Sinusite crônica decorrente de corpo estranho em seio maxilar

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Arquivo Brasileiro de Odontologia v.11 n.1 2015
Sinusite crônica decorrente de corpo estranho
em seio maxilar
Chronic sinusitis caused by foreign body in the maxillary sinus
Deyvid Silva Rebouças1
Eduardo De Lima Andrade1
Tila Fortuna Costa1
Thiago Farias Soares1
Adriano Freitas Assis1
1
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
[email protected]
RESUMO
A sinusite é a doença mais comum dos seios maxilares e pode ocorrer devido a infecções bacterianas,
traumas na região e presença de corpo estranho na intimidade do seio. O plano terapêutico deve ser
adotado baseado na causa da sinusopatia, sendo a anamnese e os exames de imagem imprescindíveis
para o correto diagnóstico. A proposta do presente trabalho é apresentar um caso de sinusite crônica
sintomática decorrente de um corpo estranho deixado em seio maxilar após exodontia em região
posterior de maxila que foi tratada com diversos tipos de antibióticos por aproximadamente 02 anos,
porém sem resolução do problema. Abordou-se cirurgicamente o seio maxilar para remoção do corpo
estranho e associou-se antibioticoterapia durante o pré e o pós-operatório. Após 30 dias, houve
remissão total dos sintomas e radiograficamente, os seios maxilares apresentavam aspecto de
normalidade.
Descritores: Cirurgia Bucal. Corpos Estranhos. Sinusite Maxilar.
ABSTRACT
Sinusitis is the most common pathology of maxillary sinuses and can occur due to bacterial infections,
traumas in the region and the presence of a foreign body. The treatment plan should be based on the
cause of sinus disease and clinical history; and imaging tests are essential for the correct diagnosis. The
purpose of this paper is to present a case of symptomatic chronic sinusitis caused by the presence of a
surgical bur inside the maxillary sinus after tooth extraction in the posterior maxilla. Sinusitis was
treated with several types of antibiotics for about 02 years, with no success. The maxillary sinus was
approached surgically to remove the surgical bur and antibiotic therapy was done before and after
surgery. After 30 days there was complete remission of symptoms and radiographic maxillary sinuses
showed normal appearance.
Key words: Surgery Oral. Foreign Bodies. Maxillary Sinusitis.
INTRODUÇÃO
O seio maxilar é uma estrutura
óssea, pneumática, bilateral, com paredes
delgadas e revestidas internamente por
uma mucosa pseudoestratificada ciliada.
Comunica-se com os demais seios
paranasais e com a fossa nasal e apresenta
uma relação próxima com os ápices das
raízes dentárias posteriores da maxila. A
delgada parede óssea dos seios maxilares
confere fragilidade a esta estrutura que
pode ser facilmente traumatizada e gerar
uma
comunicação
buco-sinusal,
normalmente associada a um quadro de
sinusite1.
A sinusite é um processo infeccioso
que pode acometer a mucosa dos
diferentes seios paranasais decorrente
diferentes agentes etiológicos, tais como:
contaminação bacteriana ou fúngica,
presença de corpo estranho e fratura dos
ossos faciais2,3. A sinusite do seio maxilar
proveniente da invasão de corpo estranho
em seu interior é relativamente incomum e
geralmente está relacionada a um
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acidente ou a uma iatrogenia durante um
procedimento odontológico1.
Os principais achados clínicos que
sugerem o diagnóstico de sinusite são:
obstrução nasal, espirro com odor fétido,
dor unilateral em terço médio de face e
cefaleia constante3. O correto diagnóstico
pode ser um desafio para os profissionais
da saúde, porém a história da doença pode
auxiliar na elucidação da etiologia da
doença e assim, conduzir o plano
terapêutico².
Os exames imaginológicos, sobretudo
as radiografias de Waters, panorâmica e a
tomografia computadorizada (TC) são
fundamentais para complementar os
dados obtidos do exame clínico, confirmar
o diagnóstico de sinusite e sugerir ou
afastar a hipótese de sinusopatia
decorrente de corpo estranho em seio
maxilar 4-6.
O tratamento da sinusite depende do
diagnóstico e da etiologia da doença. A
antibioticoterapia é fundamental e
geralmente eficaz para os casos de sinusite
bacteriana, porém para os casos de
infecção dos seios maxilares devido à
presença de corpo estranho, faz-se
necessário também a remoção cirúrgica do
corpo estranho7.
O objetivo do presente trabalho é
relatar um caso clínico de sinusite crônica
proveniente de corpo estranho em seio
maxilar que estava sendo tratada há dois
anos de forma ineficaz e foi tratada
satisfatoriamente com a combinação de
antiobioticoterapia e remoção cirúrgica do
instrumento odontológico do seio
paranasal.
RELATO DE CASO
Paciente do gênero feminino, 42 anos,
melanoderma,
compareceu
ao
ambulatório de Cirurgia e Traumatologia
Buco-Maxilo-Facial do Hospital Geral
Roberto Santos, Salvador – Bahia,
queixando-se de cefaleia persistente, con
gestão nasal crônica do lado esquerdo,
odor fétido após espirro, e sensação de
“peso” do lado esquerdo da face há 02
anos. Relatou inúmeras tentativas de
tratamento do processo infeccioso com
diversos antibióticos, porém sem sucesso.
Ao exame físico intrabucal e facial não
foram identificadas fístulas buco-sinusais,
alterações em contornos ósseos, em
rebordos alveolares e em mucosa oral.
A paciente revelou ter sido submetida à
cirurgia para exodontia do primeiro molar
superior esquerdo e afirmou que o inicio
dos sintomas de sinusite coincidiu com o
período pós-operatório de uma extração
dentária.
A radiografia panorâmica solicitada
possuía uma imagem radiopaca sugestiva
de instrumento metálico deslocado para o
interior do seio maxilar esquerdo. A TC
helicoidal foi importante para determinar a
localização tridimensional do corpo
estranho que apresentava densidade
compatível
com
broca
cirúrgica
odontológica localizada em seio maxilar,
assim como para auxiliar no planejamento
cirúrgico. (Figura 1A – 1B)
A paciente foi submetida a uma cirurgia
exploratória, sob anestesia local, para
remoção do corpo estranho em seio
maxilar. Realizou-se acesso Caldwell-Luc
em maxila esquerda, ostectomia com
broca cirúrgica de uma pequena porção da
parede anterior do seio maxilar e
exploração da cavidade. (Figura 2A)
instrumento metálico foi encontrado,
removido e a mucosa sinusal próximo a
broca foi curetada e irrigada com solução
fisiológica. (Figura 2B) mucosa bucal foi
suturada com fio reabsorvível.
Coadjuvante ao tratamento cirúrgico
foi realizado antibioticoterapia com
amoxicilina associado a clavulanato de
potássio por 15 dias precedentes e 15
posteriores a cirurgia. Após trinta dias do
procedimento cirúrgico, a paciente referiu
remissão total dos sintomas e o exame
radiográfico sugeriu seios maxilares com
aspecto de normalidade. (Figura 2C)
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Figura 1: A – Radiografia panorâmica apresentando imagem radiopaca em região de seio maxilar
esquerdo sugestivo de broca cirúrgica. B – Tomografia computadorizada evidenciando uma
imagem hiperdensa compatível com instrumento metálico na região anterior de seio maxilar
esquerdo.
Figura 2: A – Localização e remoção da broca através de um acesso Caldwell-Luc e ostectomia
de uma porção óssea da parede anterior de seio maxilar. B – Broca cirúrgica metálica removida do
seio maxilar. C – Radiografia panorâmica 30 dias após a remoção do antrólito do paciente.
DISCUSSÃO
A presença de corpo estranho nos
seios paranasais raramente resultará em
complicações8. Porém o caso descrito,
sinusite crônica decorrente de uma broca
cirúrgica em seio maxilar, corrobora com
alguns autores da literatura, os quais
afirmam que estes antrólitos podem
desencadear problemas graves e ameaçar
a qualidade de vida dos indivíduos6,9.
A radiografia panorâmica é o
exame de imagem mais utilizado para o
diagnóstico de corpo estranho em seio
maxilar. A radiografia de Waters e a perfil
de face podem auxiliar na localização
anteroposterior do objeto4,5. A Tomografia
computadorizada oferece nitidez, visão
tridimensional e torna-se indispensável
para avaliação e estabelecimento de uma
conduta adequada10,11. Contudo, para
Samaha et al. (2000), a utilização da TC
não é justificada nesses casos, pois não
traria informações adicionais que mudasse
o diagnóstico ou a terapêutica instituída,
onerando o paciente e o serviço público.
De forma contrária a estes autores, as
imagens
tomográficas
do
caso
apresentado sugeriram o posicionamento
da broca no seio maxilar nas três
dimensões e contribuiu na escolha do local
do acesso e da ostectomia da maxila.
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O tratamento para os casos de
deslocamento de objetos para o seio
maxilar é a remoção, se possível, no
mesmo ato cirúrgico, pois a sua
permanência pode causar sinusite
bacteriana resistente a tratamento clínico3.
Embora, alguns autores optem em apenas
acompanhar o paciente enquanto o
mesmo se apresentar assintomático
através
de
controle
clínico
e
radiográfico2,9. No caso apresentado,
decidiu-se abordar cirurgicamente devido
ao quadro sintomático de sinusopatia
infecciosa recorrente. A remoção da broca
cirúrgica foi realizada 02 anos após o início
dos sintomas, pois não foi descoberto a
etiopatogenia da sinusite pela equipe que
acompanhava a paciente anteriormente.
O acesso cirúrgico mais utilizado
para abordar o seio maxilar é o CaldwellLuc, pois possibilita boa visualização do
campo operatório13. Contudo, algumas
complicações tem sido relatadas, tais
como: assimetria facial, lesão nervosa,
desvitalização
dentária,
destruição
considerável da parede óssea anterior e do
epitélio do seio maxilar7,14. Conforme
descrito na literatura, foi utilizado o acesso
Caldwell-Luc para localização e remoção
do corpo estranho devido as vantagens
supracitadas, a facilidade da técnica e a
experiência da equipe. As complicações
relatadas não foram identificadas no caso
acompanhado.
A endoscopia nasal pode ser
utilizada como uma alternativa ao acesso
Caldwell-Luc, possibilita uma melhor
visualização do campo cirúrgico, menor
morbidade e boa aceitação pelo paciente,
porém é uma técnica com custo elevado e
pouco utilizada na Odontologia2,15.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido as possíveis complicações
relacionadas com o deslocamento de
corpos estranhos para o seio maxilar,
torna-se imprescindível que o cirurgiãodentista tenha o cuidado e a destreza
necessária para evitar este acidente, o
conhecimento e o preparo para resolver
esta complicação ou ao menos a
responsabilidade de acompanhar o
paciente até a sua completa resolução.
O plano terapêutico para sinusite
deverá ser adotado levando em
consideração o fator causal da sinusopatia.
A história da doença atual e os exames
imaginológicos são fundamentais para
elucidação da etiopatogenia da sinusite.
Deve-se, sempre que possível, realizar a
remoção de corpos estranhos dos seios
maxilares
para
evitar
futuras
complicações.
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