandava na rádio Itaparica FM 91,3, o Reggae Special, um
Com o compacto do Canta Bahia debaixo do braço Edson Gomes
programa exclusivo de reggae, conta que Nengo Vieira levou o
bateu na porta da poderosa Itapoan FM, líder absoluta de
compacto do Canta Bahia lá na rádio e ele começou a tocar a
audiência, que tinha como coordenador musical o radialista
música “Rastafari” no seu programa mesmo antes de Edson
Cristóvão Rodrigues. Embora Cristóvão diga que não tocou a
Gomes gravar o seu primeiro disco.
música de Edson por causa da péssima qualidade da gravação do
Mas, ao que parece, o destino musical de Edson Gomes estava
disco apresentado, Edson afirma que levou o maior chá de cadeira
mesmo nas mãos de Cristóvão Rodrigues. A sua sorte começou a
da sua vida e foi dispensado sem sequer ser atendido por ele.
mudar numa noite de sexta-feira do ano de 1987 quando ao
Tempos depois foi o próprio Cristóvão que procurou Edson para
passar pelo Rio Vermelho, a atenção do radialista foi despertada
gravar um disco.
por um grande número de pessoas que se espremia na tentativa
de entrar na casa de show Zouk Santana. Cristóvão conta que
Música de Jeferson Robson, Carlinhos Brown e Luiz Caldas – gravada no LP Magia do
cantor Luiz Caldas, em 1985.
12
resolveu conferir a causa de toda aquela movimentação e confessa
Edna Matos
42
Cão de Raça
43
que ficou encantado pela voz e pelo pouco que conseguiu ouvir do
para que nosso operador, Edson Marinho fosse procurar esse
lado de fora, uma vez que a casa estava lotada não sendo possível
cantor, pois eu queria gravar uma música dele, para tocar lá na
entrar. No dia seguinte, procurou imediatamente o seu assistente,
rádio”.
Edson Marinho e pediu que ele localizasse esse tal de Edson
Gomes, pois queria gravar uma música dele para tocar na Itapoan
FM.
A GRAVAÇÃO DO LP REGGAE RESISTÊNCIA
Edson Marinho que já conhecia Edson Gomes do festival de Feira
de Santana foi procurá-lo, mas recebeu uma resposta negativa.
Edson não tinha esquecido o descaso com que tinha sido tratado
por Cristóvão Rodrigues anos antes.
Cristóvão conta que Marinho retornou dizendo que Edson não
Cristóvão Rodrigues e Manolo Pousada, apesar de satisfeitos, com
o bom momento vivido pela cena musical na Bahia provocado
pelo boom da axé music tinham consciência de que era necessário
diversificar a produção para fugir do estigma de que aqui só se
produzia música para o carnaval. Neste contexto um artista da
qualidade de Edson Gomes e que não cantava axé era um
verdadeiro achado.
queria vê-lo: “Ele disse que veio aqui na rádio me procurar e eu
tinha dito que a sua música era muito ruim. Mas, eu nunca disse
isso para ninguém, mesmo quando eu não gosto da música eu não
falo pra não ser mal educado. Além do mais, eu nem me lembrava
de ter conversado com Edson. Então, Marinho me mostrou o
compacto do Festival Canta Bahia e eu me lembrei da história. O
que eu tinha dito pra Edson era que se eu botasse aquele disco no
O próprio Cristóvão relata essa procura: “Quando estávamos na
ar, o diretor técnico da rádio, ia mandar tirar, porque a gravação
Itapoan FM, e começou esse movimento musical da Bahia, que se
estava muito ruim. Eu não disse que a música era ruim, apenas
colocou o nome de axé music, não era para ser música só de
que a gravação não estava boa. Então pedi para Marinho voltar e
carnaval. Era pra ser qualquer música. A gente sentia que estava
tentar convencê-lo a vir aqui me ver até para que eu pudesse
na hora de diversificar. Então naquele momento em frente ao
desfazer o mal entendido”.
Zouk Santana eu senti que aquele som era o diferencial do estilo
de axé que a gente vinha tocando. Eu não me lembrava do nome
Edson Gomes, resolvi parar e fui ver quem era esse cara, mas não
consegui entrar, pois a casa estava lotada. Pela manhã, eu pedi
Marinho conseguiu convencer Edson Gomes a ir conversar com
Cristóvão Rodrigues que depois de se explicar o convidou a
mostrar as suas músicas. Edson desfilou uma série de canções e ao
Edna Matos
44
Cão de Raça
45
final foi convidado a gravar um disco. Cristóvão garantia que não
registro’. Assim, ele acabou gravando uma versão de ‘I Shot the
iria interferir no seu trabalho: “Eu vou te colocar no estúdio para
Sheriff’ que levou o nome de ‘Leve Sensação’ e está nesse primeiro
gravar um disco. Eu não vou ter intervenção nenhuma no seu
disco”.
disco, você vai gravar suas músicas, eu posso até dizer se gosto
mais disso ou mais daquilo, mas não vou interferir. Quem vai lhe
gravar é Wesley Rangel da gravadora WR.” Cristóvão entrou em
contato com Rangel para acertar a gravação: “Liguei para Rangel e
disse: ‘estou lhe mandando, um cara aí pra você gravar e acho que
Realmente, essa negociação não foi muito fácil, pois mesmo
querendo muito gravar o disco, Edson Gomes, resistia em abrir
mão de suas convicções e não queria que fizessem alterações no
seu trabalho. Essa é uma característica que ele preserva até hoje
quando defende a originalidade da sua obra a todo custo.
você pode produzir esse disco, porque o cara é ótimo, é um artista
pronto’. Fiz apenas a ressalva de que ele não era muito flexível nas
Edson nos conta a sua versão desse primeiro contato com
suas convicções. Edson Gomes já era sucesso e eu não sabia”.
Cristóvão Rodrigues e as suas consequências: “Missinho da banda
Cristóvão Rodrigues, no entanto, interferiu na escolha do
repertório ao convencer Edson Gomes a gravar a versão de uma
música de Bob Marley e, também, a incluir “Samarina” e
“Malandrinha”, músicas que o cantor não gostava por considerálas açucaradas. Cristóvão relata como foi esse embate: “Edson se
considerava guerreiro e queria gravar apenas as músicas de
protesto e essas duas músicas ele não gostava por que eram
românticas. Mostrei pra ele que elas eram dois grandes sucessos
já consagrados e não poderiam ficar de fora do seu primeiro disco.
A versão de Bob também foi uma luta, pois ele dizia que não
precisava gravar versões porque tinha muitas músicas próprias,
Chiclete com Banana, cantou a música ‘Rastafári’ na micareta de
Feira de Santana e aí alguém queria me conhecer lá na Itapoan
FM. O tal de Edson Marinho chegou dizendo: ‘Ah! Cantaram sua
música rastafári. Sarajane quer gravar você, todo mundo quer
gravar você, Cristóvão Rodrigues quer gravar você’. Então ele me
levou na rádio e me apresentou a Cristóvão Rodrigues que
conversou comigo, pediu pra ouvir minhas músicas, disse que
tinha gostado, mas queria que eu introduzisse no meu trabalho as
levadas do Olodum, eu aí esfriei e disse: eu não vou gravar com
batida do Olodum coisa nenhuma, porque meu lance é reggae. Ele
queria mudar a minha música e isso eu não aceitava”.
suficientes para compor o repertório do disco. Aí eu disse: ‘você
Edson e Cristóvão, finalmente, chegaram a um acordo e ficou tudo
não é um seguidor de Marley? Então porque não quer gravar uma
combinado para a gravação. Mas, o técnico contratado por
versão dele? Você mesmo escolhe a música e faz a versão. É só pra
Edna Matos
46
Cão de Raça
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Cristóvão para gravá-lo precisou viajar e no dia da cerimônia de
naquele momento, nós estávamos gravando, basicamente as
entrega do Troféu Caymmi, ao descer as escadarias do teatro
músicas para o carnaval e era preciso abrir vertentes para outros
Castro Alves, Edson encontrou o dono da gravadora, Wesley
ritmos. Então, abrimos para o rock, para a música chamada da
Rangel que lhe perguntou se ele não queria gravar o disco. Ao ser
caatinga (Xangai, Elomar, etc.). Cristovão tinha contato com Edson
informado da ausência do técnico escolhido por Cristóvão, Rangel
Gomes e nos trouxe essa possibilidade de também, produzir a
ofereceu a Edson a oportunidade de gravar com outra pessoa.
música reggae. Havia, ainda, o interesse da EMI Odeon na música
Edson voltou para casa e ficou aguardando. Até que num belo dia
que estava sendo feita na Bahia. Nós produzimos o disco
lá estava ele sentado na praça principal de São Félix quando parou
exatamente para atender essa possibilidade de repasse do
um carrão e Rangel desceu perguntando: e aí, pronto pra gravar?
produto Edson Gomes para uma gravadora do porte da EMI
Foi só o tempo de ir em casa, pegar a sacola e retornar a Salvador
Odeon, que era uma gravadora internacional e, portanto poderia
na companhia de Rangel para a gravação do seu primeiro disco.
dar uma maior projeção para ele”.
Cristóvão Rodrigues, Manolo e Wesley Rangel, formavam a tríplice
O radialista Ray Company que acompanha o reggae há bastante
aliança da música baiana na década de 1980. Os dois primeiros
tempo, credita o interesse da EMI Odeon por Edson Gomes a
descobriam os candidatos ao sucesso, Rangel gravava e Cristóvão
gravação inédita que a cantora Sarajane fez das músicas “História
divulgava utilizando-se da sua influência na Itapoan FM. Vejamos
do Brasil” e “Rastafári”, pois nessa época a cantora estava
o que Wesley Rangel tem a dizer sobre esse fértil período musical
estourada com o sucesso A Roda e era bastante conceituada na
na Bahia:
gravadora.
“Cristovão Rodrigues era o principal escoamento dos produtos
Wesley Rangel concorda em parte com a opinião do radialista,
que nós produzíamos no estúdio, a musica baiana foi toda calcada,
pois, segundo ele, não adianta nada o artista ser bom se não
na parceria da WR e a rádio Itapoan FM, onde Cristovão Rodrigues
houver divulgação do seu trabalho e essa garantia só Cristóvão
e Manolo Pousada eram os diretores artísticos. Eles começaram a
Rodrigues poderia oferecer aos empresários da gravadora:
acreditar na possibilidade de se tocar a música feita na Bahia
numa rádio local. Quando começamos a trabalhar juntos, o
mercado, realmente, começou a ter outra dimensão. Só que
“A EMI Odeon estava muito empolgada com as músicas da Bahia, e
com as vendas conseguidas pela banda Reflexus e por Sarajane,
Edna Matos
48
Cão de Raça
49
mas o poder de convencimento que Cristóvão Rodrigues tinha
me ligava reclamando: ‘não dar para gravar com esse cara, ele é
junto a essa gravadora era mais forte porque ao repassar o
reacionário em algumas coisas e assim não dar’. Eu pedia que ele
produto ele garantia a sua execução na Itapoan FM. Então para
tivesse paciência, pois bons artistas são assim mesmo, eles
gravadora, não bastava dizer que era um bom artista. Para a
transcendem”.
gravadora era importante ter a garantia da divulgação. E, a via de
escoamento desses produtos era exatamente a rádio, que não só
era primeiro lugar em audiência na Bahia, como tinha o dobro da
audiência da segunda colocada. A Itapoan FM era realmente um
veículo de comunicação poderosíssimo. Tanto que a axé music
deve muito a essa rádio. O primeiro disco de Luiz Caldas teve uma
venda espantosa, depois veio Sarajane, a banda Chiclete com
Banana, o Olodum. Aí, eles começaram a perceber que o mercado
estava em ebulição e tudo estava andando muito rápido. Então, o
pessoal da EMI Odeon, pensou assim: se é um produto novo, se
Cristóvão Rodrigues toca na rádio, se o produto é bom e se Edson
Wesley Rangel diz que hoje, consegue compreender melhor
aquele momento e que apesar de tudo, conseguiu construir uma
relação sólida com Edson Gomes baseada na confiança e no
respeito mútuo: “Edson sempre teve um personalidade muito
forte,
sempre
foi
uma
pessoa
decidida
naquilo
queria,
independente dele ter ou não domínio sobre o assunto. É evidente
que ele, agora, tem todos os conhecimentos técnicos. Hoje ele sabe
como fazer as coisas, só que naquele momento, ele precisava de
uma pessoa externa para orientá-lo, mas mesmo assim resistia e
não era só comigo, quando vinha um produtor novo até Edson se
adaptar, era um problema”.
Gomes é um grande artista, já validado por Sarajane e produzido
pela WR que era responsável por todas as produções locais, então
Durante o processo de produção dos cinco discos em que Wesley
temos interesse no produto.”
Rangel e Edson Gomes trabalharam juntos eles foram se ajustando
paulatinamente e a cada novo disco crescia o entendimento
Inicialmente o relacionamento de Edson Gomes com Wesley
Rangel foi bastante tumultuado e resultava em embates muito
duros. Cristóvão Rodrigues, conta que algumas vezes, Rangel o
procurava para desabafar: “Eles discutiam, principalmente sobre,
como ia ficar o disco, por que Edson não concordava com umas
coisas, Rangel não concordava com outras e volta e meia Rangel
mútuo e o processo de produção parecia melhorar. Rangel conta
que foi introduzindo algumas modificações na estrutura da banda
com o objetivo de melhorar os resultados: “Eu ia sugerindo
algumas mudanças. Havia a questão do coro que no primeiro disco
era um coro familiar, formado pelo irmão de Edson, Tim Tim
Gomes e a mulher de Nengo, Valéria Vieira, porque Edson não
Edna Matos
50
Cão de Raça
51
queria perder a identidade. Eu tentei convencê-lo a contratar um
participante seguem as versões dos três envolvidos, Cristóvão
coro de estúdio, pois iria facilitar a direção porque a relação seria
Rodrigues, Wesley Rangel e Edson Gomes.
mais profissional. Eu achava também que tinha de trocar o
baterista, Jair Soares que não demonstrava muita segurança de
ritmia. Edson não concordou e o disco acabou sendo gravado com
a equipe dele. Deu trabalho, mas acabou saindo um trabalho de
qualidade. Já no segundo disco, Edson concordou em colocar um
baterista de estúdio, João Teoria e um coro, também, de estúdio
formado por América Branco e Adriana Novaes. Nós brigamos em
todos os nossos discos, mas nem por isso deixamos de gravar
Edson Gomes, porque sabíamos que era tudo uma questão de zelo.
Ele se preocupava demais com o resultado do seu trabalho”.
Logo após a gravação do disco pela WR, Cristóvão Rodrigues
resolveu tratar de sua distribuição. Assim, aproveitando-se do seu
prestígio junto, a gravadora EMI Odeon iniciou as negociações
para que o disco fosse lançado por esse selo. Ele conta como foi
esse começo: “Eu estava com muito prestígio na EMI Odeon por
ter levado para a gravadora o disco da banda Reflexus, produzido
por mim e Manolo e que tinha se transformado no disco mais
vendido do momento. Levei o disco de Edson Gomes para a EMI
Odeon e o apresentei ao seu diretor de marketing, Sérgio Afonso e
ao diretor artístico, Jorge Davidson. Depois da audição eles
O disco Reggae Resistência é considerado o primeiro do gênero
ficaram encantados com o produto e perguntaram como seria a
Reggae no Brasil, pois antes dele, nenhum outro artista ou grupo
negociação. Expliquei que eu estava apenas apresentando o artista
tinha conseguido gravar um disco apenas com músicas de reggae
e
no país. Pode-se dizer que o álbum é puro reggae tanto no ritmo
imediatamente, lá na rádio, mas que não faria nenhuma
quanto nas letras que respeitavam a essência do estilo musical e a
intermediação. Informei que o disco era de Rangel e, portanto eles
proposta do movimento criado por Bob Marley.
deveriam negociar valores com ele e que Edson Gomes era o
que
me
comprometia
a
tocar
a
música
“Samarina”,
cantor e autor das músicas e que deveriam negociar o contrato
A NEGOCIAÇÃO COM A EMI ODEON
O caminho até a assinatura do contrato com a EMI Odeon foi
pavimentado por uma negociação, no mínimo, controvertida.
Como ainda não foi possível chegar a uma convergência das
histórias para que se possa delimitar as responsabilidades de cada
diretamente com ele”.
O segundo capítulo da novela da negociação para produção desse
primeiro disco narra a ida de Edson Gomes aos estúdios da EMI
Odeon no Rio de Janeiro. Primeiro veremos a versão de Cristóvão
Rodrigues: “Eu levei Edson Gomes ao Rio de Janeiro. Saímos daqui
Edna Matos
52
Cão de Raça
53
de Salvador num voo de manhã cedo e fomos para EMI Odeon, que
Era uma bolsa emborrachada, com as cores da Jamaica e dentro
ficava na Rua Mena Barreto, no bairro de Botafogo. Chegando lá
tinha o CD.
conversei com a direção da gravadora e passei para eles um
briefing de como lidar com Edson. Expliquei que ele era muito
desconfiado e por isso eu não gostaria de atuar como
intermediário. Eu estava apenas levando o produto e eles que se
acertassem. Voltei a informar que a parte referente ao disco, era
com Rangel da gravadora WR e a parte do contrato era com o
próprio Edson Gomes”.
Ao ser confrontado com a versão de Cristóvão Rodrigues sobre a
sua ida ao Rio de Janeiro e a negociação com a gravadora EMI
Odeon, Edson Gomes discorda frontalmente: “Não, eu não fui
conversar com gravadora nenhuma. Eu só estive lá na EMI Odeon
com Wesley Rangel no dia em que ele foi vender o disco. Antes,
não tinha gravadora nenhuma certa. Eu gravei no estúdio WR
porque Rangel acreditou no meu taco, me gravou e se aventurou a
Cristóvão chega a detalhar essa viagem contando um caso
vender o trabalho. Ele vendeu o tape por 500 mil [cruzados] na
ilustrativo: “Conversava com o pessoal da EMI e, aí de repente,
época um dinheirão e fez um contrato para produzir três discos
some Edson Gomes. Cadê, Edson Gomes? Ninguém tinha visto.
meus para a EMI Odeon. Eu assinei o contrato com a editora que
Então eu falei que não tinha problema e perguntei onde ficava o
me adiantou 30 mil [cruzados] relativos aos direitos autorais”.
bar mais próximo. Alguém lembrou que era de manhã cedo, mas
eu disse que não importava, pois iríamos encontrar Edson Gomes
lá tomando um cafezinho. Não deu outra, tinha um bar perto e
Edson estava lá”.
Edson Gomes afirma ainda que pela venda do disco não recebeu
absolutamente nada, mas que não questionou a justiça deste
acerto: “Não falei nada, quem está começando vai questionar? Eu
percorri onze anos para chegar até o disco. Então, eu entendi que
Ainda, segundo Cristóvão, Edson Gomes assinou o contrato com a
nessa transação ele estava ganhando dinheiro e eu estava tendo o
gravadora e teve o privilégio de ser o primeiro artista da Bahia,
meu sonho realizado. Cada um paga o seu preço e eu estava
antes mesmo de Caetano, Gil, Betânia, a ter o seu disco gravado
pagando pela realização do meu sonho de onze anos”.
em compact disc (CD). Como o formato CD ainda não era difundido
aqui na Bahia o departamento de marketing fez um brinde de
lançamento para ser distribuídos entre os formadores de opinião.
Wesley Rangel confirma a ida ao Rio de Janeiro com Edson Gomes
com o objetivo de mixar o disco: “A primeira viagem que eu fiz
com Edson, a gente acabou até mixando o disco lá no próprio
Edna Matos
54
estúdio da EMI Odeon, com o técnico Serginho Bittencourt. Isso
Cão de Raça
55
IMPOSIÇÕES NA GRAVAÇÃO DOS DISCOS
depois que o negócio foi fechado, depois que ele fez o contrato,
que ele fez tudo. Mas nessa viagem, só fomos eu e Edson Gomes,
Wesley Rangel diz que se arrepende de algumas imposições feitas
para fazer isso”.
a Edson Gomes na produção desse primeiro disco. Alterações no
trabalho do artista que hoje com a experiência e o conhecimento
Rangel afirma, ainda, que não fez nenhuma negociação com a EMI
Odeon e salienta que foi contratado para gravar o disco de Edson
Gomes, recebeu por isso e entregou o resultado da gravação ao
contratante, Cristóvão Rodrigues, que vendeu o tape para a
gravadora. “Eu não participei da negociação. A minha participação
foi na produção do disco. A venda do tape, pelo que eu me lembro,
foi feita pelo Cristóvão Rodrigues. Eu produzi esse primeiro disco
para Cristóvão Rodrigues que fez a intermediação com a EMI
Odeon, e aí naquele momento eu fiz o contrato para produção de
três discos.”
adquirido sobre o reggae ele não faria. “Esse disco tem algumas
coisas que me deixaram triste depois. Edson já tinha um conceito,
era um homem vivido no reggae. Eu tinha experiência em estúdio,
mas não conhecia muito o produto reggae, mesmo assim, convenci
Edson a colocar um bumbo eletrônico e uma caixa eletrônica. Eu
me arrependo todos os dias da minha vida por essa influência
ruim que eu tive no trabalho de Edson Gomes, mas apesar de tudo
o disco foi um dos maiores, se não, o maior sucesso de toda a sua
carreira, porque tinha uma energia boa, uma coisa nova, uma
identidade forte, e que hoje eu sei com absoluta segurança, que foi
As contradições continuam porque Edson Gomes afirma que viu
realmente, aquele sentimento do Reggae do Recôncavo o que
Rangel entregar o tape para a gravadora e receber o cheque: “A
influenciou a fazer esse trabalho. Edson tinha naquele momento
parte que envolve Cristóvão Rodrigues e Wesley Rangel, eu não
uma influência muito forte de Bob Marley e eu tinha ouvido mais
tenho conhecimento. Eu só sei que eu fui com Rangel na EMI
Peter Tosh que usava mais um material eletrônico, e acabou
Odeon. Ele vendeu o tape e o cara lhe entregou o cheque. Isso
surgindo uma mistura dessas duas coisas, que não sei se foi bom
aconteceu na minha presença. Volto a dizer que eu nunca fui com
pra ele, mas no ponto de vista de reconhecimento de mercado,
Cristovão Rodrigues para lugar nenhum. Eu estava com Rangel e
para ele esse disco teve uma aceitação muito boa.”
foi nessa viagem, inclusive que eu assinei o contrato com a
editora”.
Edna Matos
56
Cão de Raça
57
Edson Gomes diz que reconhece a importância do LP Reggae
Ainda sobre as pressões para adequar seu trabalho aos interesses,
Resistência para sua carreira e para o movimento reggae como um
dos produtores e empresários, Edson conta como conseguiu
todo, mas musicalmente ele não gosta deste disco.
resistir e manter a originalidade de sua criação. “Sofri muita
Sobre sua relação com Rangel, Edson Gomes ressalta que as
discussões eram todas no campo profissional e que o produtor
musical sempre apoiou seu trabalho. Dessa relação ficou o
respeito e admiração mútua. “Sempre tem discordância e entre
nós era no sentido da linha do contrabaixo, do volume do
contrabaixo, do peso do contrabaixo. Ele tinha um conceito de
reggae diferente do nosso, o conceito de reggae dele é que o
bumbo é o centro do instrumental, o coração do reggae, já na
nossa concepção o centro é o contrabaixo, não é o surdo, o bumbo.
Ele queria acrescentar o bumbo, aí tínhamos algumas brigas
violentas, discussões terríveis por causa disso. Então, sempre que
ele se ausentava e me deixava sozinho, eu pedia para o mixador
colocar o som do meu jeito. Aí, quando ele voltava mudava tudo de
novo e eu ficava puto”.
pressão para mudar minha linha de trabalho no segundo disco,
inclusive perdi prestígio junto a gravadora, porque eu não mudei.
Cristovão Rodrigues já queria me mudar desde o primeiro disco.
Mas, Wesley Rangel me disse: ‘fique na sua, grave seu negócio, que
quando ele chegar já vai estar gravado e ele vai gostar’. E, foi
realmente o que aconteceu, quando Cristóvão viu o resultado ele
gostou. No segundo disco, a própria gravadora fez recomendações
para que eu mudasse alguma coisa, inclusive me enviou algumas
composições desses compositores de oportunidade, aqueles
compositores de encomenda. ‘Ah, faça uma música assim e tal’.
Eram umas letras idiotas e eu disse não iria gravar aquilo. Rangel
me apoiou e me disse: ‘não mude seu trabalho porque você já
conquistou uma identidade com esse trabalho, você deve
continuar com sua linha’. O produtor me deu o apoio, mas eu perdi
o apoio da gravadora, porque quando terminou o contrato e eles
Apesar de gostar da música de Bob Marley, Edson Gomes não
gostou da imposição de ter que gravar uma versão dele e muito
menos do arranjo dado pela banda Studio 5. “Eu gosto da música, I
shot the sheriff, mas infelizmente a banda não respeitou a essência
da música. Eu não gosto da versão que eles fizeram e estou,
inclusive fazendo uma nova versão mais original, porque é assim
que gosto.”
não quiseram mais renovar comigo.”
Bárbara Falcón13, chama a atenção para as dificuldades que um
artista enfrentava para conseguir gravar um disco nos anos 1980
e 1990, período em que Edson Gomes lançou seus três primeiros
álbuns. “Deve ser considerada também a cadeia produtiva que
envolvia esse processo, que vai desde as técnicas de gravação, até
13
FALCÓN, 2011, p. 108
Edna Matos
59
58
os meios de distribuição do produto final, pois exigiam
investimento por parte das gravadoras. Assim, em 1988, Edson
CAPÍTULO 3 – “Vamos dançar este Reggae”
Gomes assinou um contrato com um importante selo para
produção de três álbuns, que foram essenciais para a consolidação
da sua carreira no estado e em boa parte da região Nordeste.”
E assim mesmo com a pressão da gravadora, Edson Gomes se
manteve fiel a originalidade do seu trabalho conseguindo gravar
sete discos, o Reggae Resistência em 1988, distribuído nos três
formatos disponíveis no mercado14, com grande resultado de
venda, que consolidou sua carreira como grande artista
conquistando um público fiel e apaixonado, não apenas na Bahia,
mas no Brasil inteiro.
“Isaac, vamos dançar esse Reggae
Isaac, vamos cantar esse Reggae
O povo precisa de uma voz amiga
Que fale, que lute por uma verdade
O povo precisa da realidade
Mas tenha cuidado com as gentilezas
Vovó já dizia
Beleza não faz a mesa, Isaac
É existem mil formas de viver, eu sei
Isaac
É existem mil formas de fazer, eu sei
Isaac
Mas precisa assumir o compromisso, Isaac
E se for preciso morra por isso
E fale que o povo anda morto de fome
E fale que o povo anda passando fome
Meu filho, vamos dançar esse Reggae
Isaac, vamos cantar esse Reggae.”
(“Isaac”, Edson Gomes)
14
LP, CD e fita cassete
Edna Matos
60
Cão de Raça
61
O LP Reggae Resistência foi um sucesso de vendas e o público de
Ao término do contrato com a EMI Odeon, Edson Gomes ficou um
Edson Gomes só aumentava. Ele passou a ser referenciado como o
período sem gravar, mas continuava fazendo seus shows. Foi
maior reggaeman do Brasil sendo, inclusive, chamado por alguns
quando o gerente da Aky Discos15, grande distribuidora de
radialistas e produtores culturais como o Rei do Reggae brasileiro.
material fonográfico do Brasil, pediu para que Edson voltasse a
Em 1990, gravou seu segundo LP, Recôncavo, também produzido
por Wesley Rangel, que trazia composições como “Lili”, “Fala só de
Amor”, “Guerreiro do Terceiro Mundo”. Apesar de o disco repetir
o sucesso do primeiro não houve o mesmo investimento na
divulgação por parte da gravadora.
gravar. “Eu continuei na estrada fazendo shows, aí rolou um
pedido do gerente da Aky Discos que tinha força no Nordeste
todo. Então, depois de quatro anos eu gravei novamente para a
EMI Odeon tendo Rangel como produtor.” E, assim, em 1995,
Wesley Rangel volta a cuidar da produção do seu trabalho e juntos
gravaram o LP Resgate Fatal com destaque para as músicas
Os problemas começaram quando Edson não aceitou gravar
“Resgate Fatal” e “Isaac”.
músicas do que ele chamava de “compositores de encomenda”
apresentados pela gravadora. Nisto ele tinha o apoio de Wesley
Rangel. Talvez por isso que, em 1991, a EMI Odeon convidou o
produtor musical Perinho Santana para fazer o último disco do
contrato que levou o nome de Campo de Batalha, em substituição
a Rangel. O grande sucesso deste terceiro LP foi a música
Em 1996 Edson Gomes foi convidado para abrir o show de Alpha
Blondy, em Salvador onde tocou para mais de 22 mil pessoas que
o emocionaram ao o acompanharem cantando todas as suas
músicas. Esse show é lembrado como um dos maiores eventos de
reggae acontecidos na Bahia.
“Criminalidade”. O investimento na divulgação desse disco foi
Outro momento marcante de sua carreira que Edson faz questão
ainda menor. Edson conta que para divulgar o primeiro disco ele
de lembrar foi o show realizado, em 2010, em Maceió na praia de
viajou quase o país inteiro. Na ocasião do segundo LP as viagens
Pajuçara. Ele conta que quando chegou ao palco e viu a praia
foram programadas para acontecerem apenas no nordeste e
interior da Bahia. O último disco do contrato, praticamente, não
teve nenhuma divulgação. Ele afirma que “se não existisse o
contrato a EMI nem teria gravado os outros dois discos”.
15
A Aky Discos foi fundada há mais de 30 anos, em Caruaru-PE e já chegou a ser a maior
cadeia varejista de material fonográfico do país, com mais de 100 lojas distribuída por
nove estados (incluindo Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná). A pirataria e a revolução no
mercado fonográfico mundial, em especial pelo uso da internet tem reduzido
sensivelmente o poderio dessa empresa que dominava o comércio de discos e fitas no
Brasil especialmente no nordeste brasileiro.
Disponível em : http://www2.uol.com.br/JC/_2000/1302/ec1302n.htm
Edna Matos
62
Cão de Raça
63
lotada com gente pendurada nas árvores, ficou nervoso e chegou a
Odeon. Apesar do CD estar sendo gravado nos estúdios WR, a EMI
tremer de emoção.
dispensou os serviços de Wesley Rangel e mandou vir um
Ainda com o selo da EMI Odeon, Edson produziu junto com
Wesley Rangel o CD Apocalipse, lançado em 1997 e que teve
grandes sucessos como “Perdido de Amor”, que foi gravado pela
Timbalada e depois pela banda Adão Negro e “Camelô” que até
hoje é uma das músicas preferidas do seu público.
No carnaval de 1997, Edson Gomes numa atitude bastante ousada
lançou o bloco Reggae Resistência Ativa que desfilou na segundafeira de carnaval na Avenida Sete e domingo na Barra. O bloco foi
um sucesso, arrastando uma verdadeira multidão nos dois dias.
Do ponto de vista financeiro, no entanto, foi uma péssima
iniciativa que quase o levou à falência, pois como não teve
nenhum patrocínio dependia da venda das fantasias que não foi
muito boa. Ele chegou a distribuir os abadás para que o bloco não
desfilasse vazio. Edson lembra essa experiência: “Não consegui
apoio de ninguém. Tudo ali foi pago com meus recursos, os
músicos, o trio, os abadás. O bloco não pagou nada, só me tirou
dinheiro para caramba. Mas a resposta do público foi muito boa.
Dentro da corda tinha uns gatos pingados, mas fora uma
verdadeira multidão acompanhava o trio”.
Depois de quatro anos sem gravar, Edson Gomes estava
trabalhando em um disco que sairia mais uma vez pela EMI
produtor do Rio de Janeiro que chegou acompanhado de alguns
músicos, inclusive o baterista João Viana, filho de Djavan. Edson e
esse novo produtor não conseguiram se entender e a EMI
cancelou a gravação, encerrou o contrato e a questão foi parar na
justiça.
Edson decidiu, então, lançar o disco de forma independente. Criou
sua própria editora para poder substituir as faixas que já tinham
sido editadas pela EMI Odeon e assinou um contrato de
distribuição com a gravadora Atração. Assim, em 2001 foi lançado
o CD Acorde, Levante e Lute que, além da música “Sangue Azul”
onde ele faz críticas ao descaso da mídia para com seu trabalho,
trazia a canção “O Inquilino das Prisões”. No encarte do disco tem
uma carta dirigida aos fãs informando que a letra dessa música
não é autobiográfica, mas como nem todos têm acesso ao disco,
Edson, volta e meia, precisa se explicar em entrevistas e shows.16
A música também, desagradou uma parte do seu público que, pelo
teor da letra, achou que Edson tinha se tornado evangélico:
16 “Escrevo-lhes para que saibam que a música “Inquilinos das Prisões”, não retrata a
minha vida, pois nunca estive encarcerado, nunca fui privado da liberdade, nunca fui
condenado, em suma, nunca tive problemas com a polícia. Porém, a canção é dedicada a
toda população carcerária, ou seja, todos que estão privados da liberdade e que estão
envolvidos em algo ilícito; drogas, e outras coisas. Mas, digo para estes prisioneiros que
nada acabou, mesmo que tudo pareça destruído, mesmo que todas as portas estejam
fechadas. Ainda assim nada acabou. Venha conhecer o poder regenerador do Sr. Jesus
Cristo. Ele perdoa, liberta, salva, e tem a vida. Busca a ele e conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará, nada acabou meu irmão, creia!” (Carta aos fãs, encarte do CD
Acorde, Levante e Lute, 2001)
Edna Matos
64
Cão de Raça
“Quando eu morava na casa de satanás,
Eu era o seu prisioneiro
E fazia tudo por dinheiro
Eu andava sempre no agrado dele
Eu fumava maconha (cheirava pó)
Eu bebia cachaça (uma desgraça só)
65
Que me tem amor e que já me salvou.”17
Em 2005, ainda pela Atração, foram lançados o CD e DVD Ao Vivo
em Salvador com a gravação de um show ocorrido no dia
16/07/2005 no Wet’n Wild para um público de cerca de vinte mil
pessoas.
Eu fumava maconha (cheirava pó)
Eu bebia cachaça (uma desgraça só)
CONSICÊNCIA SOCIAL E ÉTNICA
Eu era perigoso inimigo da sociedade
Eu era marginal, eu era marginal,
Eu sequestrava
Já nas primeiras composições feitas por Edson Gomes é possível
identificar claramente a preocupação com causas sociais. Este é
Eu estuprava
um traço determinante na sua produção musical. Músicas como
Eu roubava
“História do Brasil”, “Sistema do Vampiro”, “Viu”, “Recôncavo”,
Eu matava.
“Guerreiro do Terceiro Mundo” e “Lili” que viriam depois a
Eu era inquilino das prisões
compor o repertório dos seus dois primeiros álbuns, trazem a
E liderava as rebeliões, agora estou
marca forte do protesto contra o racismo, a desigualdade social e
Estou retornando
a violência.
Pra casa do meu pai,
Na casa do meu pai
Não tem mais a dor, não tem mais sofrer.
O próprio Edson fala sobre essa característica marcante de sua
obra: “Mesmo antes de eu ter uma relação com o reggae, eu já
Na casa do meu pai, lá tudo é o amor
tinha essa veia do protesto, mesmo porque sou oriundo de uma
Sem distinção de cor.
raça sofrida, de descendentes de escravos. Então a nossa realidade
Na casa do meu pai, lá mora o Senhor Majestoso
até hoje é muito cruel. A minha família é grande, todo mundo é
Senhor que me tem amor
pobre. Eu não queria cantar falando de amor, a minha
E que muito me amou
17
“Inquilino das Prisões”, Edson Gomes (LP Acorde, Levante, Lute, 2001)
Edna Matos
66
Cão de Raça
67
especialidade é o social, é o protesto. Eu sinto essa necessidade de
As músicas a que Edson se refere trazem nas letras preocupações
abordar as questões sociais, de reivindicar direitos”.
com a violência, a seca nordestina, o conflito de gerações, a
Nas sociedades onde a população não reúne as condições
desigualdade econômica e outras mazelas sociais:
necessárias para desenvolver o hábito da leitura a música é usada
“É tanta violência na cidade
como uma forma de conscientização. Os negros jamaicanos
Brother é tanta criminalidade
ouviam Bob Marley e entendiam a sua mensagem. As letras de
As pessoas se trancam em suas casas
Edson Gomes, antes mesmo de serem no ritmo de reggae, já
Pois não há segurança nas vias públicas
traziam todas as características desse estilo. Edson conta que ao
E nem mesmo a polícia pode impedir
Às vezes a polícia entra no jogo.”19
ser apresentado à música de Marley, se reconheceu no trabalho
dele: “Quando fazia meu trabalho, eu já tinha uma boa inclinação
xxx
para o reggae. Primeiro eu conheci Jimmy Cliff e depois Peter
“E mais uma vez o caso tornou-se um drama
Tosh. Mas, realmente o reggae só foi me influenciar quando eu
A seca está no aí e o povo bebendo lama
conheci Bob Marley. Certa noite, eu estava passando pela Paulo
Por culpa de tamanha incompreensão
Dias Adorno18 e ouvi uma canção, era No woman no cry. Eu já
A seca arrasa, devora o sertão [...]
tinha ouvido essa canção interpretada por Jimmy Cliff, depois saiu
Enquanto eles pensam o povo cumpre sua sina
a versão com Gilberto Gil, que fez muito sucesso, então quando eu
E vive esperando a providência divina.”20
ouvi a versão original com Bob Marley, me tocou muito. Meu
xxx
irmão Tim Tim Gomes, que já morava em Salvador, me trouxe o LP
Rastaman Vibration e aquele das bandeiras, Survival, foi aí que,
“E o amor que os cantores cantam
realmente, comecei a incorporar o reggae. Mas, eu não fui
Não junta a família
influenciado pela luta, eu fui influenciado pelo ritmo. Eu não
Não soma, não junta a família
passei a compor música de resistência por ter conhecido Bob
Filhos e filhas contraindo traumas
Sexo e drogas, fama e dinheiro
Marley, eu já cantava música de resistência antes disso”.
18 Fundação Casa Paulo Dias Adorno fundada no ano de 1967. É uma das mais antigas
casas de cultura da cidade de Cachoeira, Bahia.
19
20
“Criminalidade”, Edson Gomes (LP Campo de Batalha, 1992)
“Cão de Raça”, Edson Gomes (LP Reggae Resistência, 1988)
Edna Matos
68
Cão de Raça
69
Assunto principal
observação, mesmo que superficial do público nos seus shows é
Sexo e drogas, fama e dinheiro
suficiente para ver que ele se renova. A mensagem de Edson
Notícias no jornal
continua sendo bem assimilada pelos mais jovens.
Juventude toda perdida
Uma juventude mal dirigida.”21
Mesmo conseguindo manter e ampliar o seu público, Edson
Gomes acha que poderia ter conseguido muito mais êxito na sua
xxx
carreira e se ressente do que considera como retaliações do
“Todo mundo precisa de um lugar pra morar
sistema: “Vou seguindo nessa minha trajetória, compreendi que é
Todo mundo precisa de viver em paz
uma caminhada muito árdua, porque eu abordo situações que
Todo mundo precisa respirar o ar
incomodam o sistema. Falo de coisas que não agradam as pessoas
Todo mundo precisa se alimentar.”22
que estão com o poder. Mas, me sinto um andorinha voando
xxx
sozinha, pois os outros que estão fazendo reggae não têm coragem
de sair para o combate, porque eles sabem que aqueles que
“Esse sistema é um vampiro
combatem com o reggae são retaliados pelo sistema. O trabalho
Eh! Vive sugando todo povo [...]
que eu faço é uma maneira de despertar as pessoas; de levar as
Estamos metidos nos buracos
Estamos jogados nas favelas da vida
Pendurados lá no morro
Velho pai, só nos resta teu socorro
pessoas jovens à meditação, a refletir, sobre o dia-a-dia, sobre a
vida. Não somente sobre a sua vida, mas sobre a vida das pessoas
que estão ao seu redor”.
Estamos largados nas calçadas
Dentre as composições de Edson sem sombra de dúvida “Lili” é a
Nós não temos nem morada
mais emblemática. Ela acabou se transformando no hino dos
Não temos nada!”23
movimentos sociais pelo Brasil:
A atualidade dos temas abordados nas suas músicas talvez seja o
“Vamos amigo, lute
principal motivo da persistência de Edson na cena musical. Uma
Vamos amigo ajude, senão
21
“Traumas”, Edson Gomes (LP Resgate Fatal, 1995)
“Viu”, Edson Gomes (LP Reggae Resistência, 1988)
23 “Sistema do Vampiro”, Edson Gomes (LP Reggae Resistência, 1988)
22
A gente acaba perdendo o que já conquistou
Vamos levante, lute
Edna Matos
70
Cão de Raça
71
Vamos levante, ajude
com temas religiosos. O público vibra com os seus discursos nos
Vamos levante, grite
shows. Eles normalmente são intercalados ou tem como pano de
Vamos levante agora
fundo uma música de protesto com bastante aceitação do público.
Que a vida não parou
Observa-se que a euforia do público se repete tanto para os
A vida não para aqui
discursos de teor político como religioso, por isso, fica a dúvida se
A luta não acabou
E nem acabará
Só quando a liberdade raiar
Liberdade, liberdade
Teu povo clama, lili
Dona lili.”
são as palavras que de fato atingem essas pessoas ou se é a
perfomance do artista. Um exemplo de discurso que provoca
euforia no público foi o proferido em um show na cidade de
Itabuna na Bahia, em 2004, tendo como fundo musical
“Barrados”26. Nele pode-se identificar as duas vertentes básicas do
pensamento de Edson Gomes – o político e o espiritual. O discurso
Os discursos proferidos durantes os shows de Edson Gomes
trata desde a discriminação sofrida pelos negros na sociedade:
também é uma característica do reggae. Carlos Albuquerque24
esclarece que essa falação teve origem com os grandes soundsystems25
“Até que o homem negro prove que é um cidadão honesto ele é um
marginal. Todos os dias ele tem que provar que é um cidadão honesto
jamaicanos que necessitavam de um uma espécie de
que cumpre com suas obrigações e que trabalha e que luta para
mestre de cerimônias entre eles e o público. Essas pessoas se
sobreviver.”
utilizavam do microfone para chamar o povo para dançar, para
anunciar lançamentos, os próximos locais aonde iriam se
até a aceitação de Jesus Cristo como Senhor da Verdade e da Vida:
apresentar, mas também falavam sobre sexo, violência policial, as
“Quando o homem se curva diante de deus ele deixa logo de ser
delícias da maconha, a dura vida dos guetos. Enfim tudo que
rebelde porque ele teme o Deus todo poderoso ele se curva diante de
deus e por isso mesmo que ele luta pela causa justa porque a causa
viesse a cabeça desses DJs no momento.
justa é a causa de deus porque deus é a verdade da verdade da
Edson Gomes começou fazendo discursos políticos com os temas
verdade, Jah!”.
tratados nas letras de suas músicas e depois começou a mesclar
passando pela resistência que Edson diz oferecer ao sistema:
ALBUQUERQUE, Carlos. O eterno verão do reggae. São Paulo: Editora 34. 1997
25 Sistemas de sons
24
26
Veja a íntegra do discurso no Anexo III
Edna Matos
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Cão de Raça
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“Eu não aceito as corrupções, eu não aceito a oferta dos homens e eu
“Todo ano isso ocorre
passo por dificuldades muitas dificuldades [...] nunca brilhei como
É sempre o mesmo corre-corre
artista nacional, porém eu deito minha cabeça no travesseiro tranquilo
Quando a chuva cai
porque eu nunca aceitei corrupção, nunca aceitei suborno.”
É um sacrifício a mais
A gente já não vive em paz
Nessa gravação é possível identificar os gritos das pessoas a cada
E quando essa chuva cai
frase de efeito dita pelo artista.
Piora tudo aqui e a gente fica assim
Algumas composições de Edson Gomes são baseadas em fatos
Pedindo clemência, correndo risco
reais, ocorridos na sociedade como “Camelô” que se refere a
Tudo é perigo
perseguição sofrida pelos ambulantes de Salvador, em 1996, como
Correndo risco, a morte pulsa mais
parte do processo de ordenamento do comércio informal na
Queremos ajuda, mas não tem ajuda
Não temos culpa de sermos tão pobres assim
cidade promovido pela prefeitura. E, “Calamidade Pública”
É calamidade pública
inspirada nas enchentes que vitimou muitos moradores das
Queremos ajuda!
cidades de Cachoeira e São Félix na Bahia, durante vários anos.
Minha família, os meus amigos
“Sou camelô, sou de mercado informal
Com minha guia sou profissional
Sou bom rapaz, só não tenho tradição
Em contrapartida sou de boa família.
Olha doutor, podemos rever a situação
Agora estão soterrados, estavam lá.”28
Outras músicas relatam fatos acontecidos com o próprio artista
como a letra de “Barrados”, conforme relato de seu filho Jeremias
Gomes: “Tem uma canção específica que aconteceu com ele
Pare a polícia, ela não é a solução, não.
mesmo. A canção ‘Barrados’ narra um fato real. Ele morava no
Quando a polícia cai em cima de mim
bairro do Cabula, ali no Conjunto Chopm II, nas imediações da
Até parece que sou fera.”27
Engomadeira e um dia saindo de casa para ir ao escritório, quando
já estava na escadaria para pegar o seu carro ele encontrou uma
xxx
27
“Camelô”, Edson Gomes (CD Apocalipse, 1997)
senhora que estava com uma bolsa, e quando ele foi passar, ela
28
“Calamidade Pública”, Edson Gomes (LP Recôncavo, 1990)
Edna Matos
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Cão de Raça
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segurou a bolsa dando a impressão de que achava que ele iria
No entanto, era o taxista. Um dia deram queixa. Aí, a polícia
roubá-la. Ele foi dali até o escritório matutando aquela coisa e ao
chegou e entrou em minha casa sem mandato, sem nada. O policial
chegar lá pegou o violão e fez a música”.
arrumou uma treita para eu abrir a porta. Ele falou: ‘seu Edson,
“Ainda ontem no condomínio que moro
Uma senhora quando me avistou
aconteceu alguma coisa com seu carro’. Quando eu abrir a porta
ele entrou e me rendeu. Eu fiquei lá sentado, enquanto eles
Apertou a bolsa, ela escondeu sua bolsa
vasculhavam a casa toda a procura de droga. Não encontraram
Apertou a bolsa, a branca segurou logo a bolsa
nada porque na minha casa não tinha nem cinzeiro. Pra você ver,
São cenas da minha cidade, uma doença da sociedade
dez anos depois que eu deixei de usar é que a polícia vem dar
Cenas da minha cidade, uma doença talvez incurável
‘baculejo’ na minha casa [risos].”
E, você aí como passa? Você aí o que acha?
Somos barrados no baile, todos barrados no baile
Eles dizem que é só para gente bonita.”29
Outro exemplo é dado pelo próprio Edson, que relata um fato
ocorrido em 1996, quando a polícia fez uma revista no seu
apartamento no bairro do Cabula. Os policiais foram até o local
por conta de uma queixa feita pelos vizinhos que reclamavam da
Esse episódio foi a inspiração para a música “Fogo na Babilônia”
gravada no CD Apocalipse lançado em 1997.
“A Babilônia anda aflita
Anda muito mais do que aflita
Agora eu boto fogo de vez
Eu sou o incendiário do sistema
Olha minha querida
gritaria fruto de uma, suposta briga entre Edson e sua
Não tenha medo
companheira. “Eu ‘rasta’, cabelo no meio das costas, regueiro e
Aquele mesmo Senhor
morando no Cabula. No apartamento em frente ao meu morava
Que tantas vezes falei
um motorista de táxi que gostava de fumar maconha. Além disso,
Ele sempre estará aqui
eu morava lá com Paula, mãe de meu filho Jeremias e a gente
Ele sempre estará comigo
brigava muito. A qualquer hora era aquela gritaria. Então, os
Se por acaso o sistema (sistema, sistema)
vizinhos achavam que isso acontecia porque eu estava drogado.
Quiser tirar minha vida
Talvez até possa conseguir
29
“Barrados”, Edson Gomes (LP Resgate Fatal, 1995)
Porém, minha alma, nunca (never)
Edna Matos
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Cão de Raça
77
Eu sei, eu sei, eu sei
Viemos na fúria do mar vivemos na fúria do mandar
Toda brutalidade virá (brutality)
Um homem lustre mandou queimar toda nossa história
A brutalidade virá
E lá na escola nos ensinam a ter vergonha
Eu toco fogo
Temos nosso jeito temos nosso próprio cheiro
Eu toco fogo
Nosso cabelo é duro não conhecemos preconceitos
Eu toco fogo
Somos livres e queremos ser assim
Eu ponho fogo na Babilônia.”
Sempre livres desejamos ser assim
Jogo capoeira, sou a voz da resistência
Mas, a maioria de suas letras é fruto da observação do seu
Sou a massa regueira, massa firme verdadeira
entorno, das pessoas, das situações. Algumas das composições de
Somos da África, o povo da África
Edson Gomes se referem às questões étnicas. Nessas, ele costuma
Viemos na fúria do mar vivemos na fúria do mandar
fazer denúncias contra o racismo que tem atravessado gerações e
Doutor fulano mandou queimar toda nossa história
relaciona o flagelo da escravidão como a principal causa da
E lá na escola branca novamente a vergonha
injustiça social no país. São letras direcionadas para o seu público
Porém a cor não nega, a cor é forte é cor da terra
mais fiel formado majoritariamente por afrodescendentes. Como
E sim ainda assim negar, o sangue é vivo o sangue entrega.”30
“Na Escola” que fala da forma como a história da participação do
xxx
negro na formação da sociedade brasileira é deturpada pela
educação formal no Brasil reforçando os preconceitos e
“Sim, somos nós que estamos nas calçadas
contribuindo para manter a autoestima dos negros sempre em
Sim, somos nós que estamos nas prisões
baixa. Apesar dessa música ser muito executada nos shows, Edson
Nos alagados
Gomes ainda não a gravou em nenhum de seus discos. Outro
Sim, somos nós os marginais
Sim, somos nós brutalizados
exemplo é a canção “Somos Nós” que trata das consequências da
Os favelados dos porões do inferno
escravidão para a população negra brasileira.
O inferno é aqui
“Há tanto tempo que estamos aqui nesta terra brasileira
Sim, somos nós os sem direitos
Caminhando com saudade, exclusividade, é a liberdade
30
“Na Escola”, Edson Gomes (não gravada em disco)
Edna Matos
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Cão de Raça
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Sim, somos nós os imperfeitos, somos os negros
alertou: “Edson, essa musica é bonita pra caramba, mas tem um
Sim, somos nós filhos de Jah
trecho que derruba tudo. A princesa Isabel, não teve nada com o
Sim, somos nós os perseguidos
fim da escravidão, a história é outra”. Edson, então engavetou a
Os habitantes dos porões do inferno
música e mesmo com os pedidos dos fãs não a cantava mais.
O inferno é
aqui.”31
Edson fala de onde vem essa consciência racial: “Vem da minha
Passados mais de cinco anos, ele revisitou essa canção e mudou a
parte que o incomodava, mas ainda não a gravou:
própria experiência. Em casa não havia preocupação com isso,
“Dona Isabel nunca fez nada por nós
porque meus pais, principalmente minha mãe, me aconselhavam a
Já passavam por essas praias
arranjar uma branca para que meus filhos não nascessem negros.
Já me viu em plena escuridão
Eu sei que isso era reflexo da opressão das senzalas, eles queriam
Agora somos livres, aparentemente
proteger os filhos, mas faziam dessa forma errada. Não pensavam
Dona Isabel nunca fez nada por nós
que desse jeito vai exterminar a nossa raça, pois cada negro que se
Não, não, dona Isabel nunca fez nada por nós.”32
casar com um branco com o objetivo de embranquecer os filhos,
estará trabalhando para nossa exterminação. Não que o negro não
possa casar com o branco, mas não pode ser com essa intenção”.
A PRESENÇA DE JESUS CRISTO
Quanto maior era o esforço do homem branco em destruir a
A consciência racial que Edson não encontrava em casa com seus
integridade do escravo, maior era a reação (espiritual) deste. No
pais era construída nas ruas com pessoas que lhe ‘davam toques’
único livro a que tinham acesso – a Bíblia – os negros jamaicanos
como é o caso de um amigo branco chamado, Carlos Eduardo, que
encontraram refúgio e combustível para seus ideais e marcaram
o alertou sobre a letra de uma música que ele cantava nos
dois pontos no mapa: Egito e Etiópia. Nesses locais, a história da
barzinhos em Cachoeira e que fazia bastante sucesso na época,
civilização viveu importantes momentos. E ambos ficavam na
“Princesa Isa”. Edson fez a letra baseado nas informações dos
África! Assim, a Etiópia passou a ser considerada para muitos
livros de história do Brasil e contava como o negro que veio no
deles como uma terra santa para onde eles deveriam retornar.33
navio negreiro fora libertado pela princesa Isa. O seu amigo o
32
31
“Somos Nós”, Edson Gomes, (LP Campo de Batalha, 1992)
33
“Princesa Isa”, Edson Gomes (não gravada em disco)
ALBUQUERQUE, 1997, p. 29
Edna Matos
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Cão de Raça
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Esse ideal era incentivado por um dos maiores líderes negros de
diz nunca foi um rastafári praticante: “Eu não sou rasta. Antes de
todos os tempos, Marcus Garvey, que asseverava em seus
cortar o cabelo eu estava travestido de rasta, mas não seguia os
discursos para a população negra da Jamaica: “Nós, negros,
seus costumes. Quando eu conheci o rastafarianismo eu já tinha
acreditamos no Deus da Etiópia, o Deus eterno – Deus dos Deuses,
um Senhor na minha vida e não poderia ter outro”.
o Deus Espírito Santo, o Deus de todos os tempos! Este é o Deus
no qual acreditamos, mas iremos louvá-lo segundo o ponto de
vista da Etiópia. Voltem-se para a África, lá será coroado o Rei
Negro; Ele será o Redentor ”.34
De uma forma geral, a questão religiosa prevalece nas letras dos
artistas do reggae lá na Jamaica ou aqui na Bahia, nos congregados
ou nos que não se definem por nenhuma religião, como é o caso de
Edson Gomes, que embora não faça parte de nenhuma
Os que acreditaram nessa teoria tomaram emprestado o primeiro
congregação, afirma que Jesus Cristo é a fonte do seu dom, da sua
nome do “Rei dos Reis” e se tornaram conhecidos como rastamen.
força e da sua vitória: “Eu não tenho religião, não sou católico. Eu
Seguidas, e pouco formais, consultas à Bíblia foram misturadas a
sou um homem que crer em Deus de outra maneira. Não creio em
elementos da cultura religiosa africana (com toda a sua
Deus por causa de uma imagem ou escultura. Eu creio em Deus
diversidade) e deram origem ao que se costumou chamar
como o espírito criador de todas as coisas, e que nos fez segundo a
“rastafarianismo”: a religião dos rasta.35
sua semelhança, que é o deus dos evangélicos. Mas, evangélico não
Ao chegar ao Brasil, o reggae e o “rastafarianismo” foram
ressignificados ao incluírem elementos das culturas de cada
é religião. Evangélicos são pessoas que evangelizam, que pregam a
palavra de Deus”.
região aonde foram adotados. No Recôncavo da Bahia não poderia
A forte influência das leituras que Edson faz da Bíblia, que ele
ser diferente, cada artista assimilou a mensagem de Marley com
afirma ser o único livro que lê, está mudando aos poucos os
base nas suas crenças e formações.
discursos que costuma fazer em seus shows. Eles estão se
Edson Gomes usou durante muitos anos os cabelos tipo dreadlock,
que aqui no Brasil já é considerado como suficiente para
identificar uma pessoa com rastafári. Mas, conforme ele mesmo
parecendo cada vez mais com pregações cristãs. Em um show, no
pequeno município de Firmino Alves, na Bahia, ao apresentar uma
nova composição em que prega o fim dos tempos ele a intercalou
com mensagens em que exortava as pessoas a se aproximarem de
34
35
WHITE, 2011, p. 25
ALBUQUERQUE, 1997, P. 33
Edna Matos
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Cristo, pois a sociedade estava doente e o regresso do Salvador já
Cão de Raça
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O INCENDIÁRIO DO SISTEMA
estava por acontecer:
É comum as pessoas ouvirem falar de Edson Gomes e já pensarem
“O Deus de Abraão misericordioso criador de todas as coisas, ele vem!
E num piscar de olhos todos nós seremos transformados todos nós
compareceremos no tribunal do criador.”36
nas polêmicas em que ele costuma se envolver. Edson é aquele
cara capaz de deixar de fazer um show se o produtor não tiver
honrado seus compromissos; que nunca está satisfeito com a
O que chamou a atenção para este show é que, talvez por ter
qualidade do som; e, que defende seu trabalho com unhas e
acontecido em uma cidade pequena e para um público menor,
dentes.
Edson
Gomes
abusou
desse
recurso
ao
incluir
um
discurso/pregação em, praticamente, todas as músicas do
repertório apresentado.
Raimundo Antonio, professor de história, DJ e um aficionado do
reggae que costuma acompanhar esse tipo de shows em Salvador
e nas cidades do interior do estado, conta que a primeira
Apenas a veia social de Edson Gomes o impede de engrossar
oportunidade que ele teria de assistir a um show de Edson Gomes
definitivamente as fileiras dos artistas gospel. Ele afirma que não
foi, em 1987, na Feira da Bahia, um evento promovido pelo
gostaria de deixar órfãs as pessoas que o seguem em busca de
governo do estado para promoção dos seus municípios onde as
suas mensagens contra o sistema, contra as injustiças sociais. “Eu
prefeituras mostravam o que as suas cidades tinham para
já pensei em migrar de conceito musical. Continuar com o Reggae,
oferecer. A feira durava uma semana e nela aconteciam shows de
mas mudar para o gospel. Eu tenho esse pensamento, mas não sei
artistas locais e nacionais. “O Parque de Exposição estava lotado e
se vai ser concretizado, pois fico pensando que não posso
muita gente aguardava o show de Edson Gomes, pois mesmo sem
abandonar essa galera toda, que vive esperando uma mensagem
ter nenhum disco gravado ele já tinha um público que o seguia.
minha, uma palavra minha.”
Esse show acabou não acontecendo porque Edson se aborreceu
com a produção dos Titãs, que tocaria na sequência, porque eles
armaram os seus instrumentos no palco antes da hora deixando
pouco espaço para que a banda Cão de Raça se instalasse. Isso
36
Veja a íntegra do discurso 02 no Anexo III deste livro
Edna Matos
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Cão de Raça
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acabou gerando um atrito entre os roqueiros e os regueiros, com
O seu filho, Jeremias Gomes disse que algumas pessoas acham que
uns atirando pedras e areia nos outros.”
seu pai é um cara brabo, estressado, arrogante e ignorante, mas
Em outro evento desta vez na cidade de Itabuna, Bahia, Edson se
sentiu desrespeitado pelo público que insistia para que ele
cantasse músicas de Bob Marley. As pessoas estavam em um
camarote e carregavam bandeiras de Che Guevara e Bob Marley.
Edson parou o trio e falou:
isso é só aparência, pois segundo ele, Edson é uma boa pessoa,
muito generosa, sincera e verdadeira. Ele credita essa fama ruim a
algumas “atitudes isoladas de palco ou de alguma cena isolada que
alguém possa ter visto e ao fato de ele ser uma pessoa fechada. Ele
não é ignorante. Ele é tímido. Meu pai passou pela pobreza e por
problemas em casa com meu avô e acabou se tornando um
 Rapaz, vocês aí de Che Guevara. Vocês têm que me respeitar e
respeitar o meu trabalho, Bob Marley e Che Guevara fizeram o
papel deles agora eu estou fazendo o meu, eu toco minha
música.
homem fechado”.
O próprio Edson tenta explicar essa faceta de sua personalidade:
“Se eu sou um combatente, se eu sou um rebelde, não aceito tudo
que o sistema quer me incutir. Então o que eles pensam? ‘Vamos
E não ficou só nisso. A noite prometia! Edson seguiu com o trio
criar situações para minar esse cara. Esse cara é o valente, então
parando no meio de caminho para ir ao camarote da prefeitura,
vamos criar algumas situações para exterminar com ele’. Aí,
onde fez algumas canções e como já tinha se tornado costume,
pessoas
explicou que a música “Inquilino das Prisões” não falava dele
aproximaram de mim falam que eu sou grosseiro, arrogante. As
mesmo. Prof. Raimundo conta que na volta, algumas meninas
pessoas tem esse comportamento comigo: elas ouvem algo e não
tentaram abraçá-lo, coisa que alguns artistas adoram, mas Edson
procuram pesquisar, não procuram ver se realmente a situação é
não gosta. Ele ia tentando contê-las, mas como não estava
aquela, e aí prontamente já acreditam”.
conseguindo chamou a polícia e acabou voltando para o trio
escoltado o que causou grande aborrecimento do público
presente. Na segunda volta do circuito Ele reconsiderou e
permitiu que um dos seus músicos cantasse uma música de Bob
Marley.
que
nunca
tiveram
contato
comigo,
nunca
se
Edson acha que tudo não passa de um estratagema para isolá-lo
impedindo que as pessoas tenham acesso a sua mensagem
libertária. Então forjam essa imagem de uma pessoa difícil,
inacessível para criar uma barreira e impedir que as pessoas se
aproximem dele. Mas, que quando alguém se aproxima, vê que ele
Edna Matos
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Cão de Raça
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é apenas um cara sério. “Eu não ando de cara aberta, a minha
comunidade, para o povo, que fale do dia-a-dia das pessoas e eles
natureza é assim e eu tenho direito de ser assim. O sistema gosta
não querem me deixar fazer isso”.
do negro brincalhão, aquele que faz pagode e é simpático por isso.
Então é assim: vai tirar fotografia, sorria. Mas por que eu vou
sorrir se eu não estou com vontade? A gente só deve sorrir
quando tem motivo pra isso. Desde pequeno somos induzidos a
ser artificiais, a perder a naturalidade do ser. Eu sou natural. Não
tenho que ficar bajulando ninguém para ser meu amigo ou minha
amiga. Eu sou assim, sou um cara fechado, tímido e introvertido”.
Essa atitude de Edson em relação à imprensa corrobora com a
opinião do radialista Cristóvão Rodrigues para quem os
problemas que Edson enfrenta nas suas relações no meio artístico
deve-se a sua intransigência na defesa das suas ideias e do seu
trabalho que para Cristóvão se constitui na sua verdadeira
religião: “Toda vez em que eu fui ao estúdio, quando trincava
alguma coisa entre ele e Rangel, me parecia que a música para ele
Esse talvez seja o principal motivo de seus problemas com a
era como se fosse uma religião. Tinha também, uma forte
imprensa. Edson não aceita ser enquadrado no padrão pré-
influência de Nengo Vieira, que era uma espécie de pensador do
definido dos veículos, principalmente, quando os
grupo. Eles agiam como fundamentalistas religiosos e isso tornava
programas
tentam valorizar o seu lado romântico que ele considera apenas
tudo mais difícil ainda”.
como um apêndice de sua carreira. Mas, ele refuta a ideia que se
espalhou nos meios de comunicação de que ele não conversa com
“ALÔ, ALÔ, O SOM NÃO ESTÁ BOM”
jornalistas: “As pessoas dizem que eu não gosto de falar com a
imprensa nem aparecer em programa de televisão. Mas, eu sou
um produto e quero ser divulgado. Mas, a TV tem esse negócio do
cantor começar a música a partir da metade e nem eu nem meus
Quem já assistiu a algum show de Edson Gomes com certeza
presenciou suas reclamações sobre a qualidade do som. Às vezes
ele se aborrece tanto que chega a ser agressivo com os técnicos.
músicos estamos habituados a isso. Então às vezes a gente erra e
O radialista Ray Company é de opinião de que a falta de um
eu não gosto de errar. E, outra coisa chata é que querem sempre
técnico de som próprio é a causa dos problemas que Edson
que eu cante ‘Malandrinha’, ‘Samarina’, essas ‘água com açúcar’.
enfrenta para ter o som com a qualidade que ele exige. “Edson
Eu prefiro não cantar essas coisas. Não é meu objetivo cantar
Gomes sempre teve diversos problemas com os técnicos do som
música romântica. Eu gosto de cantar música para uma
por essa postura radical. Eu creio que o grande pecado dele é não
Edna Matos
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Cão de Raça
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ter um engenheiro de som como as grandes bandas têm. Numa
maravilhoso. Só está ruim pra mim. Então, hoje eu só reclamo
república do reggae há uns dois anos, tinha acabado o show de
quando não dá mesmo pra fazer o show”.
uma banda jamaicana e o som estava maravilhoso. Aí entra Edson
e fala ‘Alô, alô, o som não está bom’. Eu fiquei indignado: como é
que o som não está bom se os caras acabaram de cantar. Então, eu
acho que ele precisa se comunicar melhor e ser mais flexível com
o técnico do som.”
Para Jeremias Gomes essas reclamações acontecem devido ao
perfeccionismo de seu pai que não aceita apresentar um trabalho
se, no entendimento dele, não estiver perfeito. “O relacionamento
de meu pai com sua banda é muito tranquilo. Agora, ele é muito
profissional. Se pode ser 100% ele não quer 99%. Ele é muito
Edson explica que não é bem assim que as coisas acontecem. No
exigente, inclusive consigo mesmo. Eu já vi diversas vezes meu pai
palco existem dois sons distintos, o som da frente que o publico
compor uma música e não achar uma frase adequada para a
está ouvindo e o som do artista. Segundo ele, os técnicos
estrofe naquele momento e a música ficar arquivada por anos até
responsáveis pelo som no palco não gosta de interferência no seu
ele conseguir encontrar uma peça chave para aquela canção. Sei
trabalho, sobretudo quando se trata de artistas locais. Assim,
de algumas canções que não foram gravadas do jeito que ele
mesmo que ele leve um técnico próprio, precisa pagar por fora
gostou e aí ele transformá-la. Ou da letra não ser mais tão boa
para que ele possa trabalhar na mesa de som. Quando por algum
para ele hoje e ele deixar de cantar a música. No palco ele é
motivo essa negociação não é feita o técnico do palco cuida apenas
exigente com a sonoridade, com os técnicos de som. Já
do som do público, deixando o do artista bagunçado.
aconteceram vários problemas com os técnicos de som. Mas,
Edson admite a sua agressividade no tratamento com os técnicos
e afirma que está procurando mudar esse comportamento:
“Antigamente a minha reação era bastante agressiva. Eu era mal
educado e alguns técnicos tinham medo de fazer som para mim.
nunca algo de xingamento, de desmerecer o trabalho de ninguém.
Ele é profissional e valoriza tanto o trabalho dele como o trabalho
das outras pessoas.”
SEM DINHEIRO NÃO TEM SHOW
Eu fui duramente criticado por essas grosserias e por isso venho
tentando me modificar. Também, percebi que a plateia se irrita
por eu estar toda hora reclamando, pois o som para ela está
A relação de Edson Gomes com os produtores culturais contribui
bastante para reforçar a sua imagem polêmica. Edson tem uma
característica pouco comum nos dias de hoje que é negociar
Edna Matos
90
Cão de Raça
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apenas com dinheiro em espécie. Como paga aos músicos
gasto com os ensaios. Fazer o show sem o dinheiro para pagá-los
imediatamente após os shows e em dinheiro vivo, ele não aceita
só iria piorar tudo. Preferi dispensá-los”.
cheques e não sobe no palco se não tiver recebido o valor acertado
com o produtor.
Essa postura de Edson frente aos produtores culturais é defendida
por quem transita no ambiente do show business na Bahia. O
Um exemplo dessa faceta de sua postura profissional aconteceu
radialista Ray Company diz que muitos produtores não gostam de
no evento chamado Tribo do Som que aconteceu no Wet’n Wild,
pagar e nem respeitam os artistas locais. Por isso ele concorda
no dia 22 de junho de 2013. Edson Gomes dividiria o palco com a
com a atitude de Edson Gomes: “Como cantor, músico, artista ele
banda de reggae Adão Negro e os rappers da banda Racionais MCs.
tem que valorizar os seus músicos. Ele tem os compromissos para
O show simplesmente não aconteceu e, como normalmente ocorre
pagar. Quem circula no meio artístico sabe que se não pagar para
nestes casos envolvendo o público do reggae, nenhuma satisfação
que ele possa honrar o que promete aos músicos, ele não toca. Isso
foi dada nem pelo artista nem pelos organizadores. Edson disse
já aconteceu várias vezes e essa não vai ser a última. Edson só
que quem acertou esse show foi o seu assistente porque se ele
sobe no palco se tiver o dinheiro na mão”.
soubesse que a contratante era a Íris Produções não teria
aceitado, pois já teve problemas com essa produtora em outras
ocasiões. O enredo é sempre o mesmo: “Eles prometeram que
iriam pagar na sexta-feira. Depois mudaram para o dia do show.
Então, no sábado, a hora ia chegando e nada, a noite foi chegando,
a banda esperando no carro e eu no escritório esperando o sinal
verde. Até que meu assistente liga e diz que a produtora falou que
não tinha dinheiro. Assim na cara dura e nem fez uma
O mais interessante é que apesar disso já ter acontecido em
diversas ocasiões, Edson diz que apenas dois casos, Porto Seguro e
Itabuna, foram parar na justiça. Mesmo assim porque o público
reagiu quebrando tudo nos espaços onde seriam realizados os
shows, mas nenhum processo foi adiante. Para ele, os produtores
não o processam por saberem que vão perder a causa e quando
acontece uma cobrança mais forte por parte do público eles
colocam a culpa no artista pelo show não ter acontecido.
contraproposta. E aí como é que eu vou para lá fazer o show? A
situação já estava difícil porque os músicos saíram de suas casas e
O caso da cidade de Porto Seguro, Bahia aconteceu, em 2003, na
ficaram a minha disposição o dia inteiro, sem contar do tempo
localidade de Arraial D'Ajuda. Edson Gomes não queria ir porque
tinha considerado o cachê baixo, mas a sua produção acabou o
Edna Matos
92
Cão de Raça
93
convencendo porque o contratante era um produtor humilde e
interceptado pela polícia e foram conduzidos até a delegacia para
estava iniciando. Foi pago a metade do valor do contrato,
prestarem depoimento. Reconheceu-se que Edson não teve culpa
R$5.500,00 e o restante seria entregue no dia do show. Edson
no ocorrido e portanto, não teria que arcar com os prejuízos. Mas,
aguardava no hotel quando o produtor ligou informando que já
acabaram fechando um acordo em que ele se comprometeu a
tinha dado o dinheiro a seu assistente que tinha saído para
voltar a Itabuna em outra data e fazer um show na praça o que de
resolver outros compromissos. Então, Edson chamou a banda e
fato aconteceu.
seguiu para o local do evento, mas no meio do caminho o ônibus
ficou impedido de prosseguir por causa de alguns carros
estacionados indevidamente. Edson pediu ao contratante que
mandasse um carro menor para que eles pudessem chegar até o
palco. Enquanto aguardavam Edson descobriu que o produtor
tinha mentido. O restante do cachê ainda não tinha sido pago.
Essas histórias reais acabam alimentando o imaginário popular e
ajudam a enfeitar os casos, principalmente quando o contratante é
uma prefeitura. Edson diz que a maioria das histórias que são
divulgadas envolvendo prefeituras não é verdadeira, pois os
prefeitos cumprem o contrato, porque não querem ver seu nome
citado na imprensa envolvido nesses problemas.
Quando o contratante chegou com um veículo tipo Van e o
restante do dinheiro, foram informados que não adiantava mais
Para exemplificar, ele cita o caso da sua participação na micareta
porque estava acontecendo um quebra-quebra no local. Edson se
de Feira de Santana, em 2010 quando correu o boato de que ele se
recusou a receber o dinheiro e foi embora sem fazer o show. O
recusava a subir no trio enquanto não recebesse o combinado com
produtor chegou a abrir um processo, mas não o levou adiante.
a coordenação da festa. O boato foi aumentando e já dava conta de
que o coordenador da micareta tinha entrado em contato com o
O segundo caso aconteceu em Itabuna, Bahia, em 2004, pelo
mesmo motivo. O contratante não fez o pagamento do restante do
cachê no tempo hábil para que ocorresse o show. O público se
impacientou e promoveu um quebra-quebra no espaço do evento.
Edson ficou sabendo quando já estava a caminho do local então
ele voltou para o hotel com a banda, recolheram suas bagagens e
foram embora. Quando já estavam na estrada tiveram o ônibus
prefeito que mandou buscar uma mala de dinheiro em um posto
de gasolina e que, no final, após receber a mala recheada com 22
mil reais, ele fez o show, mas depois disso não foi mais convidado
para eventos promovidos pela prefeitura desse município. Edson
desmente parte do boato dizendo que ele foi contratado para dois
shows, um no trio e outro no palco. Como já tinha tocado no trio
sem receber nada estava aguardando o pagamento para poder
Edna Matos
94
Cão de Raça
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subir ao palco. Pode ter sido apenas isso, mas o certo é que depois
igualdade”. A prefeita fez questão de ressaltar que para os
desse evento ele não foi contratado outra vez pela prefeitura de
“cidadãos conjacuipenses fica a decepção por saber que o artista
Feira de Santana.
amoroso do palco é apenas uma encenação aparentemente
Em 2011, uma nova polêmica envolvendo o cantor, uma prefeita e
arquitetada por uma pessoa de comportamento inverso”.
um padre acabou repercutindo na mídia e serviu para alimentar
O padre João Eudes pivô da discórdia publicou a sua versão sobre
mais ainda a sua imagem de artista problemático.
o caso no blog que mantém para notícias da paróquia de
Edson Gomes foi contratado para uma apresentação no Festival
Estudantil de Arte e Cultura promovido pela prefeitura de
Conceição do Jacuípe, Bahia, no dia 26 de novembro de 2011, mas
um incidente acabou gerando uma discórdia entre ele e a prefeita
Tânia Yoshida que queria que o pároco da cidade, João Eudes
cantasse a música “Árvore” com Edson Gomes. Diante da recusa
do artista a prefeita se ofendeu, pois tomou a atitude como uma
falta de consideração com a cidade. Segundo notícias divulgadas
pela imprensa local, o ônibus do cantor saiu do município
escoltado pela polícia. Após o episódio a prefeitura divulgou uma
nota de repúdio37 ao que considerou como “um comportamento
arrogante e petulante” de quem antes falava “de amor, paz e
Conceição do Jacuípe. Ele afirma que não pediu para cantar com
Edson Gomes e que estava apenas atendendo a um convite da
prefeita: “Teria sido uma alegria cantar ao lado de um artista que
aprecio, mas isto para mim é indiferente. Tenho meu próprio
brilho e meu objetivo em relação à música é outro. Quem perdeu
foi Edson Gomes. A Bahia e o Brasil ficaram sabendo de sua
grosseria e falta de respeito à imprensa local, à prefeita, a minha
pessoa e ao seu público. Este entrevero não significou nada para
mim enquanto pessoa e nem tampouco como autoridade religiosa.
Quem perdeu a oportunidade foi Edson Gomes de conhecer o
‘Regueiro de Cristo’ e a sua mensagem”.38
Para Edson a questão foi mais de preservação de sua imagem do
que de um embate religioso. Ele conta que desde o início o pedido
37 “[...] Mesmo com um prévio contato com sua produção que combinava uma
participação do padre João Eudes no show, o cantor Edson Gomes achou conveniente
ignorar a presença da autoridade religiosa da cidade, que naquele momento lhe
prestigiava apenas como admirador e durante todo o tempo fez questão de demonstrar
comportamento arrogante e petulante.
Diante de tão deselegante ato de quem durante uma hora e meia falou de amor, paz e
igualdade (mas, provou o contrário com aparente falta de humildade – e quiçá, falta de
respeito), alguns populares se indignaram. Contudo, o poder público interviu e garantiu
que o artista deixasse a cidade em prefeita segurança [...]” (Assessoria de Comunicação
da prefeitura de Conceição do Jacuípe, 27/11/2011)
para que o padre cantasse no show tinha sido recusado. A prefeita
chegou a oferecer R$ 500,00 para que ele cedesse, mas ele não
aceitou. Para ele, as mensagens religiosas são similares, mas o
38
Publicado em
http://paroquiaconceicaodojacuipe.wordpress.com/2011/11/29/esclarecimentosobre-o-episodio-edson-gomes-sobre-as-coisas-que-ouvi-das-pessoas/
Edna Matos
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padre tem um titulo e é a pessoa que representa o sistema. “Se eu
coloco um padre no meu palco vai confundir minha imagem na
cabeça da galera e eu vou ficar parecendo um hipócrita.”
Cão de Raça
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“NÃO GOSTO DE FAZER MÚSICA ROMÂNTICA”
Edson Gomes está sempre disposto a negar o seu lado romântico.
Mesmo com muitas músicas que falam de amor, inclusive os seus
dois grandes sucessos “Malandrinha” e “Samarina” ele afirma não
gostar das canções doces e açucaradas. É como se isso diminuísse
a luta que ele trava com a babilônia através das mensagens
libertárias da maioria de suas letras. Ele também diz que não tem
musas inspiradoras e que embora tenha algumas canções com
nomes de mulheres apenas, “Sandra”, foi feita para homenagear
uma mulher de quem ele gostou muito.
No entanto, como mais uma característica de sua personalidade
Repercussão da polêmica com a prefeitura de Conceição do Jacuípe, Bahia.
contraditória, Edson consegue compor belas canções de amor que
caem no gosto do público em geral sendo, inclusive, gravadas por
outros músicos como, por exemplo, “Perdido de Amor” que fez
muito sucesso com a banda Timbalada39:
“Preciso segurar essa onda
Que quer me afogar
Preciso segurar essa onda
Que quer me afogar
Foi no beijo que a morena me deu
Foi no beijo que a morena me deu
Foi nesse beijo que aconteceu
No abraço que a morena me deu
39
Gravada no disco ao vivo da Timbalada “Vamos dar a volta no Gueto”, em 1998.
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Foi no abraço que a morena me deu
ficar sem você/ Mas tentarei um jeito de esquecer / mas sei que
Foi nesse abraço que aconteceu
vou sofrer/ Todos os dias que o amor durar/ Porém não direi não
Menina bacana que rola na cama, me namora
viverei sem você/ Tampouco acharei que morrerei sem você’. Eu
Me namora, me namora, me namora, me namora
Menina bacana que rola na cama, me namora
Me namora, me namora, me namora, me namora
Fiquei louco de amor
Vem me namorar, girl
Estou perdido de amor
acho que assim é muito mais positivo”.
Mas, só a canção “Fala Só de Amor” tem a prerrogativa de
contradizer o próprio argumento que Edson Gomes utiliza para
justificar a sua indisposição com as canções românticas – que ele é
combatente e por isso não pode cantar o amor:
Vem me namorar céu.”40
“Até mesmo um guerreiro
Aliás, contrariando as reiteradas afirmações do cantor sobre seu
Tem o seu momento
próprio gosto musical, no disco Apocalipse, das treze músicas do
repertório, cinco falam de amor.
Pra falar do seu amor
Do seu sentimento
E agora
Apesar de Edson Gomes fazer de tudo para negá-la e reprimi-la,
Fala só de amor
essa sensibilidade existe, mas fica ali latente. Ela aparece em
Todo mundo tem um amor
momentos certos como, por exemplo, para criar uma canção para
Fala só de amor
um filho que está sofrendo por amor. A música “Não morrerei por
Olha todo mundo tem um amor
você” foi feita especialmente para Jeremias Gomes que gravou no
Fala só de amor
seu primeiro disco. Ele fala desse presente de seu pai: “Essa é uma
Eu também tenho o meu amor
canção muito importante para mim porque eu sou o personagem
central dela. Diferente do que se ver por aí, das músicas que falam
que ao fim do romance o cara vai beber até cair, as canções do
meu pai trazem uma boa mensagem. Ela diz: ‘Vai ser tão triste
Por mais forte que seja o homem
Sempre chega o momento
De cair diante de um sentimento
Sei que a água, água é mole
E a pedra é dura
Mas, já fala o ditado
40
“Perdido de Amor”, Edson Gomes (CD Apocalipse, 1997)
Edna Matos
100
Cão de Raça
101
Tanto bate até que fura
de criação. “Na verdade a ficha está caindo agora com a internet.
Fala só de amor
Mas, acho que essa é a hora certa porque eu já estou com os pés
Todo mundo tem um amor
uns cem quilos no chão. Agora eu tenho maturidade para encarar
Fala só de amor
isso com normalidade, sem me abalar muito. Saber o que eu
Olha todo mundo tem um amor
significo para a sociedade, para juventude, é motivo para eu me
Fala só de amor
Eu também tenho meu amor
Fala, fala negão
Todo do dia o negro fala
Chora, chora negão
Todo dia o negro chora”.
aprimorar mais, me aperfeiçoar mais, e oferecer um trabalho cada
vez melhor. Se eu já me preocupava antes em fazer sempre o
melhor, agora que eu sei que existem pessoas que acreditam no
que eu estou falando, umas que vão me seguir e outras que vão
tomar aquilo para sua vida, a minha responsabilidade aumenta e o
cuidado também”.
Essa pessoa controversa e complexa acabou se tornando uma
referência para muita gente, especialmente, aqueles que se
enxergam nas suas canções. E essa identificação é sem dúvida o
que faz com que Edson Gomes, mesmo sem gravar nenhum disco
novo há doze anos faça, pelo menos, um show por semana nos
estados do nordeste e cidades do interior da Bahia. Edson,
também é o principal chamariz dos grandes eventos de reggae em
Salvador como a República do Reggae e o Bob Marley Day que
acontecem anualmente na cidade.
Apesar de tudo, Edson afirma que só agora, com a participação
nas redes sociais, é que está percebendo isso. O acesso à internet
lhe mostrou a importância de sua obra e a influência que ela
exerce principalmente entre os mais jovens e isso lhe trouxe a
preocupação de ter um cuidado ainda maior nos seus momentos
103
CAPÍTULO 4 – “Mesmo que o rádio não toque”
“Eles queriam um mundo só de azul
Só de azul, só de azul, só de azul
Eles queriam, e como eles queriam
Eles queriam que fôssemos, apenas,
Objeto sexual
Objeto Profissional
Eles queriam, e como eles queriam
Mas, o poder que vem do alto
Não planejou assim
E nós crescemos, nos espalhamos
E aqui vamos nós, caminhando
Em cada esquina, em cada praça,
Nos becos da cidade
Mesmo que o rádio não toque
Mesmo que a TV não mostre
Aqui vamos nós, cantando reggae
Aleluia Jah!”
(“Sangue Azul”, Edson Gomes)
Edna Matos
104
Cão de Raça
105
A música Reggae surgiu com força em Salvador e Recôncavo
show e os artistas de reggae, têm personalidade forte e não
Baiano nas décadas de 1980 e 1990, com nomes como Nengo
permitem isso”.
Vieira, Lazzo, Sine Calmon e Edson Gomes. Era um período fértil
em que a música baiana estava estourada em todo o Brasil, com
espaço nas grandes gravadoras e nas mídias de penetração
nacional. Tudo isso no rastro do que se convencionou a chamar de
axé music. O intrigante é que o reggae não conseguiu alcançar o
mesmo sucesso que o axé que veio a se transformar numa
indústria milionária no mercado do entretenimento.
Para outros o preconceito que sobra para o reggae não existe
quando o produto é da indústria do axé. O radialista, Ray
Company discorda de seu colega Cristóvão Rodrigues, e diz que o
tratamento dado para a axé music, o arrocha e o pagode é
totalmente diferente do tratamento dado para a música reggae.
Ele cita como exemplo o fato de que as rádios não tocam reggae
em sua programação normal e aponta como saída uma maior
Para uns sobra profissionalismo na indústria do axé e falta no
organização dos artistas do reggae, com a criação de uma
reggae.
associação como aconteceu com o samba. Para Ray, Edson Gomes
Para
o
radialista
Cristóvão
Rodrigues,
um
dos
protagonistas do movimento musical baiano daquele período, o
motivo do fraco desempenho do reggae, enquanto movimento
foram às atitudes dos seus principais representantes: “O
comportamento de Edson Gomes afasta os produtores e
contratantes, pois quem contrata gosta de ter a certeza de que vai
entregar aquilo que prometeu. O axé tem público porque eles
entregam o que prometem. O cidadão compra uma fantasia dos
blocos do Chiclete e do Asa um ano antes porque sabe que o
produto lhe será entregue. Edson Gomes e Sine Calmon
prejudicaram um pouco o movimento de reggae na Bahia, porque
esses
artistas,
apesar
de
serem
extraordinários,
são
insubordinados. Eles não conseguem se adequarem ao mercado,
porque o público brasileiro de uma forma geral quer ser parte do
é que tem a autoridade para encabeçar este movimento.
Edson Gomes também acha que não há unidade no reggae, mas
não por falta de uma organização política ou de uma entidade
representativa. Para ele o reggae deveria se unir no formato: “A
força do axé, do pagode, do arrocha vem do fato de que todos
produzem o mesmo besteirol. A besteira que um fala o outro
repete. O reggae deveria ser assim, ter um só objetivo se é para
falar de amor, vamos todos falar de amor. Vamos caminhar no
mesmo sentido. Mas não é assim que acontece cada um vem com
sua mensagem e aí o sistema abraça aquela que lhe interessa
desvirtuando o movimento e confundido as pessoas”.
Edna Matos
106
Cão de Raça
107
Os programas de rádio tiveram grande influência na divulgação do
Edson Gomes para ilustrar matérias sobre a violência com suas
reggae. Aqui em Salvador o destaque era o programa Rasta
músicas como aconteceu no programa Se liga Bocão de 29 de julho
Reggae na rádio Itaparica FM 91,3 comandado pelo comunicador
de 2011 e na edição de 13 de novembro do mesmo ano do jornal
e sociólogo Lino de Almeida, falecido em 2006. Era um programa
Bahia Record, ambos transmitidos pela TV Record.
de grande audiência que trazia as novidades do reggae
internacional e lançava e promovia os artistas de reggae local.
Mesmo com a indiferença dos meios de comunicação Edson segue
fazendo shows e consegue ver que o seu público está se
Outro divulgador do reggae é o radialista Ray Company que está a
renovando. Alguns menos avisados acham que ele estagnou por
frente do seu programa Reggae Special há quase 40 anos. O
não gravar um disco há muito tempo ou que está recluso por ter
programa já foi veiculado, dentre outras, pela Itapoan FM 97,5,
escolhido morar em São Félix. “A galera que me dar suporte é a
pela Itaparica FM 91,3 e Bandeirantes FM 99,1, hoje se restringe a
galera mais jovem e isso me traz uma sensação muito positiva,
rádios na web ou de pouca penetração como a Tudo FM 102,5 que
pois eu vejo que mesmo sem um trabalho incessante da mídia,
também conta com a presença de outro radialista do reggae,
meu publico se renova. E eu não estou recluso, eu moro em São
Marquinhos
Félix. Viajo, trabalho, faço meus shows e depois volto pra casa
Santiago.
Esse
é
um
dos
dois
programas
especializados em reggae nas rádios de Salvador.
como qualquer trabalhador normal.”
O outro é No Balanço do Reggae apresentado pelo radialista Luis
Wesley Rangel acha perfeitamente natural que, a despeito de tudo,
Carlos Ataíde na Educadora FM 107,5. Esses programas são
Edson Gomes continue na estrada e conte com um público fiel.
apresentados uma vez por semana, com exceção das suas
Para ele, Edson é um dos melhores produtos musicais que a Bahia
variações na web e seus ouvintes são na grande maioria
teve, nesses anos todos, o que falta é apenas um pouco mais de
seguidores do segmento do reggae. Isso significa que são
flexibilidade em suas posições. “Se não fosse pelas posições tão
programas especializados e que não alcançam o público de forma
radicais, Edson seria hoje um grande artista nacional, por que ele
geral.
tem uma voz muito especial e é um compositor de primeira linha.
A televisão quando abre espaço para o reggae é porque está para
acontecer algum evento que tem presença na mídia ou no caso de
Ele vive a música que canta e isso é essencial para suas criações.”
A estrutura utilizada por Edson Gomes para conduzir o seu
trabalho também é apontada como um fator limitante do seu
Edna Matos
108
Cão de Raça
109
sucesso. Ele não possui empresário, assessor de comunicação,
Ele precisou interromper os seus projetos pessoais para cuidar
divulgador, produtor, enfim tudo é resolvido por ele mesmo. Ele
dos projetos dos filhos numa tentativa de evitar o choque entre
próprio administra sua carreira. A desconfiança e o medo da
irmãos, frutos de casamentos diferentes. Edson conta que
exploração são fatores determinantes desta atitude: “Ao longo de
“primeiro foi Isaque que apareceu cantando e queria fazer um
minha carreira as pessoas interessadas em me empresariar, mais
disco. Então eu parei tudo para ajudar no disco dele. Logo em
pareciam vampiros. Certa vez, Cal Adam que era o empresário do
seguida vem Jeremias também cantando e querendo gravar. Aí já
grupo de pagode É o Tchan! se ofereceu para ser meu empresário,
viu, essas coisas de irmãos de mães diferentes, iria naturalmente
mas ele queria até os meus direitos autorais. A verdade é que eu
haver um conflito, com as mães no meio para botar mais lenha no
vendo meu show pelo preço que eu quero vender. Meu produto é
fogo, então eu preferi dá um tempo no meu projeto e ir cuidar dos
livre, não tem valor pré-definido. Eu aceito contraproposta,
deles”.
negocio porque eu gosto de fazer o que faço”.
Assim em 2008, Edson produziu o CD Negro Real de Isaque
É próprio da personalidade de Edson ter o controle total dos seus
Gomes. Das doze faixas do CD seis são do próprio Isaque e seis são
negócios. Ele não suportaria trabalhar e ver que a maior parte do
de Edson, são composições que falam de amor e de questões
resultado desse trabalho foi para o empresário ou achar que a
raciais, a exemplo da faixa que dá nome ao disco. Iniciando sua
prestação de contas não está tão clara. Além disso, esse apego que
carreira solo, Isaque já tinha feito participações especiais nos
Edson tem do seu trabalho não permite influências externas. Para
shows do seu pai, em eventos grandes, realizados na Concha
ter um produtor externo, teria que ser alguém que tivesse uma
Acústica do Teatro Castro Alves e no Wet’n Wild ambos em
afinidade muito grande com ele.
Salvador.
Depois chegou a vez de outro filho de Edson, Jeremias Gomes, se
lançar como cantor. Da mesma forma que seu irmão Jeremias,
GOMES & FAMILY
Durante o período em que ficou sem gravar Edson produziu o
disco de seu irmão Tim Tim Gomes e esteve cuidando da carreira
de seus filhos Isaque e Jeremias Gomes.
primeiro fez participações em shows do seu pai para depois se
apresentar com seu trabalho solo. Edson produziu o seu disco
Régua & Compasso que foi lançado em 2011. Todas as faixas do
disco foram escolhidas pelo próprio Jeremias no acervo, ainda
Edna Matos
110
Cão de Raça
111
inédito, de seu pai, com exceção da música “Não Morrerei Sem
Jesus e de Petão que é meu parceiro na minha banda atual que é a
Você” um presente que Edson fez exclusivamente para ele que
Manassés”.
estava curtindo o fim de um relacionamento amoroso.
A família Gomes tem criado alternativas para superar as
Mesmo assim, ainda é cobrado de Edson um maior apoio ao
dificuldades encontradas e
trabalho dos seus filhos e irmãos. Mas, seu filho, Jeremias Gomes e
carreiras. No dia 24 de junho de 2010, os irmãos Eddie Brown,
seu irmão, Tim Tim Gomes discordam da necessidade de mais
Tim Tim Gomes e Edson Gomes, além dos seus filhos, Isaque e
empenho por parte de Edson na promoção de suas carreiras.
Jeremias Gomes, deram início a um projeto que já está na sua
Jeremias acha que seu pai não domina essa logística de divulgação,
quarta edição: o bloco Gomes & Family que promove um o
ele ajuda no que sabe fazer que é produzir disco. “Meu pai é um
“Arrastão do Reggae”, nas ruas de São Félix, onde além da família
artista. Ele ainda está cantando e tem a carreira dele pra cuidar.
Gomes, se apresentam vários convidados do segmento do reggae.
Ele não é meu empresário para vender meus discos, nem ficar se
O evento é um sucesso e a cada ano tem atraído muita gente da
preocupando o tempo todo com minha carreira. Eu não sinto falta
região, de outros estados e até mesmo turistas estrangeiros.
desse apoio. Eu acho que as coisas vão chegar no momento certo.
Eu gravei meu disco agora, está tudo muito fresco, muito novo.
Tem tempo, ainda.”
continuarem conduzindo
suas
Esse projeto começou com um show de Edson Gomes, Tim Tim
Gomes, Eddie Brown, Isaque Gomes e Jeremias Gomes na concha
acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, em 2008. A ideia
Tim Tim Gomes também se sente agradecido por Edson tê-lo
era fazer um trabalho que fosse em família. Isaque e Jeremias
ajudado na produção do seu disco: “Ele viu que eu estava na luta já
ainda não cantavam nos shows apenas dançavam.
há algum tempo e precisava de uma ajuda para gravar. Então ele
iniciativa foi um sucesso acabou sendo levada para São Félix em
achou que estava na hora de me ajudar e produziu meu primeiro e
forma de trio elétrico que puxa um bloco, que mesmo tendo suas
único disco. Graças a Deus e a Edson Gomes eu tenho, hoje, esse
camisas comercializadas, desfila sem cordas.
disco que se chama Pedra Sobre Pedras que é uma produção da
Cão de Raça Produções Artísticas e tem composições minhas, de
Edson Gomes, de Nengo Vieira, de Carlos Reis de Santo Antonio de
Como a
Mesmo com toda a boa intenção parece que o projeto Gomes &
Family ainda não conseguiu o objetivo almejado por Edson que é
unir a sua família: “Eu fiz uma música com o mesmo nome do
projeto que era pra cantarmos juntos, mas a verdade é que a
Edna Matos
112
Cão de Raça
113
música ainda não conseguiu reunir nossa família numa energia
janeiro de 2009. Mas o evento não é exclusivo para shows de
positiva. Eu crio essas situações para que os outros participem,
Jeremias. Além dele, Isaque, Tim Tim, Eddie Brown e o próprio
mas ainda não consegui reunir todos como uma família. E, isso
Edson se apresentam com frequência e ainda abrem espaço para
vale também para os meus os filhos, pois mesmo buscando uma
artistas e bandas da região como a banda Folha de Chá, de
aproximação com eles está muito duro de conseguir. Então não dá
Cachoeira e Dissidência de Santo Amaro da Purificação. Já
pra cantar juntos porque a gente não pode passar uma ideia de
passaram pelo palco da Sexta do Reggae também nomes
união forçada. O reggae tem que passar a verdade. O reggae é
consagrados do reggae baiano como o cantor Sine Calmon.
família, mas nós nunca fomos unidos”.
SEXTA DO REGGAE
Os projetos Gomes & Family e a Sexta do Reggae contam com o
patrocínio da prefeitura de São Félix e de alguns comerciantes,
mas Edson Gomes, ainda é o principal financiador.
O bar de Grande localizado na rodoviária e a praça próxima da
Alem de abrir espaço para apresentação de bandas iniciantes
ponte são os principais pontos de encontro da cidade de São Félix.
esses dois eventos surgem como uma contraposição à política da
Lá as pessoas, principalmente os homens, se encontram para jogar
prefeitura
conversa fora, comemorar o resultado do “baba” ou simplesmente
nacionalmente como a cidade do reggae, não inclui esses artistas
ouvir música. Nas sextas-feiras, alguns amantes do Reggae se
nas suas programações culturais, boa parte delas de repercussão
reuniam ali para tomar umas cervejas, fazer churrasco e ouvirem
nacional. A única é exceção é o cantor Sine Calmon que, por gozar
reggae. Nesse meio tempo, Jeremias Gomes formou uma banda e
de alguma proximidade com os administradores do município,
passava o tempo ensaiando. Então, esses amigos acharam que
consegue pressionar e ter seu nome incluído nos eventos
seria uma boa ideia lançar Jeremias em um palco ali mesmo nas
organizados pela prefeitura. Os eventos particulares seguem a
sextas-feiras. No início o evento era totalmente financiado por
mesma linha. Apesar de armarem palco na cidade não valorizam a
Edson Gomes. Até que o professor Anderson Figueiredo, o popular
produção local. Todas as atrações vêm de fora e quando há alguma
Pepi de Cachoeira, transformou essa iniciativa em um projeto e o
exceção é para o samba de roda utilizado para abrir os shows dos
apresentou à prefeitura de São Félix que passou a apoiá-lo. Assim,
artistas principais.
surgiu a Sexta do Reggae, que teve sua primeira edição em 30 de
de
Cachoeira
que,
apesar
de
ser
conhecida
Edna Matos
114
Cão de Raça
115
Cachoeira é uma cidade que vive uma efervescência cultural. São
para tocarem do meio dia até às cinco da tarde quando não tem
muitos os eventos que acontecem no decorrer do ano e todos
ninguém lá pra assistir.”
atraem um grande número de visitantes. Existem as festas
religiosas, os festejos juninos e com a instalação de uma
EDSON GOMES E SEU NOVO DISCO
universidade a cidade passou a receber feiras de livros, festivais
de música e cinema. Todos esses eventos contam com
programações musicais, internas ou paralelas com atrações que
vão do rock ao arrocha. Mas, não se ver artistas do reggae.
Embalado por os projetos que ele conduz lá em São Félix e pela
gravação dos discos dos filhos, Edson Gomes, prepara agora o seu
oitavo CD de carreira que será lançado de forma independente.
Apesar de não ter gravado nenhum disco com canções inéditas
Jeremias Gomes que sempre morou em São Félix e acompanha os
desde 2001, várias músicas novas estão disponíveis na internet
eventos que acontecem nas duas cidades, tem certeza que essa
em vídeos de shows realizados pelo artista no decorrer destes
ausência do reggae nas programações é puro preconceito, não
especificamente contra o reggae, mas com os artistas locais, o que
anos. Algumas destas músicas estão sendo editadas pela Cão de
Raça Produções Artísticas e comporão o repertorio do novo disco.
para ele só revela a miopia dos que estão na organização desses
eventos. Afinal quem vem de fora quer conhecer a cultura do
lugar, mas os organizadores, também só se preocupam em
trazerem artistas de fora: “A cidade de Cachoeira não valoriza os
artistas locais. Veja, por exemplo, as festas juninas que trazem
tanta gente pra cá. Na programação tem arrocha, sertanejo,
No início de 2013, quando já estava na fase de ensaios para o novo
trabalho, Edson teve problemas com a banda que precisou ser
reformulada depois da saída de alguns músicos. Isso atrasou o
andamento do projeto, mas a expectativa do artista é que o CD
seja lançado até o final do ano.
pagode, axé e, claro, o forró. Mas, cadê o reggae? Nem aparece. E o
Para manter contato com o público, Edson mantém uma página na
samba de roda, declarado pela Unesco Patrimônio Imaterial da
internet e um perfil no Facebook, mas o nível de informações
Humanidade, quando aparece é durante o dia. O reggae nem faz
disponibilizadas é muito baixo. Falta uma maior divulgação da sua
parte da programação e o samba de roda não se apresenta no
agenda de shows e dos projetos até mesmo para desfazer a ideia
horário nobre. A prefeitura coloca mais de dez grupos de samba
geral de que ele está recluso e que sua carreira está parada. Os
canais do You Tube, talvez sejam a principal fonte de divulgação
Edna Matos
116
Cão de Raça
117
do que Edson anda fazendo e como está a sua carreira nele seus
O cantor, Saulo Fernandes retribui o carinho e fala de sua
fãs disponibilizam shows completos, vídeos de entrevistas e
admiração por Edson Gomes que para ele presta um grande
matérias sobre o artista.
serviço por conta de suas canções e de tudo que já escreveu que é
muito significativo culturalmente pra Bahia. Ele conta como
“EDSON É ASSIM MESMO”
recebeu essa novidade: “Alcione Rocha que toca trompete com a
gente e já foi da banda de Edson chegou um dia e disse: ‘Bicho,
Um cara controverso que de repente e mais uma vez se
contradizendo decide fazer uma música para um legítimo
representante da axé music que ele considera um estilo musical
que não contribui para a formação dos mais jovens. Depois de
cantar como convidado de Saulo Fernandes no Festival de Verão
2012, Edson apareceu com uma música feita exclusivamente para
este cantor. Ele mesmo explica porque Saulo foi o escolhido “Eu
pensei: ‘vou fazer um reggae leve, que seja a cara dele.’ Aí eu fiz a
música e procurei um colega que trabalha com ele e é daqui de
Muritiba41. O camarada me pôs em contato e eu fui lá no escritório
de Saulo. Ele gostou da música e gravou. Eu gosto de Saulo por que
ele já mostrou publicamente que admira o meu trabalho. No
carnaval ele canta minha música. Já me homenageou vestindo uma
camisa com a estampa do meu rosto. E, sempre me cita nas
reportagens dele. Além disso, Jeremias que é fã vive falando dele
aqui em casa. Eu acho que ele é um dos poucos artistas bons do
axé”.
Edson Gomes quer falar com você. Eu não acreditei - Como assim
deus quer falar comigo? Eu fiquei nervoso já a partir daí. A gente
conseguiu um contato breve com Jeremias Gomes então consegui
falar com Edson e veio a segunda revelação: ‘eu fiz uma música
pra você.’ Imaginem eu falando com Edson Gomes e ele me
dizendo que fez uma música pra mim, né? Que coisa doida. Enfim
ele escreveu ‘Ginga do Reggae’ que segundo ele: ‘fiz aqui uma
musica doce pra você, uma música alegre não tem aquelas coisas
de protesto, não. É tudo na coisa da sua energia e tudo mais’ e aí
nos encontramos e eu fiquei ali do lado dele vendo ele tocar essa
música no violão e eu ali sem acreditar no que estava
acontecendo. Depois, pra minha surpresa ele foi assistir a
gravação do meu DVD, na concha acústica. Então eu posso dizer
para meus filhos que eu vivi esta experiência que eu tive acesso a
essa resistência. Porque Edson é assim mesmo. E a música dele é
forte o suficiente para que a atitude dele seja forte também. Ele
continua produzindo, compondo e fazendo suas coisas. O artista
que cria estabelece o espaço dele. Edson não tem que estabelecer
41
Município da Bahia próximo a São Félix
Edna Matos
119
118
mais nada ele já falou muita coisa contundente e verdadeira e vai
ficar registrado na nossa cultura para sempre”.
PALAVRA DE FÃ
Bonfim Rasta, ambulante da cidade de Santo Antonio de Jesus,
Bahia, trabalha colocando barraca de reggae nas festas e
micaretas pelo interior do estado. Bonfim é “regueiro de fé” e dá o
seu recado para quem acha que não existe espaço para a música
reggae: “O reggae continua vivo. As pessoas pensam que ele
morreu porque não está na mídia. Mas, o reggae não precisa de
mídia. Precisa de consideração, respeito e moral. A música reggae
é uma música que se identifica na paz, na igualdade, na liberdade,
no amor e na justiça”.
E como seguidor de Edson Gomes são dele as palavras que
sintetiza o que esse artista representa para seus fãs: “Edson
Gomes, aonde quer que ele vá pode até ter alguém que vai criticálo, mas vai ter muito mais alguém que o apoia. Por isso, Edson
dentro do reggae é um fortalecimento, porque é um cara firme no
que faz. É um cara que não se entrega, que vai à luta. Edson Gomes
é uma pessoa dentro da cultura do reggae que não mudou. Ele
segurou a bandeira. E a bandeira é reggae! Ele agora aprendeu
que a gente nasce menino, se torna adulto, mas sempre está
nascendo de novo”.
Referências
“As bibliotecas públicas andam cheias
De coisas que nunca irei usar
Os seus livros andam cheios de estórias
São contos que nunca irei contar
Porque, brother, eu não quero
Porque, brother, não, eu não quero
Quero saber por que o povo vive assim
Eu quero saber por que a lei é tanto oprimida
Preciso saber por que na mesa falta a comida
E quero saber se a gente vai ser feliz na vida
De que vale tanto saber, de que vale o homem
ter tanto saber?”
(“Bibliotecas Públicas”, Edson Gomes)
Edna Matos
120
BIBLIOGRÁFICA
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Cão de Raça
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Edna Matos
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13. Tim Tim Gomes. Entrevista concedida em São Félix-BA,
23/jul/2013.
14. Edson Gomes. Entrevista concedida em São Félix-BA,
24/jul/2013.
Discursos
“Vai vai mudar , tudo isso vai mudar
A gente vai se transformar
Sempre quando venho a rua me assalta uma ideia
Que vou encontrar uma dessas feras
Bem disposta a me golpear
Uma leve sensação que sempre me ocorre
Eu sinto sempre um par de olhos
O tempo todo a me vigiar
Eles tão a maquinar, estão armando armadilhas
Estão querendo me conquistar
Estão querendo me conquistar
Sempre penso que sou
Sim, que sou um intruso.
E que não faço parte desse mundo
Eu não faço parte desse mundo
É uma leve sensação que sempre me ocorre
E sinto sempre um par de olhos
O tempo todo a me vigiar”.
(“Leve Sensação”, Edson Gomes)
Edna Matos
126
DISCURSO 01
“Somos nós todos os dias das nossas vidas discriminados onde
quer que seja, em nosso trabalho, nas escolas, nos hospitais. Em
todos os lugares nós somos discriminados no shopping, no banco,
todos os lugares. Até que o homem negro prove que é um cidadão
honesto ele é um marginal. Todos os dias ele tem que provar que é
um cidadão honesto que cumpre com suas obrigações e que
trabalha e que luta para sobreviver. Cada dia mais o governo
aperta e dificulta a sobrevivência do homem pobre na face da
terra e eu tenho emprestado a minha voz em favor dessa causa e
tenho pago muito caro por isso. Porque o meu discurso não é
demagógico, o meu discurso é sincero e eu tenho rejeitado
propostas indecentes para transformar a minha música em
música popular como as outras músicas são. Mas a minha musica
é verdadeira e não está a venda. A minha musica representa o meu
ser. A minha vida, a minha alma, o meu coração não estão a venda.
Ela é para levar a mensagem aos pobres e aos oprimidos da terra.
A minha música tem essa incumbência e Deus me dar de volta, me
dar o retorno. Tudo que eu preciso vem de Deus. Deus pode me
dar tudo que eu preciso. O homem quer me corromper, mas eu
não aceito as corrupções. Eu não aceito a oferta dos homens. Eu
passo por dificuldades, muitas dificuldades. É por eu ter que
conquistar todos os dias da minha vida que eu não estou no topo
de minha carreira, nunca brilhei como artista nacional, porém eu
Cão de Raça
127
deito minha cabeça no meu travesseiro tranquilo, porque eu
nunca aceitei corrupção, nunca aceitei suborno. Jah! É que me
garante ser assim Oh, Jah! O sistema, não adianta eu querer fazer
da minha música uma gracinha porque os poderosos já me
conhecem. Porque a minha música me delata. Eu sou aquilo o que
é o meu coração, eu falo tudo de que está cheio o meu coração, o
que eu falo é o que está no meu coração. Então as pessoas me
conhecem, principalmente, o sistema que está sempre alerta a
procura de rebeldes, mas eu não sou rebelde. Simplesmente, eu
sou um homem que quer brigar lutar pelo que é justo, pelo que é
certo. Não sou rebelde porque eu não incito o povo a ir de
encontro ao sistema, de ir de em encontro aos poderosos. Porque
meu Deus não me ensina a ser rebelde. O rebelde não acredita em
Deus e não se curva diante de Deus. Quando o homem se curva
diante de Deus, ele deixa logo de ser rebelde porque ele teme o
Deus todo poderoso. Ele se curva diante de Deus e por isso mesmo
é que ele luta pela causa justa. Porque a causa justa é a causa de
Deus. Porque Deus é a verdade, da verdade, da verdade, Jah! Ou
seja, aquele que já veio e saiu vitorioso. Ele saiu vitorioso porque
ele venceu a morte ele ressuscitou e tu ressuscitará no último dia
porque ele se transformou na ressurreição, o caminho, a verdade
e a vida Jesus cristo, Jah! Estabeleceu um caminho na terra dentro
das trevas para que todo homem que se curvar diante dele não
pereça, mas que tenha a vida eterna em Jesus Cristo. O pão que
desce dos céus, o segundo Adão que recupera o homem e recupera
Edna Matos
129
128
a situação do homem e a vida eterna perdida no primeiro Adão da
terra, Jah!”(Discurso proferido ao som da música “Barrados” em
Discografia
um show na cidade de Itabuna, Bahia em 2004.)
xxx
DISCURSO 02
“Aí moçada a hora é essa nós estamos nos distraindo, mas não
aqui e agora. Porque eu não vim para distrair ninguém. Eu vim
para alegrar vossos corações, mas também para deixar vocês
atentos. Para deixar vocês também com a oportunidade de se
encherem com o conhecimento da palavra de Deus para que vocês
também possam ter a oportunidade de saber o que é que Deus
quer de nós e o que é necessário para que todos nós possamos
entrar de uma vez por todas no caminho do Senhor criador de
todas as coisas. Há uma promessa! E, ele está nos falando desde o
tempo dos profetas e desde o tempo dos apóstolos que ele vem
para a justiça. Lamentos e mais lamentos da sociedade em todos
os lugares, dores e mais dores, sofrimentos e mais sofrimentos,
mas ele vem para nos livrar de uma vez por todas daquele que nos
oprime, Jah! O Deus de Abraão misericordioso criador de todas as
coisas, ele vem! E num piscar de olhos todos nós seremos
transformados todos nós compareceremos no tribunal do criador.
Ele vem!” (Discurso proferido ao som da música “Agora é o Fim”
em um show na cidade de Firmino Alves, Bahia em 2008.)
“Estou aqui
Estou bem distante do teu convívio
Eu estou aqui
Estou bem distante, mas estou sabendo
Que o que se passa contigo
É o mesmo que se passa comigo
Eu ando aqui pela Babi
Eles me chama de brasileiro
Porém eu me sinto um estrangeiro
Trabalho, trabalho e nada é nada não
Eu vivo aqui num submundo
Buracos, favelas, guetos imundos
Eles me chamam de brasileiro
Porém eu me sinto um estrangeiro”.
(“Estrangeiro”, Edson Gomes)
Edna Matos
130
Compacto duplo gravado no Festival
Canta Bahia, em Feira de Santana –
1985
Cão de Raça
131
LP Reggae Resistência – 1988
Lado A
Lado B
1 – Sistema do Vampiro (Edson Gomes)
2 – Malandrinha (Edson Gomes)
3 – Rastafary (Edson Gomes)
4 – Viu (Edson Gomes)
5 – Cão de Raça (Edson Gomes)
1 – Rastafári (Edson Gomes)
2 – Canto de arribação (Tony Mogno)
Lado B
Lado A
1 – Gueto (Nengo Vieira / Carlito Profeta)
2 – Saudar o sol (Muzaê)
20 anos separam esses dois trabalhos: o primeiro disco em
compacto duplo de vinil e o último lançamento em DVD
DVD Ao Vivo em Salvador – 2005
1 – Dívidas (Edson Gomes)
2 – Perdido de Amor (Edson Gomes)
3 – Árvore (Edson Gomes)
4 – Criminalidade (Edson Gomes)
5 – Campo de Batalha (Edson Gomes)
6 – Barrados (Edson Gomes)
7 – Fala Só de Amor (Edson Gomes)
8 – Lili (Edson Gomes)
9 – Traumas (Edson Gomes)
10 – Ana Maria (Edson Gomes)
11 – Viu (Edson Gomes)
12 – Tabuleiro (Edson Gomes)
13 – Samarina (Edson Gomes)
14 – Bibliotecas Públicas (Edson Gomes)
15 – Babylon Vampire (Edson Gomes)
16 – Camelô (Edson Gomes)
17 – Lei do Engano (Edson Gomes)
18 – Isaac (Edson Gomes)
19 – Malandrinha (Edson Gomes)
6 – Na Sombra da Noite (Edson Gomes)
7 – Samarina (Edson Gomes)
8 – Hereditário (Edson Gomes)
9 – História do Brasil (Edson Gomes)
10 – Leve Sensação (I Shot The Sherif)
(Bob Marley – versão: Edson Gomes)
Arranjos – Edson Gomes e Banda Cão de Raça
Bateria – Jair Soares
Baixo – Nengo Vieira
Guitarra Base – Alberto
Guitarra Cobertura – Ruy Brito e Nengo Vieira
Teclados – David
Percussão – Geraldo
Vocal – América Branco, Tim Tim Gomes e Virgínia Vieira
Arranjo Vocal – Edson Gomes
Direção de Produção – Wesley Rangel
Assistente de Produção – Nengo Vieira
Gravado nos estúdios WR – 24 Canais – Salvador/BA
Direção artística – Jorge Davidson
Produção Fonográfica – EMI - ODEON
Edna Matos
132
Cão de Raça
133
LP Recôncavo – 1990
LP Campo de Batalha – 1992
Lado A
Lado A
1 – Adultério (Edson Gomes)
2 – Lili (Edson Gomes)
3 – Louvar a Jah (Edson Gomes)
4 – Recôncavo (Edson Gomes)
5 – Fala Só de Amor (Edson
Gomes/Nengo Vieira)
1 – Criminalidade (Edson Gomes)
2 – Árvore (Edson Gomes)
3 – Campo de Batalha (Edson Gomes)
4 – Somos Nós (Edson Gomes)
5 – Ovelha (Edson Gomes)
Lado B
Lado B
6 – Estrangeiro (Edson Gomes)
7 – Guerreiro do 3º Mundo (Edson
Gomes)
8 – Filho da Terra (Edson Gomes)
9 – Guerra (Edson Gomes)
10 – Capturados (Edson Gomes)
Arranjos – Edson Gomes e Banda Cão de Raça
Bateria – João Teoria
Baixo – Nengo Vieira e Marco Oliveira
Guitarra – Webster e Nengo Vieira
Teclados – Ruy Braga
Percussão – Marco Swing e Luís Maduro
Trumpete – Alcione Rocha
Vocal – América Branco e Adriana Novaes
Arranjo Vocal – Edson Gomes
Direção de Produção – Wesley Rangel
Assistente de Produção – Nengo Vieira
Gravado nos estúdios WR – 24 Canais – Salvador/BA
Direção artística – Jorge Davidson
Produção Fonográfica – EMI – ODEON
Convidados: Luciano Silva (Sax), Fred Dantas (Trombone), Klaus
Jacke (Sax), Guiga Scott (Trumpete), Sueli Sodré e Tita Alves (Vocal)
1 – Dance Reggae (Edson Gomes)
2 – Traumas (Edson Gomes)
3 – Perigo (Edson Gomes)
4 – Reviravolta (Edson Gomes)
5 – Revelação (Edson Gomes)
Arranjos – Edson Gomes e Banda Cão de Raça
Bateria – Ed Carlos
Baixo – Lazzo Negrume
Guitarra – Tony Vinícius
Teclados – Ruy Braga
Percussão – Marco Swing e Luís Maduro
Saxofone – Jorge Thó
Trombone – Dhega
Vocal – Iracema e Jandira
Arranjo Vocal – Edson Gomes
Direção de Produção – Perinho Santana
Gravado nos estúdios WR – 24 Canais – Salvador/BA
Direção artística – Jorge Davidson
Produção Fonográfica – EMI - ODEON
Edna Matos
134
Cão de Raça
135
LP Resgate Fatal – 1995
Lado A
1 – Meus Direitos (Edson Gomes)
2 – Resgate Fatal (Edson Gomes)
3 – Luz do Senhor (Edson Gomes)
4 – Bela Cidade (Edson Gomes)
5 – Olinda (Edson Gomes, Cunha, Toni,
Nivaldo, Zé Paulo, Evando Gomes)
6 – Isaac (Edson Gomes)
7 – Calamidade Pública (Edson Gomes)
Lado B
1 – Zumbi dos Palmares (Edson Gomes)
2 – Devolução (Edson Gomes)
3 – Fato Consumado (Edson Gomes)
4 – Sociedade Falida (Edson Gomes)
5 – Meretriz (Edson Gomes)
6 – Lembranças (Edson Gomes)
Arranjos – Edson Gomes e Banda Cão de Raça
Bateria – Júlio do Rosário e Quinho
Baixo – Lazzo Negrume
Guitarra Base – Zé Paulo
Guitarra Solo – Toni
Teclados – Sara Cronin e Robson Nonato
Percussão – Bastola e Quinho
Trombone – Joatan Nascimento
Sax – Nivaldo Cerqueira e André Becker
Vocal – Virgínia, Ângela, Dalmo e C. Marques
Direção musical – Nivaldo Cerqueira
Direção de Produção – Wesley Rangel e Edson Gomes
Gravado nos estúdios WR – 24 Canais – Salvador/BA
Direção artística – João Augusto
Produção Fonográfica – EMI - ODEON
CD Apocalipse – 1997
1 – Perdido de Amor (Edson Gomes)
2 – O País é o Culpado (Edson Gomes)
3 – Camelô (Edson Gomes)
4 – Amor Sem Compromisso (Edson
Gomes)
5 – Babylo Vampire (Edson Gomes)
6 – Apocalipse (Edson Gomes)
7 – Me Abrace (Edson Gomes)
8 – Fogo na Babilônia (Edson Gomes)
9 – Alma (Edson Gomes)
10 – Etiópia (Edson Gomes)
11 – Tarde (Edson Gomes)
12 – Querida (Edson Gomes)
13 – Ira (Edson Gomes)
Arranjos – Edson Gomes e Banda Cão de Raça
Contrabaixo – Osvaldo Filho
Baixo – Nengo Vieira
Guitarra Solo – Tony Oliveira
Guitarra Base – Zé Paulo
Sax Tenor – Nivaldo Cerqueira
Teclados – Scooby
Sax Alto – Cunha
Percussão – Luís Maduro
Trompete – Sinho Cerqueira
Vocal – Nelma Marques e Márcia Dias
Arranjo Vocal – Edson Gomes
Direção de Produção – Wesley Rangel e Edson Gomes
Gravado nos estúdios WR – 24 Canais – Salvador/BA
Direção musical: Nivaldo Cerqueira e Edson Gomes
Direção artística – João Augusto
Produção Fonográfica – EMI MUSIC
Edna Matos
137
136
CD Acorde, Levante, Lute – 2001
1 – Acorde, Levante, Lute (Edson Gomes)
2 – Sangue Azul (Edson Gomes)
3 – Linda (Edson Gomes)
4 – Serpente (Edson Gomes)
5 – Sandra (Edson Gomes)
6 – Malandrinha (Edson Gomes)
7 – Inquilino das Prisões (Edson Gomes)
8 – Homens Lixo (Edson Gomes)
9 – Arca da Fuga (Edson Gomes)
10 – Vibração Positiva (Edson Gomes)
11 – Inversão (Edson Gomes)
12 – 500 Anos (Edson Gomes)
13 – Tema da Karoba (Instrumental)
(Nivaldo Cerqueira/Tony)
Arranjos – Edson Gomes e Banda Cão de Raça
Bateria – Risadinha e Sérgio
Baixo – Osvaldo Filho
Guitarra Base & Solo – Tony Oliveira e Antonio Augusto
Órgão e Piano – Scooby e Henrique
Teclados – Scooby
Percussão – Luís Maduro
Sax – Cunha
Tenor – Inval
Trompete – Gentil
Vocal – Nelma Marques e Suzete
Arranjo Vocal – Edson Gomes, Nelma e Suzete
Direção de Produção – Edson Gomes
Gravado nos estúdios WR DISCOS 24 Canais – Salvador/BA
Direção artística – Ana Maria T. Mendez
Produção Fonográfica – ATRAÇÃO
Produzido por CÃO DE RAÇA PRODUÇÕES ARTÍSTICAS
Galeria
“Às vezes eu fico pensando
E meu pensamento
Me leva para um tempo distante
Me leva até a minha infância...
Quando eu brincava na margem do rio
E via repleto de embarcações,
Era lindo, muito bonito
Uma paisagem que embelezava
Esse gigante, rio, e eu via
Todo mundo trabalhando,
Todo mundo suando.
Trabalho humilde,
Mas era trabalho
Hoje eu estou bem crescido
Volto à margem, não vejo nada
Só uma paisagem apagada
Até mesmo o vapor que navegava
Em suas águas não navega mais
E eu não vejo mais”.
(“Lembranças”, Edson Gomes)
Com os filhos
Momentos dos anos 1990
Programa Se Liga Bocão de 29 de julho de 2011 – TV Record
Edson Gomes e o cantor Saulo Fernandes para quem o reggaeman compôs uma
música especialmente pra ele. Juntos no Festival de Verão de 2012.
O futebol desde o início foi uma das paixões de Edson Gomes. Acima o time Cão de
Raça, formação de 1990.
Cristóvão Rodrigues, radialista
Bonfim Rasta, regueiro de fé, fã e seguidor de
Edson Gomes
Wesley Rangel, produtor musical
Ray Company, radialista
Raimundo, professor de história, DJ e
colecionador do Reggae
Camisa do bloco Gomes & Family 2012
Participação em grandes eventos: Reggae Roots (Olinda-PE) – República do Reggae
(Salvador-BA)– Bob Marley Day (Salvador-BA)
Camisa do bloco Gomes & Family 2013
Projeto Gomes & Family promove um “arrastão do reggae na cidade de São Félix,
Bahia desde 2009 sempre no dia 24 de junho, dia em que se comemora o São
João. Este evento a cada ano recebe um número maior de visitantes da região, de
outros estados e também de outros países.
Projeto Sexta do Reggae – Acontece sempre nas noites de sexta-feira, em um
palco armado no bar de Grande na Rodoviária de São Félix. Além da família
Gomes se apresentam bandas de reggae da região do Recôncavo Baiano e alguns
convidados mais conhecidos como o cantor Sine Calmon. Atualmente, não tem
uma periodicidade definida
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