Importância do Comportamento materno para a Sobrevivência dos Cordeiros Autora: Camila Raineri - Mestranda em Qualidade e Produtividade Animal Os momentos próximos ao parto são alguns dos mais críticos no ciclo produtivo da ovinocultura. Esta fase é determinada para a sobrevivência dos cordeiros recém-nascidos, e consequentemente para a definição dos custos de produção e disponibilidade do produto final – o cordeiro – para a venda. Os cordeiros nascem bastante frágeis, com pouco tecidos de reserva e muito dependentes da nutrição e proteção maternas. São animais muito sensíveis à ação climática, como temperaturas estremas e chuvas. Outro perigo potencial para estes recém-nascidos é o ataque de predadores, que podem ser cães e animais silvestres, aves como urubus e gaviões ou até mesmo roedores. Devido a todas estas ameaças, que podem ser potencializados por práticas de manejo incorretas, é comum encontrarmos propriedades com taxas de mortalidade pré-desmame de até 40%. Destas mortes, a vasta maioria ocorre nas primeiras 72 horas de vida dos cordeiros. A principal consequência disto para o produtor é a inviabilidade econômica da atividade, com a elevação drástica dos custos de produção. Um fator decisivo para o sucesso do neonato é a rapidez com que fica em pé e consegue mamar pela primeira vez. A ingestão do colostro é fundamental tanto devido à imunidade passiva transmitida por seus anticorpos quanto pela fonte energética que representa. A agilidade do cordeiro mostra-se influenciável, entre outros, por fatores climáticos como calor ou frio intenso e pelo estimulo materno. Considerando que seu sistema termorregulador torna-se funcional somente a partir do 16° dia de vida, a hipotermia é também um perigo real para os cordeiros. Sendo o cordeiro uma criatura tão sensível, cabe à sua mãe um papel de destaque: nutri-lo adequadamente, protege-lo de predadores e promover um ambiente adequado. Para uma reprodutora ser eficiente, não basta parir determinada quantidade de cordeiros por ano. É necessário que eles cheguem vivos e fortes ao desmame, com o mínimo de intervenção humana possível. Isto é particularmente em sistemas extensivos de criação ou em rebanhos muito grandes, tanto pelo aspecto prático quanto pelo econômico. Assim, o comportamento da ovelha antes, durante e após o parto tem grande influencia sobre a sobrevivência do cordeiro. Talvez o maior exemplo do impacto econômico negativo do comportamento materno inadequado seja o caso das ovelhas que abandonam suas crias. Nesta situação, é comum pratica do aleitamento artificial, no qual os cordeiros recebem leite em mamadeiras ou baldes. Considerando que a Ovinocultura, enquanto atividade de escala possui margem de lucro estreita, a necessidade de um funcionário para esta função, da compra de leite ou mesmo da manutenção de vacas para esta finalidade representa prejuízos consideráveis. Por ouro lado, para que as fêmeas possam desempenhar sua função satisfatoriamente, é preciso que suas necessidades sejam supridas. Nutrição adequada para suportar o desenvolvimento do(s) cordeiro(s) e aleita-lo(s), dimensionamento correto de instalações e ambiente confortável são essenciais para as fêmeas possam reconhecer suas crias e criar forte ligação com elas. Os comportamentos das ovelhas nos momentos próximos ao parto são essenciais para permitir o rápido estabelecimento de um vinculo forte e seletivo entre a ovelha e suas crias, bem como garantir a ingestão de colostro pelos cordeiros em até 24 horas após o nascimento. Logo após o parto a locomoção da fêmea é reduzida e ela permanece no local da parição por algumas horas. A ovelha tende a mostrar-se menos assustada por estímulos estressores, o que é especialmente importante para minimizar os prejuízos causados por predadores. A fêmea sente-se muito atraída pelos fluidos do parto, resultando na limpeza corporal do cordeiro. Isto é importante para seca-lo, estimular sua respiração e termoregulação e também para reduzir e atração de predadores. Este comportamento é direcionado à formação de um vinculo olfatório exclusivo entre a ovelha e o cordeiro, o que é essencial para que mãe e filho se reconheçam entre outros animais do rebanho. Diversos estudos sugerem que a separação entre mãe e filho seja uma das maiores causas de mortalidade de cordeiros. Diferentes raças ovinas apresentam diferentes significativas na utilização da visão e audição no reconhecimento materno, porém para todas o olfatório é importantíssimo para a formação do laço inicial com o filhote. O genótipo tem também influência marcante sobre a demonstração do comportamento maternal e agilidade dos cordeiros. Não apenas a raça, mas a seleção dentro de raças pode alterar os cuidados maternais e a agilidade das crias, principalmente em função de adaptação a condições extensivas e temperamento mais calmo. É importante que a mãe coopere com as tentativas de mamar do cordeiro, não apresentando agressão ou abandono. A facilitação da mamada pela ovelha é realizada adotando-se uma posição de dorso arqueado e pernas traseiras estendidas, que levanta os tetos e os torna mais proeminentes. Outra categoria de comportamentos destina-se a formação de uma memória que permita o reconhecimento de seu(s) cordeiro(s), dirigindo os cuidados maternos apenas para sua própria cria. Isto é importante por ser improvável que a ovelha produza leite suficiente para vários cordeiros, e cuidado com outros cordeiros acabaria por ter efeitos negativos sobre os seus. Dois fatores que afetam direto e negativamente a sobrevivência dos cordeiros são o abandono e o interesse materno por outros cordeiros durante o pré-parto. Cordeiros abandonados pela mãe demoram mais tempo para mamar pela primeira vez, ou não obtém sucesso na busca por uma ovelha que os aceite. A ocorrência de abandono de crias pode decorrer do manejo incorreto, como ovelhas muito magras ao parto, altas lotações na instalação, transporte ou estímulos estressores no pré-parto. Demonstrações de abandono e agressão são mais comuns também em mães de gêmeos, que parecem não reconhecer que possuem mais de um cordeiro, e em borregas. Ovelhas em pré-parto frequentemente se aproximam, farejam e permanecem próximos aos recém-nascidos de outras fêmeas. Este comportamento reflete as mudanças fisiológicas que ocorrem no final de gestação e deve ser considerado normal. O interesse pré-natal de ovelha por outros neonatos pode resultar na aceitação de um ou mais cordeiros estranhos, que podem ser “roubados” de suas mães biológicas. Esta ocorrência não é necessariamente prejudicial para o neonato adotado, já que a produção de leite da ovelha já se encontra avançada. No entanto, as chances de sobrevivência do seu próprio cordeiro serão reduzidas pela possibilidade de rejeição ou por não haver mais colostro disponível. Este comportamento pode ser responsável por 10% a 34% das mortes de neonatos. Variações na expressão dos comportamentos maternos e na seletividade do vinculo entre a ovelha e os cordeiros podem ser afetados pela raça, experiência maternal prévia, estado nutricional da matriz, nível de seleção, número de cordeiros nascidos, tipo e duração do parto e por fatores climáticos. O comportamento de ovelhas e seus cordeiros nas primeiras horas após o parto é decisivo a ponto de interferir durante muito tempo no desempenho dos cordeiros. Não apenas a mortalidade, mas também o ganho de peso e o desenvolvimento dos cordeiros sofrem influência das primeiras horas após o nascimento. Desta forma, prestar atenção às necessidades destas categorias de animais pode ser uma importante ferramenta para reduzir custos e melhorar a eficiência da criação. Fonte: http://www.ovinopar.com.br/index.php?i=txt&txt=74&tp=7