Síntese do acetato de n-butilo ou etanoato de n-butilo Introdução 1. Ésteres: utilização e fabrico Os ésteres são substâncias comuns na natureza. São encontrados nos óleos e nas gorduras, nas essências de frutas, madeiras e flores, bem como nas ceras de abelhas e nos fosfatídeos existentes no ovo e no cérebro. Pela sua ocorrência na natureza, os ésteres podem ser classificados em três classes: (i) os ésteres essências de flores e frutas, normalmente constituídas por cadeias de carbono pequenas e médias (até 8 carbonos), geralmente são líquidos incolores e voláteis; (ii) os lípidos e gorduras, geralmente líquidos viscosos e de massas moleculares médias; (iii) as ceras orgânicas sólidas e de elevada massa molecular. Os ésteres de baixo peso molecular têm aromas agradáveis sendo os principais componentes responsáveis pelo aroma e sabor de um grande número de frutos e flores.1,2 Embora os sabores naturais possam conter cerca de cem compostos diferentes, um único éster aproxima-se dos aromas naturais e é usado na indústria alimentar conferindo aos alimentos características degustativas e olfativas.3 Na Tabela 1 apresentam-se alguns exemplos de ésteres e suas respetivas fragrâncias. Os ésteres são também usados na produção de perfumes e cosméticos, na indústria farmacêutica, na produção de sabões, na produção de biocombustíveis, etc. A síntese de ésteres obtém-se por reação de ácidos carboxílicos com álcoois ou fenóis, na presença de um catalisador ácido e é bem conhecida desde há muito tempo. A este processo chama-se reação de esterificação de Fischer2 (Esquema 1), sendo um dos principais métodos utilizados na produção de ésteres. Esquema 1. Equação química da esterificação de Fisher. Síntese do acetato de n-butilo Parte I: Pág. 1/4 Tabela 1. Fragrâncias de ésteres1 Éster Fórmula p.e. (ºC) Fragrância Metanoato de isobutilo 98,4 Framboesa Acetato de n-propilo 101,7 Pera Butanoato de metilo 102,3 Maçã Butanoato de etilo 121 Ananás Propanoato de isobutilo 136,8 Rum Acetato de isoamilo 142 Banana Acetato de benzilo 206 Pêssego Acetato de octilo 210 Laranja 2. Acetato de n-butilo O acetato de n-butilo é utilizado como base para lacas, tintas, adesivos e corantes, como solvente de tintas, na indústria de cosméticos e fragrâncias, etc.4,5 O acetato de n-butilo devido ao seu baixo impacte ambiental é capaz de substituir o 2-etóxietilacetato que é tóxico e frequentemente usado como solvente na indústria das tintas. A síntese do acetato de n-butilo por reação entre o ácido acético e butan-1-ol na presença de ácido sulfúrico, como catalisador, foi estudado pela primeira vez por Othmer et al6. A equação química que traduz a síntese do acetato de n-butilo representa-se no esquema 2. Nesta reação forma-se o acetato de n-butilo (produto) e água (co-produto). Síntese do acetato de n-butilo Parte I: Pág. 2/4 Esquema 2. Equação química da síntese do acetato de n-butilo. A esterificação, ativada pela autoprotólise de um ácido carboxílico, ocorre sem a presença de catalisadores de forma extremamente lenta. A velocidade da reação aumenta quando se usam catalisadores ácidos.7,8 Os catalisadores ácidos são corrosivos e têm que ser neutralizados após a reação. Para ultrapassar este problema, usam-se catalisadores sólidos heterogéneos, tais como as resinas ácidas de troca iónica4-11 que têm sido estudadas e recebido muita atenção devido aos seus óbvios benefícios (facilidade de separação, menores problemas de corrosão e menores problemas de deposição). Estas resinas são consideradas um bom catalisador para reações em fase líquida, como a esterificação. A reação tem uma constante de equilíbrio baixa o que limita a conversão de reagentes em produtos e quando se atinge o estado de equilíbrio o rendimento da reação é baixo. Para aumentar a conversão pode usar-se excesso de um dos reagentes estequiométricos, fazer-se a remoção seletiva dos produtos da reação e, em alguns casos, variar a temperatura.12 No protocolo proposto, no sentido de aumentar a conversão (promover a formação de éster) remove-se a água formada (co-produto da reação). No protocolo proposto a síntese do acetato de n-butilo ocorre em fase líquida, catalisada por uma resina ácida (Dowex), com aquecimento da mistura reacional, em refluxo. O vapor que refluxa é constituído por uma mistura azeotrópica que contém 8% de álcool, 63% de éster e 29% de água e apresenta um ponto de ebulição de 90,7 ºC. O vapor é homogéneo, mas quando condensa, separa-se em duas fases, uma orgânica (camada superior) rica em éster e outra aquosa (camada inferior) rica em água, ver composição na tabela 2. Uma mistura azeotrópica apresenta uma composição fixa e comporta-se como se fosse uma substância apresentando um ponto de ebulição constante. Este tipo de mistura não pode ser separado por destilação simples ou fracionada. Tabela 2 Composição percentual da mistura azeotropica1 Substâncias p.e. (ºC) Vapor Fase superior Fase inferior Butan-1-ol 117,7 8,0 11,0 2,0 Acetato de n-butilo 126,7 63,0 86,0 1,0 Água 100,0 29,0 3,0 97,0 Síntese do acetato de n-butilo Parte I: Pág. 3/4 Experimentalmente, se pensarmos num sistema que remova a fase aquosa do condensado e faça retornar a fase orgânica à mistura reacional, então o grau de conversão da reação aumenta. Neste trabalho vão ser utilizadas duas montagens experimentais que permitem remover a fase aquosa do condensado (camada inferior). Quando for recolhida a quantidade de água teoricamente prevista, a reação é dada por terminada e o produto no balão deve conter um éster bastante puro. 3. Referências [1] - Williamson, K. L., Minard, R. D., Masters, K. M., Macroscale and Microscale Organic Experiments, Houghton Miffin Company, NY, 2007. [2] – McMarry J., Organic Chemistry, 7ª edição, 2008. [3] - Morrison R., Boyd R., Química Orgânica, Fundação Calouste Gulbenkian, 13ª edição, Lisboa, 1996. [4] – Gangadwala, J., Mankar, S., Mahajani, S., Kienle, A., Stein, E., Esterification of acetic acid with butanol in presence of ion Exchange resins as catalysts, Industrial and Engineering Chemistry Research, 2003, 42, 2146 -2155. [5] – Liu, K., Tong, Z., Liu L., Feng X., Separation of organic compounds from water by pervaporation in the production of n-butyl acetate via esterification by reactive distillation, Journal of Membrane Science, 2005, 256, 193 - 201. [6] – Kirk, R. , Othmer, D., Encyclopedia of Chemical Technology, 4ª ed., Jonh Wiley e Sons inc, 1998. [7] – Grob, S., Hassa, H., Reaction kinetics of the homogeneously catalyzed esterification of 1 – butanol with acetic acid in a wide range of initial compositions, Industrial and Engineering Chemistry Research, 2006, 45, 1869 - 1874. [8] – Peters T. A., Benes N. E., Holmen A., Keurentjes J. T. F., Comparison of commercial solid acid catalysts for the esterification of acetic acid with butanol, Applied Catalysis, 2006, 297, 182 - 188. [9] – Gangadwala J., Radulescu G., Kienle A., Sundmacher K., Computer aided designs of reactive distillation processes for the treatment of waste water polluted with acetic acid, Computers and Chemical Engineering, 2007, 31, 1535 - 1547. [10] – Blagov, S., Parada, S., Bailer, O., Moritz, P., Lam, D., Weinand, R., Hasse, H., Influence of ionexchange resin catalysts on side reactions of the esterification of n-Butanol with acetic acid, Chemical Engineering Science, 2006, 61, 753 – 765. [11] – Timofeeva M. N. et al, Esterification of n-butyl acetate with acetic acid in presence oh heteropoly acids with different structures and compositions, Kinetics and Catalysis, 2001, 6, 791 – 795. [12] – Londono A. O. e al., Analysing chemical equilibrium conditions when studying butyl acetate synthesis, Revista Ingenieria e Investigacion, 2005, 3, 13 - 21. Síntese do acetato de n-butilo Parte I: Pág. 4/4