Curso de campo - Sejam bem vindos!

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UNIVERSIDADE DE BRASILIA
PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
RELATÓRIO FINAL
MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA
2O SEMESTRE DE 2002
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS
NOVAS, CALDAS NOVAS, GO
Aos leitores
Temos os prazer de apresentar os relatórios de trabalhos desenvolvidos no curso de
campo realizado, de 16/09 a 10/10 de 2002 no Parque Estadual Serra de Caldas Novas
(PESCAN), Caldas Novas, GO.
Esse foi um curso de campo especial por ter sido realizado em conjunto pelo
Programas de Pós Graduação em Ecologia da Universidade de Brasilia e da Universidade
Federal de Uberlândia. Essa parceria foi muito bem sucedida.
Os curso de campo dos dois Programas tem como objetivo básico o treinamento de
seus estudantes em levantar questões, numa ampla gama de temas e organismos, e propor
metodologias para respondê-las o que inclui a aplicação de diferentes técnicas de trabalho
no campo. Nesse caso, as experiências dos participantes permitiram ampliar essa gama de
temas, organismos e técnicas tratados durante o curso.
Tradicionalmente os cursos de campo dos PPGs em Ecologia no Brasil recebem
alguns alunos e professores de fora, o que tem se mostrado uma prática enriquecedora.
Nesse curso, a convivência no campo por três semanas permitiu um aprofundamento na
troca de conhecimentos e experiências e uma maior interação entre alunos e entre
professores dos dois programas. Essa proximidade resulta em uma maior facilidade em
colaborações e em parcerias futuras.
Esperando que novas parcerias como essa venham a se concretizar, apresentamos
aqui os resulatados dos trabalhos desenvolvidos durante o curso. É importante lembrar que
esses trabalhos são relatórios de atividades, em grupo ou individuais, desenvolvidos
durante uma disciplina e não constituem publicações formais como artigos ou capítulos.
A realização do curso não teria sido possível sem o apoio e a colaboração da
direção do PESCAN, na pessoa do Sr. Alessandro Belisário, e de seus funcionários. A ele
nossos agradecimentos e a expectativa de continuar contando com o apoio nas próximas
edições do curso.
O apoio e a boa vontade dos técnicos e motoristas que colaboraram com o curso
facilitaram, em muito, as atividades dos participantes. Dona Eunice, cozinheira de mão
cheia, reduziu as aguras de uma jornada de 12 ou mais horas de trabalho diário dos
participantes, com seus quitutes, simpatia e carinho. A todos eles nosso reconhecimento e
agradecimento.
Esperamos que as informações aqui contidas, funcionam como ferramenta no
treinamento de outro alunos em ecologia e como incentivo ao desenvolvimento de
trabalhos no cerrado. E desejamos bom proveito a todos os leitores.
Helena C. Morais
PPG em Ecologia
Universidade de Brasilia
Paulo Eugênio Oliveira
PPG Ecologia e Conservação de Recursos Naturais
Universidade Federal de Uberlândia
ii
Apresentação
A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de PósGraduação em Ecologia.e Conservação de Recursos Naturais da Universidade Federal de
Uberlândia foi extremamente gratificante. Os benefícios foram evidentes para todos os
participantes, desde os alunos até os professores. Um dos propósitos de um curso de
campo é a possibilidade dos alunos interagem com uma gama de assuntos, métodos e
professores diferentes e em alguns casos fazer uma prévia do seu assunto de dissertação ou
tese. Para os professores o curso de campo representa uma possibilidade de conhecer
melhor os alunos e ver ou rever uma área de pesquisa.
A escolha do local para este curso, o Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN) foi uma opção excelente. Este Parque, embora situado muito próximo a uma
área urbana com alto fluxo de turistas, ainda tem muita área bem preservado e tem uma
ampla variedade de ambientes além de oferecer ótimas instalações para a realização de
cursos deste tipo.
Os relatórios apresentados neste volume cobrem uma gama de tópicos ecológicos,
variando desde estudos de mamíferos, interações planta-inseto a levantamento das
comunidades vegetais. Entretanto, excepcionalmente não houve nenhum estudo com
pássaros, talvez um acontecimento inédito em cursos de campo. A passagem de um fogo,
algumas semanas antes da realização deste curso, ofereceu uma oportunidade impar para
estudos comparativos entre locais queimados e não-queimados. Os resultados apresentados
são iniciais e não devem ser tomados como respostas definitivas as perguntas levantadas,
entretanto em muitos casos levantaram outras perguntas interessantes. Todavia, em alguns
casos os dados coletados representam informações inéditas para a Parque e poderão ser
úteis em planos de manejo. Como aconteceu depois de outros cursos de campo, os
resultados de vários projetos já foram apresentados em congressos científicos e até
publicados em revistas especializadas.
Como coordenador da montagem deste volume de relatórios, posso afirmar que esta
tarefa não foi fácil, mas foi gratificante e aprendi muito sobre a logística de como preparar
e formatar relatórios com formatos tão diversos como foram apresentados. A apresentação
dos relatórios está dividida em partes, representando os tipos de trabalhos realizados pelos
alunos: Trabalhos em grupo, Trabalhos de 1 dia e Trabalhos individuais finais.
Finalmente, gostaria de agradecer a todos os que participaram no curso, os
professores, os alunos, os técnicos (sem os quais muitos problemas teriam sido muito mais
difíceis de resolver) e especialmente a D. Eunice pela boa vontade, bom humor e os
sorrisos de satisfação depois das refeições. Sem dúvida o apoio do diretor do Parque, Sr.
Alessandro Belisário, facilitou em muito nossa estadia e os bons resultados obtidos durante
este curso, bem como os guardas que sempre tiveram boa vontade em ajudar e mostrar as
alguns dos lugares mais belos do Parque.
Brasília, 19 de março de 2004
Prof. John Du Vall Hay
iii
Métodos em Ecologia de Campo
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
16/09/02 a 05/10/02
Participantes
Professores
Monitoras
Alunos(as)
Universidade de Brasilia
John Du Vall Hay
Jader Soares Marinho Filho
Pedro Cordeiro*
Ludmilla Aguiar*
Universidade Federal de Uberlandia
Paulo Eugenio A Oliveira
Heraldo Vasconcellos
Glein Monteiro de Aruajo
Ariovaldo Giaretta
Glauco Machado*
Fernando Pedroni
Maryland Sanchez Lacerda
Lucélia Nobre Carvalho
Helena Maura Torezan Silingardi
Carlos H.G. Angeluci
Claudia Toledo
Claudio Muniz
Flavio R. Oliveira
Helder N. Consolaro
Jania C. Salles
Marcela Yamamoto
Marcelle S.C. Rodrigues
Rafael Arruda
Sergio Lopes
Janaina Lacerda
Caio A. Rebula
Ernestino S. G. Guarino
Otacílio Santana
Patricia Rodin
* Convidado(a)
iv
Relação dos projetos em grupo
Grupo !
Patricia
Marcelle
Jania
Otacílio
Flávio
Dia
17/09
1o
18/09
2o
19/09
3o
21/09
4o
23/09
5o
25/09
6o
26/09
Práticas em grupo 1 -3
Grupo 2
Grupo 3
Caio
Ernestino
Claudio
Helder
Sergio
Claudia
Marcela
Carlos
Rafael
Orientador
Glein Araujo
Glein Araujo (G1)
John Hay (G2)
Heraldo Vasconcellos (G3)
John Hay (G1)
Heraldo Vasconcellos (G2)
Glein Araujo (G3)
Janaina/Maura (G1)
Paulo Oliveira (G2)
John Hay (G3)
John Hay (G1)
Maura/Janaina (G2)
Paulo Oliveria (G3)
Ariovaldo Giaretta (G1)
Glauco Machado (G3)
John Hay (G2)
Jader Marinho e Ludmilla Aguiar (G1)
Ariovaldo Giaretta (G2)
Glauco Machado (G3)
Grupo 1
Otacilio
Carlos
Claudia
Claudio
Marcelle
Relator(a)
Jania
Marcela
Ernestino
Marcelle
Caio
Carlos
Patrícia
Claudio
Claudia
Otacilio
Flávio
Rafael
Carlos
Helder
Jania
Claudia
Sérgio
Rafael
Práticas em grupo 4 - 6
Grupo 2
Grupo 3
Patricia
Ernestino
Flávio
Caio
Sergio
Marcela
Helder
Rafael
Jania
Título resumido do projeto
Chave de Identificação das espécies lenhosas
Fitossociologia usando Parcelas
Fitossociologia usando Interceptação de linha
Fitossociologia usando Ponto-Quadrantes
Características foliares na mata
Riqueza de formigas
Similaridade florística
Fenologia instantânea
Oferta de nectar por Caryocar
Distribuição espacial de palmeiras
Características foliares e herbivoria
Comportamento em abelhas
Uso de recursos por beija-flores
Dieta de carnívoros
Eficiência de NEFs
Efeito do fogo na sobrevivência de larvas
Comunidade de morcegos
Levantamento de insetos noturnos
Levantamento de anuros
v
Página
2
7
12
18
23
28
33
38
47
51
54
60
65
67
70
72
77
80
83
Relação dos projetos de 1 dia
Dia
1o
20/09
Grupo
Caio e Carlos
Claudio e Sergio
Flavio e Marcela
Helder e Ernestino
Jania e Marcelle
Patricia e Otacilio
Rafael e Claudio
Título do projeto
Mortalidade de ninhos de Constrictotermes cyphergaster
Herbivoria foliar em Siparuna
Efeito de queimada nas formigas
Predação de frutos de jatobá
Fauna de invertebrados na serapilheira
Evapotranspiração de Caryocar e Xylopia
Comparação de infestação por erva-de-passarinho
2o
24/09
Claudia e Marcelle
Claudio e Helder
Ernestino e Caio
Flávio e Sergio
Marcela e Otacilio
Patricia e Carlos
Rafael e Jania
Comparação de distribuição de galhas e minadores
Estabelecimento de cupinzeiros
Azteca e Cecropia
Efeito do fogo na disponibilidade de recursos
Levantamento fitissociológico de gramíneas
Relacao mutualistica
Comportamento alimentar de Eupetomena
vi
Página
87
90
94
97
100
103
107
110
112
117
120
123
129
132
Relação dos projetos individuais finais
Aluno
Caio A. Rebula
Ernestino S. G. Guarino
Otacílio Santana
Patricia Rodin
Carlos H.G. Angeluci
Claudio Muniz
Flavio R. Oliveira
Helder N. Consolaro
Jania C. Salles
Marcela Yamamoto
Marcelle S.C. Rodrigues
Rafael Arruda
Sergio Lopes
Título do Projeto
Fauna de térmitas (Isoptera, Termitidae) em duas áreas de cerrado, no Parque Estadual da Serra de
Caldas Novas, GO
Influência do fogo na floração de Galactia peduncularis (Benth.) Taub. (Fabaceae) em um campo
rupestre no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO)
Caracterização e análise das estruturas diamêtricas e estádio de regeneração na Mata de Galeria da
Cascatinha, Parque Estadual de Serra de Caldas Novas
Impacto do fogo em Aspidosperma tomentosum Mart. (Apocynaceae) no Parque Estadual da Serra de
Caldas Novas (PESCAN)
Página
136
Relação entre a fauna de invertebrados e ninhos de termitas (Isoptera, Termitidae) em duas áreas de
cerrado do PESCAN-GO
Um teste do modelo de Janzen-Connell com duas espécies arbóreas do Cerrado
Emissão de voláteis em Curatella americana pista da presença de herbívoros para os predadores?
Predação de sementes de Jatobá do cerrado, Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne (Leguminosae –
Caesalpinoideae)
Comportamento territorial de Eupetomena macroura Gmelin (Apodiforme) em Norantea adamantium
Camb. (Marcgraviaceae)
Influência de bruquídeos na produção de sementes de Syagrus flexuosa (Arecaceae) em uma área de
cerrado sensu stricto
Análise da motivação de estudantes em relação ao Parque Estadual da Serra de Caldas Novas - GO
Existe especificidade de hospedeiro por Struthanthus sp. (Loranthaceae) em uma área de cerrado?
Riqueza e abundância de espécies de pequenos mamíferos em cerrado sensu stricto queimado e não
queimado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO
163
vii
141
147
155
167
175
182
187
195
201
207
213
MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
Projetos em Grupo
Set/02
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
CHAVE DICOTÔMICA GERAL PARA IDENTIFICAÇÃO DE
ALGUMAS ESPÉCIES VEGETAIS DE UMA ÁREA DE CERRADO –
Parque Estadual Serra de Caldas Novas (CALDAS NOVAS – GO)
Caio Rébula, Carlos Angeluci, Cláudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Ernestino Guarino,
Flávio Oliveira, Hélder Consolaro, Jania Salles, Maecela Yamamoto, Marcelle Rodrigues,
Otacílio Santana, Patricia Rodin, Rafael Arruda, Sérgio Lopes
1. Folha simples..........................................................................................................................................2
1’. Folha composta...................................................................................................................................33
2. Folha alterna...........................................................................................................................................3
2’. Folha não alterna.................................................................................................................................18
3. Folhas glabras.........................................................................................................................................4
3’. Folhas pilosas......................................................................................................................................10
4. Presença de látex.........................................................................................Pouteria ramiflora
4’. Sem látex...............................................................................................................................................5
5. Presença de ramentas.............................................................................................................................6
5’. Sem ramentas........................................................................................................................................7
6. Folhas lanceoladas........................................................................................................Erythroxylum sp.
6’. Folhas oblonceoladas........................................................................Erythroxylum suberosus
7. Presença de glândulas translúcidas nas folhas............................................Casearia sylvestris
7’. Sem glândulas translúcidas nas folhas..................................................................................................8
8. Folhas membranáceas..........................................................................Agonandra brasiliensis
8’. Folhas coriáceas....................................................................................................................................9
9. Folhas lanceoladas...................................................................................Ouratea hexasperma
9’. Folhas elípticas.............................................................................................Annona coriacea
2
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
10. Folhas pilosas, curvinérveas...................................................................Miconia ferruginata
10’. Folhas pilosas, não curvinérveas.......................................................................................................11
11. Presença de espinhos.............................................................................Solanum lycocarpum
11’. Sem espinhos....................................................................................................................................12
12. Folhas oblongas, com pilosidade abaxial........................................Piptocarpha rotundifolia
12’. Folhas não oblongas..........................................................................................................................13
13. Folhas lanceoladas..............................................................................................................................14
13’. Folhas elípticas..................................................................................................................................15
14. Folhas com pilosidade abaxial e adaxial...................................................Xylopia aromatica
14’. Folhas com pilosidade adaxial.................................................................................Diospyrus hispida
15. Folhas com textura áspera...................................................................................................16
15’. Folhas com textura não áspera...........................................................................................17
16. Folhas com pecíolo involupto........................................................................Davilla eliptica
16’. Folhas apecioladas................................................................................Curatella americana
17. Folhas com borda revoluta, e ausência de ferrugem...............................Hirtella glandulosa
17’. Folhas com borda não revoluta e presença de ferrugem..........................Styrax ferrugineus
18. Filotaxia verticilada............................................................................................................................19
18’. Filotaxia oposta.................................................................................................................................22
19. Folha pilosa..........................................................................................................Aegiphila sellowiana
19’. Folha glabra......................................................................................................................................20
20. Presença de nectário extra-floral...............................................................................Qualea parviflora
20’. Ausência de nectário extra-floral......................................................................................................21
21. Folha de 10 a 12 cm de comprimento.......................................................................Vochysia elliptica
21’. Folha de 20 a 22 cm de comprimento........................................................Salvertia convallarieodora
3
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
22. Folha pilosa........................................................................................................................................23
22’. Folha glabra......................................................................................................................................27
23. Presença de estípulas interpeciolar.....................................................................................Alibertia sp.
23’. Ausência de estípula interpeciolar....................................................................................................24
24. Folha com látex.........................................................................................Aspidosperma macrocarpon
24’. Folha sem látex.................................................................................................................................25
25. Folha concolor.................................................................................................Byrsonima verbascifolia
25’. Folha discolor....................................................................................................................................26
26. Tronco de cor marrom escuro....................................................................................Byrsonima crassa
26’. Tronco de cor creme......................................................................................................Byrsonima sp.
27. Folha com nervura coletora........................................................................................Myrcia variabilis
27’. Folha sem nervura coletora...............................................................................................................28
28. Folha com látex......................................................................................................Hancornia speciosa
28’. Folha sem látex.................................................................................................................................29
29. Com nectário extra-floral...................................................................................................................30
29’. Sem nectário extra-floral...................................................................................................................31
30. Nectário extra floral no ápice da folha........................................................................Lafoensia pacari
30’. Nectário extra floral par na base do pecíolo..........................................................Qualea grandiflora
31. Folha com nervura curvinérvea..................................................................................Miconia albicans
31’. Folha sem nervura curvinérvea.........................................................................................................32
32. Tronco liso....................................................................................................Byrsonima coccolobifolia
32’. Tronco rugoso.................................................................................................................Neea theifera
33. Folha composta pinada.......................................................................................................................34
33’. Folha composta não pinada...............................................................................................................46
4
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Projetos em Grupo
34. Folha composta imparipenada............................................................................................................35
34’. Folha composta paripenada...............................................................................................................41
35. Folha com nº de folíolos igual a 5.....................................................................Acosmium dasycarpum
35’. Folha com nº de folíolos superior a 5...............................................................................................36
36. Folíolo com forma elíptica.................................................................................................................37
36’. Folíolo com forma lanceolada........................................................................Astronium fraxinifolium
37. Folíolo com menos de 2 cm de comprimento..................................................Dalbergia miscolobium
37’. Folíolo com mais de 2 cm de comprimento......................................................................................38
38. Folíolo com coloração discolor.............................................................................Connarus suberosus
38’. Folíolo com coloração concolor........................................................................................................39
39. Folíolo com menos de 3 cm de largura..............................................................................................40
39’. Folíolo com mais de 3 cm de argura.................................................................................Vatairea sp.
40. Folha com menos de 7 folíolos.......................................................................................Rourea induta
40’. Folha com menos de 7 folíolos..........................................................................Bowdichia virgiloides
41. Folha com 2 folíolos...........................................................................................Hymenea stignocarpa
41’. Folha com mais de 2 folíolos............................................................................................................42
42. Folíolo que não apresenta forma elíptica...........................................................................................43
42’. Folíolo com forma elíptica................................................................................................................44
43. Folíolo com forma ovada.............................................................................Sclerolobium paniculatum
43’. Folíolo com forma assimétrica.......................................................................................Dipterix alata
44. Folíolo com coloração concolor........................................................................Pterodon emarginatus
44’. Folíolo com coloração discolor.........................................................................................................45
45. Folíolo glabro..................................................................................................................Simarouba sp.
45’. Folíolo piloso......................................................................................................Sclerolobium aureum
46. Folhas palmadas.................................................................................................................................47
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UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
46’. Folhas recompostas...........................................................................................................................49
47. Folhas concolor....................................................................................................Caryocar brasiliense
47’. Folhas discolor..................................................................................................................................48
48. Folíolos unidos na base.....................................................................................Cecropia pachystachia
48’. Folíolos separados, com pecíolos...................................................................Schefflera macrocarpon
49. Presença de espinhos................................................................................................Mimosa claussenii
49’. Ausência de espinhos........................................................................................................................50
50. Ausência de nectários extraflorais.......................................................................Dimorphandra mollis
50’. Presença de nectários extraflorais.....................................................................................................51
51. Folhas com 4 folíolos..................................................................................Enterolobium gummiferum
51’. Folhas com mais de 4 folíolos..........................................................................................................52
52. Foliólolos pilosos...................................................................................Stryphnodendron polyphyllum
52’. Foliólolos glabros..............................................................................................................................53
53. Foliólolos com mais de 2 cm de comprimento (média)..........................Stryphnodendron adstringens
53’. Foliólolos com menos de 2 cm de comprimento (média)..................................Platymenia reticulata
6
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G1.1 FITOSSOCIOLOGIA DE UMA ÁREA DE CERRADO S.S. DO
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, GO
Jania C. Salles, Flávio R. Oliveira, Marcelle S. C.Rodrigues, Otacílio Santana, Patricia Rodin
Orientador: Prof. Dr. Glein M. Araújo
INTRODUÇÃO
O Cerrado é o segundo maior bioma
do Brasil, e no entanto, é o menos protegido
(Felfili et al. 2002), tendo sido o alvo das
políticas públicas de desenvolvimento
agropecuário. Estima-se que apenas 20%
deste bioma encontram-se em seu estado
original, sendo que 67% é considerada
“altamente modificadas” (Silva et al. 2002).
Tal situação aumenta a necessidade da
criação de unidades de conservação.
O Cerrado apresenta uma das
maiores biodiversidades dos trópicos, sendo
a mais rica das savanas tropicais (Oliveira e
Brandão, 1991). Sua vegetação é altamente
heterogênea, contendo apenas algumas
espécies de ampla distribuição, o que
sugere um padrão espacial em mosaico.
Poucos estudos têm sido realizados neste
bioma, portanto, levantamentos florísticos e
fitossociológicos são de grande importância
para
compreensão
dos
padrões
biogeográficos do Cerrado, e têm
subsidiado a determinação de áreas
prioritárias para a conservação (Felfili et al.
2002). O objetivo deste estudo foi realizar
um levantamento fitossociológico de uma
área de cerrado s.s. do Parque Estadual da
Serra de Caldas Novas - PESCAN, a partir
do qual foi possível determinar as espécies
de maior importância na estrutura da
comunidade.
da Serra de Caldas Novas, localizada entre
os municípios de Caldas Novas e Rio
Quente, no Sudoeste de Goiás. As coletas
ocorreram no período matutino do dia 18 de
setembro de 2002, durante as atividades do
curso de campo UnB/UFU-2002.
Foi traçada uma linha de 300 metros
de comprimento, onde nove parcelas de
10x10m foram estabelecidas. O ponto
inicial da parcela foi determinado através
do uso de uma tabela de números
aleatórios. Em cada parcela foram
identificados todos os indivíduos arbóreos,
maiores que dois metros de altura, com seus
valores de circunferência a 1,30 metro do
solo e altura.
Com o auxílio do programa
FITOPAC, foram calculados os valores
absolutos e relativos de densidade,
frequência e dominância, índice de valor de
importância (IVI) e índice de valor de
cobertura (IVC) para as famílias e espécies
amostradas, além do volume total por
espécie. Foi confeccionada a curva do
coletor, realizada uma análise de
similaridade entre as parcelas (SYSTAT
9.0) e calculado o índice de diversidade de
Shannon.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 140 indivíduos
pertencentes a 29 espécies, distribuídas em
20 famílias. A família Vochysiaceae foi a
que apresentou o maior número de
indivíduos (52) e IVI, seguida por
Leguminoseae (19), sendo a última a mais
rica, representada por quatro espécies. Das
20 famílias encontradas, 14 (48%) delas
foram representadas apenas por uma
espécie (Tabela 1).
METODOLOGIA
Este levantamento foi realizado por
três grupos através de três metodologias
distintas, método de parcelas, interceptação
de linhas e ponto quadrante, sendo que o
nosso grupo, em específico, utilizou o
primeiro método. A área estudada é um
cerrado s.s. localizado no Parque Estadual
7
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Quanto às espécies, das 29
encontradas, 11 foram representadas apenas
por um indivíduo. As espécies de maior IVI
foram, em ordem crescente, Qualea
parviflora, Sclerolobium paniculatum e Q.
grandiflora, apresentando, 36, 12 e 14
indivíduos, respectivamente. Embora a
espécie Q. grandiflora tenha apresentado
um menor número de indivíduos que S.
paniculatum, o seu menor IVI se deve a sua
baixa dominância relativa em comparação
com a última. Os mesmos resultados do IVI
foram encontrados para IVC (Tabela 02).
Sclerolobium paniculatum foi a
espécie que apresentou o maior volume
cilindríco total, o que se deve ao fato de
seus indivíduos possuírem altura e diâmetro
superiores as demais espécies (Tabela 02).
O índice de diversidade de Shannon
para a comunidade em estudo foi de 2,746,
sendo este um valor baixo, quando
comparado com outras comunidades de
cerrado s.s. de Brasília e Goiás (Felfini et
al. 1998), o que pode ser explicado pela
pequena área amostrada.
A análise de similaridade (Figura
01) mostrou que as parcelas espacialmente
mais próximas não são, necessariamente,
mais similares em relação à composição de
espécies.
Parcelas
mais
distantes
apresentaram uma maior similaridade que
aquelas mais próximas, o que nos indica
que a área estudada não se encontra num
gradiente ambiental, o que acarretaria numa
mudança seqüencial na composição de
espécies, e que a comunidade do cerrado é
altamente heterogênea em micro-escala.
Quanto à curva do coletor, podemos
observar que os primeiros 40 indivíduos
amostrados representam mais da metade
das
espécies
encontradas,
havendo
acréscimo de apenas nove espécies quando
a amostra atingiu 140 indivíduos. Portanto,
o método de parcelas pode ser considerado
desvantajoso, devido ao grande esforço
amostral necessário para se obter uma boa
representatividade
da
riqueza
da
comunidade.
No
entanto,
podemos
considerar como uma vantagem deste
método, o fato deste amostrar espécies mais
raras, que só apareceram após amostragem
de um grande número de indivíduos.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos professores Dr.
John Hay e Dr. Heraldo Vasconcelos pelas
dicas e companhia na execução deste estudo
e, em especial, ao Prof. Dr. Glein M. de
Araújo pelo fundamental apoio na
discussão e orientação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.;
SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B.
S.; DELITTI, W. B. C 2002.
Composição florística e fitossociologia
do cerrado sentido restrito no município
de Água Boa – MT. Acta Bot. Bras. n.
16, v. 1, p. 103-112.
OLIVEIRA, P. S., BRANDÃO, C. R. F.
1991. The ant community associated
with extrafloral nectaries in the Brazilian
cerrados. Ant-Plant Interactions (ed.
By C. R. Huxley and D. F. Culter),
Oxford University Press. pp. 198-212.
SILVA, L. O., COSTA, D. A., FILHO, K.
E. S., FERREIRO, H. D., BRANDÃO,
D. 2002. Levantamento florístico e
fitossociológico em duas áreas de
cerrado sensu stricto no Parque Estadual
da Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta
Bot. Bras. n. 16, v. 1, p. 43-53.
8
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1. Fitossociologia, de uma área de cerrado s. s. do Parque Estadual de Serra de Caldas
Novas, GO. Ordem crescente de Índice de Valor de Importância (IVI) por família.
Dominância Relativa (DoR), Freqüência Relativa (FR), Densidade Relativa (DeR) e Índice de
Valor de Cobertura (IVC).
FAMÍLIA
DoR
FR
IVI
DeR
IVC
Vochysiaceae
38.07
14.52
89.73
37.14
75.21
Leguminosae
36.16
12.90
62.64
13.57
49.73
Sapotaceae
6.40
9.68
23.22
7.14
13.55
Apocynaceae
3.25
9.68
20.07
7.14
10.39
Clusiaceae
3.42
8.06
15.77
4.29
7.70
Asteraceae
1.13
4.84
13.83
7.86
8.99
Caryocaraceae
2.85
4.84
9.83
2.14
4.99
Bignoniaceae
2.99
3.23
9.79
3.57
6.56
Rubiaceae
1.04
4.84
9.45
3.57
4.62
Malpighiaceae
0.66
4.84
8.36
2.86
3.52
Lythraceae
0.54
4.84
7.52
2.14
2.68
Myrtaceae
0.88
3.23
6.24
2.14
3.02
Annonaceae
0.21
3.23
4.76
1.43
1.64
Bombacaceae
1.23
1.61
3.56
0.71
1.95
Ochnaceae
0.67
1.61
3.00
0.71
1.39
Proteaceae
0.18
1.61
2.51
0.71
0.89
Celastraceae
0.12
1.61
2.45
0.71
0.83
Hippocrateaceae
0.12
1.61
2.45
0.71
0.83
Dilleneaceae
0.06
1.61
2.38
0.71
0.77
Euphorbiaceae
0.02
1.61
2.35
0.71
0.73
9
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 2. Fitossociologia de uma área de cerrado s.s. do Parque Estadual da Serra de Caldas
Novas, GO. Ordem crescente de Indice de Valor de Importância (IVI) por espécies.
Dominância Relativa (DoR), Frequência Relativa(FR), Indice de Valor de Cobertura (IVC),
Densidade Relativa (DeR) e Volume (Vol).
Espécies
DoR
FR
DeR
IVI
IVC
Vol
Qualea parviflora
23.88
9.21
25.71
58.81
49.60
1.3363
Sclerolobium paniculatum
33.63
6.58
8.57
48.78
42.20
3.9100
Qualea grandiflora
13.86
10.53
10.00
34.39
23.86
0.9226
Pouteria ramiflora
6.40
7.89
7.14
21.44
13.55
0.2500
Aspidosperma tomentosum
2.87
6.58
5.71
15.16
8.58
0.1120
Kielmeyra coriacea
3.42
6.58
4.29
14.28
7.70
0.2970
Eremanthus glomerulatus
0.70
3.95
7.14
11.79
7.84
0.0305
Tabebuia aurea
2.99
2.63
3.57
9.19
6.56
0.1221
Caryocar brasiliense
2.85
3.95
2.14
8.94
4.99
0.1595
Palicourea rigida
1.04
3.95
3.57
8.56
4.62
0.0303
Bowdichia virgilioides
1.58
3.95
2.14
7.67
3.72
0.1087
Byrsonima crassa
0.62
3.95
2.14
6.71
2.76
0.0166
Lafoensia pacari
0.54
3.95
2.14
6.63
2.68
0.0202
Acosmium dasycarpum
0.80
2.63
2.14
5.57
2.94
0.0284
Aspidosperma macrocarpon
0.38
2.63
1.43
4.44
1.81
0.0093
Vochysia rufa
0.32
2.63
1.43
4.38
1.75
0.0088
Annona crassiflora
0.21
2.63
1.43
4.27
1.64
0.0049
Myrcia sp
0.78
1.32
1.43
3.52
2.21
0.0318
Eriotheca grassilipes
1.23
1.32
0.71
3.26
1.95
0.1123
Ouratea hexasperma
0.67
1.32
0.71
2.70
1.39
0.0191
Piptocarpha rotundifolia
0.43
1.32
0.71
2.46
1.15
0.0138
Roupala montana
0.18
1.32
0.71
2.21
0.89
0.0061
Stryphnodendron polyphyllum
0.16
1.32
0.71
2.19
0.87
0.0054
Austroplenckia populnea
0.12
1.32
0.71
2.15
0.83
0.0051
Salacea sp
0.12
1.32
0.71
2.15
0.83
0.0030
Myrcia tomentosum
0.10
1.32
0.71
2.13
0.81
0.0027
Davilla eliptica
0.06
1.32
0.71
2.09
0.77
0.0013
Byrsonima coccolobifolia
0.04
1.32
0.71
2.07
0.76
0.0010
Maprunea guianensis
0.02
1.32
0.71
2.05
0.73
0.0005
10
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Cluster Tree
PARC3
PARC5
PARC1
PARC9
PARC7
PARC8
PARC2
PARC4
PARC6
0
2
4
6
8
Distances
10
12
Figura 1 – Análise de similaridade entre as parcelas amostradas.
11
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G1.2 LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO EM UMA ÁREA
DE CERRADO SENSU STRICTU, PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE
CALDAS NOVAS, GOIÁS
Marcela Yamamoto, Caio Rebula, Cláudio Muniz & Sérgio Lopes
Orientador: John Du Vall Hay
dia 18 de setembro de 2002. O transecto
consistiu em uma linha de 300m,
atravessando uma área de cerrado sensu
stricto. Foi medida a altura de cada
indivíduo da amostra, assim como, a
extensão da projeção da copa sobre a linha.
Calculamos valores
para Índice de
densidade linear, densidade relativa, Ïndice
de cobertura linear, cobertura relativa,
freqüência relativa e freqüência absoluta
(Brower et al 1998), com o objetivo de
definir o valor de importância relativa para
cada espécie encontrada.
Foi estabelecida uma curva do
coletor para verificar a eficiência da
metodologia.
INTRODUÇÃO
O cerrado ocupa uma área de
aproximadamente 2 milhões de km2 e
apresenta uma elevada biodiversidade
(Mendonça et al., 1998), sendo considerado
como a flora mais rica entre as savanas
mundiais (Klink,1996). A forma savânica
mais comum no Brasil Central é o cerrado
sensu stricto caracterizado por apresentar os
estratos arbóreo e arbustivo bem definidos e
cobertura arbórea variando de 10 a 60 %
(Eiten, 1994).
O estudo fitossociológico fornece
informações sobre a estrutura da
comunidade de uma determinada área, além
de possíveis afinidades entre espécies ou
grupos de espécies, acrescentando dados
quantitativos a respeito da estrutura da
vegetação.
Levantamentos florísticos e
fitossociológicos (Castro,1994; Felfili et al,
1993, 1994, 1997, 2002; Andrade et al,
2002; Silva et al, 2002) têm fornecido
informações
importantes
para
a
compreensão dos padrões biogeográficos
do cerrado, e subsidiado a determinação de
áreas prioritárias para a conservação (Felfili
et al, 2002).
Buscando ampliar as informações
sobre a vegetação arbórea de cerrado, foi
feito um levantamento fitossociológico de
uma área de cerrado sensu stricto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em alguns tipos de vegetação, o uso
de parcelas pode não ser prático ou
consumir muito tempo. O método do ponto
quadrante pode dificultar a amostragem,
caso a distribuição dos indivíduos
amostrados não seja aleatória. Nestes casos
o uso de transectos pode ser útil, sendo
eficientes e vantajosas em estudos de
estágios contíguos na sucessão ecológica,
ou comunidades em zonas de transição.
Um outro método utilizado em
estudos fitossociológicos é a interceptação
de linha. Uma linha é passada atravessando
a comunidade a ser estudada, os dados são
coletados de acordo com a projeção da
amostra sobre a linha.
Como a área não é amostrada,
apenas índices de densidade e estimativas
de densidade relativa podem ser calculados.
Em casos onde valores de densidade
relativa são suficientes, a técnica de
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados foram coletados no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas,
localizado entre os municípios de Caldas
Novas e Rio Quente, no sudeste do Estado
de Goiás, a 180 km da capital Goiânia
(Silva et al, 2002). A coleta foi realizada no
12
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
for general ecology. 4th
McGraw-Hill, Boston. 273p
interceptação de linha é rápida e eficiente
(Brower et al, 1998)
Foram encontradas 21 espécies
sendo um total de 57 indivíduos. Os índices
mencionados estão relacionados na tabela 1.
O valor de importância é a soma dos
valores da densidade, frequencia e
coberturas relativas. A partir deste índice é
possível verificar a dominância de Qualea
parviflora, Sclerolobium paniculatum,
Caryocar brasiliense em relação as outras
21 espécies amostradas, como demonstrado
pelo valor de importância relativa (Figura
1) A maioria das espécies, 15 entre 21
encontradas, foram representadas por
apenas um indivíduo, apresentando baixos
valores de importância relativa.
O resultado encontrado na curva do
coletor demonstrou que o transecto foi
curto, não sendo suficiente para descrever a
comunidade arbórea local. É necessário um
transecto com comprimento mais longo
para que o levantamento de espécies seja
satisfatório (Figura 2)
As maiores alturas dos indivíduos
amostrados ao longo do transecto, se
localizam entre o intervalo de 100 a 200
metros (Figura 3).
edition.
CASTRO, A. A. J. F. 1994. Composição
florístico-geográfica
(Brasil)
e
fitossociológica (Piauí-São Paulo) de
amostras de cerrado. Tese de doutorado.
UNICAMP, Campinas. 520 p.
EITEN, G. 1994. Vegetação do Cerrado.
pp. 17-73. In: M. N. Pinto (Org.).
Cerrado: Caracterização, Ocupação e
Perspectivas. Editora Universidade de
Brasília. Brasília.
FELFILI, J. M.; SILVA JÚNIOR, M. C.,
REZENDE, A. V.; MACHADO, B. W.
T.; SILVA, P. E. N. & HAY, J. D. 1993.
Análise comparativa da florística e
fitossociologia da vegetação arbórea do
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Pratinha, Brasil. Acta botânica Brasílica
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FELFILI, J. M.; FILGUEIRAS, T. S.;
HARIDASSAN, M.; SILVA JÚNIOR,
M. C.; MENDONÇA, R. C. &
REZENDE, A. V. 1994. Projeto
biogeografia
do
bioma
cerrado:
vegetação e solos. Cadernos de
Geociências 12: 75-166.
CONCLUSÃO
O comprimento do transecto foi
insuficiente para amostrar toda a
comunidade arbórea, como evidenciado
pela curva do coletor. A maioria das
espécies foi representada por apenas um
indivíduo, havendo dominância de Qualea
parviflora, Sclerolobium paniculatum e
Caryocar brasiliense na área amostrada
FELFILI, J. M.; SILVA JÚNIOR, M. C.;
REZENDE, A. V.; NOGUEIRA, P. E.;
WALTER, B. M. T., SILVA, M. A. &
ENCINAS, J. I. 1997. Comparação
florística e fitossociológica do cerrado
nas chapadas Pratinha e dos Veadeiros.
Pp. 6-11. In: L. Leite & C. H. Saito
(Eds.). Contribuição ao conhecimento
ecológico do cerrado. Ed. Universidade
de Brasília. Brasília, DF.
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uma área de cerrado denso na RECOR –
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FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.;
SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B.
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do cerrado sentido restrito no município
de Ägua Boa – MT. Acta bot. Brás.
16(1): 103- 112.
BROWER, J.E.; ZAR, J.H.; VON ENDE,
C.N. 1998. Field and laboratory methods
13
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
& FILGUEIRAS, T. S. 1998. Flora
vascular do cerrado. pp. 289-539. In: S.
M. Sano, S. P. Almeida (Eds.).
Cerrado: Ambiente e Flora. Embrapa
CPAC. Planaltina.
KLINK, C. A. 1996. Relação entre o
desenvolvimento
agrícola
e
a
biodiversidade. pp. 25-27. In: R. C.
Pereira, L. C. B. Nasser (Eds.). Anais
VIII Simpósio Sobre o Cerrado, 1st
International Symposium on Tropical
Savanas – Biodiversidade e Produção
Sustentável de Alimentos e fibras nos
Cerrados. Embrapa CPAC. Brasília.
SILVA, L. O., COSTA, D. A.; SANTO
FILHO, K. E.; FERREIRA, H. D. &
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florístico e fitossociológico em duas
áreas de cerrado sensu stricto no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas,
Goiás. Acta Bot. Bras. 16(1): 43-53.
MENDONÇA, R. C.; FELFILI, J. M.;
SILVA Jr., M. C.; REZENDE, A. V.;
NOGUEIRA, P. E.; WALTER, B. M. T.
14
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1. Valor de importância (IV), índice de densidade Linear (ID) , densidade relativa
(RD), índice de cobertura linear (IC), cobertura relativa (RC), freqüência (F) e freqüência
relativa (RF)
Espécie
ID / m
RD
IC
RC
F
RF
IV
Qualea parviflora
0,06
31,6
12
27
75
20,5
79,1
Sclerolobium paniculatum
0,026
14
13,6
30,5
50
13,7
58,2
Caryocar brasiliense
0,02
10,5
6,3
4,7
50
13,7
28,9
Qualea grandiflora
0,01
5,2
2,9
6,6
25
6,8
18,6
Ouratea hexasperma
0,01
5,2
1,9
3,9
25
6,8
15,9
Aspidosperma macrocarpum
0,01
5,2
2
4,5
16,6
4,5
14,2
Aspidosperma tomentosa
0,003
1,8
0,5
1,3
8,3
2,3
5,4
Byrsonima crassa
0,003
1,8
0,5
1,3
8,3
2,3
5,4
Bowdichia virgiloides
0,003
1,8
0,5
1
8,3
2,3
5,1
Pouterea ramiflora
0,003
1,8
0,5
1
8,3
2,3
5,1
Pisidium sp
0,003
1,8
0,5
1
8,3
2,3
5,1
Tabebuia áurea
0,003
1,8
0,4
0,8
8,3
2,3
4,9
Kielmeyera speciosa
0,003
1,8
0,3
0,7
8,3
2,3
4,8
Hancornia speciosa
0,003
1,8
0,3
0,7
8,3
2,3
4,8
Stryphnodendrum adstringens
0,003
1,8
0,3
0,6
8,3
2,3
4,7
Licania humilis
0,003
1,8
0,2
0,5
8,3
2,3
4,6
Erythroxylum sp
0,003
1,8
0,2
0,5
8,3
2,3
4,6
Kielmeiera coreaceae
0,003
1,8
0,2
0,5
8,3
2,3
4,6
Vochysia cinnamonea
0,003
1,8
0,2
0,4
8,3
2,3
4,5
Eremanthus glomerolatus
0,003
1,8
0,1
0,2
8,3
2,3
4,3
Roupala montana
0,003
1,8
0,06
0,1
8,3
2,3
4,2
15
le
ro
lo
Q
ua
bi lea
C um par
ar
yo pan v i f l o
ca ic
ra
Q r b ula
ua ra tu
As
p i O u lea sili m
do ra
e
s p t e gra ns
As erm a h nd e
e
if
pi
do a m xas lora
sp ac pe
er ro rm
m
a
c
By a t a r p
om um
r
s
Bo o
w nim e n t
di
os
c a
a
P o h i a cra
u t v i r ssa
er gi
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ra ides
Pi mif
l
s
Ki T a b idiu ora
el
e
m
St
m
s
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ph H a ye i a a p
no n c ra
ur
de o r sp e a
nd n i a eci
o
ru
m s p e sa
ci
a
Li dstr osa
ca in
g
n
K i Ery i a e n
hu s
el
t
h
m
m
r
V o e i e oxy i l i s
l
Er ch ra
u
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a n i a r e sp
th cin ace
us na a
m e
R glom on
ou
p a ero ea
la la
m tus
on
ta
na
Sc
IVR (%)
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
30
25
20
15
10
5
0
Figura 1. Índice de importância relativa das espécies amostradas pelo método de interceptação
de linhas, em uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas
Novas, GO.
16
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
25
esp écies
20
15
10
5
0
0
20
40
60
80
100
120
140
n º in d ivíd u o s
Figura 2. Curva do coletor das espécies amostradas pelo método de interceptação de linhas em
uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.
14
12
altu ra (m
10
8
6
4
2
0
0
50
100
150
200
250
300
d istân cia (m )
Figura 3. Perfil de distribuição das plantas ao longo do transecto de 300 m de comprimento,
em uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.
17
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G1.3 FITOSSOCIOLOGIA DE UMA ÁREA DE CERRADO SENTIDO
RESTRITO NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS
Ernestino de Souza G. Guarino, Carlos Henrique G. Angeluci, Claudia C. F. de Toledo,
Helder Consolaro, Rafael Arruda
Orientador: Heraldo Vasconcelos
INTRODUÇÃO
A rápida transformação do Cerrado
em áreas antrópicas, torna fundamental o
conhecimento
das
características
fisiológicas, ecológicas, florísitcas e
fitossociológicas deste bioma. A falta
dessas informações aliada a pequena área
deste ecossistema teoricamente protegida
em unidades de conservação legalizadas
dão uma idéia dos riscos da perda de
informações sobre a florística da região
(Andrade et al. 2002). Levantamentos
florísticos e fitossociológicos têm fornecido
informações
importantes
para
a
determinação de áreas prioritárias para
conservação do Cerrado (Felfili et al.
2002).
Por isso o objetivo deste trabalho foi
realizar, de forma prévia, a análise florística
e fitossociológica de uma área de cerrado
sentido restrito, localizado no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas (GO).
dispostos, de forma sistemática, quinze
pontos intercalados por uma distância de 20
m. Como critério de inclusão dos
indivíduos arbóreos, utilizou-se a altura
mínima de 2 m. Todos os indivíduos
incluídos na amostragem tiveram sua altura
total e sua circunferência a 130 centímetros
do solo medidas.
Os parâmetros fitossociológicos
foram calculados com o auxílio do
programa FITOPAC, o qual também
calculou os índices de diversidade de
Shannon (H`) e a equatibilidade (J).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No total, foram amostradas 16
famílias botânicas, 20 gêneros e 23 espécies
(Tabela 1). Igualmente a outras áreas de
cerrado sentido restrito (p. ex. Felfili et al.
2002, Silva et al. 2002), as famílias
Vochysiaceae (4 espécies) e Leguminosae
(3) apresentaram o maior número de
espécies, sendo acompanhadas pela família
Apocynaceae (2). As outras 13 famílias
foram representadas por apenas uma
espécie.
As espécies com maior Índice de
Valor de Importância (IVI) foram Qualea
parviflora, Sclerolobium paniculatum,
Aspidosperma tomentosum, Kielmeyera
coriacea, Caryocar brasiliense, Qualea
grandiflora e Pouteria ramiflora. Estas
espécies respondem por 64% do IVI da área
amostrada (Tabela 2).
A área basal estimada foi de 8,74
2
m /ha, com uma densidade total de 1161
ind./ha. Estes resultados são inferiores aos
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN), localizado no município de
Caldas Novas (GO). A vegetação da área de
estudo é caracterizada por um cerrado
sentido restrito, com altitude aproximada de
1000 metros.
O
método
utilizado
para
amostragem fitossociológica foi o de
Pontos Quadrantes (Brower et al. 1998).
Foram estabelecidas 3 linhas de 100 m,
paralelas a uma das estradas de serviço do
parque. Ao longo destas linhas foram
18
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
encontrados por Silva et al.(2002) para duas
áreas de cerrado sentido restrito no mesmo
parque, porém são compatíveis aos
resultados encontrados em outras áreas da
mesma fitofisionomia.
O índice de Shannon (H`)
encontrado foi de 2,79 nats/ind., com
equatibilidade (J) igual a 0,84. Segundo
Felfili et al. (1997, apud Felfili et al. 2002)
o índice de Shannon para áreas de cerrado
sentido restrito pode variar entre 3,11 e 3,69
nats/indivíduo, resultados acima do
encontrado nesse estudo.
Esse resultado pode ser atribuído ao
baixo número de pontos amostrais
utilizados, fato esse comprovado quando
comparamos o presente levantamento com
o realizado na mesma área por Silva et al.
(2002), o qual utilizou o mesmo método de
amostragem, porém com um maior número
de pontos amostrais. A similaridade entre
os dois levantamentos foi de 42% (índice de
Sørensen), resultado evidenciado quando
analisamos a curva espécie x área, a qual
apresenta a tendência de aumentar de
acordo com acréscimo de novos pontos
amostrais (Figura 1)
O método utilizado também se
mostrou eficiente em relação ao custo x
benefício,
pois
para
levantamentos
florísticos e fitossociológicos com o
objetivo de influenciar na determinação de
áreas prioritárias para a conservação, ele é o
que gera resultados com maior rapidez e
menor esforço amostral; características
necessárias para um bioma que está sendo
continuamente degradado.
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, L. A. Z.; FELFILI, J. M.;
VIOLATTI, L. (2002). Fitossociologia
de uma área de cerrado denso na
RECOR - IBGE, Brasília - DF. Acta
Botanica Brasilica 16 (2): 225-240.
BROWER, J.E.; ZAR, J.H.; von ENDE,
C.N. (1998) Field and laboratory
methodas for general ecology. WCB
McGraw - Hill. 4 th Editon. 273p.
FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.;
SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B.
S.; DELITTI, W. B. C. (2002).
Composição florística do cerrado sentido
restrito no município de Água Boa - MT.
Acta Botanica Brasilica 16 (1): 103-112.
CONCLUSÕES
Apesar
do
pequeno
esforço
amostral, somente 15 pontos, o trabalho
apresentou resultados semelhantes a outros
levantamentos
fitossociológicos
de
diferentes áreas de cerrado. Assim podemos
inferir que com um aumento do esforço
amostral, provavelmente ocorrera um
aumento do número de espécies
amostradas.
SILVA, C.O.; COSTA, D.A.; FILHO,
K.E.S.; FERREIRO, H.D.; BRANDÃO,
D. (2002). Levantamento florístico e
fitossociológico em duas áreas de
cerrado sensu stricto no Parque Estadual
da Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta
Botanica Brasilica 16 (1): 43-53.
.
19
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1. Famílias e espécies amostradas pelo método de Ponto Quadrante em uma área de
cerrado sentido restrito no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO).
Família/Espécie
ANNONACEAE
Bowdichia virgilioides
Annona crassiflora
Enterolobium gummiferum
APOCYNACEAE
Sclerolobium paniculatum
Aspidosperma macrocarpon
MALPIGHIACEAE
Aspidosperma tomentosum
Byrsonima crassa
ASTERACEAE
MYRTACEAE
Eremanthus glomerolatus
Psidium sp.
Piptocarpha rotundifolia
OCHNACEAE
BIGNONIACEAE
Ouratea hexasperma
Tabebuia aurea
PROTEAECEAE
CARYOCARACEAE
Roupala montana
Caryocar brasiliense
SAPOTACEAE
CELASTRACEAE
Pouteria ramiflora
Austroplenckia populnea
VOCHYSIACEAE
CLUSIACEAE
Qualea grandiflora
Kielmeyera coriacea
Qualea parviflora
ERYTHROXYLACEAE
Vochysia cinnamomea
Erythroxylum sp.
Vochysia rufa
LEGUMINOSAE
20
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 2. Fitossociologia de uma área de cerrado sentido restrito, Parque Estadual Serra de
Caldas Novas (GO). Ordem decrescente de IVI. (N= nº de indivíduos amostrados; Da =
Densidade absoluta (ha); DoA = Dominância (m2/ha); Fa = Freqüência; IVI = Índice de Valor
de Importância. a = valores absolutos e r = valores relativos).
Espécie
N
Da
Dr
DoA DoR
Fa
Fr
IVI
10
193.6 16.67 0.009 20.53 46.67 13.46 50.66
7
135.5 11.67 0.0139 22.27
40
11.54 45.48
tomentosum
7
135.5 11.67 0.0066 10.64
40
11.54 33.85
Kielmeyera coriacea
4
77.4
6.67 0.0108 9.86
20
5.77
22.3
Caryocar brasiliense
4
77.4
6.67 0.0078 7.12 26.67
7.69
21.48
Qualea gradiflora
4
77.4
6.67 0.0069 6.33 26.67
7.69
20.69
Polteria ramiflora
4
77.4
6.67 0.0042 3.84
5.77
16.28
glomerolatus
2
38.7
3.33
0.003 1.37 13.33
3.85
8.55
Vochysia cinnamomea
2
38.7
3.33 0.0019 0.88 13.33
3.85
8.06
Psidium sp.
2
38.7
3.33 0.0015 0.69 13.33
3.85
7.87
Tabebuia aurea
2
38.7
3.33 0.0049 2.26
6.67
1.92
7.52
Piptocarpha rotundifolia
1
19.4
1.67 0.0155 3.56
6.67
1.92
7.15
1
19.4
1.67 0.0115 2.63
6.67
1.92
6.22
macrocarpon
1
19.4
1.67 0.0087 1.98
6.67
1.92
5.57
Ouratea hexasperma
1
19.4
1.67 0.0077 1.75
6.67
1.92
5.34
Qualea parviflora
Sclerolobium
paniculatum
Aspidosperma
20
Eremanthus
Enterolobium
gummiferum
Aspidosperma
21
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 2. (continuação)
Miconia ferruginea
1
19.4
1.67 0.0043 0.99
6.67
1.92
4.58
Bowdichia virgilioides
1
19.4
1.67 0.0032 0.73
6.67
1.92
4.32
Annona crassiflora
1
19.4
1.67 0.0032 0.73
6.67
1.92
4.32
Roupala Montana
1
19.4
1.67 0.0029 0.66
6.67
1.92
4.25
Vochysia rufa
1
19.4
1.67 0.0026 0.59
6.67
1.92
4.18
Austroplenckia populnea
1
19.4
1.67 0.0016 0.36
6.67
1.92
3.95
Byrsonima crassa
1
19.4
1.67 0.0005 0.12
6.67
1.92
3.71
Erythroxylum sp.
1
19.4
1.67 0.0004 0.09
6.67
1.92
3.68
Total
60.0 1161.8 100.00
0.13 100.00 346.71 100.00 300.00
25
N° de espécies
20
15
10
5
0
1
11
21
31
41
51
N° de indivíduos
Figura 1. Curva do coletor relacionando número de espécies com número de indivíduos
amostradas pelo método de Ponto Quadrante em uma área de cerrado sentido restrito no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO).
22
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G2.1 EFEITO DO FOGO SOBRE A ATIVIDADE, RIQUEZA E
COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES DE FORMIGAS EM UMA ÁREA DE
CERRADO
Caio Rebula, Claudio Muniz, Marcela Yamamoto e Sérgio Lopes
Orientador: Prof. Dr. Heraldo Vasconcelos
INTRODUÇÃO
O
termo
comunidades
tem
frequentemente denotado associações da
fauna e da flora que ocorrem numa mesma
localidade particular dominada por uma ou
mais espécies predominantes ou por uma
característica física (Ricklefs, 1993).
A ocorrência de fogo, por causa
natural ou antrópica, é comum durante a
seca no cerrado, sendo apontado como um
importante agente modificador e de
manutenção de comunidades vegetais
(Coutinho, 1990). Este fato pode alterar as
relações de oferta de recursos e também
levar a extinção de espécies locais.
As formigas são abundantes na
maioria dos ecossistemas terrestres, sendo
frequentemente
consideradas
ecologicamente dominantes (Wilson, 1971).
Pelo fato de sua impotrtância como bioindicadora (Majer & Kock, 1992).
As
espécies de formigas que
ocorrem na vegetação e as que forrageiam
na superfície do solo utilizam como
estratégia predominante para escapar do
fogo nas queimadas, a localização das
colônias (Naves, 1996).
O presente estudo teve como
objetivo determinar o efeito de um fogo
recente sobre a atividade, a riqueza e a
composição de espécies de formigas em
uma área de cerrado.
experimento foi realizado no período da
manhã, até as 11:30. A área queimada
apresentava solo exposto e a vegetação
praticamente nú. Na área não-queimada
além do cerrado, havia arbustos e
predominância de gramíneas.
As iscas, pequenas porções de
sardinha, colocadas em pedaços de papel
sulfite 7,0 X 10,5cm, foram distribuídas em
intervalos de 10m, ao longo de quatro
transectos de 100m para cada área. A
distância entre os transectos foi de 20m,
posicionados paralelos à estrada.
Após 30 minutos efetuou-se a
contagem dos indivíduos presentes na área
de forrageamento e a coleta das espécies
presentes. O mesmo procedimento foi
repetido aos 60 minutos. Os espécimes
coletados foram identificados a nível
genérico e separados em morfoespécies.
Nessa identificação foram utilizadas chaves
taxonômicas (Höldobler & Wilson, 1990), e
os
conhecimentoos
do
Prof.
H.
Vasconcelos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 28 espécies amostradas, 21
estavam presentes na área não-queimada,
sendo oito espécies exclusivas; e 20 na área
queimada, das quais sete exclusivas (Tabela
1). Foram consideradas espécies exclusivas
aquelas que ocorreram apenas em uma das
áreas.
A atividade das formigas foi maior
na área não-queimada e no solo. A análise
da variância confirma que o efeito da
queimada e o estrato explorado são
independentes (Tabelas 2 e 3).
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em duas áreas
, uma queimada e outra não-queimada de
cerrado sentido restrito , no Parque Estadual
da Serra de Caldas Novas, GO. O
23
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
in the tropical biota. J. G.
GOLDAMMER (ed). SpringerVerlag, Berlin.
Camponotus sp foi a morfoespécie
mais abundante em ambas as áreas. A
frequência relativa para a maioria das
espécies foi equivalente, porém ocorreram
espécies exclusivas em menor quantidade
nas duas áreas (Figura 1).
Na área não-queimada a abundância
das espécies de formigas do solo apresenta
uma maior homogeneidade em relação às
espécies da área queimada (Figura 2). No
estrato arbóreo da área queimada, as
morfoespécies Camponotus sp e Cephalotes
sp foram dominantes, não apresentando
diferença na abundância interespecífica
(Figura 3).
A diferença na atividade das
formigas entre as áreas pode ser justificado
pela maior quantidade de recursos oferecido
na área não-queimada, a formiga pode não
sair do ninho para procurar alimentos, se ele
não é oferecido pelo meio. Uma segunda
hipótese é que o fogo pode ter diminuído a
densidade dos ninhos na área queimada,
aumentando o tempo necessário para o
forrageamento, o que não foi detectado
estatisticamente.
HÖLLDOBLER, B. & WILSON, E. O.
1990. The ants. Cambridge, Harvard
Uiversity Press, 732p.
MAJER, J.D. 1992. Ant recolonization
of reabilited bauxite mines of Poços
de Caldas, Brasil. Jour. Trop. Ecol.
10:97-108.
NAVES, M. F. 1996. Efeito do fogo na
população
de
formigas
(Hymenoptera-Formicidae)
em
cerrao no Distrito Federal. Anais do
Simpósio impacto das queimadas
sobre os ecossistemas e mudanças
globais. 3 Congresso de Ecologia do
Brasil, Brasília.
RICKLEFS, R. E. 1993. A economia
da natureza. 3 ed. Rio de Janeiro,
Brasil. 469p.
WILSON, E. O. 1971. The insects
societies.
Cambridge,
Massachusetts, Belknap Press of
Harward University Press, 548p.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTINHO, L. M. 1990. Fire in the
ecoloy of Brasilian cerrado. In: Fire
24
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1. No de espécies nas áreas queimada e não-queimada nos diferentes estratos.
No espécies
Queimada
Não-queimada
Solo
16
17
Vegetação
08
11
Exclusivas
07
08
Total
20
21
Total
28
Tabela 2. Atividade das formigas nas áreas queimadas e não queimadas.
QUEIMADA
NÃO QUEIMADA
N
40
40
Mínimo
0
0
Máximo
120
100
Média
12,525
21,450
Desvio Padrão
4,017
3,291
Tabela 3 . Atividade de formigas no solo e na vegetação
Solo
Vegetação
N
40
40
Mínimo
0
0
Máximo
120
100
Média
20,575
15,400
Desvio Padrão
3,652
3,728
25
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
freqüência relativa (%)
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
1
2
3
4
5
6
7
NÃO QUEIMADA
QUEIMADA
8
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
espécies em ordem de abundância
Figura 1. Freqüência relativa das espécies encontradas nas duas áreas (queimada e não
queimada), em ordem de abundância, Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás.
freqüência relativa (%)
30
25
20
15
10
5
esp écies em o rd em d e ab u n d ân cia
Q u e ima d a
Nã o q u e imad a
Figura 2. Freqüência relativa das espécies encontradas sob o solo em duas áreas
(queimadas e não queimada), Parque Estadual da Serra de Caldas, Goiás.
26
27
25
23
21
19
17
15
13
11
9
7
5
3
1
0
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
freqüência relativa (%)
30
25
20
15
10
5
27
25
23
21
19
17
15
13
11
9
7
5
3
1
0
espécies em ordem de abundância
Queimada
Não queimada
Figura 3. Freqüência relativa das espécies de formigas encontradas no estrato arbóreo em
duas áreas (queimada e não queimada), Parque Estadual da Serra de Caldas, Goiás.
27
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G2.2 COMPARAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS VEGETATIVAS
DE ESPÉCIES DE CERRADO SENTIDO STRICTU E DE MATA DO
PARQUE ESTADUAL SERRA DE CALDAS NOVAS
Marcelle S. C. Rodrigues, Flávio R. Oliveira, Jania C. Salles, Otacílio Santana & Patricia
Rodin
Orientador: Prof. Dr. John Hay
INTRODUÇÃO
O entendimento da relação entre os
organismos e seus ambientes é um dos
maiores
interesses
da
ecologia.
Provavelmente,
a
afirmação
mais
importante que pode ser feita sobre esta
relação, é que os organismos não estão
distribuídos ao acaso entre os diferentes
tipos de ambientes. Esta diversidade
ambiental
provoca
variações
na
disponibilidade de recursos, que, em parte,
determina a ocorrência das espécies e as
características morfológicas e fisiológicas
que as mesmas apresenta (Begon et al.
1990).
Dentro do domínio do Cerrado, as
matas, diferentemente das fisionomias de
cerrado,
apresentam
uma
grande
sobreposição de estratos, no qual os
superiores
tendem
a
diminuir
a
disponibilidade de energia para os estratos
inferiores. Entretanto, a estratificação das
comunidades influência, de forma distinta,
na disponibilidade de energia solar para as
espécies que as compõem. Quanto aos
nutrientes, eles são mais escassos no
cerrado que na mata, e o mesmo padrão é
encontrado para a água durante a estação
seca (Oliveira & Paula, 2001).
O objetivo deste estudo foi comparar
a morfologia foliar de espécies do cerrado
sentido strictu e da mata, a fim de se
observar possíveis respostas destas
comunidades frente às diferenças físicas.
Para a realização deste estudo foram
utilizadas uma área de cerrado sentido
strictu e uma de mata, localizadas no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
– PESCAN - Goiás. Os dados da área de
cerrado foram obtidos de uma coleta
realizada em um estudo anterior no dia 17
de setembro de 2002, proveniente das
atividades do Curso de Ecologia UFU/UnB
2002. Os dados relativos à mata foram
obtidos a partir da análise de partes
vegetativas de diferentes espécies de subbosque, as quais foram coletadas, de forma
aleatória, ao longo de uma trilha, no dia 18
de setembro de 2002.
Utilizamos para comparação dos dois
tipos de ambientes, características como
tipo de folha, variações da morfologia geral
e apical da folha, coloração, pilosidade,
consistência e área foliar. Aquelas que
apresentaram alguma diferença numa
análise preliminar foram submetidas ao
teste do Qui-Quadrado (SYSTAT 9.0), para
determinar a existência de diferença
significativa. Comparamos a área foliar a
partir da fórmula de área elíptica e,
posteriormente, comparada através de
intervalos de classes de área.
RESULTADOS
Quanto aos tipos de folha, o cerrado
apresentou
uma
porcentagem
significativamente maior de espécies de
folhas compostas, e a mata, de folhas
simples (X2 = 15, 614; P < 0,0001) (Figura
1). Este resultado era esperado, pois, como
a vegetação do cerrado está mais exposta à
METODOLOGIA
28
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
radiação solar e as folhas compostas são
mais eficientes na perda de calor, devido a
maior razão perímetro/área, este tipo de
folha é mais vantajoso para esta vegetação.
Quanto às formas de folha, esta não
parece ser uma característica morfológica
adaptativa importante, pois a maior parte
das espécies amostradas nos dois ambientes
possui forma elíptica (Figura 2). Por outro
lado, uma grande porcentagem de espécies
da mata apresentou a forma lanceolada,
assim como o ápice agudo (83%), o que é
adaptação ao escoamento de água da chuva.
Em relação à coloração das folhas, os
dois ambientes apresentaram uma grande
porcentagem de espécies concolor (Figura
3). O esperado era encontrar uma maior
porcentagem de espécies discolor na mata,
uma vez que a baixa luminosidade do subbosque deveria favorecer o aparecimento
desta estratégia, pois ela permite a absorção
de luz refletida do solo. Porém, nem sempre
a estratégia mais eficiente é a mais comum
entre as espécies de uma comunidade.
Quanto à pilosidade, a maior parte
das espécies do cerrado e da mata
apresentou folhas glabras. Mas o Cerrado
apresentou um maior número de espécies
com pilosidade, no entanto, este resultado
fosse significativamente diferente (X2 = 3,
156; P > 0,05) (Figura 4). Esta tendência
era esperada, pois os pêlos diminuem a
perda de água por evapotranspiração, que é
mais intensa no cerrado que na mata.
Quanto à consistência foliar, grande
parte das espécies do cerrado e da mata
apresentou folhas membranáceas, no
entanto, o cerrado apresentou uma
porcentagem significativamente maior de
espécies coriáceas (X2 = 7, 497; P <
0,0062) (Figura 5). Este resultado era
esperado, pois as folhas coriáceas perdem
menos água para o ambiente.
Em relação à área foliar, a mata
apresentou uma maior porcentagem de
espécies (50%) na classe entre 32-255 cm2 ,
enquanto o cerrado apresentou 25% das
espécies neste intervalo (X2 = 8,182; P <
0,0424) (Figura 06). Este resultado indica
que as espécies de sub-bosque da mata
parecem investir em folhas maiores,
tornando mais eficiente a absorção de
energia luminosa neste estrato.
CONCLUSÃO
Os
resultados
deste
estudo
confirmaram a nossa hipótese de que as
folhas das espécies dos ambientes de
cerrado e mata apresentam características
morfológicas distintas. As características
que apresentam diferença significativa entre
os dois ambientes foram o tipo de folha, a
consistência foliar e a área foliar. Estas
características estão relacionadas ao uso
d’água e da energia luminosa, indicando
que estes recursos estão disponíveis de
forma distinta na mata e no cerrado. O subbosque da mata apresenta uma maior
disponibilidade de água e uma menor
luminosidade em comparação com o
cerrado, o que reflete na sua maior
porcentagem
de
folhas
simples,
membranáceas, com uma menor pilosidade,
e com uma maior área foliar.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos professores Dr.
Glein M. Araújo e Dr. Heraldo Vasconcelos
pelo apoio e companhia nos primeiros de
curso e, em especial ao Prof. Dr. John Hay
pela orientação na execução do trabalho
prático, discussão dos resultados e
orientação do grupo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEGON,
M.,
HARPER,
J.
L.,
TOWNSEND, C. R. 1990. Ecology:
individuals,
populations
and
communities.
2a.
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OLIVEIRA, P. E. A. M., PAULA, F. R.
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RIBEIRO, J. F., FONSECA, C. E. L.,
SOUSA-SILVA, J. C. Cerrado:
caracterização e recuperação de
29
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Matas de Galeria. Planaltina, DF:
EMBRAPA, p. 303 – 332.
90
80
% Observada
70
60
50
Cerrado
40
M ata
30
20
10
0
Folhas Simples
Folhas Compos tas
C ar acte r ís ticas
Figura 1 – Porcentagem dos tipos de folhas em ambiente de cerrado e mata do Parque
Estadual Serra de Caldas Novas, GO.
70
60
% Observada
50
Cerrado
Mata
40
30
20
10
0
O vada
O bovada
Elíptica
O blonga
Lanceolada
A ssim étrica
Form a da Folha
Figura 2 – Porcentagens observadas nas variações foliares de ambiente de cerrado e mata do
Parque Estadual Serra de Caldas Novas, Go.
30
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
70
60
% Observada
50
Cerrado
Mata
40
30
20
10
0
C oncolor
D iscolor
Coloração da Folha
Figura 3 – Porcentagem do padrão de coloração foliar observado nas espécies de cerrado e
mata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.
80
70
% Observada
60
50
C e rra d o
40
Ma ta
30
20
10
0
Glabra
A bax ial
A dax ial
A mbas
Pilo s id ad e
Figura 4 - Porcentagem do padrão de pilosidade foliar observado nas espécies de cerrado e
mata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.
31
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
% Observada
100
80
60
Cerrado
Mata
40
20
0
Membranácea
Coriácea
Consistência Foliar
Figura 5 - Porcentagem do padrão de consistência foliar observado nas espécies de cerrado e
mata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.
50
N. de Indivíduos
45
40
35
30
MATA
CERRADO
25
20
15
10
5
0
<2
2 a 31
32 a 255
256 a 2047
> 2047
Área Foliar
Figura 6 – Classes de tamanho de área foliar observado nas plantas de cerrado e mata do
Parque Estadual Serra de Caldas, GO.
32
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G2.3 Análise florística do estrato arbóreo de um Cerrado sentido restrito
em um gradiente de altitude no Parque Estadual de Caldas Novas-GO
Carlos H.G. Angeluci, Claudia C. F. de Toledo, Ernestino de Souza G. Guarino. Helder
Consolaro, Rafael Arruda
Orientador: Glein M. Araújo
GO, localizada entre os municípios de
Caldas Novas e Águas Quentes, em
diferentes altitudes, variando de 760 até
1044m acima do nível do mar, em meados
de setembro.
Foram amostrados dez pontos
aleatórios, sendo que destes, cinco em uma
área de escarpa e os outros numa região de
platô. Inicialmente foi demarcado para cada
um dos dez pontos duas linhas paralelas
entre si distando 20m uma da outra e
estando dispostas perpendicularmente a
uma das estradas que cortam o Parque.
Em cada linha foram amostrados 5
pontos, distando 20m um do outro. O
método utilizado para a coleta foi o de
Ponto Quadrante (Brower et al. 1997), com
algumas adaptações. Como critério de
inclusão, foi considerado o indivíduo mais
próximo a cada quadrante com altura igual
ou superior a 2m, os quais foram
identificados em campo. A caracterização
do solo foi feita nos locais através de
visualização.
Cada
ponto
foi
georeferenciado com o auxílio de um GPS ,
e suas altitudes indicadas, tabela 1.
Para a análise de similaridade entre
as áreas amostradas foi criado um
Dendrogama através do Pacote PCORD.4,0.
INTRODUÇÃO:
O domínio Cerrado é classificado
como savana arbórea com densidade
variando de 10 a 60% neste tipo de
composição (Felfili, 1998). Ele apresenta
fitofisionomia variada desde vegetação
rasteira até matas de galerias, cobrindo mais
de 20% do território brasileiro em altitudes
que variam do nível do mar até 1800m.
Em geral, os solos do cerrado são
profundos e bem drenados e possuem
reduzida fertilidade natural, a soma de
bases trocáveis é baixa, a acidez é alta,
resultando em altos níveis de saturação.por
alunínio (Batmaniam & Haridasam 1985).
Alguns autores explicam a ocorrência das
diversas fitofisionomias que compõem o
cerrado como consequência da natureza
distrófica dos solos em combinação com
fatores climáticos (Coltinho 1990).que
juntamente com a altitude, respondem
pelas variações locais na estrutura florística
, sendo de grande importância para a
explicar a heterogeneidade que caracteriza
este ambiente. Determinadas espécies são
muito abundantes em algumas áreas e raras
ou totalmente ausentes em outras.
OBJETIVO:
O presente trabalho teve como
objetivo avaliar a similaridade entre
diferentes áreas do Cerrado, sentido restrito,
relacionada com a altitude e características
do solo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram encontradas 74 espécies
distribuídas em 32 famílias.
Como em outros estudos feitos na
área (Silva et al. 200) e a maioria dos
levantamentos realizados no Cerrado ,a
família que apresentou o maior número de
espécie foi a Leguminosae com 15, seguida
MATERIAL E MÉTODOS:
Para a coleta dos dados foi utilizada
uma área de Cerrado sentido restrito do
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas33
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
de Vochysiaceae com 9, Apocynaceae com
4 e Myrtaceae com 5.
As espécies encontradas em maior
número foram; Qualea parviflora-27,
Kielmeyera coriacea-25, Sclerolobium
paniculatm-20, Vochysia elliptica-20 e
Pouteria ramiflora-13.
Pela análise do Dendograma de
Similaridade entre os pontos amostados, foi
possível constatar que as áreas 5 e 6
apresentaram maior similaridade, estando
situadas muito próximas e tendo altitude e
características do solo semelhantes. Em
seguida vieram as áreas 3 e 7 que apesar de
estarem distantes, cerca de 6 km, e em lados
diferentes da Serra, localizavam-se em
regiões de escarpa com altitude e solo
semelhantes. Os pontos 9 e 10 também
exibiram índice de similaridade elevado,
solo e altitudes parecidas.
Um fato importante a se destacar, é
que os pontos 1 e 2 apesar de estarem
localizados muito próximos, cerca de 0,3
km, e na mesma altitude, apresentaram o
menor índice de similaridade, bem como
características do solo diferente.
Mesmo com uma descrição superfial
dos aspectos edáficos, sem análises
químicas laboratoriais, este parece ser,
juntamente com a altitude, um dos
principais fatores que condicionam a
distribuição das espécies citadas e a
similaridade entre as áreas estudadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Batmanian,G.J.;
Haridasan,M.
1985.
Primary production and accumulation of
nutrients by the ground layer community
of cerrado vegetation of central Brazil.
Plant and Soil 88: 437-440.
Barros,C.F.A;
Dantas,G.P.M.;
Mendes,R.S.;
Ferreira,R.L..2001Heterogeneidade
ambiental
no
cerrado “sensu strictu” ,Serra do
Cipó-MG- trabalho selecionado do
Curso de Campo no parque Nacional da
Serra do Cipó.Belo Horizonte-MG.21-27
Coutinho,L.M. 1990. Fire in the ecology of
the Brazilian Cerrado. In: Fire in the
Tropical Biota – Ecosystem Processes
and
Global
Challenges.
J.G.
Goldammer (ed.). Ecological Studies.
Vol. 8A. Springer-Verlag, Berlim. p. 82105.
Felfili,J.M; M.C. Silva Júnior..1998Ciência e Cultura Journal of the
Brazilian
Association
for
the
Advancement of Science.50
Ludwig,J.A.;
Reynolds,
J.F..1998Statistical Ecology.New York.
Silva.O; Costa,D,A..2001 Levantamento
florístico em duas áreas de cerrado
“sensu stricto” no Parque Estadual da
Serra de Caldas Novas-GO. Acta
Botânica Brasileira.16. 43-53.
Figura 1 – Dendrograma de similaridade entre os 10 pontos amostrados, no PESCAN.
34
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1 – Características de solo, altitude, e coordenadas geográficas das áreas amostrais no
PESCAN.
LOCAL
SOLO
ALTITUDE(m)
COORDENADAS
1
Profundo,com
760
17o46’13”S
48o39’32.3”W
cascalho
2
Raso, rochoso com
769
48o39’39.2”W
acentuado declive
3
Escuro, presença de
913
Rochoso com
17o46’26.8”S
48o39’57.4”W
cascalho
4
17o46’18.4”S
921
17o46’37.5”S
48o40’0”W
afloramentos na
superfície
5
Profundo, sem
996
17o47’04.7”S
48o40’03.2”W
cascalho, latossolo
amarelo, plano
6
Presença de
991
48o39’57.4”W
cascalho,latossolo
7
Raso com cascalho,
17o47’11.6”S
935
17o49’41.8”S
48o43’34.7”W
rocha maciça
próximo à superfície
8
Latossolo amarelo,
958
17o49’34.3”S
48o43’17.7”W
sem cascalho e sem
rocha
9
Profundo sem
1003
17o46’26.2”S
48o42’08.4”W
cascalho, latossolo
vermelho,plano
10
Profundo,sem
1044
17o47’46.4”S
48o40’41.5”W
cascalho,latossolo
vermelho
35
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 2 – Lista de famílias e espécies encontradas em cada área amostral do PESCAN.
Áreas amostrais
Anacardiaceae
Astronium fraxinifolium
Annonaceae
Annona coriacea
Apocynaceae
1
2
X
X
3
4
5
6
7
8
X
Xylopia aromatica
X
X
X
Aspidosperma macrocarpon
Aspidosperma tomentosum
X
Hancornia speciosa
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Hymatanthus obovatus
X
Araliaceae
Schefflera macroparpon
X
Asteraceae
Eremanthus glomerulatus
X
X
X
X
X
Burseraceae
Protium ovatum
Caryocaraceae
Caryocar brasiliense
X
X
Celastraceae
Austroplenckia populnea
X
X
Chrysobalanaceae
Licania humilis
Clusiaceae
Kielmeyera coriacea
X
Kielmeyera speciosa
X
Connaraceae
Connarus suberosus
Dilleniaceae
Curatella americana
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Erythroxylaceae
Erythroxylum suberosun
Euphorbiaceae
Matayba guianensis
Flacourtiaceae
Casearia sylvestris
X
Hippocrateaceae
Salacia crassifolia
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Salacia elliptica
X
X
Icacinaceae
Emmoton nitens
Leguminosae
Acosmium dasycarpum
X
X
Bowdichia virginioides
X
X
X
Dalbergia miscolobium
X
X
X
X
X
Enterolobium gummiferum
Hymenaea stignocarpa
X
X
X
Davila elliptica
Dimorphandra mollis
X
X
Tabebuia aurea
Terminalia argentea
X
X
Bignoniaceae
Combretaceae
10
X
Annona crassiflora
Piptocarpha rotundifolium
9
X
X
X
Leguminosae indet.
X
X
X
X
X
36
X
X
X
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Machaerium opacum
X
X
Mimosa clauseni
X
Platymenia reticulata
X
Pterodon emarginatus
X
Sclerolobium paniculatum
X
Stryphnodendron adstringens
X
Stryphnodendron polyphyllum
X
Vatairea macrocarpa
Lythraceae
Lafoensia pacari
Malpighiaceae
Byrsonima coccolobifolia
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Byrsonima crassa
X
X
Byrsonima verbascifolia
Malpighiaceae indet.
Melastomataceae
X
X
Miconia ferruginea
X
X
X
X
X
X
X
X
Miconia rubiginosa
Moraceae
Brosimum gaudichaudii
Myrtaceae
Psidium sp.
X
X
X
Myrcia tomentosa
X
Myrcia variabilis
X
X
X
X
X
X
Myrcia sp.1
X
X
X
Myrcia sp.2
Nyctaginaceae
X
Guapira graciliflora
X
Neea theifera
Ochnaceae
Ouratea hexasperma
Rubiaceae
Alibertia sp.
X
X
X
X
X
Pouteria ramiflora
X
X
X
X
X
X
Styrax ferrugineus
Velloziaceae
Vellozia squamata
Vochysiaceae
Qualea grandiflora
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Qualea multiflora
X
Qualea parviflora
X
Salvertia convallarieodora
X
X
X
X
X
X
Vochysia elliptica
X
X
X
X
Vochysia rufa
X
indet. 1
X
X
X
indet. 2
X
37
X
X
X
X
Vochysia cinnamomea
Indeterminadas
X
X
Pouteria torta
Styracaceae
X
X
Palicourea rigida
Sapotaceae
X
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G3.1 COMPARAÇÃO FENOLÓGICA DE DUAS ÁREAS DE CERRADO
SENSU STRICTU.
Patrícia Rodin, Flávio Oliveira, Jania Salles, Marcelle Rodrigues & Otacílio Santana
Orientadoras: Janaína Lacerda Resende & Helena Maura T.-Silingard (Monitoras)
INTRODUÇÃO
A fenologia é o estudo da ocorrência
de eventos biológicos repetitivos, que são
influenciados pelos fatores bióticos e
abióticos. As fases fenológicas das diversas
espécies de uma comunidade relacionam-se
diferentemente com esses fatores (Lieth
1974 apud Mantovani & Martins, 1988).
O cerrado s.s. apresenta uma
vegetação sujeita às alterações de umidade
no ambiente, decorrente da variação sazonal
e das características do solo. As condições
edáficas influenciam a fenologia das
comunidades através da variação da
disponibilidade de água e nutrientes,
mesmo quando estas comunidades são
próximas, e sujeitas às mesmas condições
pluviométricas.
O objetivo deste estudo foi
determinar a variação fenológica existente
entre duas comunidades de cerrado s.s, uma
presente em afloramento rochoso e outra
em latossolo profundo, na transição da
estação seca para a chuvosa. A nossa
hipótese é que as comunidades apresentarão
comportamento fenológico distinto, sendo
que a comunidade da área de afloramento
apresentará um maior número de indivíduos
e espécies sem folhas e um menor número
com flores e frutos.
observação de todos os indivíduos com
mais de 1,5 metro de altura, ao longo de um
transecto de 150 metros de comprimento
por quatro de largura. Para todos os
indivíduos amostrados foram verificadas as
seguintes fenofases: I) brotação foliar e
presença de folhas maduras; II) floração botões e flores; III) frutificação – frutos
novos e maduros (Tabela 1). A intensidade
das fases foi classificada de acordo com a
porcentagem de ramos onde estas foram
observadas, sendo que zero (0) corresponde
à ausência do evento; um (1) corresponde a
presença do evento em 1-25% dos ramos;
dois (2) a 26-75% dos ramos; três (3) a 76100% dos ramos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na área A foram amostrados 96
indivíduos pertencentes a 37 espécies, e na
área B foram amostrados 55 indivíduos
pertencentes a 36 espécies (Tabela 2). A
fenologia foliar das duas áreas não foi
significativamente diferente (X 2=2,616,
p=0,2703), apenas três dos indivíduos da
área A e nenhum da área B apresentaram
ausência completa de folhas, 73% da área A
e 82% da área B apresentaram apenas
folhas novas, e 24% da área A e 10% da
área B possuíam apenas folhas maduras
(Tabela 3). A maioria dos indivíduos das
duas áreas, cerca de 80%, apresentaram
produção de folhas novas e 50% dos
indivíduos apresentaram folhas maduras
(Figura 1). Estes dados indicam que a
maioria dos indivíduos amostrada troca de
folhas durante a estação seca, no entanto
não é possível afirmar que estes são
decíduos, ou seja que perdem todas as
folhas simultaneamente, pois o evento de
troca não foi observado.
METODOLOGIA
As duas áreas estudadas estão
localizadas no Parque Estadual da Serra de
Caldas Novas, GO (PESCAN), e distam
aproximadamente 200m uma da outra.
Ambas apresentam caraterísticas edáficas
distintas, uma ocorre em latossolo profundo
(área A) e a outra em afloramento rochoso
(área B). A observação foi realizada no fim
da estação seca. A metodologia consistiu na
38
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Em relação às fases reprodutivas,
apenas cerca de 10% dos indivíduos de
ambas áreas apresentaram produção das
estruturas relacionadas a estas fases. Além
disto, a maioria destes indivíduos
apresentaram baixa intensidade (0-25% dos
ramos) de produção (Figura 1). Em relação
à síndrome de dispersão da comunidade das
áreas A e B, 54% e 58% das espécies são
zoocóricas e 46% e 42% são anemocóricas,
respectivamente (Tabela 2 e Figura 2).
Apesar do número de espécies zoocórias ser
maior nas duas áreas, este valor é baixo
quando comparado a áreas mais fechadas,
como uma floresta tropical, onde mais de
70% das espécies são zoocóricas (Howe &
Smallwood, 1982), o que está de acordo
com a idéia de que nos trópicos, a
anemocoria é mais importante em áreas
abertas (Howe & Smallwood, 1982), como
os Cerrados.
Trabalhos de síndrome de dispersão
de sementes no Cerrado mostraram que, em
Botucatu/SP, 33% das espécies são
anemocóricas (Gottsberger & SilberbauerGottsberger, 1983), e 39% em Brasília/DF
(Oliveira & Moreira, 1992). Os nossos
resultados apresentaram porcentagem de
anemocoria um pouco mais elevada, porém
próxima aos valores encontrados nestes
trabalhos.
Em relação aos frutos com dispersão
no período de estudo, 22% das espécies que
representam 14% dos indivíduos da área A,
e 25% das espécies que representam 23%
dos indivíduos da área B são zoocóricos,
enquanto
11%
das
espécies
que
representam 21% dos indivíduos da área A,
e 31% das espécies que representam 19%
dos indivíduos da área B são anemocóricos
(Tabela 2 e Figuras 2 e 3). Apenas cerca de
metade dos indivíduos e espécies
frutificando nas duas áreas representam
recursos em potencial para a fauna. Os
resultados encontrados em nível de espécie
e de indivíduo não foram significativamente
diferente entre as duas comunidades
estudadas (X 2= 0,004, p=0,999 e X2=
2,718, p=0,937).
Os resultados mostram que grande
parte das espécies e indivíduos de síndrome
de dispersão anemocórica presente nas duas
áreas, não estão dispersando suas sementes
nesta época (Figura 2 e 3), o que é
esperado, pois elas dispersam suas
sementes durante a estação seca, e não na
transição entre esta e a estação chuvosa. A
anemocoria é mais eficiente durante a
estação seca, pois a umidade afeta as
estruturas de dispersão anemocórica
(Sheldon & Burrows, 1973 apud Oliveira &
Moreira, 1992) e impede que as sementes
sejam dispersas para grandes distâncias. Os
mesmos resultados foram encontrados para
a dispersão zoocórica das duas áreas
(Figura 2 e 3). Este resultado mostra que
durante o período estudado há uma pequena
disponibilidade de frutos e sementes para a
fauna, tanto em variedade e quanto em
quantidade.
Quanto à comparação das distintas
fenofases entre as duas áreas, as áreas se
comportaram de forma bastante semelhante,
apresentando uma convergência no
comportamento
fenológico.
Elas
apresentaram alta produção de folhas novas
e uma ínfima porcentagem de espécies e
indivíduos sem folhas, e uma pequena
produção de estruturas reprodutivas. Além
disto,
as
duas
apresentaram
aproximadamente a mesma proporção de
indivíduos e espécies zoocóricas e
anemocóricas em fruto.
CONCLUSÕES
Os resultados encontrados não
corroboraram nossa hipótese, que a área de
afloramento rochoso apresentaria um maior
número de indivíduos e espécies sem folhas
e um menor número com flores e frutos. A
comunidade das duas áreas apresentou
fenologia bastante semelhante, o que parece
sugerir que as plantas presentes na área de
afloramento rochoso não sofrem mais com
a escassez de água que as do solo profundo.
Este fato pode se dever à presença de
estratégias de acúmulo de água pelos
indivíduos da área de afloramento rochoso,
ou aos eventos de chuva que ocorreram nas
39
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
últimas semanas e que foram suficientes
para as plantas produzirem novas estruturas,
principalmente, folhas novas.
Brazil. Sonderbd. Naturwiss.
Hamburg 7:33-314.
Rev.
HOWE, H. F. & SMALLWOOD, J. 1982.
Ecology of seed disspersal. Ann. Rev.
Ecol. Syst. 13:201-228.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos as monitoras, Janaína
(UnB) e Helena Maura (UFU) pela
orientação no campo e pelo empenho na
discussão do relatório. E ao amigo
Ernestino Guarino e ao Prof. Dr. Paulo E.
A. Oliveira pela ajuda na identificação das
plantas.
MANTOVANI, W. & MARTINS, F. R.
1988. Variações fenológicas das espécies
do cerrado da Reserva Biológica de Moji
Guaçú, Estado de São Paulo. Rev.
brasil. Bot. 11: 101-112.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, P. E. A. M. &
MOREIRA, A. G. 1992. Anemocoria em
espécies de cerrado e mata de galeria de
Brasília, DF. Rev. brasil. Bot. 15(2):163174.
GOTTSBERGER, G. & SILBERBAUERGOTTSBERGER, I. 1983. Dispersal and
distribution in the cerrado vegetation of
Tabela 1. Modelo de ficha de coleta de dados referente a fenofases em duas áreas de cerrado
do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO.
FICHA DE COLETA DE DADOS – PROJETO FENOLOGIA
FENOFASES
ÁREA:_____________
FOLHAS
No. Espécie
FoJ
40
FoM
FLORES
Fruto
Flor
FRUTOS
FrJ
FrM
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 2. Espécies encontradas em duas áreas de cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas
Novas, GO, quanto à sindrome de dispersão, floração e frutificação. A simbologia "n"
significa ausência e "s" ocorrência do evento fenológico.
Espécie
ÁREA (A)
Síndrome de dispersão Floração
Frutificação
zoocoria
n
n
Aspidosperma macrocarpon
anemocoria
s
n
Austroplenckia populnea
anemocoria
n
n
Bowdichia virgilioides
anemocoria
n
s
Brosimum gaudichaudii
zoocoria
s
n
Byrsonima crassa
zoocoria
s
n
Byrsonima crassifolia
zoocoria
n
n
Caryocar brasiliense
zoocoria
s
n
Connarus suberosun
zoocoria
n
n
anemocoria
s
n
Diospyrus bulcheli
zoocoria
n
n
Erythroxylum sp.
zoocoria
s
n
Hymenaea stignocarpa
zoocoria
n
n
Kielmeyera coriacea
anemocoria
n
n
Lafoensia pacari
anemocoria
n
n
Licania humilis
zoocoria
s
s
anemocoria
n
n
Miconia ferruginea
zoocoria
n
n
Myrcia tomentosa
zoocoria
s
s
Ouratea hexasperma
zoocoria
s
s
Palicourea rígida
zoocoria
s
n
anemocoria
n
n
Pouteria ramiflora
zoocoria
s
s
Qualea grandiflora
anemocoria
n
s
Qualea parviflora
anemocoria
s
s
Roupala montana
anemocoria
n
n
Schinus pseudochila
zoocoria
n
n
Senna sp.
autocoria
n
s
Annona crassiflora
Dalbergia miscolobium
Machaerium obovatum
Piptocarpha rotundifolia
41
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Stryphnodendron
zoocoria
s
s
polyphyllum
zoocoria
n
n
Styrax ferrugineus
zoocoria
s
s
Syagrus sp.
zoocoria
n
s
Tabebuia áurea
anemocoria
n
n
Tabebuia sp
anemocoria
n
n
zoocoria
n
s
Vochysia cinnamomea
anemocoria
s
n
Vochysia sp
anemocoria
n
n
adstringens
Stryphnodendron
Tocoyena formosa
Espécie
ÁREA (B)
Síndrome de dispersão Floração
Frutificação
anemocoria
s
n
Byrsonima coccolobifolia
zoocoria
s
n
Byrsonima crassa
zoocoria
s
n
Caryocar brasiliense
zoocoria
n
n
Casearia sp
zoocoria
s
s
anemocoria
n
n
Davilla elliptica
zoocoria
n
n
Didymopanax sp
zoocoria
n
n
Dimorphandra mollis
anemocoria
n
n
Dioscoriacea
anemocoria
s
s
zoocoria
n
n
anemocoria
n
n
Erythroxylum sp
zoocoria
s
n
Hancornia speciosa
zoocoria
s
s
Hymenaea stignocarpa
zoocoria
n
n
Jacaranda sp
anemocoria
n
n
Kielmeyera coriacea
anemocoria
n
n
Lafoensia pacari
anemocoria
n
n
Aspidosperma macrocarpon
Dalbergia miscolobium
Enterolobium gummiferum
Eremantus sp
42
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zoocoria
n
s
Mimosa sp
anemocoria
n
s
Myrcia sp
zoocoria
n
s
Myrcia tomentosa
zoocoria
n
s
Ouratea hexasperma
zoocoria
s
s
Pouteria ramiflora
zoocoria
n
s
Psidium sp
zoocoria
n
n
Pterodon emarginata
anemocoria
n
n
Qualea grandiflora
anemocoria
n
s
Qualea parviflora
anemocoria
s
s
Roupala Montana
anemocoria
n
n
Rourea induta
zoocoria
s
s
Salacia crassifolia
zoocoria
n
n
zoocoria
n
n
anemocoria
n
n
zoocoria
n
S
anemocoria
n
N
zoocoria
n
N
Licania humilis
Stryphnodendron
polyphyllum
Tabebuia áurea
Tocoyena formosa
Vochysia sp
Xylopia aromatica
Tabela 3. Número de indivíduos quanto à presença ou ausência de folhas em cada área
amostrada, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO.
FOLHAS
ÁREAS AMOSTRADAS
ÁREA A
ÁREA B
3 (3,12%)
00 (0%)
Somente Jovens
70 (72,92%)
45 (81,81%)
Somente Maduras
23 (23,96%)
10 (18,19%)
96
55
Ausência
TOTAL DE INDIVÍDUOS
43
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
% Indivíduos
(A)
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0 (0%)
1 (01 - 25%)
2 (26 - 75%)
3 (76 - 100%)
FolJ
FolM
Bot
Flor
FrtJ
FrtM
Eventos Fenológicos
% Indivíduos
(B)
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0 (0%)
1 (01 - 25%)
2 (26 - 75%)
3 (76 - 100%)
FolJ
FolM
Bot
Flor
FrtJ
FrtM
Eventos Fenológicos
Figura 1 – Ocorrência dos eventos fenológicos por número de indivíduos em cerrado de
latossolo-profundo (área A) e afloramento rochoso (área B), no Parque Estadual Serra de
Caldas Novas, GO. As expressões FolJ, FolM, Bot, Flor, FrtJ, FrtM significam folha jovem,
folha madura, botão floral, flor, fruto jovem e fruto maduro respectivamente.
44
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Área A
Zoo/nao
32%(12)
Zoo/frut
22% (8)
Anemo/frut
11% (4)
Anemo/nao
35% (13)
Anemo/frut
Anemo/nao
Zoo/frut
Zoo/nao
Área B
Zoo/nao
33% (12)
Zoo/frut
25% (9)
Anemo/frut
11% (4)
Anemo/nao
31% (11)
Anemo/frut
Anemo/nao
Zoo/frut
Zoo/nao
Figura 2 – Porcentagem de espécies zoocóricas (zoo) e anemocóricas (anemo) em plantas com
e sem frutos (frut), de duas áreas de Cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.
45
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Área A
Zoo/nao
25%
Anemo/frut
19%
Anemo/frut
Anemo/nao
Zoo/frut
23%
Anemo/nao
33%
Zoo/frut
Zoo/nao
Área B
Zoo/nao
27%
Zoo/frut
14%
Anemo/frut
21%
Anemo/frut
Anemo/nao
Anemo/nao
38%
Zoo/frut
Zoo/nao
Figura 3 – Porcentagem de indivíduos zoocóricas (zoo) e anemocóricas (anemo) em plantas
com e sem frutos (frut), de duas áreas de Cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas, GO.
46
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G3.2 DISPONIBILIDADE DE NÉCTAR E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL
DE CARYOCAR BRASILIENSE (CARYOCARACEAE) EM UMA ÁREA
DE CERRADO SENSU RESTRITO, PARQUE ESTADUAL DE SERRA
DE CALDAS NOVAS, GO
Caio Rebula, Cláudio Muniz, Marcela Yamamto & Sérgio Lopes
Orientação: Profo. Dr. Paulo Oliveira
INTRODUÇÃO
No bioma cerrado ocorrem diversas
fitofisionomias com a ocorrência de
espécies arbóreas e predomínio de espécies
herbáceas e arbustivas (SCHIAVINI &
ARAÚJO, 1989). Nessa região, as
interações entre polinizadores e as flores
que esses visitam, são de grande
importância para muitas espécies vegetais
completarem sua reprodução sexuada
(OLIVEIRA, 1991, 1994).
A interação morcego-planta é
considerada recente na história evolutiva
das angiospermas, mas ainda assim é de
grande importância para os ecossistemas
tropicais (BOBROWIEC, 2000). O
aumento da diversidade das angiospermas
provocou um efeito diversificador nos
morcegos, influenciando apreciavelmente
os gêneros e espécies dessas plantas
(FLEMING & HEITHAUS, 1981).
A distância que morcegos voam
entre o ninho e a área de forrageamento,
reflete diretamente as interações entre
algumas variáveis, como o tamanho
corporal, a distribuição e a abundância das
fontes alimentares (árvores com flores e
frutos) e a quantidade de indivíduos do
grupo que irão consumir tais recursos
(COELHO et al., 2001).
Nos últimos anos, vários estudos
(SAZIMA et al., 1994; GIBBS et al., 1999;
BOBROWIEC, 2000; COELHO et al.,
2001) vêm sendo realizados com o objetivo
de avaliar a relação entre a atividade dos
morcegos polinizadores e a oferta de
alimento pelas espécies vegetais. A relação
animal-planta é objeto de estudos para
vários pesquisadores pois ela associa
informações sobre o estabelecimento das
plantas no ambiente e os animais que
dependem de seus recursos alimentares.
Neste sentido, este trabalho teve
como objetivos: determinar o padrão de
distribuição
espacial
de
Caryocar
brasiliense em uma área de cerrado sentido
restrito, e avaliar a produção de néctar para
alguns indivíduos dessa espécie ao longo de
uma noite.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
Os presente estudo foi realizado no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN), localizado entre os municípios
de Caldas Novas e Rio Quente, no sudeste
do Estado de Goiás, a 180 km da capital
Goiânia (SILVA et al, 2002). A coleta dos
dados foi realizada nos dias 21 e 22 de
setembro de 2002.
Espécie estudada
Caryocar brasiliense é uma espécie
representativa da flora do cerrado, tanto
pela área de ocorrência como pelo potencial
de utilização. Seu período reprodutivo
ocorre de setembro a outubro, coincidindo
com o início da estação chuvosa. As flores
são grandes e vistosos, de cor amarelada,
reunidas em inflrescências terminais
paniculadas. Androceu formado por
numerosos estames, soldados na base ou
formado grupos com filetes glandulares
(Joly, 1976).
47
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Para a transformação da massa de
açúcar encontrada no néctar em
quilocalorias (Kcal), foi utilizada a
relação apresentada por DAFINI
(1992), em que 1 g de açúcar
equivale a 4 Kcal.
Desenho experimental
Foi realizado um levantamento em
uma área de 1,0 ha, usando 20 transectos de
10 X 50 m, subdivididos em parcelas de 10
X 10 m. Todos os indivíduos de Caryocar
brasiliense encontrados nos transectos
foram registrados e suas alturas estimadas
visualmente com o auxílio de uma vara
graduada.
Quando
os
indivíduos
apresentavam flores abertas na noite
anterior, estas eram contadas. Esses dados
serviram para calcular a densidade de
indivíduos reprodutivos (aqueles com
presença de flores), de indivíduos não
reprodutivos (aqueles com ausência de
flores) e de flores, bem como a distribuição
espacial, através do Índice de Poisson e de
Morisita (Tabela 1). Na mesma área
estudada, porém fora dos transectos
demarcados, outros indivíduos com botões
florais no estado de pré-antese, tiveram suas
inflorescências ensacadas com organza para
posterior determinação da produção do
néctar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A densidade relacionada ao total de
indivíduos não reprodutivos, indivíduos
reprodutivos e flores (23, 10 e 42
respectivamente), assim como o padrão de
distribuição espacial, estão descritos na
Tabela 2. Os indivíduos de pequi
amostrados
apresentaram
distribuição
agrupada para o total de indivíduos não
reprodutivos, indivíduos reprodutivos e
flores. Isto mostra que tais indivíduos estão
concentrados
em
algumas
áreas,
disponibilizando o recurso (néctar das
flores), também, de maneira concentrada na
área de estudo.
O volume médio da produção
noturna de néctar foi de 664,4 µL (dp =
304,8; n = 15) e a concentração média de
equivalentes de sacarose no néctar, foi de
14,9 % (dp = 4,2; n = 15). Foi feita a
conversão de tais resultados segundo a
tabela de conversão de KEARNS &
INOUYE (1993) e foi encontrado 17,4 Kcal
de energia disponível para a área de estudo.
Considerando que a espécie de morcego
que alimenta-se do néctar e assumindo que
um morcego nectarívoro tem uma demanda
calórica diária de 12,4 Kcal (VON
HELVERSEN
&
REYER,
1984),
verificamos que a área estudada tem a
capacidade de sustentar apenas um
morcego. Coelho et al., estudando o
oferecimento de néctar de Hymenaea
stigonocarpa, encontrou uma quantidade de
néctar nas flores capaz de suprir as
necessidades de aproximadamente 10
morcegos por hectare.
Essas variações nos valores de
produção e concentração podem estar
relacionadas com pressões ambientais
adversas, sofridas pelas flores de um
mesmo indivíduo ou de indivíduos
diferentes. Essas interferências podem
Medidas de néctar
As medidas referentes ao néctar
foram feitas em flores previamente
ensacadas, ao anoitecer e ao amanhecer,
medindo-se o volume e a concentração em
equivalentes de sacarose, utilizando-se
seringas de 1 ml (escala de 20 microlitros) e
refratômetro de bolso, respectivamente. A
partir de tais medidas (volume e
concentração do néctar) foi estimada a
recompensa calórica por hectare utilizando
a tabela de conversão de KEARNS &
INOUYE (1993) seguindo os seguintes
passos, conforme Bobrowiec (2000).
1o passo – encontrar na
tabela o valor de g/l (gramas de
açúcar por litros de néctar) da
concentração de açúcar amostrada
(% sacarose);
2o passo – dividir o valor
tabelado por 1000
3o passo – multiplicar pelo
volume de néctar coletado
48
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
control of selfing in Hymenaea
stignocarpa
(LeguminosaeCaesalpinoideae), a bat-pollinated tree of
the brazilian Cerrados. Int. J. Plant. Sci.
v. 160. p. 72-78.
influenciar na produção de néctar e
consequentemente no número de flores
necessárias para satisfazer a demanda
energática dos morcegos (ZIMERMMAN,
1999).
Os dados obtidos demonstram que
Caryocar
brasiliense
apresentou
distribuição espacial agrupada para
indivíduos e recurso floral. O estudo
demonstrou a importância do pequi como
fonte de recurso para morcegos, sendo
essencial para a manuntenção da fauna
local. Entretanto, em comparação com o
estudo de Hymenaea stigonocarpa (Coelho
et al., 2001), o pequi apresentou baixa
capacidade suporte.
VON HELVERSEN, O.; REYER, H. U.
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taxonomia vegetal. 3a ed. São Paulo,
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néctar
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recompensa calórica oferecida por
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49
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1 – Padrões de distribuição espacial definidos por dois índices de dispersão.
Índices de Dispersão
Poisson e Morisita
Condição
Tipo de distribuição
ID > 1
Agrupada
ID < 1
Aleatória
ID = 1
Uniforme
Obs.: ID = Índice de Dispersão
Tabela 2 – Densidade e tipo de distribuição espacial de indivíduos e flores em uma área de
cerrado sentido restrito, PESCAN, Caldas Novas, GO.
Densidade (indivíduos/ha)
23
Indivíduos (total)
Indivíduos não
reprodutivos
Índice de Poisson
1.39 Distribuição agrupada
Índice de Morisita
4.5 Distribuição agrupada
Densidade (indivíduos/ha)
Índice de Poisson
1.31 Distribuição agrupada
Índice de Morisita
4.4 Distribuição agrupada
Densidade (flores/ha)
Flores
10
42
Índice de Poisson
1.31 Distribuição agrupada
Índice de Morisita
18.6 Distribuição agrupada
50
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G3.3 PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE DUAS ESPÉCIES
PALMEIRAS, BUTIA LEIOSPATHA E SYAGRUS FLEXUOSA
(ARECACEAE), NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS
NOVAS, GO
Claudia C.F. de Toledo, Hélder N. Consolaro, Rafael S. Arruda, Ernestino S.G. Guarino &
Carlos H.G. Angeluci
Orientador: John D. Hay
INTRODUÇÃO
Para conhecer o padrão espacial de
ocorrência
de
uma
população
é
recomendado conhecer tanto o grau de
agregação, quanto sua formação (Maia,
1997).
Indivíduos de populações vegetais
podem estar distribuídos no espaço de três
maneiras: uniforme, aleatório e agregado. O
padrão de distribuição regular é o menos
encontrado na natureza, sendo o agregado o
mais comum (Silva, 1996), padrão que
parece se repetir para espécies de Cerrado
(Hay, 2000).
O estudo dos padrões espaciais de
populações naturais é de grande
importância, devido as características sócioecológicas que podem resultar a partir de
seu conhecimento e, em escalas maiores,
devido serem usados para planejamento e
desenho de áreas de conservação
(Nakajima, 1987; Hay, 2000). Estas
características
refletem
relações
intrapopulacionais, interespecíficas e de
interações para com os fatores ambientais
(Nakajima, 1987).
O objetivo deste trabalho foi
identificar escalas do padrão de distribuição
espacial de duas espécies de palmeiras,
Butia leiospatha e Syagrus flexuosa
(Arecaceae), em uma área de cerrado
(sentido restrito).
A área de estudo compreende uma
porção de cerrado (sentido restrito)
encontrada da no Parque Estadual da Serra
de Caldas Novas (PESCAN), localizado
entre os municípios de Caldas Novas e Rio
Quente, sudeste do Estado de Goiás.
Os dados foram coletados no mês de
setembro de 2002, utilizando uma
sequência de parcelas contíguas (Ludwig &
Reynolds, 1988). Foram demarcados 130
parcelas (8 x 5m) ao longo de uma linha de
650 m de comprimento, totalizando 5200
m2 de área amostrada. Em cada parcela
foram contados o número total de
indivíduos das duas espécies.
O padrão da escala de distribuição
espacial foi estabelecido usando o Método
Quadrado-Variância, através da construção
de gráficos nos quais se plota o valor da
variância contra o tamanho do bloco ou
intervalo entre parcelas (Ludwig &
Reynolds, 1988).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados um total de 317
indivíduos, sendo 141 de Syagrus flexuosa,
variando de 0 a 9 indivíduos por parcela
(1,35 indiv./parcela), e 176 de Butia
leiospatha, variando de 0 a 8 indivíduos por
parcela (1,08 indiv./parcela).
Através da análise dos dados usando
a técnica da variância entre parcelas
pareadas (PQV), as espécies apresentaram
um padrão de distribuição aleatório (Figura
MATERIAL E MÉTODOS
51
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
1). A análise dos resultados usando a
técnica da variância entre blocos de parcela
(BQV) mostrou que as espécies não
apresentaram picos de agrupamento
aparentes (Figura 2).
Na natureza, o padrão mais
encontrado é o de distribuição agregado,
sendo os principais fatores causais que
podem levar a este tipo de variação, os
ambientais
(intensidade
de
luz,
disponibilidade de água, pH); reprodutivos
(em decorrência da forma de reprodução ou
dispersão
de
diásporos),
sociais
(territorialismo), interaçoes intraespecíficas
(competição) e estocásticas. Entretanto, as
espécies estudadas apresentaram um padrão
de distribuição aleatório, presumindo, desta
forma, que nenhum fator está determinando
o padrão destas populações na área de
estudo.
Seyffarth, J. A. S. e Walter, B. M. T..
2000. Comparação do padrão da
distribuição
espacial
em
escalas
diferentes de espécies nativas do
cerrado, em Brasília, DF. Revta brasil.
Bot. 23: 341-347.
Ludwig, J. A. & Reynolds, J. F.. 1988.
Statical ecology: a primer on methods
and computing. John Wiley & Sons,
New York.
Maia, J. M. F. 1997. Estrutura populacional
das espécies do gênero Syagrus para o
cerrado Sensu Strictu. Pós-graduação em
Ecologia, UnB – Curso de Campo em
Ecologia (Trabalhos Inividuais). 43-47p.
Nakajima, J. N. & Monteiro, R.. 1987.
Padrões de distribuição espacial de
espécies de Styrax (Styracaceae) de
Cerrados. Arq. Biol. Tecnol. 30 (3): 419430.
Silva, D. M. S.. 1996. Distribuição espacial
de
Qualea
grandiflora
Mart.
(Vochysiaceae) em um cerrado de
Brasília,
DF.
Pós-graduação
em
Ecologia, UnB – Ecologia no cerrado,
(Curso ‘”Métodos de campo em
Ecologia”). 44-48.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Hay, J. D., Bizerril, M.X., Calouro, A. M.,
Costa, E. M. N., Ferreira, A. A., Gastal,
M. L. A., Junior, C. D. G., Manzan, D.
J., Martins, C. R., Monteiro, J. M. G.,
Oliveira, S. A., Rodrigues, M. C. M.,
52
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
PQV - Syagrus e Butia
6
Variância
5
4
Butia
Syagrus
3
2
1
0
1
6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61
Número de parcelas no bloco
Figura 1. Análise do padrão de distribuição espacial de duas espécies de palmeiras numa área
de cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO – PESCAN, usando o método
de variância entre parcelas pareadas (PQV). Para as espécies, Butia leiospatha (-„ -) e
Syagrus flexuosa (-V-).
Variância
BQV - Syagrus e Butia
50
40
30
20
10
0
Butia
Syagrus
1
2
3
4
5
6
7
Numeros de parcelas nos blocos
Figura 2. Análise do padrão de distribuição espacial de duas espécies de palmeiras numa área
de cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO – PESCAN, usando o método
de variância entre blocos de parcelas (BQV). Para as espécies, Butia leiospatha (-„ -) e
Syagrus flexuosa (-V-).
53
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G4.1 DUREZA, ÁREA FOLIAR, COR, PESO E PILOSIDADE EM UMA
ÁREA QUEIMADA E OUTRA NÃO EM CERRADO SENSU STRICTO
Cláudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Otacílio Santana, Carlos Angeluci & Marcelle
Rodrigues
Orientação: John Hay
INTRODUÇÃO
O fogo é um dos principais fatores
limitantes no cerrado, principalmente na
competição interespecífica entre espécies
árvore/arbustivas e camada rasteira. A alta
freqüência deste evento ao longo dos anos,
faz com que as plantas desenvolvam
adaptações para diminuir os danos
ocorridos (Takyia et. al, 2000).
No cerrado, o investimento em
reservas nutricionais subterrâneas mostram
a grande quantidade de espécies decíduas e
semi-decíduas, ou seja, sendo as folhas em
épocas de intenso estresse, a primeira parte
da planta a responder a estes distúrbios.
O estudo de algumas características
foliares de uma área recém queimada e
outra não poderá nos sugerir alguns
parâmetros que serão afetados inicialmente
após a passagem do fogo.
Bianchi et. al.(1996) observou
significativas
mudanças
em
alguns
parâmetros: dureza, coloração, pilosidade e
tamanho médio das folhas em mata de
galeria e cerrado.
Os objetivos do nosso trabalho
foram: i) comparar algumas características
foliares em área de queimada recente e
outra não, e entre folhas jovens e maduras,
ii) comparar herbivoria em folhas jovens e
maduras.
cerrado sensu stricto (17o66’59.4”S e
48o40’04,7”W) marginal a uma estrada
onde um lado foi queimado recentemente e
outro não.
A dureza relativa de cada folha foi
estimada com o uso de um perfurômetro
(um dinamômetro adaptado) com três furos
em cada folha ou folíolo e calculada a
média.
A área foliar foi mensurada por um
aparelho chamada Laser Area Meter, onde a
folha era escaneada três vezes, sendo
posteriormente tirado a médias dos
resultados.
A Coloração foi descrita em
comparação da folha/folíolo com o Livro de
Munsell (Color Charts for Plant Tissue).
O peso foi mensurado por uma
balança de precisão de centésimo de gramas
OHAUS. Foi tomado o peso fresco das
folhas.
A pilosidade foi classificada por
ausente, muita ou pouca, e era notada
através da conta fio Intex.
O teste t pareado será aplicado para
comparar os parâmetros tanto em relação à
área, quanto em relação à idade foliar
(Software utilizado Prophet 1997).
SLA – specific leaf área foi
calculado pela razão entre área foliar e peso
fresco.
MATERIAL E MÉTODOS
As coletas das folhas foram feitas de
forma aleatória, em seis espécies arbóreas:
Caryocar brasiliense, Kielmeyera coriacea,
Xylopia aromatica, Roupala montana
Sclerolobium
paniculatum
e
Striphnodendron adistrigens. A área foi um
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tanto a área foliar quanto o peso
aumentaram nas espécies estudadas das
folhas jovens para folhas maduras, como o
esperado (Tabela 1 e 2), não mostrando este
padrão para dureza, observado em Roupala
montana.
54
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
uma das áreas e o período de observação foi
muito pequeno, cerca de duas semanas, que
provavelmente não sendo o suficiente para
que ocorressem significativas variações nos
parâmetros de cor (Figura 2 e 3).
Em comparação a todos os quesitos
estudados
não
mostraram
significativamente através do teste t
pareado (tmax=0.023 e tmin= 2.3880, p>0.05)
em relação à área queimada e área não
queimada recentemente.
Na maioria das espécies estudadas
que apresentavam muita pilosidade em pelo
menos uma das faces, não houve relação
direta com a taxa de herbivoria (Tabela 1 e
2).
Os quesitos que representaram um
pouco significância foram na comparação
do SLA e dureza mostrado na figura 1,
apenas para a espécie Caryocar brasiliense
(r2 = 0.2241), sendo as outras espécies
apresentando regressão linear quase sem
inclinação alguma, como por exemplo, na
Kyelmeiera coriaceae (r2 = 0.0173).
O padrão para coloração sofreu
mudança significativa entre folhas novas e
maduras somente para três espécies:
Caryocar brasiliense, Xylopia aromatica e
Sclerolobium paniculatum, nas espécies
restantes tal variação não foi observada.
Entre área queimada e não queimada não
foi verificada mudança para nenhuma as
espécies. É importante ressaltar que o
intervalo entre a queimada que ocorreu em
BIBLIOGRAFIA
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Scientific Publication, Massashussets,
USA.
Bianchi, C. A.; Costa F. A. P. L. & Dias, T.
A.
B.
1996.
Comparação
de
características de folhas de plantas de
cerrado e mata de galleria. Curso de
Campo – Ecologia do Cerrado,
Departamento de Ecologia – UnB, p. 22.
Takiya, D. M.; Perez, M. E.; Campon, F.;
Georgeoglou, L. & Pequeño. T. 2000.
Comparacíon de los parametros físicos y
fauna de invertebrados associada de la
hojarasca en una area preservada y outra
manejada. Curso de Campo 2000 –
INPA/ Smithsonian/OTS.
55
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1. Área foliar, massa, dureza, pilosidade e herbivoria na área sem fogo recente de
cerrado s.s., em folhas jovens e madura das espécies Caryocar brasiliense, Kielmeyera
coriacea, Xylopia aromatica, Roupala montana, Sclerolobium paniculatum e
Stryphnodendron adstringens.
Área Sem Fogo Recente
Área (cm2)
Massa (g)
Dureza
Pilosidade
Herbivoria
C. brasiliense
K. coriacea
X. aromatica
R. montana
S. adistrigens
S. paniculatum
Folha Jovem
32.4
19.4
15.60
19.7
15.3
12.5
SLA
32.40
4.73
39.00
19.70
15.30
17.86
Folha Madura
115.2
57.5
36.50
75.3
23.1
52.7
SLA
33.88
15.97
36.50
20.92
19.25
26.35
Folha Jovem
1
4.1
0.40
1
1
0.7
Folha Madura
3.4
3.6
1.00
3.6
1.2
2
Folha Jovem
9.3
20.70
15.00
370.8
13.3
90.4
Folha Madura
21.5
12
168.30
262.4
15
224.2
Folha Jovem
Muita
Ausente
Ausente
Muita abaxial
Ausente
Muita
Folha Madura
Muita
Ausente
Ausente
Muita abaxial
Ausente
Muita
Folha Jovem
Baixa
Ausente
Ausente
Baixa
Baixa
Baixa
Folha Madura
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
56
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 2: Área Foliar, Massa, Dureza, Pilosidade e Herbivoria na área com fogo recente de
cerrado s.s., em folhas jovens e maduras das espécies: Caryocar brasiliense, Kielmeyera
coriacea, Xylopia aromatica, Roupala montana Sclerolobium paniculatum e
Stryphnodendron adistringens
Área Queimada
C. brasiliense K. coriacea
Área (cm2) Folha Jovem
S. paniculatum
28.5
10.8
19.40
13.1
SLA
28.5
18
24.25
18.71
Folha Madura
88.3
34.2
48.80
61
33.96
20.12
24.40
29.05
1
0.6
0.80
0.7
Folha Madura
2.6
1.7
2.00
2.1
Folha Jovem
15.7
25.80
292.90
250
Folha Madura
19.3
12
256.70
40.8
SLA
Massa (g) Folha Jovem
Dureza
R. montana
Pilosidade Folha Jovem Muita
Ausente
Muita face Abaxial Muita
Folha Madura Muita
Ausente
Muita face Abaxial Muita
Ausente
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Herbivoria Folha Jovem Alta
Folha Madura Alta
Kyelmeiera coriaceae
Caryocar brasiliense
R2 = 0.2241
R2 = 0.0173
40
45
40
35
30
DUREZA
Dureza
30
20
25
20
15
10
10
5
0
0
0
10
20
30
40
50
60
70
0
SLA (cm2/g)
10
20
30
40
50
60
70
80
SLA (cm2/g)
Figura 1: Comparação entre SLA (Specific Leaf Área) e dureza da folha em duas espécies
estudadas: Caryocar brasiliense e Kyelmeiera coriacea.
57
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
C aryocar brasiliense
10
N º de folhas
8
6
novas
4
m aduras
2
0
25G Y
50G Y
75G Y
tonalidade
S clerolobium
10
N º de folhas
8
6
novas
4
m aduras
2
0
25G Y
50G Y
75G Y
tonalidade
X ylopia
10
N º de folhas
8
6
novas
4
m aduras
2
0
25G Y
50G Y
75G Y
tonalidade
Figura 2: Espécies que apresentaram diferenças na coloração entre folhas jovens e maduras: S.
paniculatum, X. aromatica e C. brasiliense.
58
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
K yelm eiera
N º de folhas
10
8
6
novas
4
m aduras
2
0
25G Y
50G Y
75G Y
tonalidade
R oupala
10
N º de folhas
8
6
novas
4
m aduras
2
0
25G Y
50G Y
75G Y
tonalidade
Stryphnodendron
Nº de folhas
10
8
6
novas
4
maduras
2
0
25GY
50GY
75GY
tonalidade
Figura 3: Figura 2: Espécies que não apresentaram diferenças na coloração entre folhas jovens
e maduras: S. adistrigens, K. coriaceae e R. montana.
59
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G4.2 COMPORTAMENTO SENSORIAL EM TETRAGONISCA ANGUSTULA
(APIDAE, MELIPONINAE)
Flávio R. Oliveira, Hélder N. Consolaro, Patrícia Rodin, Sérgio F. Lopes
Orientação: Helena Maura Torezan-Silingard
INTRODUÇÃO
Diversos grupos animais dependem
de diferentes canais sensoriais para
comunicação e identificação (Krebs &
Davies, 1996). Tais diferenças dependem
de restrições impostas pelos hábitos e
habitats das espécies. Alcock (1984) apud
Krebs & Davies (1996) classifica estes
canais em químicos (percepção de odores),
visuais, auditivos e tácteis. Percepções
visuais e químicas possuem baixo custo
energético, sendo que percepção visual
apresenta maior facilidade de localização,
degradação rápida, alcance médio e fraca
habilidade de transpor obstáculos. A
percepção química apresenta facilidade de
localização variada, degradação lenta,
alcance mais longo e boa habilidade de
transpor obstáculos (Alcock, 1984 apud
Krebs & Davies, 1996).
A percepção de cores tem aguçado a
imaginação humana por muito tempo
(Kevan, 1983 apud Corredor, 2002). A
visão de cores em insetos tem sido testado
com flores ou outros estímulos visuais, tais
como predadores, localização de ninhos,
alimento, parceiros dentre outros. Modelos
usados em abelhas para determinação de
códigos de cores de flores têm demonstrado
que elas possuem uma visão tricromática
aguçada que compreende receptores ultravioletas (UV), azuis e verdes (Cittka, 1997
apud Corredor, 2002).
Estudos de comportamento tem
mostrado que a existência de preferências
por cores em insetos pode variar com a
idade, estado reprodutivo ou aprendizagem
(Corredor, 2002). Estímulos olfativos
também atraem esses animais, e em
abelhas, o reconhecimento de odores é
específico para a colônia. Greenberg (1979)
apud Krebs & Davies (1996) demostrou
experimentalmente que operárias de
Lasioglossum zephyrum (Hymenoptera:
Halictidae) impedem, seletivamente, que
indivíduos não aparentados entrem em seu
ninho.
O objetivo deste estudo foi identificar
qual o componente mais importante no
reconhecimento da entrada do ninho:
químico ou visual.
METODOLOGIA
Devido a dificuldade de localização
dos ninhos, utilizamos apenas uma colônia
de Tretragonisca angustula (Apidae:
Meliponinae), localizada no lado externo da
sede do Parque Estadual de Caldas Novas,
GO (PESCAN), situado entre os municípios
de Caldas Novas e Rio Quente. O ninho se
encontra em um tubo de aterramento de
coloração negra, sendo em sua parte
superior a saída (três metros do solo).
Para condicionamento das abelhas
com a nova cor do ninho, no dia 21 de
setembro de 2002 às 13:00hs, foram
colocadas na entrada do ninho (boca do
tubo), duas folhas de cartolina; uma interna
(cor-de-rosa), com o objetivo de deposição
de material seroso (sinal químico) e outra
externa (cor amarela), com o objetivo de
condicionar os indivíduos a identificar o
ninho através da cor.
Após dois dias (41 horas), retiramos
as folhas de cartolina separando os lados
amarelo e rosa. Para verificação dos
estímulos visuais e químicos, simulamos
cinco ninhos no qual os tratamentos
variavam na cor e na presença ou ausência
de cera (retirada do interior do ninho com
uma espátula): (1) amarelo sem cera, (2)
amarelo com cera, (3) preto com cera
60
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
(ninho), (4) rosa com cera, (5) rosa sem
cera, (6) preto sem cera (Figura 1). As
observações foram feitas por quatro pessoas
a cada 15 minutos. Uma dupla observava os
seis ninhos (cinco minutos cada ninho, três
ninhos por pessoa). Registramos quantos
indivíduos pousavam na entrada do ninho e
em qual entrada isso ocorria.
proximidades, visto que o odor é específico
da colônia.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Janaina pelo apoio
técnico dado a este experimento, ao
funcionário da base Joaquim por,
gentilmente, ter cedido as escadas sem os
quais não seria possível observar as
abelhas. Aos Professores Dr. Paulo Oliveira
e John Hay pelas dicas discussão. E a
Helena Maura pelo essencial apoio e
orientação, principalmente, na parte escrita
e execução experimental.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando comparamos as freqüências
de pousos nos tubos (3) com (6) e (1) com
(2), verificamos um maior retorno de
indivíduos nos tubos que possuíam odores
da colônia (Figura 2A e 2B). Nos tubos que
apresentavam coloração negra houve
retorno somente no ninho (Figura 2A), ao
contrário dos tubos de coloração amarela
em que foram registrados pousos em ambos
(Figura 2B).
Estas freqüências nos tubos com
odores evidenciam a importância do
estímulo químico para a colônia, embora no
tubo amarelo sem cera tenha se observado
dois picos de pouso superior ao do tubo
com cera, o estímulo químico permaneceu
mais evidente. Em relação à maior
atividade no ninho real quando comparada
com os falsos com odores, esta talvez se
deva pela maior volatilização decorrente do
tamanho real do ninho e, com constante
reposição de cera na entrada.
Comparando as freqüências de
pouso nos tubos (2) com (3) e (3) com (4),
também observamos um maior número de
indivíduos pousando no ninho (Figura 3A e
3B). O estímulo visual, testado nesta
comparações foi sobreposto pelo estímulo
químico, porém esse dado não pode ser
negligenciado, visto que odores específicos
possuem baixa facilidade de localização
quando comparado com estímulos visuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCOCK, J. 1984. Animal Behaviour: a
evolutionary approach., 3rd edn.
Sinauer, Sunderland, Massachusetts.
apud KREBS, J. R., DAVIES, N. B.
1996.
Introdução
à
Ecologia
Comportamental. São Paulo: Atheneu
Editora, 428 p.
BROWN, L., DOWNHOWER, J. F. 1951.
Analyses in Behavioral Ecology: a
manual for lab and field. Sunderland,
Massachusetts: Sinauer Associates, Inc.
Publishers, 199 p.
CHITTKA, L. 1997. Bee color vision is
optimal for coding flower color, but
flower colors are not optimal for being
coded-Why? Israel Journal of Plant
Sciences. n. 45, v. 2-3, p. 115 – 127.
apud CORREDOR, M. C. V. 2002.
Avaliação do comportamento de escolha
de cores por borboletas. Ecologia da
Floresta Amazônica – Curso de
Campo. p 102 – 104.
CORREDOR, M. C. V. 2002. Avaliação do
comportamento de escolha de cores por
borboletas. Ecologia da Floresta
Amazônica – Curso de Campo. p 102 –
104.
CONCLUSÕES
Ambos os estímulos, visual e
químico, são importantes para Tetragonisca
angustula localizar a entrada do ninho. A
longa distância da colmeia, o estímulo
visual é mais eficaz que o químico e, este
por sua vez é mais eficiente nas
GREENBERG, I. 1979. Genetic component
of kin recognition in primitively social
61
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
bees. Science, n. 206, p. 1095. apud
KREBS, J. R., DAVIES, N. B. 1996.
Introdução
à
Ecologia
Comportamental. São Paulo: Atheneu
Editora, 428 p.
Amazônica – Curso de Campo. p 102 –
104.
KREBS, J. R., DAVIES, N. B. 1996.
Introdução
à
Ecologia
Comportamental. São Paulo: Atheneu
Editora, 428 p.
KEVAN, P. G. 1983. Floral color through
the insect eye: what they are and what
they mean. pp. 3 – 30. In: JONES, C. E.
R. J. Little. 1983. Handboock of
Experimental
Pollination
apud
CORREDOR, M. C. V. 2002. Avaliação
do comportamento de escolha de cores
por borboletas. Ecologia da Floresta
RAVEN, P. H., EVERT, R. F.,
EICHHORN, S. E. 1999. Biology of
Plants. 6nd ed. New York: W. H.
Freeman
and
Company
Worth
Publishers, 959 p.
PISTA VISUAL
1
2
PISTA QUÍMICA
4
3
5
PISTA QUÍMICA
Figura 1 – Esquema de disposição das falsas entradas para as abelhas
Tetragonisca angustula. As marcas negras internas representam tubos com cera.
62
6
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
(A)
N. de Indivíduos
25
20
NINHO
PRETO
15
10
5
08
:0
0
08
:3
0
09
:0
0
09
:3
0
10
:0
0
10
:3
0
11
:0
0
13
:3
0
14
:0
0
14
:3
0
15
:0
0
15
:3
0
16
:0
0
0
Horário
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
AMARELO
16:00
15:30
15:00
14:30
14:00
13:30
11:00
10:30
10:00
09:30
09:00
08:30
AMARELO +
CERA
08:00
N. de Indivíduos
(B)
Horário
Figura 2 – Freqüência de retorno de Tetragonisca angustula à entrada dos falsos ninhos e
verdadeiro. Verificação do estímulo químico.
63
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
(A)
N. de Indivíduos
25
20
15
AMARELO + CERA
10
NINHO
5
08
:0
09 0
:0
0
10
:0
11 0
:0
14 0
:0
15 0
:0
16 0
:0
0
0
Horário
(B)
N. de Indivíduos
25
20
15
NINHO
10
ROSA COM
CERA
5
08
:0
0
09
:3
0
11
:0
0
14
:3
0
16
:0
0
0
Horário
Figura 3. Frequencia de retorno de Tetragonisca angustula dos falsos ninhos e verdadeiros.
Verificação do estímulo visual.
64
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G4.3 RECONHECIMENTO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS
FLORAIS POR BEIJA-FLORES EM UMA ÁREA DE CERRADO DO
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS (GO)
Rafael Arruda, Caio Rébula, Ernestino Souza G. Guarino, Janis C. Salles & Marcela
Yamamoto
Orientador: Paulo E. Oliveira
INTRODUÇÃO
Algumas aves visitam flores
regularmente para alimentarem-se de
néctar, partes florais e insetos. Flores
ornitófilas possuem grande quantidade de
néctar, geralmente pouco concentrado e
com baixa viscosidade, mas com pouco
odor devido ao restrito olfato das aves. Por
outro lado, aves possuem grande acuidade
visual, com grande capacidade de distinguir
cores. Sendo assim a maioria das flores
ornitófilas, normalmente são vermelhas ou
amarelas. Estas são grandes ou formam
inflorescências, fatores que podem estar
relacionados ao estímulo visual e
capacidade de abrigar grande quantidade de
néctar. Quando as flores são visitadas por
animais de maior tamanho corporal, com
conseqüente maior taxa de gasto energético,
estas flores devem produzir quantidade de
néctar suficiente para suprir as necessidades
destes animais. Espécies polinizadas por
animais com alta taxa de consumo
energético,
como
beija-flores,
desenvolveram adaptações florais capazes
de proteger o néctar em estruturas
tubulares. Isto evita que animais de baixo
consumo energético passem grandes
períodos nas flores, reduzindo a polinização
cruzada (Raven, 1999).
O cerrado apresenta uma grande
quantidade de plantas que produzem néctar
como recompensa floral aos polinizadores,
sendo a grande maioria das plantas
entomófilas e algumas ornitófilas e
quiropterófilas pouco freqüentes (Barbosa,
1997).
A dieta de um beija flor consiste
basicamente de néctar, composto por
sacarose e baixas quantidade de
aminoácidos, lipídeos e polissacarídeos,
apresentando
normalmente
baixa
concentração de solutos e pouca
viscosidade. A dieta dos beija-flores é
suplementada por pequenos invertebrados
que garantem o suprimento de aminoácidos
e outros compostos necessários ao
metabolismo (Baker & Baker, 1980). Em
áreas abertas, durante os períodos mais
quentes do dia, Silberbauer-Gottsberer &
Gottsberger (1998) não constataram a
atividade de beija-flores; e ainda os beijaflores podem ser divididos em trapliners,
com uma rota específica de forrageamento,
e territorialistas, defendendo uma mancha
de recursos.
Os objetivos do presente estudo
foram determinar o tempo de descoberta de
recursos, a freqüência de visitação, a
preferência pela coloração e quantidade das
flores, e a relação dos gêneros presentes em
uma área de cerrado (sentido restrito).
METDOLOGIA
O estudo foi realizado no 23 de
setembro de 2002, no Parque Estadual Serra
de Caldas Novas, em uma área de cerrado
sentido restrito, recentemente queimado e
consequentemente,
com
pouca
disponibilidade de recursos florais.
Foram utilizados 36 bebedores
artificiais, com flores plásticas de cores
variadas (24 vermelhas, 4 roxas, 4 brancas e
4 amarelas), os quais continham solução de
65
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
morfológicas da flor usada no experimento
que poderiam estar confundindo os beijaflores. Porque segundo Oliveira (1998),
como o número de plantas com flores
ornitófilas nas fitofisionomias do cerrado é
pequeno, os beija-flores terminam por
visitar um conjunto de flores que não
apresentam morfologias florais adaptadas à
sua visita.
A baixa disponibilidade de recursos
na área queimada poderia ter influenciado a
escolha dos beija-flores, mas em nosso
experimento isto não ocorreu. Isto pode ter
acontecido porque, provavelmente, os beijaflores não estariam arriscando explorar um
novo recurso, em detrimento de flores que
já poderiam estar sendo utilizadas.
água e sacarose a 15% de concentração de
soluto.
Foram montadas seis estações, cada
uma contendo duas unidades amostrais. Em
três delas foram dispostas seis flores
vermelhas e duas de outras cores, enquanto
que nas outras três, duas flores vermelhas e
duas de outras cores. Cada unidade ficou
distante cinco metros uma da outra dentro
da
estação.
Tais
estações
foram
estabelecidas a 50 metros da estrada e entre
elas.
As observações foram realizadas na
parte da manhã, com registros dos horários
das visitas, da preferência com relação à
coloração das flores e das características
morfológicas dos beija-flores visitantes.
Estes foram posteriormente identificados
até gênero, com o auxílio de Grantsau
(1989).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKER, H. G. & BAKER, I. 1980. Studies
of nectar-constitution and pollinatorplant coevolution. In: Gilbert, L E. &
Raven, P. H. (eds). Coevolution of
animals and plants. University of Texas
Press. p. 100-140.
BARBOSA, A. A. A. 1997. Biologia
reprodutiva de uma comunidade de
campo sujo, Uberlândia, MG. Tese de
doutorado. Unicamp. Campinas.
GRANTSAU, R. 1989. Os beija-flores do
Brasil. Expressão e cultura. Rio de
Janeiro. 234p.
OLIVEIRA, G. M. 1998. Disponibilidade
de recursos florais para beija-flores num
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de mestrado. UnB. Brasília.
RAVEN, P.H.; EVERT, R.F.; EICHHORN,
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W.H. Freeman and Company, New
York. 944p.
SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. &
GOTTSBERGER,
G.
1998.
A
polinização das plantas do cerrado.
Revta. Brasil. Biol. 48:651-663.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tempo total da observação foi de 2
horas para cada estação, no qual foi
registrado apenas o gênero Amazilia, com
uma ocorrência em três das estações,
havendo possibilidade de que tenha sido o
mesmo indivíduo. Devido ao início tardio
ou ao curto tempo de observação, esta
hipótese não pôde ser comprovada, porque
as rotas de capturas já poderiam ter sido
estabelecidas.
Uma hipótese para explicar a
ausência de exploração de beija-flores nos
bebedouros poderia estar associada a baixa
qualidade
do
recurso
oferecido.
Provavelmente, essa hipótese não está
correta, já que a concentração de soluto
estava dentro da faixa oferecida pelas
espécies locais visitadas por beija-flores.
Uma Bromeliaceae próxima ao experimento
apresentou concentração de 27% e um
indivíduo da espécie Norantea, 11%.
Outra explicação poderia estar
relacionada
com
as
características
66
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G5.1 DIETA DE CANÍDEOS NO PARQUE ESTADUAL DE CALDAS
NOVAS, GOIÁS
Carlos Angeluci, Claudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Marcelle Rodrigues & Otacílio
Santana
Orientador: Ariovaldo A. Giaretta
INTRODUÇÃO
No Brasil central três Canídeos
ocorrem simpatricamente, entre eles
Chrysocyon brachyurus, lobo guará e
Cerdocyon
thous,
cachorro-do-mato.
(JUAREZ & MARINHO-FILHO 2002).
Eles possuem uma dieta bastante variada,
alimentando-se principalmente de pequenos
mamíferos e frutas, além de aves e insetos.
Esses animais apresentam ainda grande
regionalidade nos itens alimentares e se
favorecem de recursos típicos das áreas
onde vivem. Um bom exemplo é C. thous
que é conhecido como “crab eating fox”,
pelo fato de, na Colômbia e Venezuela,
utilizar-se
desses
crustáceos
na
alimentação. Ainda no sudoeste brasileiro,
região do Pantanal, foi observada a inclusão
de frutos da palmeira Acrocomia aculeata
na dieta desse animal (ARRUDA, R. com.
pessoal).
A dieta generalista dos canídeos é
de grande importância para a dispersão de
sementes de espécies vegetais, uma vez que
esses podem percorrer vários quilômetros
em apenas uma noite. O fato de
apresentarem hábito noturno implica em
maior dificuldade no estudo desses
mamíferos através de observações diretas.
Desse modo, a análise do conteúdo das
fezes
pode
oferecer
importantes
informações sobre dietas e padrões de
forrageamento.
O presente trabalho teve como
objetivo estudar o uso de recursos
alimentares por Chrysocyon brachyurus
(lobo-guará) e Cerdocyon thous (cachorrodo-mato) através da análise de suas fezes.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas,
localizado entre os municípios de Caldas
Novas e Rio Quente, no sudeste do Estado
de Goiás, em uma porção de cerrado sensu
strictu, abrangendo áreas queimadas e não
queimadas. Foram coletadas todas as fezes
encontradas em uma estrada que percorre o
Parque. As amostras foram coletadas em
sacos plásticos e posteriormente colocadas
em álcool 70%, e levadas para análise em
laboratório. Em seguida, foram feitas
triagens, sendo separados todos os itens
identificáveis, que foram descritos ao
menor nível taxonômico possível. Os
parâmetros para identificação das fezes de
Chrysocyon brachyurus e Cerdocyon thous
foram à localização das fezes em áreas
expostas, características destes animais,
bem como a presença de frutos com restos
de animais (penas, pêlos, mandíbulas) e
volume.
Para a identificação dos itens
encontrados nas fezes, foram utilizadas
observações visuais, em microscópio óptico
e estéreo-microscópio. Os resultados foram
anotados e relacionados segundo a tabela 1.
RESULTADOS E DISUCSSÃO
Não foi possível detalhar qual
amostra fecal era de cada predador, uma
vez que não foram encontrados pêlos
ingeridos por autolimpeza. A lobeira
(Solanum lycocarpum) foi à espécie vegetal
encontrada
em
maior
quantidade
(aproximadamente 82 % das amostras), o
que corrobora os resultados encontrados por
JUAREZ & MARINHO-FILHO (2002).
67
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Além desta, foi possível identificar
sementes de Brosimum gaudichaudii em
uma das amostras. O segundo item
encontrado em maior freqüência foi
pequenos mamíferos, sendo que destes, a
maior parte formada por Equimídeos. Tais
resultados demonstram que a dieta desses
canídeos apresentou itens variados (Tabela
1) disponíveis na região de cerrado
estudada.
Os itens alimentares encontrados
nas fezes dos canídeos indicam que os
recursos alimentares no cerrado são
utilizados de forma generalista e
oportunista,
de
acordo
com
a
disponibilidade. A presença de restos
vegetais, como Solanum lycocarpum
(lobeira), e restos animais nas fezes,
evidencia o hábito onívoro desses canídeos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
JUAREZ, K. M. & MARINHO-FILHO, J.
2002. Diet, habitat use, and home ranges
of sympatric canids in Central Brazil.
Journal of Mammalogy. (no prelo).
Tabela 1. Itens identificados nos restos fecais de Canidae.
Amostras
Solanum
Outros Frutos
Mamíferos
Aves
Escamados
lycocarpum
1
X
X*
2
X
X**
3
X
4
X
5
X
6
X
X*
X***
X
7
X
8
X
9
X
10
X
X*
11
X
X*
X
X
*Equimídeo; **Murídeo; ***Brosimum gaudichaudii
68
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
12
freqüência absoluta
10
8
6
4
2
0
lobeira
mamíferos
aves
outros frutos
Figura 1. – Freqüência absoluta dos itens encontrados em 11 fezes coletadas.
69
escamados
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G5.2 RESISTÊNCIA DE LARVAS DE CURCULIONIDAE
(COLEOPTERA) PREDADORAS DE SEMENTES DE SYAGRUS
FLEXUOSA (ARECACEAE: PALMAE) AO FOGO EM CERRADO S. S.
Jania C. Salles, Caio Rébula, Ernestino Guarino, Marcela Yamamoto, Rafael Arruda
Orientador: Prof. John Hay
INTRODUÇÃO
Muitas plantas sofrem fortes pressões
de predação em suas sementes. Animais
que predam sementes e folhas são assunto
de várias discussões ecológicas. Entretanto,
eles diferem em caminhos importantes na
coevolução do alvo atacado (Janzen, 1971).
Representantes
da
família
Curculionidae (Coleoptera) são em sua
maioria
herbívoros.
Muitos
são
considerados pragas de espécies cultivadas.
Suas larvas geralmente alimentam-se de
tecidos vegetais medulares. Adultos
perfuram frutos para obter alimento e
depositam seus ovos em alguns destes
orifícios. As larvas desenvolvem-se no
interior desses frutos (Borror et al., 1992).
Em outros casos, os ovos são depositados
nas flores e as larvas eclodem quando o
fruto já está formado, onde se alimentam do
endocarpo até a próxima fase de seu
desenvolvimento.
Para o Cerrado, as conseqüências
decorrentes do fogo, dependem de vários
fatores, dentre eles da magnitude do seu
efeito e da extensão das áreas queimadas
(Roque et al., 1996). Uma das formas de
avaliar as modificações provocadas pela
ação do fogo em ecossistemas naturais é a
utilização de organismos vivos como
bioindicadores (Louzada et al., 1996).
O objetivo deste estudo é avaliar a
influência do fogo na sobrevivência de
larvas de Curculionidae predadoras de
sementes de Syagrus flexuosa.
O estudo foi realizado numa área de
cerrado sensu stricto no Parque Estadual da
Serra de Caldas Novas, GO.
Foram coletadas as infrutescências de
Syagrus flexuosa de 15 indivíduos com
alturas de aproximadamente um metro, em
dois locais: um queimado a 15 dias e um
não queimado, que sofreu a última
queimada
há
quatro
anos.
Cada
infrutescência possuía cerca de 20 frutos, os
quais tiveram medidos o comprimento e o
diâmetro, sendo analisados quanto ao
estado do endosperma (intacto ou abortado)
e quanto à presença ou ausência de larvas
vivas ou mortas.
Os dados foram analisados pelo teste
Qui-quadrado e teste t.
RESULTADOS
Foi coletado um total de 290 frutos na
área queimada, dentre os quais, 204
apresentaram-se intactos, 52 abortados e 34
com presença de larvas vivas ou mortas. Na
área não queimada, foram coletados 249
frutos, sendo 141 intactos, 15 abortados e
93 com presença de larvas vivas ou mortas
(Tabela 1).
Foi observada diferença significativa
entre as características apresentadas pelos
frutos da área queimada (χ2 =292,734,
p<0,01) e da área não queimada (χ2
=150,819, p<0,01). Com relação a
comparação entre as características das
duas áreas, também verificou-se diferença
significativa (χ2 =56,555, p<0,01) (Tabela
1).
METODOLOGIA
70
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Na área queimada, das 34 larvas
encontradas, somente duas estavam vivas.
Na área não queimada, das 93 larvas, 88
estavam vivas. Comparou-se as larvas vivas
das duas áreas para verificar se havia
resistência ao fogo, onde foi encontrado
diferença significativa (χ2 =94,967,
p<0,01). Dessa forma, pode-se inferir que
os frutos não conferem proteção às larvas
contra a ação do fogo.
Como a escolha dos indivíduos foi
feita com base numa altura semelhante, era
esperado que não houvesse diferença
significativa entre as alturas dos cachos nas
duas áreas (t= -0,978, p=0,338). Numa
coleta de 20 frutos de uma infrutescência a
1,65m de altura, em área queimada,
observou-se grande freqüência de larva
vivas (55%), com a ausência de larvas
mortas.
Assim, a altura dos cachos teve forte
influência na freqüência das larvas vivas na
área queimada, pois, segundo Miranda et al.
(1996), a altura das chamas onde são
registradas as maiores temperaturas é a 60
cm do solo.
JANZEN, D. H. 1971. Seed predation by
animals. Annual Review of Ecology and
Systematics 2: 465- 492.
LOUZADA, J. N. C.; SCHIFFLER, G. &
VAZ DE MELLO, F. Z. 1996. Efeitos
do fogo sobre a estrutura da comunidade
de Scarabaeidae (Insecta, Coleoptera) na
restinga da Ilha de Guriri – ES. In: H. S.
Miranda; C. H. Saito & B. F. S. Dias.
Impactos de queimadas em áreas de
cerrado e restinga. Universidade de
Brasília. p. 161-169.
MIRANDA, H. S.; ROCHA e SILVA, E. P.
&
MIRANDA,
A.
C.
1996.
Comportamento do fogo em queimadas
de campo sujo. . In: H. S. Miranda; C. H.
Saito & B. F. S. Dias. Impactos de
queimadas em áreas de cerrado e
restinga. Universidade de Brasília. p. 110.
ROQUE, W. L.; NUNES, C. B. S. N. &
HECKLER, C. A. 1996. Geometria de
paisagem de áreas queimadas por fogo
de superfície. In: H. S. Miranda; C. H.
Saito & B. F. S. Dias. Impactos de
queimadas em áreas de cerrado e
restinga. Universidade de Brasília. p.
178-187.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORROR, D. J.TRIPLEHORN, C. A. &
JONHSON, N. F. 1992. An introduction
to the study of insects. 6th ed. Orlando,
Saunders College Publishing. 875p.
Tabela 1 – Características dos frutos coletados nas duas áreas amostradas.
QUEIMADA
NÃO QUEIMADA
Endosperma intacto
204
141
Endosperma abortado
52
15
Larvas vivas
2
88
Larvas mortas
32
5
Total de frutos
290
249
71
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G5.3 ASSOCIAÇÃO ENTRE PLANTAS PORTADORAS DE
NECTÁRIOS EXTRAFLORAIS E FORMIGAS: ESTRATÉGIA
EFICIENTE CONTRA HERBÍVOROS ?
Hélder N. Consolaro, Flávio R. Oliveira, Patrícia Rodin, Sérgio F. Lopes
Orientador: Prof. Dr. Glauco Machado
plantas sem NEFs; (H3) plantas com NEFs
possuem menor índice de herbivoria do que
plantas sem estas glândulas.
INTRODUÇÃO
A herbivoria acarreta vários danos à
folha, como redução da área fotossintética e
ataque a partes reprodutivas. Ao longo do
tempo
evolutivo,
algumas
plantas
desenvolveram
mecanismos
para
diminuírem estes danos. Estes mecanismos
podem ser divididos, de forma geral, em
defesas mecânicas, químicas e bióticas.
Dentre as defesas bióticas, destacam-se os
nectários extraflorais (NEFs), que atraem
predadores de herbívoros, principalmente
formigas (Begon, et al., 1990, Bentley,
1977).
Nectários extraflorais são glândulas
secretoras de néctar não envolvidas
diretamente na polinização. Estas estruturas
ocorrem em muitos taxa vegetais,
particularmente em Angiospermas tropicais
(Oliveira et al., 1997; Oliveira & OliveiraFilho, 1991). Segundo Del-Claro (1995), as
secreções de NEFs são o alimento mais
comum oferecido às formigas.
No Cerrado, foi demonstrado que
formigas limitam a herbivoria em folhas de
Qualea grandiflora Mart. e Q. multiflora
Mart. (Vochysiaceae) que possuem pares de
NEFs na base do pecíolo (Costa et al.,
1992). Em Q. multiflora também foi
demonstrado que a associação com
formigas é um dos fatores determinantes no
sucesso reprodutivo e vegetativo da planta
(Del-Claro et al., 1996).
Este estudo teve como objetivo testar
as seguintes hipóteses: (H1) plantas com
NEFs atraem mais formigas do que plantas
desprovidas de tais glândulas; (H2) a
frequência de remoção de herbívoros em
plantas com NEFs será maior do que em
METODOLOGIA
Realizamos o estudo no dia 25 de
setembro de 2002, no período matutino, em
uma área de cerrado sensu stricto do Parque
Estadual Serra de Caldas Novas, GO.
Trabalhamos com duas espécies vegetais
portadoras de nectários extraflorais (NEFs),
Qualea grandiflora e Q. parviflora
(Vochysiaceae). Definimos como planta
controle qualquer dicotiledônea sem NEFs,
localizada até 2 m de distância da planta
com NEF escolhida. Selecionamos plantas
que
apresentassem
características
estruturais e textura foliar semelhantes às
duas espécies de Qualea.
Averiguamos a presença de formigas
nas plantas selecionadas e as identificamos
em níveis de espécie. Utilizamos o teste G
para determinar se havia diferença entre o
número de plantas com e sem NEF em
relação à presença de formigas. Para testar
se havia diferença na frequência de
detecção de herbívoros nos dois grupos
experimentais utilizamos como iscas vivas
operárias de cupins (Termitidae), que
simularam possíveis herbívoros. Os cupins
foram colados com cola branca na face
adaxial próximos à borda de uma folha
nova apical. Colamos uma isca por planta
tanto no grupo experimental quanto no
controle. As observações sobre o tempo de
encontro da formiga com a isca foram feitas
por 10 min em cada par experimental. Para
determinar se havia diferença na freqüência
72
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
de remoção entre plantas com e sem NEFs
foi utilizado o teste G.
Para determinação da taxa de dano
foliar nas plantas controle e nos
tratamentos, padronizamos um índice de
herbivoria adaptado de Dirzo & Dominguez
(1995) compreendido de cinco categorias: 1
= 0-1%; 2 = 2-5%; 3 = 5-12%; 4 = 13-50%
e 5 = 51-100%. Para calcular o Índice de
Herbivoria (IH) foi utilizada a seguinte
fórmula: IH=∑(ni . i)/ ∑ni, sendo (ni) o
número de folhas com dano i. Para tal,
utilizamos as 10 primeiras folhas próximas
à folha que continha a isca viva. Para
determinar se havia diferença no IH entre as
plantas com e sem NEF, foi utilizado o teste
pareado de Wilcoxon.
ocorrência de associação entre plantas com
NEFs e formigas sem, no entanto, haver
proteção para as plantas (veja Del-Claro et
al., 1986).
Nossos resultados podem ser
decorrentes
de
dois
fatores
interdependentes: variação temporal e
identidade das formigas visitantes. A
variação temporal está relacionada ao
investimento da planta em folhas jovens
cujos NEFs estão ativos. Na estação de
maior produção foliar há, portanto, uma
maior disponibilidade de néctar, o que torna
as plantas mais atrativas às formigas. A
maior densidade de formigas sobre as
plantas pode aumentar a eficiência de
remoção de herbívoros. Os indivíduos
amostrados estavam no início da produção
de folhas jovens, havendo assim baixa
disponibilidade de néctar para as formigas.
A baixa disponibilidade de néctar deve ter
acarretado uma baixa ocorrência de
formigas e, consequentemente, uma baixa
frequência de remoção dos herbívoros
(cupins).
Adicionalmente, quando há um
maior número de formigas visitando as
plantas com NEFs, existe uma maior
probabilidade de haver formigas com
comportamento agressivo. É sabido que
diferentes espécies de formiga podem
conferir proteção diferencial à planta
(Hölldobler & Wilson, 1990): quanto mais
agressiva a formiga, maior a chance de esta
remover potenciais herbívoros sobre a
planta. As duas espécies de formigas
encontradas nas plantas com NEFs
(Camponotus crassus e Crematogaster sp.)
apresentam um comportamento que,
provavelmente, não confere proteção às
plantas, uma vez que ambas são pouco
ativas no limbo foliar e passam a maior
parte do tempo no tronco e nos NEFs. Além
disso, as operárias dessas duas espécies são
pouco agressivas.
Nossos resultados sugerem que
vários fatores podem influenciar a interação
entre formigas e plantas. Estudos futuros
devem investigar a hipótese de que o
estágio fenológico das plantas e o
RESULTADOS
Neste experimento foi observado
que formigas ocorriam significativamente
mais em plantas com NEFs (Figura 1; G =
11,8; p = 0,0006). Em Qualea, 54,5% das
formigas encontradas foram Camponotus
crassus, 27,3% Crematogaster sp. e 18,2%
outras espécies (Camponotus sp., C. rufipes
e Cephalotes sp.). Nas plantas sem NEF,
28,6% foram Camponotus crassus, 57,1%
Crematogaster sp. e 14,5% outras espécies
(C. rufipes e Cephalotes sp.) (Tabela 1).
Não foi observada uma maior remoção de
cupins em plantas com NEFs em
comparação com plantas sem NEFs (Figura
2; G = 1,2; p = 0,28). O índice de herbivoria
também não diferiu significativamente entre
as plantas com e sem NEFs (Figura 3; Z = 0,77; p = 0,44).
DISCUSSÃO
Os
resultados
encontrados
corroboraram a hipótese de que formigas
são encontradas em maior frequência em
plantas portadoras de NEFs. Entretanto, a
segunda e a terceira hipóteses não foram
corroboradas pois tanto a frequência de
remoção de cupins quanto o índice de
herbivoria não diferiram nos dois grupos
experimentais. Estes resultados não são
discrepantes a alguns estudos encontrados
na literatura. Vários trabalhos já relataram a
73
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Ecological Entomology. n. 17, p. 363 –
365.
comportamento das formigas são fatores
importantes na compreensão da interação.
Nesse sentido, poderemos ter uma idéia
mais precisa dos aspectos que condicionam
a defesa contra herbívoros em plantas
portadoras de nectários.
DEL-CLARO, K., BERTO, V., REU, W. F.
1996. Herbivore deterrence by visiting
antsincreasesfruit set in an extrafloral
nectary plant, Qualea multiflora
(Vochysiaceae) in cerrado vegetation.
Journal of Tropical Ecology. n. 12, p.
887 – 892.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a orientação do Prof.
Glauco Machado. Maravilha!!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DEL-CLARO, K. 1995. Ecologia da
interação entre formigas e Guayaquila
xiphias (Homoptera: Membracidae) em
Didymopanax vinosum (Araliaceae).
Tese
de
Doutorado,
Unicamp,
Campinas, 101p.
BEGON, M., HARPER, J. L. ,
TOWNSEND, C. R., 1990. Ecology –
individuals,
populations
and
communities. Blackwell Science 2o Ed.
995 p.
DIRZO, R., DOMINGUEZ, C. 1995. Plant
animal interactions in Mesoamerican
tropical dry forest. In: BULLOCK, M.,
MOONEY, H. (eds.) Senssonally Dry
Forest. Cambridge University Press,
EUA.
BENTLEY, B. L. 1977a. Extrafloral
nectaries and protection by pugnacious
bodyguards.
Annual
Review of
Ecological Systematics. n. 8, p. 407 427.
BENTLEY, B. L. 1977b. The protective
function of ants visiting the extrafloral
nectaries of Bixa orellana L. (Bixaceae).
Journal of Ecology. n. 65, p 407 427.
HÖLLDOBLER, B., WILSON, E. O. 1990.
The ants. Harvard University Press,
Cambridge, Massachusetts.
OLIVEIRA, P. S., LEITÃO-FILHO, H. F.
1997. Extrafloral nectaries: their
taxonomic distribution and abundance in
the woody flora of cerrado vegetation in
Southeast Brazil. Biotropica. n. 19, p.
140 – 148.
COSTA, F. M. C. B., OLIVEIRA-FILHO,
A. T., OLIVEIRA, P. S. 1992. The role
of extrafloral nectaries in Qualea
grandiflora (Vochysiaceae) in limiting
herbivory: na experiment of ant
protection in cerrado vegetation.
74
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1. Porcentagem de ocorrência das duas espécies de formigas e de outras não
identificadas encontradas nas plantas com e sem NEFs no Parque Estadual da Serra de Caldas
Novas – GO.
% de ocorrência
Formigas
Qualea spp.
Sem NEFs
Camponotus crassus
54,5%
28,6%
Crematogaster sp.
27,3%
57,1%
Outras
18,2%
14,3%
Número de plantas
com formigas
sem formigas
20
15
10
5
0
Qualea spp.
Plantas sem NEFs
Figura 1. Número de plantas com ocorrência de formigas em Qualea spp. (planta com NEFs)
e em plantas sem NEFs no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO.
75
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
detectados
Projetos em Grupo
não detectados
N o de cupins
20
15
10
5
0
Qualea spp.
Planta sem NEF
Figura 2. Remoção (detecção) de cupins por formigas em plantas com e sem NEFs no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas – GO.
IH
Qualea spp.
Plantas sem NEFs
Figura 3. Índice de Herbivoria (IH) das espécies com e sem NEFs com suas determinadas
amplitudes e medianas no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO.
76
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G6.1 OBSERVAÇÃO E COLETA DE MORCEGOS EM UMA MATA DE
GALERIA, PESCAN, GOIÁS
Claudia C. F. de Toledo, Carlos Angeluci, Cláudio Muniz, Otacílio Santana, Marcelle
Rodrigues - Orientador: Jader Marinho- Filho
populações de insetos, anuros e roedores.
Eles contribuem, ainda, para a dispersão de
um grande número de espécies vegetais,
bem como, a polinização de outras.
O presente trabalho foi realizado em
uma mata de galeria, no Parque Estadual de
Caldas Novas, Goiás, entre os municípios
de Rio Quente e Caldas Novas, onde foram
armadas quatro redes do tipo “mist net”,
medindo 12 X 3 m, e com 3,5 cm de malha.
Cada rede foi colocada a cerca de 30 m uma
da outra. A disposição dessas foi feita em
clareiras da mata e sobre o curso d’água que
atravessa a mata, coincidindo com supostas
rotas de vôo dos morcegos. O período de
coleta se deu das 18:30 às 22:00 do dia 27
de setembro de 2002, onde cada rede foi
vistoriada com intervalos de 30 min. Os
animais capturados foram recolhidos em
sacos de pano numerados, e posteriormente,
levados ao laboratório para análise. Foram
anotadas, para cada indivíduo, a família,
espécie, massa, sexo, faixa etária, tamanho
do quinto dedo, tamanho total da asa
direita, hábito alimentar, cor e (Tabela 1).
As fezes dos mesmos foram recolhidas e
seus itens devidamente identificados.
Dos indivíduos encontrados, 4
apresentaram hábito alimentar do tipo
frugívoro e apenas 1 do tipo insetívoro, isto,
provavelmente, reflete o posicionamento
das redes a 20 cm do solo, o que coincide
com o maior deslocamento dos primeiros,
forrageadores preferencialmente do subbosque. Na maioria das fezes das espécies
frugívoras foram encontradas sementes de
Piper sp, não sendo possível à identificação
dos outros itens vegetais. Para a espécie
insetívora foram encontrados restos de
exoesqueleto, mas da mesma forma não
identificados.
Os quirópteros constituem a
segunda maior ordem entre os mamíferos,
apresentando cerca de 950 espécies, sendo
que, aproximadamente 140 destas ocorrem
em território brasileiro (MARINHOFILHO, com. pessoal). A ordem está
dividida
em
duas
sub-ordens:
Megachiroptera e Microchiroptera. Todos
os morcegos do novo mundo pertencem à
segunda sub-ordem (EMMONS, 1990). A
ordem Chiroptera é a única da classse
Mammalia, onde os organismos apresentam
vôo verdadeiro, o que os capacita ocupar
ambientes inacessíveis a outros da mesma
classe, facilitando a coleta de alimentos e
contribuindo para ampliar sua distribuição
geográfica.
Essa relação com o vôo, além de
trazer benefícios, requer uma série de
adaptações como aquisição de asa nos
membros anteriores, pouco tempo de
permanência dos alimentos no trato
digestivo, pernas reduzidas, e outras. Como
são de hábitos noturnos, necessitam de um
mecanismo de localização que vai além da
visão, popularmente conhecida de forma
errada como pouco desenvolvida. Eles se
orientam, também, por ecolocalização,
emitindo sons de altas freqüências que, ao
retornarem para o animal, são interpretadas
fornecendo informações como o tamanho
do objeto, distância e velocidade de
deslocamento do mesmo.
Através do estudo desses sons é
possível determinar um padrão de emissão
sonora característico de famílias, e táxons
inferiores,
importante
meio
para
identificação taxonômica.
Esse grupo apresenta
relevante
importância ecológica, estando relacionado
com a predação e eventual controle de
77
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Com o auxílio de um aparelho de
medição de sons de alta freqüência
(Anabat), os sons emitidos pelos morcegos
foram registrados e identificados no local.
Foi verificado que a maior atividade
ocorreu entre o período de 19:00 às 21:00
horas, o que reafirma outros registros feitos
para a maioria das espécies em outras áreas
(MARINHO-FILHO, com. pessoal).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EMMONS, L. H. 1990. Neotropical
rainforest mammals: a field guide. The
University of Chicago Press. 281 p.
78
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1 - Identificação e descrição de morcegos capturados.
Nº
Família
Espécie
Massa
Sexo
indivíduo
Faixa
Tamanho
Tamanho
etária
do 5º dedo
asa direita
Cor
Hábito
Horário
alimentar
de
captura
01
Vespertilionidae
Lasiurus sp
10 g
Fêmea
adulto
5,1 cm
12,5
preta
insetívoro
20:30
02
Phyllostomidae
Carolia perspicilata
20 g
Fêmea
adulto
7 cm
13 cm
cinza
frugívoro
19:00
03
Phyllostomidae
Artibeus jamaicensis
50 g
Fêmea
adulto
9 cm
20 cm
cinza
frugívoro
19:30
04
Phyllostomidae
Artibeus lituratus
65 g
Macho
adulto
10,5 cm
24 cm
cinza
frugívoro
20:30
05
Phyllostomidae
Artibeus jamaicensis
46 g
Macho
adulto
8,1 cm
20 cm
cinza
frugívoro
20:30
79
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G6.2 LEVANTAMENTO DE ANUROS DO PARQUE ESTADUAL
SERRA DE CALDAS NOVAS, GO (PESCAN)
Sérgio F. Lopes, Flávio R. Oliveira, Hélder Consolaro, Patrícia Rodin
Orientador: Prof. Dr. Ariovaldo Giaretta
INTRODUÇÃO
As dimensões continentais do
Brasil, assim como sua localização
essencialmente tropical, contribui para a
grande diversificação da flora e da fauna.
Existe mais de um milhão de espécies de
animais descritas, das quais 5% são
vertebrados (Barnes & Ruppert, 1994). A
fauna do Cerrado, diferentemente de sua
flora, apresenta baixo grau de endemismo
(Sick, 1965; Redford & Fonseca, 1986;
Marinho-Filho & Reis, 1989; Vanzolini,
1993). Entretanto, a sua herpetofauna
abriga muitas espécies endêmicas, sendo
metade das 16 espécies de cobras-de-duascabeças (Amphisbaenia), 12 das 47 espécies
de lagartos (Lacertília) e 32 das 113
espécies de anfíbios (Anura) listadas para o
bioma (Colli et
al.
no
prelo).
Provavelmente, o número de anfíbios do
Cerrado aumentará devido a elevada taxa de
descrição de novas espécies na Região
Neotropical (Glaw & Kohler, 1998).
Devido
a
esta
grande
biodiversidade, levantamentos, mesmo que
rápidos, da fauna regional são necessários,
dado que a destruição do Cerrado está se
processando com rapidez crescente e os
levantamentos são realizados com lentidão.
O objetivo deste estudo foi efetuar um
levantamento e descrição sucinta das
espécies de Anuros do Parque Estadual
Serra de Caldas Novas, GO.
com água corrente lenta, com insolação
direta, apresentando vegetação aquática
com predomínio de gramíneas. Esta área
está localizada próxima a uma vereda, em
frente à casa do pesquisador. O segundo
ambiente é um riacho sazonal situado no
campo cerrado, apresentando leito seco com
poças d’água pluviaa e vegetação ciliar. O
último ambiente é um riacho perene situado
em mata de galeria.
Os registros das espécies foram feitos
utilizando metodologia de identificação
auditiva e visual, sendo as vocalizações
gravadas em rádio gravador de mão,
modelo PANASONIC 750 S. Alguns
indivíduos foram coletados para medições
em laboratórios e, soltos na noite seguinte.
RESULTADOS
Levantamento
Foram encontradas oito espécies de
Anuros pertencentes a três gêneros e duas
famílias (Tabela 1). Deste levantamento
rápido, observamos que três espécies não
constavam na lista de Anuros registrados no
Plano de Manejo do Parque.
Descrição das espécies coletadas
As espécies descritas foram
coletadas nos três ambientes (Tabela 1).
Lepdodactylus
furnarius
e
Hyla
albopunctata foram identificadas apenas
pelo canto dado que em espécies de anuros
a vocalização é espécie específica.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado na noite do
dia 26 de setembro de 2002, em três
ambientes no Parque Estadual Serra de
Caldas Novas – GO, situado entre os
municípios de Caldas Novas e Rio Quente.
O primeiro ambiente é um tanque artificial
Hyla minuta
Coloração rajada amarelada, textura
lisa, parte posterior da coxa com coloração
uniforme com o restante do corpo. Cabeça
proporcional ao corpo. Indivíduos com
aproximadamente 1,8cm de comprimento.
80
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Ariovaldo Giaretta pela orientação dada a
este estudo e, por ter nos contado a historia
de vida destes animais.
Hyla biobeba
Coloração rajada beje e cinza com
aparência de líquen, textura lisa, rostro
arredondado, olho bem sobressaído e
presença de espinho na pata anterior.
Indivíduo com aproximadamente 6,2cm de
comprimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLLI, G. R.; BASTOS, R. P; ARAÚJO,
A. F. B. The character and dynamicas of
the cerrado herptofauna. In: OLIVEIRA,
P. S.; MARQUIS, R. J. ed. The
cerrados of Brazil: ecology and
natural history of a neotropical
savana.
New
York.
Columbia
University. Press. No prelo.
Physalaemus curveiri
Cabeça desproporcional ao corpo
(menor), faixas pretas nas laterais do corpo,
textura lisa e coloração do dorso mais
escura que a lateral, sendo as duas
malhadas, rostro afilado. Indivíduo com
aproximadamente 2,8cm de comprimento.
GLAW, F.; KOHLER, J. 1998. Amphibean
species diversity exceeds that of mamals.
Herptological Review, Lauwence 29
(1): 11 – 12.
Physalaemus nattereri
Coloração rajada acinzentada, corpo
em forma de disco, textura lisa. Presença de
ocelos pretos contornados com um anel
branco, na parte posterior do corpo. Parte
posterior da coxa rajada de coloração preta
e branca, cabeça bem menor que o corpo.
Indivíduo com aproximadamente 4,0cm de
comprimento.
MARINHO-FILHO, J.; REIS, M. L. 1989.
A fauna de mamíferos associada as
matas de galerias. Simpósio sobre mata
ciliar. São Paulo, SP, Anais. Campinas:
Fundação Cargil. p. 43 – 60.
REDFORD, K. H.; FONSECA, G. A. B.
1986. The role of galery forests in the
zoogeography of the cerrado’s non
volant mammalias fauna. Biotropica.
Baton Rouge, L. A. vol. 18 (2): 126 –
135.
Leptodactylus ocellatus
Coloração marrom claro com
manchas de tamanho médio marrom escuro,
parte posterior da coxa com coloração verde
camuflado, textura lisa. Dorso com quatro
linhas em alto relevo e paralelas ao
comprimento do corpo de cor marrom
intercaladas com coloração verde. Rostro
afilado, pata traseira com dedos alongados,
sendo o terceiro digito de dentro para fora
bem maior que os outros. Indivíduo com
aproximadamente 7,7cm de comprimento.
SICK, H. A. 1965. A fauna do cerrado.
Arquivos de Zoologia, São Paulo, SP.
12: 71 – 93.
VANZOLINI, P. E. 1963. Problemas
faunísticos do cerrado. Simpósio sobre
cerrado. São Paulo, SP. Anais p. 305
322.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Dona Eunice pela
preparação do lanche noturno e ao Prof. Dr.
81
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1. Lista das espécies observadas de Anuros em três ambientes noParque Estadual Serra
de Caldas Novas, no dia 27 de setembro de 2002.
Família
Gênero
Espécie
Ambiente
Leptodactylidae Lepdodactylus Leptodactylus ocellatus
I
Lepdodactylus syphax*
II
Lepdodactylus furnarius*
I
Physalaemus cuvieri
I
Physalaemus nattereri
II
Hyla minuta
I
Hyla albopunctata
I
Physalaemus
Hylidae
Hyla
Hyla biobeba*
(*) – Espécies não catalogadas no Plano de Manejo do Parque.
82
III
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
G6.3 INVERTEBRADOS NOTURNOS NO RIACHO DA CASCATINHA,
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS(GO)
Rafael Arruda, Caio Rebula, Ernestino S. G. Guarino, Jania C. Salles, Marcela Yamamoto
Orientador: Prof: Glauco Machado
INTRODUÇÃO
Mesmo representando uma pequena
parcela da área do cerrado, cerca de 5%, as
matas de galeria são de grande importância
na definição da biodiversidade desse bioma.
São responsáveis pela quantidade e
qualidade da água presente em rios do
Brasil central, comportando mais de 30%
das espécies de plantas vasculares neste
bioma. Muitos representantes da fauna
presentes em outras fitofisionomias do
cerrado dependem das espécies vegetais das
matas de galeria para alimentação,
reprodução e moradia. (Ribeiro et al.,
2001).
O estudo da fauna dos invertebrados
permite amostrar uma grande variedade de
formas animais e funções, de modo a obter
maior compreensão da diversidade deste
amplo grupo e sua participação no
ecossistema (Ruppert & Barnes, 1991).
O objetivo deste trabalho foi realizar
um rápido levantamento da fauna noturna
de invertebrados na mata de galeria do
riacho da Cascatinha.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado ao longo do
curso do riacho da Cascatinha, no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. A
coleta foi feita durante a noite por um
período de três horas, com início às 18:30
h. Os invertebrados foram capturados por
meio de coletas manuais e pelo auxílio de
um
guarda-chuva
entomológico.
Posteriormente, foram fixados em álcool
70%. Foi feita a triagem e identificação do
material em laboratório, com o auxílio de
um estéreo-microscópio.
Foram
coletados
indivíduos
pertencentes às classes Arachnida, Insecta e
Diplopoda. A Tabela 1. relaciona uma lista
comentada dos grupos encontrados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RIBEIRO, J.F.; FONSECA, C.E.L.;
SOUZA-SILVA, J.C. 2001. Cerrado:
caracterização e recuperação de matas de
galeria. 1a ed. Planaltina, Embrapa
Cerrados. 899p.
RUPPERT, E.E.; BARNES, R.D. 1991.
Invertebrate zoology. 6th ed. Orlando,
Saunders College Publishing. 1056p.
RESULTADOS
83
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
Tabela 1- Invertebrados encontrados no riacho da Cascatinha e suas características.
CLASSE
ORDEM
FAMÍLIA
HABITAT
CARACTERÍSTICAS
FORRAGEAMENTO/
DIETA
Arachnida
Araneae
Lycosidae
Terrestre
Caçador ativo
Desenho de seta no abdome.
Trechaleidae
Terrestre
Predador senta -espera Caça associada à água; pêlos nas pernas que facilitam andar sobre a água.
Hercilidae
Arborícola
Predador senta-espera
Camuflagem em troncos; fiandeiras grandes (teia para enrolar a presa); 3º
par de pernas mais curto.
Sparasidae
Arborícola
Predador senta-espera
Forte achatamento dorso-ventral.
Corinidae
Terrestre
Predador senta-espera
Maioria dos miméticos de formigas; teia para revestir o abrigo.
Pholcidae
Arborícola
Predador senta-espera
Algumas espécies de ambiente domiciliar; teias irregulares.
Therididae
Arborícola
Predador senta-espera
Teia irregular, mesma família da viúva-negra.
Araneidae
Arborícola
Predador senta-espera
Teia orbicular.
Salticidae
Terrestre ou
Caçador ativo
Visualmente orientados.
arborícola
Insecta
Acarinae
Não Identificado
Terrestre
Parasita
Ectoparasita de Bufo sp
Opilliones
Cosmetidae
Terrestre
Caçador ativo
Pedipalpo em forma de colher.
Gonyleptidae
Terrestre
Caçador ativo
Macho com espinhos; fêmea arredondada, sem espinhos.
Belostomatidae
Aquático
Predador senta-espera
Barata d’água; sifão respiratório; cuidados paternais.
Caçador ativo
1º par de pernas raptorial; canibalismo coletivo.
Hemiptera
submerso
Gerridae
Aquático de
superfície
84
UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002
Projetos em Grupo
continuação
Coleoptera
Reduviidae
Arborícola
Caçador ativo
Gyrinidae
Aquático de
Predador senta espera
Gregários; dois olhos bipartidos; bolha de ar no ventre.
____
A larva se alimenta de madeira; adulto de fase curta; antenas longas (2º
coluna d’água
Cerambycidae
Arborícola
segmento maior).
Erotylidae
Arborícola
Fungos
Elateridae
Arborícola
Caçador ativo
Vagalume.
Blattaria
Não identificado
Terrestre
Onívoro
Ninfas sem asas.
Orthoptera
Gryllidae
Terrestre
Herbívoro
Ovopositor perfurador; antenas longas e asas sobrepostas.
Phalangopsidae
Terrestre
Herbívoro ou
Ápteros; maioria cavernícola.
detritívoro
Diplopoda
Julida
Não identificado
Terrestre
Detritívoro
Enrola quando molestado expondo par de glândulas (cianeto).
85
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
Projetos de 1 dia
Set/02
86
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 1.1 MORTALIDADE DE NINHOS DE CONSTRICTOTERMES
CYPHERGASTER RELACIONADA A DISTÂNCIA DO SOLO E
CIRCUNFERÊNCIA EM UMA ÁREA DE CERRADO SENSU STRICTU
DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS (GO)
Caio A. Rébula, Carlos H. G. Angeluci
comportamento de nidificação arbórea pode
representar uma estratégia para reduzir o
ataque dos principais predadores (Redford,
1984), podemos esperar que:
INTRODUÇÃO
O cerrado brasileiro é um domínio
caracterizado como savana, apresentando
fitofisionomias variadas, que abrangem
desde campos a florestas. Cupins (Isoptera,
Termitidae) são insetos sociais de tamanho
médio que se alimentam de celulose,
utilizando matéria orgânica e solo para a
construção de seus ninhos, sendo mais
abundantes em áreas de maior biomassa
vegetal. Vivem em sociedades altamente
organizadas,
havendo
diferenças
morfológicas nos indivíduos presentes em
uma colônia (Borror et al. 1989). São
animais de grande importância devido a sua
abundância e capacidade de abrigar térmitas
inquilinos e um grande número de espécies
termitófilas
(Araújo,
1970).
Eles
representam ainda, uma considerável fonte
de alimento para várias espécies de animais.
Tatus e tamanduás constituem seus
principais predadores, havendo também a
utilização dos ninhos por aves, para
nidificação (Redford, 1984). Uma possível
estratégia para evitar a ação desses
predadores poderia estar relacionada com o
estabelecimento do ninho em determinada
altura do solo que diminuísse o alcance
destes animais. Uma das espécies de cupins
mais freqüentes no cerrado brasileiro é
Constrictotermes
cyphergaster,
que
constrói ninhos arbóreos (Araújo, 1970).
H0 – Maior distância do solo reduz a
taxa de mortalidade.
No entanto, é possível que existam
predadores capazes de acessar os ninhos
arbóreos:
H1 – Maior distância do solo
aumenta a taxa de mortalidade.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN), GO. A área total desta unidade
de reserva é de aproximadamente 12.000
ha, apresentando como fitofisionomia
principal formações de cerrado. A coleta de
dados foi feita em 20 de setembro de 2002,
em um local de cerrado sensu strictu com
altitude aproximada de 1030m. Foram
definidos 08 transectos de 200m x 10m,
dispostos perpendicularmente à estrada de
acesso à área de estudo. Cada transecto foi
colocado a 50m de distância um do outro.
Dentro da área foram amostrados todos os
ninhos de C. cyphergaster, medindo a
circunferência, altura dos ninhos até o solo,
assim como a densidade. Foi avaliada a
correlação entre altura e circunferência dos
ninhos bem como regressões logísticas
simples. Os dados foram analisados com o
auxílio do software Bioestat 2.0.
OBJETIVOS
O trabalho teve como objetivos
avaliar a relação entre a altura dos ninhos, a
partir do solo, com o tamanho dos mesmos
e determinar se isto influencia a
mortalidade. Desta forma, como o
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 52 ninhos, sendo
que destes, nove estavam desativados.
87
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
uma conseqüência de atividades da
avifauna (Redford, 1984). Entretanto, não
foi possível comprovar a origem da
perturbação.
A alta mortalidade a grandes valores
de altura pode estar relacionada a um gasto
energético maior para obtenção de recursos,
o que pode acarretar maior tempo na
construção dos ninhos. Desta forma eles
permaneceriam maior tempo em estágios
iniciais de desenvolvimento, estando mais
suscetíveis à ação de predadores.
Observou-se que a maioria dos ninhos
desativados apresentaram orifícios com
diâmetro de pelo menos 10 cm na porção
basal. A densidade de ninhos de C.
cyphergaster foi de 29,37/ha para uma área
de 16000 m². A relação encontrada entre
altura e circunferência dos ninhos está
relacionada na Figura 1. Os resultados da
análise para altura e circunferência dos
ninhos apresentaram uma correlação
positiva, rPearson=0,3190, e significativa, p=
0,0211.
Para a regressão logística simples
mortalidade foi classificada como variável
dependente, sendo comparada com as
variáveis
independentes
altura
e
circunferência Os resultados demonstraram
que em 99,7% dos casos a mortalidade foi
uma função da altura, estando os ninhos
mortos geralmente a maiores distâncias do
solo. Houve portanto, uma forte relação
entre altura do ninho mortalidade (Tabela
1). Em somente 35,7% dos casos a
mortalidade estava relacionada à altos
valores de circunferência (Tabela 2).
A mortalidade tende a ser maior em
circunferências iguais ou inferiores a 70cm,
aproximadamente 80% dos casos. Isso
provavelmente se deve a fragilidade nos
estágios iniciais da colônia.
A maioria dos ninhos desativados
apresentaram orifícios com diâmetro médio
de 10cm na porção basal. Estes podem ser
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Araújo, A.L (1970) Termites of neotropical
region. In: Krishna, K. & Weesner, F.M.
Biology
of
termites.2nd
edition.
Academic Press, New York. 527-571.
Borror, D.J.; Triplehorn, C.A.; Johnson,
N.F. (1989) An introduction to the study
of insects. 6th edition. Saunders College
Publishing, Florida. 875p.
Redford, K.H. (1984) The termitaria of
Cornitermes
cumulans
(Isoptera,
Termitidae) and their role in determining
a potential keystone species. Biotropica
16(2): 112-119.
Zar, J.H. (1999) Biostatystical analysis. 4th
edition. Prentice Hall, New Jersey. 663p.
Tabela 1. Resultados para regressão logística simples: Mortalidade vs altura.
Variáveis
Coeficiente
Mortalidade
-5,6992
Altura
0,0335
G.L.
1
P1
99,7%
Logit P1= -5,6992+0,0335x1=-5,6657; P1= 1/1+exp(-5,6657)=99,7%
88
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Tabela 2. Resultados para regressão logística simples: Mortalidade vs circunferência.
Variáveis
Coeficiente
Mortalidade
0,6149
Altura
-0,0257
G.L.
1
P1
35,7%
Logit P2= 0,6149-0,0257x1=0,5892; P2= 1/1+exp(0,5892)=35,7%
180
160
0,3063
y = 26,554x
Circunferência (cm)
140
2
r = 0,5183
120
100
0,6618
y = 2,1797x
80
2
r = 0,5869
60
Ninhos vivos
40
Ninhos mortos
20
0
0
50
100
150
200
250
Altura (cm)
Figura 1. Altura do solo e circunferência dos ninhos de Constrictotermes cyphergaster em
uma área de cerrado sensu strictu no PESCAN. Ninhos mortos estão mais distantes do solo e
apresentam menor circunferência.
89
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I1.2 HERBIVORIA FOLIAR EM Siparuna guianensis (MONIMIACEAE),
PARQUE ESTADUAL DE CALDAS NOVAS, GOIÁS
Claudio Muniz & Sérgio Lopes
INTRODUÇÃO
O efeito da herbivoria é um aspecto
importante na vida de uma planta e depende
da área foliar removida pelos herbívoros e
do estágio de desenvolvimento em que a
planta se encontra (BEGON et al., 1996). A
herbivoria é uma interação animal-planta
que pode diminuir a performance das
plantas atacadas pela remoção de área
fotossintetizante.
O conhecimento dessa interação pode ter
uma importante aplicação na determinação
da comunidade (RAVEN, 1999), uma vez
que vários fatores como a heterogeinidade
espacial e a complexidade do habitat podem
estar relacionados com a riqueza das
espécies de uma comunidade (BEGON et
al,1996). Assim, a heterogeneidade
espacial, indicada por fatores edáficos e
pela luminosidade, pode afetar a
comunidade de herbívoros.
Neste trabalho, avaliamos se a
heterogeneidade ambiental de uma mata
influencia nas taxas de herbivoria foliar de
Siparuna guianensis.
aleatória. No laboratório, as folhas
herbivoradas referentes a cada região foram
selecionadas e, em seguida, 30 delas
sorteadas para as análises. Foram
consideradas herbivoradas, as folhas que
apresentavam partes removidas, sem incluir
minadores, galhas, fungos etc.
Para a comparação de AF bruta e
AH (Tabela 1) foi utilizado o teste
estatístico Kruskal-Wallis. Na comparação
das medidas de área foliar obtida pelos dois
métodos de medidas (Programa Autocad v.
14 e Area Meter mod. CID 205), foi
aplicado o Teste “t” de variâncias
heterogêneas (Prophet v. 5).
Para a obtenção da área herbivorada
foram utilizados dois diferentes métodos:
medidor de área foliar (area meter) e
programa autocad. Para comparar a
precisão desses métodos, 15 folhas foram
submetidas à medição da área foliar usando
ambas metodologias. Os parâmetros
medidos nas folhas estão descritos na
Tabela 1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não foi detectada diferença
estatisticamente significante na comparação
das medidas de áreas foliares obtidas por
meio dos dois métodos.
Os percentuais de AH foram
semelhantes para os indivíduos localizados
no meio da mata e nas proximidades do
curso d’água. Os indivíduos da borda
apresentaram os maiores percentuais de AH
(Tabela 2), e os maiores valores médios de
AF bruta e Herbivoria (Figs. 1 e 2), em
comparação com os demais. Tais resultados
indicam que os indivíduos da borda podem
estar investindo mais em crescimento
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas,
localizado entre os municípios de Rio
Quente e Caldas Novas, Goiás.
Siparuna guianensis (Monimiaceae)
é uma espécie arbustiva que apresenta
ampla distribuição no sub-bosque de uma
mata do Parque. Para a realização do estudo
de herbivoria foliar dessa espécie,
inicialmente foram delimitadas três regiões
no interior da mata (curso d’água, meio e
borda), distantes 200 m entre si. Em cada
região, foram recolhidas aproximadamente
100 folhas de cinco indivíduos, de maneira
90
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
devido à maior disponibilidade de luz nesta
região, em comparação com os demais.
Em geral, espécies que crescem em
ambientes ensolarados apresentam maior
herbivoria do que espécies que crescem em
ambientes sombreados. Além disso, suas
folhas podem apresentar um maior
conteúdo de água e baixas concetrações de
metabólitos secundários. Isso torna o tecido
mais palatável para os herbívoros e a taxa
de troca foliar pode ser grande neste
ambiente (DEL AMO, 1985; BARONE &
COLEY, 2002).
Plantas expostas a um maior regime
de luz possuem taxas mais rápidas de
crescimento e devem investir menos em
defesas químicas. Além disso, as folhas
devem ser de melhor qualidade nutricional
para herbívoros, e, em conseqüência,
apresentam grandes níveis de herbivoria.
Por outro lado, indivíduos expostos a um
regime de pouca luz teriam taxas
fotossintéticas mais reduzidas e poderiam
investir mais em defesas físicas e químicas,
com conseqüente redução nas taxas de
crescimento e herbivoria.
BARONE, J. A. & COLEY, P. D. 2002.
Herbivorismo y las defensas de las
plantas. In: Guanigata, M. R. & Kattan,
G. H. Ecología y Consevación de
Bosques Neotropicales. Cartago, Costa
Rica. pp. 465-492.
BEGON,
M.,
HARPER,
J.
L.,
TOWNSEND, C. R. 1990. Ecology:
individuals,
populations
and
communities.
2a.
ed.
Blackwell
Scientific Publication, Massashussets,
USA.
DEL AMO, R. S. 1985. Algunos aspectos
de la influencía de la luz sobre el
crescimento de estados juveniles de
especies primarias. pp. 79-91. In:
GOMES-POMPA, A. & DEL AMO, R.
S.
Investigaciones
sobre
a
la
regeneración de selvas altas em Vera
Cruz, Mexico. Instituto Nacional de
Investigaciones sobre recursos bioticos:
Xalapa, Vera Cruz, Mexico. 412p.
RAVEN, E. E. 1999. Biology of Plants. 6a
ed. Freeman Worth. Ecology. p. 783785.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
91
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Tabela 1 – Parâmetros para medição de área.
Área foliar bruta (AF bruta)
Área foliar total desconsiderando a área herbivorada.
Área foliar líquida (AF líquida)
Área foliar restante após herbivoria
Área herbivorada (AH)
Área foliar retirada por herbivoria
Tabela 2 - Medidas foliares e herbivoria nas três regiões da mata.
Região
curso
meio
borda
AF bruta (cm2)
1600
1955
2479
AF líquida (cm2)
1449,5
1770,2
2202,8
AH (%)
9,4
9,5
11,2
92
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Área Foliar bruta
120
100
a
cm2
80
b
60
c
40
20
0
curso
meio
borda
Figura 1- Área foliar bruta média nas três regiões em uma mata, Parque Estadual da
Serra de Caldas, Goiás.
Herbivoria
12.0
8.0
%
4.0
0.0
curso
meio
borda
Figura 2- Herbivoria média encontrada nas três regiões da mata, Parque Estadual da
Serra de Caldas, Goiás.
93
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 1.3 EFEITO DA QUEIMADA NA ATIVIDADE, NO TEMPO DE
RECRUTAMENTO E NA DENSIDADE DE NINHOS DE FORMIGAS
EM UMA ÁREA DE CERRADO.
Flávio Rodrigues Oliveira & Marcela Yamamoto
Orientador: Heraldo Vasconcelos
INTRODUÇÃO
A ocorrência de fogo, por causa natural ou
antrópica, é comum durante a seca no
cerrado, sendo apontado como importante
agente modificador e mantenedor de
comunidades vegetais (Coutinho, 1990
apud Santos, 1999). A ação do fogo sobre o
solo depende da sua intensidade, da
natureza da vegetação, do aumento da
temperatura, da freqüência de queimadas e
da duração do pulso de calor.
As espécies de formigas que ocorrem
no subsolo e as que forrageiam na
superfície do solo utilizam como estratégia
predominante para escapar do fogo nas
queimadas, a localização das colônias
(Naves, 1996). Formigas são insetos sociais
filopátricos, que respondem rapidamente a
mudanças ocorrendo em escalas espaciais
pequenas.
São
um
grupo
muito
representativo em termos de biomassa e
número de espécies, tendo um papel
fundamental na estrutura e na função de
ecossistemas diversos e complexos
(Vasconcelos et al., 2001).
O presente estudo teve como objetivo
comparar a atividade, diversidade, tempo de
recrutamento e densidade de ninhos de
formigas em uma área de cerrado sentido
restrito, recém queimada e outra não
queimada.
experimento foi realizado no período
matutino (08:00 hs – 11:00 hs) do dia 20 de
setembro de 2002. A área queimada
apresentava solo exposto com rebrotamento
de gramíneas. Na área não queimada, além
de vegetação arbustiva de cerrado, havia
predomínio de gramíneas. Em ambas a as
áreas observamos afloramentos rochosos.
Em cada ambiente estabelecemos
quatro transectos de 60 metros, distantes 10
metros da trilha, com seis iscas alternadas
de sardinha, torrone e bolacha maisena em
cada um. As iscas foram colocadas sobre
pedaços de papel de área conhecida (73,5
cm2), dispostas ao longo dos transectos com
espaçamento de cinco metros um do outro.
Após a colocação de todas as iscas,
iniciamos a observação da atividade das
formigas às 08:00hs, quantificando e
qualificando, as espécies presentes.
Tomamos como ponto de partida, o tempo
médio entre a descoberta e o agrupamento
de formigas sobre as iscas, como medidas
para o tempo de recrutamento. A atividade
foi medida pela densidade de formigas em
cada pedaço e a densidade dos ninhos foi
estimada pela descoberta dos mesmos após
a formação da trilha e acompanhamento das
formigas até a entrada do ninho.
Para análise estatística dos dados
utilizamos os testes Kruskal-Wallis e
Mann-Whitney,
do
pacote
de
processamento PROPHET 5.0 (BBN
SYSTEMS AND TECHNOLOGIES).
MATERIAL E MÉTODOS
Conduzimos o estudo em duas áreas,
uma queimada e outra não queimada, de
cerrado, localizadas no Parque Estadual
Serra de Caldas Novas, PESCAN, GO. O
RESULTADOS E DISCUSSÃO
94
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Foram encontras cinco espécies de
formigas em ambas as áreas, contudo,
Paratrechina sp foi somente observada na
área não queimada (Tabela 2). O gênero
Camponotus foi o mais abundante e ocorreu
primeiramente nas iscas em ambas as área.
Crematogaster sp foi a segunda mais
encontrada na área não queimada e
Pseudomyrmex na área queimada.
A atividade das formigas, a densidade
dos ninhos e o tempo de recrutamento não
diferiu entre as áreas queimada e não
queimada (Tabela 1). Houve uma tendência
de maior diligência na área não queimada,
provavelmente devido a redução de
recursos na área queimada. A densidade dos
ninhos, embora sem diferença entre as
áreas, mostra que formigas não abandonam
seus ninhos após a passagem do fogo.
Em relação ao tempo médio de
recrutamento, obteve-se um maior valor na
área queimada, o que pode ser explicado
pela redução drástica de recursos, uma vez
que formigas tenham que forragear uma
área maior para suprir as necessidades da
colônia.
Também
foi
observado
comportamento agonístico nesta área, que
reflete na competição do recurso escasso.
Observamos que das três iscas
oferecidas, sardinha foi a que teve maior
número de indivíduos, talvez por que este
recurso alimentar tenha sido o único
constituído de proteína, ainda que não
houvesse diferença entre as iscas. Também
observamos que Crematogaster sp teve
uma maior atratividade em iscas
constituídas de bolacha, sendo as únicas
espécies a constituírem trilhas verdadeiras.
Os resultados aqui apresentados
indicam que o fogo na região de cerrado
não causa elevados danos na comunidade
de formigas que nidificam no solo ou em
troncos suberosos e de maior diâmetro. Tais
resultados complementam o que estudos
anteriores, (observações pessoais do curso
de campo) nas comunidades de formigas,
não apresentam diferenças em áreas
queimadas e não queimadas.
Agradecemos aos Professores Glein
M. de Araujo e John Hay pelas idéias e
esclarecimento a cerca deste estudo e, em
especial ao Professor Dr. Heraldo
Vasconcelos pela orientação, identificação
e discussão do relatório final. A Cláudio F.
Muniz pela ajuda essencial na análise
estatística.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTINHO, L. M. 1990. Fire in the
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Miranda Abobral, Mato Grosso do Sul.
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127 – 129.
NAVES, M. F. 1996. Efeito do fogo na
população de formigas (Hymenoptera –
Formicidae) em cerrado do Distrito
Federal. Anais do Simpósio Impacto
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em Mudanças Globais. 3° Congresso
de Ecologia do Brasil, Brasilia. Apud
RAMOS, L., HASS, A., PULCHÉRIOLEITE, A. et al. 1999. Comparação da
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do Miranda-Abobral. Ecologia de
Campo – Pantanal, p. 08 – 10.
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Levantamento
florístico
e
fitossociológico em duas áreas de
cerrado sensu stricto no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas,
Goiás. Acta Bot. Bras. v. 16, n. 1, p.
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VASCONCELOS, H. L., CARVALHO, K.
S., DELABIE, J. H. C. 2001.
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communities. pp. 199 – 207. In:
BIERREGAARD, R. O., GASCON,
AGRADECIMENTOS
95
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
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Lessons from Amazonia. The ecology
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forest. Yale university Press, New
Haven & London. 478 p. apud
VENTICINQUE, E., ZUANON, J.
2002
Ecologia
da
Floresta
Amazônica – Curso de Campo. p.
100 – 102.
Tabela 1 – Dados de tempo de recrutamento, distância dos ninhos e atividades das formigas
em duas áreas de cerrado, queimado e não queimado do Parque Estadual Serra de Caldas
Novas, GO.
TEMPO DE RECRUTAMENTO
PARÂMETROS
N
MÉDIA
Q
NQ
11
12
23,36 ± 24,61
9,36 ± 11,75
DISTÂNCIA DOS NINHOS
N
MÉDIA
Q
NQ
9
7
2,51 ± 1,70
1,83 ± 1,83
ATIVIDADE DAS FORMIGAS
N
MÉDIA
Q
NQ
12
12
14,75 ± 9,71
22,67 ± 24,82
Nota: As letras Q e NQ significam área queimada e área não queimada, respectivamente.
Tabela 2 – Quantidade espécies de formigas que surgiram na primeira observação.
ESPÉCIES
QUEIMADA
NÃO QUEIMADA
Camponotus sp 1
08
07
Camponotus sp 2
01
02
Pseudomyrmex sp
01
01
Crematogaster sp
01
01
Paratrechina sp

01
A notação () indica que espécie em questão não foi observada na área.
96
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 1.4 PREDAÇÃO DE FRUTOS DE JATOBÁ DO CERRADO,
HYMENAEA STIGONOCARPA MART. EX HAYNE (LEGUMINOSAE –
CAESALPINOIDEAE)
Hélder Nagai Consolaro & Ernestino de Souza G. Guarino
INTRODUÇÃO
Frutos e sementes, por concentrarem
nutrientes como carboidratos, proteínas,
lipídeos e minerais, são procurados por
diversos animais (Lacerda et al., 2000).
O jatobá do cerrado, Hymenaea
stigonocarpa
(Leguminosae
–
Caesalpinoideae), produz uma grande
quantidade de frutos, servindo assim, como
uma importante fonte de recursos para a
fauna local. Alguns mamíferos (Agouti
spp., Dasyprocta punctata, Oryzomis
caliginosus, Tapirus terrestris) comem a
polpa do fruto de jatobá (Carvalho, 1994;
Janzen, 1983 apud Lopes, 1997) podendo
dispersar as sementes para longe da plantamãe, onde elas são capazes de germinar
(Kageyama et al. 1994 apud Lopes, 1997).
Entretanto,
existem
alguns
insetos,
principalmente besouros e formigas, que
são capazes de aproveitar efetivamente os
frutos dessa espécie e predar as sementes,
tornado-as inviáveis (Lopes, 1997).
Segundo Fenner (1983), a linha
divisória entre dispersores e predadores
nem sempre é clara, porque muitos animais
exercem ambos papéis. Existem dois tipos
de predadores-dispersores: (a) aqueles que
comem os frutos com as sementes e
algumas sobrevivem a passagem pelo trato
disgestório; (b) e aqueles que armazenam as
sementes no solo, e uma proporção destas
não é reencontrada (Lacerda et al., 2000).
Neste trabalho, o objetivo foi
verificar a predação de frutos de jatobá para
identificar os possíveis predadores e para
averiguar se existe diferença na taxa de
predação a medida que aumenta a distância
da planta mãe.
MATERIAL E MÉTODOS
Os frutos foram coletados no dia 19
de setembro de 2000, sob 3 indivíduos
adultos de Hymenaea stigonocarpa (jatobá
do
cerrado,
Leguminosae
–
Caesalpinoideae) localizados em uma área
de cerrado s. s próximo a sede do PESCAN.
Todos os frutos de jatobá encontrados sobre
o solo foram coletados. Para estabelecer
uma escala de distância do fruto em relação
a planta-mãe, foi adicionado a redor do
indivíduo anéis de dois em dois metros
somando um raio de dez metros. A medida
que eram coletados, os frutos eram
marcados a que anel pertenciam e em
laboratório foram indicados os possíveis
predadores através de características
presentes nos frutos. Para identificar os
possíveis predadores foram atribuídas as
seguintes características (a) frutos predados
somente por insetos – frutos com pequenas
perfurações na casca; (b) frutos predados
apenas por mamíferos – frutos com
perfurações amplas com sinais aparentes de
dentes e garras; (c) frutos predados por
insetos e mamíferos – frutos com sinais de
ambos os tipos e (d) frutos intactos – frutos
sem sinais de predação.
Para realizar análise de dados, os
frutos coletados sob os três indivíduos
foram agrupados, sendo os dados
analisados por meio do software Bioestat
2.0 (Ayres et al. 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados 215 frutos de
jatobá, ocorrendo predação em 56% destes.
Dentre os predados, o tipo mais comum foi
o de insetos - com 67 (55%), seguido por
mamíferos - com 26 (21 %) e insetos e
97
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
mamíferos - com 28 (23%). Quando
comparados os frutos predados, os por
insetos foram significativamente maiores
que os demais (χ2=26,496; p=0.00 – Fig.2).
Possivelmente, a maior predação por
insetos em frutos de jatobá é atribuída ao
fato destes insetos utilizarem o próprio
fruto como local de nidificação, assim
tendo uma maior concentração próximo a
planta-mãe.
A medida que aumentou a distância
da planta-mãe a taxa de predação variou.
Quanto mais próxima da planta-mãe, maior
a taxa de predação; nos dois anéis mais
próximas (0-2m e 2-4m) a taxa representou
62,74%. Na área mais distante da planta (810m) ocorreu uma inversão na taxa, ou seja,
o número de frutos intactos foi maior que o
número de frutos predados (Fig. 1). Estes
dados vem de encontro a hipótese sugerida
por Janzen-Connell, a qual diz que a
probabilidade de sobrevivência de sementes
e plântulas é maior a medida que estes
localizam-se mais distantes do adulto mais
próximo (Begon et al. 1990).
Nos
frutos
predados
foram
encontrados duas espécies de formigas
(Camponotus sp. com larvas, ovos e várias
castas – Formicidae, Formicinea e uma
espécie indeterminada), uma espécie
Coleoptera (Curculionidae) e uma espécie
de Arachinidae. Dados também encontrados
por Lopes (1997) estudando predação em
frutos de jatobá da mata (H. courbaril).
A predação é um tipo de interação
que pode influenciar a organização de uma
comunidade,
podendo
restringir
a
distribuição e a abundância de uma
população, sendo uma importante força
seletiva. Isso pode estar acontecendo com
esta espécie, já que durante a coleta dos
frutos não foram observadas plântulas, da
mesma espécie, próximas aos indivíduos
adultos.
AGRADECIMENTOS
A Marcela e Caio pela identificação
dos invertebrados presentes nos frutos, aos
professores John Hay e Paulo Eugênio de
Oliveira pelas preciosas sugestões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEGON,
M.;HARPER,
J.
L.,
TOWNSEND, C. R., 1990. Ecology –
individuals,
populations
and
communites. Blackwell Science 2° Ed.
995p.
LACERDA, A. C. R.; SILVEIRA, A. B.;
ILHA, I. M. N.; NETTO, R. R., 2000.
Predação de sementes de Attalea
phalerata (Palmae) em coridilheiras no
Pantanal da Nhecolândia. Ecologia do
Pantanal – Curo de Campo 2000. 9395p.
LOPES, F. P. P., 1997. Predação de frutos
de
jatobá,
Hymenae
courbaril
variedade stilbocarpa (Raynie) Lee &
Lang.
(Leguminosae
–
Caesalpinoidae),
em
fase
prédispersão por uma espécies de
Curculionidae (Coleoptera). Curso de
Campo em Ecologia – Trabalhos
individuais, UnB. 14-17p.
98
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
50
45
Número de frutos
40
35
30
25
20
Intactas
15
Predação Total
10
5
0
0-2m
2-4m
4-6m
6-8m
8-10m
Distância da planta mãe
Figura 1. Número de frutos de jatobá do cerrado predados e intactos em relação a distância da
árvore, no cerrado próximo a trilha da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN).
30
Pred. Insetos
Número de frutos predados
25
Pred. Mamíferos
20
15
Pred. Mamíferos e
Insetos
10
5
0
0-2m
2-4m
4-6m
6-8m
8-10m
Distância do tronco
Figura 2. Número de frutos predados e os seus respectivos predadores, em relação a distância
da árvore mãe, no cerrado próximo a trilha da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas
Novas (PESCAN).
99
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 1.5 FAUNA DE INVERTEBRADOS ASSOCIADA A
SERRAPILHEIRA: COMPARAÇÃO ENTRE UMA MATA DE DOSSEL
E UMA CLAREIRA
Jania Cabrelli Salles & Marcelle S. C. Rodrigues.
Orientador: Prof. John Hay
utilizada na coleta de dados apresenta
sobreposição entre mata seca e mata de
galeria.
Foram demarcadas 10 parcelas de
0,5 x 0,5 m ao longo de dois transectos de
5m, sorteadas de forma alternada e
delimitadas por canos de PVC. Cinco delas
localizadas mais próximo ao córrego, numa
área encoberta pelo dossel, e as outras cinco
foram estabelecidas mais próximo à borda,
sob uma clareira, com distância aproximada
de 150m entre as áreas.
A
serrapilheira
foi
removida
manualmente para uma bandeja, de onde os
indivíduos foram coletados, sendo estes
posteriormente colocados em álcool 70%.
Os
indivíduos
coletados
foram
quantificados de acordo com o grupo
taxonômico a qual pertencem. Também
foram registrados dados de temperatura,
umidade e espessura da serrapilheira, com
utilização
de
termômetro
digital,
psicrômetro digital e régua. As análises
estatísticas foram realizadas utilizando-se o
Programa BioEstat 2.0 (teste KolmogorovSmirnov) e teste do Qui-quadrado.
INTRODUÇÃO
As florestas são regidas por muitos
processos, dos quais dependem para seu
funcionamento. Um desses processos é a
reciclagem de nutrientes, que está
diretamente influenciada pela fauna
associada à serrapilheira (Takiya et al.
2000). A serrapilheira consiste de folhas
caídas, ramos, caules, cascas e frutos, que
ficam depositados sobre o solo, formando
uma camada orgânica superficial, podendo
variar de poucos milímetros a vários
centímetros.
A serrapilheira mantém a umidade
por maior período de tempo e geralmente
apresenta temperatura menor que a do ar.
Isso propicia um microhábitat ideal para
várias espécies de animais, principalmente
invertebrados, como abrigo ou área de
forrageamento (Silveira et al. 2000). As
perturbações florestais, como por exemplo
a formação de clareiras, podem afetar tais
condições físicas, e assim, modificar a
composição da comunidade faunística deste
micro-ambiente.
Este estudo teve como objetivo
comparar a fauna de invertebrados
associados a serrapilheira entre dois
ambientes de mata do domínio do Cerrado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados 14 grupos
taxonômicos na serrapilheira da área
coberta e 10 grupos na área de clareira, num
total de 242 indivíduos. A Classe Insecta
foi a mais representativa na amostragem,
sendo que a Ordem Hymenoptera
apresentou maior incidência na serrapilheira
na área coberta e a Ordem Araneida, na
serrapilheira de clareira (Tabela 1). De
acordo com Takiya et al. 2000, dentro de
uma comunidade de serrapilheira, as
METODOLOGIA
Este estudo foi realizado no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN), localizada entre os municípios
de Caldas Novas e Rio Quente, no estado
de Goiás, com uma área de cerca de 125
km2, caracterizada por apresentar várias
formas da vegetação de Cerrado. A área
100
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
formigas, que formam a maior biomassa,
são bons indicadores do estado do
ecossistema, refletindo rapidamente os
distúrbios sofridos pelo hábitat. Assim, os
resultados obtidos nesse estudo confirmam
esta afirmativa.
Com relação à abundância de
indivíduos nos taxa, foi observado que
houve diferença significativa entre os
ambientes de estudo (teste KolmogorovSmirnov: desvio máximo = 0,3460; valor
crítico = 0,1847; P<0,01). Pode-se inferir
que a colonização de um organismo em um
determinado substrato depende das
interações com o meio abiótico, dentre
outros fatores ( Gonzaga et al. 1998), mas
nesse estudo, a diferença entre os fatores
físicos dos dois locais não foi significativa
(χ2 = 5,121, p = 0,0773), (Tabela 2).
Dessa
forma,
outros
fatores
possivelmente influenciaram os resultados
obtidos, tais como a pequena amostra e o
pequeno esforço amostral.
GONZAGA, M.O., COSTA, C.P.A.,
GOMES-FILHO, A. & OLIVEIRAFILHO, F.J.B. 1998. Seleção de hábitats
por aranhas e diplópodos numa várzea
do Rio Solimões, AM, durante o período
da cheia. Curso de campo: Ecologia da
Floresta Amazônica. INPA. p. 85 – 86.
SILVEIRA, A.B., ALMEIDA, M.T.,
MEDRI, I.M. & CORRÊA, M.M. 2000.
Invertebrados de serrapilheira numa
cordilheira, Pantanal de Nhecolândia.
Curso de campo: Ecologia do
Pantanal.UFMS. p. 60 – 61.
TAKIYA, D.M., PÉREZ, M.E., CAMPÓN,
F., GEORGEOGLOU-LAXALDE, M.U.
& PEQUEÑO, T. 2000. Comparación de
los parametros físicos y fauna de
invertebrados asociada de la hojarasca en
una área preservada y outra manejada.
Curso de campo: Ecologia da Floresta
Amazônica. INPA. p. 30 – 32.
BIBLIOGRAFIA
101
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Tabela 1. Grupos taxonômicos de fauna de serrapilheira encontrados nos dois ambientes.
Taxa
Indivíduos
Coberta
Clareira
Hymenoptera
65
20
Isoptera
27
2
Coleoptera
16
6
Mantodea (ninfa)
2
0
Diptera (ninfa)
1
9
Lepdoptera (lagarta)
3
2
Blattodea
15
8
Hemiptera
3
6
Homoptera
0
1
Psicoptera
4
0
Araneida
15
27
Acarina
6
1
Opilionida
1
0
Pseudoescorpilionida
1
0
Chilopoda
1
0
159
83
Total
Tabela 2. Médias das variáveis abióticas das áreas estudadas.
Área coberta
Área de clareira
Temperatura (ºC)
24,3
30,2
Umidade (%)
61,8
36,2
Espessura da serrapilheira (cm)
3,0
3,5
102
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 1.6 Evapotranspiração de Caryocar brasiliense e Xylopia aromatica em
dois ambientes distintos de cerrado s.s.
Patricia Rodin & Otacílio Santana
INTRODUÇÃO
A evapotranspiração ( ε ) é definida
como a perda de água da vegetação para a
atmosfera Ela determinada pela radiação
luminosa, velocidade do vento e
temperatura (Begon et al. 1990).
Nos últimos anos, a idéia de que a
vegetação lenhosa do cerrado sofre com a
falta de água durante a estação seca foi
derrubada. Diversos estudos têm mostrado
que muitas das espécies lenhosas possuem
raízes profundas tendo acesso a um
suprimento permanente de água no solo, o
que as permite manter elevadas taxas de
transpiração durante todo o ano.
Os
primeiros
estudos
de
transpiração das árvores de cerrado
mostraram que a maioria das espécies
raramente controla a perda de água, mesmo
durante o pico da estação seca (Coutinho &
Ferri, 1960). No entanto, estudos mais
recentes mostraram que algumas espécies
controlam a perda de água na estação seca.
Além
da
variação
sazonal,
a
evapotranspiração de uma espécie deve
sofrer variação temporal ao longo de um
dia, uma vez que as varáveis abióticas que a
determinam variam ao longo deste intervalo
de tempo. Ela também deve apresentar
variação espacial, onde a última é
dependente do microclima local que a
espécie se encontra.
O objetivo do nosso trabalho foi: i)
determinar a ε de duas espécies típicas do
cerrado, a Caryocar brasiliense e a Xylopia
aromatica no fim da estação seca; ii)
determinar e comparar a ε das duas
espécies, ao longo do dia; iii) comparar a ε
de cada espécie em duas áreas submetidas a
condições ambientais distintas, uma exposta
a radiação solar direta e outra sombreada.
Hipóteses:
i)
As
espécies
apresentarão variação na evapotranspiração,
ao longo do dia, sendo esta maior nas horas
de maior radiação solar; ii) As espécies
apresentarão curvas de evapotranspiração
distintas, pois elas apresentam diferentes
características
foliares;
iii)
a
evapotranspiração será maior nas áreas de
maior radiação solar que nas áreas
sombreadas.
METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas,
Go, no dia 20 de setembro de 2002, na
transição da estação seca para a chuvosa. O
dia foi claro e ensolarado. O trabalho foi
realizado no cerrado sensu stricto, em dois
ambientes distintos, um com incidência
direta de luminosidade e o outro
sombreado.
Foram
escolhidos
dois
indivíduos de Caryocar brasiliense e de
Xylopia aromatica em cada um dos
ambientes estudados. A mediação da
evaporanspiração de cada indivíduo foi
realizada em três ramos posicionados em
diferentes alturas e posição em relação à
incidência da radiação solar.
A evapotranspiração das folhas foi
medida utilizando sacos plásticos. Esta
metodologia consiste em ensacar os galhos
das árvores e após duas horas verificar a
quantidade de água perdida através da
diferença do peso destes sacos, antes e após
duas horas de experimento. O peso foi
obtido utilizando a balança de precisão
OHAUS, com duas casas decimais. As
medidas foram tomadas no intervalo de
tempo de 6:00 às 18:00hs, a cada duas
horas. Os galhos amostrados foram os
mesmos ao longo de todo o experimento.
103
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Paralelamente, foi determinada a
área foliar média de cada indivíduo. Para
tal, foram coletadas cinco folhas de cada
indivíduo e determinadas sua área através
do aparelho laser de área foliar (CID 205),
e foi contado o número de folhas presente
em todos os ramos amostrados. A partir
destes dados podemos estimar a
evapotranspiração / área de cada indivíduo
em cada intervalo de tempo.
evapotranspiração nas horas de pico de
radiação, ente 12:00 e 14:00 hs. Além disto,
a curva de evapotranspiração das duas
espécies foi maior na área aberta que na
fechada, o que é explicado pela maior
exposição das folhas à radiação luminosa e
ao vento na primeira.
Ao comparar a ε das duas espécies
em cada tipo de ambiente, a Xylopia
aromatica apresentou uma curva maior que
a C. brasiliense. Este resultado pode ser
devido à presença de sistemas radiculares
de distintas profundidades, permitindo um
acesso diferencial das espécies a água do
solo, neste caso, a X. aromatica deve ter um
sistema radicular mais profundo que C.
brasiliense. Além disto, este resultado
também pode estar relacionado às
características foliares, como a pilosidade,
que é maior em C. brasiliense. A presença
de pêlos atua como uma característica
eficiente na diminuição da perda de água
para o ambiente, por diminuir a incidência
da radiação solar na superfície das folhas e
diminuir a velocidade de perda de vapor
d’água da folha para a atmosfera.
Apesar de não termos tido acesso a
valores de evapotranspiração da estação
chuvosa destas ou de outras espécies do
cerrado,
podemos
inferir
que
a
evapotranspiração das espécies estudadas é
elevada durante a transição da estação seca
para a chuvosa, o que indica que a água não
é um fator limitante importante para as
espécies arbóreas estudadas do Cerrado.
RESULTADOS
A comparação de evapotranspiração
de Caryocar brasiliense entre a área aberta
e fechada mostrou que na primeira a ε é
maior ao longo de todo o dia (Figura 01), o
mesmo foi encontrado para a Xylopia
aromatica (Figura 02). Para as duas
espécies estudadas, a amplitude de variação
da evapotranspiração ao longo do dia foi
maior na área aberta que na fechada.
Quanto à comparação entre a
evapotranspiração das duas espécies no
mesmo tipo de ambiente, a Xylopia
aromatica apresentou, na área fechada, uma
ε maior que a C. brasiliense entre 12:00 e
14:00 (Figura 03), e no restante das horas
elas foram semelhantes. Enquanto, na área
aberta, X. aromatica apresentou uma ε
maior do início do dia, 8:00 hs, até às 14:00
hs (Figura 04).
DISCUSSÃO
Os dados encontrados corroboram
as nossas hipóteses. As espécies
apresentaram variação na evapotranspiração
ao longo do dia, sendo esta maior nas horas
de maior radiação solar, entre 12:00 e
14:00. No entanto, as duas espécies
apresentaram uma maior amplitude de
variação da evapotranspiração na área
aberta que na área fechada. Este resultado
pode ser explicado pelo fato da área aberta
estar exposta diretamente a radiação solar,
portanto as folhas deste ambiente
respondem diretamente ao aumento da
radiação. Já na área fechada, as folhas estão
sombreadas sentindo de forma mais sutil o
aumento da radiação, o que é respondido
com
um
pequeno
aumento
da
BIBLIOGRAFIA
Begon, M., Harper, J. L., Townsend, C. R.
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cerrado em Campo Mourão (Estado do
Paraná). Boletim da Faculdade de
104
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Filosofia e Letras, Universidade de São
Paulo, Botânica 17: 109-130.
Caryocar brasiliense
Aberto
2
Evapotranspiração (g/cm )
0.006
Fechado
0.005
0.004
0.003
0.002
0.001
0
08:00
10:00
12:00
14:00
16:00
18:00
Horas
Figura 1. Evapotranspiração de C.brasiliense em área aberta e fechada de cerrado s.ss. no
Parque Estadual de Serra de Caldas Novas, Go.
2
Evapotranspiração (g/cm )
Xylopia aromatica
Aberto
0.014
0.012
0.01
0.008
0.006
0.004
0.002
0
08:00
Fechado
10:00
12:00
14:00
16:00
18:00
Horas
Figura 2: Evapotranspiração de X. aromatica em área aberta e fechada de cerrado s.s. no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go.
105
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Ambiente fechado
Evapotrasnpiração (g/cm2)
Caryocar
brasiliense
0.0035
Xylopia aromatica
0.003
0.0025
0.002
0.0015
0.001
0.0005
0
08:00
10:00
12:00
14:00
16:00
18:00
Horas
Figura 3: Evapotranspiração de C. brasiliense e X. aromatica em ambiente fechado de cerrado
s.s. no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go
Evapotrasnpiração (g/cm2)
Ambiente aberto
0.014
Caryocar
brasiliense
Xylopia aromatica
0.012
0.01
0.008
0.006
0.004
0.002
0
08:00
10:00
12:00
14:00
16:00
18:00
Horas
Figura 4: Evapotranspiração de C. brasiliense e X. aromatica em ambiente aberto de cerrado
s.s. no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go
106
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 1.7 COMPARAÇÃO DA INFESTAÇÃO DE LORANTHACEAE
ENTRE ESPÉCIES ZOOCÓRICAS E ANEMOCÓRICAS EM ÁREAS
DE CERRADO
Rafael Arruda, Claudia C. F. Toledo & Glein Araujo
INTRODUÇÃO
As
espécies
da
família
Loranthaceae, conhecidas como ervas-depassarinho, são em maioria hemiparasitas
que ocorrem em ambientes tropicais
(Venturelli 1981, Abulfatih & Emara 1988).
Elas possuem frutos carnosos que atraem
pássaros, onde uma substância pegajosa o
adere ao bico do animal, que ao tentar
removê-lo, permite a aderência da semente
na planta.
Quando as sementes se aderem nos
ramos das plantas hospedeiras, elas emitem
haustórios que se inserem no seu xilema, de
onde retiram água e sais minerais para seu
processo de fotossíntese. Por isto são
consideradas hemiparasitas, pois retiram
apenas uma parte do que a planta
hospedeira absorve.
Pelo fato da família possuir como
modo principal de dispersão a ornitocoria,
esperamos que hospedeiros com o mesmo
tipo de dispersão sejam mais infectados por
espécies de Loranthaceae.
Para tentar corroborar esta hipótese,
o objetivo deste trabalho foi quantificar a
presença de Loranthaceae em plantas com
modos de dispersão distintos.
inclusão, foram registrados indivíduos com
altura igual ou superior à 2 m, sendo a
altura estimada com o auxilio de uma vara
graduada. As plantas foram identificadas no
campo e posteriormente classificadas
quanto ao tipo de dispersão de sementes.
Anotou-se a presença ou ausência e o
número de hemiparasitas em cada planta.
Para analise estatística foi utilizado o teste
do Qui-Quadrado (Biostat – Programa para
computador).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram registradas 23 espécies
distribuídas em 21 gêneros, sendo
Kielmeyera coriacea, Pouteria torta e
Pouteria ramiflora as espécies mais
infestadas (Tabela 1). A comparação dos
números de plantas com e sem parasitas
com tipo de dispersão zoocórica com as de
dispersão anemocórica, não foi significativa
(X2 = 1.256; p=0,2623; GL = 1). Isto indica
que as plantas que possuem o tipo de
dispersão zoocórico não necessariamente
são mais infestadas por Loranthaceae, e isso
pode sugerir que elas estejam usando outras
espécies, não as que estão sendo utilizadas
para forrageamento, como poleiro.
Os
parasitas
podem
causar
profundas alterações em seus hospedeiros
(Ricklefs 1990), plantas hospedeiras podem
responder ao ataque de parasitas, isolando
tecidos
ou
produzindo
compostos
secundários (Crawley 1986), e isto pode
explicar a falta de relação entre a presença
de Loranthaceae e a ocorrência de espécies
zoocóricas.
MATERIAIS E MÉTODOS
O local de estudo foi uma área de
cerrado (sentido restrito ) não queimado do
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
(17°46’43’’S, 48°39’32,3’’W), que possui
aproximadamente 1000 m, situado próximo
à cidade de Caldas Novas.
Foram feitos 12 transectos de 50 m
de comprimento por 4 m de largura cada,
distantes 20 m entre si, num total de 2400
m2 de área amostrada. Como critério de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
107
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
RICKLEFS, R.E. 1990. Ecology. W.H. 3rd.
Freeman and Company, New York.
VENTURELLI, M. 1981. Estudos sobre
Struthanthus vulgaris Mart.: anatomia do
fruto e semente e aspectos de
germinação,
crescimento
e
desenvolvimento. Rev. Brasil. Bot. 4:
131-147.
ABULFATIH, H.A. & EMARA, H.A.
1988. Altitudinal distribution of the
hemiparasitic
Loranthaceae
in
Southwestern Saudi Arabia, Biotropica
20: 1.
CRAWLEY, M. 1986. Plant Ecology.
Blackwell, Oxford.
108
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Tabela 1 – Número total de espécies registradas no PESCAN, seus modos de dispersão e
infestação de Loranhaceae, Caldas Novas, GO.
Espécies
Modo de dispersão
Número de indivíduos
Com parasitas
Sem parasitas
Total
Zoocórica
-
2
2
Aspidosperma tomentosum
Anemocórica
-
5
5
Byrsonima coccolobifolia
Zoocórica
-
1
1
Connarus suberosus
Zoocórica
-
1
1
Dalbergia miscolobium
Anemocórica
2
-
2
Eremanthus glomerulatus
Anemocórica
-
18
18
Erythroxylum suberosum
Zoocórica
-
1
1
Hymenaea stignocarpa
Zoocórica
3
2
5
Kielmeyera coriaceae
Anemocórica
5
8
13
Kielmeyera speciosa
Anemocórica
2
1
3
Zoocórica
-
2
2
Machaerium opacum
Anemocórica
1
-
1
Matayba guianensis
Zoocórica
-
1
1
Miconia rubiginosa
Zoocórica
-
1
1
Myrcia sp.
Zoocórica
-
1
1
Ouratea hexasperma
Zoocórica
-
5
5
Anemocórica
1
2
3
Pouteria ramiflora
Zoocórica
4
1
5
Pouteria torta
Zoocórica
5
3
8
Psidium sp.
Zoocórica
-
1
1
1
1
Annona crassiflora
Licania humilis
Piptocarpha rotundifolium
Qualea grandiflora
Anemocórica
Styrax ferrugineus
Zoocórica
1
1
2
Anemocórica
-
1
1
24
59
83
Tabebuia aurea
109
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 2.1 COMPARAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO ENTRE INSETOS
GALHADORES E MINADORES EM UMA ÁREA DE CERRADO S.S. E
UMA ÁREA DE MATA DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE
CALDAS NOVAS – GO
Claudia Cássia Flores de Toledo & Marcelle Sabrina Carneiro Rodrigues
INTRODUÇÃO
Os
parasitas
podem
causar
alterações fisiológicas e comportamentais
profundas em seus hospedeiros, e estes,
podem responder aos parasitas ao longo de
seu ciclo de vida, através de mecanismos
imunológicos e comportamentais (Ricklefs,
1990). De acordo com Crawley (1986),
plantas hospedeiras podem responder ao
ataque de parasitas, através do isolamento
dos tecidos infectados ou da produção de
compostos secundários no local parasitado.
Galhas são estruturas onde as larvas
de insetos se desenvolvem. Nestas
estruturas, seja na folha ou no caule, ocorre
hiperplasia ou hipertrofia, originando um
tipo de câncer prejudicial ao crescimento e
à reprodução da planta (Oliveira-Filho et al,
1998). Insetos minadores são indivíduos
que similarmente aos galhadores depositam
suas larvas nas folhas, e estas comem o
tecido paliçadico, formando “trilhas” ou
“túneis” na lâmina foliar (Pinto et al.,1996).
Os padrões de distribuição de galhas
de insetos indicam maior riqueza de
espécies em formações vegetais de
ambientes xéricos, onde se encontram
menores taxas de mortalidade induzida por
inimigos naturais (Oliveira-Filho et
al,1998). Em vista disso, o objetivo deste
trabalho foi comparar a presença de insetos
galhadores e minadores em uma área de
cerrado s.s. e outra de mata.
Caldas Novas (PESCAN) – GO em duas
áreas distintas. A primeira uma área de
cerrado s.s., ambiente xérico e a outra uma
área de mata, ambiente mésico.
Foram realizados 3 transectos de 50
m em cada área, com distribuição aleatória.
Em cada transecto foram observados todos
os indivíduos com mais de 1 m de altura, e
foram anotadas as presenças de galhas e
minadores na superfície da folha.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado dia 23 de
setembro, no Parque Estadual da Serra de
OLIVEIRA-FILHO, F.J. B.,CASTILHO,
C. V., TUCKER, J., GONZAGA, M. O.
& PACHECO, S. Distribuição de plantas
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O número total de indivíduos
coletados se encontra na figura 1.
Pelo teste t, foi verificado que não
houve diferença significativa entre o
número de galhas encontradas no cerrado e
na mata (p=0,068), e pelo teste de MannWhitney também foi verificado que para
minas não houve diferença significativa
(p=0,1) (Tab. 1).
Estes resultados indicam que insetos
galhadores e minadores estão presentes
tanto no ambiente xérico, quanto no
mésico, não havendo uma preferência por
este ou aquele ambiente, mesmo o ambiente
xérico
possuindo
limitações
hidronutricionais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CRAWLEY, M. 1986. Plant Ecology.
Blackwell, Oxford
110
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
infestadas por galhas ao longo do
gradiente
campina-campinarana.
Ecologia da Floresta Amazônica, 1998.
págs. 61-62.
galhadores e minadores entre hábitat.
Ecologia no Cerrado – UNB, págs 2-3.
RICKLEFS, R. E. 1996. A Economia da
Natureza. Guanabara Koogan. Rio de
Janeiro.
PINTO, F. S., MIRANDA, G. H. B. &
ANDRADE, S. M. A., 1998.
Distribuição diferencial de insetos
Tabela 1. Resultados das análises estatísticas.
AMBIENTES
GALHAS
MINAS
CERRADO
5,33 ± 1,53 (a)
0,33 ± 0,53 (A)
MATA
15,33 ± 6,81 (a)
6,33 ± 5,13 (A)
P = 0,1
P = 0,068
(a) – Comparação por Teste-t, com resultado não significativo.
Número de Indivíduos
(A) – Comparação por Mann-Whitey, com resultado não significativo.
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
C errado
M ata
G alhas
M inas
Figura 1. Número de indivíduos encontrados nos dois ambientes
111
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I2.2 INFLUÊNCIA DO PORTE ARBÓREO SOBRE O
ESTABELECIMENTO DE CUPINZEIROS (CONSTRICTOTERMES
CYPHERGASTER – ISOPTERA, TERMITIDAE)
Claudio Muniz & Helder Consolaro
INTRODUÇÃO
Os cupins são insetos da ordem
Isoptera, com 2.225 espécies representadas
em 7 famílias e 73 gêneros, sendo que,
aproximadamente 500 espécies ocorrem nas
Américas (FONTES, 1979; MILL, 1983).
Esse grupo de insetos vivem em sociedades
ou colônias altamente organizadas e
integradas, que se diferenciam em várias
morfologias ou castas, cada uma
apresentando sua própria divisão de
trabalho e diferente função biológica
(INOUE et al., 1997). Sendo, também,
considerado um importante indicador da
qualidade ambiental, tendo em vista a sua
fácil categorização em grupos funcionais e
o seu curto tempo de resposta à pertubação
antrópica.
Constrictotermes cyphergaster é
uma espécie que constrói ninhos arbóreos e
pode ser encontrada em grande número
cobrindo extensas áreas de cerrado no
Brasil, sendo especialmente abundantes em
árvores deste bioma (ARAÚJO, 1970).
Para o entendimento da dinâmica
biológica dos cupins e do ambiente, é
necessário compreender as complexas
relações ecológicas que envolvem esses
animais com o meio (WATT et al., 1997).
Neste trabalho, foram estudados
ninhos de Constrictotermes cyphergaster
em ambiente de cerrado sensu strictu,
procurando-se responder às seguintes
questões: (a) Os cupinzeiros localizam-se
com maior freqüência em algumas espécies
vegetais do que outras ? (b) O porte da
planta interfere na circunferência do
cupinzeiro e na altura em que se localiza na
mesma ?
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido em uma
área de cerrado sensu strictu, no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás,
localizado entre os municípios de Caldas
Novas e Rio Quente.
Foram analisados 30 cupinzeiros
arborícolas, sendo medidas as alturas de
cada ninho ao solo (AS) e a circunferência
(CC). Nas árvores em que tais ninhos
estavam localizados, foram medidas a altura
(AA) e a circunferência à altura do peito
(CAP) das mesmas. Nos casos em que os
ninhos se localizavam na altura padrão da
CAP (1,30 m), a medida da circunferência
da árvore era feita logo abaixo do ninho.
Para as árvores que não foram identificadas
no campo, foi coletado material botânico
das mesmas para posterior identificação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As espécies arbóreas nas quais os
cupinzeiros ocorreram com maiores
frequências foram: Bowdichia virgiloides,
Dalbergia miscolobium, Tabebuia aurea e
Annona crassiflora, verificando-se também
que tais espécies foram as que apresentaram
maiores volumes médios (Fig. 1). Isto
indica que existe certa relação entre as
espécies vegetais e seus volumes médios
com a ocorrência dos ninhos de
Constrictotermes.
Dentre os indivíduos arbóreos houve
uma espécie não identificada, devido a falta
de
características
possíveis
para
identificação (ausência de folhas, flores,
botões). Este indivíduo apresentou um alto
volume médio e baixa frequência relativa,
112
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
podendo assim, sugerir que tal indivíduo
poderia pertencer a uma das espécies de
maior frequência (Fig. 1).
Dentre as variáveis analisadas (AA,
CAP, AS e CC) observou-se moderada
correlação entre CAP e CC (R=0,46; Fig.
2), e entre AA e CC (R=0,34; Fig 3). Tais
resultados sugerem que o maior porte das
árvores favorece o maior tamanho dos
ninhos. Uma vez que as espécies vegetais
mais freqüentes apresentaram maior volume
médio, esses resultados podem ser uma
comprovação de que o aumento do porte
arbóreo interfere no maior porte do ninho.
As espécies mais freqüentes também
apresentavam o tronco rugoso, podendo ser
outro indicativo de que tal característica
possibilita a melhor fixação dos ninhos.
Foi encontrada, também, uma CAP
mínima de 25 cm das árvores com ninhos,
evidenciando que o maior porte arbóreo
favorece o aumento de tamanho dos ninhos
e o seu estabelecimento.
Entre AA e AS, CAP e AS não foi
detectada correlação significativa (Figs. 4 e
5), mostrando que a altura em que os ninhos
se encontram nas árvores independe do
porte arbóreo. Porém, foi encontrada uma
altura mínima de estabelecimento dos
ninhos nos troncos (Fig. 5), indicando,
possivelmente, que os cupinzeiros são
construídos de forma a dificultar o acesso
de predadores.
A maior incidência de cupinzeiros
em algumas espécies parece estar mais
correlacionada com o maior porte destas, e,
também, com a maior rugosidade
característica de seus troncos. O suporte
oferecido pelas árvores desse tipo parece
ser o caráter mais importante que definirá o
sucesso de sobrevivência dos ninhos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, A. L. 1970. Termites of
neotropical region. In: Krishna, K. &
Weesner, F. M. (Ed.). Biology of
Termites. New York: Academic Press,
Inc. pp. 527-571.
FONTES, L. R. 1979. Os cupins. Ciência e
Cultura. 31(9): 986-992.
INOUE, T.; TABOSA, W. A. F.;
BANDEIRA, A. G. & AMELUNG, W.
1999. Richness of termite genera in
semi-arid region (Sertão) in NE Brazil
(Isoptera). Sociobiology. 33(3): 357-365.
MILL, A. E. 1983. Generic keys to the
soldiers caste of New World Termitidae
(Isoptera:
Insecta).
Sistematic
Entomology. 8: 179-190.
WATT, A., STORK, N. E., EGGLETON,
P., SRIVASTANA, D., BOLTON, B.,
LARSEN, T. B., BRENDEL, M. J. D.
1997. Impact of forest loss and
regeneration on insect abundance and
diversity. pp. 273-286 in WATT, A. D.,
STORK, N. E. O. & HUNTER, M. D. O.
eds. Forests and insects. Chapman &
Hall, London, U. K.
113
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
35.00
18.00
16.00
30.00
14.00
25.00
12.00
FR (% ) 10.00
20.00
8.00
15.00
3
V M (m )
vo lu m e (m 3 )
fre q ü ê n cia re lativa (% )
6.00
10.00
4.00
5.00
2.00
h ia
rg
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0.00
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ph
ps
da
no
eu
de
do
nd
qu
ro
n
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ad
st
rin
ge
ns
0.00
Figura 1. Freqüência relativa (FR) e volume médio (VM) das espécies arbóreas nas
quais se encontravam os cupinzeiros, no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás.
114
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
R = 0.46
circunferência do cupinzeiro (cm)
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
circunferência da planta (cm)
Figura 2. Relação entre a circunferência das plantas e dos cupinzeiros analisados no Parque
Estadual de Caldas Novas, Goiás.
R = 0.34
circunferência docupinzeiro (cm)
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
altura da planta (cm)
Figura 3. Relação entre altura das plantas e circunferência dos cupinzeiros, no Parque
Estadual de Caldas Novas, Goiás.
115
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
R = 0.017
200
altura docupinzeiro (cm )
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
circunferência da planta (cm )
Figura 4. Relação entre circunferência das plantas e dos cupinzeiros, no Parque Estadual de
Caldas Novas, Goiás.
R= 0.088
altura docupinzeiro (cm )
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
altura da planta (cm )
Figura 5. Relação entre altura das plantas e dos cupinzeiros, no Parque Estadual de Caldas
Novas, Goiás.
116
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 2.3 AZTECA E CECROPIA PACHYSTACHYA: UMA RELAÇÃO
POLÊMICA?
Ernestino de Souza G. Guarino & Caio Rebula
INTRODUÇÃO
A presença de uma colônia de
formigas em uma planta e o patrulhamento
das folhas e ramos em busca de presas pode
diminuir
o
efeito
da
herbívora,
caracterizando uma associação mutualística
entre planta e formiga (Hölldobler &
Wilson, 1990).
O gênero Cecropia (Cecropiaceae) é
composto por 70 a 80 espécies, todos eles
com distribuição neotropical. Geralmente
os indivíduos arbóreos desse gênero
possuem crescimento rápido, sendo
tipicamente encontrados em ambientes
perturbados. A interação entre as espécies
desse gênero e formigas do gênero Azteca
(Hymenoptera, Formicidae) é bastante
relatado na literatura (Joly, 1976). Essas
formigas
utilizam
os
corpúsculos
müllerianos, localizados na base dos
pecíolos, como fonte de lipídeos e
glicogênio (Rickson, 1971 apud Silva et al.
2000). Existem fortes evidências de que
essas formigas sejam defensoras efetivas
dessas plantas (Santos 2000)
A espécie estudada, Cecreopia
pachystachya é conhecida popularmente
como
embaúba,
sendo
comumente
encontrada no Cerrado em áreas
perturbadas.
Os objetivos do presente estudo
foram (i) testar a proteção oferecida por
formigas do gênero Azteca a herbívora de
folhas de Cecropia pachystachya e (ii)
verificar a relação entre o estagio de
desenvolvimento dos indivíduos de
embaúba e o tamanho das colônias de
Azteca.
Desenvolvemos o presente estudo
em uma área de cerrado sensu stricto
localizado no Parque Estadual Serra de
Caldas. Coletamos folhas e ramos de 11
indivíduos
arbóreos
de
Cecropia
pachystachya, nos quais avaliamos a
herbívora em 10 folhas de cada indivíduo.
As folhas foram classificadas em atacadas
(dano foliar ≥ 10% da área) e não atacadas
(dano foliar < 10% da área). Southwood
(1978) propôs um método eficiente para a
definição do número de indivíduos
presentes em uma colônia de formigas. Esse
seria uma função do fluxo de operarias que
passa em uma trilha pré definida por
unidade de tempo. Em cada indivíduo de
embaúba observamos durante 10 minutos o
fluxo de operarias, em um ponto marcado
na entrada do ninho. Todos os indivíduos
de embaúba tiveram sua circunferência a
altura do peito (CAP) medidas. Os dados
foram analisados com o auxilio do software
Bioestat 2.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O fluxo de operárias variou entre
12,5 e 60 indivíduos/minuto (média = 32,2
± 13,9), já o CAP variou entre 7,5 e 29cm
(média = 17,8 ± 6,25). Observamos que
existe uma relação negativa entre o
tamanho da planta e o tamanho da colônia.
A medida que os indivíduos de embaúba
alcançam tamanhos maiores, estes tendem a
abrigar colônias menores (Figura 1).
Bonatto (2000) e Santos (2000) sugerem
que indivíduos de C. purpurascens e C.
pachystachya tem maior probabilidade de
serem colonizadas por formigas quando em
plantas maiores, resultados diferentes aos
encontrados por nós, já que indivíduos
METODOLOGIA
117
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
menores apresentaram colônias mais ativas.
JOLY, A. B. (1976). Botânica Introdução a
taxonomia vegetal. 3° ed. Companhia
Editora Nacional, SP.
Não encontramos na área estudada
uma relação direta entre a herbívora em
folhas de embaúba e o fluxo de operárias
(rs=0,3392; p≥ 0,28 - Figura 2),
contrariando o resultado apresentado por
Rocha & Bergallo (1992).
As colônias de Azteca parecem ser
maiores
em
estágios
inicias
de
desenvolvimento de C. pachystachya. Não
encontramos
redução
da
herbívora
dependente da atividade de Azteca.
ROCHA, C.F.D; BERGALLO, H.G.
(1992). Bigger ant colonies reduce
herbivory residence time on leaves of
ant-plant: Azteca muelleri vs. Coelomera
ruficornis on Cecropia pachystachya.
Oecologia 91:249-252p.
REFERÊNCIAS BILLIOGRÁFICAS
SANTOS, F.A.M. (2000). Growth and leaf
demography of two Cecropia species.
Revista Brasileira de Botânica (23): 133141p.
BONATTO, V. (2000). Colonização de
Cecropia purpurascens (Cecropiaceae)
por formigas na reserva Km 41, Manaus,
AM.
Curso
de
Campo
INPA/SMITHSONIAN/OTS. 146 –
149p.
SILVA, M.B.; NETTO, R.R.; FERNADEZ,
F.M.;
ROMERO,
G.Q.
(2000).
Colonização de Cecropia pachystachya
por formigas Azteca no Pantanal da
Nhecolândia. Curso de Campo Ecologia
do Pantanal, UFMS. 90-92p.
HÖLLDOBLER, B; WILSON, E.O.(1990).
The ants. Harvard University Press,
USA.
SOUTHWOOD, T.R.E. (1978). Ecological
Methods – with special interest on insect
populations. 2°ed. Royal Academic
Press, London.
Fluxo de operárias (ind./min.)
65
r 2 = 0.5754
55
45
35
25
15
5
5
10
15
20
25
30
CAP (cm)
Figura 1. Relação entre o desenvolvimento dos indivíduos arbóreos de embaúba e a atividade
de formigas, no cerrado da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN).
118
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Número de folhas atacadas
8
7
6
5
4
3
2
1
0
10
20
30
40
50
Fluxo de operárias (ind./min.)
Figura 2. Fluxo de operárias e folhas atacadas.
119
60
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 2.4 EFEITO DO FOGO NA DISPONIBILIDADE DE RECURSOS
PARA INSETOS HERBÍVOROS
Flávio Rodrigues Oliveira & Sérgio de Faria Lopes
diversas maneiras (Pinto et al., 1996).
Atualmente, especula-se que a ocorrência
de fogo no Cerrado seja um dos fatores
determinantes
da
vegetação,
sendo
apontado
como
importante
agente
modificador e mantenedor de comunidades
vegetais (Coutinho, 1990 apud Santos,
1999). Consequentemente a redução de
extratos vegetais implica em redução da
disponibilidade de alimento para muitos
insetos herbívoros (Goodland & Ferri,
1979). A ação do fogo sobre o solo depende
da sua intensidade, da natureza da
vegetação, do aumento da temperatura, da
freqüência de queimadas e da duração do
pulso de calor (Goodland & Ferri, 1979).
INTRODUÇÃO
O
Cerrado
sentido
restrito
caracteriza-se por apresentar árvores baixas,
inclinadas, tortuosas, com ramificações
irregulares e retorcidas, e geralmente com
evidências de passagem de fogo. Os
arbustos e subarbustos encontram-se
espalhados,
com
algumas
espécies
apresentando órgãos subterrâneos perenes,
os quais permitem rebrota após queimada
ou corte. O Cerrado está localizado
principalmente no Planalto Central do
Brasil, sendo o segundo maior bioma do
país em área, superado apenas pela Floresta
Amazônica (Goodland & Ferri, 1979).
Ocupa mais de 2.000.000 km2, o que
corresponde a 23% do território brasileiro
aproximadamente, ocorrendo em altitudes
que variam de 300 até 1.600 metros.
Os herbívoros de um modo geral são
animais pastadores, comedores de brotos,
insetos
fitófagos,
sugadores
como
percevejos, animais granívoros, frugívoros,
e há aqueles que se alimentam de raízes,
flores (Crawley, 1983). Algumas vezes a
herbivoria pode levar à morte da planta
hospedeira e sua virtual extinção (Bennet &
Hughes, 1959). Alimentar-se de plantas não
é uma estratégia comum, isso sugere que há
problemas no uso de espécies vegetais
como alimento (Edwards & Wratten, 1981).
Os grupos de invertebrados que tiveram
sucesso na exploração desta fonte alimentar
são os mais diversificados, como os
orthópteros por exemplo, sugerindo que são
necessárias especializações para usar tecido
vegetal como alimento (Edwards &
Wratten, 1981).
O fogo ocorre comumente no
Cerrado, seja por causa natural ou
antrópica, afeta sua fauna e flora de
METODOLOGIA
O experimento foi conduzido em duas
áreas, queimada e outra não queimada, de
cerrado, localizadas no Parque Estadual
Serra de Caldas Novas, PESCAN, GO. O
experimento foi realizado no dia 24 de
setembro de 2002, no período de 07:00 hs –
11:00 hs. A área queimada apresentava solo
exposto com rebrotamento de gramíneas.
Na área não queimada, além de vegetação
arbustiva de cerrado, havia predomínio de
gramíneas. Em ambas a as áreas
observamos o afloramento rochoso.
Em cada ambiente inserimos cinco
transectos de 25 metros, distantes cinco
metros da trilha, sendo pareados em três e
dois, em distâncias de cinco metros (Figura
1). Para cada transecto foram postos cinco
folhas de papel colorido (141 cm2)
seqüências em: branco, azul, verde, rosa e
amarelo, dispostos a cinco metros um do
outro.
Em virtude de condições climáticas
desfavoráveis (chuva constante) no dia do
120
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
atividade de forrageamento dos herbívoros
de ambas as áreas cessou devido a essas
condições.
experimento (24 de setembro de 2002),
utilizamos dados já obtidos em um
experimento anterior (20 de setembro de
2002), oriundo de observações empíricas
que deram origem ao experimento original.
No dia 20 de setembro de 2002, utilizamos
as folhas de papel postos em duas áreas de
Cerrado, uma queimada e outra não
queimada, as quais continham iscas para
estudo com formigas, e notamos marcas de
herbivoria decorrentes de morfoespécies de
orthópteras
Em cada ambiente foram inseridos
quatro transectos de 60 metros, distantes 10
metros da trilha, com seis folhas brancas
cada. Estas com área conhecida (73,5 cm2),
foram dispostas ao longo dos transectos
com espaçamento de cinco metros um do
outro. Após 24 horas as folhas foram
recolhidas e levadas ao laboratório para o
cálculo da área herbivorada. Para este
cálculo foi utilizado um medidor de área
foliar (area meter – CID 205), e o programa
Excel.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Prof. Dr. John Hay
pelas dicas no experimento final bem como
no sorteio das cores. A Marcela Yamamoto
pelas observações pessoais e a Cláudio
Franco Muniz pela essencial ajuda nas
análises estatísticas neste experimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENNET, F. D., HUGHES, I. W. 1959.
Biological control of insects pests in
Bermuda. Bull. of Entomol. Res., v. 50,
p. 423 436.
COUTINHO, L. M. 1990. Fire in the
ecology of the Brazilian cerrado. In: Fire
in the Tropical Biota. J. G. Goldammer
(ed.). Springer-Verlang, Berlin. apud
SANTOS, J. C. C. 1999. Influência do
fogo na riqueza de insetos em Paratudal,
Pantanal do Miranda Abobral, Mato
Grosso do Sul. Ecologia de Campo –
Pantanal, p. 127 – 129.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Embora a média de herbivoria da área
queimada ter sido superior a área não
queimada (Tabela 1), não houve diferença
significativa entre ambas (P > 0.05, Z =
0.1191). Isso talvez se deva ao alto valor do
desvio padrão da área queimada.
Em observações empíricas no dia 20
de setembro de 2002, constatamos uma alta
atividade forrageira pelos orthopteras na
área queimada. A disponibilidade de
recursos alimentares em áreas que sofreram
passagem de fogo é muito restrita ou quase
nula. A oferta de alimento posta em ambas
as áreas foram às mesmas, porém no
ambiente queimado era, além dos brotos
vegetativos, o único recurso e de fácil
visualização quando comparado com o
ambiente normal.
A repetição do experimento no dia 24
de setembro de 2002, o qual não obtivemos
resultados satisfatórios decorrentes das
condições
climáticas
descritas
anteriormente, nos evidencia que a
CRAWLEY, M. J. 1983. Herbivory: the
dinamics
of
animal-plant
interactions. Blackwell Scientific
Publications, Oxford.
EDWARDS, P. J., WRATTEN, S. D. 1981.
Ecologia das interações entre plantas e
insetos. São Paulo: EPV. (Coleção
Temas de Biologia, v. 27).
GOODLAND, R., FERRI, M. G. 1979.
Ecologia do Cerrado. São Paulo: Ed. da
Universidade de São Paulo, 196 p.
(Reconquista do Brasil, v. 52).
PINTO, F. S., MIRANDA, G. H. B.,
ANDRADE, S. M. A. 1996. Efeito do
fogo na arquitetura de espécies lenhosas
do cerrado. Curso “Métodos de Campo
em Ecologia” – Brasília. p. 20 – 21.
121
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Amarelo
Rosa
Verde
Azul
Branco
ÁREA
QUEIMADA
5m
BASE
5m
5m
5m
ÁREA NÃO
QUEIMADA
PAREDÃO
Figura 1. Croqui do desenho experimental usado.
Tabela 1. Valores médios de herbivoria de folhas sulfite em duas áreas de Cerrado do Parque
Estadual Serra de Caldas, GO.
PARÂMETROS
ÁREA QUEIMADA
ÁREA NÃO
QUEIMADA
MÉDIA
30.60 ± 16.97
Para ambas áreas, Coeficiente de Variação e Teste-t P>0.05.
122
23.03 ± 12.18
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 2.5 LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DA FAMÍLIA
GRAMINEAE EM ÁREA DE CERRADO SENSU STRICTO E ÁREA DE
MATA
Marcela Yamamoto e Otacílio Santana
stricto e outra de mata (Cascatinha) no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas,
GO.
Para fazer o levantamento das
gramíneas utilizamos um quadrado de PVC
de 1m2 e registrávamos a quantidade das
espécies presentes. Foram amostrados 20
quadrantes em cada área.
Registramos também a cobertura de
dossel com um densiômetro, a 1,5 metros
do solo. Na mata coletamos os dados
apenas em área com clareiras.
INTRODUÇÃO
A Família Gramineae é uma das
maiores famílias dentro das Angiospermas,
e provavelmente a de maior importância
econômica para o homem, como por
exemplo: na indústria têxtil, cervejaria,
alimentação e pastagem. Há cerca de 700
gêneros na família com aproximadamente
8000 espécies reconhecidas (Joly, 1976).
Os representantes desta família
encontram-se espalhados por todo mundo.
Existem
associações
características
formadas essencialmente por gramíneas
ocupando vastas extensões de terra em
todos os grandes continentes, recebendo
designações especiais, tais como: pampas e
campos na América do Sul, “prairie” na
América do Norte, savannas e veldt na
África, estepes na Europa e Ásia (Joly,
1976).
No cerrado, uma camada de grande
importância é o estrato herbáceo por sua
grande extensão, contribuindo bastante com
a produtividade primária nesta fisionomia.
Por possuírem árvores relativamente
pequenas, e espaçadas, a cobertura de
dossel é muito baixa ou zero na maioria das
áreas desta fisionomia. O principal fator
limitante das gramíneas é a luz, em clareiras
ou lugares de fácil acesso a luz, elas são
dominantes.
O objetivo principal do estudo foi fazer
um levantamento dos gêneros da Família
Gramineae que ocorrem em áreas de
Cerrado sensu stricto e em Mata.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Ocorreram 5 gêneros de gramíneas
na área de cerrado e apenas dois na área de
mata. Melinis foi o único gênero que
ocorreu em ambas às áreas (Figura 1 e 2,
Tabela 1 e 2).
No cerrado o gênero dominante foi a
Echinolaena com número médio de 17
indivíduos por metro quadrado, seguido de
Melinis com 12. A espécie dominante,
Echinolaena inflexa, é C3 (Klink &
Joly,1989) classificada como indiferente ao
fogo e como uma estrategista k por Rosa
(1990) por apresentar altos valores de
biomassa aérea e baixa taxa de crescimento
relativo.
Na área de mata, nos locais com
cobertura de dossel fechada as gramíneas
não apareceram. A cobertura de dossel e a
presença de gramíneas é inversamente
significativa (t= 4,0678, p= 0,0005). Nas
clareiras elas foram observadas, mas com
um número de indivíduos bastante reduzido
(Tabela 2). Segundo Tremmel & Bazzaz
(1995) plantas frequentemente respondem a
variabilidade local na disponibilidade de
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado no período da
manhã, em uma área de Cerrado sensu
123
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
recursos com mudança na arquitetura para
maximizar sua habilidade de garantir
recursos.
Foi notado que com a diminuição da
cobertura e aumento da luminosidade o
número de indivíduos da família Gramineae
aumentaram (Figura 3), mostrando a
influência da luz para o estabelecimento das
mesmas.
KLINK, C. A. & JOLY, A.1989.
Identification and distribution of C3 and
C4 grasses in open and shaded habitats
in São Paulo state, Brazil. Biotropica 21:
30-34.
ROSA, C. M. M.1990. Recuperação pósfogo do estrato rasteiro de um campo
sujo de cerrado. Tese de mestrado.
Universidade de Brasília. 162p.
BIBLIOGRAFIA:
TREMMEL, D. C. & BAZZAZ, F. A.
1995. Plant architecture and allocation in
different neighborhoods: implications for
competitive success. Ecology 76: 262271.
JOLY, A. B. 1976. Botânica – Introdução
a taxonomia Vegetal. 3ed. Companhia
Editora Nacional, São Paulo. 777p.
Tabela 1: Número da amostra, gênero, quantidade de indivíduos e cobertura de dossel em área
de cerrado no Pescan
Cerrado
Amostra
Espécie
Quantidade
Cobertura (%)
1
Echinolaena
51
4
2
Echinolaena
55
4
Imperata
1
4
Paspalum
3
4
Imperata
2
4
3
4
Echinolaena
4
5
6
Imperata
4
4
Melinis
4
4
Paspalum
2
4
Echinolaena
1
4
Panicum
3
4
Paspalum
6
4
Imperata
1
4
Paspalum
9
4
Panicum
2
4
Echinolaena
7
4
124
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
7
Projetos de 1 Dia
Paspalum
7
4
Panicum
1
4
Echinolaena
2
4
Echinolaena
4
4
Paspalum
3
4
Imperata
1
4
Paspalum
7
4
Echinolaena
8
4
Imperata
2
4
10
Echinolaena
32
4
11
Echinolaena
9
4
Paspalum
1
4
12
Melinis
4
4
13
Melinis
6
4
Echinolaena
9
4
Imperata
1
4
Melinis
3
4
Paspalum
2
4
Melinis
32
4
Echinolaena
7
4
Melinis
10
4
Paspalum
2
4
Imperata
1
4
Melinis
16
4
Echinolaena
3
4
Melinis
12
4
Paspalum
3
4
19
Melinis
12
4
20
Melinis
20
4
8
9
14
15
16
17
18
125
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Tabela 2: Número da amostra, gênero, quantidade de indivíduos e cobertura de dossel em área
de mata no Pescan
Mata
Amostra
Espécie
Quantidade
Cobertura (%)
1
Melinis
1
30
2
Melinis
3
30
3
Melinis
1
30
4
0
0
38
5
0
0
38
6
Indet 1
2
38
7
0
0
12
8
Melinis
1
12
9
0
0
58
10
0
0
58
11
Indet 1
2
58
12
0
0
15
13
Indet 1
11
15
Melinis
2
15
14
0
0
12
15
0
0
12
16
0
0
12
17
Indet 1
2
12
18
Melinis
8
12
19
Melinis
1
27
Indet 1
1
27
Melinis
7
27
20
126
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Número de indivíduos
250
200
150
100
50
0
Echinolena
Melinis
Paspalum
Imperata
Panicum
Figura 1: Distribuição dos gêneros da Família Gramineae no Cerrado sensu stricto do
PESCAN.
Número de Indivíduos
250
200
150
100
50
0
Melinis
Indet
Quadrantes sem
indivíduos
Figura 2: Distribuição dos gêneros da Família Gramineae em área de mata no Pescan.
127
Média de indivíduos por 1m2
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
5
4.5
4
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
2
R = 0.3412
0
20
40
60
80
Cobertura (%)
Figura 3: Número médio de indivíduos de gramíneas em relação a cobertura de dossel na
mata.
128
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I. 2.6 RELAÇÃO MUTUALÍSTICA ENTRE UMA ESPÉCIE DE
BROMÉLIA E BEIJA-FLORES
Patricia Rodin & Carlos H. G.Angeluci
INTRODUÇÃO
A polinização cruzada envolve a
transferência de pólen da antera de uma flor
para o estigma de outra flor. Quando o
agente polinizador é um animal, a
polinização passa a ser uma interação
mutualística entre ele e a planta. A evolução
de flores especializadas na atração de
determinado agente (s) polinizador (es)
ocorre amplamente na natureza, pois a
fecundação cruzada dentro de uma mesma
espécie é fortemente favorecida pela
seleção natural (Begon et al. 1990).
As plantas, em sua maioria,
oferecem néctar ou pólen como recompensa
(Begon et al. 1990) aos polinizadores. A
produção de néctar representa um elevado
custo energético para as plantas, que, no
entanto, pode ser compensado pela
realização da polinização cruzada. Os beijaflores, importantes polinizadores em
ambientes tropicais (Araujo, 2001),
possuem uma dieta constituída basicamente
por néctar, que é composto principalmente
por sacarose (Baker & Baker, 1980 apud
Araujo, 2001). Estas aves apresentam
diversos padrões de forrageamento, como
territorialista e trap-line. Estes padrões, por
sua vez, têm influência direta na
polinização cruzada das planta, por
exemplo, quando eles são territorialistas a
polinização cruzada fica restrita a flores de
um mesmo indivíduo, diminuindo a
variabilidade genética da população desta
planta.
No cerrado, existe uma grande
quantidade de espécies que produzem
néctar como recompensa floral para os
polinizadores (Silberbauer-Gottsberger &
Gottsberger, 1988), entre elas a espécie de
bromélia, que é polinizada por beija-flores.
O objetivo do estudo foi: i)
quantificar a recompensa calórica por
unidade de área de uma espécie de bromélia
para os beija-flores, e determinar se ela é
suficiente para suprir as necessidades
energéticas diárias destes animais; ii)
estudar
o
comportamento
destes
polinizadores em relação ao recurso
oferecido pela bromélia.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado no fim de
setembro de 2002, na transição da estação
seca para a chuvosa, no Parque Nacional de
Serra de Caldas Novas, Goiás, numa área
de cerrado s.s. queimada duas semanas
anteriores a coleta de dados. O estudo foi
realizado num dia nublado e chuvoso.
Foi amostrada uma área de 250 m de
comprimento por 80 m de largura, onde
todos os indivíduos de bromélia com
presença de flores abertas foram
demarcados no GPS. Nestes indivíduos, foi
contado o número de flores abertas, medido
o volume de néctar produzido por flor e a
concentração de sacarose do néctar com
auxílio de um refratômetro. As médias de
volume e concentração do néctar foram
utilizadas para estimar a recompensa de
calorias por flor. O cálculo de calorias foi
realizado utilizando a tabela de conversão
de Kearns e Inouye (1993 apud Oliveira,
1998), onde: % de açúcar (g açúcar/ g
solução) = g açúcar/ l néctar, e para
transformar mg de açúcar em calorias foi
usada a relação apresentada por Dafni
(1992 apud Oliveira, 1998) : 1 mg de
açúcar = 4 calorias. Estes valores foram
multiplicados pelo número de flores abertas
em cada indivíduo, e a partir deste valor foi
129
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
determinada a oferta de calorias diária por
hectare.
Foram observados os atributos
morfológicos da flor da espécie estudada
ligados à polinização por Beija-flores e foi
estudado o comportamento dos visitantes
florais a partir da observação visual
realizada por uma hora, entre 10:00 e 11:00
da manhã.
sendo esta, uma estratégia que otimiza o
número de flores visitadas por polinizador
(Feisinger 1983 apud Oliveira, 1998). Além
disto, os indivíduos desta espécie
apresentam um padrão de abertura de flores
assincrônica e contínua (observação de
campo), havendo, assim oferta de recurso
para os beija-flores por um longo período
de tempo. Este padrão fenológico também
atua como uma estratégia de otimizar à
polinização, pois a oferta de recurso por
longos períodos aumenta a chance do
agente polinizador se tornar mais
especializado na planta, o que, por sua vez,
aumenta a polinização cruzada da mesma
(Begon et al. 1990).
Outra estratégia de otimização da
polinização da planta estudada, é a floração
na época seca, pois a maior parte das
espécies polinizadas por beija-flores no
Cerrado floresce na época chuvosa
(Oliveira, 1998). Desta forma, ela não
compete por polinizadores com outras
espécies, havendo aumento da visita de suas
flores. Talvez, a ausência desta competição
tenha favorecido a seleção de flores com
baixa produção de néctar nesta espécie.
A bromélia apresenta uma oferta
energética de 0.3 Kcal / ha. Este valor é
muito inferior ao total necessário para
suportar um indivíduo de beija-flor,
representando apenas 3,8% de sua
necessidade diária (Carpenter, 1983 apud
Oliveira, 2001). Portanto, para que um
indivíduo encontre o valor energético
necessário, ele precisaria percorrer um total
de 27 hectares, considerando que o único
recurso disponível da área seja oferecido
pela espécie de planta.estudada. No entanto,
o clima nublado e chuvoso acarreta numa
menor produção de néctar pelas flores de
bromélia (P.E. Oliveira, comunicação
pessoal), o que, provavelmente, interferiu
nos resultados encontrados.
Quanto ao comportamento dos
polinizadores, apenas foi observado o de
Eupetomena macroura, que se apresentou
como um polinizador do tipo trap-liner.
Este
comportamento,
provavelmente,
ocorre pelo fato das plantas oferecerem
RESULTADOS
Foram encontrados 9 indivíduos de
bromélia. em floração. Estes indivíduos
apresentaram de 2-22 flores abertas. O
volume de néctar produzido por flor foi
cerca de
10 µl com concentração de
sacarose variando entre 15-22% e média de
17 % por flor.
As flores da bromélia estudada
apresentam características morfológicas
ligadas à polinização por beija-flores, como
inflorescência com flores agrupadas no
ápice, corola tubulosa e de pequena
abertura, nectário, localizado próximo ao
ovário, distando cerca de 3 cm de
comprimento do ápice da corola, ausência
de perfume e pétalas de coloração rosa.
Foi observada apenas uma espécie
de beija-flor, Eupetonema macroura,
consumindo néctar, e provavelmente,
polinizando a bromélia. Ele apresentou um
comportamento de forrageamento do tipo
trap-line (linha de coleta), utilizando
algumas flores de um indivíduo, o
abandonando posteriormente.
DISCUSSÃO
Algumas espécies apresentam flores
capazes de selecionar os animais visitantes
(Stiles, 1981 apud Oliveira,1998). A
bromélia estudada parece selecionar a visita
de beija-flores, pois elas apresentam uma
coloração que facilita a sua localização por
estes polinizadores. Além disto, ela
apresenta um nectário profundo dentro de
um flor tubulosa, o que dificulta a
polinização por outros agentes, como
insetos.
A espécie estudada oferece uma
pequena quantidade de néctar por flor,
130
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
pouco recurso energético, o que não
compensa o gasto que estes teriam para
defender o território, no caso um indivíduo
desta espécie. Os trap-lineres polinizam um
maior número de plantas, e apresentam,
assim, um custo de locomoção entre elas,
que, no entanto, deve ser compensado pela
quantidade de calorias adquirida nestas
diversas plantas. Do ponto de vista da
planta, este comportamento dos beija-flores
é vantajoso, pois favorece a polinização
cruzada.
Desta
forma,
a
relação
mutualística estudada parece ser mais
benéfica para as plantas que para as os
beija-flores.
ARAUJO, A.C. 2001. Flora, fenologia de
floração e polinização em capões do
Pantanal Sul Mato grossense. Tese de
Doutorado. UNICAMP.
BEGON,
M.,
HARPER,
J.L.,
TOWNSEND, C.R. 1990. Ecology:
individuals, populations and comunities.
2 a ed. Blackwell Scientific Publication,
Massachusets, USA.
OLIVEIRA, G.M. 1998. Disponibilidade de
recursos florais para beija-flores no
cerrado de Uberlândia, MG. Dissertação
de Mestrado. Universidade de Brasília.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Paulo Eugênio Oliveira
pela sugestão do trabalho e agradável
companhia no campo. Aos beija-flores por
tornarem prazeroso nosso chá de cadeira.
SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. &
GOTTSBERGER,
G.
1988.
A
polinização das plantas do cerrado.
Revta. Brasil. Biol. 48: 651-663.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
131
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
I 2.7 COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE EUPETOMENA
MACROURA (GMELIN) (TROCHILINAE) EM NORANTEA SP.
(MARCGRAVIACEAE)
Jania Cabrelli Salles & Rafael Arruda
animais territoriais, em particular os
territórios de alimentação das aves
territorialistas (Krebs & Davies 1996).
Deste modo, o objetivo do presente
estudo foi analisar o comportamento de
forrageamento e de defesa de território de
Eupetomena macroura (Gmelin) em
Norantea sp. (Marcgraviaceae) em uma
área de cerrado.
INTRODUÇÃO
As Angiospermas parecem ter
evoluído numa estreita dependência em
relação a diversos grupos animais para sua
polinização, caracterizando certo grau de
mutualismo. As especializações das plantas
necessárias para garantir o sucesso deste
mutualismo requerem certos custos, como a
produção de néctar (Oliveira 1998).
Os beija-flores são aves nectarívoras
especializadas e importantes agentes
polinizadores. Além de néctar, usualmente
de baixa concentração de solutos e pouca
viscosidade, a dieta dos beija-flores é
complementada por pequenos invertebrados
(Oliveira 1998).
A apresentação de recursos no
espaço e no tempo influencia o
comportamento
dos
visitantes,
sua
permanência na área e o tamanho da
população que pode sobreviver naqueles
recursos. As espécies de beija-flores dentro
de uma comunidade apresentam formas
diferentes de utilização dos recursos. A
evolução
de
comportamentos
de
forrageamento da maioria dos beija-flores é
influenciada principalmente pela interação
com outros beija-flores (Oliveira 1998). De
forma geral, de acordo com Feinsinger &
Colwell (1978 apud Araujo 2001), os beijaflores
são
classificados
como
territorialistas, parasitas de território ou
trapliners.
A defesa de um recurso envolve
custos (gasto de energia, risco de injúria,
etc.), bem como os benefícios da prioridade
de acesso ao recurso. Esta idéia fez com
que os estudos de campo enfocassem com
mais detalhes o balanço temporal dos
METODOLOGIA
O estudo foi realizado no mês de
setembro, no Parque Estadual da Serra de
Caldas Novas (GO), numa área de cerrado
(sentido restrito), com características de
solo raso, pedregoso.
Por um período de quatro horas
(7:00 – 11:00 hs), foram registrados os
tempos de realização dos comportamentos
de forrageamento e defesa do território
exibidos por um indivíduo de E. macroura
em um exemplar de Norantea sp. Esta
planta apresenta grandes inflorescências do
tipo cacho.
Os atos comportamentais de defesa
foram divididos em alerta (vigilância da
mancha de recurso) e exclusão dos
competidores (outros beija-flores). Os
tempos de forrageamento, alerta e exclusão
de competidores foram quantificados em
segundos, com utilização de cronômetro.
Os valores obtidos foram posteriormente
convertidos em minutos. Foram também
medidos o volume, com uma seringa, e a
concentração do néctar, com um
refratômetro, dos nectários extraflorais de
Norantea.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
132
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
O tempo total de observação foi de
240 minutos. Deste total, 49,49% (118,77
min.) foi utilizado em comportamento de
alerta, 0,75% (1,8 min.) em comportamento
de exclusão dos competidores, e 8,20%
(19,67 min.) em tempo de forrageamento.
Os 99,76 minutos restantes (41,56%),
foram utilizados em atividade de repouso,
principalmente ao se proteger da chuva
(Tabela 1).
É fato que os beija-flores gastam
cerca de 75% de seu tempo empoleirados e
apenas 20% em forrageio, o que pode ser
explicado pelo fato de que a digestão da
glicose nestes animais é lenta (Krebs &
Davies 1996). Outra explicação, é que, para
o caso de indivíduos territorialistas, a
defesa do território também requer grande
gasto de tempo para evitar a invasão de
outras espécies nectarívoras.
A defesa do território exibida pelo
Eupetomena macroura foi demonstrada,
principalmente, pelo comportamento de
alerta, caracterizado pelo posicionamento
do indivíduo sobre árvores circunvizinhas,
em ramos mais elevados, que favoreceria a
ampliação do seu campo visual.
Foram observadas sete ocorrências
de comportamento de exclusão de
competidores, sendo que seis delas,
provavelmente, se tratavam de indivíduos
do gênero Chlorostilbon. O outro encontro
foi registrado com um individuo da mesma
espécie (Eupetomena macroura) A
dificuldade de identificar estes invasores é
conseqüência da rapidez com que os
encontros agonísticos aconteceram.
Para estimar o volume e a
concentração do néctar disponível pela
Norantea sp., foram realizadas duas
medições, a partir das quais foram obtidas
médias iguais a 48 µl e 8,25%,
respectivamente. Segundo Oliveira (1998),
a explicação para essa pequena produção de
néctar seria a necessidade que a planta têm
de manter constante visitação, forçando os
animais a explorar muitas flores.
A partir disso, pode-se inferir que
quando os custos diários são comparados
com a quantidade de néctar extra obtida
com a defesa de um território e exclusão de
competidores, fica evidente que as aves
territoriais estariam obtendo um moderado
lucro energético, dessa forma, o recurso
torna-se
economicamente
defensável
(Krebs & Davies 1996).
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Prof. Paulo E.
Oliveira pela orientação e ao colega Flávio
R. Oliveira pela ajuda no etograma.
BIBLIOGRAFIA
ARAUJO, A.C. 2001. Flora, fenologia de
floração e polinização em capões do
Pantanal Sul Mato grossense. Tese de
Doutorado. UNICAMP.
FEINSINGER, P. & COLWELL, R.K.
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KREBS, J.R. & DAVIES N.B. 1996.
Introdução à Ecologia Comportamental.
Atheneu Editora. São Paulo.
OLIVEIRA, G.M. 1998. Disponibilidade de
recursos florais para beija-flores no
cerrado de Uberlândia, MG. Dissertação
de Mestrado. Universidade de Brasília.
133
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos de 1 Dia
Tabela 1 – Etograma de Eupetomena macroura (Trochilinae)
TIPOS COMPORTAMENTAIS
FREQÜÊNCIA (%)
DEFESA
ALERTA
49.49
EXCLUSÃO DE COMPETIDORES
TOTAL
0.75
50.24
FORRAGEAMENTO
8.20
TOTAL
8.20
REPOUSO
41.56
TOTAL
41.56
TOTAL
100.00
134
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
Projetos Finais (UnB)
Set/02
135
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
FAUNA DE TÉRMITES (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS ÁREAS
DE CERRADO, NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS
NOVAS, GO.
Caio A. Rebula
dados coletados em uma área limitada,
sugerindo que os valores encontrados
constituem um padrão geral para o cerrado.
Isto
pode
ser
considerado
uma
pseudoréplica (Hurlbert, 1984), já que o
cerrado é um complexo mosaico
caracterizado pela heterogeneidade de suas
formações
(Coutinho,
1978).
A
fitossociologia
local
influencia
as
populações de térmites ao definir a
disponibilidade de alimento. Desta forma,
podem ocorrer variações na fauna de
térmites e em sua densidade, de acordo com
a topografia e vegetação locais. (Domingos,
1983).
O objetivo deste trabalho foi
comparar a fauna de térmites em duas
fitofisionomias, do cerrado do Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas.
INTRODUÇÃO
O cerrado é caracterizado como um
tipo de savana e constitui o segundo maior
bioma no país. É formado por diferentes
tipos de fitofisionomias, abrangendo de
campos a florestas, sendo sua classificação
definida pela densidade de árvores e
cobertura vegetal (Coutinho, 1978).
Cupins são insetos da ordem
Isoptera, com 2.225 espécies representadas
em 7 famílias e 73 gêneros, sendo que,
aproximadamente 500 espécies ocorrem nas
Américas (Fontes, 1979; Mill, 1983). São
insetos sociais de tamanho médio que se
alimentam de celulose, utilizando matéria
orgânica e solo para a construção de seus
ninhos, sendo geralmente mais abundantes
em áreas de maior biomassa vegetal. Vivem
em sociedades altamente organizadas,
havendo diferenças morfológicas nos
indivíduos presentes em uma colônia,
constituindo diferentes castas, cada uma
apresentando sua própria divisão de
trabalho e diferente função biológica
(Borror et al. 1989; Inoue et al., 1997).
São animais de grande importância
devido a sua abundância, a estrutura de seus
ninhos é capaz de abrigar térmitas
inquilinos e um grande número de espécies
termitófilas
(Araújo,
1970).
Eles
representam ainda, uma considerável fonte
de alimento para várias espécies de animais.
Tatus e tamanduás constituem seus
principais predadores, havendo também a
utilização dos ninhos por aves, para
nidificação (Redford, 1984).
Muitos dos estudos relacionados à
fauna de térmites foram realizados em áreas
restritas. Muitos autores generalizam os
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN), GO, em Outubro de 2002. A
área total desta unidade de reserva é de
aproximadamente 12.000 ha, apresentando
como fitofisionomia principal formações de
cerrado sensu strictu (s.s.).
A coleta de dados foi feita em um
local de cerrado s.s. e em um campo sujo,
com altitude aproximada de 1030m. Foram
definidos quatro transectos de 50m x 20m
na área de campo sujo totalizando 4000m2.
Outros cinco transectos com as mesmas
dimensões foram definidos para a área de
cerrado s.s., em um total de 5000m2. Estes
foram dispostos paralelamente à estrada de
acesso à área de estudo, a uma distância de
50m da estrada.
136
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
como as outras espécies de térmites
presentes no ambiente. As variações na
abundância de uma certa espécie em
diferentes
regiões
também
podem
influenciar as dimensões dos cupinzeiros
(Negret & Redford, 1982).
O padrão de ocupação dos
cupinzeiros sugere que alguns gêneros são
mais tolerantes a inquilinos que outros
(Tabela 2). Gêneros construtores podem ser
freqüentemente
encontrados
como
inquilinos,
como
Armitermes
e
Nasutitermes (Tabela 3).
O índice de Morisita revelou que os
gêneros com maior densidade apresentaram
padrão de distribuição aleatória, já os de
menores
valores
de
densidade
demonstraram
distribuição
uniforme
(Tabela 4). Não ocorreram variações nos
padrões de distribuição entre as duas
fitofisionomias estudadas.
Este levantamento revelou que
existem grandes variações na fauna de
térmitas entre diferentes regiões de cerrado.
A densidade e composição da fauna diferem
de outros estudos realizados em outras
áreas.
Possivelmente
variações
fitossociológicas e topográficas locais
influenciam a fauna de térmitas.
Dentro de cada transecto, foram
amostrados todos os ninhos aéreos e
terrestres de térmitas, avaliando a densidade
de cada gênero. Foi utilizado o índice de
Morisita (Brower et al. 1998) para
definição do padrão de distribuição espacial
para cada gênero encontrado.
Os ninhos encontrados foram
abertos, tendo soldados coletados e fixados
em álcool 70%. Posteriormente estes foram
identificados até o nível de gênero (Mill,
1983)
com
o
auxílio
de
um
estereomicroscópio. As medidas de altura e
circunferência dos
ninhos encontrados
foram utilizadas para caracterizar o gênero
construtor, de acordo com as dimensões
encontradas por Negret e Redford (1982).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi encontrado um total de 93
ninhos, apresentando uma densidade
estimada de 82 ninhos/ha na área de cerrado
s.s. e 127 ninhos/ha na área de campo sujo.
Os
gêneros
mais
comuns
foram
Armitermes, Nasutitermes e Cornitermes
para o cerrado sensu strictu e Armitermes,
Nasutitermes e Velocitermes para o campo
sujo (Tabela 1.). Foram encontrados 13
gêneros na área de campo sujo e 9 na área
de cerrado s.s.
Estima-se que existam pelo menos
54 espécies de térmites no cerrado (Coles,
1980). Redford (1984) encontrou uma
densidade média de 323 ninhos/ha, no
Parque Nacional das Emas, onde a
fitofisionomia campo limpo ocupa cerca de
60% da área do parque. Nesta área, o
gênero
mais
frequente
foi
Orthognatotermes,
com
204,5
cupinzeiros/há. Este mesmo gênero
apresenta apenas 2 cupinzeiros/ha no
PESCAN (Tabela 1). Os dados demonstram
que há grande variação nos valores de
densidade de ninhos, quando diferentes
fitofisionomias são comparadas (Tabela 1).
Esta variação nos valores de densidade
pode estar relacionada à preferência por um
certo tipo de vegetação e talvez por um
hábito alimentar, sendo a densidade
também influenciada por outros fatores,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Araújo, A.L. 1970. Termites of neotropical
region. In: Krishna, K. & Weesner, F.M.
Biology
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termites.2nd
edition.
Academic Press, New York. 527-571.
Borror, D.J.; Triplehorn, C.A.; Johnson,
N.F. 1989. An introduction to the study
of insects. 6th edition. Saunders College
Publishing, Florida. 875p.
Brower, J.E.; Zar, J.H.; von Ende, C.N.
1998. Field and laboratory methods for
general ecology. 4th ed. McGraw-Hill,
Boston. 273p
Coles, H.R. 1980. Defensive strategies in
the ecology of Neotropical termites. Ph.
D. thesis, Southamptom University.
243p.
Coutinho, L.M. 1978. O conceito de
cerrado. Revta. Bras. Bot. 1:17-23.
137
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
Domingos, D.J. 1983. Preferência alimentar
de Armitermes euamignathus (Isoptera,
Termitidae, Nasutitermitidae) em cinco
formações vegetais do cerrado. Rev.
Bras. Biol. 43(4):339-344.
Fontes, L. R. 1979. Os cupins. Ciência e
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Sociobiology. 33(3): 357-365.
Mill, A. E. 1983. Generic keys to the
soldiers caste of New World Termitidae
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Negret, H.R.C.; Redford, K.H. 1982. The
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Termitidae) from the cerrado region of
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Redford, K.H. 1984. The termitaria of
Cornitermes
cumulans
(Isoptera,
Termitidae) and their role in determining
a potential keystone species. Biotropica
16(2): 112-119.
138
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
Tabela 1. Densidade de térmites por hectare em duas áreas de cerrado no Parque Estadual da
Serra de Caldas Novas (GO) e os dados encontrados por Negret & Redford (1982), para o
Parque Nacional das Emas.
Densidade / há
Pescan
Gêneros
Emas
Campo Sujo Cerrado S.S. Campo Sujo Cerrado S.S.
Armitermes
32
23
112
116
Cavitermes
8
3
*
*
Constrictotermes
4
3
*
*
Cornitermes
16
4
12
32
Cyranotermes
4
0
*
*
Grigiotermes
2
0
28
24
Labiotermes
6
0
*
*
Nasutitermes
30
15
32
0
Orthognathotermes
2
2
0
16
Procornitermes
6
2
12
52
Spinitermes
2
2
*
*
Syntermes
6
0
20
0
Velocitermes
8
10
96
32
* Gêneros não avaliados por Negret & Redford (1982).
Tabela 2. Ocorrência e padrão de ocupação dos cupinzeiros mais freqüentes no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas (GO).
Construtor do
Apenas
Construtor e
Apenas
ninho
construtor
inquilinos
inquilinos
Desativado
Armitermes
16
5
0
1
Cornitermes
11
0
9
2
Nasutitermes
15
3
0
0
Procornitermes
2
1
0
4
Syntermes
3
1
0
0
Velocitermes
5
1
0
0
Tabela 3. Gêneros construtores mais comuns e seus inquilinos, no Parque Estadual da Serra
de Caldas Novas (GO)
139
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
Construtor
Térmites inquilinos
Armitermes
Cavitermes, Labiotermes, Nasutitermes
Cornitermes
Armitermes, Cyranotermes, Nasutitermes, Cavitermes, Procornitermes
Nasutitermes
Armitermes, Cavitermes
Procornitermes
Syntermes
Nasutitermes
Grogiotermes, Nasutitermes
Velocitermes
Procornitermes
Tabela 4. Padrão de distribuição (Morisita) dos gêneros encontrados.
Gêneros
Distribuição
Armitermes
Aleatória
Cavitermes
Agrupada
Constrictotermes
Uniforme
Cornitermes
Aleatória
Cyranotermes
Uniforme
Grigiotermes
Uniforme
Labiotermes
Uniforme
Nasutitermes
Aleatória
Orthognathotermes
Uniforme
Procornitermes
Uniforme
Spinitermes
Uniforme
Syntermes
Agrupada
Velocitermes
Aleatória
140
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
INFLUÊNCIA DO FOGO NA FLORAÇÃO DE GALACTIA
PEDUNCULARIS (BENTH.) TAUB. (FABACEAE) EM UM CAMPO
RUPESTRE NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS
(GO)
Ernestino de Souza Gomes Guarino
INTRODUÇÃO
A importância ecológica do fogo no
Cerrado, como também em outras
comunidades vegetais em todo mundo é um
fenômeno amplamente observado. Segundo
Ricklefs (1996) o fogo atua nos
ecossistemas como uma força seletiva,
favorecendo espécies resistentes ao fogo e
também excluindo outras espécies que
poderiam dominar esses ecossistemas. Eiten
(1972) classifica o Cerrado como uma
vegetação “afetada” pelo fogo, ou seja, a
vegetação é afetada pelo fogo, mas não
sofre alterações de outro tipo, neste caso a
vegetação convive com uma freqüência
constante de queimadas, mantendo a
composição florística e também as
características fisionômicas semelhantes.
Vários aspectos das queimadas no
bioma Cerrado vêm sendo estudados, entre
eles podemos separar os estudos: (1) com
foco nas alterações bióticas e (2) os com
foco nas alterações abióticas resultantes da
passagem do fogo. Entre estes temas, o
efeito do fogo sobre a floração de espécies
herbáceas, foi, e continua sendo alvo de
vários estudos. Segundo Coutinho (1980),
este impressionante “fenômeno” vem sendo
relatado desde as primeiras viagens de
naturalistas como Auguste de Saint-Hilaire,
Emanuel Pohl, Albert Löfgren e Eugene
Warming ao Planalto Central brasileiro.
Galactia peduncularis (Benth.)
Taub. (Fabaceae) é uma erva de cerrado e
campo úmido, com ampla distribuição
geográfica. Quando em flor, a espécie é
bastante vistosa, possuindo coloração rosaescuro ao abrir, secando e tornando-se roxa.
A espécie floresce entre os meses de
outubro e novembro (Proença et al. 2000).
O objetivo desse trabalho foi
verificar a influência do fogo na floração de
Galactia peduncularis em uma área de
Campo rupestre no Parque da Serra de
Caldas Novas, Goiás.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN), no final da época seca, entre os
dias 1° e 3 de Outubro de 2002. O
PESCAN localiza-se entre os municípios de
Caldas Novas e Rio Quente, no sudeste do
Estado de Goiás (Silva et al. 2002). Em
uma área de campo rupestre do PESCAN
foram alocadas oito parcelas de 25x4m
(0.01ha x 8 parcelas = 0.08ha), sendo
quatro parcelas em uma área que havia sido
queimada há aproximadamente 30 dias, e
quatro parcelas em uma área não queimada.
As áreas são separadas por uma estrada, que
durante a passagem do fogo funcionou
como aceiro (Figura 1). Com o objetivo de
evitar qualquer possível efeito da estrada
sobre as parcelas, tomou-se o cuidado de
montá-las a uma distância mínima de 5
metros da estrada.
Nas oito parcelas foram levantadas
as seguintes dados: (i) número total de
indivíduos de G. peduncularis; (ii) número
de ramos por indivíduo; (iii) presença ou
não de flores ou botões florais e (iv)
cobertura vegetal do solo. A cobertura
vegetal do solo foi medida através do
método da armação de pinos. Este método
utiliza uma armação de madeira, a qual
possui dez pinos de metal, dispostos
perpendiculares ao solo e paralelos entre si
(Kent & Coker 1994). Em cada parcela são
realizadas 10 medidas.
141
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
Os dados foram analisados com o
Microsoft Excel 2000 e o Biostat versão 2.0
(Ayres et al. 2000).
após a passagem do fogo, porém em
algumas espécies de orquídeas a hipótese de
Coutinho (1980) não se encaixa
perfeitamente (Oliveira et al. 1996).
Tais considerações também podem
ser empregadas para G. peduncularis,
espécie geófita, que também possui órgão
subterrâneo de armazenamento (xilopódio)
(Benthan 1859 - 1862). A primeira vista, a
destruição de suas partes aéreas e a
diminuição da cobertura do solo após a
passagem do fogo, estariam induzindo a
floração da espécie. Porém, esses fatores
não podem ser considerados isoladamente.
A comparação da densidade de
indivíduos entre as áreas (Figura 3),
evidencia a existência de outro fator
atuando. A maior densidade de indivíduos
na área queimada pode ser explicada pela
possível existência de um banco de
sementes da espécie na área. Andrade
(2002) estudando o impacto do fogo no
banco de sementes de um cerrado sensu
stricto no Distrito Federal, observou que G.
peduncularis forma banco de sementes
viáveis no solo, principalmente em áreas
submetidas a queimadas bienais. Segundo
Parker & Kelly (1989) a germinação “em
massa” que ocorre logo após a passagem do
fogo pode ser a conseqüência de um ou do
conjunto dos seguintes fatores (i) calor o
qual o banco de sementes foi submetido,
(ii) alterações químicas provenientes da
queima e deposição de cinzas, (iii) aumento
da incidência de luz, (iv) estratificação do
ambiente.
Aparentemente a floração de G.
peduncularis foi estimulada pelo aumento
da incidência luminosa (Figura 4), fato
também observado em Brodiaea ixioides
em uma área de Chaparral na Califórnia
(Stone 1951). A rápida floração da espécie
logo após a sua germinação ocorre devido
aos seguintes fatores (1) diminuição de
predadores de plântulas e sementes, (2)
aumento de polinizadores e (3) aumento da
taxa de fecundação cruzada (Oliveira et al.
1996).
O fogo é um fator importante na
indução da floração de espécies herbáceas
RESULTADOS
Nas oito parcelas amostradas foram
encontrados 411 indivíduos de G.
peduncularis (Tabela 1), sendo 372 (465
indivíduos/0.1ha) na área queimada e 39
(49 indivíduos/0.1ha) na área não queimada
(χ2 = 161.27, p = 0.00). Dos 372 indivíduos
amostrados na área queimada, 25.8% (96)
apresentavam flores e/ou botões florais,
enquanto que na área não queimada apenas
5% (2) apresentavam-se no mesmo estado
fenológico (Teste exato de Fisher - p =
0.0014) (Figura 2).
O número médio de ramos por
indivíduo foi de 1.82 (± 1.23) para a área
queimada e de 1.33 (± 0.77) para a área não
queimada (Teste U = 5391.0, p = 0.0083).
A cobertura vegetal do solo foi superior na
área não queimada (79,5%), enquanto que
na área queimada essa foi de 43.75% (t =
10.062, p < 0.0001). A diferença da
cobertura do solo na área queimada e não
queimada explica 93.3% (r2 = 0.933) do
número total de indivíduos (Figura 4). A
localização dos indivíduos de G.
peduncularis nas parcelas queimadas é mais
fácil do que nas parcelas não queimadas,
fato esse que pode ter subestimado o
número final de indivíduos na área não
queimada.
A floração induzida pelo fogo é um
fenômeno bastante conhecido em savanas
de todo o mundo, porém pouco se sabe
sobre quais os mecanismos responsáveis
por esse espetacular fenômeno. Countinho
(1980), após diversos experimentos de
campo e laboratório, conclui que para
espécies geófitas, à indução floral ocorre
pela destruição de suas partes aéreas e não
por um efeito térmico ou nutricional.
Segundo o autor, as partes aéreas das
plantas produzem inibidores da floração, os
quais são eliminados após a queima,
induzindo com isso a floração. Para
diversas espécies, esse parece ser realmente
o processo pelo qual a floração é induzida
142
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
no Cerrado, principalmente com a
diminuição da cobertura vegetal do solo e a
destruição de suas partes aéreas. Porém
como pode ser visto nesse estudo, o fogo
pode atuar em algumas espécies, como é o
caso de G. peduncularis, de forma
diferente. Neste caso, o fogo parece atuar
diminuindo a cobertura vegetal e facilitando
a germinação de sementes da espécie
presente no local. Estudos posteriores sobre
o banco de sementes desta espécie e sua
relação com o fogo devem ser feitos, a fim
de obter respostas mais precisas.
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143
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
Tabela 1. Comparação entre as variáveis observadas na área queimada e não queimada, no
PESCAN.
Área queimada Área não queimada
Número total de indivíduos
372a
39b
Densidade (indivíduos/0.1 ha)
465
49
Número de ramos (média ± desvio padrão)
1.82 ± 1.23a
1.33 ± 0.77b
Indivíduos com flor ou botão floral (%)
25.8a
5.1b
Cobertura vegetal do solo (%)
43.75a
79.5b
Figura 1. Desenho experimental. As parcelas foram separadas por uma estrada, a qual
funcionou como aceiro.
144
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
100
90
80
% de indivíduos
70
60
Sem flor (%)
Flores (%)
50
40
30
20
10
0
Área queimada
Área não queimada
Áreas estudadas
Figura 2. Porcentagem de indivíduos de Galactia peduncularis com flor e/ou botões florais
em cada uma das áreas.
Número médio de indivíduos
120
100
80
60
40
20
0
Área queimada
Área não queimada
Áreas estudadas
Figura 3. Número médio de indivíduos de Galactia peduncularis por parcela nas áreas
estudadas.
145
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
120
Número de indivíduos
100
r2 = 0.933
80
60
40
20
0
30
40
50
60
70
80
90
Cobertura vegetal do solo (%)
Figura 4. Relação entre o número de indivíduos de Galactia peduncularis nas parcelas e a
cobertura vegetal do solo (%).
146
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DAS ESTRUTURAS DIAMÉTRICA E
ESTÁDIO DE REGENERAÇÃO NA MATA DE GALERIA DA
CASCATINHA, PARQUE ESTADUAL DE SERRA DE CALDAS NOVAS
Otacílio Antunes Santana
INTRODUÇÃO
Tamanho e forma são características
entre os diversos taxa, entre populações e
indivíduos. Mais do que uma questão de
escala, esta variação é um reflexo do
processo evolutivo e retrata as adaptações
dos organismos às limitações do ambiente.
Portanto, juntamente com os padrões de
crescimento, diferenciação e reprodução
dos seres vivos, o tamanho e a forma são
componentes da história de vida dos
organismos.(Begon et al., 1996)
A morfometria se constitui um
elemento importante nos estudos da
comparação (e.g. ontogenia e filogenia dos
indivíduos), pois uma característica
envolvida numa relação alométrica afeta
outro componente da história de vida dos
organismos, principalmente a competição
entre
indivíduos
interespecíficos
e
intraespecíficos na busca de recursos.
(Sposito, 1994)
Devido à dificuldade de se obter a
idade exata dos indivíduos arbóreos, em
especial de árvores tropicais, é comum
distribuí-las em classes de altura e classes
de diâmetro. A classe de altura representa a
estratificação vertical da floresta que é
indicativa de maior ou menor habilidade
das diferentes espécies em competir por luz
(Souza, 2002).
A
avaliação
da
distribuição
diamétrica de uma comunidade ou de uma
população de árvores é um parâmetro
indispensável para se determinar ou
estabelecer medidas de ordenação da
produção florestal (Hailemariam & LeMay,
2000); estabelecer medidas de manejo, nos
casos das florestas e matas tropicais (Araújo
et al., 1999; Durigan et al., 2000);
caracterizar o estádio de sucessão (Silva
Júnior, 1999; Felfili & Silva Júnior, 1988) e
verificar distúrbios ocorridos no passado
(Murphy & Farrar, 1981).
O índice ou coeficiente de Liocourt
é um dos modelos mais utilizados para
avaliar a distribuição diamétrica de florestas
naturais e baseia-se na progressão
geométrica dos diâmetros, sendo calculado
conforme proposto por Liocourt (1898, In:
Meyer, 1952). O coeficiente (“q”) avalia a
distribuição do número de indivíduos em
cada uma das classes e serve para avaliar se
a distribuição do diamétrica da comunidade
ou população de árvores está ou não
balanceada (Leak, 1963).
Segundo Harper (1977) o equilíbrio
dinâmico entre o crescimento e mortalidade
é uma das características de comunidades
florestais auto-regenerantes e que a maioria
das florestas tende a apresentar distribuição
diamétrica balanceada. Essa seqüência
completa de classes, onde a sobrevivência
decresce proporcionalmente com o aumento
do tamanho das árvores, foi sugerida por
Daubenmire (1968) como uma das
características indicadora de comunidades
clímax.
Outras formas de análises são
utilizadas para “uneven aged forest”,
florestas manejadas ou não, com indivíduos
de idades ou estádios diferentes, entre eles:
i) teste de distribuição exponencial
(Murphy & Farrar, 1981); ii) teste
logaritimisados (Murphy & Farrar, 1981);
iii) Método Alternativo Cross (Cruz &
Hosokawa, 2000) e iv) Weibull probability
density function (Bailey and Dell, 1973).
O objetivo do trabalho foi: i)
quantificar, caracterizar e analisar a
147
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
estrutura em classes diamétricas (taxa de
recrutamento) nas arvoretas e árvores da
mata de Galeria da Cascatinha e ii)
quantificar a estrutura de alturas das juvenis
arbóreas.
Hipotetizamos que: H1) A Mata da
Cascatinha apresentará estrutura florestal
balanceada, conforme classificação de
Meyer (1952); e H2) Árvores e Arvoretas
não mostraram distribuições diamétricas
distintas
em
diferenciada
análise
(logarítmica e exponencial).
em sub parcelas de 2X2m (Wyatt-Smith,
1960; Loetch & Haller, 1974; Braun
Blanquet, 1979) (Figura 1).
A freqüência dos indivíduos em
classes de alturas para as plântulas e
diâmetros para arvoretas e árvores foi
efetuada como proposta por Spiegel (1976).
IC = A/[1+3.3*log(n)]
IC = Intervalo de classes;
A = Amplitude dos dados;
n = número de indivíduos.
A literatura considera que a taxa de
recrutamento (sobrevivência) de uma
população é representada pela divisão de
número de indivíduos entre as sucessivas
classes de diâmetro. A razão desta divisão
proposta por Liocourt 1898 (In: Meyer,
1952), é representada por “q” e a taxa de
mortalidade entre as sucessivas classes de
diâmetro é “1 - q”.
q = ni + 1/ ni
q = taxa de recrutamento;
ni + 1 = número de indivíduos na classe
i + 1;
ni = número de indivíduos na classe i.
MATERIAL E MÉTODOS
A coleta dos dados se realizou no
mês de setembro e outubro de 2002 nos
dias 29 e 30, 1 e 2 respectivamente, na mata
de galeria ao longo do córrego cascatinha,
denominada Mata da Cascatinha, na latitude
S 17°46’09.5” e longitude W 48°39’29,9”,
no Parque Estadual da Serra de Caldas
Novas (PESCAN). Os solos são
classificados como latossolos vermelhoamarelos distróficos (LVd) (Plano de
Manejo do Parque).
A região situa-se no sub-bioma
cerrado com clima do tipo Aw, segundo
classificação de Köppen, caracterizada por
duas estações bem definidas: uma seca, de
maio a setembro, e outra chuvosa, de
outubro a abril, aproximadamente, com
temperatura mensal média de 23.5°C.
(Cochrane et al., 1985)
A amostragem foi estratificada
seguindo a classificação do estudo da
vegetação em regeneração: juvenis (< 1m
de altura), arvoretas (> 1m de altura, com
diâmetro a altura do petio – dap < 5cm) e
árvores (com dap > 5 cm). (Husch et al.,
1972; Souza, 2002)
O sistema de amostragem para árvores
(registro de diâmetro e altura) foi
sistemático, com método de parcelas 10X10
m, escolhidas aleatoriamente ao longo do
curso d’água e trilha (Curtis & McIntosh,
1950). Para amostragem das arvoretas
(registro dos diâmetros) foram estabelecidas
dentro das parcelas (10X10m), sub parcelas
de 5X5m e, dentro destas, foram
amostradas as mudas (registro de altura),
As análises de KolgomoronovSmirnov, correlação e diferenciada logarítmica
e exponencial foi realizada pelo programa
(Systat 9.0) e demais análises estatísticas pelo
Microsoft Excel 2000.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Neste trabalho 20 quadrantes
(2000m2) foram levantados, registrando um
total de 472 árvores, 2.252 arvoretas e
4.137 juvenis, com uma estimativa de
2.360,
11.259
e
20.686
ind.ha-1
respectivamente. (Tabela 1)
Foi notado que a correlação entre o
número de indivíduos de árvores e arvoretas
nas parcelas foi inversamente significativa
(0,686519), ou seja, quando havia um maior
número de indivíduos arbóreos numa
parcela, o numero de arvoretas diminuíam.
O mesmo acontece entre número de árvores
e juvenis nas parcelas (0,661515). Já na
correlação entre arvoretas e juvenis mostrou
proporcionalmente significativa, ou seja,
quando maior o número de arvoretas nas
148
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
parcelas será o número de juvenis nela
(0,932255).
A distribuição diamétrica apresenta
padrão semelhante aos modelos propostos
em vários estudos (Felfili et al., 2002;
Hailemariam & LeMay, 2000; Pinto &
Oliveira Filho, 1999; Pereira et al., 2001b;
Meyer, 1952) assemelhando o modelo de
“J” invertido, concentrando os maiores
números de indivíduos na primeira classe
de diâmetro decrescendo para as próximas
classes de numa progressão geométrica, nas
árvores. Para as arvoretas, as primeiras
classes apresentaram nenhum ou baixa
quantidade de indivíduos, concordando com
alguns trabalhos sobre regeneração em mata
de galeria (Souza, 2002; Silva Júnior, 1999;
Felfili & Silva Júnior, 1988), mas
posteriormente,
nas
outras
classes
permanecendo o formato em “J” invertido
(Figura 2).
A análise diferenciada: logarítmica
(Meyer & Stephenson 1943) e exponencial
(Murphy & Farrar, 1981) para as classes
arbóreas
mostraram
distinção
nas
respectivas regressões (log: r2: 0.9078 e
exp. r2: 0.846), ambas altamente
significativas, mas indicando para a Mata
da Cascatinha o melhor ajuste para as
classes diamétricas: o logarítmico (Figura
2) .
O valor médio do índice de Liocourt
ou taxa de recrutamento calculado para a
comunidade foi de 0.91 para árvores e 4,70
para arvoretas, mostrando o processo de
dinâmica da comunidade em diferentes
estratos (nascimento e mortalidade). A
distribuição aproximou de uma balanceada,
mas confirmando em algumas classes
distúrbios presenciados (Figura 2). As
últimas classes, por apresentarem poucos
indivíduos, estão sujeitas a grandes
variações no valor do quociente “q”.
(Harper, 1977)
As arvoretas por apresentarem nas
primeiras classes baixos valores e
posteriormente
um
aumento
de
aproximadamente 100 vezes maior que o
número
de
indivíduos
encontrados
(segundo a taxa de recrutamento),
provavelmente apresenta um padrão de
crescimento com um surto inicial rápido, tal
que o crescimento em altura das mudas
minimizam os efeitos de competição por
luz com as demais arvoretas. (Bertani et al.,
2001)
Na análise de KolgomoronovSmirnov as arvoretas apresentaram valor
crítico de 0.029 (0.05, <0.01), muito baixo
em comparação ao valor crítico das árvores
que foram de 0.063 (0.05, <0.01),
mostrando o efeito do não aparecimento, ou
pouco aparecimento, de indivíduos nas
primeiras classes.
Em relação à taxa de recrutamento
houve uma diminuição do valor de “q” das
arvoretas de 36.91 para 0.94 da primeira
para segunda classe contrariando o que
normalmente é esperada para comunidade
de árvores em equilíbrio, mas presente em
algumas comunidades em dinâmico
processo de regeneração (Pereira et al.,
2001a), classificando esta floresta como
auto regenerantes (Meyer, 1952).
Meyer (1952) também afirma que a
distribuição balanceada dos diâmetros na
prática é observada quanto se estuda grande
extensão de florestas. Segundo Felfili
(1993) um pequeno número de espécies
arbóreas em comunidades de matas de
galeria tende a apresentar curva em forma
de J-invertido, mas em conjunto, uma
floresta ou comunidade tende ao equilíbrio,
apresentando distribuição balanceada.
A distribuição da altura dos juvenis
na comunidade apresenta o maior número
de indivíduos nas classes de 11 a 30 cm de
altura. Felfili (1993) com estudo em mata
de galeria (Mata do Gama), afirma que o
padrão de crescimento está provavelmente
relacionado ao comportamento das espécies
e sua dependência por luz: espécies
tolerantes a sombreamento apresentam
crescimento inicial mais lento e espécies do
estrato superior apresentam crescimento
inicial rápido devido à sua maior exigência
por luz, o que acontece no nosso estudo
(Tabela 1 e Figura 3).
Em relação à estrutura arbórea, foi
realizada uma regressão que mostrou
149
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
significativa r2 = 0.9677 entre altura das
árvores e respectivo dap, sendo variáveis
quase diretamente proporcionais. (Figura 4)
Os padrões para distribuição
diamétrica estão de acordo com a literatura
regional (Felfili 1993; Felfili & Silva, 1988;
Souza, 2002; Silva Júnior, 1999; Pinto e
Oliveira Filho, 1999), classificando a mata
como auto regenerante segundo sua
dinâmica de comunidade (Meyer 1952;
Leak, 1963).
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UnB - Métodos de Campo em Ecologia
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Projetos Finais (UnB)
Tabela 1: Número de indivíduos de árvores, arvoretas e juvenis em cada parcela (10X10 m).
Parcelas
Árvores
Arvoretas
Juvenis
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
22
13
36
11
29
32
18
17
19
23
34
20
33
29
19
16
15
38
20
28
162
164
68
151
88
100
102
77
174
72
80
123
76
64
132
116
152
67
148
136
345
301
45
402
199
267
168
307
109
311
86
307
80
93
109
326
321
94
102
165
472
28
2.252
113
4.137
207
Soma
Média
Figura 1: Esboço das parcelas feitas para mensuração das árvores (10X10 m), arvoretas (5X5
m) e juvenis (2X2m) ao longo do curso d’água e trilha na mata de galeria da Cascatinha
(PESCAN).
152
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
A
200
2
------ Rexp =0.9078
Número de Indivíduos
160
q´1=0.59
q´2=0.57
q´3=1.53
q´4=0.21
q´5=0.20
q´6=3.00
q´7=0.33
120
80
40
0
5.0-8.3
8.4-11.7 11.8-15.1 15.2-18.5 18.6-21.9
22-25.3
25.4-28.7 28.8-35.3
Classe de Diâmetro - cm (Árvores)
B
1000
Número de indivíduos
800
q´1=36.91
q´2=0.94
q´3=0.42
q´4=0.28
q´5=0.48
q´6=0.70
q´7=0.75
q´8=0.80
q´9=1.05
600
400
200
0
0-0.5
0.6-1
1.1-1.5
1.6-2
2.1-2.6
2.6-3
3.1-3.5
3.6-4
4.1-4.5
4.6-5
Classe de Diâmetro - cm (Arvoretas)
Figura 2. Distribuição diamétrica em classes do gradiente arbóreo (A) com distribuição
exponencial das arvoretas (B) da Mata da Cascatinha (PESCAN).
153
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
2400
Número de Indivíduos
2000
1600
1200
800
400
0
0-10
11-20
21-30
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
81-90
91-100
Classe de Altura (cm)
Figura 3: Distribuição em classes da altura dos juvenis em relação ao número de indivíduos na
mata de galeria da Cascatinha (PESCAN).
14
12
Altura (m)
10
8
y = 4,2895Ln(x) - 2,7811
2
R = 0,9677
6
4
2
0
0
5
10
15
20
25
30
35
DAP (cm)
Figura 4: Relação entre altura (m) e dap (cm) do estrato arbóreo da mata de galeria da
Cascatinha (PESCAN).
154
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
IMPACTO DO FOGO EM ASPIDOSPERMA TOMENTOSUM
MART. (APOCYNACEAE0 NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA
DE CALDAS NOVAS (PESCAN)
Patricia Rodin
da Serra de Caldas Novas (PESCAN),
Caldas Novas, Goiás. As duas áreas
estudadas estão separadas por uma estrada
de aproximadamente 3 m de largura.
Ambas foram submetidas a um evento de
queima, sendo que a área 1 foi queimada
em 1999 e a área 2 em setembro de 2002,
mês imediatamente anterior ao do estudo.
O trabalho foi realizado no final de
setembro de 2002, transição da estação seca
para a chuvosa. Foram estabelecidos
aleatoriamente 10 transecções de 100 m em
cada área, onde cinco distavam 10 m entre
si, e 200 m dos outros cinco transectos.
Todos os indivíduos de Aspidosperma
tomentosum que se situavam 2,5 m para
cada
lado
da
transecção
foram
considerados. Desta forma, em cada área foi
amostrado 0,5 ha.
Foram medidos a altura e o diâmetro
do caule no nível do solo e observado o
estágio fenológico de todos os indivíduos
amostrados de A. tomentosum, para que o
impacto do fogo na estrutura populacional e
nos estágios vegetativo e reprodutivo
pudesse ser determinado. Os valores de
altura e diâmetro foram agrupados em
intervalos de classe, definidos pela fórmula
A/K, onde A representa a amplitude para o
parâmetro (altura ou diâmetro), e K é
definido pelo algoritmo de Sturges: K: 1 +
3,3 x log n10, onde n é o número de
indivíduos (Fonseca & Martins 1986). O
estudo da fenologia consistiu na observação
das seguintes fenofases: i) Brotação foliar;
ii) Floração; iii) Frutificação. A intensidade
da fenofase foi classificada de acordo com a
porcentagem de ramos onde ela foi
observada, onde zero (0) correspondeu à
ausência do evento; um (1) a presença do
evento em 1-25% dos ramos; dois (2) a 2675% dos ramos; três (3) a 76-100% dos
INTRODUÇÃO
O fogo é considerado como um dos
fatores determinantes da estrutura e
funcionamento das savanas (Frost et al.,
1985). No Cerrado, sua presença é muito
antiga, datada em 32.000 A.P. (SalgadoLabouriau et al., 1998), indicando que a
vegetação há muito coexiste com esta
perturbação. O fogo, portanto, exerce uma
forte pressão de seleção a qual as plantas do
cerrado estão adaptadas. No entanto, o
homem alterou a época natural de
ocorrência do fogo no Cerrado (RamosNeto e Pivello, 2000), e aumentou sua
freqüência. Ele atualmente ocorre na
estação seca, e no intervalo de 1-3 anos
(Coutinho, 1990; Eiten & Sambuichi,
1996), submetendo a vegetação a um tipo
de perturbação diferente da qual está
adaptada (Hoffman & Moreira, 2002).
O fogo provoca mudanças na
florística, na fitossociologia e na estrutura
da comunidade vegetal (Frost e Robertson,
1987). As mudanças na comunidade são
consequências diretas das alterações que
ocorrem nas populações das espécies que a
compõem. Desta forma, é essencial o
estudo do impacto do fogo nas populações,
para compreendemos as mudanças na
comunidade.
O objetivo deste trabalho foi
determinar o impacto do fogo em
Aspidosperma tomentosum, uma espécie
abundante e de ampla distribuição no
cerrado s.s., contribuindo, assim, para o
entendimento das mudanças que ocorrem
na comunidade do cerrado s.s., quando
submetida ao atual regime de queima.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em duas áreas
de cerrado sensu stricto, no Parque Estadual
155
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
diâmetro 1,5-3,7, foram as mais afetadas
(Figura 1 e 2), o que pode ser constatado na
área 2 pelo baixo número de indivíduos
destas classes. Este impacto também
ocorreu na população da área 1, pois o
número de indivíduos da classe de diâmetro
3.8-6.9, e da classe de altura 1.4-3.1, é
baixo e menor que as classes de altura
superior, podendo ser explicado por uma
provável mortalidade em 1999 das classes
citadas para a área 2, onde apenas aqueles
indivíduos que sobreviveram a queima
atingiram estas classes. Este resultado
também foi encontrado por Silva et al.
(1996), Sato & Miranda (1996), e Medeiros
(2002), os quais verificaram que a
mortalidade das plantas lenhosas é
determinada pelo porte do indivíduo, altura
e diâmetro. Nestes trabalhos, os indivíduos
com altura inferior a 2,0 m e com diâmetro
menor que 5 cm apresentaram a maior taxa
de mortalidade, pelo fato de estarem
situados na zona crítica de temperatura
(Miranda et al. 1993), e não possuírem
espessura de casca suficiente para
protegerem
o
câmbio
(Frost
&
Robertson,1987; Sato & Miranda, 1996).
No intervalo de altura entre 3,2-6,7 m,
o fogo não parece causar grande impacto,
pois a maioria das queimadas em savanas é
de superfície, com a altura das chamas entre
0,8 e 2,8 m (Frost & Robertson,1987).
Assim, os indivíduos das classes maiores
estariam numa altura de escape da frente de
fogo. Tal assertiva pode ser comprovada
pela semelhança na estrutura da população
das duas áreas a partir da classe de altura
3,2-4 m (Figura 1). Isto se deve,
principalmente, ao fato destes indivíduos
apresentarem diâmetro do caule maior que
5,5 cm, o que lhes conferem uma maior
proteção contra o fogo (Sato & Miranda,
1996; Silva et al., 1996).
No Cerrado, o diâmetro constitui-se
no melhor parâmetro para a determinação
da resistência das plantas lenhosas ao fogo,
uma vez que elas não investem no
crescimento em altura, alcançando em
média 3-8 m (Sarmiento et al. 1895). No
entanto, investem muito em crescimento
ramos. Os indivíduos foram considerados
como rebrotas, quando distavam menos de
30 cm de um indivíduo adulto (Eiten &
Sambuichi, 1996).
Os dados foram analisados usando o
programa BioEstat 2.0 (Ayres et al., 2000).
Foram utilizados os testes estatísticos QuiQuadrado e Kolmogorov-Smirnov para
averiguar, respectivamente, se havia
diferença significativa entre a brotação
foliar e a floração das duas área estudadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As populações das duas áreas
estudadas
apresentaram
abundância
diferente, a área 2 composta por 91
indivíduos (182 indiv/ha), enquanto a área
1, por 49 indivíduos (98indiv/ha). Esta
diferença não pode ser atribuída apenas à
mortalidade de indivíduos pelo fogo, ela
deve ser atribuída, principalmente, à típica
variação da distribuição das espécies que
ocorre no Cerrado, freqüentemente
associada ao mosaico de condições edáficas
(Goodland, 1971; Frost et al., 1985).
As duas populações de A. tomentosum
estudadas foram, nos últimos 4 anos,
submetidas a um (1) evento de queima, na
estação seca. Uma vez que, populações de
uma mesma espécie devem responder de
forma semelhante a um mesmo regime de
fogo e época de queimada, a estrutura da
população da área 2, queimada em 2002,
constitui-se no melhor instrumento de
elucidação da atual estrutura do população
da área 1, queimada em 1999, por
representar a resposta imediata da
população à queima, que influencia na
estrutura por alguns anos.
As
populações
estudadas
não
apresentaram um padrão de distribuição “J
inverso” (Figura 1), que caracteriza uma
população estável e auto-regenerante
(Whitmore, 1975). A estrutura instável
destas populações se deve, possivelmente, a
ocorrência do evento de queima, que afeta
de forma diferenciada as diversas classes de
tamanho.
As classes de tamanho menores, de
intervalo de altura 0,5-3,1 e intervalo de
156
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
secundário do caule, desenvolvendo uma
espessa camada de cutícula, que protege o
câmbio da alta temperatura do fogo (Eiten,
1994; Rizzini, 1997).
A estrutura da população 1 apesar de
não ser do tipo “J inverso” está se
regenerando após o evento de queima de
1999, representado pelos indivíduos da
classe de altura 0.5-1.3 m e de diâmetro
1.5-3.7 cm (Figuras 1e 2). Este resultado
indica que a população de A. tomentosum é
capaz de se regenerar sob o regime de
queima atual do cerrado, 1-3 anos. Esta
regeneração parece ocorrer exclusivamente
por reprodução sexuada, uma vez que,
foram encontrados apenas dois indivíduos
da área 1 com rebrota basal e os jovens se
encontravam mais de 30 cm de distância de
um adulto.
O intervalo de queima atual do
Cerrado impede que muitas espécies
tenham sucesso na reprodução sexual, e
favorece a rebrota (Hoffman, 1998). A
capacidade de rebrota é uma adaptação de
tolerância ao fogo, no entanto, A.
tomentosum evita o stress causado pelo
fogo através de um denso espessamento de
pêlos que protege as gemas apicais
(Coutinho, 1982). Esta parece ser a
adaptação que permite o sucesso
reprodutivo e a conseqüente regeneração
observada na população da área 1,
queimada em 1999.
Além do regime de queima, a época
da queima é um fator de extrema
importância para determinar as respostas da
vegetação ao fogo, pois dependem do
estágio fenológico em que as espécies se
encontram (Frost et al. 1985, Coutinho
1990). Muitas espécies lenhosas investem
em renovação de folhas (Sarmiento et al.
1985) e produção de estruturas reprodutivas
durante a estação seca (Sarmiento et al.
1985; Bucci, 1997, Oliveira & Gibbs,
2000), portanto a queima no fim da estação
seca acarreta num grande dano a estas
espécies. A área 2 foi queimada em
setembro de 2002, o que deve ter causado
destruição da copa de muitos indivíduos.
No entanto, como A. tomentosum é capaz
de proteger suas gemas apicais (Coutinho,
1982), ela rapidamente refez sua copa
através da produção de novas folhas.
Porém, a brotação foliar dos indivíduos
desta área foi significativamente menos
intensa que da área 1 (χ2 = 139,1; p=
0,0001) o que era esperado devido a perda
da energia investida em folhas novas
anteriormente a queima.
Quanto aos estágios fenológicos
reprodutivos, o investimento em botões e
flores, por classe de altura e diâmetro foi
semelhante nas duas áreas (D=0,1054 e
p=0,9487; D=2,0027 e p=0,3674) (Figura
3). A semelhança encontrada deve ser
atribuída à época em que foi realizado o
estudo, que coincide com o fim da floração
de Aspidosperma tomentosum (Oliveira &
Gibbs, 2000). No entanto, muitos botões e
flores devem ter sido destruídos na área
queimada em 2002, o que poderia ser
indicado, em parte, pela frutificação, cuja
intensidade esperava-se que fosse maior na
área queimada em 1999 que na 2002.
Porém, apenas dois indivíduos de cada área
foram observados em frutificação, o que
pode ser decorrente de uma produção
supranual de frutos na área queimada em
1999. Estes resultados impediram a
determinação do impacto do fogo sobre os
estágios reprodutivos da espécie.
Apesar do estudo ter sido realizado no
fim da floração, pode se observar que a
porcentagem de indivíduos com presença
de flores ou botões foi positivamente
relacionada com a altura (figura 3), o que
está de acordo com o fato de que o tamanho
da planta determina, em grande parte, a sua
capacidade de reprodução (Harper, 1977).
Uma vez que, o fogo destrói a parte aérea
das plantas, ele reduz o tamanho dos
indivíduos, acarretando, assim, num
impacto negativo no crescimento futuro da
população (Hoffman & Moreira, 2002). Na
figura 3 pode-se observar que A.
tomentosum é capaz de reproduzir
sexuadamente a partir da classe de altura
1,4-2,2 m.
De acordo com os resultados
apresentados, pode-se sugerir que A.
157
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
Walker (ed.). Ecology of Tropical
Savannas. p.273-306.
tomentosum é uma espécie tolerante ao
fogo, pois apesar dos indivíduos das
menores classes de tamanho sofrerem
grande impacto, os indivíduos maiores são
capazes de refazer a copa um (1) mês após
a queima, além de serem capazes de
regenerarem sexuadamente sob o regime de
queima atual do cerrado. Esta classificação
está de acordo com a de Sambuichi (1991).
Apesar de A. tomentosum ser uma espécie
tolerante, ela contribui para a abertura do
estrato lenhoso do Cerrado após a passagem
do fogo observada por Moreira (2000).
Coutinho, L. M., 1990. Fire in the of
Brazilian Cerrado. In: Fire in the
tropical biota - ecosystem process
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Goldmmer (ed.).Ecological studies
Vol 8a. Berlin, Springer-Verlag.
Eiten, G. 1994. Vegetação. In: NovaesPinto, M. (ed.). Caracterização,
ocupação e perspectivas. Editora
universidade de Brasília. Brasília,
DF. p. 17-73.
AGRADECIMENTOS
Ao Departamento de Ecologia da UnB
e da UFU pela realização do curso de
campo em conjunto, que nos propiciou uma
oportunidade ímpar de entender um pouco
mais da ecologia do Cerrado. Aos
professores que ministraram o curso, por
contribuírem na formação de melhores
ecólogos. Aos professores John Hay e Jader
Marinho pela ótima coordenação do curso.
Aos alunos do curso pelos inesquecíveis
momentos de graça. Aos amigos Cláudio e
Marcela pela ajuda no campo. Aos
professores Maryland Sanchez e Fernando
Pedroni pela ajuda no campo e discussão do
trabalho. Aos professores John Hay e
Carlos Klink pela revisão do trabalho. A
Dona Eunice pelos deliciosos quilinhos a
mais.
Eiten, G. & Sambuichi, R.H. 1996.
Effect of long-term periodic fire on
plant diversity in a Cerrado. In: R.C.
Pereira & L.C.B. Nasser (eds.).
Biodiversity
and
sustainable
production of food and fibers in the
tropical savannas. VIII Simpósio
sobre o cerrado. Anais / 1st
Internacional
Symposium
on
Tropical Savannas. Proceedings.
Brasília. 46-55 p.
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Oxford.
159
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
25
20
15
10
5
96,
7
5,
05,
8
5,
14,
9
4,
24,
0
3,
33,
1
2,
1,
0,
42,
2
0
51,
3
Número de indivíduos
A
Classe de altura (m)
25
20
15
10
5
5,
96,
7
5,
05,
8
4,
14,
9
3,
24,
0
2,
33,
1
1,
42,
2
0
0,
51,
3
Número de indivíduos
B
Classe de altura (m)
Figura 1: Número de indivíduos por classe de altura na área queimada em 1999 (A) e em 2002
(B) no PESCAN.
160
UnB - Métodos de Campo em Ecologia
2002
Projetos Finais (UnB)
A
Número de indivíduos
25
20
15
10
5
10
,2
-1
1,
7
11
,8
-1
3,
3
8,
610
,1
08,
5
7,
46,
9
5,
85,
3
3,
23,
7
2,
1,
52,
1
0
Classe de diâmetro (cm)
B
Número de indivíduos
25
20
15
10
5
10
,2
-1
1,
7
610
,1
8,
08,
5
7,
46,
9
5,
85,
3
3,
23,
7
2,
1,
52,
1
0
Classe de diâmetro (cm)
Figura 2: Número de indivíduos por classe de diâmetro na área queimada em 1999 (A) e em
2002 (B) no PESCAN
A
5,
96,
7
Classe de altura
5,
05,
8
4,
14,
9
3,
24,
0
2,
33,
1
1,
42,
2
0,
51,
3
% de indivíduos
100
80
60
40
20
0
100
80
60
40
20
5,
05,
8
4,
14,
9
3,
24,
0
2,
33,
1
1,
42,
2
0
0,
51,
3
% de indivíduos
B
Classe de altura
Figura 3: Porcentagem de indivíduos em estágio vegetativo (preta) e em estágio reprodutivo
(branca) por classe de altura na área queimada em 1999 (A) e em 2002 (B) no PESCAN.
161
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
Projetos Finais (UFU)
Set/02
162
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
RELAÇÃO ENTRE A FAUNA DE INVERTEBRADOS E NINHOS DE
TÉRMITAS (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS ÁREAS DE
CERRADO DO PESCAN-GO
Carlos Henriques G. Angeluci
INTRODUÇÂO
A organização social envolve duas
Ordens em Insetos, uma delas é a Isoptera,
a qual compreende os cupins. A outra é a
Hymenoptera, que inclui formigas e
abelhas. Todo inseto social exibe um grau
de polimorfismo e os diferentes tipos de
indivíduos da colônia são chamados castas.
Térmitas (cupins) vivem em ninhos
usualmente construídos no solo, os quais
em muitas espécies podem ser grandes e
estruturalmente complexos. Muitos térmitas
dependem da celulose como fonte de
alimento e flagelados simbióticos para a sua
decomposição (Rupert & Barnes 1994).
Os cupins constituem um importante
componente da fauna de solo de regiões
tropicais, sendo notável sua participação na
decomposição e ciclagem de nutrientes. Eles
apresentam grande abundância em florestas e
savanas tropicais, como é o caso da Floresta
Amazônica, onde, juntamente com as
formigas correspondem a cerca de 30% da
biomassa
animal
(Constantino
&
Schlemmemeyer 2000). Em regiões de
cerrado
eles
atingem
densidades
impressionantes
sendo
potencialmente
considerados espécies chaves (Redford 1984)
e representam provavelmente a forma animal
dominante em muitas áreas do Brasil Central,
tanto em número de espécies como biomassa
( Negret & Redford 1982).
Os
térmitas
representam uma
considerável fonte de alimento para outros
invertebrados assim como, para muitos
vertebrados, além disso, seus ninhos
fornecem um atraente hábitat para uma ampla
assembléia de organismos, desde anfíbios,
répteis, mamíferos a várias espécies de
163
artrópodes. No entanto, a natureza de tais
associações com térmitas nos neotrópicos é,
na maioria dos casos, pouco conhecida
(Araújo 1970).
O trabalho teve como objetivos: (a) avaliar a
composição de fauna de invertebrados
encontrada em ninhos de térmitas; (b)
determinar se há alguma diferença entre as
duas fisionomias, cerrado sentido restrito e
campo sujo, com relação às espécies
encontradas.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido em duas áreas
do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN) entre os municípios de Caldas
Novas e Rio Quente-GO, na primeira semana
de outubro de 2002. Uma das áreas
compreende formação de cerrado sentido
restrito e a outra de campo sujo, distando as
duas aproximadamente 500m. Em cada área
foram feitos transectos de 20X50m dispostos
paralelamente a uma das estradas que cortam
o Parque. Na área de cerrado de coordenadas
17° 47’07” S e 48° 40’ 06” O, regristradas a
partir de um dos pontos da estrada, foram
feitos quatro transectos e na de campo sujo,
17° 46’ 47” S e 48° 40’ 20” O, cinco.
Foram considerados todos os ninhos
terrestres encontrados e suas alturas e
circunferências
medidas.
Os
ninhos
danificados, com arranhões na superfície ou
com buracos na base foram anotados.
Naqueles que apresentavam buracos, foi
introduzido gás butano, para forçar a saída de
possíveis animais abrigados em seu interior.
Posteriormente os ninhos foram destruídos e
os organismos encontrados recolhidos em
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
vidros com álcool a 70% e levados para
identificação.
Para o cálculo do valor de χ2 foi
utilizado o pacote Systat-5.03, 1990.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 59 ninhos na área
de campo sujo e 34 na de cerrado, sendo que
na primeira área a densidade de ninhos foi
aproximadamente 72% maior que na
segunda. Já a densidade de formigas por
ninho foi igual para as duas áreas, 0,61
formigueiro/ninho.
Pela análise dos organismos retirados
dos ninhos, o grupo Hymenoptera foi o que
apresentou a maior distribuição e maior
número de espécies, 13, sendo que, destas, 11
foram da família Formicidae. O segundo
maior grupo foi o Aranae com 4 espécies,
como mostra a figura 1. A espécie de formiga
mais encontrada foi a Camponotus renggeri,
aparecendo com maior freqüência na área de
campo sujo.
As espécies de formigas identificadas
e as freqüências de cada espécie em relação
às duas áreas estão dispostas na figura2.
Como observado em outras regiões,
através de estudos feitos por Dejean e Durand
(1996), a ocorrência de formigas em
cupinzeiros para a área estudada também
apresentou grande número de espécies,
apesar de ser pouco notado a dieta dessas
invasoras, sendo algumas provavelmente
exclusivamente termitófilas
Do total de ninhos observados, 57%
apresentaram algum tipo de dano, perfuração
ou escavação, provavelmente causados
respectivamente por tatus e tamanduás, os
principais vertebrados predadores de térmitas
neste ambiente. Os tatus cavam buracos
característicos com diâmetro maior que 10cm
na base dos ninhos. Já os tamanduás
usualmente arranham a superfície dos
mesmos (Redford 1984). Os ninhos de
térmitas quando intactos, sem danos,
oferecem uma barreira difícil de ser
transposta pelos invertebrados invasores,
ocorrendo que, quando danificados, muitos
animais como formigas, vespas, besouros e
164
Projetos Finais (UFU)
aranhas aproveitam esse período vulnerável
para realizarem rápidos ataques e invasões.
Pelas
freqüências
de
ninhos
danificados e não danificados encontradas
nas duas áreas, pode-se observar que a
presença de formigas não está associada com
danos nos cupinzeiros, arranhões ou buracos,
como seria de se prever, nem tampouco com
o tipo de fisionomia. Os ambientes são
relativamente iguais com ralação à freqüência
total, presença de formigas nos ninhos, como
mostra a tabela 1.
Esta ausência de dependência entre os
danos nos ninhos e a presença de formigas
pode também estar relacionada com o fato de
que, quando o ataque por mamíferos não
chega a ser tão prejudicial, eliminando
pequena porção da colônia e não matando a
rainha, os operários podem reparar
rapidamente o buraco ou arranhões,
eliminando desta forma, os vestígios de
danos.
O resultado do Teste χ2 para avaliar a relação
entre a porcentagem de ninhos danificados
entre os dois ambientes também não foi
significativo.(χ2 = 2,533; gl=1; P=0,112).
A relação entre as formigas e os
cupins pode ser apenas de inquilinismo,
como também não harmônica como predação
ou “roubo” de recurso alimentar ( Araújo
1970). Os Formicidae foram encontrados
preferencialmente na porção lateral dos
ninhos de térmitas, provavelmente em
câmaras isoladas, e quando essas divisórias
são destruídas pode haver ataque das
formigas aos cupins.
Em dois ninhos foram encontrados,
no interior de buracos cavados por tatus,
restos de frutos de Syagrus flexuosa . Tais
frutos foram comidos e apresentavam marcas
de mordidas que indicavam ser de roedores
(J.Marinho com. pessoal), o que se supõe que
estes mamíferos possivelmente utilizam esses
ambientes como abrigo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos professores da UNB e
UFU que possibilitaram a realização deste
curso, em especial a John Hay e Heraldo L.
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Vasconcelos pelas orientação no trabalho ,
aos funcionários e aos colegas de turma.
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Projetos Finais (UFU)
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cerrado no Estado de Minas Gerais,.
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Tabela 1. Número de ninhos danificados (D) e não danificados (N), com presença (C) ou
ausência de formigas (S) em seu interior.
D/C
D/S
N/C
N/S
CAMPO SUJO
17
16
13
13
CERRADO
12
12
4
5
165
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
3%
3%
Projetos Finais (UFU)
3%
7%
7%
44%
10%
10%
13%
Hymenoptera
Aranae
Ortoptera
Blattaria
Opilione
Chilopoda
Diplopoda
Diptera
Coleoptera
Figura 1. Abundância de espécies de invertebrados presentes em cada táxon encontrado nos
ninhos.
cerrado
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Ca
m
po
no
Ca
tu
s
m
po
r
no eng
ge
tu
s
ri
cr
Ca
a
m
s
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po
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Ca
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s
m
po
sp
no
1
Ca
tu
s
m
sp
po
2
no
Ca
tu
s
m
sp
po
3
no
Ca
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m
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4
Ca
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eu
sp
do
1
m
yr
m
ex
1
frequência absoluta
campo sujo
espécie
Figura 2. Frequência de espécies de formigas nas áreas de cerrado sentido restrito e campo
sujo.
166
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
UM TESTE DO MODELO DE JANZEN-CONNELL COM DUAS
ESPÉCIES ARBÓREAS DO CERRADO
Claudio Franco Muniz
INTRODUÇÃO
Vários modelos foram propostos
para explicar a manutenção da alta
diversidade nas florestas tropicais. O
modelo mais conhecido é o de Janzen
(1970) E Connell (1971), que assume que,
devido à forte chuva de sementes embaixo
das árvores frutificando, os predadores e
patógenos tenderão a se concentrar mais
próximos às plantas parentais, onde a
mortalidade de plântulas é geralmente
completa. Propágulos dispersos longe da
planta-mãe escapam da predação mais
facilmente e, com isso, apresentam maior
taxa de sobrevivência. Um pico de
recrutamento de plântulas pode ocorrer em
alguma distância a partir dela, sendo
geralmente, fora da área de abrangência da
copa e das suas adjacências. Por outro lado,
propágulos de outras espécies vegetais são
capazes de colonizar o espaço vazio em
torno da planta-mãe, mantendo assim a
diversidade. Howe & Smallwood (1982)
chamaram a isto de hipótese de fuga. Nas
florestas tropicais, os predadores e
patógenos são particularmente efetivos e
abundantes, sendo assim, uma força
significativa na manutenção da
excepcional diversidade vegetal dessas
comunidades (Clark & Clark, 1984).
Embora os efeitos de densidade e
distância sobre a sobrevivência de sementes
e plântulas tenha sido o foco de vários
estudos nos trópicos (Cintra, 1997), a
importância
relativa
desses
efeitos
permanece controversa. Muitos estudos de
campo têm mostrado evidências do modelo
de Janzen-Connell (Leite & Rankin, 1981;
Augspurger, 1983, 1984; Augspurger &
Kelly, 1984; Howe et al., 1985; Clark &
Clark, 1987; Forget, 1989; Kitajima &
Augspurger, 1989; Schupp, 1992; Condit et
al., 1992, 1994), embora uma grande
variação tenha sido encontrada para a
distância máxima em relação ao parental e
para a densidade mínima de jovens coespecíficos, nos quais os efeitos
dependentes de densidade podem ser
detectados. Por outro lado, foram
encontrados casos em que os efeitos da
densidade e da distância não estão
conforme esse modelo (Connell, 1971;
Hubbell, 1979; Condit et al., 1992; Burkey,
1994). Hubbell (1979), publicou um
extenso estudo de dispersão de árvores em
uma mata seca na Costa Rica, mostrando
que a ampla dispersão seria uma forma de
diminuir a predação. Muitas espécies
encontraram-se agregadas, ocorrendo uma
alta densidade média de indivíduos coespecíficos nas proximidades da plantamãe.
Sabendo-se que os mecanismos de
manutenção da alta diversidade e
complexidade das florestas tropicais variam
com o tempo, local e espécie, espera-se que,
da mesma forma, os padrões espaciais
reflitam tais variabilidades. Neste sentido,
Burkey (1994), testando as premissas do
modelo de Janzen-Connell com sementes
dispersas por uma espécie arbórea tropical,
propôs que seriam necessários mais estudos
para diferentes espécies e localidades, e em
maiores escalas espaciais e temporais, para
se obter resultados mais conclusivos sobre
os mecanismos que controlam a
distribuição espacial das espécies.
A
maioria
dos
trabalhos
relacionados ao teste do modelo de JanzenConnell enfocaram espécies arbóreas de
florestas tropicais úmidas. Apesar da
importância do Cerrado, existe uma
carência de informações fisiológicas,
ecológicas, florísticas e fitossociológicas,
167
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
entre outras (Felfili et al., 1993), sobretudo
sobre a manutenção da sua diversidade.
Neste sentido, o presente trabalho teve por
objetivo testar as predições e premissas do
modelo de Janzen-Connell, por meio da
distribuição espacial de sementes e de
indivíduos jovens em torno de plantas
adultas
das
espécies Aspidosperma
macrocarpon e Hymenaea stigonocarpa.
Segundo Eiten (1993) a flora do
Bioma Cerrado brasileiro é composta de
dois estratos: arbóreo-arbustivo e herbáceograminoso,
apresentando
elevada
diversidade de espécies vasculares, inferior
apenas à floresta tropical úmida. É
considerado como a flora mais rica entre as
savanas mundiais (Klink, 1996). Em uma
recente compilação de sua flora, Mendonça
et al. (1998) contabilizaram 6.429 espécies
vasculares.
Projetos Finais (UFU)
comprimento, cinza-escuro. As sementes
são em grande número, com comprimento
variando de 6 a 9 cm, de cor creme,
arredondadas, planas, aladas e onduladas
(Almeida et al., 1998).
Hymenaea stigonocarpa Mart. ex
Hayne, 1830, conhecida como jatobá,
também ocorre em áreas de cerrado sentido
restrito e cerradão. O período de floração
vai de outubro a abril com pico de
dezembro a março. A frutificação ocorre de
abril a julho. Árvore hermafrodita de até 10
m, com casca do tronco áspera. As folhas
são alternas, compostas bifolioladas,
pecioladas, com estípulas caducas. As
flores variam de 2 a 3,5 cm, de corola alva e
actinomorfa. O fruto é um legume
indeiscente com cerca de 15 x 6 cm, breveestipitado, castanho-avermelhado, brilhante;
endocarpo e mesocarpo creme, farináceo;
sementes em pequeno número, com cerca
de 1,5 x 2 cm (Almeida et al., 1998).
MATERIAL E MÉTODOS
Caracterização da área de estudo e das
espécies
O estudo foi conduzido em uma área
de cerrado sentido restrito, no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN), Goiás, em Outubro de 2002. O
Parque foi criado em 1970 e está localizado
entre os municípios de Caldas Novas e Rio
Quente, no Sudeste Goiano. Possui uma
área de 123 km2 em formato elipse, sendo o
topo constituído de um grande platô, as
laterais com encostas que formam muralhas
naturais, e o sopé da serra fazendo divisão
com fazendas e loteamentos urbanos
(Mariana Lima, dados não publicados).
Aspidosperma macrocarpon Mart.,
1824, também conhecida como guatambu,
ocorre em áreas de cerrado sentido restrito e
cerradão. A floração ocorre de agosto a
outubro, e a frutificação principalmente
entre março e junho (época seca), após
longo período de maturação. As árvores são
hermafroditas e atingem alturas de até 15
m, e os troncos e ramos são suberosos. As
folhas são alternas, simples e pecioladas.
Suas flores são actinomorfas, com cerca de
1,5 cm, corola branca e tubulosa. Os frutos
são em forma de folículo, com até 18 cm de
Metodologia
Foram escolhidos aleatoriamente em
uma área de cerrado sentido restrito, nove
indivíduos adultos (plantas-mãe) de H.
stigonocarpa e três de A. macrocarpon (em
frutificação e dispersão), distantes pelo
menos 50 m entre si. Foram medidas a
altura, a circunferência ao nível do solo
(CNS) e o raio da copa de cada indivíduo.
Em torno dos indivíduos de H.
stigonocarpa foram amostradas todas as
plantas jovens da espécie nas proximidades,
sendo medidas a altura, a CNS, a distância e
a inclinação em relação à base do tronco da
planta-mãe, por meio de vara graduada, fita
métrica, trena e bússola, respectivamente.
Essas plantas jovens foram consideradas
como prováveis progênies do indivíduo
adulto. Para A. macrocarpon foram
amostradas todas as sementes dispersas nas
proximidades dos indivíduos adultos, sendo
verificadas as condições quanto à predação
e medidas a distância e a inclinação dessas
em relação às plantas-mãe, com auxílio de
trena
e
bússola,
respectivamente.
Posteriormente, as medidas de distância e
inclinação das plantas jovens e sementes
168
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
foram plotadas em relação às plantas-mãe
por meio do programa Autocad versão 14,
para confecção de mapas de distribuição
espacial. Em laboratório, as sementes foram
submetidas à medição de massa em balança
de precisão. A área dessas também foi
estimada por aproximação da área da elipse,
segundo a seguinte fórmula:
Área =π × (R2 + r2)-2
Projetos Finais (UFU)
Para as duas espécies estudadas foi
feito o mapeamento das sementes e dos
indivíduos
jovens
distribuídos
espacialmente em torno das plantas-mãe
(Figs. 1 e 2). Apenas com os dados de
distância e inclinação, e auxílio do
programa
Autocad,
foi
possível
confeccionar mapas de maneira eficiente e
satisfatória.
Para os indivíduos de H.
stigonocarpa estudados, a densidade de
plantas jovens estava correlacionada
significativamente com a distância das
plantas-mãe (R = -0,94, N = 28, p =
0,0053). A circunferência ao nível do solo
(CNS) dos jovens também estava
correlacionada significativamente com a
distância (R = 0,38, N = 28, p = 0,0469).
Por outro lado, não houve correlação
significativa entre a altura e a distância (R =
0,24, N = 28, p > 0,05). Tais resultados
evidenciam que os efeitos dependentes da
densidade e da distância estão operando e,
que, com o aumento da distância, o porte
dos jovens aumenta (considerando apenas o
CNS), demonstrando que deve haver uma
maior facilidade para o estabelecimento
com o aumento da distância. Resultado
semelhante foi obtido por Clark & Clark
(1984) para Dipteryx panamensis, relativo
aos efeitos dependentes da densidade e
distância por meio do monitoramento da
mortalidade e distribuição espacial de
plântulas.
Para
os
indivíduos
de
A.
macrocarpon estudados, a densidade de
sementes correlacionou significativamente
com a distância (R = -0,92, N = 85, p =
0,0251). A massa e a área das sementes
correlacionou significativamente com a
distância (R = 0,26, N = 85, p = 0,0162 e R
= -0,30, N = 85, p = 0,0056,
respectivamente). Não houve correlação
entre massa e área das sementes (R = -0,06,
N = 85, p >0,05). A alta correlação entre
densidade e distância permite concluir que,
mesmo com a dispersão anemocórica, com
sementes leves e aladas, a chuva de
sementes
está
concentrada
nas
proximidades da planta-mãe. As baixas
;
Onde:
R = raio maior da elipse
= raio menor da elipse
Análise dos rdados
H. stigonocarpa
Para o cálculo da densidade de
plantas jovens, foram determinados seis
intervalos de distância de 6 em 6 m a partir
do tronco das plantas-mãe, em que essas
plantas foram contadas. As análises de
regressão linear simples foram realizadas
para densidade e distância da planta-mãe,
CNS e distância, e para altura e distância,
por meio do programa Prophet versão 5. A
distância de 6 m para cada intervalo foi
escolhida porque os raios das copas dos
nove indivíduos adultos variou de 4 a 7 m.
Desse modo, o primeiro intervalo de
distância equivaleu ao raio médio de
projeção das copas.
A. macrocarpon
Para o cálculo da densidade de
sementes, foram determinados cinco
intervalos de distância de 3 em 3 m a partir
do tronco dos indivíduos adultos. Em cada
um dessas faixas de distância foram feitas
contagens e numerações de todas as
sementes. Foram realizadas análises de
regressão linear simples entre densidade e
distância da planta-mãe, massa da semente
e distância, e área da semente e distância,
utilizando o programa Prophet versão 5. A
distância de 3 m foi escolhida por se referir
ao raio médio da projeção da copa dos três
adultos analisados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
169
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
correlações de massa e área das sementes
com a distância, bem como a falta de
correlação entre massa e área, demonstram
que não existe relação entre a distância de
dispersão e o tipo de semente,
diferentemente do padrão encontrado por
Muniz & Cardoso (dados não publicados)
para sementes de Terminalia phaeocarpa.
Não foram encontrados danos por predação
e nem doenças nas sementes, indicando
provavelmente, que a coleta das mesmas
pode ter sido realizada recente à dispersão.
Uma outra possível explicação, é que a
região sofreu queimada alguns dias antes da
coleta de dados, podendo, assim, ter sido o
fator de desequilíbrio para as populações de
predadores e patógenos específicos.
Para ambas espécies a densidade de
indivíduos jovens e sementes correlacionou
negativa e significativamente com a
distância. Para H. stigonocarpa, tal
resultado permite concluir que os efeitos
dependentes da densidade e da distância
podem estar operando e que, o padrão atual
de distribuição dos adultos é resultado do
padrão de mortalidade das sementes e/ou
plântulas no passado (Augspurger, 1984).
Neste sentido, verifica-se que a hipótese de
fuga (Howe & Smallwood, 1982) pode
estar operando neste caso, uma vez que há
poucos indivíduos jovens nas proximidades
da planta-mãe. Para A. macrocarpon não se
deve tirar as mesmas conclusões pelo fato
de apenas sementes terem sido analisadas.
As sementes dispersas não indicam que
todas darão origem a indivíduos
estabelecidos no futuro. Portanto, o padrão
de distribuição encontrado para as sementes
nesse estudo permite apenas deduzir que, os
efeitos dependentes de densidade e da
distância provavelmente são válidos para
essa espécie. Desse modo, estudos futuros
envolvendo indivíduos jovens em torno de
plantas-mãe de A. macrocarpon poderiam
ser mais eficientes para testar as predições
do modelo de Janzen-Connell.
Os resultados do presente estudo
para H. stigonocarpa suportam o modelo de
Janzen-Connell. Cintra (1997), porém,
ressalta que o mapeamento estático de
Projetos Finais (UFU)
plântulas e indivíduos jovens em torno das
plantas-mãe não provê um teste direto desse
modelo, por ignorar as possibilidades de
mudanças nos padrões espaciais de ambos
devido a alterações temporais dos padrões
de recrutamento e mortalidade. Contudo, o
mapeamento realizado no presente estudo
permitiu detectar de maneira rápida e
eficiente os efeitos que operam sobre os
indivíduos segundo a distribuição espacial.
A manutenção da alta diversidade de
espécies vegetais nas florestas tropicais
úmidas e nos cerrados, provavelmente é
regida pelas mesmas leis. O modelo de
Janzen-Connell é uma tentativa de explicar
esse fato e, dentre muitos (Burkey, 1994), é
o mais conhecido. Sendo assim, há extrema
necessidade de mais estudos para outras
espécies, outras localidades, e em diferentes
escalas temporais e espaciais sobre o teste
desse modelo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao nosso Coordenador do
Programa de Pós-Graduação, Profº Dr.
Paulo E. Oliveira, pelo fundamental apoio
em todos os momentos do Curso; ao meu
orientador, Profº Dr. Ivan Schiavini; aos
Professores: Dr. Glein M. Araújo, Dr.
Heraldo Vasconcelos, Dr. John Hay, Dr.
Jader Marinho, Dr. Fernando Pedroni; aos
colegas da UNB (Patrícia, Ernestino, Caio e
Otacílio) e aos demais colegas do Mestrado
em Ecologia da UFU. Agradeço ainda aos
funcionários do PESCAN, aos motoristas
da UFU e UNB, à cozinheira (D. Eunice); e
à CAPES pelo auxílio.
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172
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
01
Projetos Finais (UFU)
02
N
N
3m
3m
03
N
3m
Figura 1. Mapeamento das plantas-mãe e sementes de Aspidosperma macrocarpon. Os
símbolos indicam as plantas-mãe, os pontos, as sementes dispersas.
173
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
Figura 2. Mapeamento de nove plantas-mãe e seus indivíduos jovens da espécie Hymenaea
stigonocarpa. Os símbolos com um círculo preto e duas linhas em cruz, representam as
plantas-mãe, os triângulos, os indivíduos jovens (possíveis progênies).
174
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
EMISSÃO DE VOLÁTEIS EM CURATELA AMERICANA: PISTA DA
PRESENÇA DE HERBÍVOROS PARA OS PREDADORES?
Flávio Rodrigues Oliveira
INTRODUÇÃO
Em ambientes tropicais, muito tem
sido pesquisado sobre as interações
herbívoro planta (Coley & Barone 1996).
De uma maneira geral, insetos herbívoros
podem utilizar-se de todos os tipos de
tecidos vegetais, provocando vários danos
às plantas (Crawley 1983). Herbívoros
mastigadores causam elevados danos
foliares, destruindo em grande parte a área
fotossintética das folhas (Coley & Barone
1996; Edwards & Wratten 1981),
comprometendo o desenvolvimento da
espécie hospedeira. Os sugadores podem
até mesmo matar a planta drenando seus
carboidratos e, também, reduzindo o
crescimento e produção de sementes.
Em virtude dos danos causados pelos
herbívoros às plantas, estas desenvolveram
diferentes estratégias em resposta a ação
desses consumidores primários (Begon et
al., 1986; Crawley 1983; Gullan &
Cranston 1994). Os mecanismos antiherbivoria compreendem as seguintes
categorias:
defesas
mecânicas
ou
morfológicas (dureza da folha e presença de
tricomas, espinhos e látex) (Davidson et al.,
1989; Paleari & Santos 1998); defesas
químicas (compostos secundários como
alcalóides e taninos) (Edwards & Wratten
1981) e defesas bióticas (associação com
organismos, principalmente interações
homópteros/planta/formiga
e
planta/formiga) (Coley & Aide 1991 apud
Price 1991; Del-claro et al, 1996; Del-Claro
& Oliveira 1999; Oliveira et al, 1987).
Um grande número de substâncias
secundárias foi caracterizado em plantas
(Bernays & Chapman 1994). É pensado que
muitas destas substâncias possui relevante
papel em defesa contra herbívoros e, para
muitos
isso
foi
experimentalmente
confirmado (Agrawal 1998; Agrawal et al,
1999; Harbone 1987, Karban & Baldwin
1997). A produção e liberação de
substâncias seguido de dano foliar são
muito comuns na maioria das espécies
vegetais (Agrawal 2000). Quando um
herbívoro causa danos nas folhas, a planta
induz respostas defensivas pela produção de
compostos secundários (Dicke 2000;
Karban & Baldwin 1997). Trabalhos
realizados com Cecropia obtusifolia
demonstraram que formigas do gênero
Azteca são recrutadas com maior
intensidade em folhas que apresentam
maiores
intensidades
de
herbivoria
(Agrawal 1998). Este autor sugere que as
formigas são capazes de reconhecer e
responder a sinais químicos liberados pela
planta quando esta é atacada, desta forma,
um potencial herbívoro é facilmente
encontrado pelas formigas. O objetivo deste
estudo foi testar a hipótese de que plantas
atacadas por herbívoros emitem substâncias
voláteis de atratividade para insetos
predadores.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo e espécie
Este estudo foi realizado nos
períodos matutino (08:00 – 12:30h) e
vespertino (15:00 – 19:00h) de 29 de
setembro a 02 de outubro de 2002, no
Parque Estadual Serra de Caldas Novas
(PESCAN), GO, situado entre os
municípios de Caldas Novas e Rio
Quente/GO.
Curatela
americana
(Dilleniaceae) é uma planta arbustivoarbórea, possuindo folhas coreáceas.
Experimentação
175
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
Formigas podem responder ao
estímulo de um dano foliar causado por
estímulos físicos, ou por reconhecimento de
informações químicas provindas de voláteis
emitidos pelas plantas. Para testar esta
última hipótese, 120 plantas com mesmas
condições fenológicas receberam discos de
papel filtro auto-adesivo (2,5mm diam.),
totalizando
60
pares
experimentais
(tratamento/controle). As plantas de cada
par experimental distavam entre si de dois a
cinco metros de distância, esta medida foi
tomada para controlar todas as variáveis
possíveis que viesse a interferir no
experimento.
Em ambas as plantas os discos
foram postos na superfície adaxial de folhas
jovens avermelhadas, distantes a 01cm do
ápice foliar. As plantas tratamento
receberam uma gota de solução de
macerado (folhas jovens + água destilada)
de Curatela americana. As plantas controle
receberam apenas uma gota de água
destilada.
Foram feitas observações diretas
durante 20 minutos por par experimental,
10 minutos por planta (primeiro tratamento,
seguido por controle), totalizando 20 horas.
Para identificação do estímulo químico por
parte de insetos predadores, tomou-se como
parâmetro um raio de 40cm à posição do
disco, ou seja, qual quer predador que se
aproximasse do raio de ação dos voláteis foi
quantificado. Após cada observação, os
discos eram retirados para se evitar
interferências no próximo par experimental.
em um único saco plástico, lavadas com
água destilada para se retirar às impurezas,
secas em temperatura ambiente por dois
minutos. O material foi submetido à
trituração manual com 30ml de água
destilada por 15min, seguido de filtração
em malha fina, e em um balão volumétrico
completado até 50ml e guardado em frasco
de vidro opaco previamente esterilizado.
RESULTADOS
Um total de 109 formigas,
pertencentes a dez espécies foi encontradas
(Tabela 1). As formigas foram mais
abundantes nas plantas tratamento com
74,31% de patrulhamento. O gênero
Camponotus foi o mais presente em ambas
plantas (53,08% plantas tratamento e
60,71% em plantas controle).
Embora as formigas tenham
ocorrido e ambas as plantas, somente nas
tratamento foi observado a presença de
outros artrópodes predadores (Tabela 2). As
plantas
tratamento
tiveram
maior
percentagem de predadores (77,34%)
(Figura 1). Houve diferença significativa (P
< 0,05, Wilcoxon para medidas pareadas)
entre plantas tratamento (1,65 ± 1,76) e
plantas controle (0,48 ± 0,85) (Figura 2).
Obtenção do extrato de Curatela
americana
A solução com extrato de Curatela
americana fora obtida por meio de um
macerado de 5g de folhas jovens (peso
fresco) mais 50ml de água destilada. Foram
escolhidas folhas integras de cor
avermelhada, sem sinais de herbivoria, com
área foliar de até 5cm2 (medidos com area
meter CI 205). Foram retiradas 12 folhas de
10 árvores, com mesmas condições
fenológicas,
de
quatro
quadrantes
imaginários. Todas foram condicionadas
DISCUSSÃO
Segundo Oliveira & Brandão
(1991), a presença marcante do gênero
Camponotus é comum em plantas, tanto em
regiões tropicais como temperadas.
Camponotus encontra-se entre os gêneros
mais prevalentes em escala mundial, porque
possuem diferentes adaptações para vários
tipos de ambientes (Höldobler & Wilson
1990; Del-Claro et al., 1996; Del-Claro
1998; Wilson 1971). Diferentes espécies de
formigas podem conferir um benefício
diferencial às plantas com as quais estão
Análises estatísticas
Todo o estudo foi conduzido com
um desenho experimental pareado, sem
sobreposição de réplicas (plantas) entre um
tratamento e outro. Foi utilizado teste de
Wilcoxon para medidas pareadas.
176
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
associadas na vegetação de cerrado. Esses
resultados condicionais em associações
interespecíficas ocorrem também em outros
ecossistemas (Bronstein 1994, 1998).
Este experimento que simula dano
foliar com emissão de voláteis demonstrou,
que as formigas são capazes de reconhecer
odores liberados pelas plantas quando estas
sofrem ataque. Agrawal (1998), estudando
um sistema Azteca-Cecropia, demonstrou
experimentalmente
que
formigas
respondem mais rapidamente em folhas que
foram danificadas do que aquelas que não
sofreram danos. Embora tenha ocorrido um
maior percentual de formigas sendo atraídas
ao extrato de Curatela americana, outros
predadores também foram observados,
evidenciando que o sinal químico não é
espécie-específica.
Nos sete casos em que foram
observados
indivíduos
da
família
Reduviidae sobrevoando o disco com
emissão química, estas observações só
ocorreram mediante ação eólica, visto que
tais predadores se dirigiram às plantas no
sentido contrário ao dos ventos, o que
evidencia que a ação dos voláteis é
condicionada por ações abióticas. Também
foi observado que a variação de temperatura
(horários mais quente do dia), a
aproximação de possíveis predadores era
reduzida. Este fato talvez se deva à rápida
volatilização do extrato em decorrência do
aumento da temperatura por incidência
solar.
Embora
muito
menor,
a
aproximação de formigas aos discos
controles, pode ser interpretada pela
orientação visual destes insetos, visto que a
coloração branca de cada disco se
sobressaiu sobre um fundo avermelhado. As
plantas estão sujeitas a danos provocados
por ações tanto bióticas como abióticas e,
em ambos os casos são emitidos voláteis de
sinalização. O que diferenciará a eficiência
de um sinal do outro será a presença ou não
de um potencial herbívoro.
Sou muito grato aos funcionários do
Parque Estadual Serra de Caldas Novas pela
agradável acolhida, em principal a
Alessandro Belisário, diretor do Parque. A
todos os professores que passaram pelo
curso de campo, em especial ao Prof. Dr.
John Hay por ter nós acompanhado por
quase todo o curso. Um agradecimento
especial a Dona Eunice por ter “engordado”
todos os alunos e professores. Também
agradeço ao amigo Cláudio F. Muniz pela
companhia no campo, pelas risadas e,
principalmente, apoio estatístico. A todos
os novos amigos de Brasília e a Pedro
(Bob) e, aos amigos da UFU. A Glauco
Machado e Jader Marinho pelas sugestões
no experimento.
AGRADECIMENTOS
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Tabela 1 – Quantidade de formigas por espécie observadas nas plantas tratamento e controle, no
Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de
2002.
PLANTAS
ESPÉCIES
TRATAMENTO
CONTROLE
Camponotus crassus
27
10
Camponotus rufpes
11
07
Camponotus sp1
04
00
Camponotus sp2
01
00
Cephalotes sp
17
03
Crematogaster sp
07
07
Pheidole sp
03
00
Pseudomyrmex sp1
07
01
Pseudomyrmex sp2
03
00
Pseudomyrmex sp3
01
00
81
28
TOTAL
Tabela 2 – Outros artrópodes observados próximos aos discos tratamento, no Parque Estadual
Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de 2002.
ARTRÓPODES OBSERVADOS
PLANTAS TRATAMENTO
Insecta
Diptera
Hemiptera (Reduviidae)*
Hymenoptera (Vespidae)*
Mantódea
Arachinidae
Salticidae**
(*) Foram observados sobrevoando o disco tratamento. (**) Foram observados sobre o disco
tratamento.
179
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
% Predadores
Projetos Finais (UFU)
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
TRATAMENTO
CONTROLE
Plantas
Figura q. Porcentagem de predadores observados nas plantas de Curatella americana no
Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de
2002.
180
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
4
3
2
1
0
±Std. Dev.
-1
±Std. Err.
TRATAMENTO
CONTROLE
Mean
PLANTAS
Figura 2. Wilcoxon para pareamento experimental entre plantas tratamento e controle no
Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de
2002.
181
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
PREDAÇÃO DE SEMENTES DE JATOBÁ DO CERRADO, HYMENAEA
STIGONOCARPA MART. EX HAYNE (LEGUMINOSAE –
CAESALPINOIDEAE)
Hélder Nagai Consolaro
fauna local. Assim, o objetivo deste
trabalho foi investigar a predação de
sementes de frutos de jatobá em fase prédispersão.
INTRODUÇÃO
A estrutura das comunidades e suas
populações são reguladas pela competição,
predação, disponibilidade de recurso e
fatores abióticos (Begon et al., 1996).
Frutos, flores e sementes, por concentrarem
nutrientes como carboidratos, proteínas,
lipídeos e minerais são procurados por
diversos animais, principalmente insetos
(Lacerda et al., 2000, Fenner, 2002).
Existem alguns insetos, principalmente
besouros, que são capazes de aproveitar
efetivamente os frutos e predar as sementes,
tornado-as inviáveis (Lopes, 1997). A
intensidade e o padrão deste tipo de
predação podem afetar diretamente a
biologia de populações de fanerógamas
(Janzen, 1970). Dentre o enorme número de
sementes que podem ser produzidas durante
o ciclo de vida de uma planta, apenas uma
pequena proporção sobrevive até o
estabelecimento ao estágio adulto; a grande
maioria sucumbe a predadores e/ou
patógenos antes da germinação ou no
estágio de plântula (Shepherd & Chapman,
1998). Os efeitos positivos e negativos
proporcionados direta e indiretamente pela
predação e competição são responsáveis por
uma gama de situações com diferentes
combinações entre predadores e presas
(Etherington, 1976). Vários estudos
discutem algumas possíveis respostas
evolutivas de plantas contra predação
(Wilson & Janzen, 1972; Center & Johnson,
1974; Fernandes & Whithan, 1989; apud
Lomônaco, 1994). O jatobá do cerrado,
Hymenaea stigonocarpa (Leguminosae –
Caesalpinoideae), produz uma grande
quantidade de frutos, servindo assim, como
uma importante fonte de recurso para a
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no mês de
setembro de 2002 no Parque Estadual da
Serra de Caldas Novas (PESCAN)
localizado entre os municípios de Caldas
Novas e Rio Quente - GO, sendo a área
caracterizada por um cerrado sentido
restrito.
Foram coletados frutos em pré-dispersão de
cinco indivíduos adultos de Hymenaea
stigonocarpa
(jatobá
do
cerrado,
Leguminosae – Caesalpinoideae). Em três
indivíduos foram recolhidos todos os frutos,
devido o pequeno número de frutos
presentes, variando, assim o número de
frutos analisados entre os indivíduos. Em
laboratório foram coletados todos os
invertebrados encontrados no interior dos
frutos e das sementes e anotadas as
seguintes medidas: peso e comprimento dos
frutos, número de sementes por fruto e o
número de predadores por semente.
Utilizou-se o Índice de correlação de
Pearson com o auxílio do programa
BioEstat 2.0.
RESULTADOS
Foram
coletados,
em
cinco
indivíduos de jatobá do cerrado 47 frutos
em pré-dispersão. O número total de
sementes foi de 275, perfazendo uma média
de 5.85 (± 2.53) sementes por fruto.
O número de sementes por fruto apresentou
uma correlação significativa com o
tamanho do fruto (r=0.74; p=0.0000 -
182
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Figura 1). O tamanho médio dos frutos foi
de 14.79cm (± 3.28). As sementes
apresentaram tamanho relativamente grande
com uma aparente recompensa energética.
Não foi encontrada significância na
correlação comprimento do fruto e número
de predadores.
Foram averiguados três espécies de
possíveis
predadores:
Anthonomus
biplagiatus (Curculionidae, Coleoptera),
Pseudomyrmex
sp.
(Formicidae,
Formicinae) e uma espécie de Blattaria. O
número total de predadores foi de 256,
perfazendo uma média de predadores por
fruto de 5.44 (±7.16). A proporção número
de sementes analisadas e número total de
predadores encontrados aproxima-se da
relação 1:1, entretanto eles foram
responsáveis por apenas 40.36% das
sementes predadas. Foi considerado como
predador em potencial somente A.
biplagiatus.
Anthonomus
biplagiatus
foi
encontrado em estágio larval (154), pupa
(90) e adulto (12). Dentre as sementes, 164
(59.63%) não apresentaram nenhum tipo de
predador (sementes viáveis), 50 (18.18)
apresentaram um tipo, 18 (6.54)
apresentaram dois, 21 (7.63) três, 8 (2.9)
quatro, 9 (3.27) cinco, 4 (1.45) 6 e 1 (0.36)
sete (Figura 2). O número de sementes por
fruto não apresentou uma correlação
significativa com o número de sementes
predadas.
Projetos Finais (UFU)
dessecação, predadores e parasitas (Clark &
Martíns, 1987).
O jatobá é uma espécie que investe
na produção de numerosos frutos grandes
com poucas sementes e com recompensa
aos seus dispersores (Lopes, 1997).
Respostas evolutivas de plantas contra
predação são discutidas em vários
trabalhos. Apesar de H. stignocarpa
produzir apenas sementes grandes e em
pequena quantidade seu investimento na
produção de numerosos frutos corroboram
com uma das estratégias de defesas
antipredação elaboradas por Janzen (1971);
saciação do predador, na qual a produção de
sementes é superior à capacidade de
consumo dos predadores. Os numerosos
frutos grandes, aliado com a alta resistência
da casca à penetração, possivelmente
aumenta e eficácia deste mecanismo de
defesa. O tamanho dos frutos e o número de
sementes, possivelmente não foram os
atrativos aos Curculionídeos. A atração foi
tida, provavelmente, pelo número de frutos
por indivíduo (disponibilidade de recurso).
O grande tamanho, consistência
flexível e a alta oferta energética das
sementes de H. stigonocarpa parece
beneficiar a ação dos predadores,
possibilitando a deposição de mais de uma
larva por semente. A preferência por
sementes grandes para predação é citada
por Smith (1975) como um dos padrões
pelos quais predadores interagem com
sementes. Isso pode ter implicações na
quantidade de recursos necessários e
disponíveis à sobrevivência destes insetos
(Lomônaco, 1994). Entretanto, a maioria
das sementes predadas foi encontrado
apenas um predador, devido, possivelmente
o recurso não se tornar um fator limitante e
conseqüentemente não ocorrer competição
intraespecífica. Segundo Forget et al. 1994,
besouros atacam sementes em diferentes
proporções conforme o habitat e o período
do ano.
A consideração de Anthonomus biplagiatus.
como o predador em potencial está
relacionado a ele ser o único encontrado
danificando e alocando as sementes em
DISCUSSÃO
Larvae de Anthonomus biplagiatus
alimentam-se de sementes e botões florais
de seus hospedeiros. Adultos também foram
registrados em frutos de Kielmeyera nos
estados de Goiás, Mato Grosso, Minas
Gerais e São Paulo. Outros estudos indicam
forte grau de relação na especificidade de
hospedagem de Coleopteras, incluindo
trabalhos de Martíns (1971) para
Cerambycidae e Lewinsohn (1980) para
Cryptorrynchine (Curculionidae) associado
com Hymenea (Leguminosae apud Clark &
Martíns, 1987). Este comportamento,
provavelmente garante proteção contra
183
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
todos os seus estágios do ciclo de vida. Os
outros não foram considerados predadores,
devido eles não estarem danificando nem
utilizando nenhuma das sementes, além
deles, possivelmente proporcionarem um
benefício à planta quando ingerem a polpa
do fruto e deixam as sementes limpas para
germinação (Pedroni, F. com. pess.)
A não significância entre o número
de sementes por fruto e o número de
sementes predadas mostra para a planta,
uma vantagem em investir no aumento do
número de sementes por fruto, já que elas
não foram os atrativos para os predadores.
A predação é um tipo de interação
que pode influenciar a organização de uma
comunidade,
podendo
restringir
a
distribuição e a abundância de uma
população, sendo uma importante força
seletiva (Janzen, 1970). Isso pode estar
acontecendo com esta espécie, já que
durante a coleta dos frutos não foram
observadas plântulas, da mesma espécie,
próximas aos indivíduos adultos.
Projetos Finais (UFU)
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University Press. p. 53-77.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos integrantes do Curso
de Campo por suportarem o odor super
agradável do Jatobá, aos amigos Caio
Rébula, Marcela Yamamoto e Carlos
Henrique Angeluci pela identificação dos
invertebrados, ao Prof° Dr° Jader MarinhoFilho e ao Prof° Dr° Fernando Pedroni pela
orientação do projeto e ao amigo Pedro C.
Estrela (Bob) pelas dicas no decorrer do
trabalho.
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184
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
14
12
10
8
no de se/es
6
4
2
0
0
5
10
15
20
25
comprimento do fruto (cm)
Figura 1 - Relação entre comprimento do fruto e o número de sementes (r=0.74, p=0.0000)
em frutos de Jatobá do cerrado (Hymenaea stigonocarpa) no Parque Estadual da Serra de
Caldas Novas (PESCAN).
185
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
180
Número total de sementes
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0
1
2
3
4
5
6
7
Número de predadores por semente
Figura 2 - Número de predadores por semente pelo número total de sementes em frutos de
Jatobá do cerrado (Hymenaea stigonocarpa) no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN).
186
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
COMPORTAMENTO TERRITORIAL DE EUPETOMENA MACROURA
GMELIN (APODIFORME) EM NORANTEA ADAMANTIUM CAMB.
(MARCGRAVIACEAE)
Jania Cabrelli Salles (UFU)
INTRODUÇÃO
As Angiospermas parecem ter
evoluído numa estreita dependência em
relação a diversos grupos animais, para sua
polinização e dispersão, o que caracteriza
certo grau de adaptação mutualística.
Enquanto que para as plantas, a polinização
é uma maneira de aumentar o fluxo gênico,
do ponto de vista animal, ela é apenas uma
conseqüência da obtenção de um recurso.
Dessa forma, as plantas precisam otimizar
as visitas dos polinizadores. E, as
adaptações necessárias para garantir o
sucesso desse mutualismo requerem certos
custos, como a produção de néctar (Oliveira
1998).
A
polinização
por
animais
predomina em ambientes tropicais, sendo os
invertebrados os principais polinizadores de
plantas nesses ambientes. Dentre os
vertebrados, flores polinizadas por beijaflores são importante componente das
comunidades, compreendendo 2 – 15% das
espécies em ambientes florestais do sudeste
e do Cerrado brasileiro e na América
Central (Araujo 2001).
Os beija-flores são aves nectarívoras
especializadas. Além de néctar, a dieta
desses animais é complementada por
pequenos invertebrados, que garantem o
suprimento de aminoácidos e outros
compostos necessários ao metabolismo
(Baker &Baker 1980 apud Oliveira 1998).
As plantas adaptadas à polinização
por beija-flores apresentam características
que as incluem na “síndrome de
ornitofilia”, como flores tubulares, vistosas,
inodoras e com alta concentração de néctar.
Porém, existe um pequeno número de flores
tipicamente ornitófilas nas formações de
Cerrado (Oliveira 1998). Entretanto, de
acordo com Oliveira (1991 apud Oliveira
1998), os beija-flores podem visitar várias
espécies de plantas do Cerrado de maneira
oportunística.
A apresentação de recursos no
espaço e no tempo influencia o
comportamento
dos
visitantes,
sua
permanência na área e o tamanho da
população que pode sobreviver daqueles
recursos (Gass & Sutherland 1985). De
forma específica, os beija-flores apresentam
formas diferentes de utilização dos recursos
de acordo com as diferentes estratégias
reprodutivas apresentadas pelas espécies
vegetais do Cerrado (Oliveira 1994). Além
da disponibilidade de recursos, a evolução
dos comportamentos de forrageamento da
maioria dos beija-flores é também
influenciada pela interação com outros
beija-flores (Oliveira 1998).
Existe
um
alto
grau
de
interdependência entre as variáveis
morfológicas,
que
determinam
o
comportamento de exploração dos recursos.
O tamanho corporal afeta no requerimento
total de energia de uma ave e, entretanto,
influencia na escolha em relação aos tipos
de flores. Onde a competição por
interferência existe, o tamanho do corpo,
por si, tem afetado a dominância em relação
a outras espécies e, conseqüentemente, sua
habilidade para obter néctar (Feinsinger &
Colwell 1978).
Decisões sobre os custos e
benefícios são relevantes para animais que
forrageiam individualmente, como os beijaflores, influenciando na escolha do tipo de
exploração a ser realizado, seja defendendo
um território ou seguindo um circuito de
187
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
forrageamento. De forma geral, os beijaflores são classificados como “trapliners”,
territorialistas ou parasitas de território. Os
“trapliners” são aqueles que seguem um
circuito, forrageando entre flores dispersas
e ricas em néctar, tendo, então, acesso à
energia abundante. Os territorialistas
dominam uma área de flores agrupadas e
ricas em néctar, defendendo-a de
competidores. Os parasitas de território,
também chamados de pilhadores, exploram
zonas inacessíveis ou invisíveis ao
territorialista residente de uma área
(Feinsinger & Colwell 1978).
A defesa de recursos é um tipo de
competição que aparece sob a denominação
de interferência, quando a interação entre os
competidores provoca a redução na
eficiência de procura ou de consumo de
recursos. Dessa forma, a defesa envolve
custos, tais como gasto de energia e risco de
injúria, bem como os benefícios da
prioridade do acesso ao recurso (Krebs &
Davies 1996).
A evolução dos padrões de
forrageamento provém uma oportunidade
para estudos de como e porquê os animais
se movimentam em relação à fonte de
recursos (Baum & Grant 2001). Esta idéia
fez com que os estudos de campo
enfocassem com mais detalhes o balanço
temporal dos animais territoriais, em
particular os territórios de alimentação das
aves nectarívoras (Krebs & Davies 1996).
Com base nisso, o objetivo deste
estudo foi determinar o tempo de exibição
de comportamentos de forrageamento e de
defesa de território do beija-flor
Eupetomena macroura
e, a partir da
disponibilidade de néctar oferecida por um
indivíduo de Norantea adamantium,
verificar
as
vantagens
destes
comportamentos.
Projetos Finais (UFU)
Goiás. A coleta dos dados aconteceu no
final do mês de setembro e início de
outubro de 2002, por sete dias, sendo quatro
manhãs (com duração de 240 minutos cada)
e três tardes (com duração de 120, 75 e 105
minutos), totalizando1260 minutos (21
horas) de observação.
Eupetomena macroura é um
representante da família Trochilidae
(subfamília Trochilinae), comum em
regiões de campo e de mata da maior parte
do Brasil. Apresenta grande porte,
coloração escura brilhante e cauda
fortemente bifurcada, mais comprida que o
resto do corpo (Grantsau 1989).
Norantea é um gênero de plantas
arbóreas da família Marcgraviaceae, típico
de áreas com solo raso, pedregoso.
Apresenta grandes inflorescências do tipo
cacho, sendo cada pedúnculo floral provido
de uma bráctea altamente modificada, que
tem a forma de uma pequena jarra, a qual
produz néctar por ocasião da ântese (Joly
1976).
Foram registrados horário, duração e
freqüência de visitas aos nectários,
caracterizadas como comportamento de
forrageamento,
e,
também,
dos
comportamentos de defesa de território. Os
atos comportamentais de defesa foram
divididos em alerta (vigilância da mancha
de recurso) e exclusão de competidores
(outros beija-flores). Os tempos de
forrageamento, alerta e exclusão foram
quantificados em segundos, com a
utilização de cronômetro, e, posteriormente,
convertidos em minutos.
Com relação à planta, foram
realizadas medições de volume e
concentração de néctar, com a utilização de
uma seringa e de um refratômetro de bolso,
respectivamente. Tais medidas foram
tomadas sempre no início, meio e fim dos
períodos de observações da parte da manhã
e no início e fim dos períodos da parte da
tarde. Foram, também, feitas estimativas do
número de inflorescências e de flores
abertas para todos os dias.
A partir dessas medidas, foi
calculado o conteúdo energético do néctar.
METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado
numa área de cerrado (sentido restrito), no
Parque Estadual Serra de Caldas Novas
(PESCAN), localizado entre os municípios
de Caldas Novas e Rio Quente, estado de
188
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
As médias de volume e concentração foram
utilizadas para calcular a quantidade de
recompensa em calorias por flor. Para o
cálculo de calorias foi usada a tabela de
conversão apresentada por Kearns &
Inouye (1993), onde:
% de açúcar (g açúcar / g solução) = g
açúcar / l néctar
Para transformar mg de açúcar em calorias,
foi usada a relação apresentada por Dafni
(1992):
1 mg açúcar = 4 calorias
Estes valores foram multiplicados pelo
número de flores abertas por dia de
amostragem.
Projetos Finais (UFU)
período vespertino (7,5 visitas por hora). A
Tabela 1 mostra o tempo médio gasto para
cada visita em cada período de observação,
sendo a média igual a 0,24 minuto (14,4
segundos). Considerou-se, porém, que uma
visita incluía a exploração de um número
variável de nectários.
Machado
&
Sazima
(1995)
observaram que as visitas do E. macroura
eram breves (cerca de 2 segundos) e que,
em geral, visitava 20 flores em seqüência,
pousando em seguida sobre ramos de
plantas nas proximidades. Após períodos
variáveis, retomava as visitas ou perseguia
outras espécies de beija-flores que se
aproximavam.
Estudos de campo mostram que as
aves territoriais precisam de menos tempo
por dia na coleta de energia suficiente.
Defendendo um território, uma ave exclui
outros consumidores de néctar e, assim,
promove o aumento da quantidade de néctar
disponível em cada flor. Portanto, a ave
economiza tempo de forrageio porque pode
satisfazer suas demandas energéticas mais
rapidamente. Ela gasta o tempo que sobra
em um poleiro e, assim, usa menos energia
do que no forrageio (Krebs & Davies 1996).
Resultados e discussão
O Eupetomena macroura gastou, em
média, cerca de 96% do tempo em
comportamento de alerta (Figura 1). Tal
comportamento
foi
caracterizado,
principalmente, pelo seu posicionamento
sobre os ramos mais elevados da planta e
sobre árvores circunvizinhas, de modo a
estar atento ao aparecimento de invasores e
imediata exclusão dos mesmos. Como
também relatado por Machado & Sazima
(1995), ele aparentemente “delimitava”
uma área, visitando, principalmente, as
flores localizadas nos ramos mais altos. A
posição de guarda mudava constantemente
ao longo do dia, sendo que nos períodos
mais quentes (entre 10:00 e 16:00 h) o
indivíduo se colocava sob a copa da árvore,
mas não deixando de estar atento aos
movimentos dos invasores.
De acordo com Krebs & Davies
(1996), é fato que os beija-flores gastam
cerca de 75% de seu tempo empoleirados, e
apenas 20% em forrageio, pelo fato da
digestão da glicose nestes animais ser lenta.
Outra explicação, é que, para o caso de
indivíduos territorialistas, a defesa do
território requer grande gasto de tempo para
evitar a invasão de outras espécies
nectarívoras (Feinsinger & Colwell 1978).
Foi registrada uma média de 36
visitas do Eupetomena macroura aos
nectários nas observações do período
matutino (9 visitas por hora) e de 12 no
Foram registradas 97 invasões no
território do E. macroura durante o período
total de observação (média de 13,86 por
observação), sendo o tempo médio gasto
em cada expulsão de 0,08 minuto (4,8
segundos) (Tabela 2). A rapidez com que os
encontros
agonísticos
aconteceram
dificultou a identificação dos invasores.
Mas, com base em algumas características
e no plano de manejo do Parque, foi
possível inferir a presença de pelo menos 4
gêneros diferentes (Phaethornis, Colibri,
Thalurania e Amazilia), além de indivíduos
da própria espécie territorialista.
É importante ressaltar, porém, a
diferença entre os tempos de observação da
manhã e da tarde. Assim, a média de
invasões pela manhã foi de apenas 3,44 por
hora, enquanto que à tarde foi de 8,17
invasores por hora. Essa diferença pode ser
explicada pelo fato de que as observações
189
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
vespertinas aconteceram somente após as
16:00 h, quando a atividade dos beija-flores
é mais intensa, devido à diminuição da
temperatura ambiental. Além disso, a maior
procura por recurso ao final do dia é
garantia de reserva de energia suficiente
para a noite, quando os beija-flores deixam
de forragear e buscam um refúgio.
O maior número de invasões após as
16:00 h confirma a afirmação de
Siberbauer-Gottsberger & Gottsberger
(1988 apud Oliveira 1998), os quais
sugerem que os beija-flores seriam
sensíveis às altas temperaturas e que o
Cerrado impõe limitações às possibilidades
de utilização dos recursos disponíveis,
devido não terem constatado a presença
destas aves em áreas abertas nos períodos
mais quentes do dia.
Durante os dias de observação, o
número de inflorescências com flores
abertas diminuiu de aproximadamente 50
para cerca de 20 e o número de flores
abertas por inflorescência, de cerca de 15
para 5. Isso indica que a espécie Norantea
adamantium tem período máximo de
floração em meados do mês de setembro,
estando no final quando da realização deste
estudo, visto que foi observado maior
número de infrutescências que de
inflorescências.
A quantidade e distribuição de
recursos florais podem limitar a amplitude e
dos beija-flores que exploram uma região
(Carpenter 1978; Oliveira 1998). De forma
geral, os recursos nas formações abertas do
Cerrado
encontram-se
distribuídos
esparsamente, gerando implicações nas
distâncias de forrageamento (Oliveira
1998). Assim, os agrupamentos de flores
produzidas estacionalmente permitem o
estabelecimento
de
comportamentos
territoriais (Gass & Sutherland 1985;
Oliveira 1998), quando os animais são
atraídos pela disponibilidade de alimento
abundante. Entretanto, a quantidade de
energia deve satisfazer as necessidades
diárias do territorialista, de forma a garantir
vantagem ao comportamento de defesa.
Projetos Finais (UFU)
A Tabela 3 mostra os valores
médios de volume e concentração de néctar
para os sete dias de observação. Apesar da
diminuição do número de flores abertas no
decorrer do período de observação, pôde-se
observar que a produção de néctar mantevese mais ou menos constante, com exceção
do primeiro dia, quando estava chovendo.
A produção contínua de uma grande
quantidade de néctar ao longo do período
de floração confirma o favorecimento da
estratégia de forrageamento territorial
(Machado & Sazima 1995). Por outro lado,
foram observadas variações do volume e da
concentração ao longo do dia, o que pode
estar relacionado às mudanças de
temperatura (Baker & Baker 1983 apud
Machado & Sazima 1995) e umidade
relativa (Corbet et al 1979 apud Machado
& Sazima 1995).
Com relação ao conteúdo energético
do néctar,estimou-se uma média de 18,21
Kcal por dia. Esta quantidade é,
possivelmente, suficiente para atender às
necessidades do indivíduo em questão,
visto que, para Carpenter (1983 apud
Oliveira 1998), um beija-flor precisa de 6 a
10 Kcal para suprir sua demanda
energética. De acordo com Krebs & Davies
(1996), quando os custos diários são
comparados com a quantidade de néctar
obtida com a defesa de um território e
exclusão de competidores, fica evidente que
as aves territoriais estariam obtendo um
moderado lucro energético. A defesa de
fonte alimentar já é conhecida para E.
macroura, desde que o recurso seja
economicamente defensável, como o
oferecido pela N. adamantium.
A interação entre plantas e seus
polinizadores é um bom exemplo de como a
pressão evolutiva pode coordenar eventos
sazonais nas comunidades (Krebs 1994).O
comportamento territorial dos polinizadores
compromete o fluxo de pólen entre
indivíduos diferentes, mas favorece a
autopolinização (Machado & Sazima 1995).
No caso de Norantea adamantium,
considerando a ausência de outro exemplar
nas proximidades, a defesa territorial
190
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
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aumenta a probabilidade de visitas a uma
dada flor, podendo-se inferir que a espécie
é autocompatível ,uma vez que há uma
grande taxa de formação de frutos. Dessa
forma, a associação com o Eupetomena
macroura é de grande importância no ciclo
de vida desta espécie vegetal, especialmente
nas áreas de Cerrado, onde sua distribuição
é bastante reduzida.
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and insects visits to flowers, with
special reference to Crataegus, Tilia and
Echium. Ecol. Ent. 4: 9 – 22.
Agradecimentos:
À todos os companheiros (e amigos)
dessa inesquecível e proveitosa jornada de
trabalho; aos professores, sempre tão
atenciosos, e ao amigo Rafael Soares
Arruda pela ajuda na coleta e interpretação
dos dados.
DAFNI, A. 1992. Pollination Ecology: A
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A
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Revta. Brasil. Biol. 48: 651 – 663.
OLIVEIRA, P.E. 1991. The pollination and
reproductive biology of a Cerrado
woody community in Brazil. Ph.D.
192
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
Tabela 1 – Visitas do Eupetomena macroura aos nectários de Norantea adamantium, Parque
Estadual Serra de Caldas Novas – GO, setembro de 2002.
Período /
Tempo de
Número de visitas
Tempo médio de cada visita (min.)
observação
observação (min.)
manhã
1
240
58
0,20
2
240
30
0,24
3
240
28
0,26
4
240
28
0,33
5
120
16
0,16
6
75
12
0,26
7
105
9
0,27
TOTAL
1260
181
0,24
tarde
Tabela 2 – Exclusão de competidores do Eupetomena macroura em Norantea adamantium,
Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, setembro de 2002.
Período /
Tempo de observação
Número de
Tempo médio de cada exclusão (min.)
observação
(min.)
invasões
1
240
13
0,14
2
240
16
0,04
3
240
15
0,07
4
240
11
0,15
5
120
22
0,10
6
75
9
0,06
7
105
11
0,06
TOTAL
1260
97
0,08
manhã
tarde
193
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
Tabela 3 – Volume, concentração e conteúdo energético do néctar de Norantea adamantium,
Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, setembro de 2002.
Concentração de
Conteúdo energético
Volume de néctar (µ l)
Período /
açúcares (%)
por dia *
observação
(Kcal)
Média ± desvio padrão
Média ± desvio padrão
manhã
1
48,00 ± 0,00
8,25 ± 3,80
11,54
2
46,78 ± 29,51
22,18 ± 2,71
30,79
3
41,78 ± 33,11
22,25 ± 6,89
24,70
4
92,22 ± 23,89
14,60 ± 4,78
15,00
5
53,00 ± 24,04
19,60 ± 1,27
17,65
6
103,00 ± 9,90
20,44 ± 1,51
19,03
7
98,00 ± 22,63
18,95 ± 1,20
8,76
tarde
*de acordo com valores estimados do número de flores abertas por inflorescência.
alerta
visita
exclusão
100
90
80
Tempo (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
1
2
3
4
5
6
7
Observação
Figura 1 – Porcentagem do tempo gasto em comportamento de alerta, visita e exclusão de
competidores de Eupetomena macroura, em cada coleta (1 – 7), Parque Estadual Serra de
Caldas Novas – GO, 2002.
194
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
INFLUÊNCIA DE BRUQUÍDEOS NA PRODUÇÃO DE SEMENTES DE
SYAGRUS FLEXUOSA (ARECACEAE) EM UMA ÁREA DE CERRADO
SENSU STRICTO
Marcela Yamamoto, UFU
INTRODUÇÃO
Uma semente pode servir de
alimento durante grande parte do ciclo de
vida de uma espécie, como ocorre com
alguns coleópteros que depositam seus ovos
em frutos e as larvas se desenvolvem no
interior das sementes até o estágio de pupa
(Begon et al. 1996). Nestas circunstâncias,
as sementes normalmente se tornam
danificadas, a ponto de inviabilizar a
germinação.
Syagrus flexuosa é uma palmeira
monóica, de inflorescências longopedunculadas com flores femininas basais e
flores masculinas apicais. As flores
femininas têm um ovário súpero com três
lóculos, cada um com um óvulo. Após a
polinização e fertilização , um dos óvulos se
desenvolve para semente e os outros dois
geralmente são abortados. Os frutos são
elipsóides, de cor verde-amarelada quando
maduro, exocarpo é fibroso e mucilaginoso,
endocarpo ósseo contendo amêndoa com
endosperma branco e oleaginoso. Ocorre no
norte de Minas Gerais, da Bahia ao Piauí,
Goiás, Tocantins, Distrito Federal e Mato
Grosso em cerrados abertos e na caatinga.
A floração ocorre de janeiro a abril e a
frutificação entre outubro e dezembro
(Almeida et al., 1998).
Besouros Bruchidae são importantes
predadores de sementes em grande
variedade de plantas (Janzen, 1969). Os
membros da subfamília Pachymerinae são
predadores de sementes de representantes
da família Arecaceae. As fêmeas depositam
seus ovos na superfície do fruto e a larva
que daí emerge penetra através do
pericarpo. Durante o seu desenvolvimento
até o estágio de pupa, a larva consome toda
a semente (Silva, 1989).
Alguns estudos discutem as
possíveis respostas evolutivas de plantas
contra predação (Wilson & Janzen, 1972;
Center & Jonhson, 1974). Janzen (1971)
separou as defesas de plantas em três tipos
principais: defesas químicas; saciação do
predador, onde a produção de sementes é
superior ao consumo dos predadores; e a
imprevisibilidade de recursos, em que a
frutificação
ocorre
em
intervalos
irregulares. Smith (1975) sugeriu também
que a variabilidade no número e no
tamanho das sementes produzidas possa ser
estratégias de antipredação. Entretanto, as
defesas vegetais podem se tornar ineficazes,
uma vez que possam ser contornáveis pelos
predadores.
Este estudo teve como objetivo
avaliar o sucesso na produção de sementes
de Syagrus flexuosa (Arecaceae) em uma
área de cerrado sensu stricto, investigando a
influência da predação de sementes pela
larva de Coleoptera Bruchidae.
METODOLOGIA
O estudo foi conduzido em uma área
de cerrado sensu stricto do Parque Estadual
da Serra de Caldas Novas, em Caldas
Novas, GO (17046’37,4’’S; 14041’10,5’’O;
altitude 1064m), em setembro de 2002.
Foram feitos transectos de 50m e
amostrados
todos
os
indivíduos
reprodutivos de Syagrus flexuosa em 10m
de cada lado do transecto. Os indivíduos
foram medidos quanto à altura, diâmetro
basal e altura da infrutescência. De cada
infrutescência foram contadas as cicatrizes
195
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
descendentes. Koslowski et al. (1983)
verificaram que algumas espécies de
bruquídeos regulam o número de ovos
depositados em cada fruto, por meio de
marcações químicas que evitam repetidas
oviposições num mesmo local.
Houve correlação significativa entre
a altura da planta com a altura da
infrutescência (r=0,83,p=0) e com o número
de flores (r=0,32, p=0,02). A correlação foi
significativa entre o número de flores com o
número de frutos (r=0,87, p=0); com o
número de sementes abortadas (r=0,79,
p=0) e com o número de sementes viáveis
(r=0,41, p=0,0017). Houve correlação
significativa entre o número de sementes
totais e o número de sementes viáveis
(r=0,51, p=0,0001) (Figura 3). Não houve
correlação significativa de predação com a
altura da planta, a altura da infrutescência e
o número de flores (veja os valores da
correlação na Tabela 2).
Não foi observada correlação
significativa entre o comprimento e o
diâmetro dos frutos com a presença da larva
predadora (r=-0.1279, p=0.3612; r=0.1909,
p=0.1708, respectivamente). A quantidade
de frutos apresentou correlação significativa
com o número de sementes predadas (r=
0,29; p=0,03) (ver Figura 4). Segundo
Janzen (1969), os bruquídeos se alimentam
de uma única semente, esperar-se-ia então
que houvesse uma escolha de sementes
maiores pelo coleóptero, com maior
quantidade de recurso para a sobrevivência
do inseto, o que não ocorreu na amostragem
apresentada. Ramos (2001) em estudo de
predação de sementes de palmeiras do
gênero Syagrus por Bruchidae: Pachymerini
observou que os ovos foram colocados
independentemente do tamanho dos frutos.
Pode-se inferir que o embora o predador
aparentemente não escolha um fruto maior,
há uma procura por manchas maiores de
recursos,
como
o
tamanho
das
infrutescências.
Na área estudada foi observada a
presença de manchas de indivíduos de
Syagrus flexuosa, de um a sete indivíduos,
porém, não foi constatada uma preferência
das flores femininas e o número de frutos
presentes, o total forneceu o número de
flores femininas produzidas. Foram
amostradas todas as infrutescências com até
20 frutos, e as com um número superior de
frutos foram padronizadas em 20 unidades.
Depois de coletado, o material foi levado ao
laboratório, onde foi feita a mensura de
comprimento(mm),
diâmetro(mm)
e
procedida a abertura do fruto para a
avaliação das sementes em viáveis, na
ausência de larvas ou em não viáveis, as
abortadas ou com a presença de larvas.
Os dados foram analisados por meio
de correlação simples (Correlação de
Spearman).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram mensurados 46 indivíduos de
Syagrus flexuosa e analisadas 57
infrutescências de uma área total amostrada
de 7000 m2. A altura média e o desvio
padrão dos indivíduos foram de 1,90m ±
0,40, o diâmetro basal médio de 75,9mm ±
13,23 e a altura média das infrutescências
de 1,21m ± 0,39. O comprimento médio dos
frutos foi de 33,15mm ± 3,66 e de diâmetro
18,53mm ± 2,75
Foram contados um total de 2193
flores, 1127 frutos e 761 sementes dentre as
quais 598 viáveis e 163 predadas (Veja na
Tabela 1). Da diferença das flores e frutos
amostrados, juntamente com a análise dos
frutos abertos foi obtido o número de
sementes abortadas (Figura 1).
Do total de frutos contados, apenas
786 exemplares foram abertos para análise
de qualidade do endosperma devido ao
limite
de
frutos
estipulado
por
infrutescência. Dos 786 frutos analisados,
76.08% apresentaram sementes viáveis,
20.74% sementes predadas e 3.18%
abortadas (Figura 2).
Observou-se a presença de 2,6% de
frutos biloculares ou triloculares no total de
frutos analisados, sendo que a metade, 1,3%
apresentou predação da semente em apenas
um dos lóculos. Pode-se inferir que a fêmea
do Bruchidae coloca apenas um ovo por
fruto a fim de evitar a competição entre os
196
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
da larva predadora pelas manchas de
indivíduos.
Nos frutos abertos observou-se uma
taxa de predação de 8,8% das sementes por
infrutescência. A maior perda na produção
de sementes é observada pela falta
disponibilidade de recursos na polinização,
como pólen e polinizadores justificando a
grande porcentagem de sementes abortadas,
além de ser normal o alto índice se
sementes abortadas em Arecaceae. A
predação analisada foi apenas do
Coleoptera Bruchidae sem considerar
outros predadores
Os resultados mostram que a
predação das sementes pelos bruquídeos
tem correlação com o número de frutos
presentes na infrutescência o que corrobora
com Marquis & Braker (1994) e Janzen
(1969), a existência de uma associação
entre a taxa de herbivoria e a oferta de
recurso. Pelos valores de viabilidade
encontrados nas sementes de Syagrus
flexuosa pode-se apontar como possível
resposta evolutiva contra este predador, a
defesa do tipo saciação com produção
superior ao consumo, além das estratégias
de antipredação com a variação do número
e no tamanho dos frutos sugerido por Smith
(1975).
Projetos Finais (UFU)
Communities. Third edition. Blackwell
Science, London.
CENTER, T. D. & JONHSON, C. D. 1974.
Coevolution of some seed beetles
(Coleoptera: Bruchidae) and their host.
Ecology 55:1096-1103.
JANZEN, D. H. 1969. Seed-eaters versus
seed size, number, toxicity and dispersal.
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JANZEN, D. H. 1971. Seed predation by
animals. Na. Rev. Ecol. Syst. 2:465-492.
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DMOCH, J. 1983. Ovipositon behaviour
and pod marking in the cabbage seed
weevil
Ceutorhynchus
assimilis.
Entomol. Exp. Appl. 34:277-282.
MARQUIS, R. J. & BRAKER, H. E. 1994.
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Specificity, and Impact. Pp. 261-281. In:
L. A. MCDADE, K. S. BAWA, H.
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palmeiras
do
gênero
Syagrus
(Arecaceae) por besouros Pachymerini
(Coleoptera, bruchidae). Resumos V
Congresso de Ecologia do Brasil. P.213.
AGRADECIMENTO:
Aos professores John Hay pela
orientação inicial, Fernando Pedroni,
Lucélia Nobre Carvalho e Jader Marinho
pelas sugestões no projeto. Aos colegas
Cláudio Franco Muniz e Helder Nagai
Consolaro pela ajuda estatística e Carlos
Henrique Angeluci pela abertura dos
coquinhos.
SILVA, P. 1989. Bruquídeos associados às
sementes de palmeiras na Bahia, Brasil
(Coleoptera, Bruchidae). An. Soc. Ent.
Brasil 18:155-168.
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E. & Raven, P.H. (eds.) Coevolution of
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University Press. P. 53-77. In:
Lomônaco, C. 1994. Predação de
sementes de leguminosas por bruquídeos
(Insecta: Coleoptera) na Serra dos
BEGON, M.; HARPER, J. L. &
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197
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
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distance from the parent palm. Ecology
53:954-959.
WILSON, D. H. & JANZEN, D. H. 1972.
Predation on Scheelea palm seeds by
Tabela 1 – Número total de flores, frutos e sementes de Syagrus flexuosa por planta, a média e
o desvio padrão por inflorescência.
Amostragem
Total
Média por cacho
Flores
2193
39±24.08
Frutos
1127
20±16.43
Sementes viáveis
598
11±7.13
Sementes predadas
163
3±4.99
Abortadas
1100
20±13.34
Tabela 2. Valores da Correlação de Spearman para altura da planta (ha), altura da
infrutescência (hi), número de flores (fl), número de frutos (fr), número de sementes abortadas
(ab), número de sementes viáveis (vi) e número de sementes predadas(pr).
hp
hi
fl
fr
hp
hi
fl
fr
ab
vi
pr
X
r=0.7312
r=0.3170
r=0.3695
r=0.1400
r=0.0946
r=0.1762
p=0
p=0.0172
p=0.0046
p=0.2989
p=0.4881
p=0.1939
X
r=0.1484
r=0.1115
r=0.1513
r=-0.0165
r=0.0661
p=0.2751
p=0.4089
p=0.2657
p=0.9038
p=0.6285
X
r=0.8677
r=0.7916
r=0.4098
r=0.2015
p=0
p=0
p=0.0017
p=0.1363
X
r=0.4583
r=0.5068
r=0.2896
p=0.0004
p=0.0002
p=0.0303
X
r=0.1454
r=0.0427
p=0.2850
p=0.7548
X
r=-0.2137
ab
vi
p=0.1137
198
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
2500
2000
1500
N
1000
500
0
flores
frutos
sementes
viáveis
sementes
predadas
abortadas
Figura 1 – Freqüência de flores, frutos e sementes viáveis, sementes predadas e abortadas em
Syagrus flexuosa observada em setembro de 2002 em uma área de cerrado sensu stricto do
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO.
N 800
600
400
200
0
sementes
viáveis
sementes
predadas
abortadas
Figura 2 – Freqüência sementes viáveis, predadas e abortadas nos frutos abertos e analisados
de Syagrus flexuosa observados em setembro de 2002 em uma área de cerrado sensu stricto
do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO.
199
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
Figura 3 – Relação entre o número de sementes totais e as sementes viáveis em Syagrus
flexuosa em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas,
Caldas Novas, GO. Correlação de Spearman (r=0.34, p=0.01).
Figura 4 – Relação entre o número de frutos e sementes predadas em Syagrus flexuosa em
uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas
Novas, GO. Correlação de Spearman (r=0.29, p=0.03).
200
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
ANÁLISE DA MOTIVAÇÃO DE ESTUDANTES EM RELAÇÃO AO
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS – GO.
Marcelle Sabrina Carneiro Rodrigues
parques, reservas e zoológicos. Visitas a
áreas naturais como parques e reservas,
proporciona estímulos a curiosidades dos
alunos facilitando assim sua aprendizagem.
Visitas às unidades de conservação
(como
reservas
ecológicas,
parques
nacionais, áreas de proteção ambiental) são
apontadas como vantajosas nos espaços
informais em relação aos formais, pois
apresentam características valiosas, como a
riqueza de estímulos, a complexidade do
ambiente, o caráter de novidade e
imprevisibilidade das interações entre os
alunos e objeto de estudo (Morais & Borges,
2000).
O Parque Estadual da Serra de
Caldas Novas-Goiás (PESCAN), uma área
de unidade de conservação, representa uma
grande fonte de informação e aprendizagem
para os alunos da cidade de Caldas Novas,
embora o parque não conte com um
programa efetivo de educação ambiental. A
implantação de programas de educação
ambiental no parque podem ser instrumento
para tornar as populações que vivem no seu
entorno cientes sobre a importância de sua
preservação (Padua, 1997).
Em vista disso, faz-se necessário
fazer uma análise da motivação dos alunos
de Caldas Novas em relação ao parque, para
que se possa viabilizar uma parceria entre a
escola e o parque, visando desenvolver
atividades de educação ambiental como
trilhas interpretativas e visitas com roteiros
estruturados, de forma sistemática e
condizente com as necessidades e
prioridades do parque e da comunidade.
O objetivo deste trabalho foi levantar
o nível de motivação de alunos do ensino
fundamental e médio em uma escola pública
e uma particular em visitar o PESCAN-GO.
INTRODUÇÃO
As mudanças que se operam em
nossos conhecimentos e em nossa
consciência, passando pela modificação de
nossas atitudes, nos levam a transformar
nossa maneira de ser em relação ao ambiente
e temos a necessidade de adquirir novas
habilidades para colocar em prática em casa,
na rua, na escola, no lazer o que aprendemos
nos mais variados espaços de educação
formal e informal (Viezzer et al., 1994).
Para Reigota (1998), a educação
ambiental é uma proposta que altera
profundamente a educação, não sendo
necessariamente uma prática pedagógica
voltada para a transmissão de conhecimentos
sobre ecologia. A educação ambiental
propõe soluções e uma mudança de postura
perante a satisfação das necessidades
humanas, tendo como objetivo formar
cidadãos ativos que saibam identificar os
problemas e participar efetivamente de sua
solução e prevenção (Rodrigues, 1996).
A educação ambiental pode ser
inserida em diversos processos educativos e
ambientes diversificados. Em salas de aula, a
educação ambiental assume um caráter mais
formal, enquanto que em ambientes de
visitação esporádica como museus, jardins
botânicos, zoológicos, parques e reservas,
assume características mais informais
(Padua, 1997). Entretanto, tais atividades
educativas, devem ser empregadas em
ambos os ambientes para que haja um
resultado final positivo.
Segundo Dias (1990), a educação
ambiental informal contribui de forma
expressiva para a formação de opinião
pública, envolvendo
os
meios
de
comunicação de massa, comunidades
participativas e instituições atuantes como
201
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
particular apresentam interesse em visitar o
parque em busca de atividades ambientais,
embora tais atividades não estejam sendo
oferecidas de forma sistemática pelo
PESCAN.
Os resultados mostram que embora o
PESCAN seja relativamente conhecido pelo
público, a maioria dos alunos ainda não o
tinha visitado. Contudo, os alunos da escola
particular visitaram mais de uma vez o
parque, o que pode ser devido a uma maior
divulgação do parque pela escola ou mesmo
em casa ou ainda a cobrança de uma taxa de
entrada no parque, que embora seja irrisória,
parece representar um empecilho para a
visita dos alunos da escola pública.
Quando perguntados sobre a vontade
de visitar ou voltar ao parque 98% dos
alunos responderam que sim, e dos 23
alunos que já haviam visitado o local pelo
menos uma vez 97% se mostraram
satisfeitos com a visita. O que confirma a
idéia de Herman et al., (1992) que diz que
locais informais tem um impacto maior
sobre o lado afetivo, que é a base da
formação de valores.
Os alunos da escola pública apontam
o turismo como a atividade principal do
PESCAN. Esta resposta era esperada, visto
Caldas Novas ser uma cidade turística. Já os
alunos do ensino particular apontam a
educação ambiental como uma atividade
importante a ser desenvolvida pelo parque, o
que pode talvez ser explicado por uma maior
conscientização ambiental trabalhada na
escola. Percebe-se assim, a necessidade de
divulgação dos trabalhos científicos
desenvolvidos no parque, mesmo que de
forma resumida e simples, à comunidade.
METODOLOGIA
Amostra:
• Nossa amostra constitui-se de 60
alunos entre 11 a 21 anos de
idade, cursando os ensinos
fundamental e médio. Sendo 30
alunos entrevistados em uma
escola pública e 30 em uma
escola particular.
Coleta de Dados:
•
•
Os dados foram coletados entre
30/09/2002 e 02/10/2002 na
cidade de Caldas Novas-Go.
Foram aplicados aos alunos
questionários semi- estruturados
(anexo),
na
presença
do
pesquisador, sem a utilização de
um pré-teste.
Análise de Dados:
•
•
Projetos Finais (UFU)
Foram feitas comparações entre
as respostas dos alunos da escola
pública com as respostas dos
alunos da escola particular para
verificar, num sentido geral, a
motivação que leva os alunos a
visitarem o parque.
Conversas informais com os
diretores e professores das
escolas investigadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Grande parte dos alunos mostrou-se
motivados a visitar o parque em busca de um
contato maior com a natureza (flora e fauna),
o que era esperado, pois segundo Mergulhão
(1998), um dos fatores que levam as pessoas
a visitarem áreas naturais é a vontade de se
aproximar da natureza. Atividades como
lazer (recreação e esporte), foram bastante
lembradas pelos alunos, ocorrendo uma
relação inversa com a atividade de pesquisa,
o que demonstra que os alunos ainda não
associam o parque a um local de estudo.
Os dados mostram que tanto os
alunos da escola pública quanto os da escola
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do contato direto com as escolas,
através de conversas informais com diretores
e professores, pudemos perceber que eles
não contam com informações sobre o
parque, ou as tem de forma inconsistentes.
Sugerimos que sejam preparados folhetos
informativos sobre o histórico do parque,
bem com de sua diversidade biológica, e que
estes sejam repassados às escolas.
202
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Embora
os
alunos
tenham
demonstrado interesse em participar de
atividades de educação ambiental no
PESCAN, muitos ainda tem pouco contato
com o parque. Além disso, grande parte dos
alunos mostrou-se motivado em visitar o
parque em busca de contato com a natureza.
Sabe-se que o envolvimento da comunidade
em áreas naturais pode trazer muitas
vantagens, pois ao mesmo tempo em que a
população utiliza o parque como um local de
aprendizagem, passa também a preservá-lo.
Percebe-se que há um paradoxo em
como os alunos vêem a importância do
parque para a cidade, do mesmo modo que
reconhecem o valor da educação ambiental,
apontam o turismo como função importante
do parque. Em vista disso, é necessário que
as escolas trabalhem com os alunos, o
conceito de unidade de conservação, pois
apesar do parque ser aberto tanto à
comunidade quanto aos turistas, trata-se em
primeiro lugar de uma área de conservação
da fauna e da flora do cerrado.
Faz-se necessário à implantação de
atividades educativas sistematizadas, como
trilhas interpretativas ou visitas com roteiros
estruturados, que vinculem a escola ao
parque, de forma que as visitas dos alunos
não sejam apenas atividades recreativas ou
de mera observação, mas que possam ajudar
a formar cidadãos conscientes e aptos a
participarem das questões ambientais no
local em que vivem.
Projetos Finais (UFU)
.Orientando a criança para amar a terra.
Editora Augustus. São Paulo, SP. 137p.
MERGULHÃO, M. C.; VASAKI, B. N. G.
1998. Educando para conservação da
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educação ambiental. Editora Educadora.
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de ciências. In: Coletânea do 7° Encontro
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preto
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Bodmer, R. E. (Org.). Manejo e
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Instituto de Pesquisas Ecológicas. Editora.
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participante. In: Manual Latino Americano
de Educação Ambiental. São Paulo: Goiás.
p. 60-70.
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
25
Frequência
20
15
Escola particular
Escola pública
10
5
0
turismo
lazer
educação
ambiental
científica
Importância
Figura 1- Frequência de respostas em relação aos atrativos apresentados pelo parque. O que o
motivou ou motivaria a visitar o parque?
204
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
16
14
Escola pública
Escola particular
Frequência
12
10
8
6
4
2
0
1
2
3
4
5
Visitação
Figura 2- Frequência de respostas em relação ao número de visitas ao parque. Quantas vezes já
visitou o parque?
25
Escola particular
Escola pública
Frequência
20
15
10
5
0
turismo
lazer
educação
ambiental
científica
Importância
Figura 3- Frequência de respostas em relação à importância do parque para Caldas Novas.
Qual a importância do parque para a cidade?
205
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
Questionário de Educação Ambiental (Público – alvo: Estudantes)
Identificação do conhecimento da população de Caldas Novas em relação ao PESCAN
(Marque apenas uma alternativa em cada pergunta)
( ) Escola pública
1- Faixa Etária:
( ) 0 a 10 anos
( ) 11 a 15 anos
( ) 15 a 18 anos
( ) Escola particular
( ) 18 a 21 anos
( ) acima de 21 anos
2- Grau de Escolaridade:
( ) Ensino Fundamental
( ) Ensino Médio
( ) Outros ______________
3- Sexo:
( ) Masculino
( )Feminino
4- Há quanto tempo você mora na cidade?
_________________________________
5- Quantas vezes você já visitou o PESCAN?
( ) Nenhuma vez
( ) 3 a 5 vezes
( ) Uma vez
( ) Acima de 5 vezes
( ) Duas vezes
6- Qual seria o principal motivo que o faria visitar o PESCAN?
( ) Vegetação
( ) Fauna
( ) Recreação
( ) Esporte
( ) Atividades de educação ambiental
( ) Pesquisa escolar
7- Você gostaria de visitar (ou voltar a visitar) o PESCAN?
( ) Sim
( ) Não
Por quê?____________________________________________
8- A visita ao parque satisfez as suas expectativas? (Só responda se já visitou o parque)
( ) Sim
( ) Não
Por quê?_____________________________________________
9- Qual a importância do parque para a cidade?
( ) Econômica
( ) Científica
( ) Turística
( ) Não tem importância
( ) Lazer
( ) Educação Ambiental
206
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
EXISTE ESPECIFICIDADE DE HOSPEDEIROS POR Struthanthus sp.
(LORANTHACEAE) EM UMA ÁREA DE CERRADO?
Rafael Arruda (UFU)
INTRODUÇÃO
A família Loranthaceae compreende
70 gêneros e 1400 espécies que ocorrem
predominantemente nas regiões tropicais
(Ribeiro et al. 1999), sendo popularmente
conhecidas como “erva-de-passarinho”.
Vivem sobre os galhos das copas de árvores
hospedeiras, sendo que a maioria das
espécies de Loranthaceae é hemiparasita de
outras espécies vegetais (Venturelli 1981,
Abulfatih & Emara 1988, Overton 1994).
Apesar de realizar fotossíntese, a sua
presença pode causar uma drástica
diminuição no crescimento da planta (Sinha
& Bawa 2002), levando, em alguns casos, a
morte de órgãos da planta hospedeira. Estes
hemiparasitas podem também comprometer
a reprodução das plantas hospedeiras,
prejudicando a qualidade e quantidade de
frutos produzidos (Venturelli 1981, Sinha &
Bawa 2002).
A distribuição dos hemiparasitas em suas
plantas hospedeiras pode ser determinada
por especificidade por hospedeiros,
distância dos hospedeiros, condições
ambientais (García-Franco & Rico-Gray
1996), arquitetura da planta hospedeira
(Monteiro et al. 1992, Martínez del Rio et
al. 1995), e comportamento alimentar e
seleção de habitat pelo agente dispersor
(Davidar 1983, Reid 1989, Monteiro et al.
1992, Murphy et al. 1993, Martínez del Rio
et al. 1996). Entretanto, algumas espécies
de hemiparasitas são sempre encontradas
em poucas espécies de hospedeiros, outras
apresentam pouca especificidade, ou ainda
podem desenvolver raças que se associam a
diferentes espécies de hospedeiros (GarcíaFranco & Rico-Gray 1996).
Para verificar se havia especificidade por
hospedeiros pelo hemiparasita em uma área
de cerrado sentido restrito, registrou-se a
ocorrência
de
Struthanthus
sp.
(Loranthaceae), e sua relação com as
espécies hospedeiras.
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo foi um cerrado
(sentido restrito), no Parque Estadual da
Serra de Caldas Novas (17º46’03,6’’S,
48º39’30,8’’W). O Parque Estadual da
Serra de Caldas Novas ocupa uma área de
12.315 ha, incluindo o platô, as encostas
que formam muralhas naturais, e o sopé da
serra. Tem um formato de elipse, sendo o
diâmetro maior de 15 km e o menor de 9
km. A altitude da serra no seu ponto mais
alto é de 1.043 metros em relação ao nível
do mar. Considerado pequeno em termos de
proteção do bioma Cerrado, possui contudo
uma amostra bem conservada deste
ecossistema.
A área de cerrado sentido restrito de
aproximadamente três ha foi percorrida
aleatoriamente, buscando encontrar o maior
número possível de espécies vegetais com a
presença de Struthanthus.
Struthanthus Mart. (Loranthaceae), tem
ampla distribuição no Cerrado sentido
amplo, estando presente nas áreas Leste,
Centro-Oeste e Nordeste (Barboza 2000).
Struthanthus são hemiparasitas dióicos,
com
folhas
opostas,
subopostas,
subcoriáceas e lanceoladas; inflorescências
axilares, flores alvas, e com frutos bacóides
oblongos, ovóides, oblongo-obovados ou
globosos, e lisos (Barboza 2000).
Para cada indivíduo hospedeiro encontrado
foi registrada sua altura, e a altura onde o
hemiparasita estava fixado. Os galhos
foram visualmente classificados quanto à
inclinação, horizontal ou vertical. Foi feita
uma categorização visual da casca no local
de fixação do parasita, levando em conta a
207
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
suberosidade do galho, onde para a
categoria 0, galho totalmente liso; categoria
1, pouco suberoso; categoria 2, suberoso; e
categoria 3, totalmente suberoso. Estes
valores foram estimados através de
comparação visual antes de iniciar a coleta
de dados.
Os hospedeiros e Struthanthus foram
identificados no campo, e por meio de
literatura
especializada.
Material
testemunho da espécie hemiparasita está
depositado no Herbário da Universidade
Federal de Uberlândia (HUFU).
Foi utilizado o teste do Qui-Quadrado para
testar se havia diferença com relação à
presença dos hemiparasitas em galhos
horizontais e verticais. Para verificar se
havia relação entre a altura do hospedeiro e
a altura de fixação do parasita, foi utilizada
uma Análise de Correlação. Todos os testes
tiveram o nível de significância de p<0,05.
Projetos Finais (UFU)
O estabelecimento dos indivíduos de
Loranthaceae pode estar ocorrendo,
provavelmente,
em
função
de
características
morfológicas
dos
hospedeiros que estejam propiciando
microhabitat adequado para germinação.
Um fator que pode influenciar o sucesso da
deposição de hemiparasitas em seus
hospedeiros é o comportamento alimentar
do seu agente dispersor. Monteiro et al.
(1992) verificaram que o comportamento
alimentar de Tersina viridis viridis
(Thraupidae) o tornava o agente mais
efetivo na dispersão de Psittacanthus
robustus (Loranthaceae) na Fazenda
Campininha, em Mogi Guaçú, estado de
São Paulo. A eficiência de T. v. viridis
como agente dispersor foi resultado de sua
habilidade em manipular os frutos de P.
robustus, através de regurgitação e pelo
comportamento de limpar o bico nos
galhos, associado a uma sincronia do seu
período de frutificação com a presença das
aves na área (Monteiro et al. 1992).
Entretanto, Godschalk (1983) estudou três
espécies simpátricas de hemiparasitas na
África do Sul, e sugere que a deposição de
sementes de hemiparasitas pelos seus
dispersores sobre galhos do hospedeiro
ocorre aleatoriamente. Neste caso, as três
espécies de hemiparasitas dependem do
mesmo agente dispersor, Pogoniulus
chrysoconus, e ocorre sobreposição total
dos seus períodos de frutificação
(Godschalk 1983). Então, nossos resultados
indicam que, além desta atividade dos
dispersores, a arquitetura e a suberosidade
dos sítios de deposição do hemiparasita nos
hospedeiros
podem
também
estar
influenciando o seu padrão de distribuição,
e consequentemente a relação de
especificidade com os hospedeiros.
O aumento significativo da altura de
fixação do parasita em relação à do
hospedeiro, pode estar ocorrendo pela
necessidade que os hemiparasitas possuem
de um local apropriado para germinar, e
para desenvolverem suas folhas para
realizar fotossíntese. Barboza (2000) sugere
que além da necessidade fotossintética, as
RESULTADOS
Foram encontradas nove espécies
parasitadas por Struthanthus, sendo
Kielmeyera coriacea e Styrax ferrugineus
as que apresentaram as maiores frequências
de infestação (Tabela 1). Foram registrados
um total de 67 hospedeiros com a presença
de Struthanthus, variando de um a cinco
hemiparasitas por hospedeiro (Tabela 1).
A frequência de ocorrência de Struthanthus
em galhos horizontais (65,79%; n = 25) foi
significativamente maior do que em galhos
verticais (34,21%; n = 13) (X2 = 5,378; p =
0,0204; GL = 1). Em galhos com casca
mais lisa ocorreu uma melhor deposição do
hemiparasita em galhos mais horizontais,
correspondendo à categoria 1; já em galhos
com casca mais suberosa ocorreu uma
maior deposição do hemiparasita em galhos
mais verticais, o que correspondeu à
categoria 2 (Figura 1).
Ocorreu uma correlação significativa entre
a altura do hospedeiro e a altura de fixação
do parasita nos hospedeiros (r = 0,6514; p =
0,0001) (Figura 2).
DISCUSSÃO
208
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
espécies de Loranthaceae podem exibir
“preferência” por hospedeiros de hábito
arbóreo, pelo fato de serem melhor
visualizadas pelos polinizadores. A autora
sugere ainda que estas conclusões talvez
reflitam uma pequena quantidade de
pesquisas e de coletas botânicas para
Loranthaceae, bem como dados relativos
aos hospedeiros.
No presente trabalho, aparentemente, pode
não estar ocorrendo especificidade de
Struthanthus sp. por um hospedeiro em
particular, mas sim o hemiparasita parece
estar encontrando facilidade em se
estabelecer de acordo com a arquitetura e
suberosidade do galho do hospedeiro. Em
algumas espécies de Loranthaceae ocorre
uma íntima relação com seu hospedeiro,
que o torna dependente da sua distribuição;
por outro lado, em outras espécies parece
não ocorrer uma relação tão genérica.
Porém, para P. robustus já foi verificada
especificidade
por
espécies
de
Vochysiaceae no bioma Cerrado (Monteiro
et al. 1992, Barboza 2000). E isto
demonstra claramente que são necessários
mais estudos envolvendo esta interação,
para entendimento dos fatores que podem
ou não estar desencadeando algum tipo de
especificidade de hospedeiros por espécies
de Loranthaceae.
Projetos Finais (UFU)
valiosa ajuda no campo e posteriores
críticas na redação do trabalho final. E
finalmente, à todos os companheiros e
companheiras do Curso de Campo 2002,
principalmente pelas novas amizades
construídas ao longo do curso, parabéns a
todos nós pelo sucesso do trabalho
conjunto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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YAMAMOTO, K. 1992. Host specificity
and seed dispersal of Psittacanthus
AGRADECIMENTOS
Aos Programas de Pós-Graduação
em Ecologia das Universidades de
Uberlândia e de Brasília, pelo esforço
conjunto em unir experiências diferenciadas
com o objetivo de enriquecer nosso parco
conhecimento
da
Ecologia,
e
principalmente pelo apoio logístico
oferecido ao longo do Curso de Campo. À
todos os professores que doaram um pouco
do seu suor nas caminhadas pela Serra de
Caldas Novas, em especial à Fernando
Pedroni e Maryland Sanchez que me
ajudaram na fecundação deste trabalho. À
administração do Parque Estadual da Serra
de Caldas Novas pela oportunidade de
conhecer e poder trabalhar numa bela
região. À Lucélia Nobre Carvalho pela
209
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
robustus (Loranthaceae) in south-east
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RIBEIRO, J.E.L.S.; HOPKINS, M.J.G.;
VINCENTINI, A.; SOTHERS, C.A.;
COSTA,
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BRITO,
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SOUZA, M.A.D.; MARTINS, L.H.;
Projetos Finais (UFU)
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210
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
Tabela 1 – Lista das espécies encontradas com hemiparasitas, número de indivíduos de cada
espécie e a freqüência de ocorrência de Struthanthus em cada espécie, em um cerrado (sentido
restrito), no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.
Número
de Frequência de ocorrência
Espécies
indivíduos
(%)
Aegiphila sellowiana
4
5,55
Casearia sylvestris
3
3,33
Hymenaea stignocarpa
2
2,22
Kielmeyera coriacea
26
42,22
Piptocarpha rotundifolia
1
1,22
Pouteria ramiflora
8
14,44
polyphyllum
1
3,33
Styrax ferrugineus
18
24,44
Indet.1
3
3,33
TOTAL
66
100
Stryphnodendron
211
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Horizontal
frequência indivíduos (%)
60
Projetos Finais (UFU)
Vertical
50
40
30
20
10
0
0
1
2
3
tipo de casca
Figura 1 – Freqüência de ocorrência de Struthanthus sp. em diferentes tipos de casca em
espécies de cerrado (sentido restrito), em galhos com inclinação horizontal e vertical, no
Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. 0 = galho totalmente liso; 1 = pouco
suberoso; 2 = suberoso; 3 = totalmente suberoso
y = 0,5037x + 0,3814
R2 = 0,4244
6
altura parasita
5
4
3
2
1
0
0
2
4
6
8
10
altura hospedeiro
Figura 2 – Regressão linear entre a altura do hospedeiro e a altura de fixação de Struthanthus
sp., no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO.
212
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
RIQUEZA E ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES DE PEQUENOS
MAMÍFEROS EM CERRADO sensu stricto QUEIMADO E NÃOQUEIMADO NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS
NOVAS,GO
Sérgio de Faria Lopes
Jader Marinho-Filho (orientador)
INTRODUÇÃO
No Brasil, estudos ecológicos das
comunidades de pequenos mamíferos vêm
sendo realizados principalmente nas últimas
duas décadas. Os estudos mais recentes
foram feitos nos ecossistemas mais
representativos do Brasil, como cerrado,
caatinga, floresta Amazônica e mata
Atlântica, fornecendo informações sobre
ecologia de populações e zoogeografia de
pequenos
mamíferos
não
voadores
(Talamoni & Dias, 1999).
Para áreas de cerrado, alguns
estudos podem ser citados, os quais
enfocam diferentes abordagens para a
comunidade de roedores, como Vieira &
Baumgarten (1995), relatando os padrões
diários de atividade de pequenos
mamíferos, Alho (1979) e Vieira (1997),
sobre densidade populacional de roedores,
Alho (1980) e Vieira & Marinho-Filho
(1998), que descrevem a utilização de
habitat por roedores de cerrado, e Bergallo
& Magnusson (1999) e Vieira (1999), sobre
comunidades de pequenos mamíferos em
áreas de cerrado.
Como um todo, 194 espécies de
mamíferos em 30 famílias e 9 ordens são
reconhecidas do bioma cerrado (MarinhoFilho et al. 2002), fazendo deste bioma o
terceiro maior em riqueza de espécie do
Brasil, depois da Amazônia e do Pantanal
(Fonseca et al, 1999). Os maiores grupos
são os morcegos e os roedores,
representados por 81 e 51 espécies,
respectivamente (Marinho-Filho et al.
2002). Em geral, esta fauna é
essencialmente composta por pequenos
animais: 85% destas espécies pesam abaixo
de 5kg, e apenas cinco espécies pesam mais
do que 50 kg (Marinho-Filho et al. 2002). A
análise comparativa de comunidades de
pequenos mamíferos, não voadores, vindas
de 11 áreas do cerrado, mostra a grande
variação ao longo das áreas para a
abundância de 39 espécies de marsupiais e
roedores (Marinho-Filho et al, 1994).
Uma das características mais
marcantes da vegetação do cerrado é a sua
exposição a incêndios regulares e, os danos
causados pelo fogo na vegetação são
conseqüências da permanência prolongada
de altas temperaturas durante as queimadas
(Wright & Bailey, 1982), podendo
deplecionar algumas populações não
tolerantes ao fogo.
OBJETIVO
O presente trabalho teve como
objetivo testar a hipótese de que não
haveria diferença na composição da fauna
de pequenos mamíferos, não voadores,
entre duas áreas de cerrado sensu stricto,
uma recém queimada e a outra como
controle.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
O trabalho foi realizado no Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas
(PESCAN), localizado entre os municípios
de Caldas Novas e Rio Quente, Go. As
coletas foram realizadas de 29 de setembro
a 04 de outubro de 2002. A área queimada
213
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
apresentava solo exposto e a vegetação
praticamente nua. Na área não-queimada
além do cerrado, havia arbustos e
predominância de gramíneas. A área não
queimada estava protegida do fogo a pelo
menos quatro anos. A outra área,
denominada queimada, foi submetida ao
fogo a três semanas antes do início do
estudo.
Projetos Finais (UFU)
Ratoeiras fora as armadilhas mais eficientes
para o trabalho de coleta, com 3,97% de
sucesso de captura (Tabela 3).
DISCUSSÃO
Apesar
do
esforço
amostral
relativamente pequeno (1104 armadilhasnoite), o sucesso de captura foi de 3,62%,
semelhante ao obtido em outros estudos,
como em Vieira (1997) cujo esforço
amostral foi de 5.928 armadilhas-noite e
sucesso de captura de 4%, isto pode indicar
uma alta abundância de pequenos
mamíferos nos cerrados amostrados.
Embora os cerrados amostrados
nunca tenham sido estudados, a diversidade
de espécies encontrada nestes locais
(Tabela 1), pode ser comparada com
estudos de comunidades de pequenos
mamíferos em outras áreas. Vieira &
Baumgarten (1995) encontraram oito
espécies de pequenos mamíferos em um
cerrado de Brasília, Vieira & Marinho-Filho
(1998) coletaram sete espécies de pequenos
mamíferos no interior e borda de uma
floresta de galeria, e Vieira (1999) capturou
onze espécies em região de cerrado.
A espécie mais abundante na área
queimada está representada pelo roedor
Calomys sp. Essa espécie costuma se tornar
muito abundante após a passagem do fogo
em áreas de cerrado (Marinho-Filho,
comunicação pessoal). Na área não
queimada, Bolomys lasiurus foi a espécie
mais abundante, um padrão também
verificado em outras áreas de cerrado s.sm
(Marinho-Filho et al. 1994).
As armadilhas com maior número
de capturas foram as do tipo Snap-trap
(Tabela 3), porém, apresentam algumas
desvantagens, como impossibilidade de
recaptura, devido à morte dos animais
capturados. Além disso, os animais mortos
nas ratoeiras são, freqüentemente atacados
por formigas, o que dificulta sua
identificação.
Não foi encontrada diferença
significativa na comparação da abundância
total de indivíduos entre as áreas queimada
e não queimada (χ2 = 0,9 ; p > 0,05),
Levantamento das espécies
Os indivíduos foram coletados em
cada área (queimado e não-queimado), ao
longo de oito transectos divididos em duas
localidades distantes de 1km entre si
(17o47’07,2’’ 48o40’04’’W e 17o47’34,7’’S
48o 40’24’’ W respectivamente). Os
transectos
estavam
posicionados
paralelamente e distantes 10 metros um do
outro.
Em
cada
transecto
foram
estabelecidas 12 estações de captura, com
uma armadilha cada, distantes 10 metros
entre elas. Em cada área foram colocadas
40 armadilhas tipo Sherman, 10 Young, 3
Tomahawk e 48 ratoeiras, utilizando como
isca uma mistura de pasta de amendoim,
sardinha e fubá. As armadilhas eram
iscadas todas as manhãs e os animais
coletados eram trazidos ao laboratório para
identificação. Para a comparação da
diversidade das comunidades estudadas nos
dois ambientes (área queimada e não
queimada) foi calculado o Índice de
Shannon (H’).
RESULTADOS
Em seis noites de captura, 7 espécies
foram coletadas nas duas áreas (Tabela 1),
23 indivíduos na área queimada e 17 na
área não-queimada (Figura 1). Ao todo
foram capturados 40 indivíduos e o sucesso
de captura total foi de 3,62% para as áreas
estudadas. O esforço de captura total foi de
1104 armadilhas-noite (Tabela 2). O roedor
Calomys spp. foi a espécie mais abundante
neste estudo com 14 indivíduos capturados
nas seis noites, sendo que para área
queimada Calomys spp também foi a
espécie mais abundante (n=12) e Bolomys
lasiurus.para área não-queimada (n=5).
214
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
M. N. PAES, 1994. Diversity standards,
small mammal numbers and the
conservation of the cerrado biodiversity.
An. Acad. Brás. Ciênc. 66 (supp):149157.
confirmando a hipótese levantada no
presente estudo. No entanto, foi encontrada
uma maior diversidade na área nãoqueimada (H’= 1,68) em comparação com a
área queimada (H’=1,25). Apesar da menor
abundância encontrada na área não
queimada, esta apresentou duas espécies
exclusivas (Tabela 1).
MARINHO-FILHO, J., RODRIGUES,
F.H.G. & JUAREZ, K.M. 2002.
Ecology and natural history of cerrado
mammals. Pp. ...... In: Oliveira, P.S. &
Marquis, R. (eds). Brazilian Cerrados;
Ecology and natural history of a
neotropical
savanna.
Smithsonian
Institution Press, Washington.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Profº. Dr. Jader
Marinho-Filho pela orientação e dedicação.
Aos colegas de trabalho: Pedro, Cláudio,
Janaína e Joaquim pela coleta de campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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215
UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002
Projetos Finais (UFU)
Tabela 1. Riqueza e abundância em duas áreas de cerrado, PESCAN.
Área queimada
Espécie
Área não queimada
Abundância
Espécie
Abundância
Thalpomys lasiotis
2
Trichomys apereoides
2
Bolomys lasiurus
6
Clyomys laticeps
4
Clyomys laticeps
2
Oryzomys subflavus
3
Calomys spp.
12
Cavia apereia
1
Oryzomys subflavus
1
Calomys spp.
2
Bolomys lasiurus
5
TOTAL
TOTAL
23
17
Tabela 2. Esforço amostral e sucesso de captura em duas áreas de cerrado, PESCAN.
Cerrado
Esforço amostral
Indivíduos coletados
Sucesso de captura
Queimado
552
23
4,17 %
Não-queimado
552
17
3,08%
Total
1104
40
3,62%
Tabela 3. Nº de armadilhas e sucesso de captura em duas áreas de cerrado, PESCAN.
Armadilhas
Sherman
Young
Tomahawk
Ratoeira
Esforço amostral
474
117
35
478
Indivíduos coletados
16
4
1
19
3,37%
3,42%
2,86%
3,97%
Sucesso de captura
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Projetos Finais (UFU)
25
Nº de indivíduos
20
15
Área queim ada
Área não queim ada
10
5
0
1
2
3
4
5
6
dias
Figura 1. Número acumulado de indivíduos coletados ao longo de seis dias em duas áreas de
cerrado no PESCAN, Caldas Novas, GO em setembro de 2002
217
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