GUIA DA REFORMA ORTOGRÁFICA • • O QUE MUDA NA NOVA ORTOGRAFIA • REGRAS DE ACENTUAÇÃO, TREMA, HÍFEN... HISTÓRICO Em 1990, foi criado um acordo ortográfico para acabar com as diferenças bastante relevantes na língua portuguesa. Principalmente entre a língua do Brasil e a de Portugal. Também nas outras seis nações que falam e escrevem o português: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Os oito países formam a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o texto em 1995. Porém, sua implementação ficou engavetada, à espera da aprovação pelos parlamentares de Portugal. Em setembro do ano passado, o Acordo Ortográfico foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, determinando a reforma na escrita da língua portuguesa. Entrou em vigor a partir do dia 1º de janeiro de 2009. AS MUDANÇAS Pioneiro: O Brasil é o primeiro país a implementar as regras oficialmente. As mudanças têm prazo de conclusão até 2012. Até lá, serão aceitas as duas formas de escrita. Palavras: As mudanças devem atingir cerca de 0,5% das palavras no Brasil. Nos demais países, as alterações podem alcançar 1,6%. Dicionários: O Ministério da Educação estima investir até R$90 milhões na compra de dicionários adaptados às novas regras da ortografia. Livros. Os livros didáticos terão de ser adaptados a partir de 2010. Concursos. Até dezembro de 2012, as duas regras de escrita valerão em concursos públicos, vestibulares, provas escolares e demais exames. Língua Portuguesa: É falada por mais de 220 milhões de pessoas no mundo. São 190,3 milhões no Brasil, 10,5 milhões em Portugal e 20 milhões em países africanos e comunidades da Ásia. É o quinto idioma mais falado, de acordo com o Ministério da Educação. O QUE MUDA NA NOVA ORTOGRAFIA REGRA DOS HIATOS COMO ERA? Todas as palavras terminadas em “oo(s)” e as formas verbais terminadas em “eem” recebiam acento circunflexo: vôo vôos enjôo enjôos abençôo perdôo crêem dêem lêem vêem relêem prevêem COMO FICA? Sem acento: voo voos enjoo enjoos abençoo perdoo creem deem leem veem releem preveem O QUE NÃO MUDA? a) Eles têm e eles vêm (terceira pessoa do plural presente do indicativo dos verbos TER e VIR); b) Ele contém, detém, provém, intervém (terceira pessoa do singular do presente do indicativo dos verbos derivados de TER e VIR: conter, deter, manter, obter, provir, intervir, convir); c) Eles contêm, detêm, Provêm, intervêm (terceira pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos derivados de TER e VIR REGRA DO “U” E DO “I” O QUE NÃO MUDOU? As vogais “i” e “u” recebem acento agudo ficam sozinhas na sílaba ou com “s”: Gra-já-ú ba-ú sa-ú-de vi-ú-va Con-te-ú-do ga-ú-cho eu re-ú-no ele re-ú-ne eu sa-ú-do I-ca-ra-í eu ca-í eu sa-í eu tra-í o pa-ís sempre que formam hiato com a vogal anterior e eu caí, tu ca-ís-te, nós ca-í-mos, eles ca-í-ram ba-í-a ra-í-zes ju-í-za ju-í-zes pré-ju-í-zo fa-ís-ca pro-í-bo je-su-í-ta dis-tri-bu-í-do con-tri-bu-í-do a-tra-í-do O QUE MUDOU? Perdem o acento agudo as palavras em que as vogais “i” e “u” formam hiato com um ditongo anterior. feiúra, por exemplo, vira feiura COMO ERA/ COMO FICA Feiúra feiura Baiúca baiuca Bocaiúva Bocaiuva REGRA DOS DITONGOS ABERTOS “ÉI” E “ÓI” COMO ERA? Acentuavam-se todas as palavras que apresentam ditongos abertos: ÉU: céu, réu, chapéu, troféus... ÉI: papéis, pastéis, anéis, idéia, assembléia... ÓI: dói, herói, eu apóio, esferóide... O QUE MUDOU? Perdem o acento agudo somente as palavras paroxítonas: ideia, epopeia, assembleia, jiboia, boia, eu apoio, ele apoia, esferoide, heroico... O QUE NÃO MUDOU? O acento agudo permanece nas palavras oxítonas: dói mói rói herói anéis papéis pastéis céu réu troféu chapéus REGRA DO ACENTO DIFERENCIAL COMO ERA? Recebiam acento gráfico as palavras homônimas homógrafas tônicas (para diferenciar das átonas): Ele pára (do verbo PARAR); Eu pélo, tu pélas e ele péla (do verbo PELAR); O pêlo, os pêlos (substantivo=cabelo, penugem); A pêra (substantivo=frutasó no singular); O pólo, os pólos (substantivos=jogo ou extremidade) COMO FICA? Sem acento gráfico Exemplos Ele para (do verbo PARAR); Eu pelo, tu pelas, ele pela (do verbo PELAR); O pelo, os pelos (substantivo=cabelo, penugem) A pera (substantivo=fruta); O polo, os pólos (substantivos=jogo ou extremidade) O QUE NÃO MUDOU? PÔR (verbo-infinitivo): “Ele deve pôr em prática tudo que aprendeu”; POR (preposição): “Ele vai por este caminho”; PÔDE: “Ontem ele não pôde resolver o problema” PODE: “Agora ele não pode sair” USO DO TREMA Foi totalmente abolido. Exemplos: COMO ERA / COMO FICA Pingüim Pinguim Tranqüilo Tranquilo Cinqüenta Cinquenta Lingüiça Linguiça OBSERVAÇÃO: Se a letra “u”, antes de “e” ou “i”, fosse pronunciada e tônica, devíamos usar acento agudo em vez do trema: que ele averigúe, que eles apazigúem, ele argúi, eles argúem... Este acento também foi abolido. COMO FICOU: que ele averigue que eles apaziguem ele argui eles arguem USO DO HÍFEN 1 – Com os prefixos AUTO, CONTRA, EXTRA, INFRA, INTRA, NEO, PROTO, PSEUDO, SEMI, SUPRA e ULTRA, segundo o novo acordo ortográfico, só devemos usar hífen se a palavra seguinte começar por “h” ou vogal igual à vogal final do prefixo. COMO FICA: auto-hipnose, auto-observação contra-almirante, contra-ataque extra-hepático infra-assinado, infra-hepático intra-abdominal, intra-hepático neo-hamburguês proto-história, proto-orgânico semi-inconsciência, semi-interno supra-anal, supra-hepático ultra-aquecido, ultra-hiperbólico OBSERVAÇÃO: Com as demais letras, devemos escrever “tudo junto”, sem hífen (pela regra antiga, usávamos hífen quando a palavra seguinte começava por H,R,S e qualquer vogal). COMO FICA: autoadesivo autoanálise autobiografia autoconfiança autocontrole autocrítica autodestruição autodidata autoescola autógrafo autoidolatria automedicação automóvel autopeça autopiedade autopromoção autorretrato, autosserviço, autossuficiente, autossustentável, autoterapia; contrabaixo contraceptivo contracheque contradança contradizer contraespião contrafilé contragolpe contraindicação contramão contraordem contrapartida contrapeso contraponto contraproposta contraprova contrarreforma contrassenso contraveneno extraconjugal extracurricular extraditar extraescolar extragramatical extrajudicial extraoficial extrapartidário extraterreno extraterrestre extratropical extravascular infracitado infraestrutura inframaxilar infraocular infrarrenal infrassom infravermelho infravioleta intracelular intracraniano intracutâneo intragrupal intralingüístico intramolecular intramuscular intranasal intranet intraocular intrarracial intratextual intrauterino intravenoso intrazonal neoacadêmico neobarroco neoclassicismo neocolonialismo neofascismo neoirlandês neolatino neoliberal neologismo neonatal neonazista neozelandês protocolar protoevangelho protofonia protagonista protoneurônio prototórax protótipo protozoário pseudoartista pseudocientífico pseudoedema pseudofilosofia pseudofratura pseudomembrana pseudoparalisia pseudopneumonia pseudópode pseudoproblema pseudorrainha pseudorrepresentação pseudossábio semiaberto semialfabetizado semiárido semibreve semicírculo semiconsciência semidestruído semideus semiescravidão semifinal semiletrado seminu semirreta semisselvagem semitotal semivogal supracitado supramencionado suprapartidário suprarrenal suprassumo supravaginal ultracansado ultraelevado ultrafamoso ultrafecundo ultrajudicial ultraliberal ultramarino ultranacionalismo ultraoceânico ultrapassagem ultrarradical ultrarromântico ultrassensível ultrassom ultrassonografia ultravírus 2 – Com os prefixos ANTE, ANTI, ARQUI e SOBRE, só devemos usar hífen se a palavra seguinte começar com “h” ou vogal igual à vogal final do prefixo (pela regra antiga, usávamos o hífen quando a palavra seguinte começava por H, R ou S). COMO FICA: antebraço antecâmara antecontrato antediluviano antegozar ante-histórico antejulgar antemão anteontem antepenúltimo anteprojeto antessala antevéspera antevisão antiabortivo antiácido antiaéreo antialérgico anticapitalista anticlímax anticoncepcional antidepressivo antidesportivo antiético antifebril antigripal anti-hemorrágico anti-herói anti-horário anti-imperialismo anti-inflacionário antimíssil antiofídico antioxidante antipatriótico antirrábico antirradicalista antissemita antissocial antiterrorismo antitetânico antivírus arquibancada arquidiocese arquiduque arqui-inimigo arquimilionário arquipélago arquirrival arquissacerdote sobreaviso sobrebainha sobrecapa sobrecarga sobrecomum sobrecoxa sobre-erguer sobre-humano sobreloja sobremesa sobrenatural sobrenome sobrepasso sobrerroda sobressaia sobressalto sobretaxa sobretudo sobrevoo 3 – Com os prefixos HIPER, INTER e SUPER, só haverá hífen se a palavra seguinte começar por “h” ou “r” (essa regra não foi alterada) COMO FICA: hiperativo hiperglicemia hiper-hidratação hiper-humano hiperinflação hipermercado hipermiopia hiperprodução hiper-reativo hipersensibilidade hipertensão hipertiroidismo hipertrofia interação interativo intercâmbio intercessão interclubes intercolegial intercontinental interdisciplinar interescolar interestadual interface inter-helênico inter-humano interlinguístico interlocutor intermunicipal internacional interocular interplanetário inter-racial inter-regional inter-relação intertextualidade superaquecido supercampeão supercílio superdosagem superfaturado super-habilidade super-homem superinvestidor superleve superlotado supermercado superpopulação super-reativo super-requintado supersecreto supersônico supervalorizado supervisionar 4 – Com o prefixo SUB, continua valendo a regra de usar hífen se a palavra seguinte começar por “b” ou “r”: COMO FICA: subaquático sub-base subchefe subclasse subcomissão subconjunto subcutâneo subdelegado subdiretor subdivisão subeditor subemprego subentendido subestimar subfaturado subgrupo subitem subjacente subjugado sublingual sublocação submundo subnutrido suboficial subprefeito sub-raça sub-reino sub-reitor subseção subsíndico subsolo subterrâneo subtítulo subtotal O QUE MUDA: O hífen passa a ser obrigatório se a palavra seguinte começa com a letra “H”. Na regra antiga, havia exceções. COMO FICA: sub-hepático sub-humano 5 – Com os prefixos AB e AD, usa-se hífen quando o segundo elemento começa por “B” ou “R”. Exemplos: ad-renal, ab-rupto. Segundo o dicionário da ABL, admite-se também o uso de “abrupto”, mas o recomendado é que o hífen seja usado. Já palavras como “adrenalina” foram mantidas sem hífen, segundo a ABL porque a grafia é “consagrada pelo uso” 6 – Com os prefixos AGRO,MICRO,MACRO,MAXI,MINI,MEGA,TELE..., não usávamos hífen, pela regra anterior. Agora, ele passa a ser usado quando a palavra seguinte for “H” ou vogal igual à vogal final do prefixo. COMO FICA: micro-onda, minissaia, mini-hotel 7 – Nas formações com os prefixos “CIRCUM-“ e “PAN-“, quando o segundo elemento começa por “h”, vogal, “m” ou “n”, devemos usar o hífen. EXEMPLOS: circum-hospitalar circum-escolar circum-murado circum-navegação pan-africano pan-americano pan-negritude 8 – Nas formações com prefixos PRE, PRO e RE: Seguem a tradição dos dicionários, não usando hífen mesmo quando o segundo elemento começa com vogal igual à última vogal do prefixo. EXEMPLOS: preencher preestabelecer preexistente reeducar reeditar reeleger reembolsar 9 – Há casos em que sempre usamos o hífen: No caso dos seguintes prefixos: Além, Aquém, Bem (exceções: bendizer, benquisto); Ex (quando sinônimo de anterior), Grã, Grão, Pós, Pré, Pró, Recém, Sem (quando sinônimo de inúmeros), Sota/soto, Vice/vizo Em compostos em que o primeiro elemento é forma apocopada ou verbal: bel-prazer, el-rei, arranha-céu, cata-vento, quebra-mola, para-lama, beija-flor... Em nomes gentílicos: cabo-verdiano, porto-alegrense, espírito-santense, mato-grossense... Em compostos em que o primeiro elemento é numeral: primeiro-ministro, primeira-dama, segunda-feira... Em compostos homogêneos (dois adjetivos, dois verbos): técnico-científico, luso-brasileiro, azul-claro, quebra-quebra, corre-corre... Em compostos de dois substantivos em que o segundo faz papel de adjetivo: manga-rosa, tamanduá-bandeira, caminhão-pipa... Em palavras com elementos repetidos: Zigue-zague, lenga-lenga, pingue-pongue... OBSERVAÇÕES: Não se usa o hífen em formações que contêm em geral os prefixos “DES-” e “IN-” e nas quais o segundo elemento perdeu o “h” inicial: desumano desarmonia desumidificar inábil inumano Nas formações com o prefixo “CO-”, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por “o”: coobrigação coocupante cooperar coopera coordenar Também nas formações com o prefixo “CO-“, o dicionário da Academia Brasileira de Letras, apesar da regra, definiu que há casos em que o segundo elemento começa com h, e mesmo assim não há hífen. COMO FICOU: Coerdeiro Coabitar A, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z Nosso alfabeto passa a ter oficialmente 26 letras, com a incorporação do “K”, do “W” e do “Y”. Estas letras, porém, continuam a ser usadas para grafar palavras estrangeiras, como nomes próprios (Darwin) e seus derivados (darwinismo); topônimos (Kuwait) e derivados (Kuwaitiano); e siglas (KW – quilowatt, kg – quilograma). Bem, aí está o nosso GUIA DA REFORMA ORTOGRÁFICA. Não se trata de um bicho de sete cabeças. Basta apenas um certo tempinho para que nos acostumemos com as mudanças referidas. O objetivo é ajudar no uso da escrita, nossa maior força de expressão, e facilitar a sua jornada pelo mundo das letras, que traduzem causas, ideias, sentimentos. Bom proveito. Prof. Marcos Antonio Barbosa Lima