UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO BRUNA LUÍSA DE PAULA ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA E REPARO TECIDUAL FRENTE À IMPLANTAÇÃO DE MATRIZ COLÁGENA SUÍNA NO TECIDO SUBCUTÂNEO DE CAMUNDONGOS BAURU 2017 BRUNA LUÍSA DE PAULA ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA E REPARO TECIDUAL FRENTE À IMPLANTAÇÃO DE MATRIZ COLÁGENA SUÍNA NO TECIDO SUBCUTÂNEO DE CAMUNDONGOS Dissertação apresentada à Universidade do Sagrado Coração, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de MESTRE em Biologia Oral, programa Biologia Oral. Orientador: Profª. Drª.. Elcia Maria Varize Silveira BAURU 2017 Paula, Bruna Luisa de P3249a Análise histomorfométrica da resposta inflamatória e reparo tecidual frente à implantação de matriz colágena suína no tecido subcutâneo de camundongos / Bruna Luisa de Paula.-- 2017. 65f. : il. Orientadora: Prof.ª Dra. Elcia Maria Varize Silveira. Dissertação (Mestrado em Biologia Oral) - Universidade do Sagrado Coração - Bauru - SP 1. Biomateriais. 2. Inflamação. 3. Enxerto. 4. Colágeno. I. Silveira, Elcia Maria Varize. II. Título. BRUNA LUÍSA DE PAULA ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA E REPARO TECIDUAL FRENTE À IMPLANTAÇÃO DE MATRIZ COLÁGENA SUÍNA NO TECIDO SUBCUTÂNEO DE CAMUNDONGOS Dissertação apresentada à Universidade do Sagrado Coração, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de MESTRE em Biologia Oral, programa Biologia Oral. Orientador: Profª. Dra. Elcia Maria Varize Silveira Banca examinadora: Profª. Drª. Carolina Fávaro Francisconi Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP) Profª. Drª. Angela Mitie Otta Kinoshita Universidade do Sagrado Coração Profª. Drª. Elcia Maria Varize Silveira Universidade do Sagrado Coração Bauru, 26 de janeiro de 2017. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, pelas raízes de amor e confiança que sempre me sustentaram e tornaram-me capaz de concretizar meus sonhos. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que até aqui me iluminou e protegeu, guiando meu caminho e não permitindo que a mim faltasse amor, fé e sabedoria. Agradeço ainda a Ele, por me presentear com minha família, que nunca me deixou esquecer quem eu sou e onde quero chegar. Agradeço eternamente e com todo o amor do mundo, minha mãe Sonia e meu pai Helton, por apostarem na ‘menininha da promessa’ e me incentivarem a dar o meu melhor. Agradeço a eles pelo carinho, os mimos e, principalmente, os exemplos de caráter e bondade a mim ensinados. A eles devo agradecer também pelo primeiro título que conquistei na vida: irmã mais velha, título este que irei carregar sempre com muito orgulho. Agradeço a minha irmã Bianca pelo companheirismo, pelas brigas e risadas e por sua disposição em me ajudar na confecção deste trabalho juntamente ao meu cunhado Leonardo, dividindo seu tempo, sua paciência e seus lanchinhos noturnos comigo. Ao meu namorado Francisco, agradeço pelo amor, pela dedicação e pela perseverança em me mostrar que tudo sempre dá e deu certo, acreditando em mim quando nem eu acreditava. Agradeço a você meu amor pelas muitas vezes que deixou de ser somente meu parceiro se tornando meu melhor amigo, cúmplice e anjo da guarda. Por todas as histórias compartilhadas, pelos trabalhos desenvolvidos e por permitir que dois anos passassem como minutos, agradeço as minhas queridas colegas Ana Carolina Gonçalves, Carolina Lourenço, Heloísa Marques e Yasmin Santos, que transformaram o mestrado em uma experiência única e enriquecedora. Agradeço em especial minhas amigas de longa data Beatriz Malaghine, Laura Franciscon, Marina Moraes, Paola Catalano e Poliana Jacometi juntamente com nossa ‘mascotinha’ Laura, por toda fidelidade e paciência ao compreender as minhas incontáveis ausências. À minha querida orientadora, Elcia Silveira, agradeço por toda generosidade e cuidado em nos acolher, dividindo seu tempo e seus recursos entre seus alunos, inúmeras vezes recebidos como filhos. Obrigada por seu exemplo de integridade profissional e pessoal e por compartilhar de maneira brilhante lições valiosas que extrapolam o presente trabalho se perpetuando ao longo da vida. Agradeço a todo corpo docente da Universidade do Sagrado Coração, em especial às queridas professoras Ana Paula Garlet, Andreia Silva, Dulce Constantino, Mirela Campos, Pamela dos Santos, Patrícia Saraiva, Rita Peruquetti, Solange Franzolin e aos funcionários Maira Couto e Wilson Orcini. À eles e a todos os outros profissionais admiráveis, que tive a honra de conhecer, deixo o meu obrigada. Ressalto meus agradecimentos a especialmente lembrada professora Sônia, pela qual coleciono respeito e admiração desde o ensino fundamental I. Agradeço ainda, à toda equipe do departamento de histologia da Faculdade de Odontologia de Bauru e aos docentes Gustavo Garlet e Andreia Espíndola, que gentilmente se dispuseram a me ajudar nesta empreitada. Agradeço a todos que me acompanharam durante a realização deste sonho, a vocês o meu muito obrigada. SUMÁRIO RESUMO ........................................................................................... 4 ABSTRACT ........................................................................................ 5 REVISÃO DE LITERATURA E JUSTIFICATIVA .............................. 7 PROPOSIÇÃO ................................................................................. 20 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................ 21 Animais de Experimentação ................................................... 21 Material de implantação ......................................................... 23 Procedimento cirúrgico ........................................................... 23 Coleta de amostras ................................................................ 24 Processamento histológico e coloração................................. 26 Análise histomorfométrica ...................................................... 27 Análise de Birrefringência ...................................................... 29 Análise Estatística .................................................................. 32 RESULTADOS ................................................................................. 32 Análise histomorfométrica ...................................................... 33 DISCUSSÃO .................................................................................... 43 CONCLUSÕES ................................................................................ 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 56 ANEXOS .......................................................................................... 63 4 RESUMO Os avanços relacionados a engenharia tecidual levaram à busca por biomateriais em substituição ao enxerto autógeno de gengiva, que apesar de ser considerado padrão ouro no reparo de tecidos moles comprometidos possui restrições em relação a quantidade de tecido doador disponível, limitando o reparo a pequenas áreas. Além disto, o procedimento de enxerto geralmente relaciona-se com alta morbidade pós-operatória e dor tanto na porção doadora como na loja receptora. A compreensão de aspectos inflamatórios envolvidos após implantação de biomateriais é de suma importância na prática clínica, uma vez que a dinâmica imunológica atuante no sistema biomaterial/receptor pode comprometer a eficácia do procedimento. Desse modo, o presente trabalho avaliou os aspectos da resposta imune e inflamatória desenvolvida frente à implantação, única e sequencial, de matrizes de colágeno suíno (Mucograft®) no tecido subcutâneo dorsal de camundongos Balb/c, nos períodos de 3, 9 e 21 dias. De acordo com análises histomorfométricas em lâminas coradas com HE e PicrosiriusRed, verificou-se que após 3 dias à implantação do biomaterial já se observava pontos isolados de reabsorção da matriz acompanhados de sinais da reação inflamatória, como aumento no número de células constituindo um pequeno infiltrado ao redor do material implantado. O processo de degradação da matriz ocorreu de modo bastante expressivo associado a reações inflamatórias amenas e ao aumento de fibroblastos, fibras e vasos sanguíneos na região, sendo sua completa reabsorção após 21 dias. A velocidade da cinética de reabsorção após à implantação sequencial da matriz (9 dias) não foi significativamente diferente dos valores encontrados para o mesmo período nos grupos de única implantação, contudo a reação inflamatória na implantação sequencial se mostrou maior e com evolução mais rápida quando comparada à implantação única em todos os períodos.Em análises qualitativas verificou-se que as matrizes de implantação sequencial apresentaram um maior número de células inflamatórias compondo o infiltrado, células gigantes, além da presença de uma cápsula fibrosa mais notável ao redor do biomaterial implantado, ainda que o número de fibras contabilizadas em PicrosiriusRed fosse menor neste período 5 em relação ao grupo de implantação única. Contudo, tais respostas imunológicas não são consideradas exacerbadas, salientado a característica biocompatível do material associado ao sistema receptor. Palavras-Chave: Biomateriais, Inflamação, Enxerto, Colágeno. ABSTRACT The advances related to tissue engineering led to the search for biomaterials to replace the autogenous gingiva graft, which despite being considered gold standard in the repair of compromised soft tissues has restrictions in relation to the amount of available donor tissue, limiting the repair to small areas. In addition, the graft procedure is usually related to high postoperative morbidity and pain in both the donor and recipient sites. The understanding of the inflammatory aspects involved after implantation of biomaterials is of paramount importance in clinical practice, since the immunological dynamics in the biomaterial / receptor system may compromise the efficacy of the procedure. Thus, the present work evaluated the mechanisms of the immune and inflammatory response developed against the single and sequential implantation of porcine collagen matrices (Mucograft®) in the dorsal subcutaneous tissue of Balb / c mice in the periods of 3, 9 and 21 days. According to histomorphometric analysis in blades stained in HE and PicrosiriusRed, it was verified that after 3 days to implantation of the biomaterial already isolated points of reabsorption of the matrix were observed accompanied by signs of the inflammatory reaction, as increase in the number of cells constituting a small infiltrate surrounding the implanted material. The degradation process of the matrix occurred in a very expressive way associated to mild inflammatory reactions and the increase of fibroblasts, fibers and blood vessels in the region, being its complete reabsorption after 21 days. The rate of reabsorption kinetics after sequential matrix implantation (9 days) was not significantly different from the values found for the same period in the single implantation groups, however, the inflammatory reaction in sequential implantation was larger and with a faster evolution when compared to the single 6 deployment in all periods. In qualitative analyzes it was verified that the sequential implantation matrices presented a greater number of inflammatory cells composing the infiltrate, giant cells, besides the presence of a more remarkable fibrous capsule around the implanted biomaterial, although the number of fibers counted in PicrosiriusRed was lower in this period than the single deployment group. However, such immunological responses are not considered exacerbated, emphasizing the biocompatible characteristic of the material associated with the receptor system. Keywords: Biomaterials, Inflammation, Graft, Collagen. 7 REVISÃO DE LITERATURA E JUSTIFICATIVA A utilização de substâncias na tentativa de reparar ou substituir funções perdidas de organismos não é recente e evoluiu juntamente com os avanços da medicina e da biotecnologia visando à maior qualidade de vida da população, já que ao longo do tempo estamos sujeitos a fraturas, mutilações e doenças que podem levar a falha ou a incapacidade funcional de órgãos e tecidos (MELNIKOV et al., 2009).Há mais de 2000 anos A.C., civilizações primitivas suturavam feridas para acelerar o processo de cura e utilizavam ossos de animais, madeira, entre outros materiais para substituir funcionalmente membros perdidos (LYMAN et al., 1974). Tais práticas foram difundidas e adaptadas ao longo dos séculos e seus resquícios perpetuados no imaginário popular através de figuras até hoje presentes como a do típico pirata com sua perna de madeira e olho de vidro, reparando lesões adquiridas em batalhas. Atualmente, define-se biomaterial como uma substância produzida a fim de assumir uma estrutura, que isoladamente ou como parte de um sistema complexo, direcione o curso de qualquer procedimento terapêutico ou de diagnóstico, por meio de interações com o sistema do organismo em que foi implantado (WILLIAMS, 2009). Desta forma, contrariando a primeira definição de biomaterial baseada na inércia de sua inserção e função estética, espera-se que a implantação de um dispositivo gere respostas no organismo receptor, contudo tais respostas não devem ser exacerbadas, sendo sua aplicabilidade maior que o ônus de sua implantação. Os biomateriais podem ser classificados de acordo com alguns critérios relacionados às suas características químicas ou com base nas respostas biológicas produzidas por suas aplicações. A partir das reações biológicas do organismo pós-implantação, o biomaterial poderá se classificar como: bioinerte (não provoca reação de corpo estranho no organismo ainda que esteja em contato direto com o tecido receptor, contudo promove outras formas de respostas imunológicas), biotolerado (aquele que induz respostas imunes um pouco mais acentuadas, sendo geralmente envolto por tecido fibroso pouco tempo após a implantação), bioativo (promove ligação direta com os tecidos 8 uma vez que libera íons que modulam as ligações químicas de reparo tecidual) e/ou reabsorvível (apresenta reabsorção lenta e gradual que possibilita que seja substituído por tecidos ao longo do tempo, em geral apresentando respostas imunológicas moderadas) (ANDERSON, JM, 2001). Quanto a sua natureza química, um biomaterial pode ainda ser classificado em: metálico (aplicado em componentes estruturais que visam à substituição, reforço ou estabilização de tecidos rígidos que demandam altas cargas de tração e compressão); cerâmico (geralmente formado por elementos metálicos e não metálicos unidos por ligações iônicas e/ou covalentes, sendo de baixa condutividade elétrica e térmica, amplamente empregado como instrumento de diagnóstico); polimérico (macromoléculas de alta massa molar formadas pela ligação sequencial de unidades repetitivas ao longo de uma cadeia principal, podendo assumir desde formas particuladas a filmes e fios empregados no âmbito hospitalar); compósito (apresenta uma fase contínua e uma fase dispersa com interfaces distintas, sendo eficazmente empregado na liberação de fármacos e outras substâncias) e natural (aquele sintetizado a partir de produtos de origem biológica, podendo assumir formas compósitas ou poliméricas, como no caso dos biomateriais sintetizados por meio do colágeno extraído de fonte animal) (SIONKOWSKA, 2011). Assim, tendo em vista que cada tipo de biomaterial possui características químicas, mecânicas e biológicas próprias e que essas características se relacionam a sua aplicabilidade em cada situação, à escolha de um biomaterial deve ser embasada nos objetivos esperados após sua implantação, sempre considerando a dinâmica do organismo receptor bem como a do material empregado (WILLIAMS, 2009). Em tecidos moles, a reconstrução geralmente é feita por intermédio de matrizes, as quais devem apresentar características mecânicas similares as dos tecidos a serem substituídos(WILLIAMS, 2014). Tais matrizes costumam ser macias, flexíveis e resistentes sendo amplamente atribuídas a medicina e a odontologia, por exemplo, como substitutos de pele em queimaduras profundas e enxertos de gengiva, seja por motivos estéticos ou em caso de perda de tecido decorrente da doença periodontal (MOIOLI et al., 2007). 9 A recessão gengival é uma condição clínica bastante comum, atingindo mais da metade da população mundial (SUSIN et al., 2004). Trata-se de uma migração da gengiva marginal livre no sentido apical em relação à junção amelo-cementária, levando aexposição radicular (KASSAB et al., 2010). Possuindo etiologia multifatorial, seu desenvolvimento depende de uma série de fatores, tais como: traumas mecânicos (escovação agressiva, aparelho ortodôntico, restauração dentária mal adaptada, próteses, placa bacteriana e uso de piercing) e químicos (tabagismo, etilismo e uso de outras drogas), além de fatores predisponentes relacionaciodos às características anatômicas da cavidade oral (quantidade inadequada de gengiva queratinizada, vestibularização de elementos dentários, deiscência óssea e inserção alta do freio) (MARINI et al, 2004). A recessão gengival pode causar diversos problemas ao paciente, sejam eles de cunho estético (harmonização do sorriso, diferenças de tonalidade entre a raíz exposta e o esmalte dentário) ou problemas mais graves como sensibilidade dentária (exposição de microtúbulos dentinários com comunicação com a polpa), acúmulo de placa bacteriana (maior prevalência de biofilmes levando à inflamação), abrasão e erosão (traumas no cemento e dentina por escovação ofensiva) e até mesmo cáries radiculares (instalalção de microrganismos degradando regiões pouco mineralizadas) (PATEL et al., 2011). Classificamos a recessão gengival baseada em sua severidade, sendo a classificação de Miller (1985), bastante consolidada. Esta classificação busca englobar os diversos tipos de recessões gengivais em quatro classes, agrupadas por critérios que analisam a posição da margem gengival em relação à junção amelocementária e o nível do tecido periodontal interproximal (MILLER, 1985) (Figura 1). 10 Figura 1. Representação esquemática dos diferentes tipos de recessões gengivais quanto à classificação de Miller (1985). Fonte: Elaborada pela autora (adaptado de TAKEI e AZZI, 2004). Legenda: Classe I, recessões que não se estendem até à linha mucogengival, com ausência de perda óssea e da porção gengival interdentária.Classe II, recessões que ultrapassam a linha mucogengival ou se estendem até ela, sem perda do tecido de inserção na área interdentária. Classe III, recessões que ultrapassam a linha mucogengival ou se estendem até ela, com perda de tecido de inserção na área interdentária, podendo ocorrer um mau posicionamento dos dentes. Classe IV se estendem até à linha mucogengival ou a ultrapassam, com perdas consideráveis de tecido ósseo e de tecido gengival no espaço interdentário, mau posicionamento severo dos dentes ou até mesmo na perda de alguns elementos. Existem várias técnicas cirúrgicas que promovem o recobrimento radicular em casos de recessão gengival, entretanto tais técnicas só são eficazes em recessões de classe I e II e em recobrimentos parciais de recessões de classe III, tendo pouca previsibilidade de sucesso em recobrimento envolvendo recessões de classe IV (CHAMBRONE et al., 2008).O enxerto de tecido conjuntivo subepitelial é considerado tratamento de eleição para recobrimento radicular em razão de sua previsibilidade e 11 resultados esteticamente favoráveis. Contudo, tal procedimento exige habilidades técnicas apuradas, uma vez que combina tecidos de origem palatina a retalhos de tecido gengival adjacente à recessão, necessitando, em alguns casos, de procedimentos adicionais afim de reestabelecer a harmonia gengival (CHAMBRONE et al, 2010). Outra técnica bastante utilizada é o enxerto gengival livre, no qual se retira tecido conjuntivo e epitelial de um leito doador e insere-se no sítio de recessão. Inicialmente a técnica de enxerto gengival livre foi desenvolvida para ganho de mucosa queratinizada, sendo posteriormente empregada com sucesso no tratamento de recessões gengivais (CHAMBRONE et al., 2012). Em ambas as técnicas, o palato é a área doadora mais comumente utilizada, caracterizando como região doadora a mucosa adjacente ao segundo pré-molar e primeiro molar (NEVINS et al., 2011). A retirada de tecido palatino, no entanto, gera limitações à aplicabilidade destes procedimentos, já que a quantidade de tecido disponível é pequena, restringindo-se ao recobrimento de moderadas proporções. Além disto, a morbidade pós-operatória é grande e associa-se a inconvenientes, tais como maior tempo cirúrgico, dificuldades na dicção, higienização e na alimentação em decorrência de incomodo doloroso nas regiões de doação e de enxerto tecidual; além de um possível aumento na utilização medicamentosa, desde mais áreas interagindo com o anestésico à prevenção de grandes processos inflamatórios e controle da dor (CAIRO et al., 2008).Dessa forma, pesquisas com novos biomateriais vêm se desenvolvendo no sentido de garantir a utilização de materiais que tenham a vantagem de eliminar uma segunda loja cirúrgica (leito doador) oferecendo maior conforto ao paciente (MENSI et al., 2016). Atualmente, a maioria dos biomateriais para recobrimento radicular são sintetizados na forma de matrizes à base de colágeno, em razão de sua capacidade de orientar o reparo tecidual, além de sua biodegradação e compatibilidade bastante favorável (CEN et al., 2008). A terminologia ‘colágeno’ abrange um subgrupo de 27 proteínas bastante conhecidas, geralmente encontradas como parte constituinte do tecido conjuntivo e também presentes em tecido ósseo (YUNG & LIU, 2005). A molécula de colágeno possui massa molecular de 300.000 daltons e chega a 280 namometros de 12 comprimento, sendo estruturada na forma de unidade tripeptídica (glicina aminoácido x – prolina ou glicina – aminoácido x – hidroxiprolina, onde ‘x’ pode ser qualquer um dos 20 aminoácidos padrão) estabilizada por pontes de hidrogênio e ligações intermoleculares (SILVA & PENNA, 2012). Proteínas colágenas são muito utilizadas em aplicações médicas, sendo o tipo I, seguido pelo tipo III, os mais frequentes na síntese de biomateriais em decorrência de fontes naturais abundantes e similaridade com a matriz extracelular humana (LEEUWEN, 2012). O colágeno pode ser adquirido de várias fontes, porém a extração por meio de tecidos de origem animal é a mais usual (WEHRHAN et al., 2010). O pericárdio porcino é um dos tecidos comumente utilizados para a confeccção de matrizes colágenas em razão de sua fácil obtenção, com alta disponibilidade, baixo custo e maleabilidade para modificações químicas que favorecem sua estruturação na forma de matrizes, membranas, géis, filmes e esponjas (PABST et al., 2014). Na indústria química, muitos procedimentos são adotados a fim de conferir durabilidade e conformação estrutural às fibras colágenas que compõem um dispositivo, uma vez que o colágeno natural é degradado muito rapidamente nos organismos, levando à perda funcional do material implantado (VATS et al., 2003). O glutaraldeído, por exemplo, é um composto bastante utilizado na promoção da estabilidade de membranas colágenas por multiplicar ligações naturalmente encontradas no arranjo das fibras. Este processo é denominado de ligação cruzada, sendo muito eficaz no aumento da espessura das fibras e na força de ligação entre elas, evitando a degradação precoce do biomaterial pós-implantação (BUNYARATAVEJ & WANG, 2001). Contudo, tratamentos químicos com glutaraldeído são passíveis à liberação de resíduos, aumentando sua citotoxicidade. Deste modo, ainda que efetivo, o processamento com glutaraldeído tem deixado de ser empregado em alguns dispositivos colágenos que preconizam a baixa antigenicidade do material (SANZ et al., 2009). O biomaterial empregado neste trabalho, a matriz colágena suína (Mucograft®) faz parte de uma nova geração de materiais de origem colágena com estruturação química especialmente elaborada em busca de menores reações imunogênicas. Nesta matriz, as fibras colágenas do tipo I e III são 13 previamente purificadas e exibem uma organização única, compondo estruturas tridimensionais estáveis (SCHMITT et al., 2015).Ademais, a formulação em aspecto de matriz facilita a manipulação nos procedimentos de recorte e sutura, além de conferir resistência ao material quando comparado às formas membranosas (HERFORD et al. 2012). Os cuidados com possíveis reações imunogênicas levam os fabricantes a tomarem precauções desde a síntese do biomaterial até sua distribuição. Assim, dados de fabricação ressaltam que a matriz colágena suína (Mucograft®) só chega ao mercado depois de um duplo processo de esterilização em radiação gama e que todos os animais utilizados como fonte doadora de colágeno são certificados por veterinários e criados em ambientes controlados para assegurar a qualidade do produto final. Tais características tendem contribuir para a diminuição de reações imunogênicas favorecendo à bicompatibilidade pós-implantação da matriz (SCHALLHORN et al., 2015). A literatura relaciona o conceito de biocompatibilidade com respostas imunológicas amenas e favoráveis à permanência do biomaterial no organismo receptor (SILVEIRA, 2012). A biocompatibilidade é definida como uma interação mútua entre biomaterial e receptor, onde material e sistema fisiológico encontram-se em estado sinérgico, isto é, as reações imunológicas causadas pela inserção do biomaterial não devem ser desfavoráveis ao organismo, sendo necessário ainda que o biomaterial promova respostas que estimulem o reparo tecidual local (WILLIAMS, 2008). Uma vez que se sabe que todo material é passível de promover respostas no hospedeiro, conceituá-lo como biocompatível pode causar equívocos, associando erroneamente o termo bicompatibilidade com inércia na geração de respostas imunológicas. Em razão disto, Williams (2014) preconiza o emprego da terminologia ‘sistema biocompatível’, levando em consideração todas as características do biomaterial associadas a suas interações fisiológicas com o hospedeiro pósimplantação. Testar o comportamento dos materiais em meio biológico é fundamental para assegurar a previsibilidade clínica de sua aplicação. Uma vez expostos aos fluídos orgânicos do corpo, os biomateriais promovem a ruptura da homeostase desencadeando uma série de reações imunológicas imediatas ou 14 tardias, e tais reações podem ocasionar problemas como a reabsorção precoce do material implantado e infecções graves no receptor (CHUN et al., 2010). Entretanto tais testes não devem se basear apenas em critérios que aprovem ou rejeitem um material, mas sim em uma série de avaliações complexas que permitam esclarecer de maneira eficiente às respostas biológicas promovidas por sua utilização (GIBBONS, 1975). De modo geral, após a implantação de um biomaterial verifica-se a interação do material com o fluído sanguíneo (resultando na formação de um coágulo provisório de revestimento local), inflamação aguda, posterior inflamação crônica, desenvolvimento de tecido de granulação, reação de corpo estranho e formação de uma cápsula de tecido fibroso. Todavia, tais reações poderão variar em decorrência da assepsia adotada no procedimento, fatores imungênicos do próprio biomaterial (formulação química, dificuldades de implantação econtaminação bacteriana), além da capacidade imunológica do organismo receptor (WILLIAMS, 2014). Desta forma, o emprego de técnicas e ferramentas para a confecção de uma análise molecular ampla são imprescindíveis para a melhor compreensão dos aspectos envolvidos na resposta imune e inflamatória pós-implantação de um biomaterial. Logo após uma injúria tecidual, como por exemplo, o procedimento de colocação de um biomaterial, inicia-se um processo inflamatório local com posteriores alterações sistêmicas denominado processo inflamatório agudo. O processo inflamatório agudo é caracterizado por respostas rápidas geradas a partir da primeira linha de defesa imunológica do organismo na tentativa de restringir danos e infecções ao local lesionado (AARABI et al., 2007). As respostas inflamatórias são ativadas e coordenadas por mediadores e células do sistema imune tais como neutrófilos, monócitos e células dendríticas que por meio de vias inflamatórias levam à migração, proliferação e diferenciação celular, reparando o tecido degradado e recuperando a homeostasia (ABBAS AK, 2015). O processo inflamatório agudo, em geral é caracterizado por sinais locais tais como: dor, calor, rubor, edema e perda de função (ainda que temporária). Estes sinais relacionam-se a eventos vasculares que permitem a migração de células e moléculas pró-inflamatórias para o sítio lesionado 15 (GUYTON, A.C.; HALL, J.E., 2011). Destacam-se neste processo moléculas vasoativas como a histamina e a bradicinina que auxiliam na formação do exsudado e do edema, além de expressar citocinas capazes de ativar células endoteliais na promoção da migração de leucócitos, principalmente os polimorfonucleares. Uma vez no sítio de inflamação, as células inflamatórias, como macrófagos residentes no tecido, secretam citocinas responsáveis pela ativação de células endoteliais, proliferação de fibroblastos e mediadores do processo de cicatrização, tais como fator de necrose tumoral (TNF-α), fator transformador de crescimento beta (TGF-β), fatores de crescimento plaquetários (PDGF) e fatores de crescimento epidérmico (EGF). Temos ainda a presença acentuada de interleucinas IL-1β e IL-6 (aumento da permeabilidade vascular, expressão de moléculas de adesão e modulação de macrófagos) além das quimiocinas CCL2 e CCL3 (recrutamento de macrófagos e polimorfonucleares para o sitio lesionado) mediadoras pró-inflamatórias, atuando ativamente durante todo o processo (ABBAS AK., 2015). O processo inflamatório agudo tende a cessar em um período próximo a 72 horas, sendo a fase de resolução mediada por citocinas anti-inflamatórias (TGF-β, IL-4 e IL-10) que coordenam a migração celular e o processo de apoptose. Assim, mononucleares anteriormente recrutados ao sítio lesionado, liberam citocinas anti-inflamatórias e fagocitam as células danificadas encerrando o processo (AARABI et al., 2007). Entretanto, vale ressaltar que o próprio processo inflamatório agudo pode levar a danos teciduais e/ou não ser totalmente eficaz no processo de cicatrização e reparo tecidual, iniciando-se posteriormente um processo inflamatório mais longo e complexo, o processo inflamatório crônico (GUYTON, A.C.; HALL, J.E., 2011). O processo inflamatório crônico está relacionado às linhas de defesa imunológicas mais complexas, com respostas específicas e de maior duração, em geral associadas à atuação pronunciada de macrófagos e linfócitos, recrutados por estímulos inflamatórios persistentes no local de implantação do material (FRANZ et al., 2011). Os monócitos circulantes ao chegar ao local da inflamação sofrem uma alteração fenotípica diferenciando-se em macrófagos. Os macrófagos, por sua vez, aderem-se ao biomaterial e sofrem um processo de fusão originando as células gigantes de corpo estranho (Figura 2), 16 responsáveis por atividades fagocitárias e de modulação do material por meio da degradação da superfície do dispositivo, ou formação de cápsula em tecido conjuntivo fibroso (reação de corpo estranho) (ANDERSON, JM et al., 2008). Figura 2. Representação esquemática da fusão de macrófagos em células gigantes multinucleadas. Fonte: Elaborada pela autora (adaptado de ABBAS AK., 2012). Legenda: Macrófago com citocinas moduladoras que estimulam o recrutamento de novas células e a posterior fusão celular resultando em uma célula gigante multinucleada. Além disto, as células macrofágicas exercem importante função como apresentadoras de antígenos aos linfócitos Th (T helper) e liberam uma série de fatores responsáveis pelo processo de quimiotaxia, ativação e ou desativação de outros tipos celulares e citocinas no sítio de inflamação (SCHUTTE et al., 2009).As citocinas secretadas pelos macrófagos atuam na migração e diferenciação celular, estimulando a proliferação fibroblástica, surgimento de novos vasos sanguíneos e produção e degradação de fibras colágenas (remodulação do biomaterial), auxiliando no processo de cicatrização e reparo tecidual (SCHMIDT & KAO, 2007). As variações nas funções exercidas pelos macrófagos relacionam-se com a via de ativação destas células, sendo identificados dois fenótipos macrofágicos heterogêneos: macrófago M1 e macrófago M2 (BROWN et al., 2012) (Figura 3). 17 Figura 3. Representação esquemática dos fenótipos macrofágicos. Fonte: Elaborada pela autora (adaptado de Brown et al., 2012). Legenda: Macrófagos do fenótipo M1 e M2 representando extremos de um único espectro celular, sendo seu fenótipo e função atribuídos de acordo com suas citocinas moduladoras e aspectos do microambiente em que se encontram. Em geral, macrófagos M1 (via de ativação clássica- citocinas derivadas de Th1) atuam no processo inflamatório crônico, associando-se a citocinas próinflamatórias e na reação de corpo estranho, formando a cápsula fibrosa e/ou degradando o material por fagocitose. Já macrófagos M2 (via de ativação de cicatrização - citocinas derivadas de Th2) promovem a diminuição de citocinas pró-inflamatórias que auxiliam no reparo tecidual, finalizando o processo inflamatório (ANDERSON, JM et al., 2008). Contudo, a classificação dos macrófagos em apenas dois fenótipos é genérica e minimalista, já que cada fenótipo é plástico e resultado de microambientes complexos. Células macrofágicas podem ainda ser ativadas por complexos imunes por meio da via regulatória, responsáveis pela síntese de citocinas anti-inflamatórias (GORDON & TAYLOR, 2005). Assim, torna-se mais adequado considerar macrófagos M1 e M2 como extremos de um único espectro celular com funcionalidades distintas (Figura 4) (BROWN et al., 2012). 18 Figura 4. Representação esquemática das vias de ativação das células macrofágicas. Fonte: Elaborada pela autora (adaptado de ABBAS AK., 2012). Legenda: Via de ativação clássica- com citocinas derivadas de linfócitos Th1, atua no processo inflamatório ativando macrófagos M1. Via de ativação alternativa- com citocinas derivadas de linfócitos Th2, atua no processo inflamatório ativando macrófagos M2. Via de ativação regulatória- com complexos imunes e citocinas derivadas de linfócitos Treg, atua no processo inflamatório ativando macrófagos com fenótipos em transição, responsáveis pela síntese de citocinas anti-inflamatórias. Além da modulação dos macrófagos pelos subtipos de linfócitos Thelper, estas células destacam-se ainda por atuarem direta e/ou indiretamente nas reações de hipersensibilidade provocadas pela implantação do biomaterial. Onde uma vez fagocitadas, partículas do material, são reconhecidas como epítopos e apresentadas aos receptores destes linfócitos, estimulando a proliferação de outros tipos celulares bem como a síntese de citocinas capazes de promover a expansão clonal de novos linfócitos efetores e gerir células de defesa especializadas na memória antigênica. Assim, a presença de linfócitos compondo o infiltrado inflamatório pode ser associada não apenas à ativação 19 de células fagocitárias, mas a expressividade da resposta imunológica a partir de uma nova exposição ao antígeno (ABBAS AK., 2015). Sabe-se hoje, que os mecanismos da resposta imune e inflamatória frente à implantação de biomateriais estão intimamente ligados a relação de macrófagos e biomateriais, bem como a de biomateriais e células de corpo estranho, em processos coordenados por citocinas, quimiocinas e fatores de crescimento (SCHUTTE et al., 2009). Desta forma, compreender a função desempenhada por estes mediadores inflamatórios, assim como elucidar o papel exercido por cada tipo celular auxilia no desenvolvimento de novos materiais e técnicas, além de aumentar a previsibilidade e atribuir novas aplicabilidades mais seguras aos dispositivos já existentes. Por sua inserção recente no mercado, trabalhos relacionados à efetividade da matriz colágena suína (Mucograft®) têm se expandido rapidamente, não sendo difícil encontrar suporte literário para questões como eficácia no reparo tecidual, indicação para o aumento da faixa de gengiva queratinizada em torno de dentes e implantes, menor impacto cirúrgico quando comparado a enxertos autógenos, menor sintomatologia dolorosa, menores dosagens medicamentosas pós-procedimento e estética satisfatória (SCHALLHORN et al., 2015). Todavia, a maior parte destas constatações foram compiladas através de relatos de casos e estudos clínicos in vitro e in vivo que não contemplam as relações de biocompatibilidade e imunogenicidade em aspectos histológicos ou moleculares, assim como as interações celulares ocorridas no sítio de reparo pós-implantação (FU JH et al., 2012). Tais lacunas devem ser investigadas aprofundando os conhecimentos sobre a dinâmica imunológica do receptor frente ao biomaterial implantado, elucidando suas características na busca de melhorias ao paciente. 20 PROPOSIÇÃO Avaliar a resposta imune e inflamatória desenvolvida frente a implantação de uma matriz colágena suína (Mucograft®) no tecido subcutâneo dorsal de camundongos Balb/c de acordo com parâmetros histomorfométricos. Detalhadamente, os objetivos são: Analisar a cinética de resposta e reabsorção da matriz colágena suína (Mucograft®) nos períodos de 3, 9 e 21 dias em camundongos da linhagem Balb/c; Avaliar a intensidade da imunogenicidade da matriz colágena suína (Mucograft®), de acordo com a cinética de reabsorção e desenvolvimento da resposta imune e inflamatória, por meio de duas implantações subsequentes do biomaterial, sendo a resposta à segunda implantação comparada a implantação única (9 dias) por meio de análises histomorfométricas. 21 MATERIAL E MÉTODOS Animais de Experimentação Neste estudo foram utilizados camundongos machos, com idade aproximada de 8 semanas e peso médio de 22,5g, disponibilizados pelo biotério do Instituto Lauro de Souza Lima-ILSL/Bauru, São Paulo. Os animais foram alimentados com ração sólida (Ração Ativada Produtor - Anderson & Clayton S.A.) e água ad libitum durante todo o experimento e mantidos em ambiente com controle de umidade, luz, temperatura e higiene. Dessa forma, o protocolo adotado para a manipulação dos animais envolvidos na pesquisa visou à preservação de suas condições fisiológicas normais, evitando injúrias desnecessárias e garantindo a não interferência nos resultados encontrados. O procedimento de implantação da matriz colágena suína foi realizado no laboratório de Cirurgia Experimental do Biotério da Universidade do Sagrado Coração-USC/Bauru em camundongos BALB/c para análises histomorfométricas (quantificação da reabsorção do biomaterial e perfil inflamatório) nos períodos de 3, 9 e 21 dias. A avaliação da intensidade imunogênica da matriz colágena suína foi realizada por meio de duas colocações subsequentes desse biomaterial, sendo a resposta à segunda implantação comparada a implantação única por meio de análise histomorfométrica no período de 9 dias. A primeira implantação geraria a sensibilização e após 15 dias, uma segunda implantação do mesmo antígeno (matriz colágena suína) identificaria a natureza imunogênica desse biomaterial de acordo com a resposta imunológica secundária. Para as diferentes análises de cada grupo e cada período foram utilizados 5 animais totalizando 20 animais. O número de animais de cada grupo experimental, os tempos de análises e as atividades propostas, estão descritos sistematicamente no cronograma de execução (Tabela 1), e foram determinados de acordo com estudos prévios e experimento piloto. As datas que marcam os procedimentos cirúrgicos e eutanásia representadas (Figura 5). dos animais estão abaixo esquematicamente 22 Figura 5. Implantação de matriz colágena suína (única e sequencial) e períodos de eutanásia. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: Tempo ‘zero’ representando o primeiro procedimento cirúrgico de inserção da matriz colágena suína, seguido por eutanásias em 3, 9 e 21 dias após a data inicial de implantação da matriz (grupos de implantação única). Posteriormente, 15 dias após o primeiro procedimento cirúrgico realizou-se uma nova implantação da matriz, sendo estes animais eutanasiados 9 dias após a segunda exposição ao biomaterial (grupo implantação sequencial). O presente trabalho foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade do Sagrado Coração (CEUA/USC) sob o protocolo nº. 3049120216 (ANEXO I). 23 Tabela 1. Relação dos grupos experimentais avaliados frente à implantação de um biomaterial (Matriz Colágena Suína) de acordo com o número de animais por período e tipo de análise realizada. Tipo de análise Grupos Períodos Histomorfometria (HE/PicrosiriusRed) Total Matriz de Colágeno (MC) Implantação única Implantação sequencial 3d 5 animais 5 9d 5 animais 5 21d 5 animais 5 9d 5 animais 5 20 Total Fonte: Elaborada pela autora. Material de implantação A matriz colágena porcina, de nome comercial Mucograft® (Geistlich Pharma AG Bussines Unit Biomaterials Bahnhofstrasse 40CH-6110 Wolhusen Switzerland, com registro na ANVISA n°80102510884) é constituída por colágeno do tipo I e III, possuindo características reabsorvíveis e conformação tridimensional. A matriz apresenta uma estrutura compacta que possibilita a cicatrização aberta, além de um suporte poroso que favorece a migração celular local. De acordo com o fabricante, a espessura do biomaterial é de 2,5 mm, porém, um espessímetro digital (World Precision Instruments, Inc., USA) foi usado para conferir e padronizar a espessura média da matriz. Uma vez que esse biomaterial não exige processos de pré-hidratação ou tratamento préimplantação, para maior precisão e facilidade na obtenção das peças, utilizouse um punch de 6 mm de diâmetro, sendo as matrizes cortadas assepticamente em câmara de fluxo. Procedimento cirúrgico A matriz de colágeno foi implantada nos animais sob anestesia via intraperitoneal com aplicação de 100 mg/kg de cloridrato de Cetamina (Dopalen® Sespo Indústria e Comércio – Divisão Vetbrands Saúde Animal, 24 Paulínia – São Paulo, Brasil) associado a 10 mg/kg de cloridrato de xilazina (Anasedan® Sespo Indústria e Comércio – Divisão Vetbrands Saúde Animal, Paulínia – São Paulo, Brasil), sedativo e relaxante muscular de uso animal, respectivamente. Em seguida, realizou-se a tricotomia do dorso do animal com auxílio de lâminas de barbear e solução fisiológica. Após o isolamento da área cirúrgica, por meio de um bisturi com lâmina nº 15foram realizadas duas incisões contra laterais de 1 cm no tegumento que reveste o dorso do animal, com posterior divulsão do tecido conjuntivo, formando duas lojas cirúrgicas. Um disco de matriz de colágeno foi implantado em cada loja cirúrgica, sendo um lado utilizado para as análises histomorfométricas e outro para análises moleculares. Os retalhos foram recolocados e suturados com fio vicryl – poliglactina 910, violeta, trançado, n° 5-0 (Ethicon® - Johnson & Johnson). Os animais foram mantidos em gaiolas individuais até o momento da realização do procedimento de eutanásia para coleta das amostras. Coleta de amostras Após o término de cada período experimental, a eutanásia dos animais foi realizada sob dose letal de anestésico (cloridrato de Cetamina 150 mg/kg associado a cloridrato de xilazina 15mg/kg) via intraperitonial. Para a análise histomorfométrica de cada período foram utilizadas amostras do tecido subcutâneo de cada camundongo. Em cada loja cirúrgica de cada animal, foram coletadas 3 amostras diferentes de tecido, sendo um sítio cirúrgico destinado às análises histomorfométricas e o outro às análises moleculares, que futuramente serão executadas.As amostras teciduais de cada loja cirúrgica foram subdivididas em grupos: Teste, extraído da região tecidual onde a matriz foi implantada, sujeito às reações inflamatórias locais promovidas pelo biomaterial; Sham, aquele sujeito a possíveis reações inflamatórias em decorrência apenas da injúria tecidual local no processo de incisão, divulsão e sutura do tecido, sem contato direto com o biomaterial; e grupo Controle, aquele que não sofreu nenhuma injúria tecidual relacionada ao procedimento cirúrgico ou inserção da matriz (Figura 6). 25 Figura 6. Implantação de matriz colágena suína bilateralmente em camundongos Balb/c. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: À direita, amostras teciduais para análises histológicas. Á esquerda, amostras teciduais destinadas às análises moleculares futuras. Grupo Teste: matriz aderida à região tecidual; Sham: região sujeita a possíveis reações inflamatórias em decorrência apenas da injúria tecidual local no processo de incisão, divulsão e sutura do tecido (sem contato direto com o biomaterial); Controle: região que não sofreu nenhuma injúria tecidual relacionada ao procedimento cirúrgico ou inserção da matriz. As amostras destinadas a análise histomorfométrica foram submetidas ao processo de fixação em formol tamponado a 10% e armazenadas a temperatura ambiente para posterior processamento histológico. 26 Processamento histológico e coloração Após a coleta das amostras e fixação, as peças foram submetidas a procedimentos histológicos padronizados, com desidratação em álcool etílico, diafanização em xilol e inclusão em Histosec® (parafina associada à resina sintética – Laboratório Merck®). Um total de 7 cortes semi-seriados de 0,004 mm (4 µm) de espessura e com aproximadamente 0,9 mm de intervalo entre eles, foram obtidos por meio de um micrótomo (Jung-Leica® RM2045), abrangendo toda a extensão (6 mm) da matriz de colágeno (Figura 7). A coloração foi realizada pela técnica de Hematoxilina e Eosina (HE) em todos os grupos (Teste, Sham e Controle) nos diferentes períodos. Para evidenciar a cinética de evolução das fibras colágenas, utilizou-se a técnica de coloração PicrosiriusRed para as amostras do grupo Teste (matriz associada ao tecido) nos tempos experimentais de 3, 9 e 21 dias. Figura 7. Esquema da ordem dos cortes semi-seriados abrangendo toda a extensão do disco da matriz colágena suína. Fonte: Elaborada pela autora (adaptada de Silveira, 2012). Legenda: 1) equivalente à porção inicial da matriz; 2 e 3) avançando em direção ao centro; 4) corte correspondente a maior dimensão da membrana; 5 e 6) mais afastados do terço médio; 7) corte abrangendo a porção final da matriz, totalizando 7 cortes, nos períodos de 3, 9 e 21 dias. 27 Análise histomorfométrica De acordo com a análise morfológica descritiva dos cortes histológicos utilizando um microscópico óptico binocular (Olympus CH-2) e objetiva de imersão de 100x, foi determinada a presença e a intensidade de infiltrado inflamatório, células mononucleares, células gigantes multinucleadas (CGM), presença de cápsula de tecido conjuntivo fibroso e sinais de reabsorção da membrana na área implantada durante seu processo de reabsorção. As imagens foram capturadas com auxílio do fotomicroscópio (Nikon Eclipse 80i; Nikon Instruments INC. 1300 Walt Whitman Road, Melville, NY 11747-3064, USA) e enviadas para o software (Image-Pro® Plus version 5.1.2 for Windows XP; Media Cybernetics, INC. 8484 Georgia Avenue, Suite 200, Silver Spring, MD 20910 USA) onde foram tratadas evidenciando a cinética de reabsorção da matriz em cada período. Para a análise morfométrica por planimetria, foram capturadas imagens dos campos histológicos de cada amostra pertencente aos grupos Teste, Sham e Controle, nos diferentes períodos experimentais com auxílio de uma câmera (QIMAGING Micropublisher 3.3 Cooled, RTV 19535 56th Avenue, Suite 101 Surrey, BC, Canada) acoplada ao fotomicroscópio (Nikon Eclipse 80i). De cada amostra foram obtidos 7 cortes semi-seriados de 0,004 mm de espessura e com 0,9 mm de intervalo entre eles, e para mensurar a área total da matriz utilizou-se o quarto corte semi-seriado do grupo Teste que contemplava a totalidade do diâmetro do biomaterial. Desta forma, a área e perímetro da matriz (mm2/mm) foram determinados pelo sistema de análise de imagem digitalizada (Image-Pro® Plus version 5.1.2 for Windows XP; Media Cybernetics, INC. 8484 Georgia Avenue, Suite 200, Silver Spring, MD 20910 USA), composto por um microscópico óptico binocular (Nikon Eclipse 80i), objetiva com aumento de 4x, câmerae sistema de análise (QIMAGING Micropublisher 3.3 Cooled) instalado em um computador (Windows XP; Laboratório de Biologia Molecular/USC Bauru), totalizando 20 cortes analisados no grupo Teste em relação cinética de reabsorção da matriz. A análise morfométrica por densidade de volume das estruturas envolvidas no processo de reabsorção da matriz foi caracterizada quantitativamente nos diferentes períodos de acordo com a presença de fibras, 28 fibroblastos, vasos sanguíneos, células inflamatórias e coágulo na região de implantação. De cada amostra foram obtidos 7 cortes semi-seriados de 0,004 mm de espessura e com 0,9 mm de intervalo entre eles, sendo escolhido o quarto corte que contemplava a região central da matriz para a realização das contagens. Com auxílio de um retículo de integração quadriculado (Opton, código TA-0262, 10x10mm/100 divisões) com uma malha de 100 intersecções colocado em uma ocular (Carl West Germany, Kpl 8x), as contagens foram realizadas em um microscópio (Olympus CH-2) com objetiva de 40x, circundando todo tecido adjacente à matriz (média de 19 campos analisados por corte, com um espaço referente a 6 linhas do retículo entre uma contagem e outra)contabilizando as estruturas sob cada intersecção da malha reticular previamente estabelecida (10 linhas x 10 colunas). Para contabilizar os campos a serem analisados nos grupos Sham e Controle, utilizou-se de uma média aritmética da quantidade de campos observados no grupo Teste nos diferentes períodos de tempo. Desta forma, os grupos Controle e Sham tiveram 19 campos analisados com espaçamento de 6 linhas reticulares entre uma contagem e outra (Figura 8). Ao final das análises histomorfométricas por densidade de volume foram analisados 60 cortes semi-seriados (20 cortes do grupo Teste, 20 cortes do grupo Sham e 20 cortes do grupo Controle), em um total médio de 1.900 estruturas teciduais contabilizadas por corte (uma estrutura sob cada intersecção reticular nos 19 campos analisados, tendo cada campo 100 intersecções). 29 Figura 8.Esquema de análise histomorfométrica de quantificação de estruturas por meio de retículo acoplado á ocular. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: A direita, na objetiva de 40x é possível observar a área da malha retícular com um total de cem intersecções previamente estabelecidas (cruzamento de 10 linhas e 10 colunas), sendo contabilizada cada estrutura encontrada sob as intersecções delimitadas; A esquerda, esquema mostra o posicionamento reticular adotado sobre o quarto corte semi-seriado (diâmetro total) da matriz colágena suína. Análise de Birrefringência A formação e maturação das fibras colágenas ao redor da matriz após a colocação do biomaterial (Mucograft®) foi analisada por meio da análise de birrefringência com PicrosiriusRed e observada sob luz polarizada. De cada amostra do grupo Teste foram obtidos 7 cortes semi-seriados de 0,004 mm de espessura e com 0,9 mm de intervalo entre eles, corados pela técnica do PicrosiriusRed.Utilizou-se o quarto corte semi-seriado que contemplava a totalidade do diâmetro do biomaterial para observar a intensidade de birrefringência das fibras colágenas promovidas através de uma lente polarizada acoplada a um fotomicroscópio binocular (Nikon Eclipse 80i; Nikon Instruments INC. 1300 Walt Whitman Road, Melville, NY 11747-3064, USA). Foram capturadas 8 imagens por corte semi-seriado, sendo uma imagem 30 referente ao lado direito, uma do lado esquerdo, 3 imagens da área superior e finalmente, 3 imagens da área inferior da matriz de modo a abranger quase que integralmente o corte histológico relacionado ao tecido conjuntivo ao redor do biomaterial (Figura 9). Em objetiva de 20x foi visualizada mais adequadamente as fibras colágenas no tecido em reparação ao redor do biomaterial, desde as mais finas (emitindo birrefringência na tonalidade verde) até as mais espessas (emitindo birrefringência na tonalidade amarela e vermelha). Uma vez definida uma quantidade ótima de luz no microscópio óptico para visualização das fibras e o ângulo da lente polarizada (90 graus em relação a fonte de luz do microscópio), todas as imagens foram capturadas com os mesmos parâmetros (formato de cor RGB 24 pixels, tamanho 1024X768 pixels) e salvas em arquivo de formato TIFF, em alta resolução (300 dots/inch- DPI). Figura 9. Esquema de áreas analisadas para a quantificação de fibras colágenas em coloração PicrosiriusRed Fonte: Elaborado pela autora. Legenda: Quarto corte semi-seriado com matriz colágena suína (maior diâmetro) e suas respectivas áreas de captura de imagem a fim de abranger uma área de análise e quantificação de fibras colágenas coradas com PicrosiriusRed. A quantificação de intensidade do brilho de birrefringência foi realizada utilizando o Software Image-Pro® Plus (version 5.1.2 for Windows XP; Media Cybernetics, INC. 8484 Georgia Avenue, Suite 200, Silver Spring, MD 20910 31 USA). Inicialmente foram definidos os espectros da cor verde, amarela e vermelha, seguindo valores de RGB (Red, Green e Blue) e estabelecidas suas respectivas marcações de contraste (amarelo, verde e azul) as quais foram padronizadas para todas as imagens capturadas. Por se tratar de uma análise subjetiva foi necessário um treinamento prévio para calibração do examinador referente à percepção dos espectros de cores e seus respectivos contrastes. Uma vez capturada a imagem, cada espectro de cor emitido era marcado por seu contraste, com auxílio de uma ferramenta de seleção manual presente no software. As fibras mais finas e imaturas emitiam espectro verde e eram marcadas por contraste amarelo, já as fibras intermediárias emitiam espectro que variava de amarelo a alaranjado sendo coradas de modo contrastante em verde, por fim as fibras mais espessas e maduras emitiam espectro vermelho sendo suas marcações feitas em azul (Figura 10). Uma vez que todas as fibras eram devidamente marcadas com seus contrastes, o software realizava a quantificação dos tipos de fibras encontradas bem como o valor total destas estruturas presente em cada imagem, sendo segregadas de tais quantificações as fibras constituintes da matriz, uma vez que a área do biomaterial ainda que capturada nas imagens era delimitada e excluída. Figura 10. Seleção de espectros e contrastes para análise de birrefringência 32 Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: Quantificação dos diferentes tipos de fibras colágenas a partir da coloração de contraste aplicada a cada espectro. Em amarelo estão marcadas as fibras colágenas de birrefringência verde (mais finas e menos maduras). Em verde estão marcadas as fibras colágenas de birrefringência amarela/alaranjadas (fibras intermediárias). ANÁLISE ESTATÍSTICA Após a obtenção dos dados, foram realizadas análises quanto às suas distribuições. Quando os dados apresentaram distribuição normal, testes paramétricos foram selecionados. Neste estudo, comparações entre múltiplos grupos experimentais foram realizadas empregando o teste estatístico one-way ANOVA complementado pelo teste de Tukey (distribuição Gaussiana) e Dunns (quando os dados não apresentaram distribuição não normal). Quando análises entre apenas dois grupos ou amostras se mostraram necessárias, foi utilizado o teste “t” student. No caso de distribuição não normal dos dados, os testes de Kruskal-Wallis, seguido pelo teste de Dunns ou Mann-Whitney foram utilizados. Possíveis correlações foram analisadas através de regressão linear ou do teste de Pearson. Todos os testes estatísticos foram avaliados ao nível de significância de 5% (p<0.05) e foram aplicados através dos programas GraphPad InStat e Prism7 (GraphPad, San Diego, CA). RESULTADOS Cinética de resposta e reabsorção da matriz colágena suína (Mucograft®) em camundongos Balb/c Durante a fase inicial do experimento, foi realizada implantação da matriz colágena suína em tecido subcutâneo da região dorsal de camundongos Balb/c nos períodos experimentais de 3, 9 e 21 dias para posterior análise da resposta tecidual, tempo de permanência e processo de reabsorção do biomaterial implantado. Na fase subsequente, avaliou-se a possível imunogenicidade da matriz colágena por meio da sua reimplantação no período experimental de 9 dias após o segundo procedimento cirúrgico. Os resultados encontrados estão abaixo elucidados. 33 Análise histomorfométrica De acordo com a análise morfológica descritiva dos cortes histológicos observa-se que o grupo experimental de 3 dias (Figura 11- A1 e A2) apresenta uma grande conservação do biomaterial implantado, uma vez que a matriz se encontra praticamente íntegra, com pequenos e raros pontos de degradação. É possível verificar ainda a presença de um infiltrado inflamatório, contudo tal infiltrado é ainda inicial, limitando-se a uma pequena área adjacente a matriz. Em 9 dias (Figura 11- B1 e B2) nota-se sinais de reabsorção ao longo de toda extensão do biomaterial, com aumento expressivo do infiltrado inflamatório e numerosas células polimorfonucleares nas regiões de borda, bem como na região central, ainda que em menor quantidade. Próximo aos pontos menos preservados, encontramos células mononucleares além de células gigantes multinucleadas destacando-se a presença de uma cápsula fibrosa de tecido conjuntivo circundando a matriz e segregando-a do tecido conjuntivo frouxo da região. No tempo experimental de 21 dias (Figura 11- C1 e C2) a matriz encontra-se em estágio mais avançado de degradação com poucos remanescentes preservados. Neste período observa-se um aumento do número de células gigantes multinucleadas que se acumulam ao redor dos esparsos pontos ainda não totalmente degradados, eleva-se a quantidade de infiltrado inflamatório na região central da matriz, além da presença de fibroblastos e fibras compondo o tecido conjuntivo ao redor do material implantado. 34 Figura 11. Fotomicrografia de tecido subcutâneo de camundongo Balb/c submetido à implantação de matriz colágena suína. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: A1 e A2) 3 dias, matriz praticamente íntegra com presença de infiltrado inflamatório. B1 e B2) 9 dias, sinais de reabsorção da matriz, infiltrado inflamatório com células mononucleares e presença de cápsula de tecido conjuntivo fibroso ao redor do biomaterial. C1 e C2) 21 dias, reabsorção da matriz em fase adiantada, com poucos pontos preservados. Matriz (*); áreas de reabsorção da matriz (cabeça de seta preta); cápsula de tecido conjuntivo fibroso (seta vermelha); células gigantes multinucleadas (cabeça de seta vermelha). Objetivas de 10x e 40x. HE. No grupo submetido à implantação sequencial da matriz a eutanásia foi realizada no período de 9 dias posteriores ao processo de reimplantação. De acordo com a análise histológica descritiva, observou-se a presença de uma cápsula fibrosa espessa associada a uma quantidade mais expressiva de infiltrado inflamatório ao redor da matriz. Verificou-se ainda a presença de 35 células gigantes multinucleadas nas áreas de borda mais degradadas do material, porém, tais células se encontravam em maior número quando comparadas ao período experimental de 9 dias com implantação única. Notouse também a presença de polimorfonucleares compondo grande parte do infiltrado (Figura 12- A1 e A2). O biomaterial encontrava-se menos degradado, com menores áreas de reabsorção situadas principalmente nas bordas. Já sua porção central manteve a integridade semelhante ao período de 3 dias com implantação única. Figura 12. Fotomicrografia de tecido subcutâneo de camundongo Balb/c comparando implantação única e implantação sequencial da matriz colágena suína no período de 9 dias. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: A1 e A2) matriz 9 dias após o segundo procedimento cirúrgico de implantação, comparação entre as objetivas de10 e 40x, respectivamente. B1) matriz 9 dias após o primeiro procedimento cirúrgico (implantação única) com objetiva de 40x. B2) matriz 9 dias após o segundo procedimento cirúrgico (implantação sequencial) com objetiva de 40x, nota-se sinais de reabsorção associados às áreas de borda, porém observa-se uma maior integridade do biomaterial quando comparado com o período de 9 dias de implantação única. Destaca-se a presença de infiltrado inflamatório predominantemente formado por células mononucleares em 9 dias implantação única.Matriz (*); áreas de reabsorção da matriz (cabeça de seta preta); cápsula de tecido conjuntivo fibroso (seta vermelha); células gigantes multinucleadas (cabeça de seta vermelha). 36 De acordo com a análise morfométrica por planimetria, a área da matriz e seu percentual de reabsorção nos períodos de 3, 9 e 21 dias foram analisados pelo sistema digital de observação de imagens (Image-Pro® Plus version 5.1.2 for Windows XP; Media Cybernetics, INC. 8484 Georgia Avenue, Suite 200, Silver Spring, MD 20910 USA). No período inicial de 3 dias, a área da matriz mostrou-se bastante preservada (área 1469,22 mm2), porém no decorrer do tempo, 9 dias (área 1158,78 mm2) e 21 dias (área 1073,10 mm2) houve uma crescente elevação na taxa de reabsorção do biomaterial com uma consequente diminuição da área (Figura 13). Figura 13. Cinética de resposta e reabsorção de matriz colágena suína em camundongos Balb/c. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: Avaliação morfométrica (análise por planimetria) dos cortes com diâmetro total da matriz (quarto corte semi-seriado de cada período experimental) corados pela técnica de HE, 2 quanto à área da matriz (µm ) nos tempos de 3, 9 e 21 dias. Letras diferentes indicam valores estatisticamente diferentes entre os grupos analisados (p<0.05). Em análise descritiva, o grupo que recebeu a reimplantação da matriz apresentou poucos pontos de degradação do biomaterial, sendo sua integridade de área visualmente semelhante ao período de 3 dias com implantação única. Contudo, os valores assumidos pela análise histomorfométrica demonstram que a cinética de reabsorção da matriz ocorreu 37 de maneira similar tanto para o grupo de implantação única (área 1158,78 mm2) como no de implantação sequencial (área 1446,83 mm2) no período de 9 dias, não havendo, portanto, diferenças significativas entre os grupos em relação à área reabsorvida,não apresentando um padrão diferenciado na cinética de reabsorção (Figura 14). Figura 14. Cinética de resposta e reabsorção de matriz colágena suína em camundongos Balb/c: implantação única x sequencial. Fonte: Elaborada pela autora Legenda: Avaliação morfométrica (análise por planimetria) dos cortes com diâmetro total da matriz (quarto corte semi-seriado de cada período experimental) corados pela técnica de HE, 2 quanto à área da matriz (µm ) nos tempos 9 dias implantação única e 9 dias implantação sequencial (após o segundo procedimento cirúrgico). Letras diferentes indicam valores estatisticamente diferentes entre os grupos analisados (p<0.05). Por meio da análise histomorfométrica foram avaliadas e quantificadas as estruturas envolvidas no processo inflamatório tais como vasos sanguíneos, número de coágulo, (polimorfonucleares, fibroblastos, linfócitos e fibras macrófagos) e nos células inflamatórias diferentes períodos experimentais de 3, 9 e 21 dias. A densidade de volume de coágulo e vasos sanguíneos não sofreram modificações expressivas em todos os tempos experimentais, entretanto o número de vasos apresentou um discreto aumento no período de 21 dias já a quantificação de coágulo teve sua maior 38 representatividade em 3 dias (Figura 15). Quando quantificado o número de fibroblastos observa-se um aumento deste tipo celular a partir do período de 9 dias, não havendo diferenças significativas com o grupo de 21 dias. Salienta-se que na quantificação de fibra em coloração por Hematoxilina e Eosina não foi observada diferença significativa entre o grupo experimental de implantação única e o grupo de implantação sequencial no período de 9 dias(Figura 15). Em análise por PicrosiriusRed, nota-se um maior número de fibras nos tempos de 21 e 9 dias, respectivamente, sendo os valores assumidos pelo grupo de implantação sequencial (9 dias) estatisticamente semelhantes aos encontrados no grupo de implantação única no período de 3 dias (Figura 17) O número de coágulo e vasos sanguíneos encontrados foi superior no grupo de implantação sequencial quando comparado ao período de 9 dias com o grupo de implantação única, contrapondo o número de fibroblastos, que no período de 9 dias em implantação única exibiu valores duas vezes maiores que no mesmo período em implantação sequencial (Figura 15). 39 Figura 15. Densidade de volume (valores absolutos) de vasos, coágulos, fibroblastos e fibras em camundongos Balb/c. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: Implantação de matriz colágena suína nos períodos de 3, 9 e 21 dias, nos cortes corados pela técnica de HE. Letras diferentes indicam valores estatisticamente diferentes entre os períodos experimentais analisados (p<0.05). O número de fibras aumentou gradualmente ao longo dos períodos experimentais alcançando valores mais expressivos em 21 dias. Tais resultados foram confirmados por meio da coloração em PicrosiuriusRed, onde foi possível detectar e mensurar os tipos de fibras colágenas existentes no tecido ao redor da matriz. Assim, no período de 3 dias observa-se uma menor quantidade de fibras quando comparadas ao período de 9 e 21 dias, respectivamente. Verificou-se ainda que o tipo de colágeno e organização estrutural das fibras sofreu alterações ao longo dos tempos experimentais, 40 onde no período de 3 dias tínhamos uma presença mais acentuada de fibras imaturas (aquelas coradas pelo espectro verde e contrastadas em amarelo para permitir a contabilização) quando comparadas ao período de 9 e 21 dias(Figura 16). Figura 16. Fotomicrografia de tecido subcutâneo de camundongo Balb/c adjacente à matriz colágena suína. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: A1) matriz 3 dias após o procedimento cirúrgico de implantação. A2) matriz 9 dias após o primeiro procedimento cirúrgico. A3) matriz 21 dias após o primeiro procedimento cirúrgico A4) matriz 9 dias após o segundo procedimento cirúrgico de implantação. Matriz (*); Objetiva: 20 x. PicrosiriusRed. A dinâmica de maturação das fibras colágenas ocorreu de maneira crescente, onde no período de 21 dias foi observado maior número de fibras maduras (aquelas coradas pelo espectro vermelho e contrastadas em azul para permitir a contabilização). As fibras de organização estrutural intermediária (aquelas coradas em espectro alaranjado e/ou amarelado e contrastadas em verde para permitir a contabilização) se mantiveram constantes durante todo o 41 processo de reparo tecidual, sendo elas uma ponte entre as fibras imaturas e fibras com organizações estruturais complexas (Figura 17). Figura 17. Densidade de volume (valores absolutos) de fibras colágenas ao redor da matriz colágena suína compondo o tecido subcutâneo de camundongos Balb/c e seus respectivos perfis de maturação colágena nos diferentes tempos experimentais. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: implantação de matriz colágena suína nos períodos de 3, 9 e 21 dias, nos cortes corados pela técnica de PicrosiriusRed afim de acompanhar a maturação das fibras colágenas e contabilizar seus valores em cada grupo. As cores verde, amarelo e vermelho representam o espectro emitido por cada tipo de fibra colágena, sendo as fibras imaturas verdes, as intermediárias alaranjadas/amareladas e as maduras vermelhas. Letras diferentes indicam valores estatisticamente diferentes entre os períodos experimentais analisados (p<0.05). O número de células inflamatórias encontradas foi estatisticamente igual nos períodos de 3, 9 e 21 dias no grupo de implantação única. Entretanto, no período de 9 dias com implantação sequencial obtivemos um número superior de células inflamatórias compondo o infiltrado, indicando um processo inflamatório mais acentuado na segunda colocação do biomaterial (Figura 42 18).Já o fato dos valores assumidos nos períodos de 3, 9 e 21 de implantação única serem estatisticamente iguais demonstra a equidade do processo inflamatório no decorrer do tempo. Figura 18. Densidade de volume (valores absolutos) de células inflamatórias encontradas em camundongos Balb/c. Fonte: Elaborada pela autora Legenda: implantação de matriz colágena suína nos períodos de 3, 9 e 21 dias, nos cortes corados pela técnica de HE afim contabilizar a células inflamatórias presentes no infiltrado. Em preto, valores assumidos pelos diferentes períodos de implantação única. Em cinza, valores referentes às células inflamatórias encontradas no período de 9 dias de implantação sequencial. Letras diferentes indicam valores estatisticamente diferentes entre os períodos experimentais analisados (p<0.05). Ao analisarmos os valores encontrados para a quantificação de células inflamatórias nos diferentes grupos (Controle, Sham e Teste) nota-se que o grupo Teste, ou seja, o tecido que recebeu a matriz, apresenta um maior número de células inflamatórias contabilizadas quando comparado ao grupo Sham e Controle em todos os períodos experimentais (Figura 19).Já os valores encontrados para o grupo Sham, ou seja, o tecido sob influência do procedimento cirúrgico (incisão/divulsão/sutura), são superiores aos assumidos pelo grupo Controle nos períodos experimentais de 3 e 9 dias, demonstrando que independentemente do biomaterial, o procedimento cirúrgico também desencadeia uma reação inflamatória local, contudo tal reação foi menor que a provocada pela implantação da matriz. 43 Figura 19. Densidade de volume (valores absolutos) de células inflamatórias encontradas em camundongos Balb/c nos diferentes grupos experimentais (Teste, Sham e Controle). Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: implantação de matriz colágena suína nos períodos de 3, 9 e 21 dias, nos diferentes grupos (Teste, Sham e Controle) em cortes corados pela técnica de HE afim contabilizar a células inflamatórias presentes no infiltrado. Letras diferentes indicam valores estatisticamente diferentes entre os grupos experimentais analisados (p<0.05). DISCUSSÃO Nos últimos anos, muito se avançou no campo da engenharia tecidual e da biotecnologia possibilitando a utilização de diversos materiais para reparo ou mesmo substituição de tecidos e/ou funções perdidas por traumas, doenças ou em decorrência do processo natural de envelhecimento do organismo (MIGUEZ-PACHECO et al., 2015). Com o aumento da expectativa de vida da população, os biomateriais se tornaram importantes ferramentas para promoção da qualidade de vida, uma vez que se associam desde pequenos 44 reparos estéticos ao reestabelecimento da capacidade funcional de órgãos e tecidos danificados (BAINO et al., 2015). Em razão da crescente demanda e do rápido desenvolvimento tecnológico, todos os dias novos materiais surgem no mercado cabendo a ciência dos biomateriais elucidar os processos que compõem a resposta biológica frente à implantação destes dispositivos, bem como sua interação com o sistema imune do organismo receptor. O biomaterial aplicado como objeto deste estudo, a matriz colágena suína (Mucograft®) está disponibilizado comercialmente desde 2009 sendo amplamente empregado na prática clínica para a reconstrução e fechamento de alvéolos, recobrimento radicular e ósseo, aumento da mucosa queratinizada ao redor de dentes e implantes, além de outros procedimentos de reparo tecidual como substituto a enxertos de tecido conjuntivo autógeno em casos de recessão gengival (SANZ et al., 2009; FROUM et al., 2015). Entretanto, mesmo com suas aplicações clínicas bem estabelecidas há na literatura poucos trabalhos que contemplem aspectos histológicos e moleculares da interação do sistema biomaterial/hospedeiro pós-implantação da matriz colágena suína. Em vista disto, essa discussão será conduzida sem o propósito de comparar diferentes biomateriais, resultados ou metodologias, mas sim, relacionar a resposta imune e inflamatória frente à implantação da matriz colágena suína com os resultados obtidos, desde a sua implantação, processo de reabsorção e reparo dos tecidos e estruturas envolvidas. Para compreensão do comportamento do organismo pós-implantação do biomaterial, avaliou-se a resposta imune, inflamatória e os possíveis processos relacionados a cinética de reabsorção da matriz colágena suína inserida no tecido subcutâneo dorsal de camundongos Balb/c, avaliando-se parâmetros histomorfométricos. Foram utilizados como modelo experimental camundongos adultos (8 semanas) da linhagem Balb/c, sendo esta escolha baseada em critérios como a semelhança tecidual entre camundongos e humanos; acelerado metabolismo, permitindo a observação de resultados em um menor período de tempo; disponibilidade de obtenção dos animais em biotério confiável próximo 45 à universidade, diminuindo o estresse causado pelo deslocamento até o local de experimentação e assegurando a sanidade dos animais; além do baixo custo de manutenção e praticidade no manuseio (OERTELT-PRIGIONE et al., 2011). Adicionalmente, para garantir à eficácia dos resultados apresentados, foram selecionados para o estudo apenas camundongos machos uma vez que as fêmeas possuem um ciclo estral curto (4-5 dias) sofrendo importantes variações hormonais que podem influenciar direta ou indiretamente nas respostas imune e inflamatória. Salienta-se a importância de que todos os animais possuíam idade e peso corpóreo similar, já que tanto a idade como fatores nutricionais também influenciam na fisiologia do organismo, afetando nossas variáveis, resposta imune e inflamatória (CHORILLI et al., 2007). Em associação aos critérios já mencionados é estabelecido que camundongos são modelos experimentais de utilização bem consolidada na área de imunologia pela facilidade em realizar manipulações genéticas que determinam a expressão ou ausência de determinados fatores relacionados aos mecanismos da resposta imunológica. Desta forma, é possível estabelecer relações de causa e efeito, suprimir ou aperfeiçoar o sistema imune e avaliar com maior precisão os processos envolvidos no reparo tecidual em homeostase (KORPI et al., 2009; TOMOMATSU et al., 2009), aspectos esses, importantes para a condução de futuros desdobramentos desta pesquisa. Para melhor avaliação dos processos fisiológicos abordados nesta discussão é necessário primeiramente definirmos algumas terminologias relacionadas ao processo de recuperação tecidual. Assim, ressalta-se que o reparo e a regeneração tecidual são dois processos distintos, porém igualmente complexos. O reparo tecidual envolve um grande número de células e mediadores capazes de regular o processo de cicatrização, que na maioria das lesões ocorre pela formação de um tecido fibroso, sintetizado principalmente por fibroblastos e denominado cicatriz (AARABI et al., 2007). Deste modo, o tecido reparado, é constituído por um tecido conjuntivo semelhante ao tecido originalmente lesionado em forma e função, ainda que considerados tecidos diferentes (RUH et al., 2013). Já o processo de regeneração tecidual, preconiza a substituição de células mortas ou danificadas por novas células exatamente idênticas às originais, sendo a 46 restituição tecidual total e de idêntica morfologia e funcionalidade ao tecido anteriormente lesionado (MESCHER & NEFF, 2005). Mesmo sendo atribuído a quase todos os seres vivos, o processo de regeneração depende da complexidade tecidual do organismo, sendo que espécies com uma maior quantidade de tecidos diferenciados têm uma menor capacidade regenerativa (KNAKIEVICZ, 2007). Nos mamíferos a capacidade de regeneração tecidual é bastante limitada e quase que exclusiva a alguns tecidos, como por exemplo, o tecido hepático, que pode se regenerar em até 70% (MESCHER & NEFF, 2005). Portanto, apresentadas as definições e evidenciadas as dificuldades que envolvem a regeneração tecidual, os processos aqui esclarecidos se relacionam ao reparo tecidual frente à implantação da matriz colágena suína. Biomateriais a base de colágeno, atualmente vêm sendo empregados em inúmeros procedimentos odontológicos. As matrizes (‘scaffolds’) a fim de recuperar/guiar tecidos perdidos, enquanto as membranas atuam como barreiras físicas à invasão precoce de tecidos indesejáveis (SCHALLHORN et al ., 2015; COSTA et al., 2016). Para o reparo de tecidos moles no tratamento de recessões gengivais e aumento da mucosa queratinizada, o enxerto autógeno de palato ainda é considerado padrão ouro, contudo essa técnica apresenta limitações significativas quanto à dimensão da área a ser reparada, maior área cirúrgica (leito doador/receptor) e maior morbidade pós-operatória (NEVINS et al., 2011; RAMALINGAM et al., 2016). Assim, a utilização de biomateriais que atendam tais limitações promove maior conforto ao paciente proporcionando uma quantidade ilimitada de material, em caso de múltiplas recessões, e aumentam as chances de sucesso clínico. Analisando ainda os aspectos biológicos, a utilização das matrizes colágenas é bastante viável, já que o colágeno exógeno, por se assemelhar aos componentes da matriz extracelular, é capaz de promover a hemostasia e quimiotaxia de granulócitos, macrófagos e fibroblastos, sendo esses elementos essenciais para o processo de cicatrização e reparo tecidual (LEE et al., 2001) A matriz colágena suína (Mucograft®) é composta por colágeno do tipo I e III, sendo essas formas comumente empregadas em dispositivos e aplicações médicas em razão de suas propriedades de biodegradação e biocompatibilidade (SANZS et al., 2009). O colágeno tipo I é um dos principais 47 constituintes do tecido conjuntivo de mamíferos, representando 30% do total de proteínas presentes nestes animais (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2013). Na confecção de biomateriais, o colágeno pode vir de diversas fontes naturais ou exógenas. Neste estudo, o biomaterial utilizado tem como fonte colágena fragmentos epiteliais suínos, purificados e tratados sem adição de glutaraldeído para obtenção de sua forma estrutural ativa. A ausência de glutaraldeído favorece a baixa antigenicidade do biomaterial, pois, tais tratamentos químicos, ainda que fortaleçam a conformação estrutural da matriz, geram resíduos passíveis de provocar alergias e outras reações imunológicas (SPEER et al., 1979; SPEER et al., 1980; HUC, A. 1985). Após a implantação da matriz de colágeno suíno (Mucograft®) nos tempos experimentais de 3, 9 e 21 dias observou-se a resposta tecidual, o tempo de permanência e o processo de reabsorção deste biomaterial. A análise histológica descritiva demonstrou resultados inicialmente esperados, tais como a ocorrência de um processo inflamatório ameno logo após a implantação da matriz, com infiltrado caracterizado pela presença de numerosas células mononucleares. No decorrer do tempo, a reabsorção da matriz transcorreu de maneira gradativa, acompanhada de mudanças na composição do infiltrado inflamatório. No período de 9 e 21 dias, tal infiltrado apresentava um grande número de células gigantes multinucleadas associadas às regiões de borda da matriz, local primariamente povoado por leucócitos. Além disto, destaca-se a presença de fibroblastos, associados ao aparecimento progressivo de uma cápsula fibrosa adjacente ao biomaterial. Verificou-se ainda, que no período experimental de 9 dias, o número de células gigantes multinucleadas encontradas era superior ao de 21 dias, indicando o pico de resposta inflamatória neste período. Resultados semelhantes são encontrados ao analisarmos a implantação de outros biomateriais capazes de formar sistemas biocompatíveis (ANDERSON, JM et al., 2008). Assim, a reação provocada pela inserção de tais materiais ocorre de maneira acentuada nos períodos iniciais sendo posteriormente caracterizada por respostas imunológicas de baixa magnitude ao longo do processo de reabsorção, sendo que em geral, tais respostas não têm potencial para causar ônus consideráveis ao receptor (ANDERSON, JM et al., 2008). 48 A presença da resposta inflamatória, ainda que pouco expressiva, corrobora com o conceito de que nenhum biomaterial pode ser considerado inerte uma vez que todos têm a capacidade de induzir respostas advindas do sistema imune do organismo no qual ele foi inserido. Todavia, a biocompatibilidade do material se relaciona com seu potencial imunogênico, ou seja, a intensidade das reações inflamatórias causadas por sua implantação deve ser amena. Além disso, a velocidade com que tais reações ocorrem devem ser atentamente avaliadas, pois respostas imunológicas exacerbadas por um grande período de tempo resultam em gasto energético, dano tecidual e prejuízos ao organismo por romper a homeostasia (WILLIAMS et al ., 2015). Em análise morfológica quantitativa, o período experimental de 3 dias pós-implantação da matriz colágena suína, apresentou sinais evidentes da formação de um processo inflamatório, como aumento no número de células inflamatórias mononucleares ao redor do biomaterial implantado, proliferação de células endoteliais e manifestação de polimorfonucleares compondo o infiltrado, associados a raros pontos de degradação do material (área 1469,22 mm2). Ao longo do tempo verificou-se mudanças no perfil da inflamação acompanhadas do processo de reabsorção da matriz. O período de 9 dias (área 1158,78 mm2)apresentava um infiltrado bem mais expressivo estendendo-se por toda dimensão do material, com um grande número de células mononucleares, presença de células gigantes multinucleadas e aumento na porcentagem de polimorfonucleares contabilizados. O número de fibras encontradas foi superior no período de 21 dias (área 1073,10 mm2) quando comparado aos demais tempos experimentais. Ao analisarmos às fibras colágenas em PicrosiriusRed, observou-se uma maturação gradativa, onde o período de 3 dias apresentava um maior número de fibras imaturas, o de 9 dias fibras intermediárias e finalmente, o período de 21 dias com um grande número de fibras colágenas maduras, atestando as mudanças na organização tecidual local. Associado ao crescente número de fibras, tal período (21 dias) foi marcado por uma redução no infiltrado inflamatório, localizando-se apenas ao redor dos raros pontos preservados da matriz ou ainda adjacente a cápsula fibrosa, que nesse período se encontrava bem menos espessa. As células gigantes multinucleadas, agora em maior número, 49 concentravam-se nas áreas ainda não degradadas do material, sendo raramente acompanhadas por polimorfonucleares. O sucesso da implantação da matriz colágena suína está diretamente associado ao seu tempo de reabsorção, pelo fato de que o processo de reparo tecidual ocorre de maneira gradativa ao longo do período de cicatrização. A cinética de reabsorção do biomaterial relaciona-se com os mecanismos imunes e inflamatórios, pois algumas células inflamatórias e citocinas são responsáveis por modular a degradação do colágeno. A literatura relata um aumento relevante no número de macrófagos no decorrer de um processo inflamatório crônico, sendo essas células de grande importância para liberação e ativação de citocinas e outros mediadores capazes de modular à resposta imune causada pela inserção do biomaterial. As funções exercidas pelos macrófagos vão depender da via de ativação destas células, onde macrófagos ativados por citocinas derivadas de Th1 (via clássica) se relacionam à degradação da matriz; macrófagos ativados por subprodutos de Th2 (via de cicatrização) promovem a diminuição de citocinas pró-inflamatórias que auxiliam no processo de reparo tecidual; e por fim, macrófagos ativados por complexos imunes (via regulatória) secretam citocinas anti-inflamatórias responsáveis por finalizar o processo de reparo e reabsorção, sendo em geral, as três vias atuantes de modo simultâneo no decorrer do processo inflamatório (ANDERSON, JM et al., 2008). Uma vez implantado o material, macrófagos são recrutados para o sítio implantação e por quimiotaxia ativam e agregam-se a outros macrófagos em uma fusão resultante em células gigantes multinucleadas, sendo que tais células se encarregam pela degradação da matriz por meio de processos fagocitários e estão presentes, ainda que em menor número, até a completa reabsorção do biomaterial, como visto no período de 21 dias. As células gigantes são responsáveis também por expressar citocinas que ativam e modulam a atuação de neutrófilos, o que explicaria a presença de polimorfonucleares próximos as regiões onde as células gigantes estavam localizadas, ainda que um processo inflamatório crônico já tivesse sido instaurado (ABBAS AK., 2012). 50 A reabsorção do biomaterial ocorre em ambiente extracelular e é mediada por colagenases séricas (elastase, catepsina C e proteinase neutra) e metaloproteinases, moduladas por citocinas produzidas a partir de células endoteliais, fibroblastos e células inflamatórias (WILLIAMS et al., 2015). Portanto, a presença acentuada de fibroblastos e células inflamatórias a partir do período de 9 dias pode se associar diretamente à evolução no processo de degradação da matriz. Sabe-se ainda, que as metaloproteinases exercem papel fundamental na remodulação do colágeno através da hidrólise de componentes da matriz extracelular, liberando fatores de crescimento e citocinas que atuam sobre a constituição do biomaterial. Ademais, estudos demonstram que macrófagos e células gigantes aderidos ao biomaterial são capazes de sintetizar tais metaloproteinases (MMP-9, MMP-1, MMP-8 e MMP13), sugerindo que o aparecimento das células gigantes multinucleadas aceleraria o processo de degradação do material (JONES et al., 2008), como visto a partir do período de 9 dias. Conhecer os componentes e mecanismos imunológicos que atuam sobre o biomaterial pós-implantação propiciam ao cirurgião dentista maior segurança na escolha deste material. Desta forma, o experimento de reimplantação da matriz colágena suína é fundamental para solucionar questões do ponto de vista clínico, uma vez que partimos do pressuposto que uma segunda exposição geraria respostas imunológicas mais rápidas e de maior expressividade que podem comprometer a previsibilidade do biomaterial. Na prática clínica, algumas patologias podem exigir múltiplas exposições do paciente ao material em decorrência de lesões ao longo do tempo, como no caso da doença periodontal. A doença periodontal é definida como diferentes processos patológicos que afetam o periodonto de proteção e de sustentação (PION et al., 2006), podendo ser subdividida em duas entidades principais: a gengivite, forma mais moderada da doença que acomete apenas o periodonto de proteção, e a periodontite, forma patológica mais severas que acomete o ligamento periodontal, cemento e osso alveolar (THE ACADEMY OF PERIODONTOLOGY, 2001). O Biofilme bacteriano de Porphyromonas gingivalis e Aggregatibacter actinomycetemcomitans é considerado um dos fatores etiológicos primários das doenças periodontais, contudo, a severidade 51 da destruição tecidual está intimamente relacionada à resposta imune e inflamatória do hospedeiro (SHLEZINGER et al., 2016).Assim, em quadros mais avançados da doença, não é incomum que o paciente seja submetido a várias colocações do biomaterial como alternativa de reparo tecidual (SCHMITT et al., 2015). Tendo em vista o conceito de antigenicidade, um material só pode ser classificado sendo de natureza não imunogênica a determinado antígeno quando previamente exposto a uma sensibilização inicial e submetido à uma segunda exposição subsequente ao mesmo antígeno, não apresentando respostas imunológicas exacerbadas na segunda exposição (ABBAS AK., 2012). Desta forma, acreditávamos que o procedimento de reimplantação do biomaterial geraria respostas inflamatórias mais ávidas, uma vez que o sistema imune já estava previamente ativado. Ao comparar o período de 9 dias de única implantação com o mesmo período de implantação sequencial, nota-se um aumento significativo no número de células inflamatórias encontradas, sugerindo uma resposta inflamatória mais acentuada na implantação posterior. Em análise descritiva, observou-se a presença mais evidente de células gigantes multinucleadas associadas ás áreas de bordas no período de 9 dias com implantação sequencial, ratificando a ideia de um processo inflamatório de maiores proporções gerado pela segunda inserção do material. A partir de tais evidências, ao analisarmos a cinética de reabsorção da matriz colágena suína esperávamos encontrar menores valores de área no grupo que recebeu a implantação sequencial do biomaterial. Isto porque, o grande número de células inflamatórias implicaria no aumento da produção de citocinas e outros mediadores químicos, capazes de promover a degradação da matriz mais avidamente em razão da prévia ativação do sistema imune na primeira colocação. Todavia, não identificamos diferenças significativas em relação aos valores de área obtidos no procedimento de implantação única (área 1158,78 mm2) comparados com de implantação sequencial (área 1446,83 mm2), ambos no período de 9 dias. Ou seja, ainda que possuísse um processo inflamatório 52 incontestavelmente mais expressivo, o grupo que recebeu a recolocação do material não demonstrou aumento na velocidade de degradação da matriz. Em um trabalho semelhante, Silveira (2012), ao analisar a biocompatibilidade de membranas reabsorvíveis de colágeno bovino, também verificou um aumento no número de células inflamatórias mononucleares e células gigantes multinucleadas, presentes nos grupos que receberam duas implantações do material (período de 3 e 9 dias). Contudo, ao analisar a cinética de reabsorção da membrana, obteve resultados divergentes aos nossos, já que os valores de áreas encontrados para os grupos de implantação sequencial foram significativamente menores aos valores assumidos pelos grupos de implantação única nos mesmos períodos de tempo, sustentando a ideia de que o processo de implantação sequencial acelera a degradação do biomaterial. Discutir essas disparidades de resultados é bastante complexo visto que na literatura são raros os trabalhos que contemplam aspectos moleculares e histológicos da reação inflamatória pós-implantação do biomaterial. Entretanto, nossos resultados também enfatizam que a implantação sequencial gera sim um aumento na intensidade e velocidade de evolução da resposta imune e inflamatória ainda que tal aumento não tenha demonstrado influência direta sobre a degradação da matriz. Cabe ressaltar, que embora ambos os materiais fossem à base de colágeno, existiam muitas diferenças entre eles. Silveira (2012) trabalhou com membranas colágenas bovinas utilizadas em substituição a barreiras não reabsorvíveis, sendo a estruturação na forma de membrana diferente da matriz aqui empregada. As matrizes colágenas por atuarem como scaffolds apresentam uma organização estrutural própria, sendo as fibras colágenas dispostas visando o suporte celular. Além disto, embora as proteínas colágenas sejam muito semelhantes em animais distintos, podem existir pequenas alterações entre elas. Deste modo, a comparação entre matrizes de colágeno suíno e membranas de colágeno bovino pode apresentar resultados diferentes, uma vez que cada biomaterial possui suas particularidades que irão influenciar em uma cinética de reabsorção singular. 53 A escolha dos períodos de tempo a serem analisados também parece ter grande importância na cinética de reabsorção do biomaterial e deve ser criteriosamente selecionada especificamente para os diferentes tipos de materiais. Silveira (2012) justifica a escolha do período de 9 dias baseado em estudos pilotos que determinaram este período como final do processo de degradação da membrana. Em nosso trabalho, as comparações da implantação única à sequencial no período de 9 dias também se basearam em resultados obtidos em estudo piloto. Entretanto, estes resultados indicaram tal período como crucial no início das mudanças no perfil da resposta inflamatória, seguido de aumento na taxa de degradação da matriz. Já no período de 21 dias, ainda que a resposta inflamatória tivesse presente, sua expressividade era menor e o biomaterial aparentava grandes áreas de degradação, sendo difícil sua identificação e manipulação até mesmo na coleta de tecido, anteriormente ao processamento histológico. Considerando-se os resultados aqui apresentados somados a literatura, cabe a estudos futuros estabelecer e comparar a influência de diferentes períodos experimentais (superior a 9 dias) na dinâmica de reabsorção da matriz afim de compilar novos dados que possam ser extrapolados para a prática clínica. Em síntese, para uma maior compreensão sobre como a matriz colágena suína é capaz de induzir respostas do sistema imune é preciso nos atentar para questões muito mais complexas do que as propriedades físicoquímicas do biomaterial e do sítio de sua implantação. Ainda que se tenha poucas informações na literatura, o envolvimento de padrões moleculares relacionados a patógenos (PAMPs), padrões moleculares relacionados ao dano (DAMPs) e endotoxinas podem determinar a intensidade e velocidade das reações imunológicas, por consequência determinar a cinética de reabsorção da matriz (ABBAS AK., 2012). Atentos a isto, todo o procedimento de manipulação e recorte das matrizes foi realizado em câmara de fluxo com esterilização prévia por raios ultravioletas. O transporte do biomaterial até a sala de cirurgia e sua posterior inserção nos animais foi realizado com auxílio de instrumentais estéreis, em ambiente limpo e controlado, na tentativa de evitar quaisquer contaminações por microrganismos que pudessem comprometer os resultados da pesquisa. Para mensurar a interferência do 54 próprio procedimento cirúrgico nas respostas imunes e inflamatórias, selecionamos em todos os animais uma porção tecidual submetida à incisão, divulsão e sutura (sem associação do biomaterial), sendo a ela atribuída à nomenclatura Sham. As análises do grupo Sham nos possibilitaram contabilizar aspectos inflamatórios (número de células, fibras, vasos sanguíneos, fibroblastos) relacionados apenas ao dano tecidual. Como parâmetros para discriminar a origem da reação inflamatória, comparamos nos mesmos animais áreas teciduais livres de quaisquer injúrias ou associação ao biomaterial (Grupo Controle), a áreas com a presença do biomaterial (Grupo Teste) e àquelas referentes ao Grupo Sham. Os resultados nos mostram não haver diferenças significativas entre o número de células inflamatórias encontradas no Grupo Teste nos períodos de 3, 9 e 21 dias de implantação única, confirmando a equidade do processo inflamatório no decorrer do tempo e o potencial biocompatível do material com o sistema em que ele foi implantado. Vemos ainda, que o número de células inflamatórias é superior no Grupo Teste (em todos os tempos experimentais) quando comparado ao Grupo Sham e Controle, respectivamente. Nos períodos de 3 e 9 dias, o número de células inflamatórias presentes no Grupo Sham difere significativamente do Grupo Controle, estando estas células relacionadas ao dano tecidual causado pelo procedimento cirúrgico e não pela inserção do material. Uma vez que no período de 21 dias pós-implantação ainda observamos no Grupo Teste um grande número de células contabilizadas (relacionadas ao processo inflamatório causado pelo biomaterial) e redução nos valores de Sham, sendo este estatisticamente igual ao grupo Controle. Diante destas informações ressaltamos a importância do desenvolvimento de estudos moleculares envolvendo não só a aplicação de biomateriais, mas análises que abordem também as reações provocadas pela injúria tecidual do procedimento cirúrgico e seus possíveis contaminantes. Sugerimos ainda, o aperfeiçoamento da literatura já existente por meio da associação de técnicas que possibilitem elucidar questões como: o impacto gerado com o tipo de material implantado, intensidade e duração dos processos inflamatórios e o papel dos mediadores envolvidos na promoção do 55 reparo tecidual, sendo o presente trabalho associado aos futuros resultados vindos das análises moleculares um pequeno passo nesta direção CONCLUSÕES A matriz colágena suína (Mucograft®) implantada em tecido subcutâneo da região dorsal de camundongos Balb/c apresenta uma cinética de degradação compatível com o aumento crescente na taxa de reabsorção desse biomaterial nos diferentes períodos experimentais 3, 9 e 21 dias. O biomaterial analisado forma um sistema biocompatível com o organismo receptor. Já que, mesmo induzindo uma reação inflamatória, quando em contato com o tecido, esta reação é local, transitória e de baixa magnitude. Sendo sua baixa imunogenicidade, comprovada mesmo após a implantação sequencial, onde as respostas imunológicas, embora um pouco mais evidentes, ainda são consideradas amenas. 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Aarabi S, Bhatt KA, Shi Y, Paterno J, Chang EI, Loh SA. Mechanical load initiates hypertrophic scar formation through decreased cellular apoptosis. FASEB, 21:3250-3261, 2007. 2. Abbas AK. Imunologia celular e molecular. 7ª. ed. São Paulo: Elsevier; 2012. 3. Anderson JM, Rodriguez A, Chang DT. Foreign body reaction to biomaterials. Semin Immunol, 20(2):86-100, 2008. 4. Anderson, JM. Biological response to materials. Materials Research, v. 31, p.81-110, 2001. 5. Baino F, Novajara G, Vitale-Brovarone C. Bioceramics and scaffolds: a winning combination for tissue engineering. Bioeng. Biotechnol, 3(202), 2015. 6. Brown BN, Londono R, Tottey S, Zhang L, Kukla KA, Wolf MT. 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