PSICOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO

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PSICOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO
PROFESSORA SANDRA BRANDÃO DE LIMA
TEXTO: INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA
1.0. Definição e evolução da Psicologia como ciência
A palavra Psicologia tem suas origens em duas palavras gregas: psyche, que significa alma, e
logos que significa razão
A Psicologia, nos seus primórdios, era considerada uma área de estudo da Filosofia
denominada Filosofia Mental. A mente era um dos tópicos estudados por esta área. Entretanto,
no decorrer dos tempos os filósofos passaram a traduzir o termo psyche por mente e a
psicologia passou a ser ciência da mente. O estudo da mente encontrou grandes dificuldades.
Não se conseguiu chegar a uma conceituação aceita por todos. A sua própria natureza é
controvertida. A sua investigação mobiliza as camadas mais profundas do inconsciente, sendo,
portanto, ameaçadora para o próprio investigador. Por esta razão, o estudo da mente deu
origem a superstições e preconceitos, alguns deles ainda presentes. O psicólogo é
considerado um adivinho, com poderes especiais para identificar problemas, sentimentos,
reações psicológicas e emoções dos demais seres humanos, assim como para interferir em
suas mentes. A Psicologia confunde-se com as chamadas "ciências ocultas".
A Psicologia, entretanto, somente conseguiu integrar-se às Ciências Sociais à medida que o
seu objeto foi definido como o comportamento observável dos seres vivos (humano e animal).
Porém, as diversas teorias psicológicas têm entendido esse objeto de formas diferentes por
terem estas teorias partido de compreensões de pensamentos diferentes acerca do que é o ser
humano.
Um conhecimento para ser considerado científico, requer um objeto específico de estudo.
1.1.
Objeto de Estudo da Psicologia.
– O objeto de estudo da Astronomia são os astros, o objeto da Biologia são os seres
vivos.
– O objeto de estudo da Psicologia assim como de todas as ciências humanas
(Antropologia/Economia, Sociologia etc.) é o ser humano.
Qual o objeto específico de estudo da Psicologia? Depende das diversas teorias psicológicas
- Teoria Behaviorista – Objeto de estudo  o comportamento humano.
- Teoria Psicanalítica – objeto de estudo  o inconsciente.
- Outras teorias – Objeto de estudo  a consciência humana/personalidade.
1.2.
Motivos da Diversidade de Objetos da Psicologia.
– Este campo do conhecimento ter-se constituído como área de conhecimento
científico só recentemente – final do século XIX.
– O fato de o cientista confundir-se com o objeto a ser pesquisado – ser humano.
Assim a concepção do ser humano que o cientista traz consigo “contamina” a sua
pesquisa em Psicologia.
Isto ocorre porque há diferentes concepções do ser humano entre os cientistas:.
– Concepção do ser humano natural – o ser humano era pura e foi corrompido pela
sociedade.
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– Concepção do ser humano abstrato – o ser humano apresenta características
definidas e que não mudam (inato).
– Concepção de ser humano datado – o ser humano é determinada pelas condições
históricas e sociais que o cercam.
Este é um “problema” enfrentado por todas as ciências humanas, muito discutidas pelos
cientistas de cada área e até agora sem solução. Conforme a definição de ser humano
adotada, teremos uma concepção de objeto com ela.
1.3. A subjetividade Como Objeto da Psicologia.
A identidade da Psicologia é o que diferencia dos demais ramos das ciências humanas, e pode
ser obtida considerando-se que cada um desses ramos (Economia, Antropologia, Sociologia)
enfoca o ser humano de modo particular.
A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade – esta é a sua contribuição para a
compreensão da totalidade da vida humana.
Nossa matéria prima: é o ser humano em todas as suas expressões:
As visíveis (nosso comportamento).
As invisíveis (nossos sentimentos).
As singulares (porque somos o que somos)
E as genéricas (porque somos todos assim).
É o ser humano – corpo, ser humano – pensamento, ser humano – afeto, ser humano – ação
e tudo isto está sintetizado no termo subjetividade.
Subjetividade.
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É a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos
desenvolvendo e vivenciando as experiências de vida social e cultural.
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Esta síntese – a subjetividade – é o mundo das idéias, significados e emoções construído
internamente pelo indivíduo a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua
constituição biológica e também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.

A construção desse mundo interno é possibilitada pelas experiências vividas por nós no mundo
social e cultural.

A subjetividade – é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. É o
que constitui o nosso modo de ser: sou filha de japoneses e militante de um grupo feminista, detesto
matemática, adoro samba e brega, pratico ioga, tenho vontade, mas não consigo ter um namorado.
Minha melhor amiga é filha de descendente judeus, primeira aluna da classe em matemática
trabalha e estuda, é Paissandu fanática, adora comer sushi e navegar pela internet. Ou seja, cada
qual é o que é: sua singularidade.
Vale ressaltar que subjetividade não é inata, é construída ao longo de desenvolvimento do indivíduo
que, vai apropriando-se do material do mundo social e cultural, e faz isto ao mesmo tempo em que
atua sobre este mundo, ou seja o ser humano é ativo na sua construção criando e transformado o
mundo (externo) , o ser humano constrói e transforma a si próprio.
Até o momento, abordamos a Psicologia como ciência. Uma ciência que fala do ser humano a partir
de seu mundo interno, sua subjetividade que é fonte de manifestações do indivíduo sua ações, seus
sonhos, seus desejos, sua emoções, sua consciência e seu inconsciente.
Agora vamos abordar a Psicologia como profissão, isto é, a Psicologia enquanto pratica,
enquanto aplicação do conhecimento produzido pela ciência psicológica.
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2.0.
A Psicologia Como Profissão.
Lei 4.119 de 1962 – regulamenta o exercício da profissão do psicólogo  uso privativo dos
psicólogos – de métodos e técnicas da psicologia para fins de diagnóstico psicológico, orientação e
seleção profissional, orientação psicopedagógica e solução de problemas de ajustamento.
2.1. O psicólogo não advinha nada.
 O psicólogo não tem bola de cristal nem é bruxo da sociedade contemporânea.
 Ele dispõe de um conjunto de técnicas e de conhecimentos que lhe possibilita compreender o
que o outro diz, compreender as expressões e gestos que o outro faz, integrando tudo isso
em um quadro de análise que busca descobrir as razões dos atos, pensamentos, desejos,
emoções.
 Ele possui instrumentos teóricos para desvendar o que está implícito, encoberto, não
aparente e nesse sentido, a pessoa, grupo ou instituições tem papel fundamental, pois o
psicólogo não pode ver na bola de cristal ou nas cartas.
 Para poder trabalhar ele precisa que as pessoas falem de si, contem suas histórias
dialoguem, exponham suas reflexões. O psicólogo pode junto com o paciente, desvendar
razões e compreender dificuldades caracterizando-se assim sua intervenção.
A psicologia ajuda as pessoas a se conhecerem melhor.
Como ciência humana, permitiu-nos ter um conhecimento abrangente sobre o ser humano.
Conhecimento estes sobre suas emoções, seus sentimentos seus comportamentos; sabemos mais
sobre seu desenvolvimento e sua formas de aprender, conhecemos suas inquietações, vivências,
angústias e alegrias.
Apesar do grande desenvolvimento sobre o psiquismo humano, ainda há muito que pesquisar.
O psicólogo é um profissional que desenvolve uma intervenção no processo psicológico do ser
humano com a finalidade de torná-lo saudável isto é, capaz de enfrentar as dificuldades do
cotidiano.
A Psicologia, em seu desenvolvimento histórico como ciência criou teorias explicativas da realidade
psicológicas (por exemplo, a Psicanálise),ou descritiva do comportamento (por exemplo, o
Behaviorismo), bem como métodos e técnicas próprias de investigação da vida psicológica e do
comportamento humano.
Hoje a Psicologia possui muitos instrumentos próprios para obter dados sobre a vida psíquica –
testes psicológicos (testes inteligentes, de atenção, de personalidade e de interesse etc.); as
técnicas de entrevistas (individuais, grupais) as técnicas de observação e registro de dados do
comportamento humano.
Com a coleta e análise dos dados o psicólogo planejará sua intervenção que pode ser uma terapia,
um treinamento, um trabalho de orientação de grupo ou qualquer outro tipo de intervenção individual
grupal ou institucional no sentido de promoção de saúde.
2.2. A finalidade do trabalho do psicólogo.
– O psicólogo aplica conhecimentos e técnicas da psicologia para promoção da
saúde.
– Segundo a Organização Mundial da Saúde – Saúde - “É o bem-estar físico, mental
e social”.
– Ampliando a concepção de saúde – a mesma refere-se a um conjunto de condições
criadas coletivamente que permite a continuidade da própria sociedade. Estamos
falando das condições (de alimentação, de educação, de lazer, de participação na
vida social etc.) que permitem a conjunto social produzir e reproduzir-se de modo
saudável.
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Assim o psicólogo tem seu trabalho relacionado às condições gerais de vida de uma sociedade,
embora atue enfocando a subjetividade dos indivíduos. Pensar na saúde do indivíduo significa
pensar nas condições objetivas e subjetivas de vida de modo indissociado.
Em resumo, a prática do psicólogo como profissional de saúde irá caracterizar-se pela aplicação dos
conhecimentos psicológicos no sentido de intervenção específica junto a indivíduos, grupos e
instituições com o objetivo de auto-conhecimento, desenvolvimento pessoal e grupal e institucional,
numa postura de promoção da saúde.
2.3.. Áreas de atuação do psicólogo.
O psicólogo atua por mais diversos locais para promoção de saúde: consultórios, clínicas
psicológicas, hospitais, ambulatórios e centro de saúde, escolas creches, orfanatos, empresas e
sindicatos, presídios, instituições de reabilitação de deficientes físicos e mentais, times de futebol
,magistérios etc..
Nestas áreas o psicólogo precisará de conhecimento da psicologia para fazer um diagnóstico,
intervir e avaliar. As técnicas usadas são testes psicológicos, entrevistas, observação do
comportamento e terapias.
Psicologia na empresa ou indústria,  o stress, conseqüência psíquica do trabalho, a saúde do
trabalhador, as técnicas de seleção, treinamento, avaliação de desempenho, etc.
As relações de trabalho e o processo produtivo vão ser colocados como realidade principal do
psicólogo. A promoção de saúde naquele espaço de trabalho é seu objetivo maior.
3.0. A Psicologia como ciência e o controle do comportamento humano.
Ao se desenvolver como ciência, a Psicologia trouxe, ao lado de conhecimentos de grande
importância para a compreensão do comportamento humano, problemas éticos e de valores.
Kelman já em 1968 mostrava que as pesquisas e os estudos científicos desenvolvidos nas
diferentes áreas da Psicologia levavam a um conhecimento cada vez mais objetivo e sistemático, o
que, em conseqüência, possibilitava o controle e a manipulação do comportamento humano. Esses
problemas deveriam, segundo ele, preocupar não só os psicólogos, como também aqueles que
fazem uso dos conhecimentos de natureza psicológica no exercício de diferentes funções,
especialmente dentro das organizações. Pesquisadores como Max Pagés (1990), Dejours (1994)
Chanlat (1990), Akatouf (1993), Aguiar (1998), denunciaram a crescente e inescrupulosa utilização
de conhecimentos científicos das diferentes áreas das ciências humanas como instrumentos
poderosos de controle dos seres humanos especialmente pelas organizações.
A atitude do cientista do comportamento, diante dos problemas éticos que lhe são colocados, quer
na sua atividade de pesquisa, quer na atividade de agente de intervenção, vai depender de seus
valores, de suas crenças na natureza humana e nos direitos humanos.
Ruch e Zimbardo, ao discutirem a compreensão das relações causais entre os fatos psicológicos, a
identificação dos processos psicológicos envolvidos em determinado comportamento e a
identificação da maneira como esses processos se desenvolvem, mostraram desde 1971 que esses
fatores abriam caminho para duas importantes possibilidades.

Em primeiro lugar, a possibilidade de identificar situações necessárias para a ocorrência de
diferentes fatos e, por tanto, de prever esses fatos.

Em segundo lugar, a possibilidade de interferir no próprio comportamento ativando ou mesmo
provocando o processo que levaria a um comportamento desejado.
De fato, à medida que se possam caracterizar comportamentos, explicar seus conteúdos e
descrever as situações e condições nas quais eles tendem a ocorrer, criam-se condições para um
maior controle do comportamento humano.
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Esse controle toma a forma de intervenções na maneira de sentir, de pensar e de agir das pessoas,
e constitui um caminho pelo qual se poderia chegar ao planejamento das ações e dos sentimentos
dos outros seres humanos.
4.0. Psicologia e planejamento do comportamento
Os autores mostram que, a esse respeito, podem ser observadas duas posições antagônicas, tanto
entre os cientistas do comportamento, como entre aqueles que se utilizam dos conhecimentos
científicos da Psicologia.
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A primeira posição baseia-se na crença de que a liberdade e a autodeterminação do ser humano
são inerentes à sua natureza e constituem, portanto, um direito inalienável de cada indivíduo.
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A segunda posição parte do pressuposto de que outros podem e devem decidir sobre o que é
melhor para o indivíduo. Assim, evidencia-se, nesta segunda posição, que não só seria possível,
como também recomendável, planejar comportamentos de terceiros, condicionando seu
desenvolvimento em determinada direção.
Essa posição leva ao uso de estímulos externos, de influências não identificadas conscientemente
pelos indivíduos.
Desta forma, o indivíduo é tomado como mero objeto de influência, manipulado de acordo com
objetivos traçados pelo agente de intervenção e afinal reduzido a um passivo seguidor de um plano
comportamental elaborado e executado sem o seu conhecimento.
5.0. Ideologia e Psicologia
A Psicologia, como acentuam Kelman (1968) e Ruch e Zimbardo (1971), pode ser utilizada como um
instrumento de libertação do ser humano. Pode ser utilizada para ajudá-lo a libertar-se quer das
barreiras internas, quer das externas, que impedem seu crescimento e desenvolvimento. Mas
também pode ser usada como um instrumento para conduzir o indivíduo de acordo com os
interesses de outros, seja da sociedade em sentido mais amplo, seja das organizações, seja de
grupos ideológicos. Aqui, o dilema ético coloca-se em dois níveis.

Primeiro, ao definir como seu objetivo o conhecimento cientifico do comportamento, a Psicologia
poderá, fatalmente, envolver o controle e a manipulação do comportamento humano, colocando um
problema ético para aqueles que acreditam na liberdade e na autodeterminação dos indivíduos
como seres humanos.
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O segundo dilema reside na direção a ser dada ao comportamento – e aqui o problema ético é
ainda mais grave. Em outras palavras: Quem deve manipular e controlar o comportamento humano?
Quais os objetivos dessa manipulação e controle? Quem, e a titulo de que, estará autorizado a
exercer tais funções?
Essas são perguntas que ainda não encontraram respostas definitivas. Mesmo assim, o que resulta
claro de uma reflexão sobre essas questões é que a prevenção das nefastas conseqüências de um
uso equivocado dos instrumentos psicológicos é tarefa não apenas dos agentes, mas também dos
"objetos" desses usos: à medida que os indivíduos se tomarem conscientes das forças que
influenciam seu comportamento, terão condições objetivas de se contraporem a influências e
manipulações, tornando-se mais livres e responsáveis pelas suas próprias ações. O conhecimento
cientifico da Psicologia pode, em síntese, ser usado para libertar ou escravizar, para formar os
indivíduos seres atuantes ou seguidores passivos.
Texto baseado em: Bock, Ana Mercês Bahia; Furtado, Odair; Teixeira, Maria de Lourdes. Psicologia, Uma Introdução ao estudo da .1 Psicologia. 13ª ed. São
Paulo:saraiva, 2002 E em Aguiar Aparecida Ferreira de. Psicologia Aplicada à administração: teoria crítica e a questão ética nas organizações São Paulo, Excellus,
3ª ed. 2002
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