“BRINCAR, PESQUISAR E PASSAR O TEMPO”: O LUGAR DA BIBLIOTECA NO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E NAS REPRESENTAÇÕES DE ALUNOS SANTOS, Angela Cristina dos1 - UEPA Grupo de Trabalho – Políticas públicas, avaliação e gestão da educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A biblioteca é um espaço indispensável dentro do ambiente escolar, e está presente na maioria das ações pedagógicas dos Projetos Político-Pedagógico, seja público ou particular. Assim, este estudo objetiva-se analisar o lugar da biblioteca a partir das representações dos sujeitos escolares (alunos) e identificar o tipo de atuação realizada pelo profissional da biblioteca a partir das representações desses sujeitos. Para tanto, utilizou-se como metodologia a pesquisa de campo do tipo estudo de caso qualitativo. Utilizaram-se como técnica as entrevistas abertas que foram aplicadas a 31(trinta e um) alunos de uma Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental do município de Belém/Pará. O critério da escolha da escola se deu por ser um dos primeiros ambientes escolares a possuir um espaço voltado para a pesquisa, leitura e desenvolvimento de trabalhos escolares, além de constar a biblioteca como um espaço de ação educativa registrado no projeto político-pedagógico da referida escola. Os resultados mostraram que as representações dos alunos acerca da biblioteca apontam que os mesmos a conhecem, contudo é visto como um lugar de passar o tempo, de pesquisa (leitura) e de brincar. A atuação do profissional da biblioteca ainda é de isolamento, de ainda procurar ser apenas tecnicista, pois não ocorre a partir das falas a interação entre o bibliotecário, professor e o próprio aluno para o desenvolvimento do senso crítico, pesquisa e circularidade de saberes. É necessário ainda repensar ou reavaliar o espaço da biblioteca a partir do construto e da implementação do projeto político-pedagógico, como norte da escola. Palavras-Chave: Educação. Biblioteca Escolar. Representações. Projeto político-pedagógico. Introdução A discussão sobre as representações do lugar da biblioteca a partir das representações dos educandos da escola pública é parte dos resultados de minha pesquisa do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Pará (UFPA) que trata das representações do 1 Mestranda em Educação pela da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Bibliotecária FEAPA/CEEP. Professora Centro de Pós – Graduação Esamaz, Faculdade Integrada Carajás, Instituto Carreira, Faculdade da Amazônia e INEX. Bolsista CAPES. E-mail: angelacsmarques@gmail 2968 sujeito escolar sobre a biblioteca. Vale destacar que um dos papéis da biblioteca escolar encontra-se na presença da circularidade de saberes. Essa ideia tomou maiores proporções a partir de leituras sobre a literatura existente que, dada a sua escassez, suscitou-me o desejo de realiza-la. Outro fator a considerar, está voltado para a relevância da temática para a Educação e para a academia, uma vez que o lugar da Biblioteca é um espaço também de saberes, cultura e aprendizagem. Nesse sentido, conhecer as representações desse espaço a partir das representações dos alunos implica (re)pensar acerca do atendimento e a forma como esse lugar se configura na escola, assim, pode contribuir para a melhoria desses espaço pedagógico e possíveis revisões no projeto político-pedagógico no que diz respeito ao plano de ação das bibliotecas do Estado do Pará, ou mesmo do nosso país. No que diz respeito a relevância acadêmica, pode contribuir para novas pesquisas relacionadas a esse espaço pedagógico, que muitas vezes ainda se encontra muito distante da relação ensino-aprendizagem-pesquisa. Assim, dada à relevância da temática em questão, pretende-se esclarecer: qual o lugar da biblioteca nas representações dos sujeitos escolares? E a partir das representações saber: como ocorre a atuação do profissional da biblioteca a partir das representações dos sujeitos escolares? Assim, a pesquisa reflete sobre a ênfase dada na atuação do Bibliotecário e no lugar que esse espaço ocupa nas representações dos alunos. Entende-se que não vivenciar as atividades de leitura e discussão dos conteúdos e atividades nesse processo implica em entender que as reflexões sobre o saber-fazer estão distanciadas de uma compreensão teórica, pois sabemos que não se muda todo um habitus2 do professor só porque ele vivenciou algumas práticas metodológicas de formação. Não podemos deixar de constatar que o processo da transposição feito pelo Bibliotecário implicará em mudanças, uma vez que é intrínseca a toda transposição didática3 a construção de saberes. Essa construção não pode ser entendida apenas como repasse de 2 Habitus – certas disposições adquiridas na e pela prática, podem transforma-se num estilo de ensino e até mesmo em traços da “personalidade profissional”: manifestam-se através de um saber-ser e de um saber-fazer pessoais e profissionais validados pelo trabalho cotidiano (TARDIF, 2002, p. 49). 3 Aprender, pôr em prática uma inovação supõe um processo complexo, mas essa complexidade é superada quando a formação se adapta à realidade educativa da pessoa que aprende. Para que seja significativa e útil, a formação precisa ter um alto componente de adaptabilidade à realidade diferente do professor. E quanto maior a sua capacidade de adaptação mais facilmente ela será posta em prática em sala de aula ou na escola e será incorporada às suas práticas habituais (IMBERNÓN, 1994, p. 17). 2969 conteúdos e/ou metodologias, ela se dá com a “cor local”, o habitus do Bibliotecário. Seu conjunto de saberes permitem construir todos juntos o saber dessa transposição. Daí, não podermos separar conhecimentos teórico de conhecimento prático e vivências do Bibliotecário, uma vez que eles se interligam. Entendemos que se deve dar ênfase em dizer como fazer, comprometendo-se com as bases de sustentação teórica e questionamentos que possibilitem as mudanças de qualquer prática educativa, e isso tudo deve acontecer partindo de um conhecimento contextualizado. Nessa perspectiva teórica, os objetivos deste estudo foram assim, delimitados: Analisar o lugar da biblioteca a partir das representações dos sujeitos escolares (alunos) e identificar o tipo de atuação realizada pelo profissional da biblioteca a partir das representações dos sujeitos escolares. A Biblioteca: Espaço de implementação do Projeto Político-pedagógico e de ações educacionais A biblioteca está cada vez mais presente nos diversos níveis de ensino, seja ele fundamental, médio e/ou superior, no sentido de organizar e administrar fontes de informação de recursos didático-pedagógicos, no que diz respeito à atualização e pesquisa dos diferentes públicos que a frequentam. As diferentes necessidades e o uso intensificado da informação dos distintos públicos (usuários/leitores) dinamizam a função da biblioteca que, por muitos anos, era considerada um “depositório” de livros, com presença marcante de uma parcela da população que tinha acesso a eles. Como resposta a uma nova concepção de lugar de formação de leitores, foi criado o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), desenvolvido desde 1997. Tem o objetivo de promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência. O atendimento é feito em anos alternados: em um ano são contempladas as escolas de educação infantil, de ensino fundamental (anos iniciais) e de educação de jovens e adultos. Já no ano seguinte são atendidas as escolas de ensino fundamental (anos finais) e de ensino médio. Hoje, o programa atende de forma universal e gratuita todas as escolas públicas de educação básica cadastradas no Censo Escolar. (BRASIL, 2012) 2970 É sabido que a eficácia de programas educacionais desenvolvidos pelo governo federal, como PNBE depende da atuação conjunta e positiva de muitos fatores, que vão, por exemplo, desde a linguagem, ideologia e organização do documento a fatores de ordem administrativa das secretarias de educação, tais como recursos financeiros para sua implementação e disponibilização de tempo para os professores desenvolverem suas ações. (BRASIL, 2012) Além disso, a inserção de novas tecnologias da informação e comunicação na escola vem assinalando uma nova compreensão da biblioteca como espaço potencializador de serviços e produtos, sendo pertinente que se estabeleçam diretrizes de planejamento para a gestão interna e externa da biblioteca, no sentido de contribuir com as ações educacionais. A biblioteca é considerada uma fonte de informação, pois em seu ambiente, seja ele virtual ou material ocorre à circularidade de saberes científicos e saberes do “senso comum”. Sabe-se que “a paixão nacional do brasileiro não é a leitura”, pelo menos não se observa a divulgação de práticas de leitura nas mídias impressas e/ou virtuais. Nota-se que, a necessidade da formação de um cidadão vem de sua associação com o mundo. Portanto, a leitura passa a ser indissociável do conhecimento, este formado atualmente pelo excesso de informações existentes nos meios virtuais, os quais se encontram amparados pelas tecnologias da informação. Segundo Jenkins (2009), há mais de uma década, o público tem deixado uma posição predominantemente passiva e acomodada para ocupar um novo lugar no processo informacional. O processo informacional, ou seja, as novas tecnologias são resultantes do processo de questionamento, de inquietações acerca de se obter informações globalizadas que possam estar disponíveis a qualquer hora e tempo. Assim, a biblioteca no ambiente educacional tem como função desenvolver também atividades de ensino, cultura e lazer, além de despertar o gosto pela leitura, preparando o indivíduo para assumir uma atitude crítica em relação aos problemas de uma sociedade mutante e interconectada na aldeia global. Em decorrência, a preocupação na busca pela qualidade no ambiente educacional perpassa diretamente pela presença das bibliotecas e bibliotecários no ambiente de ensinoaprendizagem. É nesse âmbito, que compreendemos o Projeto Político-Pedagógico (PPP) como norteador das ações da escola, pois não podemos esquecer que no momento em que se define a missão, a visão, a filosofia, a proposta pedagógica de uma escola todos os espaços 2971 pedagógicos também passam a se organizar a partir de ações unificadoras do PPP, e, é nesse processo que no espaço da Biblioteca a relação professor x bibliotecário x aluno torna-se fundamental, uma vez que esse é um dos lugares de circularidade de saberes. No que diz respeito à importância da biblioteca no ambiente educacional e no construto das ações do PPP, deveria ser um lugar para desenvolver e “fortificar” as competências necessárias para sobreviver na sociedade da informação, na qual o uso intensificado de tecnologias da informação e comunicação pudessem ser uma constante nas relações com as pessoas, não apenas um lugar de guarda, empréstimo ou devolução de materiais. Para Baratin e Jacob (2000) a biblioteca também conserva a lembrança dos antepassados científicos e não científicos vivendo do sonho arqueológico, arquitetônico e nostálgico de memórias já perdidas e reconstruídas que a fazem falar. Definem-se bibliotecas a partir de seu papel (poder) em transmitir culturas e saberes, pois esse espaço dá continuidade e também rupturas da tradição (BARATIN; JACOB, 2000). A biblioteca como ambiente integrador da escola e também lugar da implementação do PPP, deve participar de todas as atividades existentes, desenvolvendo o senso crítico do aluno no processo de formação intelectual, seja com a leitura ou com outras formas de interação. Na interação entre professores e bibliotecários, ganhará o aluno porque estará em contato com uma nova forma de aprendizagem, voltada a prática a partir de uma teoria já discutida. Mas, para que essa prática seja realizada, é necessária a presença de um profissional bibliotecário e não de outro profissional que se encontra no espaço por doença ou por inaptidão à sala de aula. Bastos e Romão (2012) corroboram ao lembrar que, ao ser prejudicado por doença, velhice ou fastio pedagógico, o professor é relocado na biblioteca escolar, que é considerada pela gestão escolar, como um local de repouso, de calmaria até que esteja apto a suas funções ou apareçam novas oportunidades. Percebe-se a biblioteca como um lugar de silêncio, mas que passa a ser também local de recolocação de professores para o trabalho administrativo da escola, em virtude do afastamento da sala de aula por vários problemas, dentre os quais se destaca a saúde (BASTOS; ROMÃO, 2012). Então, a Biblioteca apresenta vários lugares atualmente, mas não podemos esquecer que antes de qualquer ação ou tipo de função ocupada, esse espaço pedagógico e educativo é 2972 também, um lugar da implementação do projeto político-pedagógico, onde o aluno é ou deveria ser, o maior beneficiado. Metodologia Este estudo se caracteriza como um Estudo de Caso. Para Yin (2010, p. 23) o Estudo de Caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas. Com a ideia de um exame mais profundo das interações teóricas entre os sujeitos, do modo como essas interações ocorrem e em que condições ocorrem em determinados contextos, optou-se por uma abordagem qualitativa. Para Barros (1990, p. 84), o Estudo de caso, pode ser considerada também como uma metodologia qualitativa de estudo, pois não está direcionada a se obter generalizações e nem há preocupações fundamentais com tratamento estatístico e de quantificações dos dados em termos de representações e índices. Para Lüdke e André (2001, p. 47), a pesquisa dita qualitativa, para se fazer conhecer, depende inteiramente do relato do pesquisador. Para a autora, se ele não for bem feito, fica comprometido todo o conhecimento da própria pesquisa, por mais cuidadoso que tenha sido seu desenvolvimento. O campo de atuação desta pesquisa foi uma Escola de Ensino Infantil e Fundamental localizada na cidade de Belém. Foi selecionada por ser considerada uma das primeiras escolas a possuir o espaço da biblioteca escolar. Hoje, ela compõe Unidade 5(cinco) vinculada a Secretaria de Educação e cultura (SEDUC). Sabemos que uma amostra mais abrangente traria maior chance de elucidar o problema aqui destacado, no entanto, alguns fatores nos orientaram para a escolha da amostragem e da escola da qual os alunos e professores pesquisados fazem parte: A Escola de Ensino Infantil e Fundamental foi uma das primeiras escolas a implantar a biblioteca escolar; Concentra boa parte de professores com trabalhos voltados a sala de aula e a pesquisa na Biblioteca; Muitos professores que realizam trabalhos de pesquisa têm uma formação voltada ao desenvolvimento de projetos escolares; e 2973 O tempo disponível para realização do estudo está descrito no Projeto PolíticoPedagógico da Escola. Esta pesquisa utiliza uma amostra organizada pelas respostas dos discentes do 6º e 7º ano do ensino fundamental e que foram identificados nesta pesquisa como alunos a,b,c. Para que fosse dado melhor andamento na pesquisa, inicialmente, por meio de um documento, comunicamos a gestora da Escola sobre a realização da pesquisa. Nesse documento indicamos todo o percurso da mesma. A aplicação do questionário de pesquisa foi realizada no espaço da biblioteca, cedido pela direção. Os alunos foram acomodados em mesas com quatro cadeiras cada para que fosse explicada a necessidade da aplicação da pesquisa. Todas as perguntas foram lidas em voz alta para que eles não tivessem dúvidas de respondê-las. Dentre outros cuidados, foi pedida autorização para que o material das entrevistas fossem manuseadas e publicadas. Conforme entendimento anterior, os sujeitos foram resguardados de qualquer exposição. Pois, para Costa (2002), ciência e ética são indissociáveis, e o conhecimento é “uma das mais belas façanhas do espírito humano, e por isso mesmo, sua produção deve obedecer a preceitos éticos em que, entre outras coisas, a vida digna, a justiça e a paz devem ser preservadas.” A pesquisa contou com a participação de quarenta 31 alunos do 6º e 7º ano do ensino fundamental. Para a análise das concepções desses alunos, observamos os escritos dos 31 alunos do ensino fundamental presentes no questionário contendo 5 (cinco) questões abertas relacionadas ao tema: o lugar da biblioteca para o aluno. A partir das falas dos alunos foi analisado o universo da biblioteca escolar aos quais estão habituados e as perspectivas da relação do bibliotecário x professores x alunos nesse espaço de construção do saber, buscando analisar o lugar da biblioteca a partir das representações dos sujeitos escolares (alunos) e identificar o tipo de atuação realizada pelo profissional da biblioteca a partir das representações dos sujeitos escolares. Assim, a escolha pela análise do discurso foi decorrente da escrita dos alunos na perspectiva da vivência dos mesmos com o local onde se encontram presentes todos os dias, na qual procuramos compreender suas falas e suas palavras na ideologia constituída no questionário aberto aplicado. Portanto, os enunciados passam a ser concretos e únicos e refletem em determinado campo tanto pelo seu conteúdo (nesse contexto tratado do tema proposto No questionário) e 2974 estilo, quanto por sua construção composicional, pois conteúdo temático, estilo e construção se encontram interligados no enunciado como um todo e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo de comunicação (BAKHTIN, 2003). O corpus desta pesquisa foi estruturado a partir das falas dos sujeitos entrevistados. Resultados e Discussões Neste tópico, buscamos apresentar a biblioteca nas representações dos alunos de forma a atender os objetivos aqui propostos. Os alunos responderam três questões básicas. A primeira relacionada ao reconhecimento da biblioteca na escola; a segunda sobre o profissional da biblioteca e por ultimo sobre a pesquisa. A biblioteca nas representações dos alunos Partindo dos nossos objetivos da pesquisa, buscamos inicialmente informações com os discentes sobre a existência da biblioteca, como estratégia de identificar se havia por parte deles o reconhecimento desse espaço. Os alunos responderam: “tia, tem sim. É um espaço pequeninho, que tem gibis, livrinho de história e de matérias da sala” (aluno a, 6º ano); “é o local que brincamos na hora da merenda, comemos rápido para poder ir lá brincar” (aluno b, 7º ano). Obeservamos que há o reconhecimento por parte dos alunos do espaço Biblioteca, apesar de nesse primeiro momento não ocorrer a identificação do verdadeiro papel da biblioteca. Como é perceptível a Biblioteca nas representações dos discentes é um lugar de livros e de brincadeira. Para Baratin e Jacob (2000, p.9): A biblioteca é um lugar de memória nacional, espaço de conservação do patrimônio intelectual, literário e artístico, também é o teatro de uma alquimia complexa em que, sob o efeito da leitura, da escrita e de sua interação, se liberam as forças, os movimentos do pensamento. É um lugar de diálogo com o passado, de criação e inovação e a conservação só tem sentido como fermento dos saberes e motor dos conhecimentos, a serviço da coletividade inteira. Buscamos ainda saber o lugar ocupado pelo bibliotecário, ou seja, que eles conheciam o profissional que fica responsável pela biblioteca, independentemente se ele é ou não 2975 formado em biblioteconomia e se está ou não preparado para assumir as funções da biblioteca. Os alunos afirmam: “vamo na bliblioteca sempre no lanche, lá tá sempre aberto, fico brincando e espero o pai” (aluno c, 6º ano); “eu passo por lá e tá sempre aberto, a tia (bebliotecária) tá sempre no horário do lanche lá” (aluno d, 7º ano). A partir das representações dos discentes vimos que eles conhecem o profissional que fica na biblioteca, apesar de não saberem de sua formação específica. Nos chama a atenção que a Biblioteca é mais visitada pelas falas dos sujeitos na hora do lanche, como se esse fosse o único momento em que o aluno tivesse a possibilidade de frequentá-la. Quanto ao papel do bibliotecário, Porto (2006) afirma que uma de suas funções é o gerenciamento do acervo, ou seja, da informação necessitada pelos usuários, pois no ambiente escolar, a biblioteca possui um acervo diversificado de materiais e quando utilizado tecnologicamente o acervo, a biblioteca deve saber como e onde encontrar as informações e mais ainda, ensinar o usuário a encontrá-las. Logo, as concepções epistemológicas envolvidas no ensino têm sua forma de ser em virtude da identificação e condução do processo educacional a partir do olhar do conhecimento humano. A utopia existente na biblioteca encontra-se na grande quantidade de conhecimentos que se encontram agrupados por assuntos e que somente são visivelmente agrupados quando indexados por um profissional da informação, ou seja, o bibliotecário. (BARATIN; JACOB, 2000) Logo, perguntamos aos alunos sobre a relação entre biblioteca, pesquisa e o contato com o bibliotecário e a maioria deles afirmam que “frequentam o local para pesquisar e tirar dúvidas com o profissional da informação presente no espaço” ( aluno c, 6 ª A). Porém, mesmo os alunos apontando em suas representações que existe a presença do espaço e de um profissional para atendê-lo permanentemente, verificamos que essa ida a biblioteca sob a supervisão do professor não ocorre, pois os professores só realizam as atividades em sala de aula e com o apoio do material didático. É o que relata os alunos do 6º e 7º ano: “Gosto muito da biblioteca, mas meus professores não vão com a gente lá, a gente fica só na sala com o livro dele”. (aluno x, 6º ano); 2976 “a gente brinca na biblioteca e fica conversando com a tia da biblioteca, mas o professor diz que lugar de estudo é na sala”. (aluno y, 7º ano); Kuhthau (2009, p.19) afirma que “é importante que as atividades desenvolvidas em sala de aula exijam que os alunos utilizem as habilidades para usar a biblioteca e a informação que estão adquirindo”. Silva (1999) compartilha do mesmo pensamento ao discutir que o papel da biblioteca escolar tem duas missões: que vai do processo do ensino e aprendizado no qual é o apoio aos professores como também na promoção pelo gosto e hábito da leitura. Portanto, implica assim, sua relevância no contexto escolar, ao iniciar e conquistar a criança ao hábito da leitura, que deve começar no ambiente familiar e ser intensificada com sua ida ao ambiente escolar. (SILVA, 1999) Atitudes como essas apresentadas na escola pesquisada por parte de alguns professores é preocupante, uma vez que a escola já tem um histórico de ter uma das mais antigas bibliotecas escolares e com ações descritas no Projeto Político-Pedagógico relacionadas a atividades nesse espaço educativo. Logo, para que o aluno esteja na biblioteca como “pesquisador” torna-se necessário que ele identifique a importância do espaço não somente com local de brincadeira e conversa, mas como local de estudo e a presença do professor torna-se importante para a construção dessa representação do local aos alunos e também na ação do PPP no chão da escola. Diante disso, é visível a necessidade de se repensar o PPP no que diz respeito a esse lugar educativo (a biblioteca), no intuito de ocorrer um planejamento integrado e sólido entre professores e bibliotecários para que os alunos entendam a importância desse espaço dentro do contexto escolar, não sendo este apenas um lugar para ser utilizado como passa- tempo e brincadeira. É pertinente lembar que a atividade quando programada para acontecer dentro do ambiente da biblioteca escolar ou em sala de aula, pode ocorrer em parceria entre professores e bibliotecários, desde que seja programada antecipadamente para que ambos possam trocar ideias e possuírem uma mesma linguagem para o contato com o discente. Kuhthau (2009, p.19), contribui com essa discussão dizendo que “a integração da programação da biblioteca com as atividades de sala de aula requer um planejamento conjunto, envolvendo o bibliotecário e os professores”. E mesmo sabendo que cada tipo de biblioteca possui uma função, um acervo, que é determinado pelo público que a frequenta, quanto mais utilizada, mais diversificada e em crescimento ela será (MILANESI, 1993). 2977 De acordo com Severino (1982 apud BASTOS; ROMÃO, 2012), a educação deve ser vivenciada como uma prática concreta de libertação e de construção da história, ou seja, cabe ao sistema educacional entender a aprendizagem a partir das averiguações e pesquisas, que são encontradas através de fontes de consultas, resultante do ambiente da biblioteca escolar, mas quando queremos que nossos alunos sejam somente cidadãos passivos, trazemos a eles uma educação sem a concepção crítica, ou seja, sem a visão de outras fontes de informações, daí a importância da biblioteca escolar. Portanto, sem a existência de uma atividade do professor no ambiente da biblioteca escolar, deixa de existir a circularidade de saberes decorrente de uma ausência de parceria nas atividades que desenvolvam o senso crítico que vão além dos livros didáticos. O que na concepção de Freire (2008, p.8), encontra-se na “necessidade de educadores e educandos se posicionem criticamente ao vivenciarem a educação, superando as posturas ingênuas ou “astutas”, enganando de vez a pretensa neutralidade da educação”. Considerações Finais A biblioteca no ambiente educacional está cada vez mais presente simultaneamente nas modalidades de ensino fundamental, médio e superior. Instituições de ensino buscam a racionalização dos ambientes e desta maneira cabe ao bibliotecário organizar e administrar as fontes de informação, utilizadas como recursos didático-pedagógicos bem como as de suporte informacional para a atualização, informação e pesquisa desses diferentes públicos, além de ser um espaço da implementação do PPP. A partir das falas dos sujeitos acerca de suas representações sobre a biblioteca e a identificação do tipo de relação existente entre professores e bibliotecários vimos que estas estão ligadas a representações de um lugar de brincar, de espera e de pesquisa. Contudo, não é perceptível a relação pedagógica entre professores da sala de aula e o bibliotecário, além de ser desnorteado das ações do PPP. Assim, vimos que há a necessidade de gestores de bibliotecas de instituições educacionais precisarem buscar o planejamento fazendo interface com o PPP no intuito de melhor oferecer serviços e produtos para atender os diferentes públicos (estudantes desde a pré-escola ao superior, professores e demais membros dessa comunidade educacional), e compreenderem as mudanças dos objetivos e das funções da biblioteca escolar. 2978 A inserção de novas tecnologias da informação e comunicação deve estar intercalada no cotidiano do bibliotecário para potencializar serviços e produtos da biblioteca. Saber manusear tecnologias tornou-se tão importante como ler e escrever, assim, as bibliotecas precisam estar preparadas para dinamizar os processos de aprendizagem que envolvam desde o acesso aos documentos nos diferentes suportes e tipologias documentais até mesmo oferecer locais adequados para o uso da informação que requerem planejamento na gestão de ambientes multimídia, como a escolha de equipamentos, de softwares, e até mesmo o delineamento de treinamentos individuais ou em grupos. Acreditamos que a biblioteca pode ser um lugar que pode influenciar diretamente a vida de toda a comunidade educacional e o desenvolvimento pleno do ser humano no qual são fundamentais competências e habilidades de cunho educativo, intelectual, cultural, social e tecnológico. Como contribuição a uma nova forma de pensamento qualitativo e participativo, sugere-se a escola, que por meio da coordenação pedagógica, durante as jornadas de realização e avaliação do Projeto Político-Pedagógico, seja realizado ações da biblioteca com o professor e vice-versa, como, por exemplo, a associação do plano de ensino do professor com a biblioteca, como também dos profissionais da educação (professores e bibliotecários) para que possam desenvolver por meio do diálogo e projetos escolares a circularidade de saberes aos alunos como forma a despertar novos conhecimentos e questionamentos. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BARATIN, Marc; JACOB, Christian. O poder das bibliotecas: a memória dos livros no ocidente. Rio de Janeiro; UFRJ, 2000. BARROS, A. de J. P. de. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 1990. BASTOS, Gustavo G; ROMÃO, Lucília Maria Sousa. 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