D. Joaquim Mendes - Homilia, onda de oração

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II SEMANA ADVENTO – Terça-feira
Missa da abertura da Campanha Internacional
- “Uma só
família humana, alimento para todos”
Capela da União Missionária Franciscana – Luz, 10 dezembro 2013
1.A Cáritas Internacional, com as 164 Cáritas de todo o mundo, quer
envolver todos os cristãos e pessoas e boa vontade num grande
movimento de consciencialização, de oração e de ação para acabar
com a fome no mundo, em 2025.
Em plena comunhão e compromisso com esta iniciativa, reunimo-nos,
aqui nesta celebração, para assinalar o seu início, com grande
esperança de que se é possível, se os homens quiserem e se unirem,
dar uma resposta adequada ao problema da fome no mundo.
No mundo há alimentos suficientes para que todos, mas para que
cheguem a todos, é necessário uma conversão, uma mudança no
sistema de produção, comercialização e distribuição, colocando em
primeiro lugar as pessoas e não o lucro.
Não pudemos ficar indiferentes perante o drama da fome que atinge
cada vez mais proporções e atinge os grupos mais vulneráveis como
são as crianças e os idosos. Temos de dar o nosso contributo para
uma mudança através da força da oração e da ação.
Temos de encarnar a compaixão de Jesus perante as multidões
famintas de hoje. Ao contemplá-las, Jesus diz-nos como outrora disse
aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Jesus sabe que
temos possibilidade de o fazer. Ele não deixará de multiplicar os
meios que temos para o podermos fazer. Basta que ponhamos
à sua disposição o que temos. Basta que abramos o nosso coração à
1
compaixão evangélica, assumindo os sentimentos de Jesus, perante a
multidão faminta.
2. Jesus pede a nossa participação na sua ação salvadora. Pede-nos
para colaborar com Ele – colaborar com Cristo Bom Pastor – mais do
que
com
discursos,
com
os
gestos,
com
a
proximidade,
o
acolhimento, a solicitude e a preocupação pela humanidade faminta
de pão, de dignidade, de justiça e de amor.
Podemos tomar como dirigidas a nós hoje as palavras do profeta
Isaías, que escutamos na primeira leitura de hoje: “Consolai, consolai
o meu povo. Falai ao coração de Jerusalém…”.
É
deste
modo
que
Deus
responde
à
queixa
de
Jerusalém
abandonada: com a promessa da sua intervenção salvífica, expressão
do seu amor.
Deus consola o seu povo com a bondade de um Pastor, com a afeição
de um pai, com a ternura de uma mãe. O Messias será a consolação
de Israel. Jesus trouxe aos pobres a consolação de Deus e confia hoje
a nós a continuidade da sua missão de «consolar».
«Consolar» é suscitar a esperança, é dar razões para esperar, para
confiar, para viver.
«Falar ao coração» é ser próximo, solidário, é falar com amor,
manifestando esse amor com uma solidariedade efetiva e afetiva,
mostrando, como Jesus, que Deus é Pai de todos, que se preocupa
com todos, porque a todos ama e quer salvar.
«Falar ao coração» é o modo de falar de Deus, é o modo de falar de
Jesus, deve ser o nosso modo de falar.
«Falar ao coração» é dizer: «eu quero-te bem, és importante para
mim, és parte de mim, és meu irmão, minha irmã, membro desta
grande família humana que somos, por isso quero que estejas bem,
que tenhas acesso aos bens necessárias para que vivas com
dignidade, como eu vivo, como todos devem viver».
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3. Para «falar ao coração» é necessário fazer-se próximo e para me
fazer próximo tenho de sair de mim mesmo, da minha zona de
conforto, de segurança; tenho de sair para oferecer a todos a vida de
Jesus Cristo, ser sinal e portador do seu amor, mediar o encontro
com Ele.
O comodismo, o individualismo, o isolamento enfraquece-nos. A
doação
fortalece-nos,
fortalece
a
vida.
“A
vida
alcança-se
e
amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros” (EG
10).
“Os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da
margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos
demais” (EG 10).
Empenhemo-nos nesta causa: “uma só família humana, alimento por
todos”. Olhemos a realidade dos nossos irmãos e irmãos com fome
com o olhar de Jesus, que fala ao nosso coração e nos diz: «Dai-lhes
de comer»: «Sejam criativos, busquem meios, partilhem e levem
outros a partilhar, lutem pela justiça e pelo direito aos alimentos para
todos. Combatam os desperdícios».
“Não se pode tolerar o facto de se lançar comida no lixo, quando há
pessoas que passam fome” (EG 53).
Façamos tudo o que estiver ao nosso alcance, para que os bens da
criação cheguem a todos. Não nos contentemos com aquilo que já
fazemos, mas unamos as nossas vontades, os nossos esforços, os
nossos meios para alargarmos a nossa ação, fazermos mais e melhor,
chegarmos mais longe, até à concretização deste grande objetivo:
“Uma só família humana, alimento para todos”.
E recordemos que «as forças débeis, quando unidas tornam-se
fortes», sobretudo quando o que as une é Jesus Cristo, a fé, o amor
mandamento novo do amor.
Cada vez que celebramos a Eucaristia o Senhor reparte connosco a
sua vida, dá-se, entrega-se, ensina-nos a fazer da nossa vida «pão
repartido», «sangue derramado», vida doada, solicitude para que
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«todos tenham vida e vida em abundância». Que esta vida de Cristo
possa chegar a todos através de nós.
† Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa
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