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Volume 19, N. 1, pp. 58 – 78, Jan/Jun 2015
REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
Gláucia Benedita de Moraes Gomes
(UNIC – Universidade de Cuiabá, Sinop – MT)
Paulo César Ribeiro Martins
(PUCCAMP – Pontifícia Universidade Católica, Campinas – SP)
Resumo
O objetivo deste trabalho é descrever as contribuições do Grupo Terapêutico na reinserção
psicossocial de pacientes com transtornos depressivos do Centro de Atenção Psicossocial –
CAPS de uma cidade do interior do Estado de MT.Contextualiza-se o serviço do CAPS
baseando-se na história da reforma psiquiátrica que eclode na década de 1970, evidenciando
concomitantemente com o crescente número de pacientes depressivos no mundo, bem como
os benefícios do tratamento em grupo para a retomada da saúde mental. O estudo é
exploratório e qualitativo, com cinco pacientes com Depressão Maior, afastados do convívio
social e participantes com maior efetividade nas sessões de grupo. Os dados foram obtidos
por meio de entrevistas e observações. Desta maneira, foi possível tecer algumas
considerações sobre os resultados alcançados: o grupo provocou mudanças em seus
participantes, que vão desde o interesse pelo conhecimento e aprendizagem à liberdade e
autonomia para fazer escolhas facilitando a reinserção psicossocial.
Palavras-chave: Depressão; Grupo terapêutico; Psicologia; Reforma psiquiátrica; Reinserção
psicossocial.
Abstract
Rehabilitation Psychosocial of Depressive Patient from the CAPS Through Group Care
This article aims to describe the contribution of a therapeutic group in the psychosocial
rehabilitation of patients with depressive disorders at the Psychosocial Care Center - CAPS
in a town in Mato Grosso. Therefore, it contextualizes the CAPS' service based on the history
of psychiatric reform that came to light in the 1970s, highlighting at the same time with the
growing number of depressive patients in the world, as well as the benefits of the therapy
group for the recovery of mental health. The study was exploratory and qualitative, and shows
the observations made in five patients with major depression, away from society, and
participants with greater effectiveness at the group. The informations were collected through
interviews and observations. Thus, it was possible to make some observations about the
results: the group has caused changes in their participants, which extends from interest in
knowledge and learning to the liberty and autonomy to make choices facilitating their
psychosocial rehabilitation.
Keywords: Depression; Therapeutic group; Psychology; Psychosocial rehabilitation;
Psychiatric reform.
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GLÁUCIA BENEDITA DE MORAES GOMES, PAULO CÉSAR RIBEIRO MARTINS
grupo, assim é possível aos participantes
Introdução
resgatar a capacidade de aprender fazendo
Este
estudo
enfatiza
as
contribuições que os atendimentos em
grupo traz aos pacientes depressivos do
Centro de Atenção Psicossocial – CAPS de
uma cidade do interior do Estado de MT.
Segundo Pego (2003), os atendimentos em
grupo
se
dirigem
ao
processo
de
uma leitura significativa de si e de sua
aprendizagem no cotidiano. Como comenta
Pego (2003), o grupo tem sua realidade
constituída a partir da contribuição dos
participantes, que trazem consigo suas
experiências,
a experiência e consegue retirar dela um
saber mudando o comportamento. A
Psicologia estuda a conduta humana, o
sujeito que aprende e aquilo que está
aprendendo. Contempla-se a aprendizagem
na linha da reinserção psicossocial que
enfoca as dificuldades e possibilidades
apresentadas pelo paciente, mudando a
forma de cuidá-lo. O problema principal
não reside em remover o sintoma, acabar
com a doença ou recuperar a pessoa, mas
em criar várias possibilidades de vida em
um novo modelo que deixe de ser o de
custódia
ou
de
tutela,
buscando
a
participação e o desenvolvimento de
projetos que ampliem os espaços de
liberdade dos sujeitos (Melmam, 2001).
O atendimento em grupo é um dos
procedimentos oferecidos pelo CAPS para
tratamento de transtornos mentais por meio
da relação terapêutica que se estabelece
entre os pacientes e o coordenador do
necessidades,
medos e curiosidades.
O objetivo proposto é descrever a
aprendizagem do ser humano e tem como
objeto de estudo o sujeito que se volta para
interesses,
contribuição do Grupo Terapêutico à
reinserção
social
dos
pacientes
com
transtorno depressivo em tratamento no
CAPS, no período de fevereiro à junho do
ano de 2014. Conseguimos verificar as
mudanças provocadas pelo atendimento
nos pacientes, como também identificar os
aspectos que motivam e desmotivam os
pacientes
a
participarem
do
Grupo
Terapêutico.
Algumas
apresentam
na
dificuldades
realização
grupal,dentre
da
elas:
se
terapia
situação
socioeconômica dos pacientes para se
locomoverem
até
CAPS,participação
a
unidade
do
familiar,adesão
dos
pacientes às terapias oferecidas pela
unidade por não acreditarem nas mesmas e
falta de entendimento dos pacientes na
relação da terapia proposta com a sua
melhora.
Neste
estudo
são
abordados
aspectos que permeiam os transtornos
psiquiátricos, a saber: processo histórico da
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REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
reforma psiquiátrica, depressão, tratamento
mítica para a filosófica, passando o
grupal,
comportamento do “louco” também a ser
reinserção
psicossocial
e,
finalmente, apresentação e análise dos
questionado.
Com
a
dados dos pacientes depressivos. Toda essa
pensamento
abordagem serve de base para a construção
necessária
do conhecimento, aprendizagem e sugestão
comprovação dos fatos, esta percepção no
para o CAPS, compreendido em toda sua
século XIX passa a ser científica. O novo
equipe e usuários.
objeto de conhecimento passou a ser a
científico,
mais
chegada
no
reflexão
qual
e
do
era
mais
doença mental e o único meio de tratá-la
Processo Histórico da Reforma
seria com a prática médica psiquiátrica. O
Psiquiátrica
estudo do modelo psiquiátrico clássico,
enquanto saber e prática são enfatizados na
O olhar sobre a “loucura” obedece,
obra de diversos autores. Entre esses,
ao longo da história, o desenvolvimento do
destaca-se Focault com a sua obra “A
pensamento
Inicialmente
história da loucura” na Idade Clássica,
imperava a ideia de que a loucura era algo
representando um autêntico marco, uma
divino, “castigo dos deuses”, época em que
reviravolta
reinava a consciência mítica, onde nada se
psiquiatria quanto da loucura, marcando
podia fazer além da acomodação que o
assim o nascimento da Psiquiatria e das
mito da loucura proporcionava. A loucura
práticas
ou a doença mental, como passou a ser
intervenção sobre a loucura (Amarante,
definida a partir do século XVIII, foi
1994).
humano.
nas
médicas
histórias
tanto
contemporâneas
da
de
praticamente sempre combinada a uma
As várias formas de abordar a
dimensão negativa, estranha, estrangeira,
loucura possuem sua importância e abrem
ameaçadora e desestabilizante. Já nos dias
espaço ao conhecimento às críticas e ao
atuais deixou de ser considerada uma
repensar sobre ela, construindo uma nova
experiência trágica, ou algo que integra a
forma mais humana que respondesse aos
condição humana, para ser olhada somente
anseios sociais e científicos da história
como negatividade (Melmam, 2001).
atual, momento em que se tem discutido a
Quando os filósofos iniciaram o
luta
antimanicomial.
Neste
enfoque
questionamento sobre a existência dos
desinstitucionalizar não se restringe e nem
deuses e sobre a própria existência
se
humana, deu-se a transição da consciência
Desospitalizar
confunde
com
significa
desospitalizar.
identificar
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transformação
com
organizações
extinção
de
cursos de capacitação de operadores em
hospitalares/manicomiais,
saúde mental e psiquiatria social, leis de
por outro lado desinstitucionalizar significa
reforma
compreender a instituição no sentido
acontecer
dinâmico e complexo das práticas e
assistenciais
saberes
significativas
que
produzem
determinadas
psiquiátrica
de
e
novas
são
as
deste
um
prolífero
experiências
provas
mais
processo
que
formas de interpretar e relacionar-se com
impressiona muitos segmentos importantes
os
da sociedade brasileira e de muitos outros
fenômenos
sociais
e
históricos
(Amarante, 1994).
países (Amarante, 1994).
O Brasil também vivenciou o
Um passo importante foi dado
processo histórico do desenvolvimento do
quando a Organização Mundial de Saúde
pensamento sobre o sofrimento mental,
(OMS) definiu o ano de 2001 como o ano
demonstrando que a história da Psiquiatria
Internacional da Saúde Mental, no qual
no Brasil passa por um processo de
houve a promulgação da lei da Reforma
asilamento, ou seja, a história de um
Psiquiátrica, Lei nº 10.216, oriunda do
processo de medicalização social.
O
Projeto Paulo Delgado. Neste panorama de
pensamento brasileiro sobre a loucura,
mudanças nasceu o Centro de Atenção
como era chamada a doença mental, se
Psicossocial (CAPS) objetivando cuidar e
desenvolveu a partir de influências de
reinserir o doente mental na sociedade. Os
outros países a ponto de ser alvo de
serviços de saúde mental surgem em vários
questionamentos
foram
municípios do país e se consolidam como
fortalecidas por meio do projeto de lei
eficazes para diminuir as internações e
nº365/89
para a mudança do modelo assistencial.
do
e
então
ideias
que
deputado
Paulo
Delgado.
São locais de referência e tratamento para
Desde então as discussões acerca da
pessoas com transtornos mentais, que de
temática não cessaram, ao mesmo tempo
acordo com a severidade e/ou persistência
em que mudanças significativas eram
justifiquem permanecer num dispositivo de
implantadas
cuidado
objetivando
dar
maior
intensivo,
comunitário,
cobertura e consistência à nova forma de
personalizado e promotor de vida (Brasil,
tratar a doença mental. Vivemos, no Brasil,
2004).
um dos mais singulares processos e
O primeiro CAPS criado no Brasil
transformação da saúde mental e da
foi em março de 1986, na cidade de São
assistência
fértil
Paulo, conhecido como CAPS da Rua
teorização, o aparecimento de vários
Itapeva. Foi o resultado de um desconforto
psiquiátrica.
Uma
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REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
e consequente movimento social dos
individual, respeitando a individualidade
trabalhadores
mental
que
de cada um dentro e fora do CAPS.
situação
dos
Podendo ser incluído em três modalidades
hospitais psiquiátricos, que na época eram
de tratamento: intensivo, semi-intensivo,
os únicos lugares que tratavam as doenças
não intensivo.
denunciaram
de
a
saúde
caótica
mentais. Atualmente a regulamentação dos
O tratamento intensivo ocorre no
CAPS dá-se pela portaria nº 336/GM de 19
momento da crise, quando o grau de
de fevereiro de 2002, tendo como objetivo:
sofrimento mental é intenso, apresentando
dificuldades
[...] oferecer cuidados, aos portadores
de transtornos mentais, dentro de sua
área de abrangência, buscando através
de suas ações a reinserção social dos
usuários. É um serviço criado para ser
substitutivo às internações nos hospitais
psiquiátricos,
com
espaço
próprio
adequado para atender os pacientes em
crise
ou
egressos
de
modalidade
convívio
social.
semi-intensiva
A
acontece
quando o sofrimento do cliente diminui,
facilitando o relacionamento familiar e
social, podendo ser atendido até doze dias
no mês. Na forma não intensiva não há
necessidade de um suporte contínuo da
equipe, sendo atendido até três dias no
mês.
internações
psiquiátricas (Brasil, 2004, p.13).
no
Quando
se pensa em atenção
psicossocial a noção de territoriedade é
importante, isto significa principalmente
É um lugar onde se pode exercitar a
buscar integrar os clientes a um ambiente
subjetividade e a cidadania do portador de
social, cultural e concreto, no espaço da
sofrimento mental perdida, muitas vezes,
cidade
no seu contato com a doença. As
quotidiana dos usuários e familiares,
atividades realizadas se dão em ambiente
designado como seu território (Brasil,
acolhedor, amplo, aberto e inserido na
2004). O CAPS oferece diferentes tipos de
comunidade. Podem ser atendidas no
atividades terapêuticas indo além da ação
CAPS pessoas que apresentam intenso
médica, o que é chamado de clínica
sofrimento mental, que lhes impossibilita
ampliada.
viver de modo saudável e realizar seus
realizadas em grupos ou individuais, para
projetos de vida (Brasil, 2004). O cuidado
usuários e famílias, são elas: atendimento
dispensado a cada usuário do CAPS é
individual, grupos terapêuticos, oficinas
baseado
terapêuticas, psicoterapia de grupo, grupo
em
um
plano
terapêutico
onde
se
desenvolve
Algumas
a
atividades
vida
são
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GLÁUCIA BENEDITA DE MORAES GOMES, PAULO CÉSAR RIBEIRO MARTINS
Psicopedagógico, visitas domiciliares e
organizou mecanismos próprios e locais
atividades comunitárias em parceria com
para
associações de bairros. Os diferentes tipos
população.Implantou-se o CAPS I, onde
de CAPS são:
suas ações terapêuticas buscam assistir os
melhor
atender
a
pacientes de maneira que os objetivos
CAPS para atendimento diário de
adultos,
em
sua
população
de
abrangência,com transtornos mentais
severos e persistentes. CAPS III: são
CAPS
para
atendimento
diário
e
noturno de adultos, durante sete dias da
propostos sejam alcançados.
motor
da
severos e persistentes. CAPSi: CAPS
para a infância e adolescência,para
atendimento
diário
a
crianças
e
adolescentes com transtornos mentais.
CAPS A.D.: [...] para usuários de álcool
e drogas, para atendimento diário à
população com transtornos decorrentes
do uso e dependência de substâncias
psicoativas, como álcool e outras drogas
(Brasil, 2004, p.22).
tem
sido
a
municipalização, a partir dela as cidades
começaram
a
se
ver
implicadas
e
responsáveis pela política assistencial a ser
conduzida em seu território (Brasil, 2004).
semana, atendendo a população de
referência com transtornos mentais
reforma
O grande
O CAPS I de Sinop teve suas
atividades iniciadas em janeiro de 2003 e,
há dez anos, funciona oito horas diárias.
Atualmente têm em sua equipe seis
profissionais
de
nível
superior:
uma
assistente social, uma enfermeira, um
médico, duas psicólogas e uma terapeuta
ocupacional; seis funcionários de nível
médio,
sendo:
administrativos,
enfermagem,
três
dois
uma
auxiliares
técnicos
de
recepcionista,
duas
auxiliares de nutrição e uma zeladora de
nível fundamental. A clientela atendida
O
Estado
de
vivenciou
todas
as
mudanças
inerentes
Mato
Grosso
dificuldades
inclui pacientes com sofrimento mental,
e
sendo que o tratamento proposto pela
da
equipe busca a reinserção e a autonomia
Reforma Psiquiátrica e implantação dos
dos pacientes. No caso específico do setor
CAPS, sendo que atualmente, Mato Grosso
de Psicologia os procedimentos utilizados
possui trinta e três CAPS de acordo com
são: Psicoterapia individual, psicoterapia
dados do Ministério da Saúde (Brasil,
de
2010). O município de Sinop, a 500 km da
psicopedagógico.
Capital de Mato Grosso, diante da nova
possibilitam uma diminuição da ansiedade,
política de abordagem em saúde mental,
tomada
ao
processo
grupo,
de
grupo
Tais
consciência,
familiar
e
procedimentos
expressão
e
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REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
elaboração dos conflitos, fortalecimento do
que permanece por no mínimo duas
eu, aumento da capacidade de lidar com as
semanas
questões emocionais em contextos grupais
limitação significativa no funcionamento
e atenção à família. Orientam-se os
social, ocupacional ou em outra área
familiares para uma melhor compreensão
importante.
da doença mental, resgatando a capacidade
também deve apresentar pelo menos quatro
de aprender que fica quase perdida diante
sintomas
de um estado mental alterado. Estes
características comuns da depressão, as
procedimentos se estendem a todos os
quais são descritas por (Ebert, Loosem &
tipos de transtornos mentais, e no caso
Nurcombi, 2002, p. 54) da seguinte forma:
provocando
sofrimento
ou
Nesse período, o indivíduo
adicionais,
extraídos
das
específico deste estudo, a depressão.
Humor Deprimido: [...] é o sintoma
mais característico, ocorrendo em mais
A Depressão
de 90% dos pacientes. O paciente
Considerando
que
uma
maior
parcela de usuários que buscam tratamento
no CAPS do presente estudo sofre de
transtornos depressivos e estando esta
patologia colocada em 1º lugar entre as
doenças que mais incapacitam no mundo, é
a ela que este estudo se destina sendo
oportuno
defini-la de
forma sucinta,
chamando atenção para a Depressão
Maior.
Classificada no CID-10 (1993)
como transtorno do humor, sendo descrita
do F32 a F 33.9 e podendo se apresentar de
três formas: leve, moderada ou grave
(maior). É definida como uma doença
mental
na
qual
há
significativa
do
uma
alteração
estado
mental,
especificamente o humor. Os sintomas do
episódio depressivo maior são: Humor
depressivo e perda de interesse ou prazer,
habitualmente descreve a si mesmo
como se sentindo triste, para baixo,
vazio,
sem esperança,
desanimado,
melancólico.
Anedonia: Uma incapacidade para
desfrutar das atividades habituais, é
praticamente
universal
entre
os
pacientes deprimidos.
Perda de Energia: Quase todos os
pacientes
deprimidos
relatam
uma
significativa perda de energia (anergia),
uma fadiga ou cansaço fora do comum e
uma falta geral de eficiência, mesmo
para
as
tarefas
mais
simples
e
elementares.
Sentimento
de
Inutilidade:
Um
indivíduo deprimido pode experimentar
uma diminuição pronunciada na auto
estima.
Indecisão
ou
Diminuição
na
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GLÁUCIA BENEDITA DE MORAES GOMES, PAULO CÉSAR RIBEIRO MARTINS
Concentração:
Aproximadamente
depressiva exige um compromisso dos
metade dos pacientes deprimidos se
pacientes, dos membros da família e da
queixa ou apresentam uma lentificação
sociedade.
do pensamento. Podem sentir que não
Em meados do século XX os
são capazes de pensar tão bem quanto
pacientes
antes, que não conseguem se concentrar
gastavam um quarto da sua vida adulta em
ou que se distraem facilmente.
hospitais e uma metade completa de sua
Ideação Suicida: Muitos indivíduos
vida incapacitados. A epidemiologia da
deprimidos experimentam pensamentos
depressão é aproximadamente de duas a
recorrentes
incluindo
três vezes mais comuns em mulheres
sentimentos transitórios de que os
adolescentes e adultas do que em homens
outros estariam melhor sem eles até os
adolescentes e adultos, com taxas mais
planos reais e a implementação do
altas entre homens e mulheres no grupo
suicídio.
etário entre os 25 e os 44 anos. Entre os
de
morte,
deprimidos
tipicamente
indicadores prognósticos positivos estão: a
É importante a observação destes
ausência
de
sintomas
sintomas por parte do profissional para
hospitalização
que, a partir deles, possa se definir o
depressão e um bom funcionamento
tratamento. No caso de sintomatologias
familiar. Os prognósticos desfavoráveis
que envolvem dificuldade de concentração
envolvem: transtorno psiquiátrico co-
e
funções
mórbido, abuso de substância, idade muito
indispensáveis à tarefa de aprender, é
precoce do início da doença, larga duração
necessário o profissional assegurar ao
da hospitalização e do episódio depressivo
paciente
que
tais
(Ebert, Loosem, & Nurcombi, 2002).
sintomas
da
depressão,
memória,
que
alteram
dificuldades
que
são
duração
curta
da
Sobre o tratamento de pacientes
serão
trabalhadas no decorrer do tratamento.
ou
psicóticos,
depressivos, outro aspecto importante é o
Muitas complicações podem surgir
médico discutir com os mesmos e seus
no curso do tratamento da depressão. O
familiares sobre a doença, o seu curso, os
transtorno depressivo maior associa-se a
sintomas, a sua natureza recorrente e a
um alto nível de morbidade e mortalidade,
necessidade
sendo que até 15% dos pacientes com
tratamento farmacológico é baseado na
transtorno
administração
depressivo
maior
grave
cometem suicídio. Assim, a condição
de
medicamentos.
de
O
medicamentos
antidepressivos, usados com sucesso para
tratar
uma
variedade
de
problemas
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psiquiátricos e outros transtornos de
estado mental começa a se organizar
humor, sendo também usados atualmente
facilitando a utilização positiva de suas
no tratamento do transtorno depressivo
funções mentais superiores. É nesse
maior. O uso de antidepressivos costuma
momento específico que se inclui a
ser iniciado com baixa dosagem e é
psicoterapia individual, seguindo-se o
aumentado no curso do tratamento até a
tratamento grupal que é aberto a todos,
obtenção da dose adequada. Em alguns
especialmente
casos soma-se ao uso de medicamentos a
somente
terapia
terapia
psicoterápico individual. O paciente é
ocupacional, a psicoterapia individual e
ajudado a se conscientizar da importância
grupal.
do grupo na sua ressocialização, porém a
eletroconvulsiva,
a
Durante o acompanhamento, a
manutenção da relação psicoterapêutica,
aqueles
em
que
já
estão
acompanhamento
participação na terapia grupal não é
obrigatória.
na qual o terapeuta ganha a confiança do
paciente e está disponível em tempos de
crise,
é
crucial
no
tratamento
Tratamento Grupal
da
depressão. Segundo (Craig, 1991), o
O tratamento grupal é usado há
tratamento da depressão envolve terapia
muito
familiar e grupos de apoio que são
mentais.Preocupa-se principalmente em
benéficos para evitar
melhorar
recorrências e
tempo
a
com
socialização
doentes
buscando
a
reconhecimento precoce dos sintomas que
expressão de sentimentos para maior
antecedem os surtos. As causas precisas
conhecimento de si mesmo por parte dos
da depressão
são
pacientes. Historicamente, a terapia de
conhecidas, no entanto, a OMS preconiza
grupo iniciou-se nos Estados Unidos, em
múltiplos fatores, entre eles: Hereditários,
1905, onde cursos foram organizados para
congênitos, bioquímicos e psicossociais. A
tratamento de tuberculosos. A partir de
compreensão destes fatores possibilitará
1920, surgiram trabalhos em grupo para
um diagnóstico e tratamento mais eficaz.
doentes mentais.
maior
Partindo
acompanhamento
deste
ainda
não
raciocínio,
multidisciplinar
o
se
Naquela época,
os
métodos psicodramático e psicanalítico
passaram
a
utilizar
o
grupo
como
justifica e, na medida em que o paciente se
elemento fundamental de modificações do
mantém em tratamento, os sintomas são
comportamento (Shirakawa, Chaves &
controlados por meio de medicação e o
Mary, 2001).
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Perspectivas em Psicologia, Vol. 19, N. 1, pp 58-78, Jan/Jun 2015
GLÁUCIA BENEDITA DE MORAES GOMES, PAULO CÉSAR RIBEIRO MARTINS
A
importância
dos
grupos
é
peculiar.
observada desde o nascimento. Iniciamos
O
funcionamento
do
Grupo
nossa vida no seio familiar, estudamos,
Terapêutico aproveita as experiências
trabalhamos, enfim, vivemos em grupo, o
individuais dos pacientes para que os
qual tem uma contribuição fundamental na
mesmos possam enriquecer-se com as
saúde mental. O grupo constitui o poder
trocas de vivências, jogos dirigidos e
de adoecer ou curar o indivíduo (Ribeiro,
atividades
1988). De acordo com Melman (2001),
histórias e dramatizações. Os participantes
somos seres tribais, fomos forjados para
fazem uma leitura de si e do outro,
vivermos e aprendermos em grupo. O
reaprendendo
poder grupal tem a função de proteger
(Rogers, 1986), em um ambiente ideal de
seus integrantes de forças ameaçadoras,
aprendizagem,
sempre presentes em situações difíceis, o
positivas, onde prevalece a valorização do
que justifica o seu uso na atenção
eu. Tornando o paciente mais confiante,
psicossocial.
seguro de si, autônomo e criativo, dentro
O Grupo Terapêutico, no CAPS, é
criadoras
a
que
envolvem
tornarem-se
de
relações
pessoas
humanas
de um contexto grupal desprovido de
realizado duas vezes por semana, com
ameaças.
pacientes de ambos os sexos e composto
expressão da saúde emocional da pessoa,
por vinte pessoas. O objetivo principal é
vivenciado no ato de realizar algo novo. É
resgatar
aprender,
o encontro do ser humano, intensamente
ajudando o paciente a interessar-se pelo
consciente de sua relação com o mundo,
conhecimento, e reúnem em sua essência a
produzindo efeitos terapêuticos (Vigolim
socialização e a aprendizagem, condições
& Alencar, 1994).
a
capacidade
de
inerentes à condição humana.
Diversas
teorias
O
processo
criativo
é
a
O tratamento em grupo provoca
psicológicas
inúmeras
experiências
terapêuticas,
enfatizam que a aprendizagem se dá por
essenciais à recuperação da saúde mental.
meio da observação, condicionamento,
Quando o paciente ouve a respeito dos
insight, ensaio e erro. A Psicologia
problemas dos outros, passa a não se sentir
apresenta uma forma própria de entrar em
como
contato com o conhecimento, preconiza
experimentando
que as pessoas têm suas particularidades
universalidade. Os participantes oferecem
no modo de aprender, caracterizando uma
entre si apoio suporte, compreensão,
maneira única de aproximar-se do objeto
conselhos e encorajamento numa atitude
de conhecimento, formando um saber
altruísta. A união de todos por um único
o
único
a
um
ter
problemas,
sentimento
de
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REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
objetivo
comum
fortalece
a coesão,
possibilitando o autoconhecimento na
alienantes possíveis, para que haja a
promoção da saúde.
medida em que entendem o que se passa
O sofrimento mental provoca por
com o outro, compreendendo melhor a si
vezes o isolamento que é automaticamente
mesmo. O paciente instiga sua esperança
disfuncional, obrigando a pessoa a viver
ao descobrir que pode haver solução para
imersa em si mesma, aceitando condições
seus problemas e que todos no grupo
impostas
podem ser ajudados (Shirakawa, Chaves
processo de alienação mental e social que
& Mary, 2001).
sutilmente a afasta da sociedade. Essa
sem
questionamentos,
num
Quanto mais se esforçam para lidar
alienação é socialmente determinada e a
com os problemas, mais se beneficiam do
pessoa doente carece de mecanismos
tratamento em grupo, criando um senso de
mentais próprios que a faça reagir de
responsabilidade. Neste contexto, o Grupo
forma saudável a um contexto sócio
Terapêutico é fundamental quando lança
familiar opressor, impostor e de exclusão.
mão,
enfoque
O Grupo Terapêutico deseja reverter esse
psicossocial promovendo a aprendizagem,
processo de alienação psicossocial por
no seu verdadeiro sentido, que é a
acreditar
mudança
participantes
principalmente,
de
do
comportamento,
possibilitando a reinserção psicossocial.
na
capacidade
de
reagir
de
seus
a
esses
condicionantes e até mesmo transformá-
No grupo são realizadas atividades
los. Bleger (1988) se aproxima de Marx
criadoras de forma sistemática e cada
quando se refere á alienação mental e
novo encontro, caracterizando um espaço
alienação do trabalho, afirmando que o
onde se resgata a aprendizagem no nível
mesmo processo que ocorre na neurose
pessoal e social. São propostas diversas
como fenômeno psicológico, pode ser
atividades, entre elas: estimulação da
visto na alienação como fenômeno social.
expressão livre, troca de experiências,
O Grupo Terapêutico desenvolve
leituras e interpretação de texto. Segundo
um espaço social por meio de suas tarefas,
Rivière (1985) podemos considerar as
atuando como fator transicional entre um
atividades como ações humanas, onde
funcionamento menos saudável, carregado
estão presentes o sentir, o pensar e o agir
de angústia e melancolia para formas de
de forma integrada. Desta forma, a
integração
importância das atividades reside na
autônomas. Para fazer frente ao seu
questão de não serem ou serem menos
círculo
psicossociais
de
saudáveis
convivência
e
diária,
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Perspectivas em Psicologia, Vol. 19, N. 1, pp 58-78, Jan/Jun 2015
GLÁUCIA BENEDITA DE MORAES GOMES, PAULO CÉSAR RIBEIRO MARTINS
principalmente a família.
O
grupo
num período de dez anos ampliou o
funciona
tentando
número
de
participantes
e
totaliza
possibilitar o espaço potencial (Winnicott,
aproximadamente oitocentas e quarenta
1990), no qual os pacientes possam se
sessões. Neste grupo recebe-se a presença
expressar livremente de acordo com suas
de estagiários de alguns cursos técnicos e
necessidades
e
limites
para
se
de diversos cursos de graduação, em
surgir
a
especial Psicologia e Enfermagem das
capacidade criadora diante das situações
Instituições de Ensino Superior. Essa
de ameaça individual. Oportunizando o
parceria possibilita aos alunos estagiários
crescimento pessoal e a ressignificação de
a observação e conhecimento sobre as
sua atuação social.
práticas desenvolvidas no campo da
desenvolverem,
fazendo
Ao longo dos últimos anos o
Atenção Psicossocial.
Grupo Terapêutico vem se esforçando
para
ser
um
dispositivo
ressocialização
das
eficaz
pessoas
na
com
A questão psicossocial deve levar
os
pacientes
a
reflexões
contínuas,
principalmente, nos aspectos: saúde e
sofrimento mental que fazem tratamento
doença.
no CAPS, oferecendo uma intervenção
fomentadas no grupo provocam nos
terapêutica exercida de forma continuada
participantes a necessidade de buscarem
pelo profissional de Psicologia que facilita
outros espaços sociais para resolução de
o processo de forma dialética, ajudando os
suas demandas. Neste sentido, criaram-se
pacientes
dentro do CAPS as assembleias de
a
saírem
da
alienação
As
e
usuários,
conhecimento do pensamento de Marx
momento
(Bleger,
a
cotidiano, entre os temas: relação dos
alienação se dá quando o homem ignora a
pacientes com os profissionais do serviço,
sua
organização
entendemos
participação
na
que
construção
da
consolidadas
reflexões
psicossocial que vivenciam. A partir do
1988),
já
discussões
para
do
discussões
serviço
sobre
um
o
(aspectos
técnicos),
histórico determinando o surgimento de
paciente (quanto a compreensão da doença
instituições sociais,que em sua maioria o
de cada um) e propostas para melhoria do
oprimem criando condições favoráveis ao
serviço. O serviço tem possibilitado uma
adoecimento.
mudança de conduta dos participantes,
pública
de
saúde
mental,
tem
se
beneficiado desta abordagem grupal que
paciente
–
sociedade e deixa de ver o processo
O CAPS como uma instituição
relacionamento
como
tornando-os mais participativos na relação
com suas famílias e com sua comunidade.
Reivindicando
seus
direitos
sem
69
Perspectivas em Psicologia, Vol. 19, N. 1, pp 58-78, Jan/Jun 2015
REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
menosprezar seus deveres, com postura
partir
das
atividades
que
política enquanto cidadão, reforçada pelos
entendendo
profissionais do CAPS. Na tentativa de
processo que se dá em um âmbito menor
garantir da reconstrução da Saúde Mental.
do espaço social. Todas as suas ações são
ressocialização
realiza,
como
um
ressocializadoras, capazes de desenvolver
Reinserção Psicossocial
no indivíduo a dimensão social do ser
humano.Neste
sentido,(Brasil,
2004)
Considerando o processo histórico
lembra que no novo modelo assistencial a
pelo qual percorre a saúde mental, sabe-se
sociabilidade é valorizada, estimulando
que durante um longo período os pacientes
cada vez mais as trocas interpessoais
foram mantidos isolados da sociedade,
como medida terapêutica, havendo assim
objetivando tratar e manter a ordem social.
uma maior valorização do indivíduo, o
A sociedade é desafiada cotidianamente
que o torna singular e possuidor de
para o acolhimento e cuidado das pessoas
desejos. Portanto, ressocializar distingue-
que adoecem mentalmente com gravidade.
se de reinserir, visto que este último inclui
No entanto, o que predomina é uma visão
abrir-se para um nível social mais amplo.
preconceituosa em relação ao fenômeno
da
doença
mental,
resultando
Reinserir significa trazer de volta,
na
assim se faz mister cuidar visualizando o
marginalização efetiva e social de um
retorno à vida social, acrescenta-se a isto,
grande número de pessoas que precisam
o
de atenção psiquiátrica (Melmam, 2001).
reconstrução
No contexto de mudanças do novo
termo
psicossocial
indivíduo.
da
Desta
com
cidadania
forma,
vistas
plena
a
do
reinserção
olhar sobre a saúde mental, destaca-se a
psicossocial significa oferecer todas as
necessidade da reinserção psicossocial do
possibilidades de tratamentos disponíveis,
indivíduo, demonstrando que a doença não
respeitando até onde o paciente quer
deve torná-lo excluído do mundo, e que o
chegar, e não até onde a equipe de
mesmo tem o direito de continuar sendo
cuidados
cidadão. Este é um dos objetivos dos
mesmo tempo não podemos perder de
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
vista
criados, em alguns casos, para substituir as
indissociáveis. Para reabilitar deve-se
internações.
continuamente oferecer tratamento aos
O CAPS, em sua filosofia, é um
lugar capaz de ressocializar os pacientes a
previamente
que
tratar
estabelece.
e
reabilitar
Ao
são
indivíduos (Morais, 2003).
A reabilitação psicossocial passa a
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Perspectivas em Psicologia, Vol. 19, N. 1, pp 58-78, Jan/Jun 2015
GLÁUCIA BENEDITA DE MORAES GOMES, PAULO CÉSAR RIBEIRO MARTINS
ser entendida não somente como um
não percam de vista o respeito e a
processo que visa reabilitar e desenvolver
tolerância, tanto pelos pacientes quanto
novas atitudes e comportamentos nos
pelas suas experiências expressas de
pacientes, mas também nos familiares e
forma objetiva e subjetiva (Pego, 2003).
técnicos,
de
maneira
a
fomentar
É
proposta
a
realização
de
movimentos inovadores de produção de
atividades que estimulem a autonomia,
trocas afetivas e de sociabilidade. A
fomentando o interesse pelo conhecimento
reinserção mais completa possível na
(sistematizado ou não), ações que rompam
normalidade da vida social e produtiva
com o estigma e preconceitos em relação
abre as comportas da experimentação e da
ao transtorno mental, encorajando o
invenção de práticas sociais que possam
paciente
colocar todos os atores envolvidos num
participativa e humana.
a
viver
de
forma
mais
movimento coletivo de busca de novas
modalidades de existência, novos valores
Estratégias Metodológicas
e novos sentidos (Melmam, 2001).
No CAPS a reinserção psicossocial
Este
é considerada como o processo pelo qual o
exploratório
indivíduo com transtorno mental retorna
qualitativas, que, de acordo com Chizzotti
ao convívio social, retoma sua autonomia,
(1998), se dedica a estudar fenômenos
participa de sua vida e reaprende a fazer
sociais a partir de um obstáculo percebido
escolhas. Partindo desta compreensão, são
pelo sujeito. O pesquisador é um condutor
propostas algumas atividades visando à
participante que tem compromisso com o
reinserção, como por exemplo: O Grupo
fenômeno pesquisado, acreditando no
Terapêutico,
conhecimento
como
encaminhamento das questões emocionais
coletiva,no
existe
para
sofrimento
dinâmica entre pesquisado e pesquisador,
mental, contemplando as dificuldades e
assim os dados acontecem em um
possibilidades apresentadas pela pessoa
contexto de relações.
uma
no
qual
elaboração
do
há
um
é
um
estudo
com
qual
descritivo
características
construção
uma
relação
com transtorno mental. O psicólogo atuará
A pesquisa qualitativa dá privilégio
junto ao grupo, respeitando as diferenças e
à observação participante, relatos de vida
não as reduzindo, deixando que se crie e
e análise de conteúdo, permitindo assim a
recrie novas possibilidades, favorecendo
criatividade do pesquisador que expõe e
uma
da
valida às técnicas adotadas, demonstrando
agressividade manifestada, com ações que
a cientificidade da pesquisa por acreditar
transformação
positiva
71
Perspectivas em Psicologia, Vol. 19, N. 1, pp 58-78, Jan/Jun 2015
REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
que o momento histórico atual impulsiona
atividade grupal promotora de educação,
para um pensar mais amplo e dinâmico
suporte,
sobre a doença mental.
treinamento de habilidades sociais e
desenvolvimento
emocional,
O estudo foi realizado em um
vocacionais, é tido pelos participantes em
CAPS do interior do Estado de Mato
questão como um grupo onde as pessoas
Grosso,
com depressão aprendem a socializarem-
com
apresentavam
cinco
indivíduos
transtorno
que
depressivo,
participantes do Grupo Terapêutico. O
se,
sendo
que a
terapia ajuda
na
recuperação dos problemas mentais.
critério para escolha dos participantes foi
Em relação à ajuda do Grupo
pautado nos seguintes itens: Pacientes
Terapêutico na recuperação da saúde
com depressão maior, onde é perceptível o
mental, os pesquisados foram unânimes
afastamento social; e participantes com
em responder positivamente, justificando
maior efetividade de participação no
suas respostas em função do espaço de
grupo. Estes critérios possibilitaram ao
troca de ideias e experiências comuns. Ao
pesquisador fazer observações e um
participarem de um grupo, os pacientes
acompanhamento
sistemático
da
compartilham
pacientes.
Os
problemas com outros, descarregando
instrumentos utilizados foram: observação
afetos carregados de emoção, promovendo
com registro em diário de campo e
um movimento de catarse, bem como
entrevista aberta, gravada e consentida.
descrevem Shirakawa, Chaves e Mary
Para coletar os dados foram feitos
(2001).
participação
dos
suas
histórias
e
seus
encontros previamente marcados com os
Foi claramente perceptível que a
participantes selecionados para entrevista.
participação da maioria dos participantes
O estudo foi desenvolvido durante cinco
do Grupo Terapêutico é realizada com
meses.
motivação, facilitando o aproveitamento e
o comparecimento as sessões grupais. É o
Resultados e Discussão
que deixa claro a seguinte resposta:
“Participo de forma otimista, acreditando
A partir dos resultados obtidos por
na minha recuperação”. Esta fala vem ao
meio das entrevistas, complementadas
encontro do ponto de vista de Pego
pelas observações, verificamos que o
(2004), quando refere que o sujeito diante
grupo psicopedagógico, entendido por
da experiência com o grupo, tem a
Shirakawa, Chaves e Mary (2001) como
possibilidade de perceber a si mesmo
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Perspectivas em Psicologia, Vol. 19, N. 1, pp 58-78, Jan/Jun 2015
GLÁUCIA BENEDITA DE MORAES GOMES, PAULO CÉSAR RIBEIRO MARTINS
enquanto presença motivada para a ação e
sobre a experiência de estar no grupo
a própria transformação pessoal, o que
referindo que o sentimento de vergonha
reflete como resposta na sua interação
pode fazer com que algum participante
com o meio. Relacionando esses dados
fique mais quieto. No entanto, mesmo
com os das observações realizadas, e
quando está em silêncio, às vezes, por
quanto à atitude do paciente frente à
longos períodos, a pessoa, através do que
atividade
denominou reação de espelho, trabalha
grupal,
foi contemplada
a
dificuldade motora na execução da tarefa
seus conteúdos internos.
de escrever e desenhar, expressa da
O sentimento de acolhimento para
seguinte maneira: “a dificuldade que tenho
poderem compartilhar
é só de escrever ...”.Percebemos desta
comum,
maneira que há no geral mais facilidade de
motivos para que todos os participantes
expressão oral, o que acreditamos ser pelo
fossem
sentimento de acolhimento e respeito
aconselham outras pessoas a participarem
constantemente presentes nas sessões do
do Grupo Terapêutico. O que é expresso
grupo psicopedagógico e pela falta do
da seguinte forma: “... é bom estar aqui no
hábito da expressão escrita.
grupo, a gente encontra mais motivação
Perguntados
sobre
como
se
possivelmente,
unânimes
principalmente
de coisas em
foi
em
quando
um
referir
a
gente
dos
que
fica
sentiam no grupo, apenas um participante
sabendo dos problemas da outra pessoa,
expressou que, às vezes, sente-se à
eu aconselharia porque é muito bom esse
vontade e outras vezes envergonhado, os
grupo e quanto mais gente melhor”. As
demais evidenciaram um sentimento de
observações
realização em estar no grupo: “Eu sinto
levantar informações sobre a relação entre
bem maravilhosamente”,
“ Sinto muito
pacientes e coordenador do grupo, na qual
feliz”, “Me sinto muito bem , porque ele
parece estar presente o sentimento de
ajuda
sociedade”.
acolhimento e respeito, o que têm
Percebemos que os sentimentos dos
despertado nos participantes o desejo de
pacientes pertencentes ao grupo vêm ao
que outros pacientes participem. Estar
encontro com o que dizem Shirakawa,
com o outro, como diz Pego (2004)
Chaves e Mary (2001), afirmando que o
promove a partir do contato e confronto
tratamento
com as diferenças individuais a recriação
a
voltar
para
grupal
a
possibilita
uma
sensação de acolhimento embora alguns
pacientes sintam-se tímidos e retraídos.
Neste sentido, Ribeiro (1988) comenta
do
grupo
possibilitaram
de si mesmo.
Os participantes da pesquisa foram
unânimes
em
afirmarem
em
suas
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Perspectivas em Psicologia, Vol. 19, N. 1, pp 58-78, Jan/Jun 2015
REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
respostas, quando perguntados sobre a
histórias e seus problemas com os outros,
motivação para aprender, revelando o
extravasar afetos carregados de emoção,
seguinte: “No momento eu quero aprender
promovendo catarse (Shirakawa, Chaves
muito mais”. “Eu querendo aprender
& Mary, 2001).
muitas coisas ...
pensar um pouco de
Ao falarmos sobre a reinserção
mim, mudar a vida ... quero ser mais feliz,
social
ser outra pessoa”. “É que sou muito
constatamos
interesseiro, vivendo e aprendendo, a
pessoas é um fator de incômodo e que eles
minha faculdade sempre falo: é a vida”. A
sentem-se reinseridos socialmente, é o que
possibilidade
aprendizagem
se observa na resposta: “Estou até fazendo
interpessoal e a descoberta de que pode
curso de computação”. A reabilitação
haver solução para os problemas, que
psicossocial, de acordo
todos integrantes podem receber ajuda e
(2003), é um processo de reconstrução do
de fato melhorar, traz à tona mais um fator
pleno exercício de cidadania e também de
terapêutico, o da instilação de esperança
plena contratualidade em três cenários:
(Shirakawa, Chaves & Mary, 2001).
habitat, rede social e trabalho com valor
de
Os
construcionistas
sociais
e
o
que
que
a
os
incomodava,
aglomeração
de
com Morais
social.
sustentam que todo o conhecimento, tanto
Sobre a questão de aconselhar
do mundo como de si mesmo, evolui nos
outros pacientes para que iniciem ou
espaços interpessoais. Assim, é importante
retornem a participar do grupo, todos
buscar: O que os pacientes já aprenderam;
pediriam
como articulam os diferentes conteúdos
iniciassem, deixando clara a importância
entre si; como fazem uso do conhecimento
do grupo para eles. Comentando sobre o
nas
e
grupo, Ribeiro (1988) lembra-nos que: O
sociais; e como os usam no processo e
grupo resulta no fator psicoterapêutico
assimilação
mais eficiente, mais abrangente, mais real
diferentes
situações
de
novos
escolares
conhecimentos
(Weiss, 2004).
e
mais
para
que
próximo
retornassem
da
ou
realidade.
Ao serem indagados sobre como se
Possivelmente, estes sejam os motivos que
sentiam após a participação no grupo,
levariam os participantes sugerirem que
houve unanimidade ao responderem que
todos os pacientes seriam beneficiados
era a melhora e a felicidade. Participando
com as reuniões em grupo.
de
grupos,
os
pacientes
têm
oportunidade
de
compartilhar
a
Outro fator que motivaria os
suas
participantes a valorizar o grupo é as
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Perspectivas em Psicologia, Vol. 19, N. 1, pp 58-78, Jan/Jun 2015
GLÁUCIA BENEDITA DE MORAES GOMES, PAULO CÉSAR RIBEIRO MARTINS
relações paciente-paciente e paciente-
execução de tarefas que envolvem a
coordenador, nas quais está presente um
escrita. É importante observar a forma
clima de solidariedade e colaboração na
como os pacientes se aproximam ou
tentativa de resolução das dificuldades
evitam as atividades, a postura e as
surgidas, respaldadas na fala de um dos
tensões que ocorrem, culminando na
pacientes:
temática do material escolhido para ler ou
“...
não devia abandonar,
porque ajuda muito na hora que a gente
escrever,
mais precisa... a gente vem no meio deles,
resistência na sugestão de mudança de
cada um fala de uma maneira que ajuda a
horário do grupo expresso na seguinte
gente
resposta:
viver”.
Nestas
relações
entre
deixando
“Estou
transparecer
fazendo
curso
a
de
paciente-paciente e paciente-coordenador,
computação no dia que é para participar
Shirakawa, Chaves e Mary (2001) referem
do grupo psicopedagógico”. Como pode-
que o coordenador precisa estar alerta às
se observar, os relatos dos pacientes
atitudes cooperantes dos pacientes e
demonstram que estão felizes com o
reconhecer a ajuda que os membros
atendimento, otimistas, acreditando na sua
oferecem uns aos outros, reforçando essas
recuperação
interações úteis. Pelo visto, é algo que tem
dificuldades, o que tem contribuído para a
se
reinserção psicossocial.
realizado
no
Grupo
Terapêutico
e
percebendo
as
suas
apresentado neste artigo.
Em
relação
às
dificuldades
Considerações Finais
encontradas para participação no grupo,
evidenciamos
que
a
dificuldade
Pensar
socioeconômica é um dos empecilhos
atualmente
encontrado
contínuas
para
a
participação
pensar
apesar
dos
em
mental
reflexões
avanços
já
alcançados ao longo da história. O Grupo
condição eu ia, mas minha doença não
Terapêutico, criado como recurso de
permite ... é essa a minha dificuldade ... a
reinserção social, tem contribuído para a
gente tem que faltar para correr atrás de
reinserção do paciente depressivo, dotado
um outro negócio porque sou pobre,
de um enfoque teórico e prático para
dependo de correr atrás das coisas para
compreender e lidar com os transtornos
conseguir resolver os problemas”; “A
ocasionados
minha dificuldade é: se tiver guarda-chuva
basicamente significa entender a relação
eu venho, se não, não tem como eu vir”.
complexa entre sintoma, personalidade,
no
grupo:
se
é
transtorno
tivesse
pacientes
“...
dos
em
Outras dificuldades aparecem na
ambiente
pela
doença.
interpessoal
O
que
tornando-os
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REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
responsável em relação à doença, sem
aspecto que desmotivaria a participação
sentirem-se culpados pela enfermidade.
dos pacientes.
Houveram mudanças provocadas
A participação efetiva no Grupo
pela participação no grupo, a saber: O
Terapêutico tem levado os pacientes a
interesse pelo conhecimento, a vontade de
melhorar o insight sobre a doença; lidar
aprender, o desejo de viver e ser outra
melhor com a estigmatização da doença e
pessoa. Os aspectos que
motivaram a
melhor adesão ao tratamento;encontrando
participação foram: A aprendizagem ,a
caminhos autônomos para imprimir uma
expressão de sentimentos, o fato de serem
melhor qualidade de vida. Abrindo espaço
compreendido e saber que outras pessoas
para novas reflexões sobre o assunto em
passam pelo mesmo problema . Sendo a
direção a desmistificação da “loucura”.
dificuldade sócia econômica o principal
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REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE ATENDIMENTO GRUPAL
DE PACIENTES DEPRESSIVOS DO CAPS
Os autores:
Gláucia Benedita de Moraes Gomes é Pós-Graduada em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela
Universidade Federal de Mato Grosso – Cuiabá, atualmente é Professora do Curso de Psicologia da Unic –
Sinop – MT. Endereço: Rua da Conquista, 624 – Parque das Araras – Residencial Mogno - Sinop – MT –
CEP 78550-494, e-mail: [email protected] - (66) 8121-2008.
Paulo César Ribeiro Martins é mestre e doutor em Psicologia pela PUC de Campinas – SP. Endereço: Rua
Dionísio, 543 – Bairro Bela Vista - Ipatinga – MG – CEP 35160-187, e-mail: [email protected]
– (31) 9978-5854.
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