UNIVERSIDADE DE BRASILIA PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA RELATÓRIO FINAL MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA 2O SEMESTRE DE 2002 PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, CALDAS NOVAS, GO Aos leitores Temos os prazer de apresentar os relatórios de trabalhos desenvolvidos no curso de campo realizado, de 16/09 a 10/10 de 2002 no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCAN), Caldas Novas, GO. Esse foi um curso de campo especial por ter sido realizado em conjunto pelo Programas de Pós Graduação em Ecologia da Universidade de Brasilia e da Universidade Federal de Uberlândia. Essa parceria foi muito bem sucedida. Os curso de campo dos dois Programas tem como objetivo básico o treinamento de seus estudantes em levantar questões, numa ampla gama de temas e organismos, e propor metodologias para respondê-las o que inclui a aplicação de diferentes técnicas de trabalho no campo. Nesse caso, as experiências dos participantes permitiram ampliar essa gama de temas, organismos e técnicas tratados durante o curso. Tradicionalmente os cursos de campo dos PPGs em Ecologia no Brasil recebem alguns alunos e professores de fora, o que tem se mostrado uma prática enriquecedora. Nesse curso, a convivência no campo por três semanas permitiu um aprofundamento na troca de conhecimentos e experiências e uma maior interação entre alunos e entre professores dos dois programas. Essa proximidade resulta em uma maior facilidade em colaborações e em parcerias futuras. Esperando que novas parcerias como essa venham a se concretizar, apresentamos aqui os resulatados dos trabalhos desenvolvidos durante o curso. É importante lembrar que esses trabalhos são relatórios de atividades, em grupo ou individuais, desenvolvidos durante uma disciplina e não constituem publicações formais como artigos ou capítulos. A realização do curso não teria sido possível sem o apoio e a colaboração da direção do PESCAN, na pessoa do Sr. Alessandro Belisário, e de seus funcionários. A ele nossos agradecimentos e a expectativa de continuar contando com o apoio nas próximas edições do curso. O apoio e a boa vontade dos técnicos e motoristas que colaboraram com o curso facilitaram, em muito, as atividades dos participantes. Dona Eunice, cozinheira de mão cheia, reduziu as aguras de uma jornada de 12 ou mais horas de trabalho diário dos participantes, com seus quitutes, simpatia e carinho. A todos eles nosso reconhecimento e agradecimento. Esperamos que as informações aqui contidas, funcionam como ferramenta no treinamento de outro alunos em ecologia e como incentivo ao desenvolvimento de trabalhos no cerrado. E desejamos bom proveito a todos os leitores. Helena C. Morais PPG em Ecologia Universidade de Brasilia Paulo Eugênio Oliveira PPG Ecologia e Conservação de Recursos Naturais Universidade Federal de Uberlândia ii Apresentação A experiência em realizar este curso de campo em conjunto com o curso de PósGraduação em Ecologia.e Conservação de Recursos Naturais da Universidade Federal de Uberlândia foi extremamente gratificante. Os benefícios foram evidentes para todos os participantes, desde os alunos até os professores. Um dos propósitos de um curso de campo é a possibilidade dos alunos interagem com uma gama de assuntos, métodos e professores diferentes e em alguns casos fazer uma prévia do seu assunto de dissertação ou tese. Para os professores o curso de campo representa uma possibilidade de conhecer melhor os alunos e ver ou rever uma área de pesquisa. A escolha do local para este curso, o Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) foi uma opção excelente. Este Parque, embora situado muito próximo a uma área urbana com alto fluxo de turistas, ainda tem muita área bem preservado e tem uma ampla variedade de ambientes além de oferecer ótimas instalações para a realização de cursos deste tipo. Os relatórios apresentados neste volume cobrem uma gama de tópicos ecológicos, variando desde estudos de mamíferos, interações planta-inseto a levantamento das comunidades vegetais. Entretanto, excepcionalmente não houve nenhum estudo com pássaros, talvez um acontecimento inédito em cursos de campo. A passagem de um fogo, algumas semanas antes da realização deste curso, ofereceu uma oportunidade impar para estudos comparativos entre locais queimados e não-queimados. Os resultados apresentados são iniciais e não devem ser tomados como respostas definitivas as perguntas levantadas, entretanto em muitos casos levantaram outras perguntas interessantes. Todavia, em alguns casos os dados coletados representam informações inéditas para a Parque e poderão ser úteis em planos de manejo. Como aconteceu depois de outros cursos de campo, os resultados de vários projetos já foram apresentados em congressos científicos e até publicados em revistas especializadas. Como coordenador da montagem deste volume de relatórios, posso afirmar que esta tarefa não foi fácil, mas foi gratificante e aprendi muito sobre a logística de como preparar e formatar relatórios com formatos tão diversos como foram apresentados. A apresentação dos relatórios está dividida em partes, representando os tipos de trabalhos realizados pelos alunos: Trabalhos em grupo, Trabalhos de 1 dia e Trabalhos individuais finais. Finalmente, gostaria de agradecer a todos os que participaram no curso, os professores, os alunos, os técnicos (sem os quais muitos problemas teriam sido muito mais difíceis de resolver) e especialmente a D. Eunice pela boa vontade, bom humor e os sorrisos de satisfação depois das refeições. Sem dúvida o apoio do diretor do Parque, Sr. Alessandro Belisário, facilitou em muito nossa estadia e os bons resultados obtidos durante este curso, bem como os guardas que sempre tiveram boa vontade em ajudar e mostrar as alguns dos lugares mais belos do Parque. Brasília, 19 de março de 2004 Prof. John Du Vall Hay iii Métodos em Ecologia de Campo Parque Estadual da Serra de Caldas Novas 16/09/02 a 05/10/02 Participantes Professores Monitoras Alunos(as) Universidade de Brasilia John Du Vall Hay Jader Soares Marinho Filho Pedro Cordeiro* Ludmilla Aguiar* Universidade Federal de Uberlandia Paulo Eugenio A Oliveira Heraldo Vasconcellos Glein Monteiro de Aruajo Ariovaldo Giaretta Glauco Machado* Fernando Pedroni Maryland Sanchez Lacerda Lucélia Nobre Carvalho Helena Maura Torezan Silingardi Carlos H.G. Angeluci Claudia Toledo Claudio Muniz Flavio R. Oliveira Helder N. Consolaro Jania C. Salles Marcela Yamamoto Marcelle S.C. Rodrigues Rafael Arruda Sergio Lopes Janaina Lacerda Caio A. Rebula Ernestino S. G. Guarino Otacílio Santana Patricia Rodin * Convidado(a) iv Relação dos projetos em grupo Grupo ! Patricia Marcelle Jania Otacílio Flávio Dia 17/09 1o 18/09 2o 19/09 3o 21/09 4o 23/09 5o 25/09 6o 26/09 Práticas em grupo 1 -3 Grupo 2 Grupo 3 Caio Ernestino Claudio Helder Sergio Claudia Marcela Carlos Rafael Orientador Glein Araujo Glein Araujo (G1) John Hay (G2) Heraldo Vasconcellos (G3) John Hay (G1) Heraldo Vasconcellos (G2) Glein Araujo (G3) Janaina/Maura (G1) Paulo Oliveira (G2) John Hay (G3) John Hay (G1) Maura/Janaina (G2) Paulo Oliveria (G3) Ariovaldo Giaretta (G1) Glauco Machado (G3) John Hay (G2) Jader Marinho e Ludmilla Aguiar (G1) Ariovaldo Giaretta (G2) Glauco Machado (G3) Grupo 1 Otacilio Carlos Claudia Claudio Marcelle Relator(a) Jania Marcela Ernestino Marcelle Caio Carlos Patrícia Claudio Claudia Otacilio Flávio Rafael Carlos Helder Jania Claudia Sérgio Rafael Práticas em grupo 4 - 6 Grupo 2 Grupo 3 Patricia Ernestino Flávio Caio Sergio Marcela Helder Rafael Jania Título resumido do projeto Chave de Identificação das espécies lenhosas Fitossociologia usando Parcelas Fitossociologia usando Interceptação de linha Fitossociologia usando Ponto-Quadrantes Características foliares na mata Riqueza de formigas Similaridade florística Fenologia instantânea Oferta de nectar por Caryocar Distribuição espacial de palmeiras Características foliares e herbivoria Comportamento em abelhas Uso de recursos por beija-flores Dieta de carnívoros Eficiência de NEFs Efeito do fogo na sobrevivência de larvas Comunidade de morcegos Levantamento de insetos noturnos Levantamento de anuros v Página 2 7 12 18 23 28 33 38 47 51 54 60 65 67 70 72 77 80 83 Relação dos projetos de 1 dia Dia 1o 20/09 Grupo Caio e Carlos Claudio e Sergio Flavio e Marcela Helder e Ernestino Jania e Marcelle Patricia e Otacilio Rafael e Claudio Título do projeto Mortalidade de ninhos de Constrictotermes cyphergaster Herbivoria foliar em Siparuna Efeito de queimada nas formigas Predação de frutos de jatobá Fauna de invertebrados na serapilheira Evapotranspiração de Caryocar e Xylopia Comparação de infestação por erva-de-passarinho 2o 24/09 Claudia e Marcelle Claudio e Helder Ernestino e Caio Flávio e Sergio Marcela e Otacilio Patricia e Carlos Rafael e Jania Comparação de distribuição de galhas e minadores Estabelecimento de cupinzeiros Azteca e Cecropia Efeito do fogo na disponibilidade de recursos Levantamento fitissociológico de gramíneas Relacao mutualistica Comportamento alimentar de Eupetomena vi Página 87 90 94 97 100 103 107 110 112 117 120 123 129 132 Relação dos projetos individuais finais Aluno Caio A. Rebula Ernestino S. G. Guarino Otacílio Santana Patricia Rodin Carlos H.G. Angeluci Claudio Muniz Flavio R. Oliveira Helder N. Consolaro Jania C. Salles Marcela Yamamoto Marcelle S.C. Rodrigues Rafael Arruda Sergio Lopes Título do Projeto Fauna de térmitas (Isoptera, Termitidae) em duas áreas de cerrado, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO Influência do fogo na floração de Galactia peduncularis (Benth.) Taub. (Fabaceae) em um campo rupestre no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO) Caracterização e análise das estruturas diamêtricas e estádio de regeneração na Mata de Galeria da Cascatinha, Parque Estadual de Serra de Caldas Novas Impacto do fogo em Aspidosperma tomentosum Mart. (Apocynaceae) no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) Página 136 Relação entre a fauna de invertebrados e ninhos de termitas (Isoptera, Termitidae) em duas áreas de cerrado do PESCAN-GO Um teste do modelo de Janzen-Connell com duas espécies arbóreas do Cerrado Emissão de voláteis em Curatella americana pista da presença de herbívoros para os predadores? Predação de sementes de Jatobá do cerrado, Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne (Leguminosae – Caesalpinoideae) Comportamento territorial de Eupetomena macroura Gmelin (Apodiforme) em Norantea adamantium Camb. (Marcgraviaceae) Influência de bruquídeos na produção de sementes de Syagrus flexuosa (Arecaceae) em uma área de cerrado sensu stricto Análise da motivação de estudantes em relação ao Parque Estadual da Serra de Caldas Novas - GO Existe especificidade de hospedeiro por Struthanthus sp. (Loranthaceae) em uma área de cerrado? Riqueza e abundância de espécies de pequenos mamíferos em cerrado sensu stricto queimado e não queimado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO 163 vii 141 147 155 167 175 182 187 195 201 207 213 MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA Parque Estadual da Serra de Caldas Novas Projetos em Grupo Set/02 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo CHAVE DICOTÔMICA GERAL PARA IDENTIFICAÇÃO DE ALGUMAS ESPÉCIES VEGETAIS DE UMA ÁREA DE CERRADO – Parque Estadual Serra de Caldas Novas (CALDAS NOVAS – GO) Caio Rébula, Carlos Angeluci, Cláudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Ernestino Guarino, Flávio Oliveira, Hélder Consolaro, Jania Salles, Maecela Yamamoto, Marcelle Rodrigues, Otacílio Santana, Patricia Rodin, Rafael Arruda, Sérgio Lopes 1. Folha simples..........................................................................................................................................2 1’. Folha composta...................................................................................................................................33 2. Folha alterna...........................................................................................................................................3 2’. Folha não alterna.................................................................................................................................18 3. Folhas glabras.........................................................................................................................................4 3’. Folhas pilosas......................................................................................................................................10 4. Presença de látex.........................................................................................Pouteria ramiflora 4’. Sem látex...............................................................................................................................................5 5. Presença de ramentas.............................................................................................................................6 5’. Sem ramentas........................................................................................................................................7 6. Folhas lanceoladas........................................................................................................Erythroxylum sp. 6’. Folhas oblonceoladas........................................................................Erythroxylum suberosus 7. Presença de glândulas translúcidas nas folhas............................................Casearia sylvestris 7’. Sem glândulas translúcidas nas folhas..................................................................................................8 8. Folhas membranáceas..........................................................................Agonandra brasiliensis 8’. Folhas coriáceas....................................................................................................................................9 9. Folhas lanceoladas...................................................................................Ouratea hexasperma 9’. Folhas elípticas.............................................................................................Annona coriacea 2 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 10. Folhas pilosas, curvinérveas...................................................................Miconia ferruginata 10’. Folhas pilosas, não curvinérveas.......................................................................................................11 11. Presença de espinhos.............................................................................Solanum lycocarpum 11’. Sem espinhos....................................................................................................................................12 12. Folhas oblongas, com pilosidade abaxial........................................Piptocarpha rotundifolia 12’. Folhas não oblongas..........................................................................................................................13 13. Folhas lanceoladas..............................................................................................................................14 13’. Folhas elípticas..................................................................................................................................15 14. Folhas com pilosidade abaxial e adaxial...................................................Xylopia aromatica 14’. Folhas com pilosidade adaxial.................................................................................Diospyrus hispida 15. Folhas com textura áspera...................................................................................................16 15’. Folhas com textura não áspera...........................................................................................17 16. Folhas com pecíolo involupto........................................................................Davilla eliptica 16’. Folhas apecioladas................................................................................Curatella americana 17. Folhas com borda revoluta, e ausência de ferrugem...............................Hirtella glandulosa 17’. Folhas com borda não revoluta e presença de ferrugem..........................Styrax ferrugineus 18. Filotaxia verticilada............................................................................................................................19 18’. Filotaxia oposta.................................................................................................................................22 19. Folha pilosa..........................................................................................................Aegiphila sellowiana 19’. Folha glabra......................................................................................................................................20 20. Presença de nectário extra-floral...............................................................................Qualea parviflora 20’. Ausência de nectário extra-floral......................................................................................................21 21. Folha de 10 a 12 cm de comprimento.......................................................................Vochysia elliptica 21’. Folha de 20 a 22 cm de comprimento........................................................Salvertia convallarieodora 3 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 22. Folha pilosa........................................................................................................................................23 22’. Folha glabra......................................................................................................................................27 23. Presença de estípulas interpeciolar.....................................................................................Alibertia sp. 23’. Ausência de estípula interpeciolar....................................................................................................24 24. Folha com látex.........................................................................................Aspidosperma macrocarpon 24’. Folha sem látex.................................................................................................................................25 25. Folha concolor.................................................................................................Byrsonima verbascifolia 25’. Folha discolor....................................................................................................................................26 26. Tronco de cor marrom escuro....................................................................................Byrsonima crassa 26’. Tronco de cor creme......................................................................................................Byrsonima sp. 27. Folha com nervura coletora........................................................................................Myrcia variabilis 27’. Folha sem nervura coletora...............................................................................................................28 28. Folha com látex......................................................................................................Hancornia speciosa 28’. Folha sem látex.................................................................................................................................29 29. Com nectário extra-floral...................................................................................................................30 29’. Sem nectário extra-floral...................................................................................................................31 30. Nectário extra floral no ápice da folha........................................................................Lafoensia pacari 30’. Nectário extra floral par na base do pecíolo..........................................................Qualea grandiflora 31. Folha com nervura curvinérvea..................................................................................Miconia albicans 31’. Folha sem nervura curvinérvea.........................................................................................................32 32. Tronco liso....................................................................................................Byrsonima coccolobifolia 32’. Tronco rugoso.................................................................................................................Neea theifera 33. Folha composta pinada.......................................................................................................................34 33’. Folha composta não pinada...............................................................................................................46 4 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 34. Folha composta imparipenada............................................................................................................35 34’. Folha composta paripenada...............................................................................................................41 35. Folha com nº de folíolos igual a 5.....................................................................Acosmium dasycarpum 35’. Folha com nº de folíolos superior a 5...............................................................................................36 36. Folíolo com forma elíptica.................................................................................................................37 36’. Folíolo com forma lanceolada........................................................................Astronium fraxinifolium 37. Folíolo com menos de 2 cm de comprimento..................................................Dalbergia miscolobium 37’. Folíolo com mais de 2 cm de comprimento......................................................................................38 38. Folíolo com coloração discolor.............................................................................Connarus suberosus 38’. Folíolo com coloração concolor........................................................................................................39 39. Folíolo com menos de 3 cm de largura..............................................................................................40 39’. Folíolo com mais de 3 cm de argura.................................................................................Vatairea sp. 40. Folha com menos de 7 folíolos.......................................................................................Rourea induta 40’. Folha com menos de 7 folíolos..........................................................................Bowdichia virgiloides 41. Folha com 2 folíolos...........................................................................................Hymenea stignocarpa 41’. Folha com mais de 2 folíolos............................................................................................................42 42. Folíolo que não apresenta forma elíptica...........................................................................................43 42’. Folíolo com forma elíptica................................................................................................................44 43. Folíolo com forma ovada.............................................................................Sclerolobium paniculatum 43’. Folíolo com forma assimétrica.......................................................................................Dipterix alata 44. Folíolo com coloração concolor........................................................................Pterodon emarginatus 44’. Folíolo com coloração discolor.........................................................................................................45 45. Folíolo glabro..................................................................................................................Simarouba sp. 45’. Folíolo piloso......................................................................................................Sclerolobium aureum 46. Folhas palmadas.................................................................................................................................47 5 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 46’. Folhas recompostas...........................................................................................................................49 47. Folhas concolor....................................................................................................Caryocar brasiliense 47’. Folhas discolor..................................................................................................................................48 48. Folíolos unidos na base.....................................................................................Cecropia pachystachia 48’. Folíolos separados, com pecíolos...................................................................Schefflera macrocarpon 49. Presença de espinhos................................................................................................Mimosa claussenii 49’. Ausência de espinhos........................................................................................................................50 50. Ausência de nectários extraflorais.......................................................................Dimorphandra mollis 50’. Presença de nectários extraflorais.....................................................................................................51 51. Folhas com 4 folíolos..................................................................................Enterolobium gummiferum 51’. Folhas com mais de 4 folíolos..........................................................................................................52 52. Foliólolos pilosos...................................................................................Stryphnodendron polyphyllum 52’. Foliólolos glabros..............................................................................................................................53 53. Foliólolos com mais de 2 cm de comprimento (média)..........................Stryphnodendron adstringens 53’. Foliólolos com menos de 2 cm de comprimento (média)..................................Platymenia reticulata 6 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G1.1 FITOSSOCIOLOGIA DE UMA ÁREA DE CERRADO S.S. DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, GO Jania C. Salles, Flávio R. Oliveira, Marcelle S. C.Rodrigues, Otacílio Santana, Patricia Rodin Orientador: Prof. Dr. Glein M. Araújo INTRODUÇÃO O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, e no entanto, é o menos protegido (Felfili et al. 2002), tendo sido o alvo das políticas públicas de desenvolvimento agropecuário. Estima-se que apenas 20% deste bioma encontram-se em seu estado original, sendo que 67% é considerada “altamente modificadas” (Silva et al. 2002). Tal situação aumenta a necessidade da criação de unidades de conservação. O Cerrado apresenta uma das maiores biodiversidades dos trópicos, sendo a mais rica das savanas tropicais (Oliveira e Brandão, 1991). Sua vegetação é altamente heterogênea, contendo apenas algumas espécies de ampla distribuição, o que sugere um padrão espacial em mosaico. Poucos estudos têm sido realizados neste bioma, portanto, levantamentos florísticos e fitossociológicos são de grande importância para compreensão dos padrões biogeográficos do Cerrado, e têm subsidiado a determinação de áreas prioritárias para a conservação (Felfili et al. 2002). O objetivo deste estudo foi realizar um levantamento fitossociológico de uma área de cerrado s.s. do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas - PESCAN, a partir do qual foi possível determinar as espécies de maior importância na estrutura da comunidade. da Serra de Caldas Novas, localizada entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no Sudoeste de Goiás. As coletas ocorreram no período matutino do dia 18 de setembro de 2002, durante as atividades do curso de campo UnB/UFU-2002. Foi traçada uma linha de 300 metros de comprimento, onde nove parcelas de 10x10m foram estabelecidas. O ponto inicial da parcela foi determinado através do uso de uma tabela de números aleatórios. Em cada parcela foram identificados todos os indivíduos arbóreos, maiores que dois metros de altura, com seus valores de circunferência a 1,30 metro do solo e altura. Com o auxílio do programa FITOPAC, foram calculados os valores absolutos e relativos de densidade, frequência e dominância, índice de valor de importância (IVI) e índice de valor de cobertura (IVC) para as famílias e espécies amostradas, além do volume total por espécie. Foi confeccionada a curva do coletor, realizada uma análise de similaridade entre as parcelas (SYSTAT 9.0) e calculado o índice de diversidade de Shannon. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados 140 indivíduos pertencentes a 29 espécies, distribuídas em 20 famílias. A família Vochysiaceae foi a que apresentou o maior número de indivíduos (52) e IVI, seguida por Leguminoseae (19), sendo a última a mais rica, representada por quatro espécies. Das 20 famílias encontradas, 14 (48%) delas foram representadas apenas por uma espécie (Tabela 1). METODOLOGIA Este levantamento foi realizado por três grupos através de três metodologias distintas, método de parcelas, interceptação de linhas e ponto quadrante, sendo que o nosso grupo, em específico, utilizou o primeiro método. A área estudada é um cerrado s.s. localizado no Parque Estadual 7 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Quanto às espécies, das 29 encontradas, 11 foram representadas apenas por um indivíduo. As espécies de maior IVI foram, em ordem crescente, Qualea parviflora, Sclerolobium paniculatum e Q. grandiflora, apresentando, 36, 12 e 14 indivíduos, respectivamente. Embora a espécie Q. grandiflora tenha apresentado um menor número de indivíduos que S. paniculatum, o seu menor IVI se deve a sua baixa dominância relativa em comparação com a última. Os mesmos resultados do IVI foram encontrados para IVC (Tabela 02). Sclerolobium paniculatum foi a espécie que apresentou o maior volume cilindríco total, o que se deve ao fato de seus indivíduos possuírem altura e diâmetro superiores as demais espécies (Tabela 02). O índice de diversidade de Shannon para a comunidade em estudo foi de 2,746, sendo este um valor baixo, quando comparado com outras comunidades de cerrado s.s. de Brasília e Goiás (Felfini et al. 1998), o que pode ser explicado pela pequena área amostrada. A análise de similaridade (Figura 01) mostrou que as parcelas espacialmente mais próximas não são, necessariamente, mais similares em relação à composição de espécies. Parcelas mais distantes apresentaram uma maior similaridade que aquelas mais próximas, o que nos indica que a área estudada não se encontra num gradiente ambiental, o que acarretaria numa mudança seqüencial na composição de espécies, e que a comunidade do cerrado é altamente heterogênea em micro-escala. Quanto à curva do coletor, podemos observar que os primeiros 40 indivíduos amostrados representam mais da metade das espécies encontradas, havendo acréscimo de apenas nove espécies quando a amostra atingiu 140 indivíduos. Portanto, o método de parcelas pode ser considerado desvantajoso, devido ao grande esforço amostral necessário para se obter uma boa representatividade da riqueza da comunidade. No entanto, podemos considerar como uma vantagem deste método, o fato deste amostrar espécies mais raras, que só apareceram após amostragem de um grande número de indivíduos. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos professores Dr. John Hay e Dr. Heraldo Vasconcelos pelas dicas e companhia na execução deste estudo e, em especial, ao Prof. Dr. Glein M. de Araújo pelo fundamental apoio na discussão e orientação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.; SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B. S.; DELITTI, W. B. C 2002. Composição florística e fitossociologia do cerrado sentido restrito no município de Água Boa – MT. Acta Bot. Bras. n. 16, v. 1, p. 103-112. OLIVEIRA, P. S., BRANDÃO, C. R. F. 1991. The ant community associated with extrafloral nectaries in the Brazilian cerrados. Ant-Plant Interactions (ed. By C. R. Huxley and D. F. Culter), Oxford University Press. pp. 198-212. SILVA, L. O., COSTA, D. A., FILHO, K. E. S., FERREIRO, H. D., BRANDÃO, D. 2002. Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta Bot. Bras. n. 16, v. 1, p. 43-53. 8 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1. Fitossociologia, de uma área de cerrado s. s. do Parque Estadual de Serra de Caldas Novas, GO. Ordem crescente de Índice de Valor de Importância (IVI) por família. Dominância Relativa (DoR), Freqüência Relativa (FR), Densidade Relativa (DeR) e Índice de Valor de Cobertura (IVC). FAMÍLIA DoR FR IVI DeR IVC Vochysiaceae 38.07 14.52 89.73 37.14 75.21 Leguminosae 36.16 12.90 62.64 13.57 49.73 Sapotaceae 6.40 9.68 23.22 7.14 13.55 Apocynaceae 3.25 9.68 20.07 7.14 10.39 Clusiaceae 3.42 8.06 15.77 4.29 7.70 Asteraceae 1.13 4.84 13.83 7.86 8.99 Caryocaraceae 2.85 4.84 9.83 2.14 4.99 Bignoniaceae 2.99 3.23 9.79 3.57 6.56 Rubiaceae 1.04 4.84 9.45 3.57 4.62 Malpighiaceae 0.66 4.84 8.36 2.86 3.52 Lythraceae 0.54 4.84 7.52 2.14 2.68 Myrtaceae 0.88 3.23 6.24 2.14 3.02 Annonaceae 0.21 3.23 4.76 1.43 1.64 Bombacaceae 1.23 1.61 3.56 0.71 1.95 Ochnaceae 0.67 1.61 3.00 0.71 1.39 Proteaceae 0.18 1.61 2.51 0.71 0.89 Celastraceae 0.12 1.61 2.45 0.71 0.83 Hippocrateaceae 0.12 1.61 2.45 0.71 0.83 Dilleneaceae 0.06 1.61 2.38 0.71 0.77 Euphorbiaceae 0.02 1.61 2.35 0.71 0.73 9 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 2. Fitossociologia de uma área de cerrado s.s. do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. Ordem crescente de Indice de Valor de Importância (IVI) por espécies. Dominância Relativa (DoR), Frequência Relativa(FR), Indice de Valor de Cobertura (IVC), Densidade Relativa (DeR) e Volume (Vol). Espécies DoR FR DeR IVI IVC Vol Qualea parviflora 23.88 9.21 25.71 58.81 49.60 1.3363 Sclerolobium paniculatum 33.63 6.58 8.57 48.78 42.20 3.9100 Qualea grandiflora 13.86 10.53 10.00 34.39 23.86 0.9226 Pouteria ramiflora 6.40 7.89 7.14 21.44 13.55 0.2500 Aspidosperma tomentosum 2.87 6.58 5.71 15.16 8.58 0.1120 Kielmeyra coriacea 3.42 6.58 4.29 14.28 7.70 0.2970 Eremanthus glomerulatus 0.70 3.95 7.14 11.79 7.84 0.0305 Tabebuia aurea 2.99 2.63 3.57 9.19 6.56 0.1221 Caryocar brasiliense 2.85 3.95 2.14 8.94 4.99 0.1595 Palicourea rigida 1.04 3.95 3.57 8.56 4.62 0.0303 Bowdichia virgilioides 1.58 3.95 2.14 7.67 3.72 0.1087 Byrsonima crassa 0.62 3.95 2.14 6.71 2.76 0.0166 Lafoensia pacari 0.54 3.95 2.14 6.63 2.68 0.0202 Acosmium dasycarpum 0.80 2.63 2.14 5.57 2.94 0.0284 Aspidosperma macrocarpon 0.38 2.63 1.43 4.44 1.81 0.0093 Vochysia rufa 0.32 2.63 1.43 4.38 1.75 0.0088 Annona crassiflora 0.21 2.63 1.43 4.27 1.64 0.0049 Myrcia sp 0.78 1.32 1.43 3.52 2.21 0.0318 Eriotheca grassilipes 1.23 1.32 0.71 3.26 1.95 0.1123 Ouratea hexasperma 0.67 1.32 0.71 2.70 1.39 0.0191 Piptocarpha rotundifolia 0.43 1.32 0.71 2.46 1.15 0.0138 Roupala montana 0.18 1.32 0.71 2.21 0.89 0.0061 Stryphnodendron polyphyllum 0.16 1.32 0.71 2.19 0.87 0.0054 Austroplenckia populnea 0.12 1.32 0.71 2.15 0.83 0.0051 Salacea sp 0.12 1.32 0.71 2.15 0.83 0.0030 Myrcia tomentosum 0.10 1.32 0.71 2.13 0.81 0.0027 Davilla eliptica 0.06 1.32 0.71 2.09 0.77 0.0013 Byrsonima coccolobifolia 0.04 1.32 0.71 2.07 0.76 0.0010 Maprunea guianensis 0.02 1.32 0.71 2.05 0.73 0.0005 10 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Cluster Tree PARC3 PARC5 PARC1 PARC9 PARC7 PARC8 PARC2 PARC4 PARC6 0 2 4 6 8 Distances 10 12 Figura 1 – Análise de similaridade entre as parcelas amostradas. 11 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G1.2 LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO EM UMA ÁREA DE CERRADO SENSU STRICTU, PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, GOIÁS Marcela Yamamoto, Caio Rebula, Cláudio Muniz & Sérgio Lopes Orientador: John Du Vall Hay dia 18 de setembro de 2002. O transecto consistiu em uma linha de 300m, atravessando uma área de cerrado sensu stricto. Foi medida a altura de cada indivíduo da amostra, assim como, a extensão da projeção da copa sobre a linha. Calculamos valores para Índice de densidade linear, densidade relativa, Ïndice de cobertura linear, cobertura relativa, freqüência relativa e freqüência absoluta (Brower et al 1998), com o objetivo de definir o valor de importância relativa para cada espécie encontrada. Foi estabelecida uma curva do coletor para verificar a eficiência da metodologia. INTRODUÇÃO O cerrado ocupa uma área de aproximadamente 2 milhões de km2 e apresenta uma elevada biodiversidade (Mendonça et al., 1998), sendo considerado como a flora mais rica entre as savanas mundiais (Klink,1996). A forma savânica mais comum no Brasil Central é o cerrado sensu stricto caracterizado por apresentar os estratos arbóreo e arbustivo bem definidos e cobertura arbórea variando de 10 a 60 % (Eiten, 1994). O estudo fitossociológico fornece informações sobre a estrutura da comunidade de uma determinada área, além de possíveis afinidades entre espécies ou grupos de espécies, acrescentando dados quantitativos a respeito da estrutura da vegetação. Levantamentos florísticos e fitossociológicos (Castro,1994; Felfili et al, 1993, 1994, 1997, 2002; Andrade et al, 2002; Silva et al, 2002) têm fornecido informações importantes para a compreensão dos padrões biogeográficos do cerrado, e subsidiado a determinação de áreas prioritárias para a conservação (Felfili et al, 2002). Buscando ampliar as informações sobre a vegetação arbórea de cerrado, foi feito um levantamento fitossociológico de uma área de cerrado sensu stricto. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em alguns tipos de vegetação, o uso de parcelas pode não ser prático ou consumir muito tempo. O método do ponto quadrante pode dificultar a amostragem, caso a distribuição dos indivíduos amostrados não seja aleatória. Nestes casos o uso de transectos pode ser útil, sendo eficientes e vantajosas em estudos de estágios contíguos na sucessão ecológica, ou comunidades em zonas de transição. Um outro método utilizado em estudos fitossociológicos é a interceptação de linha. Uma linha é passada atravessando a comunidade a ser estudada, os dados são coletados de acordo com a projeção da amostra sobre a linha. Como a área não é amostrada, apenas índices de densidade e estimativas de densidade relativa podem ser calculados. Em casos onde valores de densidade relativa são suficientes, a técnica de MATERIAL E MÉTODOS Os dados foram coletados no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no sudeste do Estado de Goiás, a 180 km da capital Goiânia (Silva et al, 2002). A coleta foi realizada no 12 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo for general ecology. 4th McGraw-Hill, Boston. 273p interceptação de linha é rápida e eficiente (Brower et al, 1998) Foram encontradas 21 espécies sendo um total de 57 indivíduos. Os índices mencionados estão relacionados na tabela 1. O valor de importância é a soma dos valores da densidade, frequencia e coberturas relativas. A partir deste índice é possível verificar a dominância de Qualea parviflora, Sclerolobium paniculatum, Caryocar brasiliense em relação as outras 21 espécies amostradas, como demonstrado pelo valor de importância relativa (Figura 1) A maioria das espécies, 15 entre 21 encontradas, foram representadas por apenas um indivíduo, apresentando baixos valores de importância relativa. O resultado encontrado na curva do coletor demonstrou que o transecto foi curto, não sendo suficiente para descrever a comunidade arbórea local. É necessário um transecto com comprimento mais longo para que o levantamento de espécies seja satisfatório (Figura 2) As maiores alturas dos indivíduos amostrados ao longo do transecto, se localizam entre o intervalo de 100 a 200 metros (Figura 3). edition. CASTRO, A. A. J. F. 1994. Composição florístico-geográfica (Brasil) e fitossociológica (Piauí-São Paulo) de amostras de cerrado. Tese de doutorado. UNICAMP, Campinas. 520 p. EITEN, G. 1994. Vegetação do Cerrado. pp. 17-73. In: M. N. Pinto (Org.). Cerrado: Caracterização, Ocupação e Perspectivas. Editora Universidade de Brasília. Brasília. FELFILI, J. M.; SILVA JÚNIOR, M. C., REZENDE, A. V.; MACHADO, B. W. T.; SILVA, P. E. N. & HAY, J. D. 1993. Análise comparativa da florística e fitossociologia da vegetação arbórea do cerrado sensu stricto na Chapada Pratinha, Brasil. Acta botânica Brasílica 6(2): 27-46. FELFILI, J. M.; FILGUEIRAS, T. S.; HARIDASSAN, M.; SILVA JÚNIOR, M. C.; MENDONÇA, R. C. & REZENDE, A. V. 1994. Projeto biogeografia do bioma cerrado: vegetação e solos. Cadernos de Geociências 12: 75-166. CONCLUSÃO O comprimento do transecto foi insuficiente para amostrar toda a comunidade arbórea, como evidenciado pela curva do coletor. A maioria das espécies foi representada por apenas um indivíduo, havendo dominância de Qualea parviflora, Sclerolobium paniculatum e Caryocar brasiliense na área amostrada FELFILI, J. M.; SILVA JÚNIOR, M. C.; REZENDE, A. V.; NOGUEIRA, P. E.; WALTER, B. M. T., SILVA, M. A. & ENCINAS, J. I. 1997. Comparação florística e fitossociológica do cerrado nas chapadas Pratinha e dos Veadeiros. Pp. 6-11. In: L. Leite & C. H. Saito (Eds.). Contribuição ao conhecimento ecológico do cerrado. Ed. Universidade de Brasília. Brasília, DF. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, L. A. Z.; FELFILI, J.M. & VIOLATTI, L. 2002. Fitossociologia de uma área de cerrado denso na RECOR – IBGE, Brasília – DF. Acta Bot. Brás. 16 (2): 225-2;40. FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.; SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B. S. & DELITTI, W. B. C. 2002. Composição florística e fitossociologia do cerrado sentido restrito no município de Ägua Boa – MT. Acta bot. Brás. 16(1): 103- 112. BROWER, J.E.; ZAR, J.H.; VON ENDE, C.N. 1998. Field and laboratory methods 13 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo & FILGUEIRAS, T. S. 1998. Flora vascular do cerrado. pp. 289-539. In: S. M. Sano, S. P. Almeida (Eds.). Cerrado: Ambiente e Flora. Embrapa CPAC. Planaltina. KLINK, C. A. 1996. Relação entre o desenvolvimento agrícola e a biodiversidade. pp. 25-27. In: R. C. Pereira, L. C. B. Nasser (Eds.). Anais VIII Simpósio Sobre o Cerrado, 1st International Symposium on Tropical Savanas – Biodiversidade e Produção Sustentável de Alimentos e fibras nos Cerrados. Embrapa CPAC. Brasília. SILVA, L. O., COSTA, D. A.; SANTO FILHO, K. E.; FERREIRA, H. D. & BRANDÃO, D. 2002. Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta Bot. Bras. 16(1): 43-53. MENDONÇA, R. C.; FELFILI, J. M.; SILVA Jr., M. C.; REZENDE, A. V.; NOGUEIRA, P. E.; WALTER, B. M. T. 14 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1. Valor de importância (IV), índice de densidade Linear (ID) , densidade relativa (RD), índice de cobertura linear (IC), cobertura relativa (RC), freqüência (F) e freqüência relativa (RF) Espécie ID / m RD IC RC F RF IV Qualea parviflora 0,06 31,6 12 27 75 20,5 79,1 Sclerolobium paniculatum 0,026 14 13,6 30,5 50 13,7 58,2 Caryocar brasiliense 0,02 10,5 6,3 4,7 50 13,7 28,9 Qualea grandiflora 0,01 5,2 2,9 6,6 25 6,8 18,6 Ouratea hexasperma 0,01 5,2 1,9 3,9 25 6,8 15,9 Aspidosperma macrocarpum 0,01 5,2 2 4,5 16,6 4,5 14,2 Aspidosperma tomentosa 0,003 1,8 0,5 1,3 8,3 2,3 5,4 Byrsonima crassa 0,003 1,8 0,5 1,3 8,3 2,3 5,4 Bowdichia virgiloides 0,003 1,8 0,5 1 8,3 2,3 5,1 Pouterea ramiflora 0,003 1,8 0,5 1 8,3 2,3 5,1 Pisidium sp 0,003 1,8 0,5 1 8,3 2,3 5,1 Tabebuia áurea 0,003 1,8 0,4 0,8 8,3 2,3 4,9 Kielmeyera speciosa 0,003 1,8 0,3 0,7 8,3 2,3 4,8 Hancornia speciosa 0,003 1,8 0,3 0,7 8,3 2,3 4,8 Stryphnodendrum adstringens 0,003 1,8 0,3 0,6 8,3 2,3 4,7 Licania humilis 0,003 1,8 0,2 0,5 8,3 2,3 4,6 Erythroxylum sp 0,003 1,8 0,2 0,5 8,3 2,3 4,6 Kielmeiera coreaceae 0,003 1,8 0,2 0,5 8,3 2,3 4,6 Vochysia cinnamonea 0,003 1,8 0,2 0,4 8,3 2,3 4,5 Eremanthus glomerolatus 0,003 1,8 0,1 0,2 8,3 2,3 4,3 Roupala montana 0,003 1,8 0,06 0,1 8,3 2,3 4,2 15 le ro lo Q ua bi lea C um par ar yo pan v i f l o ca ic ra Q r b ula ua ra tu As p i O u lea sili m do ra e s p t e gra ns As erm a h nd e e if pi do a m xas lora sp ac pe er ro rm m a c By a t a r p om um r s Bo o w nim e n t di os c a a P o h i a cra u t v i r ssa er gi ea lo ra ides Pi mif l s Ki T a b idiu ora el e m St m s e bu ry ph H a ye i a a p no n c ra ur de o r sp e a nd n i a eci o ru m s p e sa ci a Li dstr osa ca in g n K i Ery i a e n hu s el t h m m r V o e i e oxy i l i s l Er ch ra u em ys co m a n i a r e sp th cin ace us na a m e R glom on ou p a ero ea la la m tus on ta na Sc IVR (%) UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 30 25 20 15 10 5 0 Figura 1. Índice de importância relativa das espécies amostradas pelo método de interceptação de linhas, em uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. 16 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 25 esp écies 20 15 10 5 0 0 20 40 60 80 100 120 140 n º in d ivíd u o s Figura 2. Curva do coletor das espécies amostradas pelo método de interceptação de linhas em uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. 14 12 altu ra (m 10 8 6 4 2 0 0 50 100 150 200 250 300 d istân cia (m ) Figura 3. Perfil de distribuição das plantas ao longo do transecto de 300 m de comprimento, em uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. 17 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G1.3 FITOSSOCIOLOGIA DE UMA ÁREA DE CERRADO SENTIDO RESTRITO NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS Ernestino de Souza G. Guarino, Carlos Henrique G. Angeluci, Claudia C. F. de Toledo, Helder Consolaro, Rafael Arruda Orientador: Heraldo Vasconcelos INTRODUÇÃO A rápida transformação do Cerrado em áreas antrópicas, torna fundamental o conhecimento das características fisiológicas, ecológicas, florísitcas e fitossociológicas deste bioma. A falta dessas informações aliada a pequena área deste ecossistema teoricamente protegida em unidades de conservação legalizadas dão uma idéia dos riscos da perda de informações sobre a florística da região (Andrade et al. 2002). Levantamentos florísticos e fitossociológicos têm fornecido informações importantes para a determinação de áreas prioritárias para conservação do Cerrado (Felfili et al. 2002). Por isso o objetivo deste trabalho foi realizar, de forma prévia, a análise florística e fitossociológica de uma área de cerrado sentido restrito, localizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO). dispostos, de forma sistemática, quinze pontos intercalados por uma distância de 20 m. Como critério de inclusão dos indivíduos arbóreos, utilizou-se a altura mínima de 2 m. Todos os indivíduos incluídos na amostragem tiveram sua altura total e sua circunferência a 130 centímetros do solo medidas. Os parâmetros fitossociológicos foram calculados com o auxílio do programa FITOPAC, o qual também calculou os índices de diversidade de Shannon (H`) e a equatibilidade (J). RESULTADOS E DISCUSSÃO No total, foram amostradas 16 famílias botânicas, 20 gêneros e 23 espécies (Tabela 1). Igualmente a outras áreas de cerrado sentido restrito (p. ex. Felfili et al. 2002, Silva et al. 2002), as famílias Vochysiaceae (4 espécies) e Leguminosae (3) apresentaram o maior número de espécies, sendo acompanhadas pela família Apocynaceae (2). As outras 13 famílias foram representadas por apenas uma espécie. As espécies com maior Índice de Valor de Importância (IVI) foram Qualea parviflora, Sclerolobium paniculatum, Aspidosperma tomentosum, Kielmeyera coriacea, Caryocar brasiliense, Qualea grandiflora e Pouteria ramiflora. Estas espécies respondem por 64% do IVI da área amostrada (Tabela 2). A área basal estimada foi de 8,74 2 m /ha, com uma densidade total de 1161 ind./ha. Estes resultados são inferiores aos MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), localizado no município de Caldas Novas (GO). A vegetação da área de estudo é caracterizada por um cerrado sentido restrito, com altitude aproximada de 1000 metros. O método utilizado para amostragem fitossociológica foi o de Pontos Quadrantes (Brower et al. 1998). Foram estabelecidas 3 linhas de 100 m, paralelas a uma das estradas de serviço do parque. Ao longo destas linhas foram 18 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo encontrados por Silva et al.(2002) para duas áreas de cerrado sentido restrito no mesmo parque, porém são compatíveis aos resultados encontrados em outras áreas da mesma fitofisionomia. O índice de Shannon (H`) encontrado foi de 2,79 nats/ind., com equatibilidade (J) igual a 0,84. Segundo Felfili et al. (1997, apud Felfili et al. 2002) o índice de Shannon para áreas de cerrado sentido restrito pode variar entre 3,11 e 3,69 nats/indivíduo, resultados acima do encontrado nesse estudo. Esse resultado pode ser atribuído ao baixo número de pontos amostrais utilizados, fato esse comprovado quando comparamos o presente levantamento com o realizado na mesma área por Silva et al. (2002), o qual utilizou o mesmo método de amostragem, porém com um maior número de pontos amostrais. A similaridade entre os dois levantamentos foi de 42% (índice de Sørensen), resultado evidenciado quando analisamos a curva espécie x área, a qual apresenta a tendência de aumentar de acordo com acréscimo de novos pontos amostrais (Figura 1) O método utilizado também se mostrou eficiente em relação ao custo x benefício, pois para levantamentos florísticos e fitossociológicos com o objetivo de influenciar na determinação de áreas prioritárias para a conservação, ele é o que gera resultados com maior rapidez e menor esforço amostral; características necessárias para um bioma que está sendo continuamente degradado. BIBLIOGRAFIA ANDRADE, L. A. Z.; FELFILI, J. M.; VIOLATTI, L. (2002). Fitossociologia de uma área de cerrado denso na RECOR - IBGE, Brasília - DF. Acta Botanica Brasilica 16 (2): 225-240. BROWER, J.E.; ZAR, J.H.; von ENDE, C.N. (1998) Field and laboratory methodas for general ecology. WCB McGraw - Hill. 4 th Editon. 273p. FELFILI, J. M.; NOGUEIRA, P. E.; SILVA JÚNIOR, M. C.; MARIMON, B. S.; DELITTI, W. B. C. (2002). Composição florística do cerrado sentido restrito no município de Água Boa - MT. Acta Botanica Brasilica 16 (1): 103-112. CONCLUSÕES Apesar do pequeno esforço amostral, somente 15 pontos, o trabalho apresentou resultados semelhantes a outros levantamentos fitossociológicos de diferentes áreas de cerrado. Assim podemos inferir que com um aumento do esforço amostral, provavelmente ocorrera um aumento do número de espécies amostradas. SILVA, C.O.; COSTA, D.A.; FILHO, K.E.S.; FERREIRO, H.D.; BRANDÃO, D. (2002). Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta Botanica Brasilica 16 (1): 43-53. . 19 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1. Famílias e espécies amostradas pelo método de Ponto Quadrante em uma área de cerrado sentido restrito no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO). Família/Espécie ANNONACEAE Bowdichia virgilioides Annona crassiflora Enterolobium gummiferum APOCYNACEAE Sclerolobium paniculatum Aspidosperma macrocarpon MALPIGHIACEAE Aspidosperma tomentosum Byrsonima crassa ASTERACEAE MYRTACEAE Eremanthus glomerolatus Psidium sp. Piptocarpha rotundifolia OCHNACEAE BIGNONIACEAE Ouratea hexasperma Tabebuia aurea PROTEAECEAE CARYOCARACEAE Roupala montana Caryocar brasiliense SAPOTACEAE CELASTRACEAE Pouteria ramiflora Austroplenckia populnea VOCHYSIACEAE CLUSIACEAE Qualea grandiflora Kielmeyera coriacea Qualea parviflora ERYTHROXYLACEAE Vochysia cinnamomea Erythroxylum sp. Vochysia rufa LEGUMINOSAE 20 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 2. Fitossociologia de uma área de cerrado sentido restrito, Parque Estadual Serra de Caldas Novas (GO). Ordem decrescente de IVI. (N= nº de indivíduos amostrados; Da = Densidade absoluta (ha); DoA = Dominância (m2/ha); Fa = Freqüência; IVI = Índice de Valor de Importância. a = valores absolutos e r = valores relativos). Espécie N Da Dr DoA DoR Fa Fr IVI 10 193.6 16.67 0.009 20.53 46.67 13.46 50.66 7 135.5 11.67 0.0139 22.27 40 11.54 45.48 tomentosum 7 135.5 11.67 0.0066 10.64 40 11.54 33.85 Kielmeyera coriacea 4 77.4 6.67 0.0108 9.86 20 5.77 22.3 Caryocar brasiliense 4 77.4 6.67 0.0078 7.12 26.67 7.69 21.48 Qualea gradiflora 4 77.4 6.67 0.0069 6.33 26.67 7.69 20.69 Polteria ramiflora 4 77.4 6.67 0.0042 3.84 5.77 16.28 glomerolatus 2 38.7 3.33 0.003 1.37 13.33 3.85 8.55 Vochysia cinnamomea 2 38.7 3.33 0.0019 0.88 13.33 3.85 8.06 Psidium sp. 2 38.7 3.33 0.0015 0.69 13.33 3.85 7.87 Tabebuia aurea 2 38.7 3.33 0.0049 2.26 6.67 1.92 7.52 Piptocarpha rotundifolia 1 19.4 1.67 0.0155 3.56 6.67 1.92 7.15 1 19.4 1.67 0.0115 2.63 6.67 1.92 6.22 macrocarpon 1 19.4 1.67 0.0087 1.98 6.67 1.92 5.57 Ouratea hexasperma 1 19.4 1.67 0.0077 1.75 6.67 1.92 5.34 Qualea parviflora Sclerolobium paniculatum Aspidosperma 20 Eremanthus Enterolobium gummiferum Aspidosperma 21 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 2. (continuação) Miconia ferruginea 1 19.4 1.67 0.0043 0.99 6.67 1.92 4.58 Bowdichia virgilioides 1 19.4 1.67 0.0032 0.73 6.67 1.92 4.32 Annona crassiflora 1 19.4 1.67 0.0032 0.73 6.67 1.92 4.32 Roupala Montana 1 19.4 1.67 0.0029 0.66 6.67 1.92 4.25 Vochysia rufa 1 19.4 1.67 0.0026 0.59 6.67 1.92 4.18 Austroplenckia populnea 1 19.4 1.67 0.0016 0.36 6.67 1.92 3.95 Byrsonima crassa 1 19.4 1.67 0.0005 0.12 6.67 1.92 3.71 Erythroxylum sp. 1 19.4 1.67 0.0004 0.09 6.67 1.92 3.68 Total 60.0 1161.8 100.00 0.13 100.00 346.71 100.00 300.00 25 N° de espécies 20 15 10 5 0 1 11 21 31 41 51 N° de indivíduos Figura 1. Curva do coletor relacionando número de espécies com número de indivíduos amostradas pelo método de Ponto Quadrante em uma área de cerrado sentido restrito no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO). 22 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G2.1 EFEITO DO FOGO SOBRE A ATIVIDADE, RIQUEZA E COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES DE FORMIGAS EM UMA ÁREA DE CERRADO Caio Rebula, Claudio Muniz, Marcela Yamamoto e Sérgio Lopes Orientador: Prof. Dr. Heraldo Vasconcelos INTRODUÇÃO O termo comunidades tem frequentemente denotado associações da fauna e da flora que ocorrem numa mesma localidade particular dominada por uma ou mais espécies predominantes ou por uma característica física (Ricklefs, 1993). A ocorrência de fogo, por causa natural ou antrópica, é comum durante a seca no cerrado, sendo apontado como um importante agente modificador e de manutenção de comunidades vegetais (Coutinho, 1990). Este fato pode alterar as relações de oferta de recursos e também levar a extinção de espécies locais. As formigas são abundantes na maioria dos ecossistemas terrestres, sendo frequentemente consideradas ecologicamente dominantes (Wilson, 1971). Pelo fato de sua impotrtância como bioindicadora (Majer & Kock, 1992). As espécies de formigas que ocorrem na vegetação e as que forrageiam na superfície do solo utilizam como estratégia predominante para escapar do fogo nas queimadas, a localização das colônias (Naves, 1996). O presente estudo teve como objetivo determinar o efeito de um fogo recente sobre a atividade, a riqueza e a composição de espécies de formigas em uma área de cerrado. experimento foi realizado no período da manhã, até as 11:30. A área queimada apresentava solo exposto e a vegetação praticamente nú. Na área não-queimada além do cerrado, havia arbustos e predominância de gramíneas. As iscas, pequenas porções de sardinha, colocadas em pedaços de papel sulfite 7,0 X 10,5cm, foram distribuídas em intervalos de 10m, ao longo de quatro transectos de 100m para cada área. A distância entre os transectos foi de 20m, posicionados paralelos à estrada. Após 30 minutos efetuou-se a contagem dos indivíduos presentes na área de forrageamento e a coleta das espécies presentes. O mesmo procedimento foi repetido aos 60 minutos. Os espécimes coletados foram identificados a nível genérico e separados em morfoespécies. Nessa identificação foram utilizadas chaves taxonômicas (Höldobler & Wilson, 1990), e os conhecimentoos do Prof. H. Vasconcelos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Das 28 espécies amostradas, 21 estavam presentes na área não-queimada, sendo oito espécies exclusivas; e 20 na área queimada, das quais sete exclusivas (Tabela 1). Foram consideradas espécies exclusivas aquelas que ocorreram apenas em uma das áreas. A atividade das formigas foi maior na área não-queimada e no solo. A análise da variância confirma que o efeito da queimada e o estrato explorado são independentes (Tabelas 2 e 3). MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em duas áreas , uma queimada e outra não-queimada de cerrado sentido restrito , no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. O 23 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo in the tropical biota. J. G. GOLDAMMER (ed). SpringerVerlag, Berlin. Camponotus sp foi a morfoespécie mais abundante em ambas as áreas. A frequência relativa para a maioria das espécies foi equivalente, porém ocorreram espécies exclusivas em menor quantidade nas duas áreas (Figura 1). Na área não-queimada a abundância das espécies de formigas do solo apresenta uma maior homogeneidade em relação às espécies da área queimada (Figura 2). No estrato arbóreo da área queimada, as morfoespécies Camponotus sp e Cephalotes sp foram dominantes, não apresentando diferença na abundância interespecífica (Figura 3). A diferença na atividade das formigas entre as áreas pode ser justificado pela maior quantidade de recursos oferecido na área não-queimada, a formiga pode não sair do ninho para procurar alimentos, se ele não é oferecido pelo meio. Uma segunda hipótese é que o fogo pode ter diminuído a densidade dos ninhos na área queimada, aumentando o tempo necessário para o forrageamento, o que não foi detectado estatisticamente. HÖLLDOBLER, B. & WILSON, E. O. 1990. The ants. Cambridge, Harvard Uiversity Press, 732p. MAJER, J.D. 1992. Ant recolonization of reabilited bauxite mines of Poços de Caldas, Brasil. Jour. Trop. Ecol. 10:97-108. NAVES, M. F. 1996. Efeito do fogo na população de formigas (Hymenoptera-Formicidae) em cerrao no Distrito Federal. Anais do Simpósio impacto das queimadas sobre os ecossistemas e mudanças globais. 3 Congresso de Ecologia do Brasil, Brasília. RICKLEFS, R. E. 1993. A economia da natureza. 3 ed. Rio de Janeiro, Brasil. 469p. WILSON, E. O. 1971. The insects societies. Cambridge, Massachusetts, Belknap Press of Harward University Press, 548p. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COUTINHO, L. M. 1990. Fire in the ecoloy of Brasilian cerrado. In: Fire 24 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1. No de espécies nas áreas queimada e não-queimada nos diferentes estratos. No espécies Queimada Não-queimada Solo 16 17 Vegetação 08 11 Exclusivas 07 08 Total 20 21 Total 28 Tabela 2. Atividade das formigas nas áreas queimadas e não queimadas. QUEIMADA NÃO QUEIMADA N 40 40 Mínimo 0 0 Máximo 120 100 Média 12,525 21,450 Desvio Padrão 4,017 3,291 Tabela 3 . Atividade de formigas no solo e na vegetação Solo Vegetação N 40 40 Mínimo 0 0 Máximo 120 100 Média 20,575 15,400 Desvio Padrão 3,652 3,728 25 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo freqüência relativa (%) 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 1 2 3 4 5 6 7 NÃO QUEIMADA QUEIMADA 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 espécies em ordem de abundância Figura 1. Freqüência relativa das espécies encontradas nas duas áreas (queimada e não queimada), em ordem de abundância, Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás. freqüência relativa (%) 30 25 20 15 10 5 esp écies em o rd em d e ab u n d ân cia Q u e ima d a Nã o q u e imad a Figura 2. Freqüência relativa das espécies encontradas sob o solo em duas áreas (queimadas e não queimada), Parque Estadual da Serra de Caldas, Goiás. 26 27 25 23 21 19 17 15 13 11 9 7 5 3 1 0 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo freqüência relativa (%) 30 25 20 15 10 5 27 25 23 21 19 17 15 13 11 9 7 5 3 1 0 espécies em ordem de abundância Queimada Não queimada Figura 3. Freqüência relativa das espécies de formigas encontradas no estrato arbóreo em duas áreas (queimada e não queimada), Parque Estadual da Serra de Caldas, Goiás. 27 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G2.2 COMPARAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS VEGETATIVAS DE ESPÉCIES DE CERRADO SENTIDO STRICTU E DE MATA DO PARQUE ESTADUAL SERRA DE CALDAS NOVAS Marcelle S. C. Rodrigues, Flávio R. Oliveira, Jania C. Salles, Otacílio Santana & Patricia Rodin Orientador: Prof. Dr. John Hay INTRODUÇÃO O entendimento da relação entre os organismos e seus ambientes é um dos maiores interesses da ecologia. Provavelmente, a afirmação mais importante que pode ser feita sobre esta relação, é que os organismos não estão distribuídos ao acaso entre os diferentes tipos de ambientes. Esta diversidade ambiental provoca variações na disponibilidade de recursos, que, em parte, determina a ocorrência das espécies e as características morfológicas e fisiológicas que as mesmas apresenta (Begon et al. 1990). Dentro do domínio do Cerrado, as matas, diferentemente das fisionomias de cerrado, apresentam uma grande sobreposição de estratos, no qual os superiores tendem a diminuir a disponibilidade de energia para os estratos inferiores. Entretanto, a estratificação das comunidades influência, de forma distinta, na disponibilidade de energia solar para as espécies que as compõem. Quanto aos nutrientes, eles são mais escassos no cerrado que na mata, e o mesmo padrão é encontrado para a água durante a estação seca (Oliveira & Paula, 2001). O objetivo deste estudo foi comparar a morfologia foliar de espécies do cerrado sentido strictu e da mata, a fim de se observar possíveis respostas destas comunidades frente às diferenças físicas. Para a realização deste estudo foram utilizadas uma área de cerrado sentido strictu e uma de mata, localizadas no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – PESCAN - Goiás. Os dados da área de cerrado foram obtidos de uma coleta realizada em um estudo anterior no dia 17 de setembro de 2002, proveniente das atividades do Curso de Ecologia UFU/UnB 2002. Os dados relativos à mata foram obtidos a partir da análise de partes vegetativas de diferentes espécies de subbosque, as quais foram coletadas, de forma aleatória, ao longo de uma trilha, no dia 18 de setembro de 2002. Utilizamos para comparação dos dois tipos de ambientes, características como tipo de folha, variações da morfologia geral e apical da folha, coloração, pilosidade, consistência e área foliar. Aquelas que apresentaram alguma diferença numa análise preliminar foram submetidas ao teste do Qui-Quadrado (SYSTAT 9.0), para determinar a existência de diferença significativa. Comparamos a área foliar a partir da fórmula de área elíptica e, posteriormente, comparada através de intervalos de classes de área. RESULTADOS Quanto aos tipos de folha, o cerrado apresentou uma porcentagem significativamente maior de espécies de folhas compostas, e a mata, de folhas simples (X2 = 15, 614; P < 0,0001) (Figura 1). Este resultado era esperado, pois, como a vegetação do cerrado está mais exposta à METODOLOGIA 28 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo radiação solar e as folhas compostas são mais eficientes na perda de calor, devido a maior razão perímetro/área, este tipo de folha é mais vantajoso para esta vegetação. Quanto às formas de folha, esta não parece ser uma característica morfológica adaptativa importante, pois a maior parte das espécies amostradas nos dois ambientes possui forma elíptica (Figura 2). Por outro lado, uma grande porcentagem de espécies da mata apresentou a forma lanceolada, assim como o ápice agudo (83%), o que é adaptação ao escoamento de água da chuva. Em relação à coloração das folhas, os dois ambientes apresentaram uma grande porcentagem de espécies concolor (Figura 3). O esperado era encontrar uma maior porcentagem de espécies discolor na mata, uma vez que a baixa luminosidade do subbosque deveria favorecer o aparecimento desta estratégia, pois ela permite a absorção de luz refletida do solo. Porém, nem sempre a estratégia mais eficiente é a mais comum entre as espécies de uma comunidade. Quanto à pilosidade, a maior parte das espécies do cerrado e da mata apresentou folhas glabras. Mas o Cerrado apresentou um maior número de espécies com pilosidade, no entanto, este resultado fosse significativamente diferente (X2 = 3, 156; P > 0,05) (Figura 4). Esta tendência era esperada, pois os pêlos diminuem a perda de água por evapotranspiração, que é mais intensa no cerrado que na mata. Quanto à consistência foliar, grande parte das espécies do cerrado e da mata apresentou folhas membranáceas, no entanto, o cerrado apresentou uma porcentagem significativamente maior de espécies coriáceas (X2 = 7, 497; P < 0,0062) (Figura 5). Este resultado era esperado, pois as folhas coriáceas perdem menos água para o ambiente. Em relação à área foliar, a mata apresentou uma maior porcentagem de espécies (50%) na classe entre 32-255 cm2 , enquanto o cerrado apresentou 25% das espécies neste intervalo (X2 = 8,182; P < 0,0424) (Figura 06). Este resultado indica que as espécies de sub-bosque da mata parecem investir em folhas maiores, tornando mais eficiente a absorção de energia luminosa neste estrato. CONCLUSÃO Os resultados deste estudo confirmaram a nossa hipótese de que as folhas das espécies dos ambientes de cerrado e mata apresentam características morfológicas distintas. As características que apresentam diferença significativa entre os dois ambientes foram o tipo de folha, a consistência foliar e a área foliar. Estas características estão relacionadas ao uso d’água e da energia luminosa, indicando que estes recursos estão disponíveis de forma distinta na mata e no cerrado. O subbosque da mata apresenta uma maior disponibilidade de água e uma menor luminosidade em comparação com o cerrado, o que reflete na sua maior porcentagem de folhas simples, membranáceas, com uma menor pilosidade, e com uma maior área foliar. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos professores Dr. Glein M. Araújo e Dr. Heraldo Vasconcelos pelo apoio e companhia nos primeiros de curso e, em especial ao Prof. Dr. John Hay pela orientação na execução do trabalho prático, discussão dos resultados e orientação do grupo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEGON, M., HARPER, J. L., TOWNSEND, C. R. 1990. Ecology: individuals, populations and communities. 2a. ed. Blackwell Scientific Publication, Massashussets, USA. OLIVEIRA, P. E. A. M., PAULA, F. R. 2001. Fenologia e biologia reprodutiva de plantas de Matas de Galeria. In RIBEIRO, J. F., FONSECA, C. E. L., SOUSA-SILVA, J. C. Cerrado: caracterização e recuperação de 29 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Matas de Galeria. Planaltina, DF: EMBRAPA, p. 303 – 332. 90 80 % Observada 70 60 50 Cerrado 40 M ata 30 20 10 0 Folhas Simples Folhas Compos tas C ar acte r ís ticas Figura 1 – Porcentagem dos tipos de folhas em ambiente de cerrado e mata do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO. 70 60 % Observada 50 Cerrado Mata 40 30 20 10 0 O vada O bovada Elíptica O blonga Lanceolada A ssim étrica Form a da Folha Figura 2 – Porcentagens observadas nas variações foliares de ambiente de cerrado e mata do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, Go. 30 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 70 60 % Observada 50 Cerrado Mata 40 30 20 10 0 C oncolor D iscolor Coloração da Folha Figura 3 – Porcentagem do padrão de coloração foliar observado nas espécies de cerrado e mata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO. 80 70 % Observada 60 50 C e rra d o 40 Ma ta 30 20 10 0 Glabra A bax ial A dax ial A mbas Pilo s id ad e Figura 4 - Porcentagem do padrão de pilosidade foliar observado nas espécies de cerrado e mata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO. 31 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo % Observada 100 80 60 Cerrado Mata 40 20 0 Membranácea Coriácea Consistência Foliar Figura 5 - Porcentagem do padrão de consistência foliar observado nas espécies de cerrado e mata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO. 50 N. de Indivíduos 45 40 35 30 MATA CERRADO 25 20 15 10 5 0 <2 2 a 31 32 a 255 256 a 2047 > 2047 Área Foliar Figura 6 – Classes de tamanho de área foliar observado nas plantas de cerrado e mata do Parque Estadual Serra de Caldas, GO. 32 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G2.3 Análise florística do estrato arbóreo de um Cerrado sentido restrito em um gradiente de altitude no Parque Estadual de Caldas Novas-GO Carlos H.G. Angeluci, Claudia C. F. de Toledo, Ernestino de Souza G. Guarino. Helder Consolaro, Rafael Arruda Orientador: Glein M. Araújo GO, localizada entre os municípios de Caldas Novas e Águas Quentes, em diferentes altitudes, variando de 760 até 1044m acima do nível do mar, em meados de setembro. Foram amostrados dez pontos aleatórios, sendo que destes, cinco em uma área de escarpa e os outros numa região de platô. Inicialmente foi demarcado para cada um dos dez pontos duas linhas paralelas entre si distando 20m uma da outra e estando dispostas perpendicularmente a uma das estradas que cortam o Parque. Em cada linha foram amostrados 5 pontos, distando 20m um do outro. O método utilizado para a coleta foi o de Ponto Quadrante (Brower et al. 1997), com algumas adaptações. Como critério de inclusão, foi considerado o indivíduo mais próximo a cada quadrante com altura igual ou superior a 2m, os quais foram identificados em campo. A caracterização do solo foi feita nos locais através de visualização. Cada ponto foi georeferenciado com o auxílio de um GPS , e suas altitudes indicadas, tabela 1. Para a análise de similaridade entre as áreas amostradas foi criado um Dendrogama através do Pacote PCORD.4,0. INTRODUÇÃO: O domínio Cerrado é classificado como savana arbórea com densidade variando de 10 a 60% neste tipo de composição (Felfili, 1998). Ele apresenta fitofisionomia variada desde vegetação rasteira até matas de galerias, cobrindo mais de 20% do território brasileiro em altitudes que variam do nível do mar até 1800m. Em geral, os solos do cerrado são profundos e bem drenados e possuem reduzida fertilidade natural, a soma de bases trocáveis é baixa, a acidez é alta, resultando em altos níveis de saturação.por alunínio (Batmaniam & Haridasam 1985). Alguns autores explicam a ocorrência das diversas fitofisionomias que compõem o cerrado como consequência da natureza distrófica dos solos em combinação com fatores climáticos (Coltinho 1990).que juntamente com a altitude, respondem pelas variações locais na estrutura florística , sendo de grande importância para a explicar a heterogeneidade que caracteriza este ambiente. Determinadas espécies são muito abundantes em algumas áreas e raras ou totalmente ausentes em outras. OBJETIVO: O presente trabalho teve como objetivo avaliar a similaridade entre diferentes áreas do Cerrado, sentido restrito, relacionada com a altitude e características do solo. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram encontradas 74 espécies distribuídas em 32 famílias. Como em outros estudos feitos na área (Silva et al. 200) e a maioria dos levantamentos realizados no Cerrado ,a família que apresentou o maior número de espécie foi a Leguminosae com 15, seguida MATERIAL E MÉTODOS: Para a coleta dos dados foi utilizada uma área de Cerrado sentido restrito do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas33 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo de Vochysiaceae com 9, Apocynaceae com 4 e Myrtaceae com 5. As espécies encontradas em maior número foram; Qualea parviflora-27, Kielmeyera coriacea-25, Sclerolobium paniculatm-20, Vochysia elliptica-20 e Pouteria ramiflora-13. Pela análise do Dendograma de Similaridade entre os pontos amostados, foi possível constatar que as áreas 5 e 6 apresentaram maior similaridade, estando situadas muito próximas e tendo altitude e características do solo semelhantes. Em seguida vieram as áreas 3 e 7 que apesar de estarem distantes, cerca de 6 km, e em lados diferentes da Serra, localizavam-se em regiões de escarpa com altitude e solo semelhantes. Os pontos 9 e 10 também exibiram índice de similaridade elevado, solo e altitudes parecidas. Um fato importante a se destacar, é que os pontos 1 e 2 apesar de estarem localizados muito próximos, cerca de 0,3 km, e na mesma altitude, apresentaram o menor índice de similaridade, bem como características do solo diferente. Mesmo com uma descrição superfial dos aspectos edáficos, sem análises químicas laboratoriais, este parece ser, juntamente com a altitude, um dos principais fatores que condicionam a distribuição das espécies citadas e a similaridade entre as áreas estudadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Batmanian,G.J.; Haridasan,M. 1985. Primary production and accumulation of nutrients by the ground layer community of cerrado vegetation of central Brazil. Plant and Soil 88: 437-440. Barros,C.F.A; Dantas,G.P.M.; Mendes,R.S.; Ferreira,R.L..2001Heterogeneidade ambiental no cerrado “sensu strictu” ,Serra do Cipó-MG- trabalho selecionado do Curso de Campo no parque Nacional da Serra do Cipó.Belo Horizonte-MG.21-27 Coutinho,L.M. 1990. Fire in the ecology of the Brazilian Cerrado. In: Fire in the Tropical Biota – Ecosystem Processes and Global Challenges. J.G. Goldammer (ed.). Ecological Studies. Vol. 8A. Springer-Verlag, Berlim. p. 82105. Felfili,J.M; M.C. Silva Júnior..1998Ciência e Cultura Journal of the Brazilian Association for the Advancement of Science.50 Ludwig,J.A.; Reynolds, J.F..1998Statistical Ecology.New York. Silva.O; Costa,D,A..2001 Levantamento florístico em duas áreas de cerrado “sensu stricto” no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas-GO. Acta Botânica Brasileira.16. 43-53. Figura 1 – Dendrograma de similaridade entre os 10 pontos amostrados, no PESCAN. 34 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1 – Características de solo, altitude, e coordenadas geográficas das áreas amostrais no PESCAN. LOCAL SOLO ALTITUDE(m) COORDENADAS 1 Profundo,com 760 17o46’13”S 48o39’32.3”W cascalho 2 Raso, rochoso com 769 48o39’39.2”W acentuado declive 3 Escuro, presença de 913 Rochoso com 17o46’26.8”S 48o39’57.4”W cascalho 4 17o46’18.4”S 921 17o46’37.5”S 48o40’0”W afloramentos na superfície 5 Profundo, sem 996 17o47’04.7”S 48o40’03.2”W cascalho, latossolo amarelo, plano 6 Presença de 991 48o39’57.4”W cascalho,latossolo 7 Raso com cascalho, 17o47’11.6”S 935 17o49’41.8”S 48o43’34.7”W rocha maciça próximo à superfície 8 Latossolo amarelo, 958 17o49’34.3”S 48o43’17.7”W sem cascalho e sem rocha 9 Profundo sem 1003 17o46’26.2”S 48o42’08.4”W cascalho, latossolo vermelho,plano 10 Profundo,sem 1044 17o47’46.4”S 48o40’41.5”W cascalho,latossolo vermelho 35 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 2 – Lista de famílias e espécies encontradas em cada área amostral do PESCAN. Áreas amostrais Anacardiaceae Astronium fraxinifolium Annonaceae Annona coriacea Apocynaceae 1 2 X X 3 4 5 6 7 8 X Xylopia aromatica X X X Aspidosperma macrocarpon Aspidosperma tomentosum X Hancornia speciosa X X X X X X X X X X X X X X X Hymatanthus obovatus X Araliaceae Schefflera macroparpon X Asteraceae Eremanthus glomerulatus X X X X X Burseraceae Protium ovatum Caryocaraceae Caryocar brasiliense X X Celastraceae Austroplenckia populnea X X Chrysobalanaceae Licania humilis Clusiaceae Kielmeyera coriacea X Kielmeyera speciosa X Connaraceae Connarus suberosus Dilleniaceae Curatella americana X X X X X X X X X X X X X X X X X X Erythroxylaceae Erythroxylum suberosun Euphorbiaceae Matayba guianensis Flacourtiaceae Casearia sylvestris X Hippocrateaceae Salacia crassifolia X X X X X X X X X Salacia elliptica X X Icacinaceae Emmoton nitens Leguminosae Acosmium dasycarpum X X Bowdichia virginioides X X X Dalbergia miscolobium X X X X X Enterolobium gummiferum Hymenaea stignocarpa X X X Davila elliptica Dimorphandra mollis X X Tabebuia aurea Terminalia argentea X X Bignoniaceae Combretaceae 10 X Annona crassiflora Piptocarpha rotundifolium 9 X X X Leguminosae indet. X X X X X 36 X X X UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Machaerium opacum X X Mimosa clauseni X Platymenia reticulata X Pterodon emarginatus X Sclerolobium paniculatum X Stryphnodendron adstringens X Stryphnodendron polyphyllum X Vatairea macrocarpa Lythraceae Lafoensia pacari Malpighiaceae Byrsonima coccolobifolia X X X X X X X X X X X X X X X X X X Byrsonima crassa X X Byrsonima verbascifolia Malpighiaceae indet. Melastomataceae X X Miconia ferruginea X X X X X X X X Miconia rubiginosa Moraceae Brosimum gaudichaudii Myrtaceae Psidium sp. X X X Myrcia tomentosa X Myrcia variabilis X X X X X X Myrcia sp.1 X X X Myrcia sp.2 Nyctaginaceae X Guapira graciliflora X Neea theifera Ochnaceae Ouratea hexasperma Rubiaceae Alibertia sp. X X X X X Pouteria ramiflora X X X X X X Styrax ferrugineus Velloziaceae Vellozia squamata Vochysiaceae Qualea grandiflora X X X X X X X X X X X X X X X X X Qualea multiflora X Qualea parviflora X Salvertia convallarieodora X X X X X X Vochysia elliptica X X X X Vochysia rufa X indet. 1 X X X indet. 2 X 37 X X X X Vochysia cinnamomea Indeterminadas X X Pouteria torta Styracaceae X X Palicourea rigida Sapotaceae X UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G3.1 COMPARAÇÃO FENOLÓGICA DE DUAS ÁREAS DE CERRADO SENSU STRICTU. Patrícia Rodin, Flávio Oliveira, Jania Salles, Marcelle Rodrigues & Otacílio Santana Orientadoras: Janaína Lacerda Resende & Helena Maura T.-Silingard (Monitoras) INTRODUÇÃO A fenologia é o estudo da ocorrência de eventos biológicos repetitivos, que são influenciados pelos fatores bióticos e abióticos. As fases fenológicas das diversas espécies de uma comunidade relacionam-se diferentemente com esses fatores (Lieth 1974 apud Mantovani & Martins, 1988). O cerrado s.s. apresenta uma vegetação sujeita às alterações de umidade no ambiente, decorrente da variação sazonal e das características do solo. As condições edáficas influenciam a fenologia das comunidades através da variação da disponibilidade de água e nutrientes, mesmo quando estas comunidades são próximas, e sujeitas às mesmas condições pluviométricas. O objetivo deste estudo foi determinar a variação fenológica existente entre duas comunidades de cerrado s.s, uma presente em afloramento rochoso e outra em latossolo profundo, na transição da estação seca para a chuvosa. A nossa hipótese é que as comunidades apresentarão comportamento fenológico distinto, sendo que a comunidade da área de afloramento apresentará um maior número de indivíduos e espécies sem folhas e um menor número com flores e frutos. observação de todos os indivíduos com mais de 1,5 metro de altura, ao longo de um transecto de 150 metros de comprimento por quatro de largura. Para todos os indivíduos amostrados foram verificadas as seguintes fenofases: I) brotação foliar e presença de folhas maduras; II) floração botões e flores; III) frutificação – frutos novos e maduros (Tabela 1). A intensidade das fases foi classificada de acordo com a porcentagem de ramos onde estas foram observadas, sendo que zero (0) corresponde à ausência do evento; um (1) corresponde a presença do evento em 1-25% dos ramos; dois (2) a 26-75% dos ramos; três (3) a 76100% dos ramos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na área A foram amostrados 96 indivíduos pertencentes a 37 espécies, e na área B foram amostrados 55 indivíduos pertencentes a 36 espécies (Tabela 2). A fenologia foliar das duas áreas não foi significativamente diferente (X 2=2,616, p=0,2703), apenas três dos indivíduos da área A e nenhum da área B apresentaram ausência completa de folhas, 73% da área A e 82% da área B apresentaram apenas folhas novas, e 24% da área A e 10% da área B possuíam apenas folhas maduras (Tabela 3). A maioria dos indivíduos das duas áreas, cerca de 80%, apresentaram produção de folhas novas e 50% dos indivíduos apresentaram folhas maduras (Figura 1). Estes dados indicam que a maioria dos indivíduos amostrada troca de folhas durante a estação seca, no entanto não é possível afirmar que estes são decíduos, ou seja que perdem todas as folhas simultaneamente, pois o evento de troca não foi observado. METODOLOGIA As duas áreas estudadas estão localizadas no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO (PESCAN), e distam aproximadamente 200m uma da outra. Ambas apresentam caraterísticas edáficas distintas, uma ocorre em latossolo profundo (área A) e a outra em afloramento rochoso (área B). A observação foi realizada no fim da estação seca. A metodologia consistiu na 38 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Em relação às fases reprodutivas, apenas cerca de 10% dos indivíduos de ambas áreas apresentaram produção das estruturas relacionadas a estas fases. Além disto, a maioria destes indivíduos apresentaram baixa intensidade (0-25% dos ramos) de produção (Figura 1). Em relação à síndrome de dispersão da comunidade das áreas A e B, 54% e 58% das espécies são zoocóricas e 46% e 42% são anemocóricas, respectivamente (Tabela 2 e Figura 2). Apesar do número de espécies zoocórias ser maior nas duas áreas, este valor é baixo quando comparado a áreas mais fechadas, como uma floresta tropical, onde mais de 70% das espécies são zoocóricas (Howe & Smallwood, 1982), o que está de acordo com a idéia de que nos trópicos, a anemocoria é mais importante em áreas abertas (Howe & Smallwood, 1982), como os Cerrados. Trabalhos de síndrome de dispersão de sementes no Cerrado mostraram que, em Botucatu/SP, 33% das espécies são anemocóricas (Gottsberger & SilberbauerGottsberger, 1983), e 39% em Brasília/DF (Oliveira & Moreira, 1992). Os nossos resultados apresentaram porcentagem de anemocoria um pouco mais elevada, porém próxima aos valores encontrados nestes trabalhos. Em relação aos frutos com dispersão no período de estudo, 22% das espécies que representam 14% dos indivíduos da área A, e 25% das espécies que representam 23% dos indivíduos da área B são zoocóricos, enquanto 11% das espécies que representam 21% dos indivíduos da área A, e 31% das espécies que representam 19% dos indivíduos da área B são anemocóricos (Tabela 2 e Figuras 2 e 3). Apenas cerca de metade dos indivíduos e espécies frutificando nas duas áreas representam recursos em potencial para a fauna. Os resultados encontrados em nível de espécie e de indivíduo não foram significativamente diferente entre as duas comunidades estudadas (X 2= 0,004, p=0,999 e X2= 2,718, p=0,937). Os resultados mostram que grande parte das espécies e indivíduos de síndrome de dispersão anemocórica presente nas duas áreas, não estão dispersando suas sementes nesta época (Figura 2 e 3), o que é esperado, pois elas dispersam suas sementes durante a estação seca, e não na transição entre esta e a estação chuvosa. A anemocoria é mais eficiente durante a estação seca, pois a umidade afeta as estruturas de dispersão anemocórica (Sheldon & Burrows, 1973 apud Oliveira & Moreira, 1992) e impede que as sementes sejam dispersas para grandes distâncias. Os mesmos resultados foram encontrados para a dispersão zoocórica das duas áreas (Figura 2 e 3). Este resultado mostra que durante o período estudado há uma pequena disponibilidade de frutos e sementes para a fauna, tanto em variedade e quanto em quantidade. Quanto à comparação das distintas fenofases entre as duas áreas, as áreas se comportaram de forma bastante semelhante, apresentando uma convergência no comportamento fenológico. Elas apresentaram alta produção de folhas novas e uma ínfima porcentagem de espécies e indivíduos sem folhas, e uma pequena produção de estruturas reprodutivas. Além disto, as duas apresentaram aproximadamente a mesma proporção de indivíduos e espécies zoocóricas e anemocóricas em fruto. CONCLUSÕES Os resultados encontrados não corroboraram nossa hipótese, que a área de afloramento rochoso apresentaria um maior número de indivíduos e espécies sem folhas e um menor número com flores e frutos. A comunidade das duas áreas apresentou fenologia bastante semelhante, o que parece sugerir que as plantas presentes na área de afloramento rochoso não sofrem mais com a escassez de água que as do solo profundo. Este fato pode se dever à presença de estratégias de acúmulo de água pelos indivíduos da área de afloramento rochoso, ou aos eventos de chuva que ocorreram nas 39 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo últimas semanas e que foram suficientes para as plantas produzirem novas estruturas, principalmente, folhas novas. Brazil. Sonderbd. Naturwiss. Hamburg 7:33-314. Rev. HOWE, H. F. & SMALLWOOD, J. 1982. Ecology of seed disspersal. Ann. Rev. Ecol. Syst. 13:201-228. AGRADECIMENTOS Agradecemos as monitoras, Janaína (UnB) e Helena Maura (UFU) pela orientação no campo e pelo empenho na discussão do relatório. E ao amigo Ernestino Guarino e ao Prof. Dr. Paulo E. A. Oliveira pela ajuda na identificação das plantas. MANTOVANI, W. & MARTINS, F. R. 1988. Variações fenológicas das espécies do cerrado da Reserva Biológica de Moji Guaçú, Estado de São Paulo. Rev. brasil. Bot. 11: 101-112. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OLIVEIRA, P. E. A. M. & MOREIRA, A. G. 1992. Anemocoria em espécies de cerrado e mata de galeria de Brasília, DF. Rev. brasil. Bot. 15(2):163174. GOTTSBERGER, G. & SILBERBAUERGOTTSBERGER, I. 1983. Dispersal and distribution in the cerrado vegetation of Tabela 1. Modelo de ficha de coleta de dados referente a fenofases em duas áreas de cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO. FICHA DE COLETA DE DADOS – PROJETO FENOLOGIA FENOFASES ÁREA:_____________ FOLHAS No. Espécie FoJ 40 FoM FLORES Fruto Flor FRUTOS FrJ FrM UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 2. Espécies encontradas em duas áreas de cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, quanto à sindrome de dispersão, floração e frutificação. A simbologia "n" significa ausência e "s" ocorrência do evento fenológico. Espécie ÁREA (A) Síndrome de dispersão Floração Frutificação zoocoria n n Aspidosperma macrocarpon anemocoria s n Austroplenckia populnea anemocoria n n Bowdichia virgilioides anemocoria n s Brosimum gaudichaudii zoocoria s n Byrsonima crassa zoocoria s n Byrsonima crassifolia zoocoria n n Caryocar brasiliense zoocoria s n Connarus suberosun zoocoria n n anemocoria s n Diospyrus bulcheli zoocoria n n Erythroxylum sp. zoocoria s n Hymenaea stignocarpa zoocoria n n Kielmeyera coriacea anemocoria n n Lafoensia pacari anemocoria n n Licania humilis zoocoria s s anemocoria n n Miconia ferruginea zoocoria n n Myrcia tomentosa zoocoria s s Ouratea hexasperma zoocoria s s Palicourea rígida zoocoria s n anemocoria n n Pouteria ramiflora zoocoria s s Qualea grandiflora anemocoria n s Qualea parviflora anemocoria s s Roupala montana anemocoria n n Schinus pseudochila zoocoria n n Senna sp. autocoria n s Annona crassiflora Dalbergia miscolobium Machaerium obovatum Piptocarpha rotundifolia 41 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Stryphnodendron zoocoria s s polyphyllum zoocoria n n Styrax ferrugineus zoocoria s s Syagrus sp. zoocoria n s Tabebuia áurea anemocoria n n Tabebuia sp anemocoria n n zoocoria n s Vochysia cinnamomea anemocoria s n Vochysia sp anemocoria n n adstringens Stryphnodendron Tocoyena formosa Espécie ÁREA (B) Síndrome de dispersão Floração Frutificação anemocoria s n Byrsonima coccolobifolia zoocoria s n Byrsonima crassa zoocoria s n Caryocar brasiliense zoocoria n n Casearia sp zoocoria s s anemocoria n n Davilla elliptica zoocoria n n Didymopanax sp zoocoria n n Dimorphandra mollis anemocoria n n Dioscoriacea anemocoria s s zoocoria n n anemocoria n n Erythroxylum sp zoocoria s n Hancornia speciosa zoocoria s s Hymenaea stignocarpa zoocoria n n Jacaranda sp anemocoria n n Kielmeyera coriacea anemocoria n n Lafoensia pacari anemocoria n n Aspidosperma macrocarpon Dalbergia miscolobium Enterolobium gummiferum Eremantus sp 42 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo zoocoria n s Mimosa sp anemocoria n s Myrcia sp zoocoria n s Myrcia tomentosa zoocoria n s Ouratea hexasperma zoocoria s s Pouteria ramiflora zoocoria n s Psidium sp zoocoria n n Pterodon emarginata anemocoria n n Qualea grandiflora anemocoria n s Qualea parviflora anemocoria s s Roupala Montana anemocoria n n Rourea induta zoocoria s s Salacia crassifolia zoocoria n n zoocoria n n anemocoria n n zoocoria n S anemocoria n N zoocoria n N Licania humilis Stryphnodendron polyphyllum Tabebuia áurea Tocoyena formosa Vochysia sp Xylopia aromatica Tabela 3. Número de indivíduos quanto à presença ou ausência de folhas em cada área amostrada, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO. FOLHAS ÁREAS AMOSTRADAS ÁREA A ÁREA B 3 (3,12%) 00 (0%) Somente Jovens 70 (72,92%) 45 (81,81%) Somente Maduras 23 (23,96%) 10 (18,19%) 96 55 Ausência TOTAL DE INDIVÍDUOS 43 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo % Indivíduos (A) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0 (0%) 1 (01 - 25%) 2 (26 - 75%) 3 (76 - 100%) FolJ FolM Bot Flor FrtJ FrtM Eventos Fenológicos % Indivíduos (B) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0 (0%) 1 (01 - 25%) 2 (26 - 75%) 3 (76 - 100%) FolJ FolM Bot Flor FrtJ FrtM Eventos Fenológicos Figura 1 – Ocorrência dos eventos fenológicos por número de indivíduos em cerrado de latossolo-profundo (área A) e afloramento rochoso (área B), no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO. As expressões FolJ, FolM, Bot, Flor, FrtJ, FrtM significam folha jovem, folha madura, botão floral, flor, fruto jovem e fruto maduro respectivamente. 44 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Área A Zoo/nao 32%(12) Zoo/frut 22% (8) Anemo/frut 11% (4) Anemo/nao 35% (13) Anemo/frut Anemo/nao Zoo/frut Zoo/nao Área B Zoo/nao 33% (12) Zoo/frut 25% (9) Anemo/frut 11% (4) Anemo/nao 31% (11) Anemo/frut Anemo/nao Zoo/frut Zoo/nao Figura 2 – Porcentagem de espécies zoocóricas (zoo) e anemocóricas (anemo) em plantas com e sem frutos (frut), de duas áreas de Cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas, GO. 45 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Área A Zoo/nao 25% Anemo/frut 19% Anemo/frut Anemo/nao Zoo/frut 23% Anemo/nao 33% Zoo/frut Zoo/nao Área B Zoo/nao 27% Zoo/frut 14% Anemo/frut 21% Anemo/frut Anemo/nao Anemo/nao 38% Zoo/frut Zoo/nao Figura 3 – Porcentagem de indivíduos zoocóricas (zoo) e anemocóricas (anemo) em plantas com e sem frutos (frut), de duas áreas de Cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas, GO. 46 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G3.2 DISPONIBILIDADE DE NÉCTAR E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE CARYOCAR BRASILIENSE (CARYOCARACEAE) EM UMA ÁREA DE CERRADO SENSU RESTRITO, PARQUE ESTADUAL DE SERRA DE CALDAS NOVAS, GO Caio Rebula, Cláudio Muniz, Marcela Yamamto & Sérgio Lopes Orientação: Profo. Dr. Paulo Oliveira INTRODUÇÃO No bioma cerrado ocorrem diversas fitofisionomias com a ocorrência de espécies arbóreas e predomínio de espécies herbáceas e arbustivas (SCHIAVINI & ARAÚJO, 1989). Nessa região, as interações entre polinizadores e as flores que esses visitam, são de grande importância para muitas espécies vegetais completarem sua reprodução sexuada (OLIVEIRA, 1991, 1994). A interação morcego-planta é considerada recente na história evolutiva das angiospermas, mas ainda assim é de grande importância para os ecossistemas tropicais (BOBROWIEC, 2000). O aumento da diversidade das angiospermas provocou um efeito diversificador nos morcegos, influenciando apreciavelmente os gêneros e espécies dessas plantas (FLEMING & HEITHAUS, 1981). A distância que morcegos voam entre o ninho e a área de forrageamento, reflete diretamente as interações entre algumas variáveis, como o tamanho corporal, a distribuição e a abundância das fontes alimentares (árvores com flores e frutos) e a quantidade de indivíduos do grupo que irão consumir tais recursos (COELHO et al., 2001). Nos últimos anos, vários estudos (SAZIMA et al., 1994; GIBBS et al., 1999; BOBROWIEC, 2000; COELHO et al., 2001) vêm sendo realizados com o objetivo de avaliar a relação entre a atividade dos morcegos polinizadores e a oferta de alimento pelas espécies vegetais. A relação animal-planta é objeto de estudos para vários pesquisadores pois ela associa informações sobre o estabelecimento das plantas no ambiente e os animais que dependem de seus recursos alimentares. Neste sentido, este trabalho teve como objetivos: determinar o padrão de distribuição espacial de Caryocar brasiliense em uma área de cerrado sentido restrito, e avaliar a produção de néctar para alguns indivíduos dessa espécie ao longo de uma noite. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo Os presente estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no sudeste do Estado de Goiás, a 180 km da capital Goiânia (SILVA et al, 2002). A coleta dos dados foi realizada nos dias 21 e 22 de setembro de 2002. Espécie estudada Caryocar brasiliense é uma espécie representativa da flora do cerrado, tanto pela área de ocorrência como pelo potencial de utilização. Seu período reprodutivo ocorre de setembro a outubro, coincidindo com o início da estação chuvosa. As flores são grandes e vistosos, de cor amarelada, reunidas em inflrescências terminais paniculadas. Androceu formado por numerosos estames, soldados na base ou formado grupos com filetes glandulares (Joly, 1976). 47 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Para a transformação da massa de açúcar encontrada no néctar em quilocalorias (Kcal), foi utilizada a relação apresentada por DAFINI (1992), em que 1 g de açúcar equivale a 4 Kcal. Desenho experimental Foi realizado um levantamento em uma área de 1,0 ha, usando 20 transectos de 10 X 50 m, subdivididos em parcelas de 10 X 10 m. Todos os indivíduos de Caryocar brasiliense encontrados nos transectos foram registrados e suas alturas estimadas visualmente com o auxílio de uma vara graduada. Quando os indivíduos apresentavam flores abertas na noite anterior, estas eram contadas. Esses dados serviram para calcular a densidade de indivíduos reprodutivos (aqueles com presença de flores), de indivíduos não reprodutivos (aqueles com ausência de flores) e de flores, bem como a distribuição espacial, através do Índice de Poisson e de Morisita (Tabela 1). Na mesma área estudada, porém fora dos transectos demarcados, outros indivíduos com botões florais no estado de pré-antese, tiveram suas inflorescências ensacadas com organza para posterior determinação da produção do néctar. RESULTADOS E DISCUSSÃO A densidade relacionada ao total de indivíduos não reprodutivos, indivíduos reprodutivos e flores (23, 10 e 42 respectivamente), assim como o padrão de distribuição espacial, estão descritos na Tabela 2. Os indivíduos de pequi amostrados apresentaram distribuição agrupada para o total de indivíduos não reprodutivos, indivíduos reprodutivos e flores. Isto mostra que tais indivíduos estão concentrados em algumas áreas, disponibilizando o recurso (néctar das flores), também, de maneira concentrada na área de estudo. O volume médio da produção noturna de néctar foi de 664,4 µL (dp = 304,8; n = 15) e a concentração média de equivalentes de sacarose no néctar, foi de 14,9 % (dp = 4,2; n = 15). Foi feita a conversão de tais resultados segundo a tabela de conversão de KEARNS & INOUYE (1993) e foi encontrado 17,4 Kcal de energia disponível para a área de estudo. Considerando que a espécie de morcego que alimenta-se do néctar e assumindo que um morcego nectarívoro tem uma demanda calórica diária de 12,4 Kcal (VON HELVERSEN & REYER, 1984), verificamos que a área estudada tem a capacidade de sustentar apenas um morcego. Coelho et al., estudando o oferecimento de néctar de Hymenaea stigonocarpa, encontrou uma quantidade de néctar nas flores capaz de suprir as necessidades de aproximadamente 10 morcegos por hectare. Essas variações nos valores de produção e concentração podem estar relacionadas com pressões ambientais adversas, sofridas pelas flores de um mesmo indivíduo ou de indivíduos diferentes. Essas interferências podem Medidas de néctar As medidas referentes ao néctar foram feitas em flores previamente ensacadas, ao anoitecer e ao amanhecer, medindo-se o volume e a concentração em equivalentes de sacarose, utilizando-se seringas de 1 ml (escala de 20 microlitros) e refratômetro de bolso, respectivamente. A partir de tais medidas (volume e concentração do néctar) foi estimada a recompensa calórica por hectare utilizando a tabela de conversão de KEARNS & INOUYE (1993) seguindo os seguintes passos, conforme Bobrowiec (2000). 1o passo – encontrar na tabela o valor de g/l (gramas de açúcar por litros de néctar) da concentração de açúcar amostrada (% sacarose); 2o passo – dividir o valor tabelado por 1000 3o passo – multiplicar pelo volume de néctar coletado 48 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo control of selfing in Hymenaea stignocarpa (LeguminosaeCaesalpinoideae), a bat-pollinated tree of the brazilian Cerrados. Int. J. Plant. Sci. v. 160. p. 72-78. influenciar na produção de néctar e consequentemente no número de flores necessárias para satisfazer a demanda energática dos morcegos (ZIMERMMAN, 1999). Os dados obtidos demonstram que Caryocar brasiliense apresentou distribuição espacial agrupada para indivíduos e recurso floral. O estudo demonstrou a importância do pequi como fonte de recurso para morcegos, sendo essencial para a manuntenção da fauna local. Entretanto, em comparação com o estudo de Hymenaea stigonocarpa (Coelho et al., 2001), o pequi apresentou baixa capacidade suporte. VON HELVERSEN, O.; REYER, H. U. 1984. Nectar intake and energy expenditure in a flower visiting bat. Oecologia (Berlin). 63: 178-184. OLIVEIRA, P. E. M. 1994. Aspectos da reprodução de plantas do cerrado e conservação. Bol. Herb. Ezechias Paulo Heringer. p. 34-35. SAZIMA, I.; FISCHER, W.A.; SAZIMA, M.; FISCHER, E.A. 1994. The fruit bat Artibeus literatus as a forest and city dweller. Ciência e Cultura 46:164-168. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOBROWIEC, P. E. D. 2000. Disponibilidade de recursos florais para morcegos Phyllostomidae em Uberlândia, MG. Monografia de bacharelado. UFU, 40p. JOLY, A.B. 1976. Botânica: introdução à taxonomia vegetal. 3a ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional. 777 p. COELHO, C. P; MENDES, S; DE CARVALHO, D. A. 2001. Disponibilidade de néctar e recompensa calórica oferecida por Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne aos seus visitantes. Estudo desesnvolvido durante a disciplina Ecologia de Campo – 2001. Perdizes, MG. SILVA, L.O.; COSTA, D.A.; SANTO FILHO, K.E.; FERREIRA, H.D.; BRANDÃO, D. 2002. Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado sensu strictu no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta Bot. Bras. 16(1): 43-53. DAFNI, A. 1992. Pollination ecology: a practical approach. New York: Oxford University Press. SCHIAVINI, I. & ARAÚJO, G. M. 1989. Considerações sobre a vegetação da Estação Ecológica do Panga Uberlândia. Sociedade & Natureza. p. 61-65. FLEMING,T. H; HEITHAUS, E. R. 1981. Frugivorous bats seed shadows, and structure of tropical forest. Biotropica 13(supl.):45-53. ZIMERMMAN, M 1998 Nectar production, flowering phenology, and strategies for pollination. In: Doust, J.L.; Doust, L.L. Plant reproduction ecology: patterns and strategies. New York, Oxford University Press. 157-178. GIBBS, P. E.; OLIVEIRA, P. E.; BIANCHI, M. B. 1999. Postzygotic 49 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1 – Padrões de distribuição espacial definidos por dois índices de dispersão. Índices de Dispersão Poisson e Morisita Condição Tipo de distribuição ID > 1 Agrupada ID < 1 Aleatória ID = 1 Uniforme Obs.: ID = Índice de Dispersão Tabela 2 – Densidade e tipo de distribuição espacial de indivíduos e flores em uma área de cerrado sentido restrito, PESCAN, Caldas Novas, GO. Densidade (indivíduos/ha) 23 Indivíduos (total) Indivíduos não reprodutivos Índice de Poisson 1.39 Distribuição agrupada Índice de Morisita 4.5 Distribuição agrupada Densidade (indivíduos/ha) Índice de Poisson 1.31 Distribuição agrupada Índice de Morisita 4.4 Distribuição agrupada Densidade (flores/ha) Flores 10 42 Índice de Poisson 1.31 Distribuição agrupada Índice de Morisita 18.6 Distribuição agrupada 50 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G3.3 PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE DUAS ESPÉCIES PALMEIRAS, BUTIA LEIOSPATHA E SYAGRUS FLEXUOSA (ARECACEAE), NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, GO Claudia C.F. de Toledo, Hélder N. Consolaro, Rafael S. Arruda, Ernestino S.G. Guarino & Carlos H.G. Angeluci Orientador: John D. Hay INTRODUÇÃO Para conhecer o padrão espacial de ocorrência de uma população é recomendado conhecer tanto o grau de agregação, quanto sua formação (Maia, 1997). Indivíduos de populações vegetais podem estar distribuídos no espaço de três maneiras: uniforme, aleatório e agregado. O padrão de distribuição regular é o menos encontrado na natureza, sendo o agregado o mais comum (Silva, 1996), padrão que parece se repetir para espécies de Cerrado (Hay, 2000). O estudo dos padrões espaciais de populações naturais é de grande importância, devido as características sócioecológicas que podem resultar a partir de seu conhecimento e, em escalas maiores, devido serem usados para planejamento e desenho de áreas de conservação (Nakajima, 1987; Hay, 2000). Estas características refletem relações intrapopulacionais, interespecíficas e de interações para com os fatores ambientais (Nakajima, 1987). O objetivo deste trabalho foi identificar escalas do padrão de distribuição espacial de duas espécies de palmeiras, Butia leiospatha e Syagrus flexuosa (Arecaceae), em uma área de cerrado (sentido restrito). A área de estudo compreende uma porção de cerrado (sentido restrito) encontrada da no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, sudeste do Estado de Goiás. Os dados foram coletados no mês de setembro de 2002, utilizando uma sequência de parcelas contíguas (Ludwig & Reynolds, 1988). Foram demarcados 130 parcelas (8 x 5m) ao longo de uma linha de 650 m de comprimento, totalizando 5200 m2 de área amostrada. Em cada parcela foram contados o número total de indivíduos das duas espécies. O padrão da escala de distribuição espacial foi estabelecido usando o Método Quadrado-Variância, através da construção de gráficos nos quais se plota o valor da variância contra o tamanho do bloco ou intervalo entre parcelas (Ludwig & Reynolds, 1988). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados um total de 317 indivíduos, sendo 141 de Syagrus flexuosa, variando de 0 a 9 indivíduos por parcela (1,35 indiv./parcela), e 176 de Butia leiospatha, variando de 0 a 8 indivíduos por parcela (1,08 indiv./parcela). Através da análise dos dados usando a técnica da variância entre parcelas pareadas (PQV), as espécies apresentaram um padrão de distribuição aleatório (Figura MATERIAL E MÉTODOS 51 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 1). A análise dos resultados usando a técnica da variância entre blocos de parcela (BQV) mostrou que as espécies não apresentaram picos de agrupamento aparentes (Figura 2). Na natureza, o padrão mais encontrado é o de distribuição agregado, sendo os principais fatores causais que podem levar a este tipo de variação, os ambientais (intensidade de luz, disponibilidade de água, pH); reprodutivos (em decorrência da forma de reprodução ou dispersão de diásporos), sociais (territorialismo), interaçoes intraespecíficas (competição) e estocásticas. Entretanto, as espécies estudadas apresentaram um padrão de distribuição aleatório, presumindo, desta forma, que nenhum fator está determinando o padrão destas populações na área de estudo. Seyffarth, J. A. S. e Walter, B. M. T.. 2000. Comparação do padrão da distribuição espacial em escalas diferentes de espécies nativas do cerrado, em Brasília, DF. Revta brasil. Bot. 23: 341-347. Ludwig, J. A. & Reynolds, J. F.. 1988. Statical ecology: a primer on methods and computing. John Wiley & Sons, New York. Maia, J. M. F. 1997. Estrutura populacional das espécies do gênero Syagrus para o cerrado Sensu Strictu. Pós-graduação em Ecologia, UnB – Curso de Campo em Ecologia (Trabalhos Inividuais). 43-47p. Nakajima, J. N. & Monteiro, R.. 1987. Padrões de distribuição espacial de espécies de Styrax (Styracaceae) de Cerrados. Arq. Biol. Tecnol. 30 (3): 419430. Silva, D. M. S.. 1996. Distribuição espacial de Qualea grandiflora Mart. (Vochysiaceae) em um cerrado de Brasília, DF. Pós-graduação em Ecologia, UnB – Ecologia no cerrado, (Curso ‘”Métodos de campo em Ecologia”). 44-48. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Hay, J. D., Bizerril, M.X., Calouro, A. M., Costa, E. M. N., Ferreira, A. A., Gastal, M. L. A., Junior, C. D. G., Manzan, D. J., Martins, C. R., Monteiro, J. M. G., Oliveira, S. A., Rodrigues, M. C. M., 52 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo PQV - Syagrus e Butia 6 Variância 5 4 Butia Syagrus 3 2 1 0 1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 Número de parcelas no bloco Figura 1. Análise do padrão de distribuição espacial de duas espécies de palmeiras numa área de cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO – PESCAN, usando o método de variância entre parcelas pareadas (PQV). Para as espécies, Butia leiospatha (- -) e Syagrus flexuosa (-V-). Variância BQV - Syagrus e Butia 50 40 30 20 10 0 Butia Syagrus 1 2 3 4 5 6 7 Numeros de parcelas nos blocos Figura 2. Análise do padrão de distribuição espacial de duas espécies de palmeiras numa área de cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO – PESCAN, usando o método de variância entre blocos de parcelas (BQV). Para as espécies, Butia leiospatha (- -) e Syagrus flexuosa (-V-). 53 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G4.1 DUREZA, ÁREA FOLIAR, COR, PESO E PILOSIDADE EM UMA ÁREA QUEIMADA E OUTRA NÃO EM CERRADO SENSU STRICTO Cláudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Otacílio Santana, Carlos Angeluci & Marcelle Rodrigues Orientação: John Hay INTRODUÇÃO O fogo é um dos principais fatores limitantes no cerrado, principalmente na competição interespecífica entre espécies árvore/arbustivas e camada rasteira. A alta freqüência deste evento ao longo dos anos, faz com que as plantas desenvolvam adaptações para diminuir os danos ocorridos (Takyia et. al, 2000). No cerrado, o investimento em reservas nutricionais subterrâneas mostram a grande quantidade de espécies decíduas e semi-decíduas, ou seja, sendo as folhas em épocas de intenso estresse, a primeira parte da planta a responder a estes distúrbios. O estudo de algumas características foliares de uma área recém queimada e outra não poderá nos sugerir alguns parâmetros que serão afetados inicialmente após a passagem do fogo. Bianchi et. al.(1996) observou significativas mudanças em alguns parâmetros: dureza, coloração, pilosidade e tamanho médio das folhas em mata de galeria e cerrado. Os objetivos do nosso trabalho foram: i) comparar algumas características foliares em área de queimada recente e outra não, e entre folhas jovens e maduras, ii) comparar herbivoria em folhas jovens e maduras. cerrado sensu stricto (17o66’59.4”S e 48o40’04,7”W) marginal a uma estrada onde um lado foi queimado recentemente e outro não. A dureza relativa de cada folha foi estimada com o uso de um perfurômetro (um dinamômetro adaptado) com três furos em cada folha ou folíolo e calculada a média. A área foliar foi mensurada por um aparelho chamada Laser Area Meter, onde a folha era escaneada três vezes, sendo posteriormente tirado a médias dos resultados. A Coloração foi descrita em comparação da folha/folíolo com o Livro de Munsell (Color Charts for Plant Tissue). O peso foi mensurado por uma balança de precisão de centésimo de gramas OHAUS. Foi tomado o peso fresco das folhas. A pilosidade foi classificada por ausente, muita ou pouca, e era notada através da conta fio Intex. O teste t pareado será aplicado para comparar os parâmetros tanto em relação à área, quanto em relação à idade foliar (Software utilizado Prophet 1997). SLA – specific leaf área foi calculado pela razão entre área foliar e peso fresco. MATERIAL E MÉTODOS As coletas das folhas foram feitas de forma aleatória, em seis espécies arbóreas: Caryocar brasiliense, Kielmeyera coriacea, Xylopia aromatica, Roupala montana Sclerolobium paniculatum e Striphnodendron adistrigens. A área foi um RESULTADOS E DISCUSSÃO Tanto a área foliar quanto o peso aumentaram nas espécies estudadas das folhas jovens para folhas maduras, como o esperado (Tabela 1 e 2), não mostrando este padrão para dureza, observado em Roupala montana. 54 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo uma das áreas e o período de observação foi muito pequeno, cerca de duas semanas, que provavelmente não sendo o suficiente para que ocorressem significativas variações nos parâmetros de cor (Figura 2 e 3). Em comparação a todos os quesitos estudados não mostraram significativamente através do teste t pareado (tmax=0.023 e tmin= 2.3880, p>0.05) em relação à área queimada e área não queimada recentemente. Na maioria das espécies estudadas que apresentavam muita pilosidade em pelo menos uma das faces, não houve relação direta com a taxa de herbivoria (Tabela 1 e 2). Os quesitos que representaram um pouco significância foram na comparação do SLA e dureza mostrado na figura 1, apenas para a espécie Caryocar brasiliense (r2 = 0.2241), sendo as outras espécies apresentando regressão linear quase sem inclinação alguma, como por exemplo, na Kyelmeiera coriaceae (r2 = 0.0173). O padrão para coloração sofreu mudança significativa entre folhas novas e maduras somente para três espécies: Caryocar brasiliense, Xylopia aromatica e Sclerolobium paniculatum, nas espécies restantes tal variação não foi observada. Entre área queimada e não queimada não foi verificada mudança para nenhuma as espécies. É importante ressaltar que o intervalo entre a queimada que ocorreu em BIBLIOGRAFIA Begon, M., Harper, J. L., Townsend, C. R. 1990. Ecology: individuals, populations and communities. 2a. ed. Blackwell Scientific Publication, Massashussets, USA. Bianchi, C. A.; Costa F. A. P. L. & Dias, T. A. B. 1996. Comparação de características de folhas de plantas de cerrado e mata de galleria. Curso de Campo – Ecologia do Cerrado, Departamento de Ecologia – UnB, p. 22. Takiya, D. M.; Perez, M. E.; Campon, F.; Georgeoglou, L. & Pequeño. T. 2000. Comparacíon de los parametros físicos y fauna de invertebrados associada de la hojarasca en una area preservada y outra manejada. Curso de Campo 2000 – INPA/ Smithsonian/OTS. 55 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1. Área foliar, massa, dureza, pilosidade e herbivoria na área sem fogo recente de cerrado s.s., em folhas jovens e madura das espécies Caryocar brasiliense, Kielmeyera coriacea, Xylopia aromatica, Roupala montana, Sclerolobium paniculatum e Stryphnodendron adstringens. Área Sem Fogo Recente Área (cm2) Massa (g) Dureza Pilosidade Herbivoria C. brasiliense K. coriacea X. aromatica R. montana S. adistrigens S. paniculatum Folha Jovem 32.4 19.4 15.60 19.7 15.3 12.5 SLA 32.40 4.73 39.00 19.70 15.30 17.86 Folha Madura 115.2 57.5 36.50 75.3 23.1 52.7 SLA 33.88 15.97 36.50 20.92 19.25 26.35 Folha Jovem 1 4.1 0.40 1 1 0.7 Folha Madura 3.4 3.6 1.00 3.6 1.2 2 Folha Jovem 9.3 20.70 15.00 370.8 13.3 90.4 Folha Madura 21.5 12 168.30 262.4 15 224.2 Folha Jovem Muita Ausente Ausente Muita abaxial Ausente Muita Folha Madura Muita Ausente Ausente Muita abaxial Ausente Muita Folha Jovem Baixa Ausente Ausente Baixa Baixa Baixa Folha Madura Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa 56 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 2: Área Foliar, Massa, Dureza, Pilosidade e Herbivoria na área com fogo recente de cerrado s.s., em folhas jovens e maduras das espécies: Caryocar brasiliense, Kielmeyera coriacea, Xylopia aromatica, Roupala montana Sclerolobium paniculatum e Stryphnodendron adistringens Área Queimada C. brasiliense K. coriacea Área (cm2) Folha Jovem S. paniculatum 28.5 10.8 19.40 13.1 SLA 28.5 18 24.25 18.71 Folha Madura 88.3 34.2 48.80 61 33.96 20.12 24.40 29.05 1 0.6 0.80 0.7 Folha Madura 2.6 1.7 2.00 2.1 Folha Jovem 15.7 25.80 292.90 250 Folha Madura 19.3 12 256.70 40.8 SLA Massa (g) Folha Jovem Dureza R. montana Pilosidade Folha Jovem Muita Ausente Muita face Abaxial Muita Folha Madura Muita Ausente Muita face Abaxial Muita Ausente Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Herbivoria Folha Jovem Alta Folha Madura Alta Kyelmeiera coriaceae Caryocar brasiliense R2 = 0.2241 R2 = 0.0173 40 45 40 35 30 DUREZA Dureza 30 20 25 20 15 10 10 5 0 0 0 10 20 30 40 50 60 70 0 SLA (cm2/g) 10 20 30 40 50 60 70 80 SLA (cm2/g) Figura 1: Comparação entre SLA (Specific Leaf Área) e dureza da folha em duas espécies estudadas: Caryocar brasiliense e Kyelmeiera coriacea. 57 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo C aryocar brasiliense 10 N º de folhas 8 6 novas 4 m aduras 2 0 25G Y 50G Y 75G Y tonalidade S clerolobium 10 N º de folhas 8 6 novas 4 m aduras 2 0 25G Y 50G Y 75G Y tonalidade X ylopia 10 N º de folhas 8 6 novas 4 m aduras 2 0 25G Y 50G Y 75G Y tonalidade Figura 2: Espécies que apresentaram diferenças na coloração entre folhas jovens e maduras: S. paniculatum, X. aromatica e C. brasiliense. 58 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo K yelm eiera N º de folhas 10 8 6 novas 4 m aduras 2 0 25G Y 50G Y 75G Y tonalidade R oupala 10 N º de folhas 8 6 novas 4 m aduras 2 0 25G Y 50G Y 75G Y tonalidade Stryphnodendron Nº de folhas 10 8 6 novas 4 maduras 2 0 25GY 50GY 75GY tonalidade Figura 3: Figura 2: Espécies que não apresentaram diferenças na coloração entre folhas jovens e maduras: S. adistrigens, K. coriaceae e R. montana. 59 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G4.2 COMPORTAMENTO SENSORIAL EM TETRAGONISCA ANGUSTULA (APIDAE, MELIPONINAE) Flávio R. Oliveira, Hélder N. Consolaro, Patrícia Rodin, Sérgio F. Lopes Orientação: Helena Maura Torezan-Silingard INTRODUÇÃO Diversos grupos animais dependem de diferentes canais sensoriais para comunicação e identificação (Krebs & Davies, 1996). Tais diferenças dependem de restrições impostas pelos hábitos e habitats das espécies. Alcock (1984) apud Krebs & Davies (1996) classifica estes canais em químicos (percepção de odores), visuais, auditivos e tácteis. Percepções visuais e químicas possuem baixo custo energético, sendo que percepção visual apresenta maior facilidade de localização, degradação rápida, alcance médio e fraca habilidade de transpor obstáculos. A percepção química apresenta facilidade de localização variada, degradação lenta, alcance mais longo e boa habilidade de transpor obstáculos (Alcock, 1984 apud Krebs & Davies, 1996). A percepção de cores tem aguçado a imaginação humana por muito tempo (Kevan, 1983 apud Corredor, 2002). A visão de cores em insetos tem sido testado com flores ou outros estímulos visuais, tais como predadores, localização de ninhos, alimento, parceiros dentre outros. Modelos usados em abelhas para determinação de códigos de cores de flores têm demonstrado que elas possuem uma visão tricromática aguçada que compreende receptores ultravioletas (UV), azuis e verdes (Cittka, 1997 apud Corredor, 2002). Estudos de comportamento tem mostrado que a existência de preferências por cores em insetos pode variar com a idade, estado reprodutivo ou aprendizagem (Corredor, 2002). Estímulos olfativos também atraem esses animais, e em abelhas, o reconhecimento de odores é específico para a colônia. Greenberg (1979) apud Krebs & Davies (1996) demostrou experimentalmente que operárias de Lasioglossum zephyrum (Hymenoptera: Halictidae) impedem, seletivamente, que indivíduos não aparentados entrem em seu ninho. O objetivo deste estudo foi identificar qual o componente mais importante no reconhecimento da entrada do ninho: químico ou visual. METODOLOGIA Devido a dificuldade de localização dos ninhos, utilizamos apenas uma colônia de Tretragonisca angustula (Apidae: Meliponinae), localizada no lado externo da sede do Parque Estadual de Caldas Novas, GO (PESCAN), situado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente. O ninho se encontra em um tubo de aterramento de coloração negra, sendo em sua parte superior a saída (três metros do solo). Para condicionamento das abelhas com a nova cor do ninho, no dia 21 de setembro de 2002 às 13:00hs, foram colocadas na entrada do ninho (boca do tubo), duas folhas de cartolina; uma interna (cor-de-rosa), com o objetivo de deposição de material seroso (sinal químico) e outra externa (cor amarela), com o objetivo de condicionar os indivíduos a identificar o ninho através da cor. Após dois dias (41 horas), retiramos as folhas de cartolina separando os lados amarelo e rosa. Para verificação dos estímulos visuais e químicos, simulamos cinco ninhos no qual os tratamentos variavam na cor e na presença ou ausência de cera (retirada do interior do ninho com uma espátula): (1) amarelo sem cera, (2) amarelo com cera, (3) preto com cera 60 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo (ninho), (4) rosa com cera, (5) rosa sem cera, (6) preto sem cera (Figura 1). As observações foram feitas por quatro pessoas a cada 15 minutos. Uma dupla observava os seis ninhos (cinco minutos cada ninho, três ninhos por pessoa). Registramos quantos indivíduos pousavam na entrada do ninho e em qual entrada isso ocorria. proximidades, visto que o odor é específico da colônia. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Janaina pelo apoio técnico dado a este experimento, ao funcionário da base Joaquim por, gentilmente, ter cedido as escadas sem os quais não seria possível observar as abelhas. Aos Professores Dr. Paulo Oliveira e John Hay pelas dicas discussão. E a Helena Maura pelo essencial apoio e orientação, principalmente, na parte escrita e execução experimental. RESULTADOS E DISCUSSÃO Quando comparamos as freqüências de pousos nos tubos (3) com (6) e (1) com (2), verificamos um maior retorno de indivíduos nos tubos que possuíam odores da colônia (Figura 2A e 2B). Nos tubos que apresentavam coloração negra houve retorno somente no ninho (Figura 2A), ao contrário dos tubos de coloração amarela em que foram registrados pousos em ambos (Figura 2B). Estas freqüências nos tubos com odores evidenciam a importância do estímulo químico para a colônia, embora no tubo amarelo sem cera tenha se observado dois picos de pouso superior ao do tubo com cera, o estímulo químico permaneceu mais evidente. Em relação à maior atividade no ninho real quando comparada com os falsos com odores, esta talvez se deva pela maior volatilização decorrente do tamanho real do ninho e, com constante reposição de cera na entrada. Comparando as freqüências de pouso nos tubos (2) com (3) e (3) com (4), também observamos um maior número de indivíduos pousando no ninho (Figura 3A e 3B). O estímulo visual, testado nesta comparações foi sobreposto pelo estímulo químico, porém esse dado não pode ser negligenciado, visto que odores específicos possuem baixa facilidade de localização quando comparado com estímulos visuais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCOCK, J. 1984. Animal Behaviour: a evolutionary approach., 3rd edn. Sinauer, Sunderland, Massachusetts. apud KREBS, J. R., DAVIES, N. B. 1996. Introdução à Ecologia Comportamental. São Paulo: Atheneu Editora, 428 p. BROWN, L., DOWNHOWER, J. F. 1951. Analyses in Behavioral Ecology: a manual for lab and field. Sunderland, Massachusetts: Sinauer Associates, Inc. Publishers, 199 p. CHITTKA, L. 1997. Bee color vision is optimal for coding flower color, but flower colors are not optimal for being coded-Why? Israel Journal of Plant Sciences. n. 45, v. 2-3, p. 115 – 127. apud CORREDOR, M. C. V. 2002. Avaliação do comportamento de escolha de cores por borboletas. Ecologia da Floresta Amazônica – Curso de Campo. p 102 – 104. CORREDOR, M. C. V. 2002. Avaliação do comportamento de escolha de cores por borboletas. Ecologia da Floresta Amazônica – Curso de Campo. p 102 – 104. CONCLUSÕES Ambos os estímulos, visual e químico, são importantes para Tetragonisca angustula localizar a entrada do ninho. A longa distância da colmeia, o estímulo visual é mais eficaz que o químico e, este por sua vez é mais eficiente nas GREENBERG, I. 1979. Genetic component of kin recognition in primitively social 61 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo bees. Science, n. 206, p. 1095. apud KREBS, J. R., DAVIES, N. B. 1996. Introdução à Ecologia Comportamental. São Paulo: Atheneu Editora, 428 p. Amazônica – Curso de Campo. p 102 – 104. KREBS, J. R., DAVIES, N. B. 1996. Introdução à Ecologia Comportamental. São Paulo: Atheneu Editora, 428 p. KEVAN, P. G. 1983. Floral color through the insect eye: what they are and what they mean. pp. 3 – 30. In: JONES, C. E. R. J. Little. 1983. Handboock of Experimental Pollination apud CORREDOR, M. C. V. 2002. Avaliação do comportamento de escolha de cores por borboletas. Ecologia da Floresta RAVEN, P. H., EVERT, R. F., EICHHORN, S. E. 1999. Biology of Plants. 6nd ed. New York: W. H. Freeman and Company Worth Publishers, 959 p. PISTA VISUAL 1 2 PISTA QUÍMICA 4 3 5 PISTA QUÍMICA Figura 1 – Esquema de disposição das falsas entradas para as abelhas Tetragonisca angustula. As marcas negras internas representam tubos com cera. 62 6 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo (A) N. de Indivíduos 25 20 NINHO PRETO 15 10 5 08 :0 0 08 :3 0 09 :0 0 09 :3 0 10 :0 0 10 :3 0 11 :0 0 13 :3 0 14 :0 0 14 :3 0 15 :0 0 15 :3 0 16 :0 0 0 Horário 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 AMARELO 16:00 15:30 15:00 14:30 14:00 13:30 11:00 10:30 10:00 09:30 09:00 08:30 AMARELO + CERA 08:00 N. de Indivíduos (B) Horário Figura 2 – Freqüência de retorno de Tetragonisca angustula à entrada dos falsos ninhos e verdadeiro. Verificação do estímulo químico. 63 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo (A) N. de Indivíduos 25 20 15 AMARELO + CERA 10 NINHO 5 08 :0 09 0 :0 0 10 :0 11 0 :0 14 0 :0 15 0 :0 16 0 :0 0 0 Horário (B) N. de Indivíduos 25 20 15 NINHO 10 ROSA COM CERA 5 08 :0 0 09 :3 0 11 :0 0 14 :3 0 16 :0 0 0 Horário Figura 3. Frequencia de retorno de Tetragonisca angustula dos falsos ninhos e verdadeiros. Verificação do estímulo visual. 64 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G4.3 RECONHECIMENTO E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS FLORAIS POR BEIJA-FLORES EM UMA ÁREA DE CERRADO DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS (GO) Rafael Arruda, Caio Rébula, Ernestino Souza G. Guarino, Janis C. Salles & Marcela Yamamoto Orientador: Paulo E. Oliveira INTRODUÇÃO Algumas aves visitam flores regularmente para alimentarem-se de néctar, partes florais e insetos. Flores ornitófilas possuem grande quantidade de néctar, geralmente pouco concentrado e com baixa viscosidade, mas com pouco odor devido ao restrito olfato das aves. Por outro lado, aves possuem grande acuidade visual, com grande capacidade de distinguir cores. Sendo assim a maioria das flores ornitófilas, normalmente são vermelhas ou amarelas. Estas são grandes ou formam inflorescências, fatores que podem estar relacionados ao estímulo visual e capacidade de abrigar grande quantidade de néctar. Quando as flores são visitadas por animais de maior tamanho corporal, com conseqüente maior taxa de gasto energético, estas flores devem produzir quantidade de néctar suficiente para suprir as necessidades destes animais. Espécies polinizadas por animais com alta taxa de consumo energético, como beija-flores, desenvolveram adaptações florais capazes de proteger o néctar em estruturas tubulares. Isto evita que animais de baixo consumo energético passem grandes períodos nas flores, reduzindo a polinização cruzada (Raven, 1999). O cerrado apresenta uma grande quantidade de plantas que produzem néctar como recompensa floral aos polinizadores, sendo a grande maioria das plantas entomófilas e algumas ornitófilas e quiropterófilas pouco freqüentes (Barbosa, 1997). A dieta de um beija flor consiste basicamente de néctar, composto por sacarose e baixas quantidade de aminoácidos, lipídeos e polissacarídeos, apresentando normalmente baixa concentração de solutos e pouca viscosidade. A dieta dos beija-flores é suplementada por pequenos invertebrados que garantem o suprimento de aminoácidos e outros compostos necessários ao metabolismo (Baker & Baker, 1980). Em áreas abertas, durante os períodos mais quentes do dia, Silberbauer-Gottsberer & Gottsberger (1998) não constataram a atividade de beija-flores; e ainda os beijaflores podem ser divididos em trapliners, com uma rota específica de forrageamento, e territorialistas, defendendo uma mancha de recursos. Os objetivos do presente estudo foram determinar o tempo de descoberta de recursos, a freqüência de visitação, a preferência pela coloração e quantidade das flores, e a relação dos gêneros presentes em uma área de cerrado (sentido restrito). METDOLOGIA O estudo foi realizado no 23 de setembro de 2002, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, em uma área de cerrado sentido restrito, recentemente queimado e consequentemente, com pouca disponibilidade de recursos florais. Foram utilizados 36 bebedores artificiais, com flores plásticas de cores variadas (24 vermelhas, 4 roxas, 4 brancas e 4 amarelas), os quais continham solução de 65 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo morfológicas da flor usada no experimento que poderiam estar confundindo os beijaflores. Porque segundo Oliveira (1998), como o número de plantas com flores ornitófilas nas fitofisionomias do cerrado é pequeno, os beija-flores terminam por visitar um conjunto de flores que não apresentam morfologias florais adaptadas à sua visita. A baixa disponibilidade de recursos na área queimada poderia ter influenciado a escolha dos beija-flores, mas em nosso experimento isto não ocorreu. Isto pode ter acontecido porque, provavelmente, os beijaflores não estariam arriscando explorar um novo recurso, em detrimento de flores que já poderiam estar sendo utilizadas. água e sacarose a 15% de concentração de soluto. Foram montadas seis estações, cada uma contendo duas unidades amostrais. Em três delas foram dispostas seis flores vermelhas e duas de outras cores, enquanto que nas outras três, duas flores vermelhas e duas de outras cores. Cada unidade ficou distante cinco metros uma da outra dentro da estação. Tais estações foram estabelecidas a 50 metros da estrada e entre elas. As observações foram realizadas na parte da manhã, com registros dos horários das visitas, da preferência com relação à coloração das flores e das características morfológicas dos beija-flores visitantes. Estes foram posteriormente identificados até gênero, com o auxílio de Grantsau (1989). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKER, H. G. & BAKER, I. 1980. Studies of nectar-constitution and pollinatorplant coevolution. In: Gilbert, L E. & Raven, P. H. (eds). Coevolution of animals and plants. University of Texas Press. p. 100-140. BARBOSA, A. A. A. 1997. Biologia reprodutiva de uma comunidade de campo sujo, Uberlândia, MG. Tese de doutorado. Unicamp. Campinas. GRANTSAU, R. 1989. Os beija-flores do Brasil. Expressão e cultura. Rio de Janeiro. 234p. OLIVEIRA, G. M. 1998. Disponibilidade de recursos florais para beija-flores num cerrado de Uberlândia, MG. Dissertação de mestrado. UnB. Brasília. RAVEN, P.H.; EVERT, R.F.; EICHHORN, S.E. 1999. Biology of plants. 6th ed. W.H. Freeman and Company, New York. 944p. SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. & GOTTSBERGER, G. 1998. A polinização das plantas do cerrado. Revta. Brasil. Biol. 48:651-663. RESULTADOS E DISCUSSÃO O tempo total da observação foi de 2 horas para cada estação, no qual foi registrado apenas o gênero Amazilia, com uma ocorrência em três das estações, havendo possibilidade de que tenha sido o mesmo indivíduo. Devido ao início tardio ou ao curto tempo de observação, esta hipótese não pôde ser comprovada, porque as rotas de capturas já poderiam ter sido estabelecidas. Uma hipótese para explicar a ausência de exploração de beija-flores nos bebedouros poderia estar associada a baixa qualidade do recurso oferecido. Provavelmente, essa hipótese não está correta, já que a concentração de soluto estava dentro da faixa oferecida pelas espécies locais visitadas por beija-flores. Uma Bromeliaceae próxima ao experimento apresentou concentração de 27% e um indivíduo da espécie Norantea, 11%. Outra explicação poderia estar relacionada com as características 66 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G5.1 DIETA DE CANÍDEOS NO PARQUE ESTADUAL DE CALDAS NOVAS, GOIÁS Carlos Angeluci, Claudia C. F. de Toledo, Cláudio Muniz, Marcelle Rodrigues & Otacílio Santana Orientador: Ariovaldo A. Giaretta INTRODUÇÃO No Brasil central três Canídeos ocorrem simpatricamente, entre eles Chrysocyon brachyurus, lobo guará e Cerdocyon thous, cachorro-do-mato. (JUAREZ & MARINHO-FILHO 2002). Eles possuem uma dieta bastante variada, alimentando-se principalmente de pequenos mamíferos e frutas, além de aves e insetos. Esses animais apresentam ainda grande regionalidade nos itens alimentares e se favorecem de recursos típicos das áreas onde vivem. Um bom exemplo é C. thous que é conhecido como “crab eating fox”, pelo fato de, na Colômbia e Venezuela, utilizar-se desses crustáceos na alimentação. Ainda no sudoeste brasileiro, região do Pantanal, foi observada a inclusão de frutos da palmeira Acrocomia aculeata na dieta desse animal (ARRUDA, R. com. pessoal). A dieta generalista dos canídeos é de grande importância para a dispersão de sementes de espécies vegetais, uma vez que esses podem percorrer vários quilômetros em apenas uma noite. O fato de apresentarem hábito noturno implica em maior dificuldade no estudo desses mamíferos através de observações diretas. Desse modo, a análise do conteúdo das fezes pode oferecer importantes informações sobre dietas e padrões de forrageamento. O presente trabalho teve como objetivo estudar o uso de recursos alimentares por Chrysocyon brachyurus (lobo-guará) e Cerdocyon thous (cachorrodo-mato) através da análise de suas fezes. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no sudeste do Estado de Goiás, em uma porção de cerrado sensu strictu, abrangendo áreas queimadas e não queimadas. Foram coletadas todas as fezes encontradas em uma estrada que percorre o Parque. As amostras foram coletadas em sacos plásticos e posteriormente colocadas em álcool 70%, e levadas para análise em laboratório. Em seguida, foram feitas triagens, sendo separados todos os itens identificáveis, que foram descritos ao menor nível taxonômico possível. Os parâmetros para identificação das fezes de Chrysocyon brachyurus e Cerdocyon thous foram à localização das fezes em áreas expostas, características destes animais, bem como a presença de frutos com restos de animais (penas, pêlos, mandíbulas) e volume. Para a identificação dos itens encontrados nas fezes, foram utilizadas observações visuais, em microscópio óptico e estéreo-microscópio. Os resultados foram anotados e relacionados segundo a tabela 1. RESULTADOS E DISUCSSÃO Não foi possível detalhar qual amostra fecal era de cada predador, uma vez que não foram encontrados pêlos ingeridos por autolimpeza. A lobeira (Solanum lycocarpum) foi à espécie vegetal encontrada em maior quantidade (aproximadamente 82 % das amostras), o que corrobora os resultados encontrados por JUAREZ & MARINHO-FILHO (2002). 67 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Além desta, foi possível identificar sementes de Brosimum gaudichaudii em uma das amostras. O segundo item encontrado em maior freqüência foi pequenos mamíferos, sendo que destes, a maior parte formada por Equimídeos. Tais resultados demonstram que a dieta desses canídeos apresentou itens variados (Tabela 1) disponíveis na região de cerrado estudada. Os itens alimentares encontrados nas fezes dos canídeos indicam que os recursos alimentares no cerrado são utilizados de forma generalista e oportunista, de acordo com a disponibilidade. A presença de restos vegetais, como Solanum lycocarpum (lobeira), e restos animais nas fezes, evidencia o hábito onívoro desses canídeos. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA JUAREZ, K. M. & MARINHO-FILHO, J. 2002. Diet, habitat use, and home ranges of sympatric canids in Central Brazil. Journal of Mammalogy. (no prelo). Tabela 1. Itens identificados nos restos fecais de Canidae. Amostras Solanum Outros Frutos Mamíferos Aves Escamados lycocarpum 1 X X* 2 X X** 3 X 4 X 5 X 6 X X* X*** X 7 X 8 X 9 X 10 X X* 11 X X* X X *Equimídeo; **Murídeo; ***Brosimum gaudichaudii 68 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo 12 freqüência absoluta 10 8 6 4 2 0 lobeira mamíferos aves outros frutos Figura 1. – Freqüência absoluta dos itens encontrados em 11 fezes coletadas. 69 escamados UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G5.2 RESISTÊNCIA DE LARVAS DE CURCULIONIDAE (COLEOPTERA) PREDADORAS DE SEMENTES DE SYAGRUS FLEXUOSA (ARECACEAE: PALMAE) AO FOGO EM CERRADO S. S. Jania C. Salles, Caio Rébula, Ernestino Guarino, Marcela Yamamoto, Rafael Arruda Orientador: Prof. John Hay INTRODUÇÃO Muitas plantas sofrem fortes pressões de predação em suas sementes. Animais que predam sementes e folhas são assunto de várias discussões ecológicas. Entretanto, eles diferem em caminhos importantes na coevolução do alvo atacado (Janzen, 1971). Representantes da família Curculionidae (Coleoptera) são em sua maioria herbívoros. Muitos são considerados pragas de espécies cultivadas. Suas larvas geralmente alimentam-se de tecidos vegetais medulares. Adultos perfuram frutos para obter alimento e depositam seus ovos em alguns destes orifícios. As larvas desenvolvem-se no interior desses frutos (Borror et al., 1992). Em outros casos, os ovos são depositados nas flores e as larvas eclodem quando o fruto já está formado, onde se alimentam do endocarpo até a próxima fase de seu desenvolvimento. Para o Cerrado, as conseqüências decorrentes do fogo, dependem de vários fatores, dentre eles da magnitude do seu efeito e da extensão das áreas queimadas (Roque et al., 1996). Uma das formas de avaliar as modificações provocadas pela ação do fogo em ecossistemas naturais é a utilização de organismos vivos como bioindicadores (Louzada et al., 1996). O objetivo deste estudo é avaliar a influência do fogo na sobrevivência de larvas de Curculionidae predadoras de sementes de Syagrus flexuosa. O estudo foi realizado numa área de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. Foram coletadas as infrutescências de Syagrus flexuosa de 15 indivíduos com alturas de aproximadamente um metro, em dois locais: um queimado a 15 dias e um não queimado, que sofreu a última queimada há quatro anos. Cada infrutescência possuía cerca de 20 frutos, os quais tiveram medidos o comprimento e o diâmetro, sendo analisados quanto ao estado do endosperma (intacto ou abortado) e quanto à presença ou ausência de larvas vivas ou mortas. Os dados foram analisados pelo teste Qui-quadrado e teste t. RESULTADOS Foi coletado um total de 290 frutos na área queimada, dentre os quais, 204 apresentaram-se intactos, 52 abortados e 34 com presença de larvas vivas ou mortas. Na área não queimada, foram coletados 249 frutos, sendo 141 intactos, 15 abortados e 93 com presença de larvas vivas ou mortas (Tabela 1). Foi observada diferença significativa entre as características apresentadas pelos frutos da área queimada (χ2 =292,734, p<0,01) e da área não queimada (χ2 =150,819, p<0,01). Com relação a comparação entre as características das duas áreas, também verificou-se diferença significativa (χ2 =56,555, p<0,01) (Tabela 1). METODOLOGIA 70 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Na área queimada, das 34 larvas encontradas, somente duas estavam vivas. Na área não queimada, das 93 larvas, 88 estavam vivas. Comparou-se as larvas vivas das duas áreas para verificar se havia resistência ao fogo, onde foi encontrado diferença significativa (χ2 =94,967, p<0,01). Dessa forma, pode-se inferir que os frutos não conferem proteção às larvas contra a ação do fogo. Como a escolha dos indivíduos foi feita com base numa altura semelhante, era esperado que não houvesse diferença significativa entre as alturas dos cachos nas duas áreas (t= -0,978, p=0,338). Numa coleta de 20 frutos de uma infrutescência a 1,65m de altura, em área queimada, observou-se grande freqüência de larva vivas (55%), com a ausência de larvas mortas. Assim, a altura dos cachos teve forte influência na freqüência das larvas vivas na área queimada, pois, segundo Miranda et al. (1996), a altura das chamas onde são registradas as maiores temperaturas é a 60 cm do solo. JANZEN, D. H. 1971. Seed predation by animals. Annual Review of Ecology and Systematics 2: 465- 492. LOUZADA, J. N. C.; SCHIFFLER, G. & VAZ DE MELLO, F. Z. 1996. Efeitos do fogo sobre a estrutura da comunidade de Scarabaeidae (Insecta, Coleoptera) na restinga da Ilha de Guriri – ES. In: H. S. Miranda; C. H. Saito & B. F. S. Dias. Impactos de queimadas em áreas de cerrado e restinga. Universidade de Brasília. p. 161-169. MIRANDA, H. S.; ROCHA e SILVA, E. P. & MIRANDA, A. C. 1996. Comportamento do fogo em queimadas de campo sujo. . In: H. S. Miranda; C. H. Saito & B. F. S. Dias. Impactos de queimadas em áreas de cerrado e restinga. Universidade de Brasília. p. 110. ROQUE, W. L.; NUNES, C. B. S. N. & HECKLER, C. A. 1996. Geometria de paisagem de áreas queimadas por fogo de superfície. In: H. S. Miranda; C. H. Saito & B. F. S. Dias. Impactos de queimadas em áreas de cerrado e restinga. Universidade de Brasília. p. 178-187. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORROR, D. J.TRIPLEHORN, C. A. & JONHSON, N. F. 1992. An introduction to the study of insects. 6th ed. Orlando, Saunders College Publishing. 875p. Tabela 1 – Características dos frutos coletados nas duas áreas amostradas. QUEIMADA NÃO QUEIMADA Endosperma intacto 204 141 Endosperma abortado 52 15 Larvas vivas 2 88 Larvas mortas 32 5 Total de frutos 290 249 71 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G5.3 ASSOCIAÇÃO ENTRE PLANTAS PORTADORAS DE NECTÁRIOS EXTRAFLORAIS E FORMIGAS: ESTRATÉGIA EFICIENTE CONTRA HERBÍVOROS ? Hélder N. Consolaro, Flávio R. Oliveira, Patrícia Rodin, Sérgio F. Lopes Orientador: Prof. Dr. Glauco Machado plantas sem NEFs; (H3) plantas com NEFs possuem menor índice de herbivoria do que plantas sem estas glândulas. INTRODUÇÃO A herbivoria acarreta vários danos à folha, como redução da área fotossintética e ataque a partes reprodutivas. Ao longo do tempo evolutivo, algumas plantas desenvolveram mecanismos para diminuírem estes danos. Estes mecanismos podem ser divididos, de forma geral, em defesas mecânicas, químicas e bióticas. Dentre as defesas bióticas, destacam-se os nectários extraflorais (NEFs), que atraem predadores de herbívoros, principalmente formigas (Begon, et al., 1990, Bentley, 1977). Nectários extraflorais são glândulas secretoras de néctar não envolvidas diretamente na polinização. Estas estruturas ocorrem em muitos taxa vegetais, particularmente em Angiospermas tropicais (Oliveira et al., 1997; Oliveira & OliveiraFilho, 1991). Segundo Del-Claro (1995), as secreções de NEFs são o alimento mais comum oferecido às formigas. No Cerrado, foi demonstrado que formigas limitam a herbivoria em folhas de Qualea grandiflora Mart. e Q. multiflora Mart. (Vochysiaceae) que possuem pares de NEFs na base do pecíolo (Costa et al., 1992). Em Q. multiflora também foi demonstrado que a associação com formigas é um dos fatores determinantes no sucesso reprodutivo e vegetativo da planta (Del-Claro et al., 1996). Este estudo teve como objetivo testar as seguintes hipóteses: (H1) plantas com NEFs atraem mais formigas do que plantas desprovidas de tais glândulas; (H2) a frequência de remoção de herbívoros em plantas com NEFs será maior do que em METODOLOGIA Realizamos o estudo no dia 25 de setembro de 2002, no período matutino, em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO. Trabalhamos com duas espécies vegetais portadoras de nectários extraflorais (NEFs), Qualea grandiflora e Q. parviflora (Vochysiaceae). Definimos como planta controle qualquer dicotiledônea sem NEFs, localizada até 2 m de distância da planta com NEF escolhida. Selecionamos plantas que apresentassem características estruturais e textura foliar semelhantes às duas espécies de Qualea. Averiguamos a presença de formigas nas plantas selecionadas e as identificamos em níveis de espécie. Utilizamos o teste G para determinar se havia diferença entre o número de plantas com e sem NEF em relação à presença de formigas. Para testar se havia diferença na frequência de detecção de herbívoros nos dois grupos experimentais utilizamos como iscas vivas operárias de cupins (Termitidae), que simularam possíveis herbívoros. Os cupins foram colados com cola branca na face adaxial próximos à borda de uma folha nova apical. Colamos uma isca por planta tanto no grupo experimental quanto no controle. As observações sobre o tempo de encontro da formiga com a isca foram feitas por 10 min em cada par experimental. Para determinar se havia diferença na freqüência 72 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo de remoção entre plantas com e sem NEFs foi utilizado o teste G. Para determinação da taxa de dano foliar nas plantas controle e nos tratamentos, padronizamos um índice de herbivoria adaptado de Dirzo & Dominguez (1995) compreendido de cinco categorias: 1 = 0-1%; 2 = 2-5%; 3 = 5-12%; 4 = 13-50% e 5 = 51-100%. Para calcular o Índice de Herbivoria (IH) foi utilizada a seguinte fórmula: IH=∑(ni . i)/ ∑ni, sendo (ni) o número de folhas com dano i. Para tal, utilizamos as 10 primeiras folhas próximas à folha que continha a isca viva. Para determinar se havia diferença no IH entre as plantas com e sem NEF, foi utilizado o teste pareado de Wilcoxon. ocorrência de associação entre plantas com NEFs e formigas sem, no entanto, haver proteção para as plantas (veja Del-Claro et al., 1986). Nossos resultados podem ser decorrentes de dois fatores interdependentes: variação temporal e identidade das formigas visitantes. A variação temporal está relacionada ao investimento da planta em folhas jovens cujos NEFs estão ativos. Na estação de maior produção foliar há, portanto, uma maior disponibilidade de néctar, o que torna as plantas mais atrativas às formigas. A maior densidade de formigas sobre as plantas pode aumentar a eficiência de remoção de herbívoros. Os indivíduos amostrados estavam no início da produção de folhas jovens, havendo assim baixa disponibilidade de néctar para as formigas. A baixa disponibilidade de néctar deve ter acarretado uma baixa ocorrência de formigas e, consequentemente, uma baixa frequência de remoção dos herbívoros (cupins). Adicionalmente, quando há um maior número de formigas visitando as plantas com NEFs, existe uma maior probabilidade de haver formigas com comportamento agressivo. É sabido que diferentes espécies de formiga podem conferir proteção diferencial à planta (Hölldobler & Wilson, 1990): quanto mais agressiva a formiga, maior a chance de esta remover potenciais herbívoros sobre a planta. As duas espécies de formigas encontradas nas plantas com NEFs (Camponotus crassus e Crematogaster sp.) apresentam um comportamento que, provavelmente, não confere proteção às plantas, uma vez que ambas são pouco ativas no limbo foliar e passam a maior parte do tempo no tronco e nos NEFs. Além disso, as operárias dessas duas espécies são pouco agressivas. Nossos resultados sugerem que vários fatores podem influenciar a interação entre formigas e plantas. Estudos futuros devem investigar a hipótese de que o estágio fenológico das plantas e o RESULTADOS Neste experimento foi observado que formigas ocorriam significativamente mais em plantas com NEFs (Figura 1; G = 11,8; p = 0,0006). Em Qualea, 54,5% das formigas encontradas foram Camponotus crassus, 27,3% Crematogaster sp. e 18,2% outras espécies (Camponotus sp., C. rufipes e Cephalotes sp.). Nas plantas sem NEF, 28,6% foram Camponotus crassus, 57,1% Crematogaster sp. e 14,5% outras espécies (C. rufipes e Cephalotes sp.) (Tabela 1). Não foi observada uma maior remoção de cupins em plantas com NEFs em comparação com plantas sem NEFs (Figura 2; G = 1,2; p = 0,28). O índice de herbivoria também não diferiu significativamente entre as plantas com e sem NEFs (Figura 3; Z = 0,77; p = 0,44). DISCUSSÃO Os resultados encontrados corroboraram a hipótese de que formigas são encontradas em maior frequência em plantas portadoras de NEFs. Entretanto, a segunda e a terceira hipóteses não foram corroboradas pois tanto a frequência de remoção de cupins quanto o índice de herbivoria não diferiram nos dois grupos experimentais. Estes resultados não são discrepantes a alguns estudos encontrados na literatura. Vários trabalhos já relataram a 73 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Ecological Entomology. n. 17, p. 363 – 365. comportamento das formigas são fatores importantes na compreensão da interação. Nesse sentido, poderemos ter uma idéia mais precisa dos aspectos que condicionam a defesa contra herbívoros em plantas portadoras de nectários. DEL-CLARO, K., BERTO, V., REU, W. F. 1996. Herbivore deterrence by visiting antsincreasesfruit set in an extrafloral nectary plant, Qualea multiflora (Vochysiaceae) in cerrado vegetation. Journal of Tropical Ecology. n. 12, p. 887 – 892. AGRADECIMENTOS Agradecemos a orientação do Prof. Glauco Machado. Maravilha!! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEL-CLARO, K. 1995. Ecologia da interação entre formigas e Guayaquila xiphias (Homoptera: Membracidae) em Didymopanax vinosum (Araliaceae). Tese de Doutorado, Unicamp, Campinas, 101p. BEGON, M., HARPER, J. L. , TOWNSEND, C. R., 1990. Ecology – individuals, populations and communities. Blackwell Science 2o Ed. 995 p. DIRZO, R., DOMINGUEZ, C. 1995. Plant animal interactions in Mesoamerican tropical dry forest. In: BULLOCK, M., MOONEY, H. (eds.) Senssonally Dry Forest. Cambridge University Press, EUA. BENTLEY, B. L. 1977a. Extrafloral nectaries and protection by pugnacious bodyguards. Annual Review of Ecological Systematics. n. 8, p. 407 427. BENTLEY, B. L. 1977b. The protective function of ants visiting the extrafloral nectaries of Bixa orellana L. (Bixaceae). Journal of Ecology. n. 65, p 407 427. HÖLLDOBLER, B., WILSON, E. O. 1990. The ants. Harvard University Press, Cambridge, Massachusetts. OLIVEIRA, P. S., LEITÃO-FILHO, H. F. 1997. Extrafloral nectaries: their taxonomic distribution and abundance in the woody flora of cerrado vegetation in Southeast Brazil. Biotropica. n. 19, p. 140 – 148. COSTA, F. M. C. B., OLIVEIRA-FILHO, A. T., OLIVEIRA, P. S. 1992. The role of extrafloral nectaries in Qualea grandiflora (Vochysiaceae) in limiting herbivory: na experiment of ant protection in cerrado vegetation. 74 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1. Porcentagem de ocorrência das duas espécies de formigas e de outras não identificadas encontradas nas plantas com e sem NEFs no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO. % de ocorrência Formigas Qualea spp. Sem NEFs Camponotus crassus 54,5% 28,6% Crematogaster sp. 27,3% 57,1% Outras 18,2% 14,3% Número de plantas com formigas sem formigas 20 15 10 5 0 Qualea spp. Plantas sem NEFs Figura 1. Número de plantas com ocorrência de formigas em Qualea spp. (planta com NEFs) e em plantas sem NEFs no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO. 75 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 detectados Projetos em Grupo não detectados N o de cupins 20 15 10 5 0 Qualea spp. Planta sem NEF Figura 2. Remoção (detecção) de cupins por formigas em plantas com e sem NEFs no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO. IH Qualea spp. Plantas sem NEFs Figura 3. Índice de Herbivoria (IH) das espécies com e sem NEFs com suas determinadas amplitudes e medianas no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas – GO. 76 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G6.1 OBSERVAÇÃO E COLETA DE MORCEGOS EM UMA MATA DE GALERIA, PESCAN, GOIÁS Claudia C. F. de Toledo, Carlos Angeluci, Cláudio Muniz, Otacílio Santana, Marcelle Rodrigues - Orientador: Jader Marinho- Filho populações de insetos, anuros e roedores. Eles contribuem, ainda, para a dispersão de um grande número de espécies vegetais, bem como, a polinização de outras. O presente trabalho foi realizado em uma mata de galeria, no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás, entre os municípios de Rio Quente e Caldas Novas, onde foram armadas quatro redes do tipo “mist net”, medindo 12 X 3 m, e com 3,5 cm de malha. Cada rede foi colocada a cerca de 30 m uma da outra. A disposição dessas foi feita em clareiras da mata e sobre o curso d’água que atravessa a mata, coincidindo com supostas rotas de vôo dos morcegos. O período de coleta se deu das 18:30 às 22:00 do dia 27 de setembro de 2002, onde cada rede foi vistoriada com intervalos de 30 min. Os animais capturados foram recolhidos em sacos de pano numerados, e posteriormente, levados ao laboratório para análise. Foram anotadas, para cada indivíduo, a família, espécie, massa, sexo, faixa etária, tamanho do quinto dedo, tamanho total da asa direita, hábito alimentar, cor e (Tabela 1). As fezes dos mesmos foram recolhidas e seus itens devidamente identificados. Dos indivíduos encontrados, 4 apresentaram hábito alimentar do tipo frugívoro e apenas 1 do tipo insetívoro, isto, provavelmente, reflete o posicionamento das redes a 20 cm do solo, o que coincide com o maior deslocamento dos primeiros, forrageadores preferencialmente do subbosque. Na maioria das fezes das espécies frugívoras foram encontradas sementes de Piper sp, não sendo possível à identificação dos outros itens vegetais. Para a espécie insetívora foram encontrados restos de exoesqueleto, mas da mesma forma não identificados. Os quirópteros constituem a segunda maior ordem entre os mamíferos, apresentando cerca de 950 espécies, sendo que, aproximadamente 140 destas ocorrem em território brasileiro (MARINHOFILHO, com. pessoal). A ordem está dividida em duas sub-ordens: Megachiroptera e Microchiroptera. Todos os morcegos do novo mundo pertencem à segunda sub-ordem (EMMONS, 1990). A ordem Chiroptera é a única da classse Mammalia, onde os organismos apresentam vôo verdadeiro, o que os capacita ocupar ambientes inacessíveis a outros da mesma classe, facilitando a coleta de alimentos e contribuindo para ampliar sua distribuição geográfica. Essa relação com o vôo, além de trazer benefícios, requer uma série de adaptações como aquisição de asa nos membros anteriores, pouco tempo de permanência dos alimentos no trato digestivo, pernas reduzidas, e outras. Como são de hábitos noturnos, necessitam de um mecanismo de localização que vai além da visão, popularmente conhecida de forma errada como pouco desenvolvida. Eles se orientam, também, por ecolocalização, emitindo sons de altas freqüências que, ao retornarem para o animal, são interpretadas fornecendo informações como o tamanho do objeto, distância e velocidade de deslocamento do mesmo. Através do estudo desses sons é possível determinar um padrão de emissão sonora característico de famílias, e táxons inferiores, importante meio para identificação taxonômica. Esse grupo apresenta relevante importância ecológica, estando relacionado com a predação e eventual controle de 77 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Com o auxílio de um aparelho de medição de sons de alta freqüência (Anabat), os sons emitidos pelos morcegos foram registrados e identificados no local. Foi verificado que a maior atividade ocorreu entre o período de 19:00 às 21:00 horas, o que reafirma outros registros feitos para a maioria das espécies em outras áreas (MARINHO-FILHO, com. pessoal). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EMMONS, L. H. 1990. Neotropical rainforest mammals: a field guide. The University of Chicago Press. 281 p. 78 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1 - Identificação e descrição de morcegos capturados. Nº Família Espécie Massa Sexo indivíduo Faixa Tamanho Tamanho etária do 5º dedo asa direita Cor Hábito Horário alimentar de captura 01 Vespertilionidae Lasiurus sp 10 g Fêmea adulto 5,1 cm 12,5 preta insetívoro 20:30 02 Phyllostomidae Carolia perspicilata 20 g Fêmea adulto 7 cm 13 cm cinza frugívoro 19:00 03 Phyllostomidae Artibeus jamaicensis 50 g Fêmea adulto 9 cm 20 cm cinza frugívoro 19:30 04 Phyllostomidae Artibeus lituratus 65 g Macho adulto 10,5 cm 24 cm cinza frugívoro 20:30 05 Phyllostomidae Artibeus jamaicensis 46 g Macho adulto 8,1 cm 20 cm cinza frugívoro 20:30 79 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G6.2 LEVANTAMENTO DE ANUROS DO PARQUE ESTADUAL SERRA DE CALDAS NOVAS, GO (PESCAN) Sérgio F. Lopes, Flávio R. Oliveira, Hélder Consolaro, Patrícia Rodin Orientador: Prof. Dr. Ariovaldo Giaretta INTRODUÇÃO As dimensões continentais do Brasil, assim como sua localização essencialmente tropical, contribui para a grande diversificação da flora e da fauna. Existe mais de um milhão de espécies de animais descritas, das quais 5% são vertebrados (Barnes & Ruppert, 1994). A fauna do Cerrado, diferentemente de sua flora, apresenta baixo grau de endemismo (Sick, 1965; Redford & Fonseca, 1986; Marinho-Filho & Reis, 1989; Vanzolini, 1993). Entretanto, a sua herpetofauna abriga muitas espécies endêmicas, sendo metade das 16 espécies de cobras-de-duascabeças (Amphisbaenia), 12 das 47 espécies de lagartos (Lacertília) e 32 das 113 espécies de anfíbios (Anura) listadas para o bioma (Colli et al. no prelo). Provavelmente, o número de anfíbios do Cerrado aumentará devido a elevada taxa de descrição de novas espécies na Região Neotropical (Glaw & Kohler, 1998). Devido a esta grande biodiversidade, levantamentos, mesmo que rápidos, da fauna regional são necessários, dado que a destruição do Cerrado está se processando com rapidez crescente e os levantamentos são realizados com lentidão. O objetivo deste estudo foi efetuar um levantamento e descrição sucinta das espécies de Anuros do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO. com água corrente lenta, com insolação direta, apresentando vegetação aquática com predomínio de gramíneas. Esta área está localizada próxima a uma vereda, em frente à casa do pesquisador. O segundo ambiente é um riacho sazonal situado no campo cerrado, apresentando leito seco com poças d’água pluviaa e vegetação ciliar. O último ambiente é um riacho perene situado em mata de galeria. Os registros das espécies foram feitos utilizando metodologia de identificação auditiva e visual, sendo as vocalizações gravadas em rádio gravador de mão, modelo PANASONIC 750 S. Alguns indivíduos foram coletados para medições em laboratórios e, soltos na noite seguinte. RESULTADOS Levantamento Foram encontradas oito espécies de Anuros pertencentes a três gêneros e duas famílias (Tabela 1). Deste levantamento rápido, observamos que três espécies não constavam na lista de Anuros registrados no Plano de Manejo do Parque. Descrição das espécies coletadas As espécies descritas foram coletadas nos três ambientes (Tabela 1). Lepdodactylus furnarius e Hyla albopunctata foram identificadas apenas pelo canto dado que em espécies de anuros a vocalização é espécie específica. METODOLOGIA O estudo foi realizado na noite do dia 26 de setembro de 2002, em três ambientes no Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, situado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente. O primeiro ambiente é um tanque artificial Hyla minuta Coloração rajada amarelada, textura lisa, parte posterior da coxa com coloração uniforme com o restante do corpo. Cabeça proporcional ao corpo. Indivíduos com aproximadamente 1,8cm de comprimento. 80 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Ariovaldo Giaretta pela orientação dada a este estudo e, por ter nos contado a historia de vida destes animais. Hyla biobeba Coloração rajada beje e cinza com aparência de líquen, textura lisa, rostro arredondado, olho bem sobressaído e presença de espinho na pata anterior. Indivíduo com aproximadamente 6,2cm de comprimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COLLI, G. R.; BASTOS, R. P; ARAÚJO, A. F. B. The character and dynamicas of the cerrado herptofauna. In: OLIVEIRA, P. S.; MARQUIS, R. J. ed. The cerrados of Brazil: ecology and natural history of a neotropical savana. New York. Columbia University. Press. No prelo. Physalaemus curveiri Cabeça desproporcional ao corpo (menor), faixas pretas nas laterais do corpo, textura lisa e coloração do dorso mais escura que a lateral, sendo as duas malhadas, rostro afilado. Indivíduo com aproximadamente 2,8cm de comprimento. GLAW, F.; KOHLER, J. 1998. Amphibean species diversity exceeds that of mamals. Herptological Review, Lauwence 29 (1): 11 – 12. Physalaemus nattereri Coloração rajada acinzentada, corpo em forma de disco, textura lisa. Presença de ocelos pretos contornados com um anel branco, na parte posterior do corpo. Parte posterior da coxa rajada de coloração preta e branca, cabeça bem menor que o corpo. Indivíduo com aproximadamente 4,0cm de comprimento. MARINHO-FILHO, J.; REIS, M. L. 1989. A fauna de mamíferos associada as matas de galerias. Simpósio sobre mata ciliar. São Paulo, SP, Anais. Campinas: Fundação Cargil. p. 43 – 60. REDFORD, K. H.; FONSECA, G. A. B. 1986. The role of galery forests in the zoogeography of the cerrado’s non volant mammalias fauna. Biotropica. Baton Rouge, L. A. vol. 18 (2): 126 – 135. Leptodactylus ocellatus Coloração marrom claro com manchas de tamanho médio marrom escuro, parte posterior da coxa com coloração verde camuflado, textura lisa. Dorso com quatro linhas em alto relevo e paralelas ao comprimento do corpo de cor marrom intercaladas com coloração verde. Rostro afilado, pata traseira com dedos alongados, sendo o terceiro digito de dentro para fora bem maior que os outros. Indivíduo com aproximadamente 7,7cm de comprimento. SICK, H. A. 1965. A fauna do cerrado. Arquivos de Zoologia, São Paulo, SP. 12: 71 – 93. VANZOLINI, P. E. 1963. Problemas faunísticos do cerrado. Simpósio sobre cerrado. São Paulo, SP. Anais p. 305 322. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Dona Eunice pela preparação do lanche noturno e ao Prof. Dr. 81 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1. Lista das espécies observadas de Anuros em três ambientes noParque Estadual Serra de Caldas Novas, no dia 27 de setembro de 2002. Família Gênero Espécie Ambiente Leptodactylidae Lepdodactylus Leptodactylus ocellatus I Lepdodactylus syphax* II Lepdodactylus furnarius* I Physalaemus cuvieri I Physalaemus nattereri II Hyla minuta I Hyla albopunctata I Physalaemus Hylidae Hyla Hyla biobeba* (*) – Espécies não catalogadas no Plano de Manejo do Parque. 82 III UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo G6.3 INVERTEBRADOS NOTURNOS NO RIACHO DA CASCATINHA, PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS(GO) Rafael Arruda, Caio Rebula, Ernestino S. G. Guarino, Jania C. Salles, Marcela Yamamoto Orientador: Prof: Glauco Machado INTRODUÇÃO Mesmo representando uma pequena parcela da área do cerrado, cerca de 5%, as matas de galeria são de grande importância na definição da biodiversidade desse bioma. São responsáveis pela quantidade e qualidade da água presente em rios do Brasil central, comportando mais de 30% das espécies de plantas vasculares neste bioma. Muitos representantes da fauna presentes em outras fitofisionomias do cerrado dependem das espécies vegetais das matas de galeria para alimentação, reprodução e moradia. (Ribeiro et al., 2001). O estudo da fauna dos invertebrados permite amostrar uma grande variedade de formas animais e funções, de modo a obter maior compreensão da diversidade deste amplo grupo e sua participação no ecossistema (Ruppert & Barnes, 1991). O objetivo deste trabalho foi realizar um rápido levantamento da fauna noturna de invertebrados na mata de galeria do riacho da Cascatinha. METODOLOGIA O estudo foi realizado ao longo do curso do riacho da Cascatinha, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. A coleta foi feita durante a noite por um período de três horas, com início às 18:30 h. Os invertebrados foram capturados por meio de coletas manuais e pelo auxílio de um guarda-chuva entomológico. Posteriormente, foram fixados em álcool 70%. Foi feita a triagem e identificação do material em laboratório, com o auxílio de um estéreo-microscópio. Foram coletados indivíduos pertencentes às classes Arachnida, Insecta e Diplopoda. A Tabela 1. relaciona uma lista comentada dos grupos encontrados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RIBEIRO, J.F.; FONSECA, C.E.L.; SOUZA-SILVA, J.C. 2001. Cerrado: caracterização e recuperação de matas de galeria. 1a ed. Planaltina, Embrapa Cerrados. 899p. RUPPERT, E.E.; BARNES, R.D. 1991. Invertebrate zoology. 6th ed. Orlando, Saunders College Publishing. 1056p. RESULTADOS 83 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo Tabela 1- Invertebrados encontrados no riacho da Cascatinha e suas características. CLASSE ORDEM FAMÍLIA HABITAT CARACTERÍSTICAS FORRAGEAMENTO/ DIETA Arachnida Araneae Lycosidae Terrestre Caçador ativo Desenho de seta no abdome. Trechaleidae Terrestre Predador senta -espera Caça associada à água; pêlos nas pernas que facilitam andar sobre a água. Hercilidae Arborícola Predador senta-espera Camuflagem em troncos; fiandeiras grandes (teia para enrolar a presa); 3º par de pernas mais curto. Sparasidae Arborícola Predador senta-espera Forte achatamento dorso-ventral. Corinidae Terrestre Predador senta-espera Maioria dos miméticos de formigas; teia para revestir o abrigo. Pholcidae Arborícola Predador senta-espera Algumas espécies de ambiente domiciliar; teias irregulares. Therididae Arborícola Predador senta-espera Teia irregular, mesma família da viúva-negra. Araneidae Arborícola Predador senta-espera Teia orbicular. Salticidae Terrestre ou Caçador ativo Visualmente orientados. arborícola Insecta Acarinae Não Identificado Terrestre Parasita Ectoparasita de Bufo sp Opilliones Cosmetidae Terrestre Caçador ativo Pedipalpo em forma de colher. Gonyleptidae Terrestre Caçador ativo Macho com espinhos; fêmea arredondada, sem espinhos. Belostomatidae Aquático Predador senta-espera Barata d’água; sifão respiratório; cuidados paternais. Caçador ativo 1º par de pernas raptorial; canibalismo coletivo. Hemiptera submerso Gerridae Aquático de superfície 84 UnB Métodos de Campo em Ecologia - 2002 Projetos em Grupo continuação Coleoptera Reduviidae Arborícola Caçador ativo Gyrinidae Aquático de Predador senta espera Gregários; dois olhos bipartidos; bolha de ar no ventre. ____ A larva se alimenta de madeira; adulto de fase curta; antenas longas (2º coluna d’água Cerambycidae Arborícola segmento maior). Erotylidae Arborícola Fungos Elateridae Arborícola Caçador ativo Vagalume. Blattaria Não identificado Terrestre Onívoro Ninfas sem asas. Orthoptera Gryllidae Terrestre Herbívoro Ovopositor perfurador; antenas longas e asas sobrepostas. Phalangopsidae Terrestre Herbívoro ou Ápteros; maioria cavernícola. detritívoro Diplopoda Julida Não identificado Terrestre Detritívoro Enrola quando molestado expondo par de glândulas (cianeto). 85 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA Parque Estadual da Serra de Caldas Novas Projetos de 1 dia Set/02 86 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 1.1 MORTALIDADE DE NINHOS DE CONSTRICTOTERMES CYPHERGASTER RELACIONADA A DISTÂNCIA DO SOLO E CIRCUNFERÊNCIA EM UMA ÁREA DE CERRADO SENSU STRICTU DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS (GO) Caio A. Rébula, Carlos H. G. Angeluci comportamento de nidificação arbórea pode representar uma estratégia para reduzir o ataque dos principais predadores (Redford, 1984), podemos esperar que: INTRODUÇÃO O cerrado brasileiro é um domínio caracterizado como savana, apresentando fitofisionomias variadas, que abrangem desde campos a florestas. Cupins (Isoptera, Termitidae) são insetos sociais de tamanho médio que se alimentam de celulose, utilizando matéria orgânica e solo para a construção de seus ninhos, sendo mais abundantes em áreas de maior biomassa vegetal. Vivem em sociedades altamente organizadas, havendo diferenças morfológicas nos indivíduos presentes em uma colônia (Borror et al. 1989). São animais de grande importância devido a sua abundância e capacidade de abrigar térmitas inquilinos e um grande número de espécies termitófilas (Araújo, 1970). Eles representam ainda, uma considerável fonte de alimento para várias espécies de animais. Tatus e tamanduás constituem seus principais predadores, havendo também a utilização dos ninhos por aves, para nidificação (Redford, 1984). Uma possível estratégia para evitar a ação desses predadores poderia estar relacionada com o estabelecimento do ninho em determinada altura do solo que diminuísse o alcance destes animais. Uma das espécies de cupins mais freqüentes no cerrado brasileiro é Constrictotermes cyphergaster, que constrói ninhos arbóreos (Araújo, 1970). H0 – Maior distância do solo reduz a taxa de mortalidade. No entanto, é possível que existam predadores capazes de acessar os ninhos arbóreos: H1 – Maior distância do solo aumenta a taxa de mortalidade. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), GO. A área total desta unidade de reserva é de aproximadamente 12.000 ha, apresentando como fitofisionomia principal formações de cerrado. A coleta de dados foi feita em 20 de setembro de 2002, em um local de cerrado sensu strictu com altitude aproximada de 1030m. Foram definidos 08 transectos de 200m x 10m, dispostos perpendicularmente à estrada de acesso à área de estudo. Cada transecto foi colocado a 50m de distância um do outro. Dentro da área foram amostrados todos os ninhos de C. cyphergaster, medindo a circunferência, altura dos ninhos até o solo, assim como a densidade. Foi avaliada a correlação entre altura e circunferência dos ninhos bem como regressões logísticas simples. Os dados foram analisados com o auxílio do software Bioestat 2.0. OBJETIVOS O trabalho teve como objetivos avaliar a relação entre a altura dos ninhos, a partir do solo, com o tamanho dos mesmos e determinar se isto influencia a mortalidade. Desta forma, como o RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados 52 ninhos, sendo que destes, nove estavam desativados. 87 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia uma conseqüência de atividades da avifauna (Redford, 1984). Entretanto, não foi possível comprovar a origem da perturbação. A alta mortalidade a grandes valores de altura pode estar relacionada a um gasto energético maior para obtenção de recursos, o que pode acarretar maior tempo na construção dos ninhos. Desta forma eles permaneceriam maior tempo em estágios iniciais de desenvolvimento, estando mais suscetíveis à ação de predadores. Observou-se que a maioria dos ninhos desativados apresentaram orifícios com diâmetro de pelo menos 10 cm na porção basal. A densidade de ninhos de C. cyphergaster foi de 29,37/ha para uma área de 16000 m². A relação encontrada entre altura e circunferência dos ninhos está relacionada na Figura 1. Os resultados da análise para altura e circunferência dos ninhos apresentaram uma correlação positiva, rPearson=0,3190, e significativa, p= 0,0211. Para a regressão logística simples mortalidade foi classificada como variável dependente, sendo comparada com as variáveis independentes altura e circunferência Os resultados demonstraram que em 99,7% dos casos a mortalidade foi uma função da altura, estando os ninhos mortos geralmente a maiores distâncias do solo. Houve portanto, uma forte relação entre altura do ninho mortalidade (Tabela 1). Em somente 35,7% dos casos a mortalidade estava relacionada à altos valores de circunferência (Tabela 2). A mortalidade tende a ser maior em circunferências iguais ou inferiores a 70cm, aproximadamente 80% dos casos. Isso provavelmente se deve a fragilidade nos estágios iniciais da colônia. A maioria dos ninhos desativados apresentaram orifícios com diâmetro médio de 10cm na porção basal. Estes podem ser REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araújo, A.L (1970) Termites of neotropical region. In: Krishna, K. & Weesner, F.M. Biology of termites.2nd edition. Academic Press, New York. 527-571. Borror, D.J.; Triplehorn, C.A.; Johnson, N.F. (1989) An introduction to the study of insects. 6th edition. Saunders College Publishing, Florida. 875p. Redford, K.H. (1984) The termitaria of Cornitermes cumulans (Isoptera, Termitidae) and their role in determining a potential keystone species. Biotropica 16(2): 112-119. Zar, J.H. (1999) Biostatystical analysis. 4th edition. Prentice Hall, New Jersey. 663p. Tabela 1. Resultados para regressão logística simples: Mortalidade vs altura. Variáveis Coeficiente Mortalidade -5,6992 Altura 0,0335 G.L. 1 P1 99,7% Logit P1= -5,6992+0,0335x1=-5,6657; P1= 1/1+exp(-5,6657)=99,7% 88 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Tabela 2. Resultados para regressão logística simples: Mortalidade vs circunferência. Variáveis Coeficiente Mortalidade 0,6149 Altura -0,0257 G.L. 1 P1 35,7% Logit P2= 0,6149-0,0257x1=0,5892; P2= 1/1+exp(0,5892)=35,7% 180 160 0,3063 y = 26,554x Circunferência (cm) 140 2 r = 0,5183 120 100 0,6618 y = 2,1797x 80 2 r = 0,5869 60 Ninhos vivos 40 Ninhos mortos 20 0 0 50 100 150 200 250 Altura (cm) Figura 1. Altura do solo e circunferência dos ninhos de Constrictotermes cyphergaster em uma área de cerrado sensu strictu no PESCAN. Ninhos mortos estão mais distantes do solo e apresentam menor circunferência. 89 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I1.2 HERBIVORIA FOLIAR EM Siparuna guianensis (MONIMIACEAE), PARQUE ESTADUAL DE CALDAS NOVAS, GOIÁS Claudio Muniz & Sérgio Lopes INTRODUÇÃO O efeito da herbivoria é um aspecto importante na vida de uma planta e depende da área foliar removida pelos herbívoros e do estágio de desenvolvimento em que a planta se encontra (BEGON et al., 1996). A herbivoria é uma interação animal-planta que pode diminuir a performance das plantas atacadas pela remoção de área fotossintetizante. O conhecimento dessa interação pode ter uma importante aplicação na determinação da comunidade (RAVEN, 1999), uma vez que vários fatores como a heterogeinidade espacial e a complexidade do habitat podem estar relacionados com a riqueza das espécies de uma comunidade (BEGON et al,1996). Assim, a heterogeneidade espacial, indicada por fatores edáficos e pela luminosidade, pode afetar a comunidade de herbívoros. Neste trabalho, avaliamos se a heterogeneidade ambiental de uma mata influencia nas taxas de herbivoria foliar de Siparuna guianensis. aleatória. No laboratório, as folhas herbivoradas referentes a cada região foram selecionadas e, em seguida, 30 delas sorteadas para as análises. Foram consideradas herbivoradas, as folhas que apresentavam partes removidas, sem incluir minadores, galhas, fungos etc. Para a comparação de AF bruta e AH (Tabela 1) foi utilizado o teste estatístico Kruskal-Wallis. Na comparação das medidas de área foliar obtida pelos dois métodos de medidas (Programa Autocad v. 14 e Area Meter mod. CID 205), foi aplicado o Teste “t” de variâncias heterogêneas (Prophet v. 5). Para a obtenção da área herbivorada foram utilizados dois diferentes métodos: medidor de área foliar (area meter) e programa autocad. Para comparar a precisão desses métodos, 15 folhas foram submetidas à medição da área foliar usando ambas metodologias. Os parâmetros medidos nas folhas estão descritos na Tabela 1. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não foi detectada diferença estatisticamente significante na comparação das medidas de áreas foliares obtidas por meio dos dois métodos. Os percentuais de AH foram semelhantes para os indivíduos localizados no meio da mata e nas proximidades do curso d’água. Os indivíduos da borda apresentaram os maiores percentuais de AH (Tabela 2), e os maiores valores médios de AF bruta e Herbivoria (Figs. 1 e 2), em comparação com os demais. Tais resultados indicam que os indivíduos da borda podem estar investindo mais em crescimento MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, localizado entre os municípios de Rio Quente e Caldas Novas, Goiás. Siparuna guianensis (Monimiaceae) é uma espécie arbustiva que apresenta ampla distribuição no sub-bosque de uma mata do Parque. Para a realização do estudo de herbivoria foliar dessa espécie, inicialmente foram delimitadas três regiões no interior da mata (curso d’água, meio e borda), distantes 200 m entre si. Em cada região, foram recolhidas aproximadamente 100 folhas de cinco indivíduos, de maneira 90 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia devido à maior disponibilidade de luz nesta região, em comparação com os demais. Em geral, espécies que crescem em ambientes ensolarados apresentam maior herbivoria do que espécies que crescem em ambientes sombreados. Além disso, suas folhas podem apresentar um maior conteúdo de água e baixas concetrações de metabólitos secundários. Isso torna o tecido mais palatável para os herbívoros e a taxa de troca foliar pode ser grande neste ambiente (DEL AMO, 1985; BARONE & COLEY, 2002). Plantas expostas a um maior regime de luz possuem taxas mais rápidas de crescimento e devem investir menos em defesas químicas. Além disso, as folhas devem ser de melhor qualidade nutricional para herbívoros, e, em conseqüência, apresentam grandes níveis de herbivoria. Por outro lado, indivíduos expostos a um regime de pouca luz teriam taxas fotossintéticas mais reduzidas e poderiam investir mais em defesas físicas e químicas, com conseqüente redução nas taxas de crescimento e herbivoria. BARONE, J. A. & COLEY, P. D. 2002. Herbivorismo y las defensas de las plantas. In: Guanigata, M. R. & Kattan, G. H. Ecología y Consevación de Bosques Neotropicales. Cartago, Costa Rica. pp. 465-492. BEGON, M., HARPER, J. L., TOWNSEND, C. R. 1990. Ecology: individuals, populations and communities. 2a. ed. Blackwell Scientific Publication, Massashussets, USA. DEL AMO, R. S. 1985. Algunos aspectos de la influencía de la luz sobre el crescimento de estados juveniles de especies primarias. pp. 79-91. In: GOMES-POMPA, A. & DEL AMO, R. S. Investigaciones sobre a la regeneración de selvas altas em Vera Cruz, Mexico. Instituto Nacional de Investigaciones sobre recursos bioticos: Xalapa, Vera Cruz, Mexico. 412p. RAVEN, E. E. 1999. Biology of Plants. 6a ed. Freeman Worth. Ecology. p. 783785. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 91 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Tabela 1 – Parâmetros para medição de área. Área foliar bruta (AF bruta) Área foliar total desconsiderando a área herbivorada. Área foliar líquida (AF líquida) Área foliar restante após herbivoria Área herbivorada (AH) Área foliar retirada por herbivoria Tabela 2 - Medidas foliares e herbivoria nas três regiões da mata. Região curso meio borda AF bruta (cm2) 1600 1955 2479 AF líquida (cm2) 1449,5 1770,2 2202,8 AH (%) 9,4 9,5 11,2 92 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Área Foliar bruta 120 100 a cm2 80 b 60 c 40 20 0 curso meio borda Figura 1- Área foliar bruta média nas três regiões em uma mata, Parque Estadual da Serra de Caldas, Goiás. Herbivoria 12.0 8.0 % 4.0 0.0 curso meio borda Figura 2- Herbivoria média encontrada nas três regiões da mata, Parque Estadual da Serra de Caldas, Goiás. 93 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 1.3 EFEITO DA QUEIMADA NA ATIVIDADE, NO TEMPO DE RECRUTAMENTO E NA DENSIDADE DE NINHOS DE FORMIGAS EM UMA ÁREA DE CERRADO. Flávio Rodrigues Oliveira & Marcela Yamamoto Orientador: Heraldo Vasconcelos INTRODUÇÃO A ocorrência de fogo, por causa natural ou antrópica, é comum durante a seca no cerrado, sendo apontado como importante agente modificador e mantenedor de comunidades vegetais (Coutinho, 1990 apud Santos, 1999). A ação do fogo sobre o solo depende da sua intensidade, da natureza da vegetação, do aumento da temperatura, da freqüência de queimadas e da duração do pulso de calor. As espécies de formigas que ocorrem no subsolo e as que forrageiam na superfície do solo utilizam como estratégia predominante para escapar do fogo nas queimadas, a localização das colônias (Naves, 1996). Formigas são insetos sociais filopátricos, que respondem rapidamente a mudanças ocorrendo em escalas espaciais pequenas. São um grupo muito representativo em termos de biomassa e número de espécies, tendo um papel fundamental na estrutura e na função de ecossistemas diversos e complexos (Vasconcelos et al., 2001). O presente estudo teve como objetivo comparar a atividade, diversidade, tempo de recrutamento e densidade de ninhos de formigas em uma área de cerrado sentido restrito, recém queimada e outra não queimada. experimento foi realizado no período matutino (08:00 hs – 11:00 hs) do dia 20 de setembro de 2002. A área queimada apresentava solo exposto com rebrotamento de gramíneas. Na área não queimada, além de vegetação arbustiva de cerrado, havia predomínio de gramíneas. Em ambas a as áreas observamos afloramentos rochosos. Em cada ambiente estabelecemos quatro transectos de 60 metros, distantes 10 metros da trilha, com seis iscas alternadas de sardinha, torrone e bolacha maisena em cada um. As iscas foram colocadas sobre pedaços de papel de área conhecida (73,5 cm2), dispostas ao longo dos transectos com espaçamento de cinco metros um do outro. Após a colocação de todas as iscas, iniciamos a observação da atividade das formigas às 08:00hs, quantificando e qualificando, as espécies presentes. Tomamos como ponto de partida, o tempo médio entre a descoberta e o agrupamento de formigas sobre as iscas, como medidas para o tempo de recrutamento. A atividade foi medida pela densidade de formigas em cada pedaço e a densidade dos ninhos foi estimada pela descoberta dos mesmos após a formação da trilha e acompanhamento das formigas até a entrada do ninho. Para análise estatística dos dados utilizamos os testes Kruskal-Wallis e Mann-Whitney, do pacote de processamento PROPHET 5.0 (BBN SYSTEMS AND TECHNOLOGIES). MATERIAL E MÉTODOS Conduzimos o estudo em duas áreas, uma queimada e outra não queimada, de cerrado, localizadas no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, PESCAN, GO. O RESULTADOS E DISCUSSÃO 94 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Foram encontras cinco espécies de formigas em ambas as áreas, contudo, Paratrechina sp foi somente observada na área não queimada (Tabela 2). O gênero Camponotus foi o mais abundante e ocorreu primeiramente nas iscas em ambas as área. Crematogaster sp foi a segunda mais encontrada na área não queimada e Pseudomyrmex na área queimada. A atividade das formigas, a densidade dos ninhos e o tempo de recrutamento não diferiu entre as áreas queimada e não queimada (Tabela 1). Houve uma tendência de maior diligência na área não queimada, provavelmente devido a redução de recursos na área queimada. A densidade dos ninhos, embora sem diferença entre as áreas, mostra que formigas não abandonam seus ninhos após a passagem do fogo. Em relação ao tempo médio de recrutamento, obteve-se um maior valor na área queimada, o que pode ser explicado pela redução drástica de recursos, uma vez que formigas tenham que forragear uma área maior para suprir as necessidades da colônia. Também foi observado comportamento agonístico nesta área, que reflete na competição do recurso escasso. Observamos que das três iscas oferecidas, sardinha foi a que teve maior número de indivíduos, talvez por que este recurso alimentar tenha sido o único constituído de proteína, ainda que não houvesse diferença entre as iscas. Também observamos que Crematogaster sp teve uma maior atratividade em iscas constituídas de bolacha, sendo as únicas espécies a constituírem trilhas verdadeiras. Os resultados aqui apresentados indicam que o fogo na região de cerrado não causa elevados danos na comunidade de formigas que nidificam no solo ou em troncos suberosos e de maior diâmetro. Tais resultados complementam o que estudos anteriores, (observações pessoais do curso de campo) nas comunidades de formigas, não apresentam diferenças em áreas queimadas e não queimadas. Agradecemos aos Professores Glein M. de Araujo e John Hay pelas idéias e esclarecimento a cerca deste estudo e, em especial ao Professor Dr. Heraldo Vasconcelos pela orientação, identificação e discussão do relatório final. A Cláudio F. Muniz pela ajuda essencial na análise estatística. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COUTINHO, L. M. 1990. Fire in the ecology of the Brazilian cerrado. In: Fire in the Tropical Biota. J. G. Goldammer (ed.). Springer-Verlang, Berlin. apud SANTOS, J. C. C. 1999. Influência do fogo na riqueza de insetos em Paratudal, Pantanal do Miranda Abobral, Mato Grosso do Sul. Ecologia de Campo – Pantanal, p. 127 – 129. NAVES, M. F. 1996. Efeito do fogo na população de formigas (Hymenoptera – Formicidae) em cerrado do Distrito Federal. Anais do Simpósio Impacto das Queimadas sobre os Ecossistemas em Mudanças Globais. 3° Congresso de Ecologia do Brasil, Brasilia. Apud RAMOS, L., HASS, A., PULCHÉRIOLEITE, A. et al. 1999. Comparação da mimercofauna entre áreas de paratudal queimada e não-queimada, no Pantanal do Miranda-Abobral. Ecologia de Campo – Pantanal, p. 08 – 10. SILVA, L. O., COSTA, D. A., SANTOFILHO, K. E. et al. 2002. Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta Bot. Bras. v. 16, n. 1, p. 43 – 53. VASCONCELOS, H. L., CARVALHO, K. S., DELABIE, J. H. C. 2001. Landscape modifications and ant communities. pp. 199 – 207. In: BIERREGAARD, R. O., GASCON, AGRADECIMENTOS 95 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia C., LOVEJOY, T. E. et al. (ed.). Lessons from Amazonia. The ecology and conservation of a fragmented forest. Yale university Press, New Haven & London. 478 p. apud VENTICINQUE, E., ZUANON, J. 2002 Ecologia da Floresta Amazônica – Curso de Campo. p. 100 – 102. Tabela 1 – Dados de tempo de recrutamento, distância dos ninhos e atividades das formigas em duas áreas de cerrado, queimado e não queimado do Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO. TEMPO DE RECRUTAMENTO PARÂMETROS N MÉDIA Q NQ 11 12 23,36 ± 24,61 9,36 ± 11,75 DISTÂNCIA DOS NINHOS N MÉDIA Q NQ 9 7 2,51 ± 1,70 1,83 ± 1,83 ATIVIDADE DAS FORMIGAS N MÉDIA Q NQ 12 12 14,75 ± 9,71 22,67 ± 24,82 Nota: As letras Q e NQ significam área queimada e área não queimada, respectivamente. Tabela 2 – Quantidade espécies de formigas que surgiram na primeira observação. ESPÉCIES QUEIMADA NÃO QUEIMADA Camponotus sp 1 08 07 Camponotus sp 2 01 02 Pseudomyrmex sp 01 01 Crematogaster sp 01 01 Paratrechina sp 01 A notação () indica que espécie em questão não foi observada na área. 96 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 1.4 PREDAÇÃO DE FRUTOS DE JATOBÁ DO CERRADO, HYMENAEA STIGONOCARPA MART. EX HAYNE (LEGUMINOSAE – CAESALPINOIDEAE) Hélder Nagai Consolaro & Ernestino de Souza G. Guarino INTRODUÇÃO Frutos e sementes, por concentrarem nutrientes como carboidratos, proteínas, lipídeos e minerais, são procurados por diversos animais (Lacerda et al., 2000). O jatobá do cerrado, Hymenaea stigonocarpa (Leguminosae – Caesalpinoideae), produz uma grande quantidade de frutos, servindo assim, como uma importante fonte de recursos para a fauna local. Alguns mamíferos (Agouti spp., Dasyprocta punctata, Oryzomis caliginosus, Tapirus terrestris) comem a polpa do fruto de jatobá (Carvalho, 1994; Janzen, 1983 apud Lopes, 1997) podendo dispersar as sementes para longe da plantamãe, onde elas são capazes de germinar (Kageyama et al. 1994 apud Lopes, 1997). Entretanto, existem alguns insetos, principalmente besouros e formigas, que são capazes de aproveitar efetivamente os frutos dessa espécie e predar as sementes, tornado-as inviáveis (Lopes, 1997). Segundo Fenner (1983), a linha divisória entre dispersores e predadores nem sempre é clara, porque muitos animais exercem ambos papéis. Existem dois tipos de predadores-dispersores: (a) aqueles que comem os frutos com as sementes e algumas sobrevivem a passagem pelo trato disgestório; (b) e aqueles que armazenam as sementes no solo, e uma proporção destas não é reencontrada (Lacerda et al., 2000). Neste trabalho, o objetivo foi verificar a predação de frutos de jatobá para identificar os possíveis predadores e para averiguar se existe diferença na taxa de predação a medida que aumenta a distância da planta mãe. MATERIAL E MÉTODOS Os frutos foram coletados no dia 19 de setembro de 2000, sob 3 indivíduos adultos de Hymenaea stigonocarpa (jatobá do cerrado, Leguminosae – Caesalpinoideae) localizados em uma área de cerrado s. s próximo a sede do PESCAN. Todos os frutos de jatobá encontrados sobre o solo foram coletados. Para estabelecer uma escala de distância do fruto em relação a planta-mãe, foi adicionado a redor do indivíduo anéis de dois em dois metros somando um raio de dez metros. A medida que eram coletados, os frutos eram marcados a que anel pertenciam e em laboratório foram indicados os possíveis predadores através de características presentes nos frutos. Para identificar os possíveis predadores foram atribuídas as seguintes características (a) frutos predados somente por insetos – frutos com pequenas perfurações na casca; (b) frutos predados apenas por mamíferos – frutos com perfurações amplas com sinais aparentes de dentes e garras; (c) frutos predados por insetos e mamíferos – frutos com sinais de ambos os tipos e (d) frutos intactos – frutos sem sinais de predação. Para realizar análise de dados, os frutos coletados sob os três indivíduos foram agrupados, sendo os dados analisados por meio do software Bioestat 2.0 (Ayres et al. 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram coletados 215 frutos de jatobá, ocorrendo predação em 56% destes. Dentre os predados, o tipo mais comum foi o de insetos - com 67 (55%), seguido por mamíferos - com 26 (21 %) e insetos e 97 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia mamíferos - com 28 (23%). Quando comparados os frutos predados, os por insetos foram significativamente maiores que os demais (χ2=26,496; p=0.00 – Fig.2). Possivelmente, a maior predação por insetos em frutos de jatobá é atribuída ao fato destes insetos utilizarem o próprio fruto como local de nidificação, assim tendo uma maior concentração próximo a planta-mãe. A medida que aumentou a distância da planta-mãe a taxa de predação variou. Quanto mais próxima da planta-mãe, maior a taxa de predação; nos dois anéis mais próximas (0-2m e 2-4m) a taxa representou 62,74%. Na área mais distante da planta (810m) ocorreu uma inversão na taxa, ou seja, o número de frutos intactos foi maior que o número de frutos predados (Fig. 1). Estes dados vem de encontro a hipótese sugerida por Janzen-Connell, a qual diz que a probabilidade de sobrevivência de sementes e plântulas é maior a medida que estes localizam-se mais distantes do adulto mais próximo (Begon et al. 1990). Nos frutos predados foram encontrados duas espécies de formigas (Camponotus sp. com larvas, ovos e várias castas – Formicidae, Formicinea e uma espécie indeterminada), uma espécie Coleoptera (Curculionidae) e uma espécie de Arachinidae. Dados também encontrados por Lopes (1997) estudando predação em frutos de jatobá da mata (H. courbaril). A predação é um tipo de interação que pode influenciar a organização de uma comunidade, podendo restringir a distribuição e a abundância de uma população, sendo uma importante força seletiva. Isso pode estar acontecendo com esta espécie, já que durante a coleta dos frutos não foram observadas plântulas, da mesma espécie, próximas aos indivíduos adultos. AGRADECIMENTOS A Marcela e Caio pela identificação dos invertebrados presentes nos frutos, aos professores John Hay e Paulo Eugênio de Oliveira pelas preciosas sugestões. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEGON, M.;HARPER, J. L., TOWNSEND, C. R., 1990. Ecology – individuals, populations and communites. Blackwell Science 2° Ed. 995p. LACERDA, A. C. R.; SILVEIRA, A. B.; ILHA, I. M. N.; NETTO, R. R., 2000. Predação de sementes de Attalea phalerata (Palmae) em coridilheiras no Pantanal da Nhecolândia. Ecologia do Pantanal – Curo de Campo 2000. 9395p. LOPES, F. P. P., 1997. Predação de frutos de jatobá, Hymenae courbaril variedade stilbocarpa (Raynie) Lee & Lang. (Leguminosae – Caesalpinoidae), em fase prédispersão por uma espécies de Curculionidae (Coleoptera). Curso de Campo em Ecologia – Trabalhos individuais, UnB. 14-17p. 98 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia 50 45 Número de frutos 40 35 30 25 20 Intactas 15 Predação Total 10 5 0 0-2m 2-4m 4-6m 6-8m 8-10m Distância da planta mãe Figura 1. Número de frutos de jatobá do cerrado predados e intactos em relação a distância da árvore, no cerrado próximo a trilha da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN). 30 Pred. Insetos Número de frutos predados 25 Pred. Mamíferos 20 15 Pred. Mamíferos e Insetos 10 5 0 0-2m 2-4m 4-6m 6-8m 8-10m Distância do tronco Figura 2. Número de frutos predados e os seus respectivos predadores, em relação a distância da árvore mãe, no cerrado próximo a trilha da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN). 99 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 1.5 FAUNA DE INVERTEBRADOS ASSOCIADA A SERRAPILHEIRA: COMPARAÇÃO ENTRE UMA MATA DE DOSSEL E UMA CLAREIRA Jania Cabrelli Salles & Marcelle S. C. Rodrigues. Orientador: Prof. John Hay utilizada na coleta de dados apresenta sobreposição entre mata seca e mata de galeria. Foram demarcadas 10 parcelas de 0,5 x 0,5 m ao longo de dois transectos de 5m, sorteadas de forma alternada e delimitadas por canos de PVC. Cinco delas localizadas mais próximo ao córrego, numa área encoberta pelo dossel, e as outras cinco foram estabelecidas mais próximo à borda, sob uma clareira, com distância aproximada de 150m entre as áreas. A serrapilheira foi removida manualmente para uma bandeja, de onde os indivíduos foram coletados, sendo estes posteriormente colocados em álcool 70%. Os indivíduos coletados foram quantificados de acordo com o grupo taxonômico a qual pertencem. Também foram registrados dados de temperatura, umidade e espessura da serrapilheira, com utilização de termômetro digital, psicrômetro digital e régua. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o Programa BioEstat 2.0 (teste KolmogorovSmirnov) e teste do Qui-quadrado. INTRODUÇÃO As florestas são regidas por muitos processos, dos quais dependem para seu funcionamento. Um desses processos é a reciclagem de nutrientes, que está diretamente influenciada pela fauna associada à serrapilheira (Takiya et al. 2000). A serrapilheira consiste de folhas caídas, ramos, caules, cascas e frutos, que ficam depositados sobre o solo, formando uma camada orgânica superficial, podendo variar de poucos milímetros a vários centímetros. A serrapilheira mantém a umidade por maior período de tempo e geralmente apresenta temperatura menor que a do ar. Isso propicia um microhábitat ideal para várias espécies de animais, principalmente invertebrados, como abrigo ou área de forrageamento (Silveira et al. 2000). As perturbações florestais, como por exemplo a formação de clareiras, podem afetar tais condições físicas, e assim, modificar a composição da comunidade faunística deste micro-ambiente. Este estudo teve como objetivo comparar a fauna de invertebrados associados a serrapilheira entre dois ambientes de mata do domínio do Cerrado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram identificados 14 grupos taxonômicos na serrapilheira da área coberta e 10 grupos na área de clareira, num total de 242 indivíduos. A Classe Insecta foi a mais representativa na amostragem, sendo que a Ordem Hymenoptera apresentou maior incidência na serrapilheira na área coberta e a Ordem Araneida, na serrapilheira de clareira (Tabela 1). De acordo com Takiya et al. 2000, dentro de uma comunidade de serrapilheira, as METODOLOGIA Este estudo foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), localizada entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no estado de Goiás, com uma área de cerca de 125 km2, caracterizada por apresentar várias formas da vegetação de Cerrado. A área 100 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia formigas, que formam a maior biomassa, são bons indicadores do estado do ecossistema, refletindo rapidamente os distúrbios sofridos pelo hábitat. Assim, os resultados obtidos nesse estudo confirmam esta afirmativa. Com relação à abundância de indivíduos nos taxa, foi observado que houve diferença significativa entre os ambientes de estudo (teste KolmogorovSmirnov: desvio máximo = 0,3460; valor crítico = 0,1847; P<0,01). Pode-se inferir que a colonização de um organismo em um determinado substrato depende das interações com o meio abiótico, dentre outros fatores ( Gonzaga et al. 1998), mas nesse estudo, a diferença entre os fatores físicos dos dois locais não foi significativa (χ2 = 5,121, p = 0,0773), (Tabela 2). Dessa forma, outros fatores possivelmente influenciaram os resultados obtidos, tais como a pequena amostra e o pequeno esforço amostral. GONZAGA, M.O., COSTA, C.P.A., GOMES-FILHO, A. & OLIVEIRAFILHO, F.J.B. 1998. Seleção de hábitats por aranhas e diplópodos numa várzea do Rio Solimões, AM, durante o período da cheia. Curso de campo: Ecologia da Floresta Amazônica. INPA. p. 85 – 86. SILVEIRA, A.B., ALMEIDA, M.T., MEDRI, I.M. & CORRÊA, M.M. 2000. Invertebrados de serrapilheira numa cordilheira, Pantanal de Nhecolândia. Curso de campo: Ecologia do Pantanal.UFMS. p. 60 – 61. TAKIYA, D.M., PÉREZ, M.E., CAMPÓN, F., GEORGEOGLOU-LAXALDE, M.U. & PEQUEÑO, T. 2000. Comparación de los parametros físicos y fauna de invertebrados asociada de la hojarasca en una área preservada y outra manejada. Curso de campo: Ecologia da Floresta Amazônica. INPA. p. 30 – 32. BIBLIOGRAFIA 101 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Tabela 1. Grupos taxonômicos de fauna de serrapilheira encontrados nos dois ambientes. Taxa Indivíduos Coberta Clareira Hymenoptera 65 20 Isoptera 27 2 Coleoptera 16 6 Mantodea (ninfa) 2 0 Diptera (ninfa) 1 9 Lepdoptera (lagarta) 3 2 Blattodea 15 8 Hemiptera 3 6 Homoptera 0 1 Psicoptera 4 0 Araneida 15 27 Acarina 6 1 Opilionida 1 0 Pseudoescorpilionida 1 0 Chilopoda 1 0 159 83 Total Tabela 2. Médias das variáveis abióticas das áreas estudadas. Área coberta Área de clareira Temperatura (ºC) 24,3 30,2 Umidade (%) 61,8 36,2 Espessura da serrapilheira (cm) 3,0 3,5 102 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 1.6 Evapotranspiração de Caryocar brasiliense e Xylopia aromatica em dois ambientes distintos de cerrado s.s. Patricia Rodin & Otacílio Santana INTRODUÇÃO A evapotranspiração ( ε ) é definida como a perda de água da vegetação para a atmosfera Ela determinada pela radiação luminosa, velocidade do vento e temperatura (Begon et al. 1990). Nos últimos anos, a idéia de que a vegetação lenhosa do cerrado sofre com a falta de água durante a estação seca foi derrubada. Diversos estudos têm mostrado que muitas das espécies lenhosas possuem raízes profundas tendo acesso a um suprimento permanente de água no solo, o que as permite manter elevadas taxas de transpiração durante todo o ano. Os primeiros estudos de transpiração das árvores de cerrado mostraram que a maioria das espécies raramente controla a perda de água, mesmo durante o pico da estação seca (Coutinho & Ferri, 1960). No entanto, estudos mais recentes mostraram que algumas espécies controlam a perda de água na estação seca. Além da variação sazonal, a evapotranspiração de uma espécie deve sofrer variação temporal ao longo de um dia, uma vez que as varáveis abióticas que a determinam variam ao longo deste intervalo de tempo. Ela também deve apresentar variação espacial, onde a última é dependente do microclima local que a espécie se encontra. O objetivo do nosso trabalho foi: i) determinar a ε de duas espécies típicas do cerrado, a Caryocar brasiliense e a Xylopia aromatica no fim da estação seca; ii) determinar e comparar a ε das duas espécies, ao longo do dia; iii) comparar a ε de cada espécie em duas áreas submetidas a condições ambientais distintas, uma exposta a radiação solar direta e outra sombreada. Hipóteses: i) As espécies apresentarão variação na evapotranspiração, ao longo do dia, sendo esta maior nas horas de maior radiação solar; ii) As espécies apresentarão curvas de evapotranspiração distintas, pois elas apresentam diferentes características foliares; iii) a evapotranspiração será maior nas áreas de maior radiação solar que nas áreas sombreadas. METODOLOGIA Este trabalho foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go, no dia 20 de setembro de 2002, na transição da estação seca para a chuvosa. O dia foi claro e ensolarado. O trabalho foi realizado no cerrado sensu stricto, em dois ambientes distintos, um com incidência direta de luminosidade e o outro sombreado. Foram escolhidos dois indivíduos de Caryocar brasiliense e de Xylopia aromatica em cada um dos ambientes estudados. A mediação da evaporanspiração de cada indivíduo foi realizada em três ramos posicionados em diferentes alturas e posição em relação à incidência da radiação solar. A evapotranspiração das folhas foi medida utilizando sacos plásticos. Esta metodologia consiste em ensacar os galhos das árvores e após duas horas verificar a quantidade de água perdida através da diferença do peso destes sacos, antes e após duas horas de experimento. O peso foi obtido utilizando a balança de precisão OHAUS, com duas casas decimais. As medidas foram tomadas no intervalo de tempo de 6:00 às 18:00hs, a cada duas horas. Os galhos amostrados foram os mesmos ao longo de todo o experimento. 103 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Paralelamente, foi determinada a área foliar média de cada indivíduo. Para tal, foram coletadas cinco folhas de cada indivíduo e determinadas sua área através do aparelho laser de área foliar (CID 205), e foi contado o número de folhas presente em todos os ramos amostrados. A partir destes dados podemos estimar a evapotranspiração / área de cada indivíduo em cada intervalo de tempo. evapotranspiração nas horas de pico de radiação, ente 12:00 e 14:00 hs. Além disto, a curva de evapotranspiração das duas espécies foi maior na área aberta que na fechada, o que é explicado pela maior exposição das folhas à radiação luminosa e ao vento na primeira. Ao comparar a ε das duas espécies em cada tipo de ambiente, a Xylopia aromatica apresentou uma curva maior que a C. brasiliense. Este resultado pode ser devido à presença de sistemas radiculares de distintas profundidades, permitindo um acesso diferencial das espécies a água do solo, neste caso, a X. aromatica deve ter um sistema radicular mais profundo que C. brasiliense. Além disto, este resultado também pode estar relacionado às características foliares, como a pilosidade, que é maior em C. brasiliense. A presença de pêlos atua como uma característica eficiente na diminuição da perda de água para o ambiente, por diminuir a incidência da radiação solar na superfície das folhas e diminuir a velocidade de perda de vapor d’água da folha para a atmosfera. Apesar de não termos tido acesso a valores de evapotranspiração da estação chuvosa destas ou de outras espécies do cerrado, podemos inferir que a evapotranspiração das espécies estudadas é elevada durante a transição da estação seca para a chuvosa, o que indica que a água não é um fator limitante importante para as espécies arbóreas estudadas do Cerrado. RESULTADOS A comparação de evapotranspiração de Caryocar brasiliense entre a área aberta e fechada mostrou que na primeira a ε é maior ao longo de todo o dia (Figura 01), o mesmo foi encontrado para a Xylopia aromatica (Figura 02). Para as duas espécies estudadas, a amplitude de variação da evapotranspiração ao longo do dia foi maior na área aberta que na fechada. Quanto à comparação entre a evapotranspiração das duas espécies no mesmo tipo de ambiente, a Xylopia aromatica apresentou, na área fechada, uma ε maior que a C. brasiliense entre 12:00 e 14:00 (Figura 03), e no restante das horas elas foram semelhantes. Enquanto, na área aberta, X. aromatica apresentou uma ε maior do início do dia, 8:00 hs, até às 14:00 hs (Figura 04). DISCUSSÃO Os dados encontrados corroboram as nossas hipóteses. As espécies apresentaram variação na evapotranspiração ao longo do dia, sendo esta maior nas horas de maior radiação solar, entre 12:00 e 14:00. No entanto, as duas espécies apresentaram uma maior amplitude de variação da evapotranspiração na área aberta que na área fechada. Este resultado pode ser explicado pelo fato da área aberta estar exposta diretamente a radiação solar, portanto as folhas deste ambiente respondem diretamente ao aumento da radiação. Já na área fechada, as folhas estão sombreadas sentindo de forma mais sutil o aumento da radiação, o que é respondido com um pequeno aumento da BIBLIOGRAFIA Begon, M., Harper, J. L., Townsend, C. R. 1990. Ecology: individuals, populations and communities. 2a. ed. Blackwell Scientific Publication, Massachusetts, USA. Coutinho, L. M. & Ferri, M.G. 1960. Transpiração e comportamento estomático de plantas permanentes de cerrado em Campo Mourão (Estado do Paraná). Boletim da Faculdade de 104 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Filosofia e Letras, Universidade de São Paulo, Botânica 17: 109-130. Caryocar brasiliense Aberto 2 Evapotranspiração (g/cm ) 0.006 Fechado 0.005 0.004 0.003 0.002 0.001 0 08:00 10:00 12:00 14:00 16:00 18:00 Horas Figura 1. Evapotranspiração de C.brasiliense em área aberta e fechada de cerrado s.ss. no Parque Estadual de Serra de Caldas Novas, Go. 2 Evapotranspiração (g/cm ) Xylopia aromatica Aberto 0.014 0.012 0.01 0.008 0.006 0.004 0.002 0 08:00 Fechado 10:00 12:00 14:00 16:00 18:00 Horas Figura 2: Evapotranspiração de X. aromatica em área aberta e fechada de cerrado s.s. no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go. 105 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Ambiente fechado Evapotrasnpiração (g/cm2) Caryocar brasiliense 0.0035 Xylopia aromatica 0.003 0.0025 0.002 0.0015 0.001 0.0005 0 08:00 10:00 12:00 14:00 16:00 18:00 Horas Figura 3: Evapotranspiração de C. brasiliense e X. aromatica em ambiente fechado de cerrado s.s. no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go Evapotrasnpiração (g/cm2) Ambiente aberto 0.014 Caryocar brasiliense Xylopia aromatica 0.012 0.01 0.008 0.006 0.004 0.002 0 08:00 10:00 12:00 14:00 16:00 18:00 Horas Figura 4: Evapotranspiração de C. brasiliense e X. aromatica em ambiente aberto de cerrado s.s. no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Go 106 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 1.7 COMPARAÇÃO DA INFESTAÇÃO DE LORANTHACEAE ENTRE ESPÉCIES ZOOCÓRICAS E ANEMOCÓRICAS EM ÁREAS DE CERRADO Rafael Arruda, Claudia C. F. Toledo & Glein Araujo INTRODUÇÃO As espécies da família Loranthaceae, conhecidas como ervas-depassarinho, são em maioria hemiparasitas que ocorrem em ambientes tropicais (Venturelli 1981, Abulfatih & Emara 1988). Elas possuem frutos carnosos que atraem pássaros, onde uma substância pegajosa o adere ao bico do animal, que ao tentar removê-lo, permite a aderência da semente na planta. Quando as sementes se aderem nos ramos das plantas hospedeiras, elas emitem haustórios que se inserem no seu xilema, de onde retiram água e sais minerais para seu processo de fotossíntese. Por isto são consideradas hemiparasitas, pois retiram apenas uma parte do que a planta hospedeira absorve. Pelo fato da família possuir como modo principal de dispersão a ornitocoria, esperamos que hospedeiros com o mesmo tipo de dispersão sejam mais infectados por espécies de Loranthaceae. Para tentar corroborar esta hipótese, o objetivo deste trabalho foi quantificar a presença de Loranthaceae em plantas com modos de dispersão distintos. inclusão, foram registrados indivíduos com altura igual ou superior à 2 m, sendo a altura estimada com o auxilio de uma vara graduada. As plantas foram identificadas no campo e posteriormente classificadas quanto ao tipo de dispersão de sementes. Anotou-se a presença ou ausência e o número de hemiparasitas em cada planta. Para analise estatística foi utilizado o teste do Qui-Quadrado (Biostat – Programa para computador). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registradas 23 espécies distribuídas em 21 gêneros, sendo Kielmeyera coriacea, Pouteria torta e Pouteria ramiflora as espécies mais infestadas (Tabela 1). A comparação dos números de plantas com e sem parasitas com tipo de dispersão zoocórica com as de dispersão anemocórica, não foi significativa (X2 = 1.256; p=0,2623; GL = 1). Isto indica que as plantas que possuem o tipo de dispersão zoocórico não necessariamente são mais infestadas por Loranthaceae, e isso pode sugerir que elas estejam usando outras espécies, não as que estão sendo utilizadas para forrageamento, como poleiro. Os parasitas podem causar profundas alterações em seus hospedeiros (Ricklefs 1990), plantas hospedeiras podem responder ao ataque de parasitas, isolando tecidos ou produzindo compostos secundários (Crawley 1986), e isto pode explicar a falta de relação entre a presença de Loranthaceae e a ocorrência de espécies zoocóricas. MATERIAIS E MÉTODOS O local de estudo foi uma área de cerrado (sentido restrito ) não queimado do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (17°46’43’’S, 48°39’32,3’’W), que possui aproximadamente 1000 m, situado próximo à cidade de Caldas Novas. Foram feitos 12 transectos de 50 m de comprimento por 4 m de largura cada, distantes 20 m entre si, num total de 2400 m2 de área amostrada. Como critério de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 107 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia RICKLEFS, R.E. 1990. Ecology. W.H. 3rd. Freeman and Company, New York. VENTURELLI, M. 1981. Estudos sobre Struthanthus vulgaris Mart.: anatomia do fruto e semente e aspectos de germinação, crescimento e desenvolvimento. Rev. Brasil. Bot. 4: 131-147. ABULFATIH, H.A. & EMARA, H.A. 1988. Altitudinal distribution of the hemiparasitic Loranthaceae in Southwestern Saudi Arabia, Biotropica 20: 1. CRAWLEY, M. 1986. Plant Ecology. Blackwell, Oxford. 108 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Tabela 1 – Número total de espécies registradas no PESCAN, seus modos de dispersão e infestação de Loranhaceae, Caldas Novas, GO. Espécies Modo de dispersão Número de indivíduos Com parasitas Sem parasitas Total Zoocórica - 2 2 Aspidosperma tomentosum Anemocórica - 5 5 Byrsonima coccolobifolia Zoocórica - 1 1 Connarus suberosus Zoocórica - 1 1 Dalbergia miscolobium Anemocórica 2 - 2 Eremanthus glomerulatus Anemocórica - 18 18 Erythroxylum suberosum Zoocórica - 1 1 Hymenaea stignocarpa Zoocórica 3 2 5 Kielmeyera coriaceae Anemocórica 5 8 13 Kielmeyera speciosa Anemocórica 2 1 3 Zoocórica - 2 2 Machaerium opacum Anemocórica 1 - 1 Matayba guianensis Zoocórica - 1 1 Miconia rubiginosa Zoocórica - 1 1 Myrcia sp. Zoocórica - 1 1 Ouratea hexasperma Zoocórica - 5 5 Anemocórica 1 2 3 Pouteria ramiflora Zoocórica 4 1 5 Pouteria torta Zoocórica 5 3 8 Psidium sp. Zoocórica - 1 1 1 1 Annona crassiflora Licania humilis Piptocarpha rotundifolium Qualea grandiflora Anemocórica Styrax ferrugineus Zoocórica 1 1 2 Anemocórica - 1 1 24 59 83 Tabebuia aurea 109 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 2.1 COMPARAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO ENTRE INSETOS GALHADORES E MINADORES EM UMA ÁREA DE CERRADO S.S. E UMA ÁREA DE MATA DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS – GO Claudia Cássia Flores de Toledo & Marcelle Sabrina Carneiro Rodrigues INTRODUÇÃO Os parasitas podem causar alterações fisiológicas e comportamentais profundas em seus hospedeiros, e estes, podem responder aos parasitas ao longo de seu ciclo de vida, através de mecanismos imunológicos e comportamentais (Ricklefs, 1990). De acordo com Crawley (1986), plantas hospedeiras podem responder ao ataque de parasitas, através do isolamento dos tecidos infectados ou da produção de compostos secundários no local parasitado. Galhas são estruturas onde as larvas de insetos se desenvolvem. Nestas estruturas, seja na folha ou no caule, ocorre hiperplasia ou hipertrofia, originando um tipo de câncer prejudicial ao crescimento e à reprodução da planta (Oliveira-Filho et al, 1998). Insetos minadores são indivíduos que similarmente aos galhadores depositam suas larvas nas folhas, e estas comem o tecido paliçadico, formando “trilhas” ou “túneis” na lâmina foliar (Pinto et al.,1996). Os padrões de distribuição de galhas de insetos indicam maior riqueza de espécies em formações vegetais de ambientes xéricos, onde se encontram menores taxas de mortalidade induzida por inimigos naturais (Oliveira-Filho et al,1998). Em vista disso, o objetivo deste trabalho foi comparar a presença de insetos galhadores e minadores em uma área de cerrado s.s. e outra de mata. Caldas Novas (PESCAN) – GO em duas áreas distintas. A primeira uma área de cerrado s.s., ambiente xérico e a outra uma área de mata, ambiente mésico. Foram realizados 3 transectos de 50 m em cada área, com distribuição aleatória. Em cada transecto foram observados todos os indivíduos com mais de 1 m de altura, e foram anotadas as presenças de galhas e minadores na superfície da folha. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo foi realizado dia 23 de setembro, no Parque Estadual da Serra de OLIVEIRA-FILHO, F.J. B.,CASTILHO, C. V., TUCKER, J., GONZAGA, M. O. & PACHECO, S. Distribuição de plantas RESULTADOS E DISCUSSÃO O número total de indivíduos coletados se encontra na figura 1. Pelo teste t, foi verificado que não houve diferença significativa entre o número de galhas encontradas no cerrado e na mata (p=0,068), e pelo teste de MannWhitney também foi verificado que para minas não houve diferença significativa (p=0,1) (Tab. 1). Estes resultados indicam que insetos galhadores e minadores estão presentes tanto no ambiente xérico, quanto no mésico, não havendo uma preferência por este ou aquele ambiente, mesmo o ambiente xérico possuindo limitações hidronutricionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CRAWLEY, M. 1986. Plant Ecology. Blackwell, Oxford 110 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia infestadas por galhas ao longo do gradiente campina-campinarana. Ecologia da Floresta Amazônica, 1998. págs. 61-62. galhadores e minadores entre hábitat. Ecologia no Cerrado – UNB, págs 2-3. RICKLEFS, R. E. 1996. A Economia da Natureza. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. PINTO, F. S., MIRANDA, G. H. B. & ANDRADE, S. M. A., 1998. Distribuição diferencial de insetos Tabela 1. Resultados das análises estatísticas. AMBIENTES GALHAS MINAS CERRADO 5,33 ± 1,53 (a) 0,33 ± 0,53 (A) MATA 15,33 ± 6,81 (a) 6,33 ± 5,13 (A) P = 0,1 P = 0,068 (a) – Comparação por Teste-t, com resultado não significativo. Número de Indivíduos (A) – Comparação por Mann-Whitey, com resultado não significativo. 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 C errado M ata G alhas M inas Figura 1. Número de indivíduos encontrados nos dois ambientes 111 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I2.2 INFLUÊNCIA DO PORTE ARBÓREO SOBRE O ESTABELECIMENTO DE CUPINZEIROS (CONSTRICTOTERMES CYPHERGASTER – ISOPTERA, TERMITIDAE) Claudio Muniz & Helder Consolaro INTRODUÇÃO Os cupins são insetos da ordem Isoptera, com 2.225 espécies representadas em 7 famílias e 73 gêneros, sendo que, aproximadamente 500 espécies ocorrem nas Américas (FONTES, 1979; MILL, 1983). Esse grupo de insetos vivem em sociedades ou colônias altamente organizadas e integradas, que se diferenciam em várias morfologias ou castas, cada uma apresentando sua própria divisão de trabalho e diferente função biológica (INOUE et al., 1997). Sendo, também, considerado um importante indicador da qualidade ambiental, tendo em vista a sua fácil categorização em grupos funcionais e o seu curto tempo de resposta à pertubação antrópica. Constrictotermes cyphergaster é uma espécie que constrói ninhos arbóreos e pode ser encontrada em grande número cobrindo extensas áreas de cerrado no Brasil, sendo especialmente abundantes em árvores deste bioma (ARAÚJO, 1970). Para o entendimento da dinâmica biológica dos cupins e do ambiente, é necessário compreender as complexas relações ecológicas que envolvem esses animais com o meio (WATT et al., 1997). Neste trabalho, foram estudados ninhos de Constrictotermes cyphergaster em ambiente de cerrado sensu strictu, procurando-se responder às seguintes questões: (a) Os cupinzeiros localizam-se com maior freqüência em algumas espécies vegetais do que outras ? (b) O porte da planta interfere na circunferência do cupinzeiro e na altura em que se localiza na mesma ? MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido em uma área de cerrado sensu strictu, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás, localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente. Foram analisados 30 cupinzeiros arborícolas, sendo medidas as alturas de cada ninho ao solo (AS) e a circunferência (CC). Nas árvores em que tais ninhos estavam localizados, foram medidas a altura (AA) e a circunferência à altura do peito (CAP) das mesmas. Nos casos em que os ninhos se localizavam na altura padrão da CAP (1,30 m), a medida da circunferência da árvore era feita logo abaixo do ninho. Para as árvores que não foram identificadas no campo, foi coletado material botânico das mesmas para posterior identificação. RESULTADOS E DISCUSSÃO As espécies arbóreas nas quais os cupinzeiros ocorreram com maiores frequências foram: Bowdichia virgiloides, Dalbergia miscolobium, Tabebuia aurea e Annona crassiflora, verificando-se também que tais espécies foram as que apresentaram maiores volumes médios (Fig. 1). Isto indica que existe certa relação entre as espécies vegetais e seus volumes médios com a ocorrência dos ninhos de Constrictotermes. Dentre os indivíduos arbóreos houve uma espécie não identificada, devido a falta de características possíveis para identificação (ausência de folhas, flores, botões). Este indivíduo apresentou um alto volume médio e baixa frequência relativa, 112 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia podendo assim, sugerir que tal indivíduo poderia pertencer a uma das espécies de maior frequência (Fig. 1). Dentre as variáveis analisadas (AA, CAP, AS e CC) observou-se moderada correlação entre CAP e CC (R=0,46; Fig. 2), e entre AA e CC (R=0,34; Fig 3). Tais resultados sugerem que o maior porte das árvores favorece o maior tamanho dos ninhos. Uma vez que as espécies vegetais mais freqüentes apresentaram maior volume médio, esses resultados podem ser uma comprovação de que o aumento do porte arbóreo interfere no maior porte do ninho. As espécies mais freqüentes também apresentavam o tronco rugoso, podendo ser outro indicativo de que tal característica possibilita a melhor fixação dos ninhos. Foi encontrada, também, uma CAP mínima de 25 cm das árvores com ninhos, evidenciando que o maior porte arbóreo favorece o aumento de tamanho dos ninhos e o seu estabelecimento. Entre AA e AS, CAP e AS não foi detectada correlação significativa (Figs. 4 e 5), mostrando que a altura em que os ninhos se encontram nas árvores independe do porte arbóreo. Porém, foi encontrada uma altura mínima de estabelecimento dos ninhos nos troncos (Fig. 5), indicando, possivelmente, que os cupinzeiros são construídos de forma a dificultar o acesso de predadores. A maior incidência de cupinzeiros em algumas espécies parece estar mais correlacionada com o maior porte destas, e, também, com a maior rugosidade característica de seus troncos. O suporte oferecido pelas árvores desse tipo parece ser o caráter mais importante que definirá o sucesso de sobrevivência dos ninhos. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, A. L. 1970. Termites of neotropical region. In: Krishna, K. & Weesner, F. M. (Ed.). Biology of Termites. New York: Academic Press, Inc. pp. 527-571. FONTES, L. R. 1979. Os cupins. Ciência e Cultura. 31(9): 986-992. INOUE, T.; TABOSA, W. A. F.; BANDEIRA, A. G. & AMELUNG, W. 1999. Richness of termite genera in semi-arid region (Sertão) in NE Brazil (Isoptera). Sociobiology. 33(3): 357-365. MILL, A. E. 1983. Generic keys to the soldiers caste of New World Termitidae (Isoptera: Insecta). Sistematic Entomology. 8: 179-190. WATT, A., STORK, N. E., EGGLETON, P., SRIVASTANA, D., BOLTON, B., LARSEN, T. B., BRENDEL, M. J. D. 1997. Impact of forest loss and regeneration on insect abundance and diversity. pp. 273-286 in WATT, A. D., STORK, N. E. O. & HUNTER, M. D. O. eds. Forests and insects. Chapman & Hall, London, U. K. 113 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia 35.00 18.00 16.00 30.00 14.00 25.00 12.00 FR (% ) 10.00 20.00 8.00 15.00 3 V M (m ) vo lu m e (m 3 ) fre q ü ê n cia re lativa (% ) 6.00 10.00 4.00 5.00 2.00 h ia rg ia d ic w lb e Da Bo 0.00 v ir g il o id es mi sc o lo Ta b e b iu m bu An ia au no re na a cr as s iflo As Ae r p id g ip a os hy pe la rm sp a to me nt Po osa ut er ia Er to yt rta hr ox Ky y lu e lm m e ie sp ra co ria L ic ce a an Ou ia ra hu te mi a he lis xa sp Po er ut ma er ia ra mi sp flo in d ra et St er St ric mi ry h no na ph ps da no eu de do nd qu ro n in a ad st rin ge ns 0.00 Figura 1. Freqüência relativa (FR) e volume médio (VM) das espécies arbóreas nas quais se encontravam os cupinzeiros, no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás. 114 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia R = 0.46 circunferência do cupinzeiro (cm) 160 140 120 100 80 60 40 20 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 circunferência da planta (cm) Figura 2. Relação entre a circunferência das plantas e dos cupinzeiros analisados no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás. R = 0.34 circunferência docupinzeiro (cm) 160 140 120 100 80 60 40 20 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 altura da planta (cm) Figura 3. Relação entre altura das plantas e circunferência dos cupinzeiros, no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás. 115 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia R = 0.017 200 altura docupinzeiro (cm ) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 circunferência da planta (cm ) Figura 4. Relação entre circunferência das plantas e dos cupinzeiros, no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás. R= 0.088 altura docupinzeiro (cm ) 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 altura da planta (cm ) Figura 5. Relação entre altura das plantas e dos cupinzeiros, no Parque Estadual de Caldas Novas, Goiás. 116 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 2.3 AZTECA E CECROPIA PACHYSTACHYA: UMA RELAÇÃO POLÊMICA? Ernestino de Souza G. Guarino & Caio Rebula INTRODUÇÃO A presença de uma colônia de formigas em uma planta e o patrulhamento das folhas e ramos em busca de presas pode diminuir o efeito da herbívora, caracterizando uma associação mutualística entre planta e formiga (Hölldobler & Wilson, 1990). O gênero Cecropia (Cecropiaceae) é composto por 70 a 80 espécies, todos eles com distribuição neotropical. Geralmente os indivíduos arbóreos desse gênero possuem crescimento rápido, sendo tipicamente encontrados em ambientes perturbados. A interação entre as espécies desse gênero e formigas do gênero Azteca (Hymenoptera, Formicidae) é bastante relatado na literatura (Joly, 1976). Essas formigas utilizam os corpúsculos müllerianos, localizados na base dos pecíolos, como fonte de lipídeos e glicogênio (Rickson, 1971 apud Silva et al. 2000). Existem fortes evidências de que essas formigas sejam defensoras efetivas dessas plantas (Santos 2000) A espécie estudada, Cecreopia pachystachya é conhecida popularmente como embaúba, sendo comumente encontrada no Cerrado em áreas perturbadas. Os objetivos do presente estudo foram (i) testar a proteção oferecida por formigas do gênero Azteca a herbívora de folhas de Cecropia pachystachya e (ii) verificar a relação entre o estagio de desenvolvimento dos indivíduos de embaúba e o tamanho das colônias de Azteca. Desenvolvemos o presente estudo em uma área de cerrado sensu stricto localizado no Parque Estadual Serra de Caldas. Coletamos folhas e ramos de 11 indivíduos arbóreos de Cecropia pachystachya, nos quais avaliamos a herbívora em 10 folhas de cada indivíduo. As folhas foram classificadas em atacadas (dano foliar ≥ 10% da área) e não atacadas (dano foliar < 10% da área). Southwood (1978) propôs um método eficiente para a definição do número de indivíduos presentes em uma colônia de formigas. Esse seria uma função do fluxo de operarias que passa em uma trilha pré definida por unidade de tempo. Em cada indivíduo de embaúba observamos durante 10 minutos o fluxo de operarias, em um ponto marcado na entrada do ninho. Todos os indivíduos de embaúba tiveram sua circunferência a altura do peito (CAP) medidas. Os dados foram analisados com o auxilio do software Bioestat 2.0. RESULTADOS E DISCUSSÃO O fluxo de operárias variou entre 12,5 e 60 indivíduos/minuto (média = 32,2 ± 13,9), já o CAP variou entre 7,5 e 29cm (média = 17,8 ± 6,25). Observamos que existe uma relação negativa entre o tamanho da planta e o tamanho da colônia. A medida que os indivíduos de embaúba alcançam tamanhos maiores, estes tendem a abrigar colônias menores (Figura 1). Bonatto (2000) e Santos (2000) sugerem que indivíduos de C. purpurascens e C. pachystachya tem maior probabilidade de serem colonizadas por formigas quando em plantas maiores, resultados diferentes aos encontrados por nós, já que indivíduos METODOLOGIA 117 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia menores apresentaram colônias mais ativas. JOLY, A. B. (1976). Botânica Introdução a taxonomia vegetal. 3° ed. Companhia Editora Nacional, SP. Não encontramos na área estudada uma relação direta entre a herbívora em folhas de embaúba e o fluxo de operárias (rs=0,3392; p≥ 0,28 - Figura 2), contrariando o resultado apresentado por Rocha & Bergallo (1992). As colônias de Azteca parecem ser maiores em estágios inicias de desenvolvimento de C. pachystachya. Não encontramos redução da herbívora dependente da atividade de Azteca. ROCHA, C.F.D; BERGALLO, H.G. (1992). Bigger ant colonies reduce herbivory residence time on leaves of ant-plant: Azteca muelleri vs. Coelomera ruficornis on Cecropia pachystachya. Oecologia 91:249-252p. REFERÊNCIAS BILLIOGRÁFICAS SANTOS, F.A.M. (2000). Growth and leaf demography of two Cecropia species. Revista Brasileira de Botânica (23): 133141p. BONATTO, V. (2000). Colonização de Cecropia purpurascens (Cecropiaceae) por formigas na reserva Km 41, Manaus, AM. Curso de Campo INPA/SMITHSONIAN/OTS. 146 – 149p. SILVA, M.B.; NETTO, R.R.; FERNADEZ, F.M.; ROMERO, G.Q. (2000). Colonização de Cecropia pachystachya por formigas Azteca no Pantanal da Nhecolândia. Curso de Campo Ecologia do Pantanal, UFMS. 90-92p. HÖLLDOBLER, B; WILSON, E.O.(1990). The ants. Harvard University Press, USA. SOUTHWOOD, T.R.E. (1978). Ecological Methods – with special interest on insect populations. 2°ed. Royal Academic Press, London. Fluxo de operárias (ind./min.) 65 r 2 = 0.5754 55 45 35 25 15 5 5 10 15 20 25 30 CAP (cm) Figura 1. Relação entre o desenvolvimento dos indivíduos arbóreos de embaúba e a atividade de formigas, no cerrado da cascatinha, Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN). 118 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Número de folhas atacadas 8 7 6 5 4 3 2 1 0 10 20 30 40 50 Fluxo de operárias (ind./min.) Figura 2. Fluxo de operárias e folhas atacadas. 119 60 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 2.4 EFEITO DO FOGO NA DISPONIBILIDADE DE RECURSOS PARA INSETOS HERBÍVOROS Flávio Rodrigues Oliveira & Sérgio de Faria Lopes diversas maneiras (Pinto et al., 1996). Atualmente, especula-se que a ocorrência de fogo no Cerrado seja um dos fatores determinantes da vegetação, sendo apontado como importante agente modificador e mantenedor de comunidades vegetais (Coutinho, 1990 apud Santos, 1999). Consequentemente a redução de extratos vegetais implica em redução da disponibilidade de alimento para muitos insetos herbívoros (Goodland & Ferri, 1979). A ação do fogo sobre o solo depende da sua intensidade, da natureza da vegetação, do aumento da temperatura, da freqüência de queimadas e da duração do pulso de calor (Goodland & Ferri, 1979). INTRODUÇÃO O Cerrado sentido restrito caracteriza-se por apresentar árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, e geralmente com evidências de passagem de fogo. Os arbustos e subarbustos encontram-se espalhados, com algumas espécies apresentando órgãos subterrâneos perenes, os quais permitem rebrota após queimada ou corte. O Cerrado está localizado principalmente no Planalto Central do Brasil, sendo o segundo maior bioma do país em área, superado apenas pela Floresta Amazônica (Goodland & Ferri, 1979). Ocupa mais de 2.000.000 km2, o que corresponde a 23% do território brasileiro aproximadamente, ocorrendo em altitudes que variam de 300 até 1.600 metros. Os herbívoros de um modo geral são animais pastadores, comedores de brotos, insetos fitófagos, sugadores como percevejos, animais granívoros, frugívoros, e há aqueles que se alimentam de raízes, flores (Crawley, 1983). Algumas vezes a herbivoria pode levar à morte da planta hospedeira e sua virtual extinção (Bennet & Hughes, 1959). Alimentar-se de plantas não é uma estratégia comum, isso sugere que há problemas no uso de espécies vegetais como alimento (Edwards & Wratten, 1981). Os grupos de invertebrados que tiveram sucesso na exploração desta fonte alimentar são os mais diversificados, como os orthópteros por exemplo, sugerindo que são necessárias especializações para usar tecido vegetal como alimento (Edwards & Wratten, 1981). O fogo ocorre comumente no Cerrado, seja por causa natural ou antrópica, afeta sua fauna e flora de METODOLOGIA O experimento foi conduzido em duas áreas, queimada e outra não queimada, de cerrado, localizadas no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, PESCAN, GO. O experimento foi realizado no dia 24 de setembro de 2002, no período de 07:00 hs – 11:00 hs. A área queimada apresentava solo exposto com rebrotamento de gramíneas. Na área não queimada, além de vegetação arbustiva de cerrado, havia predomínio de gramíneas. Em ambas a as áreas observamos o afloramento rochoso. Em cada ambiente inserimos cinco transectos de 25 metros, distantes cinco metros da trilha, sendo pareados em três e dois, em distâncias de cinco metros (Figura 1). Para cada transecto foram postos cinco folhas de papel colorido (141 cm2) seqüências em: branco, azul, verde, rosa e amarelo, dispostos a cinco metros um do outro. Em virtude de condições climáticas desfavoráveis (chuva constante) no dia do 120 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia atividade de forrageamento dos herbívoros de ambas as áreas cessou devido a essas condições. experimento (24 de setembro de 2002), utilizamos dados já obtidos em um experimento anterior (20 de setembro de 2002), oriundo de observações empíricas que deram origem ao experimento original. No dia 20 de setembro de 2002, utilizamos as folhas de papel postos em duas áreas de Cerrado, uma queimada e outra não queimada, as quais continham iscas para estudo com formigas, e notamos marcas de herbivoria decorrentes de morfoespécies de orthópteras Em cada ambiente foram inseridos quatro transectos de 60 metros, distantes 10 metros da trilha, com seis folhas brancas cada. Estas com área conhecida (73,5 cm2), foram dispostas ao longo dos transectos com espaçamento de cinco metros um do outro. Após 24 horas as folhas foram recolhidas e levadas ao laboratório para o cálculo da área herbivorada. Para este cálculo foi utilizado um medidor de área foliar (area meter – CID 205), e o programa Excel. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Prof. Dr. John Hay pelas dicas no experimento final bem como no sorteio das cores. A Marcela Yamamoto pelas observações pessoais e a Cláudio Franco Muniz pela essencial ajuda nas análises estatísticas neste experimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENNET, F. D., HUGHES, I. W. 1959. Biological control of insects pests in Bermuda. Bull. of Entomol. Res., v. 50, p. 423 436. COUTINHO, L. M. 1990. Fire in the ecology of the Brazilian cerrado. In: Fire in the Tropical Biota. J. G. Goldammer (ed.). Springer-Verlang, Berlin. apud SANTOS, J. C. C. 1999. Influência do fogo na riqueza de insetos em Paratudal, Pantanal do Miranda Abobral, Mato Grosso do Sul. Ecologia de Campo – Pantanal, p. 127 – 129. RESULTADOS E DISCUSSÃO Embora a média de herbivoria da área queimada ter sido superior a área não queimada (Tabela 1), não houve diferença significativa entre ambas (P > 0.05, Z = 0.1191). Isso talvez se deva ao alto valor do desvio padrão da área queimada. Em observações empíricas no dia 20 de setembro de 2002, constatamos uma alta atividade forrageira pelos orthopteras na área queimada. A disponibilidade de recursos alimentares em áreas que sofreram passagem de fogo é muito restrita ou quase nula. A oferta de alimento posta em ambas as áreas foram às mesmas, porém no ambiente queimado era, além dos brotos vegetativos, o único recurso e de fácil visualização quando comparado com o ambiente normal. A repetição do experimento no dia 24 de setembro de 2002, o qual não obtivemos resultados satisfatórios decorrentes das condições climáticas descritas anteriormente, nos evidencia que a CRAWLEY, M. J. 1983. Herbivory: the dinamics of animal-plant interactions. Blackwell Scientific Publications, Oxford. EDWARDS, P. J., WRATTEN, S. D. 1981. Ecologia das interações entre plantas e insetos. São Paulo: EPV. (Coleção Temas de Biologia, v. 27). GOODLAND, R., FERRI, M. G. 1979. Ecologia do Cerrado. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 196 p. (Reconquista do Brasil, v. 52). PINTO, F. S., MIRANDA, G. H. B., ANDRADE, S. M. A. 1996. Efeito do fogo na arquitetura de espécies lenhosas do cerrado. Curso “Métodos de Campo em Ecologia” – Brasília. p. 20 – 21. 121 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Amarelo Rosa Verde Azul Branco ÁREA QUEIMADA 5m BASE 5m 5m 5m ÁREA NÃO QUEIMADA PAREDÃO Figura 1. Croqui do desenho experimental usado. Tabela 1. Valores médios de herbivoria de folhas sulfite em duas áreas de Cerrado do Parque Estadual Serra de Caldas, GO. PARÂMETROS ÁREA QUEIMADA ÁREA NÃO QUEIMADA MÉDIA 30.60 ± 16.97 Para ambas áreas, Coeficiente de Variação e Teste-t P>0.05. 122 23.03 ± 12.18 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 2.5 LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DA FAMÍLIA GRAMINEAE EM ÁREA DE CERRADO SENSU STRICTO E ÁREA DE MATA Marcela Yamamoto e Otacílio Santana stricto e outra de mata (Cascatinha) no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. Para fazer o levantamento das gramíneas utilizamos um quadrado de PVC de 1m2 e registrávamos a quantidade das espécies presentes. Foram amostrados 20 quadrantes em cada área. Registramos também a cobertura de dossel com um densiômetro, a 1,5 metros do solo. Na mata coletamos os dados apenas em área com clareiras. INTRODUÇÃO A Família Gramineae é uma das maiores famílias dentro das Angiospermas, e provavelmente a de maior importância econômica para o homem, como por exemplo: na indústria têxtil, cervejaria, alimentação e pastagem. Há cerca de 700 gêneros na família com aproximadamente 8000 espécies reconhecidas (Joly, 1976). Os representantes desta família encontram-se espalhados por todo mundo. Existem associações características formadas essencialmente por gramíneas ocupando vastas extensões de terra em todos os grandes continentes, recebendo designações especiais, tais como: pampas e campos na América do Sul, “prairie” na América do Norte, savannas e veldt na África, estepes na Europa e Ásia (Joly, 1976). No cerrado, uma camada de grande importância é o estrato herbáceo por sua grande extensão, contribuindo bastante com a produtividade primária nesta fisionomia. Por possuírem árvores relativamente pequenas, e espaçadas, a cobertura de dossel é muito baixa ou zero na maioria das áreas desta fisionomia. O principal fator limitante das gramíneas é a luz, em clareiras ou lugares de fácil acesso a luz, elas são dominantes. O objetivo principal do estudo foi fazer um levantamento dos gêneros da Família Gramineae que ocorrem em áreas de Cerrado sensu stricto e em Mata. RESULTADO E DISCUSSÃO Ocorreram 5 gêneros de gramíneas na área de cerrado e apenas dois na área de mata. Melinis foi o único gênero que ocorreu em ambas às áreas (Figura 1 e 2, Tabela 1 e 2). No cerrado o gênero dominante foi a Echinolaena com número médio de 17 indivíduos por metro quadrado, seguido de Melinis com 12. A espécie dominante, Echinolaena inflexa, é C3 (Klink & Joly,1989) classificada como indiferente ao fogo e como uma estrategista k por Rosa (1990) por apresentar altos valores de biomassa aérea e baixa taxa de crescimento relativo. Na área de mata, nos locais com cobertura de dossel fechada as gramíneas não apareceram. A cobertura de dossel e a presença de gramíneas é inversamente significativa (t= 4,0678, p= 0,0005). Nas clareiras elas foram observadas, mas com um número de indivíduos bastante reduzido (Tabela 2). Segundo Tremmel & Bazzaz (1995) plantas frequentemente respondem a variabilidade local na disponibilidade de METODOLOGIA: O estudo foi realizado no período da manhã, em uma área de Cerrado sensu 123 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia recursos com mudança na arquitetura para maximizar sua habilidade de garantir recursos. Foi notado que com a diminuição da cobertura e aumento da luminosidade o número de indivíduos da família Gramineae aumentaram (Figura 3), mostrando a influência da luz para o estabelecimento das mesmas. KLINK, C. A. & JOLY, A.1989. Identification and distribution of C3 and C4 grasses in open and shaded habitats in São Paulo state, Brazil. Biotropica 21: 30-34. ROSA, C. M. M.1990. Recuperação pósfogo do estrato rasteiro de um campo sujo de cerrado. Tese de mestrado. Universidade de Brasília. 162p. BIBLIOGRAFIA: TREMMEL, D. C. & BAZZAZ, F. A. 1995. Plant architecture and allocation in different neighborhoods: implications for competitive success. Ecology 76: 262271. JOLY, A. B. 1976. Botânica – Introdução a taxonomia Vegetal. 3ed. Companhia Editora Nacional, São Paulo. 777p. Tabela 1: Número da amostra, gênero, quantidade de indivíduos e cobertura de dossel em área de cerrado no Pescan Cerrado Amostra Espécie Quantidade Cobertura (%) 1 Echinolaena 51 4 2 Echinolaena 55 4 Imperata 1 4 Paspalum 3 4 Imperata 2 4 3 4 Echinolaena 4 5 6 Imperata 4 4 Melinis 4 4 Paspalum 2 4 Echinolaena 1 4 Panicum 3 4 Paspalum 6 4 Imperata 1 4 Paspalum 9 4 Panicum 2 4 Echinolaena 7 4 124 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 7 Projetos de 1 Dia Paspalum 7 4 Panicum 1 4 Echinolaena 2 4 Echinolaena 4 4 Paspalum 3 4 Imperata 1 4 Paspalum 7 4 Echinolaena 8 4 Imperata 2 4 10 Echinolaena 32 4 11 Echinolaena 9 4 Paspalum 1 4 12 Melinis 4 4 13 Melinis 6 4 Echinolaena 9 4 Imperata 1 4 Melinis 3 4 Paspalum 2 4 Melinis 32 4 Echinolaena 7 4 Melinis 10 4 Paspalum 2 4 Imperata 1 4 Melinis 16 4 Echinolaena 3 4 Melinis 12 4 Paspalum 3 4 19 Melinis 12 4 20 Melinis 20 4 8 9 14 15 16 17 18 125 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Tabela 2: Número da amostra, gênero, quantidade de indivíduos e cobertura de dossel em área de mata no Pescan Mata Amostra Espécie Quantidade Cobertura (%) 1 Melinis 1 30 2 Melinis 3 30 3 Melinis 1 30 4 0 0 38 5 0 0 38 6 Indet 1 2 38 7 0 0 12 8 Melinis 1 12 9 0 0 58 10 0 0 58 11 Indet 1 2 58 12 0 0 15 13 Indet 1 11 15 Melinis 2 15 14 0 0 12 15 0 0 12 16 0 0 12 17 Indet 1 2 12 18 Melinis 8 12 19 Melinis 1 27 Indet 1 1 27 Melinis 7 27 20 126 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Número de indivíduos 250 200 150 100 50 0 Echinolena Melinis Paspalum Imperata Panicum Figura 1: Distribuição dos gêneros da Família Gramineae no Cerrado sensu stricto do PESCAN. Número de Indivíduos 250 200 150 100 50 0 Melinis Indet Quadrantes sem indivíduos Figura 2: Distribuição dos gêneros da Família Gramineae em área de mata no Pescan. 127 Média de indivíduos por 1m2 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia 5 4.5 4 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 2 R = 0.3412 0 20 40 60 80 Cobertura (%) Figura 3: Número médio de indivíduos de gramíneas em relação a cobertura de dossel na mata. 128 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I. 2.6 RELAÇÃO MUTUALÍSTICA ENTRE UMA ESPÉCIE DE BROMÉLIA E BEIJA-FLORES Patricia Rodin & Carlos H. G.Angeluci INTRODUÇÃO A polinização cruzada envolve a transferência de pólen da antera de uma flor para o estigma de outra flor. Quando o agente polinizador é um animal, a polinização passa a ser uma interação mutualística entre ele e a planta. A evolução de flores especializadas na atração de determinado agente (s) polinizador (es) ocorre amplamente na natureza, pois a fecundação cruzada dentro de uma mesma espécie é fortemente favorecida pela seleção natural (Begon et al. 1990). As plantas, em sua maioria, oferecem néctar ou pólen como recompensa (Begon et al. 1990) aos polinizadores. A produção de néctar representa um elevado custo energético para as plantas, que, no entanto, pode ser compensado pela realização da polinização cruzada. Os beijaflores, importantes polinizadores em ambientes tropicais (Araujo, 2001), possuem uma dieta constituída basicamente por néctar, que é composto principalmente por sacarose (Baker & Baker, 1980 apud Araujo, 2001). Estas aves apresentam diversos padrões de forrageamento, como territorialista e trap-line. Estes padrões, por sua vez, têm influência direta na polinização cruzada das planta, por exemplo, quando eles são territorialistas a polinização cruzada fica restrita a flores de um mesmo indivíduo, diminuindo a variabilidade genética da população desta planta. No cerrado, existe uma grande quantidade de espécies que produzem néctar como recompensa floral para os polinizadores (Silberbauer-Gottsberger & Gottsberger, 1988), entre elas a espécie de bromélia, que é polinizada por beija-flores. O objetivo do estudo foi: i) quantificar a recompensa calórica por unidade de área de uma espécie de bromélia para os beija-flores, e determinar se ela é suficiente para suprir as necessidades energéticas diárias destes animais; ii) estudar o comportamento destes polinizadores em relação ao recurso oferecido pela bromélia. METODOLOGIA O estudo foi realizado no fim de setembro de 2002, na transição da estação seca para a chuvosa, no Parque Nacional de Serra de Caldas Novas, Goiás, numa área de cerrado s.s. queimada duas semanas anteriores a coleta de dados. O estudo foi realizado num dia nublado e chuvoso. Foi amostrada uma área de 250 m de comprimento por 80 m de largura, onde todos os indivíduos de bromélia com presença de flores abertas foram demarcados no GPS. Nestes indivíduos, foi contado o número de flores abertas, medido o volume de néctar produzido por flor e a concentração de sacarose do néctar com auxílio de um refratômetro. As médias de volume e concentração do néctar foram utilizadas para estimar a recompensa de calorias por flor. O cálculo de calorias foi realizado utilizando a tabela de conversão de Kearns e Inouye (1993 apud Oliveira, 1998), onde: % de açúcar (g açúcar/ g solução) = g açúcar/ l néctar, e para transformar mg de açúcar em calorias foi usada a relação apresentada por Dafni (1992 apud Oliveira, 1998) : 1 mg de açúcar = 4 calorias. Estes valores foram multiplicados pelo número de flores abertas em cada indivíduo, e a partir deste valor foi 129 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia determinada a oferta de calorias diária por hectare. Foram observados os atributos morfológicos da flor da espécie estudada ligados à polinização por Beija-flores e foi estudado o comportamento dos visitantes florais a partir da observação visual realizada por uma hora, entre 10:00 e 11:00 da manhã. sendo esta, uma estratégia que otimiza o número de flores visitadas por polinizador (Feisinger 1983 apud Oliveira, 1998). Além disto, os indivíduos desta espécie apresentam um padrão de abertura de flores assincrônica e contínua (observação de campo), havendo, assim oferta de recurso para os beija-flores por um longo período de tempo. Este padrão fenológico também atua como uma estratégia de otimizar à polinização, pois a oferta de recurso por longos períodos aumenta a chance do agente polinizador se tornar mais especializado na planta, o que, por sua vez, aumenta a polinização cruzada da mesma (Begon et al. 1990). Outra estratégia de otimização da polinização da planta estudada, é a floração na época seca, pois a maior parte das espécies polinizadas por beija-flores no Cerrado floresce na época chuvosa (Oliveira, 1998). Desta forma, ela não compete por polinizadores com outras espécies, havendo aumento da visita de suas flores. Talvez, a ausência desta competição tenha favorecido a seleção de flores com baixa produção de néctar nesta espécie. A bromélia apresenta uma oferta energética de 0.3 Kcal / ha. Este valor é muito inferior ao total necessário para suportar um indivíduo de beija-flor, representando apenas 3,8% de sua necessidade diária (Carpenter, 1983 apud Oliveira, 2001). Portanto, para que um indivíduo encontre o valor energético necessário, ele precisaria percorrer um total de 27 hectares, considerando que o único recurso disponível da área seja oferecido pela espécie de planta.estudada. No entanto, o clima nublado e chuvoso acarreta numa menor produção de néctar pelas flores de bromélia (P.E. Oliveira, comunicação pessoal), o que, provavelmente, interferiu nos resultados encontrados. Quanto ao comportamento dos polinizadores, apenas foi observado o de Eupetomena macroura, que se apresentou como um polinizador do tipo trap-liner. Este comportamento, provavelmente, ocorre pelo fato das plantas oferecerem RESULTADOS Foram encontrados 9 indivíduos de bromélia. em floração. Estes indivíduos apresentaram de 2-22 flores abertas. O volume de néctar produzido por flor foi cerca de 10 µl com concentração de sacarose variando entre 15-22% e média de 17 % por flor. As flores da bromélia estudada apresentam características morfológicas ligadas à polinização por beija-flores, como inflorescência com flores agrupadas no ápice, corola tubulosa e de pequena abertura, nectário, localizado próximo ao ovário, distando cerca de 3 cm de comprimento do ápice da corola, ausência de perfume e pétalas de coloração rosa. Foi observada apenas uma espécie de beija-flor, Eupetonema macroura, consumindo néctar, e provavelmente, polinizando a bromélia. Ele apresentou um comportamento de forrageamento do tipo trap-line (linha de coleta), utilizando algumas flores de um indivíduo, o abandonando posteriormente. DISCUSSÃO Algumas espécies apresentam flores capazes de selecionar os animais visitantes (Stiles, 1981 apud Oliveira,1998). A bromélia estudada parece selecionar a visita de beija-flores, pois elas apresentam uma coloração que facilita a sua localização por estes polinizadores. Além disto, ela apresenta um nectário profundo dentro de um flor tubulosa, o que dificulta a polinização por outros agentes, como insetos. A espécie estudada oferece uma pequena quantidade de néctar por flor, 130 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia pouco recurso energético, o que não compensa o gasto que estes teriam para defender o território, no caso um indivíduo desta espécie. Os trap-lineres polinizam um maior número de plantas, e apresentam, assim, um custo de locomoção entre elas, que, no entanto, deve ser compensado pela quantidade de calorias adquirida nestas diversas plantas. Do ponto de vista da planta, este comportamento dos beija-flores é vantajoso, pois favorece a polinização cruzada. Desta forma, a relação mutualística estudada parece ser mais benéfica para as plantas que para as os beija-flores. ARAUJO, A.C. 2001. Flora, fenologia de floração e polinização em capões do Pantanal Sul Mato grossense. Tese de Doutorado. UNICAMP. BEGON, M., HARPER, J.L., TOWNSEND, C.R. 1990. Ecology: individuals, populations and comunities. 2 a ed. Blackwell Scientific Publication, Massachusets, USA. OLIVEIRA, G.M. 1998. Disponibilidade de recursos florais para beija-flores no cerrado de Uberlândia, MG. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Paulo Eugênio Oliveira pela sugestão do trabalho e agradável companhia no campo. Aos beija-flores por tornarem prazeroso nosso chá de cadeira. SILBERBAUER-GOTTSBERGER, I. & GOTTSBERGER, G. 1988. A polinização das plantas do cerrado. Revta. Brasil. Biol. 48: 651-663. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 131 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia I 2.7 COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE EUPETOMENA MACROURA (GMELIN) (TROCHILINAE) EM NORANTEA SP. (MARCGRAVIACEAE) Jania Cabrelli Salles & Rafael Arruda animais territoriais, em particular os territórios de alimentação das aves territorialistas (Krebs & Davies 1996). Deste modo, o objetivo do presente estudo foi analisar o comportamento de forrageamento e de defesa de território de Eupetomena macroura (Gmelin) em Norantea sp. (Marcgraviaceae) em uma área de cerrado. INTRODUÇÃO As Angiospermas parecem ter evoluído numa estreita dependência em relação a diversos grupos animais para sua polinização, caracterizando certo grau de mutualismo. As especializações das plantas necessárias para garantir o sucesso deste mutualismo requerem certos custos, como a produção de néctar (Oliveira 1998). Os beija-flores são aves nectarívoras especializadas e importantes agentes polinizadores. Além de néctar, usualmente de baixa concentração de solutos e pouca viscosidade, a dieta dos beija-flores é complementada por pequenos invertebrados (Oliveira 1998). A apresentação de recursos no espaço e no tempo influencia o comportamento dos visitantes, sua permanência na área e o tamanho da população que pode sobreviver naqueles recursos. As espécies de beija-flores dentro de uma comunidade apresentam formas diferentes de utilização dos recursos. A evolução de comportamentos de forrageamento da maioria dos beija-flores é influenciada principalmente pela interação com outros beija-flores (Oliveira 1998). De forma geral, de acordo com Feinsinger & Colwell (1978 apud Araujo 2001), os beijaflores são classificados como territorialistas, parasitas de território ou trapliners. A defesa de um recurso envolve custos (gasto de energia, risco de injúria, etc.), bem como os benefícios da prioridade de acesso ao recurso. Esta idéia fez com que os estudos de campo enfocassem com mais detalhes o balanço temporal dos METODOLOGIA O estudo foi realizado no mês de setembro, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO), numa área de cerrado (sentido restrito), com características de solo raso, pedregoso. Por um período de quatro horas (7:00 – 11:00 hs), foram registrados os tempos de realização dos comportamentos de forrageamento e defesa do território exibidos por um indivíduo de E. macroura em um exemplar de Norantea sp. Esta planta apresenta grandes inflorescências do tipo cacho. Os atos comportamentais de defesa foram divididos em alerta (vigilância da mancha de recurso) e exclusão dos competidores (outros beija-flores). Os tempos de forrageamento, alerta e exclusão de competidores foram quantificados em segundos, com utilização de cronômetro. Os valores obtidos foram posteriormente convertidos em minutos. Foram também medidos o volume, com uma seringa, e a concentração do néctar, com um refratômetro, dos nectários extraflorais de Norantea. RESULTADOS E DISCUSSÃO 132 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia O tempo total de observação foi de 240 minutos. Deste total, 49,49% (118,77 min.) foi utilizado em comportamento de alerta, 0,75% (1,8 min.) em comportamento de exclusão dos competidores, e 8,20% (19,67 min.) em tempo de forrageamento. Os 99,76 minutos restantes (41,56%), foram utilizados em atividade de repouso, principalmente ao se proteger da chuva (Tabela 1). É fato que os beija-flores gastam cerca de 75% de seu tempo empoleirados e apenas 20% em forrageio, o que pode ser explicado pelo fato de que a digestão da glicose nestes animais é lenta (Krebs & Davies 1996). Outra explicação, é que, para o caso de indivíduos territorialistas, a defesa do território também requer grande gasto de tempo para evitar a invasão de outras espécies nectarívoras. A defesa do território exibida pelo Eupetomena macroura foi demonstrada, principalmente, pelo comportamento de alerta, caracterizado pelo posicionamento do indivíduo sobre árvores circunvizinhas, em ramos mais elevados, que favoreceria a ampliação do seu campo visual. Foram observadas sete ocorrências de comportamento de exclusão de competidores, sendo que seis delas, provavelmente, se tratavam de indivíduos do gênero Chlorostilbon. O outro encontro foi registrado com um individuo da mesma espécie (Eupetomena macroura) A dificuldade de identificar estes invasores é conseqüência da rapidez com que os encontros agonísticos aconteceram. Para estimar o volume e a concentração do néctar disponível pela Norantea sp., foram realizadas duas medições, a partir das quais foram obtidas médias iguais a 48 µl e 8,25%, respectivamente. Segundo Oliveira (1998), a explicação para essa pequena produção de néctar seria a necessidade que a planta têm de manter constante visitação, forçando os animais a explorar muitas flores. A partir disso, pode-se inferir que quando os custos diários são comparados com a quantidade de néctar extra obtida com a defesa de um território e exclusão de competidores, fica evidente que as aves territoriais estariam obtendo um moderado lucro energético, dessa forma, o recurso torna-se economicamente defensável (Krebs & Davies 1996). AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Prof. Paulo E. Oliveira pela orientação e ao colega Flávio R. Oliveira pela ajuda no etograma. BIBLIOGRAFIA ARAUJO, A.C. 2001. Flora, fenologia de floração e polinização em capões do Pantanal Sul Mato grossense. Tese de Doutorado. UNICAMP. FEINSINGER, P. & COLWELL, R.K. 1978. Community organization among neotropical nectar-feeding birds. American Zoologist 18: 779 – 795. KREBS, J.R. & DAVIES N.B. 1996. Introdução à Ecologia Comportamental. Atheneu Editora. São Paulo. OLIVEIRA, G.M. 1998. Disponibilidade de recursos florais para beija-flores no cerrado de Uberlândia, MG. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília. 133 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos de 1 Dia Tabela 1 – Etograma de Eupetomena macroura (Trochilinae) TIPOS COMPORTAMENTAIS FREQÜÊNCIA (%) DEFESA ALERTA 49.49 EXCLUSÃO DE COMPETIDORES TOTAL 0.75 50.24 FORRAGEAMENTO 8.20 TOTAL 8.20 REPOUSO 41.56 TOTAL 41.56 TOTAL 100.00 134 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA Parque Estadual da Serra de Caldas Novas Projetos Finais (UnB) Set/02 135 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) FAUNA DE TÉRMITES (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS ÁREAS DE CERRADO, NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS, GO. Caio A. Rebula dados coletados em uma área limitada, sugerindo que os valores encontrados constituem um padrão geral para o cerrado. Isto pode ser considerado uma pseudoréplica (Hurlbert, 1984), já que o cerrado é um complexo mosaico caracterizado pela heterogeneidade de suas formações (Coutinho, 1978). A fitossociologia local influencia as populações de térmites ao definir a disponibilidade de alimento. Desta forma, podem ocorrer variações na fauna de térmites e em sua densidade, de acordo com a topografia e vegetação locais. (Domingos, 1983). O objetivo deste trabalho foi comparar a fauna de térmites em duas fitofisionomias, do cerrado do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas. INTRODUÇÃO O cerrado é caracterizado como um tipo de savana e constitui o segundo maior bioma no país. É formado por diferentes tipos de fitofisionomias, abrangendo de campos a florestas, sendo sua classificação definida pela densidade de árvores e cobertura vegetal (Coutinho, 1978). Cupins são insetos da ordem Isoptera, com 2.225 espécies representadas em 7 famílias e 73 gêneros, sendo que, aproximadamente 500 espécies ocorrem nas Américas (Fontes, 1979; Mill, 1983). São insetos sociais de tamanho médio que se alimentam de celulose, utilizando matéria orgânica e solo para a construção de seus ninhos, sendo geralmente mais abundantes em áreas de maior biomassa vegetal. Vivem em sociedades altamente organizadas, havendo diferenças morfológicas nos indivíduos presentes em uma colônia, constituindo diferentes castas, cada uma apresentando sua própria divisão de trabalho e diferente função biológica (Borror et al. 1989; Inoue et al., 1997). São animais de grande importância devido a sua abundância, a estrutura de seus ninhos é capaz de abrigar térmitas inquilinos e um grande número de espécies termitófilas (Araújo, 1970). Eles representam ainda, uma considerável fonte de alimento para várias espécies de animais. Tatus e tamanduás constituem seus principais predadores, havendo também a utilização dos ninhos por aves, para nidificação (Redford, 1984). Muitos dos estudos relacionados à fauna de térmites foram realizados em áreas restritas. Muitos autores generalizam os MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi desenvolvido no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), GO, em Outubro de 2002. A área total desta unidade de reserva é de aproximadamente 12.000 ha, apresentando como fitofisionomia principal formações de cerrado sensu strictu (s.s.). A coleta de dados foi feita em um local de cerrado s.s. e em um campo sujo, com altitude aproximada de 1030m. Foram definidos quatro transectos de 50m x 20m na área de campo sujo totalizando 4000m2. Outros cinco transectos com as mesmas dimensões foram definidos para a área de cerrado s.s., em um total de 5000m2. Estes foram dispostos paralelamente à estrada de acesso à área de estudo, a uma distância de 50m da estrada. 136 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) como as outras espécies de térmites presentes no ambiente. As variações na abundância de uma certa espécie em diferentes regiões também podem influenciar as dimensões dos cupinzeiros (Negret & Redford, 1982). O padrão de ocupação dos cupinzeiros sugere que alguns gêneros são mais tolerantes a inquilinos que outros (Tabela 2). Gêneros construtores podem ser freqüentemente encontrados como inquilinos, como Armitermes e Nasutitermes (Tabela 3). O índice de Morisita revelou que os gêneros com maior densidade apresentaram padrão de distribuição aleatória, já os de menores valores de densidade demonstraram distribuição uniforme (Tabela 4). Não ocorreram variações nos padrões de distribuição entre as duas fitofisionomias estudadas. Este levantamento revelou que existem grandes variações na fauna de térmitas entre diferentes regiões de cerrado. A densidade e composição da fauna diferem de outros estudos realizados em outras áreas. Possivelmente variações fitossociológicas e topográficas locais influenciam a fauna de térmitas. Dentro de cada transecto, foram amostrados todos os ninhos aéreos e terrestres de térmitas, avaliando a densidade de cada gênero. Foi utilizado o índice de Morisita (Brower et al. 1998) para definição do padrão de distribuição espacial para cada gênero encontrado. Os ninhos encontrados foram abertos, tendo soldados coletados e fixados em álcool 70%. Posteriormente estes foram identificados até o nível de gênero (Mill, 1983) com o auxílio de um estereomicroscópio. As medidas de altura e circunferência dos ninhos encontrados foram utilizadas para caracterizar o gênero construtor, de acordo com as dimensões encontradas por Negret e Redford (1982). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi encontrado um total de 93 ninhos, apresentando uma densidade estimada de 82 ninhos/ha na área de cerrado s.s. e 127 ninhos/ha na área de campo sujo. Os gêneros mais comuns foram Armitermes, Nasutitermes e Cornitermes para o cerrado sensu strictu e Armitermes, Nasutitermes e Velocitermes para o campo sujo (Tabela 1.). Foram encontrados 13 gêneros na área de campo sujo e 9 na área de cerrado s.s. Estima-se que existam pelo menos 54 espécies de térmites no cerrado (Coles, 1980). Redford (1984) encontrou uma densidade média de 323 ninhos/ha, no Parque Nacional das Emas, onde a fitofisionomia campo limpo ocupa cerca de 60% da área do parque. Nesta área, o gênero mais frequente foi Orthognatotermes, com 204,5 cupinzeiros/há. Este mesmo gênero apresenta apenas 2 cupinzeiros/ha no PESCAN (Tabela 1). Os dados demonstram que há grande variação nos valores de densidade de ninhos, quando diferentes fitofisionomias são comparadas (Tabela 1). Esta variação nos valores de densidade pode estar relacionada à preferência por um certo tipo de vegetação e talvez por um hábito alimentar, sendo a densidade também influenciada por outros fatores, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araújo, A.L. 1970. Termites of neotropical region. In: Krishna, K. & Weesner, F.M. Biology of termites.2nd edition. Academic Press, New York. 527-571. Borror, D.J.; Triplehorn, C.A.; Johnson, N.F. 1989. An introduction to the study of insects. 6th edition. Saunders College Publishing, Florida. 875p. Brower, J.E.; Zar, J.H.; von Ende, C.N. 1998. Field and laboratory methods for general ecology. 4th ed. McGraw-Hill, Boston. 273p Coles, H.R. 1980. Defensive strategies in the ecology of Neotropical termites. Ph. D. thesis, Southamptom University. 243p. Coutinho, L.M. 1978. O conceito de cerrado. Revta. Bras. Bot. 1:17-23. 137 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) Domingos, D.J. 1983. 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Biotropica 16(2): 112-119. 138 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) Tabela 1. Densidade de térmites por hectare em duas áreas de cerrado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO) e os dados encontrados por Negret & Redford (1982), para o Parque Nacional das Emas. Densidade / há Pescan Gêneros Emas Campo Sujo Cerrado S.S. Campo Sujo Cerrado S.S. Armitermes 32 23 112 116 Cavitermes 8 3 * * Constrictotermes 4 3 * * Cornitermes 16 4 12 32 Cyranotermes 4 0 * * Grigiotermes 2 0 28 24 Labiotermes 6 0 * * Nasutitermes 30 15 32 0 Orthognathotermes 2 2 0 16 Procornitermes 6 2 12 52 Spinitermes 2 2 * * Syntermes 6 0 20 0 Velocitermes 8 10 96 32 * Gêneros não avaliados por Negret & Redford (1982). Tabela 2. Ocorrência e padrão de ocupação dos cupinzeiros mais freqüentes no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO). Construtor do Apenas Construtor e Apenas ninho construtor inquilinos inquilinos Desativado Armitermes 16 5 0 1 Cornitermes 11 0 9 2 Nasutitermes 15 3 0 0 Procornitermes 2 1 0 4 Syntermes 3 1 0 0 Velocitermes 5 1 0 0 Tabela 3. Gêneros construtores mais comuns e seus inquilinos, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (GO) 139 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) Construtor Térmites inquilinos Armitermes Cavitermes, Labiotermes, Nasutitermes Cornitermes Armitermes, Cyranotermes, Nasutitermes, Cavitermes, Procornitermes Nasutitermes Armitermes, Cavitermes Procornitermes Syntermes Nasutitermes Grogiotermes, Nasutitermes Velocitermes Procornitermes Tabela 4. Padrão de distribuição (Morisita) dos gêneros encontrados. Gêneros Distribuição Armitermes Aleatória Cavitermes Agrupada Constrictotermes Uniforme Cornitermes Aleatória Cyranotermes Uniforme Grigiotermes Uniforme Labiotermes Uniforme Nasutitermes Aleatória Orthognathotermes Uniforme Procornitermes Uniforme Spinitermes Uniforme Syntermes Agrupada Velocitermes Aleatória 140 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) INFLUÊNCIA DO FOGO NA FLORAÇÃO DE GALACTIA PEDUNCULARIS (BENTH.) TAUB. (FABACEAE) EM UM CAMPO RUPESTRE NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS (GO) Ernestino de Souza Gomes Guarino INTRODUÇÃO A importância ecológica do fogo no Cerrado, como também em outras comunidades vegetais em todo mundo é um fenômeno amplamente observado. Segundo Ricklefs (1996) o fogo atua nos ecossistemas como uma força seletiva, favorecendo espécies resistentes ao fogo e também excluindo outras espécies que poderiam dominar esses ecossistemas. Eiten (1972) classifica o Cerrado como uma vegetação “afetada” pelo fogo, ou seja, a vegetação é afetada pelo fogo, mas não sofre alterações de outro tipo, neste caso a vegetação convive com uma freqüência constante de queimadas, mantendo a composição florística e também as características fisionômicas semelhantes. Vários aspectos das queimadas no bioma Cerrado vêm sendo estudados, entre eles podemos separar os estudos: (1) com foco nas alterações bióticas e (2) os com foco nas alterações abióticas resultantes da passagem do fogo. Entre estes temas, o efeito do fogo sobre a floração de espécies herbáceas, foi, e continua sendo alvo de vários estudos. Segundo Coutinho (1980), este impressionante “fenômeno” vem sendo relatado desde as primeiras viagens de naturalistas como Auguste de Saint-Hilaire, Emanuel Pohl, Albert Löfgren e Eugene Warming ao Planalto Central brasileiro. Galactia peduncularis (Benth.) Taub. (Fabaceae) é uma erva de cerrado e campo úmido, com ampla distribuição geográfica. Quando em flor, a espécie é bastante vistosa, possuindo coloração rosaescuro ao abrir, secando e tornando-se roxa. A espécie floresce entre os meses de outubro e novembro (Proença et al. 2000). O objetivo desse trabalho foi verificar a influência do fogo na floração de Galactia peduncularis em uma área de Campo rupestre no Parque da Serra de Caldas Novas, Goiás. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), no final da época seca, entre os dias 1° e 3 de Outubro de 2002. O PESCAN localiza-se entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no sudeste do Estado de Goiás (Silva et al. 2002). Em uma área de campo rupestre do PESCAN foram alocadas oito parcelas de 25x4m (0.01ha x 8 parcelas = 0.08ha), sendo quatro parcelas em uma área que havia sido queimada há aproximadamente 30 dias, e quatro parcelas em uma área não queimada. As áreas são separadas por uma estrada, que durante a passagem do fogo funcionou como aceiro (Figura 1). Com o objetivo de evitar qualquer possível efeito da estrada sobre as parcelas, tomou-se o cuidado de montá-las a uma distância mínima de 5 metros da estrada. Nas oito parcelas foram levantadas as seguintes dados: (i) número total de indivíduos de G. peduncularis; (ii) número de ramos por indivíduo; (iii) presença ou não de flores ou botões florais e (iv) cobertura vegetal do solo. A cobertura vegetal do solo foi medida através do método da armação de pinos. Este método utiliza uma armação de madeira, a qual possui dez pinos de metal, dispostos perpendiculares ao solo e paralelos entre si (Kent & Coker 1994). Em cada parcela são realizadas 10 medidas. 141 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) Os dados foram analisados com o Microsoft Excel 2000 e o Biostat versão 2.0 (Ayres et al. 2000). após a passagem do fogo, porém em algumas espécies de orquídeas a hipótese de Coutinho (1980) não se encaixa perfeitamente (Oliveira et al. 1996). Tais considerações também podem ser empregadas para G. peduncularis, espécie geófita, que também possui órgão subterrâneo de armazenamento (xilopódio) (Benthan 1859 - 1862). A primeira vista, a destruição de suas partes aéreas e a diminuição da cobertura do solo após a passagem do fogo, estariam induzindo a floração da espécie. Porém, esses fatores não podem ser considerados isoladamente. A comparação da densidade de indivíduos entre as áreas (Figura 3), evidencia a existência de outro fator atuando. A maior densidade de indivíduos na área queimada pode ser explicada pela possível existência de um banco de sementes da espécie na área. Andrade (2002) estudando o impacto do fogo no banco de sementes de um cerrado sensu stricto no Distrito Federal, observou que G. peduncularis forma banco de sementes viáveis no solo, principalmente em áreas submetidas a queimadas bienais. Segundo Parker & Kelly (1989) a germinação “em massa” que ocorre logo após a passagem do fogo pode ser a conseqüência de um ou do conjunto dos seguintes fatores (i) calor o qual o banco de sementes foi submetido, (ii) alterações químicas provenientes da queima e deposição de cinzas, (iii) aumento da incidência de luz, (iv) estratificação do ambiente. Aparentemente a floração de G. peduncularis foi estimulada pelo aumento da incidência luminosa (Figura 4), fato também observado em Brodiaea ixioides em uma área de Chaparral na Califórnia (Stone 1951). A rápida floração da espécie logo após a sua germinação ocorre devido aos seguintes fatores (1) diminuição de predadores de plântulas e sementes, (2) aumento de polinizadores e (3) aumento da taxa de fecundação cruzada (Oliveira et al. 1996). O fogo é um fator importante na indução da floração de espécies herbáceas RESULTADOS Nas oito parcelas amostradas foram encontrados 411 indivíduos de G. peduncularis (Tabela 1), sendo 372 (465 indivíduos/0.1ha) na área queimada e 39 (49 indivíduos/0.1ha) na área não queimada (χ2 = 161.27, p = 0.00). Dos 372 indivíduos amostrados na área queimada, 25.8% (96) apresentavam flores e/ou botões florais, enquanto que na área não queimada apenas 5% (2) apresentavam-se no mesmo estado fenológico (Teste exato de Fisher - p = 0.0014) (Figura 2). O número médio de ramos por indivíduo foi de 1.82 (± 1.23) para a área queimada e de 1.33 (± 0.77) para a área não queimada (Teste U = 5391.0, p = 0.0083). A cobertura vegetal do solo foi superior na área não queimada (79,5%), enquanto que na área queimada essa foi de 43.75% (t = 10.062, p < 0.0001). A diferença da cobertura do solo na área queimada e não queimada explica 93.3% (r2 = 0.933) do número total de indivíduos (Figura 4). A localização dos indivíduos de G. peduncularis nas parcelas queimadas é mais fácil do que nas parcelas não queimadas, fato esse que pode ter subestimado o número final de indivíduos na área não queimada. A floração induzida pelo fogo é um fenômeno bastante conhecido em savanas de todo o mundo, porém pouco se sabe sobre quais os mecanismos responsáveis por esse espetacular fenômeno. Countinho (1980), após diversos experimentos de campo e laboratório, conclui que para espécies geófitas, à indução floral ocorre pela destruição de suas partes aéreas e não por um efeito térmico ou nutricional. Segundo o autor, as partes aéreas das plantas produzem inibidores da floração, os quais são eliminados após a queima, induzindo com isso a floração. Para diversas espécies, esse parece ser realmente o processo pelo qual a floração é induzida 142 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) no Cerrado, principalmente com a diminuição da cobertura vegetal do solo e a destruição de suas partes aéreas. Porém como pode ser visto nesse estudo, o fogo pode atuar em algumas espécies, como é o caso de G. peduncularis, de forma diferente. Neste caso, o fogo parece atuar diminuindo a cobertura vegetal e facilitando a germinação de sementes da espécie presente no local. Estudos posteriores sobre o banco de sementes desta espécie e sua relação com o fogo devem ser feitos, a fim de obter respostas mais precisas. queimadas em áreas de Cerrado e Restinga. Brasília: UnB. p.61-66. PARKER, V. T.; KELLY, V.R. (1989). 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Área queimada Área não queimada Número total de indivíduos 372a 39b Densidade (indivíduos/0.1 ha) 465 49 Número de ramos (média ± desvio padrão) 1.82 ± 1.23a 1.33 ± 0.77b Indivíduos com flor ou botão floral (%) 25.8a 5.1b Cobertura vegetal do solo (%) 43.75a 79.5b Figura 1. Desenho experimental. As parcelas foram separadas por uma estrada, a qual funcionou como aceiro. 144 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) 100 90 80 % de indivíduos 70 60 Sem flor (%) Flores (%) 50 40 30 20 10 0 Área queimada Área não queimada Áreas estudadas Figura 2. Porcentagem de indivíduos de Galactia peduncularis com flor e/ou botões florais em cada uma das áreas. Número médio de indivíduos 120 100 80 60 40 20 0 Área queimada Área não queimada Áreas estudadas Figura 3. Número médio de indivíduos de Galactia peduncularis por parcela nas áreas estudadas. 145 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) 120 Número de indivíduos 100 r2 = 0.933 80 60 40 20 0 30 40 50 60 70 80 90 Cobertura vegetal do solo (%) Figura 4. Relação entre o número de indivíduos de Galactia peduncularis nas parcelas e a cobertura vegetal do solo (%). 146 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DAS ESTRUTURAS DIAMÉTRICA E ESTÁDIO DE REGENERAÇÃO NA MATA DE GALERIA DA CASCATINHA, PARQUE ESTADUAL DE SERRA DE CALDAS NOVAS Otacílio Antunes Santana INTRODUÇÃO Tamanho e forma são características entre os diversos taxa, entre populações e indivíduos. Mais do que uma questão de escala, esta variação é um reflexo do processo evolutivo e retrata as adaptações dos organismos às limitações do ambiente. Portanto, juntamente com os padrões de crescimento, diferenciação e reprodução dos seres vivos, o tamanho e a forma são componentes da história de vida dos organismos.(Begon et al., 1996) A morfometria se constitui um elemento importante nos estudos da comparação (e.g. ontogenia e filogenia dos indivíduos), pois uma característica envolvida numa relação alométrica afeta outro componente da história de vida dos organismos, principalmente a competição entre indivíduos interespecíficos e intraespecíficos na busca de recursos. (Sposito, 1994) Devido à dificuldade de se obter a idade exata dos indivíduos arbóreos, em especial de árvores tropicais, é comum distribuí-las em classes de altura e classes de diâmetro. A classe de altura representa a estratificação vertical da floresta que é indicativa de maior ou menor habilidade das diferentes espécies em competir por luz (Souza, 2002). A avaliação da distribuição diamétrica de uma comunidade ou de uma população de árvores é um parâmetro indispensável para se determinar ou estabelecer medidas de ordenação da produção florestal (Hailemariam & LeMay, 2000); estabelecer medidas de manejo, nos casos das florestas e matas tropicais (Araújo et al., 1999; Durigan et al., 2000); caracterizar o estádio de sucessão (Silva Júnior, 1999; Felfili & Silva Júnior, 1988) e verificar distúrbios ocorridos no passado (Murphy & Farrar, 1981). O índice ou coeficiente de Liocourt é um dos modelos mais utilizados para avaliar a distribuição diamétrica de florestas naturais e baseia-se na progressão geométrica dos diâmetros, sendo calculado conforme proposto por Liocourt (1898, In: Meyer, 1952). O coeficiente (“q”) avalia a distribuição do número de indivíduos em cada uma das classes e serve para avaliar se a distribuição do diamétrica da comunidade ou população de árvores está ou não balanceada (Leak, 1963). Segundo Harper (1977) o equilíbrio dinâmico entre o crescimento e mortalidade é uma das características de comunidades florestais auto-regenerantes e que a maioria das florestas tende a apresentar distribuição diamétrica balanceada. Essa seqüência completa de classes, onde a sobrevivência decresce proporcionalmente com o aumento do tamanho das árvores, foi sugerida por Daubenmire (1968) como uma das características indicadora de comunidades clímax. Outras formas de análises são utilizadas para “uneven aged forest”, florestas manejadas ou não, com indivíduos de idades ou estádios diferentes, entre eles: i) teste de distribuição exponencial (Murphy & Farrar, 1981); ii) teste logaritimisados (Murphy & Farrar, 1981); iii) Método Alternativo Cross (Cruz & Hosokawa, 2000) e iv) Weibull probability density function (Bailey and Dell, 1973). O objetivo do trabalho foi: i) quantificar, caracterizar e analisar a 147 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) estrutura em classes diamétricas (taxa de recrutamento) nas arvoretas e árvores da mata de Galeria da Cascatinha e ii) quantificar a estrutura de alturas das juvenis arbóreas. Hipotetizamos que: H1) A Mata da Cascatinha apresentará estrutura florestal balanceada, conforme classificação de Meyer (1952); e H2) Árvores e Arvoretas não mostraram distribuições diamétricas distintas em diferenciada análise (logarítmica e exponencial). em sub parcelas de 2X2m (Wyatt-Smith, 1960; Loetch & Haller, 1974; Braun Blanquet, 1979) (Figura 1). A freqüência dos indivíduos em classes de alturas para as plântulas e diâmetros para arvoretas e árvores foi efetuada como proposta por Spiegel (1976). IC = A/[1+3.3*log(n)] IC = Intervalo de classes; A = Amplitude dos dados; n = número de indivíduos. A literatura considera que a taxa de recrutamento (sobrevivência) de uma população é representada pela divisão de número de indivíduos entre as sucessivas classes de diâmetro. A razão desta divisão proposta por Liocourt 1898 (In: Meyer, 1952), é representada por “q” e a taxa de mortalidade entre as sucessivas classes de diâmetro é “1 - q”. q = ni + 1/ ni q = taxa de recrutamento; ni + 1 = número de indivíduos na classe i + 1; ni = número de indivíduos na classe i. MATERIAL E MÉTODOS A coleta dos dados se realizou no mês de setembro e outubro de 2002 nos dias 29 e 30, 1 e 2 respectivamente, na mata de galeria ao longo do córrego cascatinha, denominada Mata da Cascatinha, na latitude S 17°46’09.5” e longitude W 48°39’29,9”, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN). Os solos são classificados como latossolos vermelhoamarelos distróficos (LVd) (Plano de Manejo do Parque). A região situa-se no sub-bioma cerrado com clima do tipo Aw, segundo classificação de Köppen, caracterizada por duas estações bem definidas: uma seca, de maio a setembro, e outra chuvosa, de outubro a abril, aproximadamente, com temperatura mensal média de 23.5°C. (Cochrane et al., 1985) A amostragem foi estratificada seguindo a classificação do estudo da vegetação em regeneração: juvenis (< 1m de altura), arvoretas (> 1m de altura, com diâmetro a altura do petio – dap < 5cm) e árvores (com dap > 5 cm). (Husch et al., 1972; Souza, 2002) O sistema de amostragem para árvores (registro de diâmetro e altura) foi sistemático, com método de parcelas 10X10 m, escolhidas aleatoriamente ao longo do curso d’água e trilha (Curtis & McIntosh, 1950). Para amostragem das arvoretas (registro dos diâmetros) foram estabelecidas dentro das parcelas (10X10m), sub parcelas de 5X5m e, dentro destas, foram amostradas as mudas (registro de altura), As análises de KolgomoronovSmirnov, correlação e diferenciada logarítmica e exponencial foi realizada pelo programa (Systat 9.0) e demais análises estatísticas pelo Microsoft Excel 2000. RESULTADO E DISCUSSÃO Neste trabalho 20 quadrantes (2000m2) foram levantados, registrando um total de 472 árvores, 2.252 arvoretas e 4.137 juvenis, com uma estimativa de 2.360, 11.259 e 20.686 ind.ha-1 respectivamente. (Tabela 1) Foi notado que a correlação entre o número de indivíduos de árvores e arvoretas nas parcelas foi inversamente significativa (0,686519), ou seja, quando havia um maior número de indivíduos arbóreos numa parcela, o numero de arvoretas diminuíam. O mesmo acontece entre número de árvores e juvenis nas parcelas (0,661515). Já na correlação entre arvoretas e juvenis mostrou proporcionalmente significativa, ou seja, quando maior o número de arvoretas nas 148 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) parcelas será o número de juvenis nela (0,932255). A distribuição diamétrica apresenta padrão semelhante aos modelos propostos em vários estudos (Felfili et al., 2002; Hailemariam & LeMay, 2000; Pinto & Oliveira Filho, 1999; Pereira et al., 2001b; Meyer, 1952) assemelhando o modelo de “J” invertido, concentrando os maiores números de indivíduos na primeira classe de diâmetro decrescendo para as próximas classes de numa progressão geométrica, nas árvores. Para as arvoretas, as primeiras classes apresentaram nenhum ou baixa quantidade de indivíduos, concordando com alguns trabalhos sobre regeneração em mata de galeria (Souza, 2002; Silva Júnior, 1999; Felfili & Silva Júnior, 1988), mas posteriormente, nas outras classes permanecendo o formato em “J” invertido (Figura 2). A análise diferenciada: logarítmica (Meyer & Stephenson 1943) e exponencial (Murphy & Farrar, 1981) para as classes arbóreas mostraram distinção nas respectivas regressões (log: r2: 0.9078 e exp. r2: 0.846), ambas altamente significativas, mas indicando para a Mata da Cascatinha o melhor ajuste para as classes diamétricas: o logarítmico (Figura 2) . O valor médio do índice de Liocourt ou taxa de recrutamento calculado para a comunidade foi de 0.91 para árvores e 4,70 para arvoretas, mostrando o processo de dinâmica da comunidade em diferentes estratos (nascimento e mortalidade). A distribuição aproximou de uma balanceada, mas confirmando em algumas classes distúrbios presenciados (Figura 2). As últimas classes, por apresentarem poucos indivíduos, estão sujeitas a grandes variações no valor do quociente “q”. (Harper, 1977) As arvoretas por apresentarem nas primeiras classes baixos valores e posteriormente um aumento de aproximadamente 100 vezes maior que o número de indivíduos encontrados (segundo a taxa de recrutamento), provavelmente apresenta um padrão de crescimento com um surto inicial rápido, tal que o crescimento em altura das mudas minimizam os efeitos de competição por luz com as demais arvoretas. (Bertani et al., 2001) Na análise de KolgomoronovSmirnov as arvoretas apresentaram valor crítico de 0.029 (0.05, <0.01), muito baixo em comparação ao valor crítico das árvores que foram de 0.063 (0.05, <0.01), mostrando o efeito do não aparecimento, ou pouco aparecimento, de indivíduos nas primeiras classes. Em relação à taxa de recrutamento houve uma diminuição do valor de “q” das arvoretas de 36.91 para 0.94 da primeira para segunda classe contrariando o que normalmente é esperada para comunidade de árvores em equilíbrio, mas presente em algumas comunidades em dinâmico processo de regeneração (Pereira et al., 2001a), classificando esta floresta como auto regenerantes (Meyer, 1952). Meyer (1952) também afirma que a distribuição balanceada dos diâmetros na prática é observada quanto se estuda grande extensão de florestas. Segundo Felfili (1993) um pequeno número de espécies arbóreas em comunidades de matas de galeria tende a apresentar curva em forma de J-invertido, mas em conjunto, uma floresta ou comunidade tende ao equilíbrio, apresentando distribuição balanceada. A distribuição da altura dos juvenis na comunidade apresenta o maior número de indivíduos nas classes de 11 a 30 cm de altura. Felfili (1993) com estudo em mata de galeria (Mata do Gama), afirma que o padrão de crescimento está provavelmente relacionado ao comportamento das espécies e sua dependência por luz: espécies tolerantes a sombreamento apresentam crescimento inicial mais lento e espécies do estrato superior apresentam crescimento inicial rápido devido à sua maior exigência por luz, o que acontece no nosso estudo (Tabela 1 e Figura 3). Em relação à estrutura arbórea, foi realizada uma regressão que mostrou 149 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) significativa r2 = 0.9677 entre altura das árvores e respectivo dap, sendo variáveis quase diretamente proporcionais. (Figura 4) Os padrões para distribuição diamétrica estão de acordo com a literatura regional (Felfili 1993; Felfili & Silva, 1988; Souza, 2002; Silva Júnior, 1999; Pinto e Oliveira Filho, 1999), classificando a mata como auto regenerante segundo sua dinâmica de comunidade (Meyer 1952; Leak, 1963). 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Parcelas Árvores Arvoretas Juvenis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 22 13 36 11 29 32 18 17 19 23 34 20 33 29 19 16 15 38 20 28 162 164 68 151 88 100 102 77 174 72 80 123 76 64 132 116 152 67 148 136 345 301 45 402 199 267 168 307 109 311 86 307 80 93 109 326 321 94 102 165 472 28 2.252 113 4.137 207 Soma Média Figura 1: Esboço das parcelas feitas para mensuração das árvores (10X10 m), arvoretas (5X5 m) e juvenis (2X2m) ao longo do curso d’água e trilha na mata de galeria da Cascatinha (PESCAN). 152 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) A 200 2 ------ Rexp =0.9078 Número de Indivíduos 160 q´1=0.59 q´2=0.57 q´3=1.53 q´4=0.21 q´5=0.20 q´6=3.00 q´7=0.33 120 80 40 0 5.0-8.3 8.4-11.7 11.8-15.1 15.2-18.5 18.6-21.9 22-25.3 25.4-28.7 28.8-35.3 Classe de Diâmetro - cm (Árvores) B 1000 Número de indivíduos 800 q´1=36.91 q´2=0.94 q´3=0.42 q´4=0.28 q´5=0.48 q´6=0.70 q´7=0.75 q´8=0.80 q´9=1.05 600 400 200 0 0-0.5 0.6-1 1.1-1.5 1.6-2 2.1-2.6 2.6-3 3.1-3.5 3.6-4 4.1-4.5 4.6-5 Classe de Diâmetro - cm (Arvoretas) Figura 2. Distribuição diamétrica em classes do gradiente arbóreo (A) com distribuição exponencial das arvoretas (B) da Mata da Cascatinha (PESCAN). 153 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) 2400 Número de Indivíduos 2000 1600 1200 800 400 0 0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 81-90 91-100 Classe de Altura (cm) Figura 3: Distribuição em classes da altura dos juvenis em relação ao número de indivíduos na mata de galeria da Cascatinha (PESCAN). 14 12 Altura (m) 10 8 y = 4,2895Ln(x) - 2,7811 2 R = 0,9677 6 4 2 0 0 5 10 15 20 25 30 35 DAP (cm) Figura 4: Relação entre altura (m) e dap (cm) do estrato arbóreo da mata de galeria da Cascatinha (PESCAN). 154 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) IMPACTO DO FOGO EM ASPIDOSPERMA TOMENTOSUM MART. (APOCYNACEAE0 NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS (PESCAN) Patricia Rodin da Serra de Caldas Novas (PESCAN), Caldas Novas, Goiás. As duas áreas estudadas estão separadas por uma estrada de aproximadamente 3 m de largura. Ambas foram submetidas a um evento de queima, sendo que a área 1 foi queimada em 1999 e a área 2 em setembro de 2002, mês imediatamente anterior ao do estudo. O trabalho foi realizado no final de setembro de 2002, transição da estação seca para a chuvosa. Foram estabelecidos aleatoriamente 10 transecções de 100 m em cada área, onde cinco distavam 10 m entre si, e 200 m dos outros cinco transectos. Todos os indivíduos de Aspidosperma tomentosum que se situavam 2,5 m para cada lado da transecção foram considerados. Desta forma, em cada área foi amostrado 0,5 ha. Foram medidos a altura e o diâmetro do caule no nível do solo e observado o estágio fenológico de todos os indivíduos amostrados de A. tomentosum, para que o impacto do fogo na estrutura populacional e nos estágios vegetativo e reprodutivo pudesse ser determinado. Os valores de altura e diâmetro foram agrupados em intervalos de classe, definidos pela fórmula A/K, onde A representa a amplitude para o parâmetro (altura ou diâmetro), e K é definido pelo algoritmo de Sturges: K: 1 + 3,3 x log n10, onde n é o número de indivíduos (Fonseca & Martins 1986). O estudo da fenologia consistiu na observação das seguintes fenofases: i) Brotação foliar; ii) Floração; iii) Frutificação. A intensidade da fenofase foi classificada de acordo com a porcentagem de ramos onde ela foi observada, onde zero (0) correspondeu à ausência do evento; um (1) a presença do evento em 1-25% dos ramos; dois (2) a 2675% dos ramos; três (3) a 76-100% dos INTRODUÇÃO O fogo é considerado como um dos fatores determinantes da estrutura e funcionamento das savanas (Frost et al., 1985). No Cerrado, sua presença é muito antiga, datada em 32.000 A.P. (SalgadoLabouriau et al., 1998), indicando que a vegetação há muito coexiste com esta perturbação. O fogo, portanto, exerce uma forte pressão de seleção a qual as plantas do cerrado estão adaptadas. No entanto, o homem alterou a época natural de ocorrência do fogo no Cerrado (RamosNeto e Pivello, 2000), e aumentou sua freqüência. Ele atualmente ocorre na estação seca, e no intervalo de 1-3 anos (Coutinho, 1990; Eiten & Sambuichi, 1996), submetendo a vegetação a um tipo de perturbação diferente da qual está adaptada (Hoffman & Moreira, 2002). O fogo provoca mudanças na florística, na fitossociologia e na estrutura da comunidade vegetal (Frost e Robertson, 1987). As mudanças na comunidade são consequências diretas das alterações que ocorrem nas populações das espécies que a compõem. Desta forma, é essencial o estudo do impacto do fogo nas populações, para compreendemos as mudanças na comunidade. O objetivo deste trabalho foi determinar o impacto do fogo em Aspidosperma tomentosum, uma espécie abundante e de ampla distribuição no cerrado s.s., contribuindo, assim, para o entendimento das mudanças que ocorrem na comunidade do cerrado s.s., quando submetida ao atual regime de queima. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em duas áreas de cerrado sensu stricto, no Parque Estadual 155 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) diâmetro 1,5-3,7, foram as mais afetadas (Figura 1 e 2), o que pode ser constatado na área 2 pelo baixo número de indivíduos destas classes. Este impacto também ocorreu na população da área 1, pois o número de indivíduos da classe de diâmetro 3.8-6.9, e da classe de altura 1.4-3.1, é baixo e menor que as classes de altura superior, podendo ser explicado por uma provável mortalidade em 1999 das classes citadas para a área 2, onde apenas aqueles indivíduos que sobreviveram a queima atingiram estas classes. Este resultado também foi encontrado por Silva et al. (1996), Sato & Miranda (1996), e Medeiros (2002), os quais verificaram que a mortalidade das plantas lenhosas é determinada pelo porte do indivíduo, altura e diâmetro. Nestes trabalhos, os indivíduos com altura inferior a 2,0 m e com diâmetro menor que 5 cm apresentaram a maior taxa de mortalidade, pelo fato de estarem situados na zona crítica de temperatura (Miranda et al. 1993), e não possuírem espessura de casca suficiente para protegerem o câmbio (Frost & Robertson,1987; Sato & Miranda, 1996). No intervalo de altura entre 3,2-6,7 m, o fogo não parece causar grande impacto, pois a maioria das queimadas em savanas é de superfície, com a altura das chamas entre 0,8 e 2,8 m (Frost & Robertson,1987). Assim, os indivíduos das classes maiores estariam numa altura de escape da frente de fogo. Tal assertiva pode ser comprovada pela semelhança na estrutura da população das duas áreas a partir da classe de altura 3,2-4 m (Figura 1). Isto se deve, principalmente, ao fato destes indivíduos apresentarem diâmetro do caule maior que 5,5 cm, o que lhes conferem uma maior proteção contra o fogo (Sato & Miranda, 1996; Silva et al., 1996). No Cerrado, o diâmetro constitui-se no melhor parâmetro para a determinação da resistência das plantas lenhosas ao fogo, uma vez que elas não investem no crescimento em altura, alcançando em média 3-8 m (Sarmiento et al. 1895). No entanto, investem muito em crescimento ramos. Os indivíduos foram considerados como rebrotas, quando distavam menos de 30 cm de um indivíduo adulto (Eiten & Sambuichi, 1996). Os dados foram analisados usando o programa BioEstat 2.0 (Ayres et al., 2000). Foram utilizados os testes estatísticos QuiQuadrado e Kolmogorov-Smirnov para averiguar, respectivamente, se havia diferença significativa entre a brotação foliar e a floração das duas área estudadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO As populações das duas áreas estudadas apresentaram abundância diferente, a área 2 composta por 91 indivíduos (182 indiv/ha), enquanto a área 1, por 49 indivíduos (98indiv/ha). Esta diferença não pode ser atribuída apenas à mortalidade de indivíduos pelo fogo, ela deve ser atribuída, principalmente, à típica variação da distribuição das espécies que ocorre no Cerrado, freqüentemente associada ao mosaico de condições edáficas (Goodland, 1971; Frost et al., 1985). As duas populações de A. tomentosum estudadas foram, nos últimos 4 anos, submetidas a um (1) evento de queima, na estação seca. Uma vez que, populações de uma mesma espécie devem responder de forma semelhante a um mesmo regime de fogo e época de queimada, a estrutura da população da área 2, queimada em 2002, constitui-se no melhor instrumento de elucidação da atual estrutura do população da área 1, queimada em 1999, por representar a resposta imediata da população à queima, que influencia na estrutura por alguns anos. As populações estudadas não apresentaram um padrão de distribuição “J inverso” (Figura 1), que caracteriza uma população estável e auto-regenerante (Whitmore, 1975). A estrutura instável destas populações se deve, possivelmente, a ocorrência do evento de queima, que afeta de forma diferenciada as diversas classes de tamanho. As classes de tamanho menores, de intervalo de altura 0,5-3,1 e intervalo de 156 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) secundário do caule, desenvolvendo uma espessa camada de cutícula, que protege o câmbio da alta temperatura do fogo (Eiten, 1994; Rizzini, 1997). A estrutura da população 1 apesar de não ser do tipo “J inverso” está se regenerando após o evento de queima de 1999, representado pelos indivíduos da classe de altura 0.5-1.3 m e de diâmetro 1.5-3.7 cm (Figuras 1e 2). Este resultado indica que a população de A. tomentosum é capaz de se regenerar sob o regime de queima atual do cerrado, 1-3 anos. Esta regeneração parece ocorrer exclusivamente por reprodução sexuada, uma vez que, foram encontrados apenas dois indivíduos da área 1 com rebrota basal e os jovens se encontravam mais de 30 cm de distância de um adulto. O intervalo de queima atual do Cerrado impede que muitas espécies tenham sucesso na reprodução sexual, e favorece a rebrota (Hoffman, 1998). A capacidade de rebrota é uma adaptação de tolerância ao fogo, no entanto, A. tomentosum evita o stress causado pelo fogo através de um denso espessamento de pêlos que protege as gemas apicais (Coutinho, 1982). Esta parece ser a adaptação que permite o sucesso reprodutivo e a conseqüente regeneração observada na população da área 1, queimada em 1999. Além do regime de queima, a época da queima é um fator de extrema importância para determinar as respostas da vegetação ao fogo, pois dependem do estágio fenológico em que as espécies se encontram (Frost et al. 1985, Coutinho 1990). Muitas espécies lenhosas investem em renovação de folhas (Sarmiento et al. 1985) e produção de estruturas reprodutivas durante a estação seca (Sarmiento et al. 1985; Bucci, 1997, Oliveira & Gibbs, 2000), portanto a queima no fim da estação seca acarreta num grande dano a estas espécies. A área 2 foi queimada em setembro de 2002, o que deve ter causado destruição da copa de muitos indivíduos. No entanto, como A. tomentosum é capaz de proteger suas gemas apicais (Coutinho, 1982), ela rapidamente refez sua copa através da produção de novas folhas. Porém, a brotação foliar dos indivíduos desta área foi significativamente menos intensa que da área 1 (χ2 = 139,1; p= 0,0001) o que era esperado devido a perda da energia investida em folhas novas anteriormente a queima. Quanto aos estágios fenológicos reprodutivos, o investimento em botões e flores, por classe de altura e diâmetro foi semelhante nas duas áreas (D=0,1054 e p=0,9487; D=2,0027 e p=0,3674) (Figura 3). A semelhança encontrada deve ser atribuída à época em que foi realizado o estudo, que coincide com o fim da floração de Aspidosperma tomentosum (Oliveira & Gibbs, 2000). No entanto, muitos botões e flores devem ter sido destruídos na área queimada em 2002, o que poderia ser indicado, em parte, pela frutificação, cuja intensidade esperava-se que fosse maior na área queimada em 1999 que na 2002. Porém, apenas dois indivíduos de cada área foram observados em frutificação, o que pode ser decorrente de uma produção supranual de frutos na área queimada em 1999. Estes resultados impediram a determinação do impacto do fogo sobre os estágios reprodutivos da espécie. Apesar do estudo ter sido realizado no fim da floração, pode se observar que a porcentagem de indivíduos com presença de flores ou botões foi positivamente relacionada com a altura (figura 3), o que está de acordo com o fato de que o tamanho da planta determina, em grande parte, a sua capacidade de reprodução (Harper, 1977). Uma vez que, o fogo destrói a parte aérea das plantas, ele reduz o tamanho dos indivíduos, acarretando, assim, num impacto negativo no crescimento futuro da população (Hoffman & Moreira, 2002). Na figura 3 pode-se observar que A. tomentosum é capaz de reproduzir sexuadamente a partir da classe de altura 1,4-2,2 m. De acordo com os resultados apresentados, pode-se sugerir que A. 157 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) Walker (ed.). Ecology of Tropical Savannas. p.273-306. tomentosum é uma espécie tolerante ao fogo, pois apesar dos indivíduos das menores classes de tamanho sofrerem grande impacto, os indivíduos maiores são capazes de refazer a copa um (1) mês após a queima, além de serem capazes de regenerarem sexuadamente sob o regime de queima atual do cerrado. Esta classificação está de acordo com a de Sambuichi (1991). Apesar de A. tomentosum ser uma espécie tolerante, ela contribui para a abertura do estrato lenhoso do Cerrado após a passagem do fogo observada por Moreira (2000). Coutinho, L. M., 1990. Fire in the of Brazilian Cerrado. In: Fire in the tropical biota - ecosystem process and global challenges. J.G. Goldmmer (ed.).Ecological studies Vol 8a. Berlin, Springer-Verlag. Eiten, G. 1994. Vegetação. In: NovaesPinto, M. (ed.). 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Biodiversity and sustainable production of food and fibers in the tropical savannas. VIII Simpósio sobre o cerrado. Anais / 1st Internacional Symposium on Tropical Savannas. Proceedings. Brasília. 46-55 p. Fonseca, J. S. & Martins, G. A. 1986. Curso de Estatística. 3. Ed. Atlas, São Paulo, 286 p. Frost, P., Medina, E., Menaut, J.C., Solbring, O., Swift, M., Walker B. 1985. Responses of savannas to stress and disturbance. Biology international, Special Issue, 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ayres, M., Ayres Jr., M., Ayres, D. L., Santos, A. S. 2000. Biostat 2.0. Bucci, F. F. B.1997. Floração de algumas espécies de Melastomataceae do Distrito Federal: uso de dados de herbário para obter dados sazonais. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília. Brasília. Frost, P. G. H. & Robertson, F. 1987. The ecological effects of fire in savanna. In: Determinants of tropical savannas. B.H. Walker (ed.). IRL Press Limited, Oxford. p.93-139. Goodland, R.1971. 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Oxford. 159 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) 25 20 15 10 5 96, 7 5, 05, 8 5, 14, 9 4, 24, 0 3, 33, 1 2, 1, 0, 42, 2 0 51, 3 Número de indivíduos A Classe de altura (m) 25 20 15 10 5 5, 96, 7 5, 05, 8 4, 14, 9 3, 24, 0 2, 33, 1 1, 42, 2 0 0, 51, 3 Número de indivíduos B Classe de altura (m) Figura 1: Número de indivíduos por classe de altura na área queimada em 1999 (A) e em 2002 (B) no PESCAN. 160 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UnB) A Número de indivíduos 25 20 15 10 5 10 ,2 -1 1, 7 11 ,8 -1 3, 3 8, 610 ,1 08, 5 7, 46, 9 5, 85, 3 3, 23, 7 2, 1, 52, 1 0 Classe de diâmetro (cm) B Número de indivíduos 25 20 15 10 5 10 ,2 -1 1, 7 610 ,1 8, 08, 5 7, 46, 9 5, 85, 3 3, 23, 7 2, 1, 52, 1 0 Classe de diâmetro (cm) Figura 2: Número de indivíduos por classe de diâmetro na área queimada em 1999 (A) e em 2002 (B) no PESCAN A 5, 96, 7 Classe de altura 5, 05, 8 4, 14, 9 3, 24, 0 2, 33, 1 1, 42, 2 0, 51, 3 % de indivíduos 100 80 60 40 20 0 100 80 60 40 20 5, 05, 8 4, 14, 9 3, 24, 0 2, 33, 1 1, 42, 2 0 0, 51, 3 % de indivíduos B Classe de altura Figura 3: Porcentagem de indivíduos em estágio vegetativo (preta) e em estágio reprodutivo (branca) por classe de altura na área queimada em 1999 (A) e em 2002 (B) no PESCAN. 161 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) MÉTODOS DE CAMPO EM ECOLOGIA Parque Estadual da Serra de Caldas Novas Projetos Finais (UFU) Set/02 162 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) RELAÇÃO ENTRE A FAUNA DE INVERTEBRADOS E NINHOS DE TÉRMITAS (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS ÁREAS DE CERRADO DO PESCAN-GO Carlos Henriques G. Angeluci INTRODUÇÂO A organização social envolve duas Ordens em Insetos, uma delas é a Isoptera, a qual compreende os cupins. A outra é a Hymenoptera, que inclui formigas e abelhas. Todo inseto social exibe um grau de polimorfismo e os diferentes tipos de indivíduos da colônia são chamados castas. Térmitas (cupins) vivem em ninhos usualmente construídos no solo, os quais em muitas espécies podem ser grandes e estruturalmente complexos. Muitos térmitas dependem da celulose como fonte de alimento e flagelados simbióticos para a sua decomposição (Rupert & Barnes 1994). Os cupins constituem um importante componente da fauna de solo de regiões tropicais, sendo notável sua participação na decomposição e ciclagem de nutrientes. Eles apresentam grande abundância em florestas e savanas tropicais, como é o caso da Floresta Amazônica, onde, juntamente com as formigas correspondem a cerca de 30% da biomassa animal (Constantino & Schlemmemeyer 2000). Em regiões de cerrado eles atingem densidades impressionantes sendo potencialmente considerados espécies chaves (Redford 1984) e representam provavelmente a forma animal dominante em muitas áreas do Brasil Central, tanto em número de espécies como biomassa ( Negret & Redford 1982). Os térmitas representam uma considerável fonte de alimento para outros invertebrados assim como, para muitos vertebrados, além disso, seus ninhos fornecem um atraente hábitat para uma ampla assembléia de organismos, desde anfíbios, répteis, mamíferos a várias espécies de 163 artrópodes. No entanto, a natureza de tais associações com térmitas nos neotrópicos é, na maioria dos casos, pouco conhecida (Araújo 1970). O trabalho teve como objetivos: (a) avaliar a composição de fauna de invertebrados encontrada em ninhos de térmitas; (b) determinar se há alguma diferença entre as duas fisionomias, cerrado sentido restrito e campo sujo, com relação às espécies encontradas. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido em duas áreas do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente-GO, na primeira semana de outubro de 2002. Uma das áreas compreende formação de cerrado sentido restrito e a outra de campo sujo, distando as duas aproximadamente 500m. Em cada área foram feitos transectos de 20X50m dispostos paralelamente a uma das estradas que cortam o Parque. Na área de cerrado de coordenadas 17° 47’07” S e 48° 40’ 06” O, regristradas a partir de um dos pontos da estrada, foram feitos quatro transectos e na de campo sujo, 17° 46’ 47” S e 48° 40’ 20” O, cinco. Foram considerados todos os ninhos terrestres encontrados e suas alturas e circunferências medidas. Os ninhos danificados, com arranhões na superfície ou com buracos na base foram anotados. Naqueles que apresentavam buracos, foi introduzido gás butano, para forçar a saída de possíveis animais abrigados em seu interior. Posteriormente os ninhos foram destruídos e os organismos encontrados recolhidos em UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 vidros com álcool a 70% e levados para identificação. Para o cálculo do valor de χ2 foi utilizado o pacote Systat-5.03, 1990. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados 59 ninhos na área de campo sujo e 34 na de cerrado, sendo que na primeira área a densidade de ninhos foi aproximadamente 72% maior que na segunda. Já a densidade de formigas por ninho foi igual para as duas áreas, 0,61 formigueiro/ninho. Pela análise dos organismos retirados dos ninhos, o grupo Hymenoptera foi o que apresentou a maior distribuição e maior número de espécies, 13, sendo que, destas, 11 foram da família Formicidae. O segundo maior grupo foi o Aranae com 4 espécies, como mostra a figura 1. A espécie de formiga mais encontrada foi a Camponotus renggeri, aparecendo com maior freqüência na área de campo sujo. As espécies de formigas identificadas e as freqüências de cada espécie em relação às duas áreas estão dispostas na figura2. Como observado em outras regiões, através de estudos feitos por Dejean e Durand (1996), a ocorrência de formigas em cupinzeiros para a área estudada também apresentou grande número de espécies, apesar de ser pouco notado a dieta dessas invasoras, sendo algumas provavelmente exclusivamente termitófilas Do total de ninhos observados, 57% apresentaram algum tipo de dano, perfuração ou escavação, provavelmente causados respectivamente por tatus e tamanduás, os principais vertebrados predadores de térmitas neste ambiente. Os tatus cavam buracos característicos com diâmetro maior que 10cm na base dos ninhos. Já os tamanduás usualmente arranham a superfície dos mesmos (Redford 1984). Os ninhos de térmitas quando intactos, sem danos, oferecem uma barreira difícil de ser transposta pelos invertebrados invasores, ocorrendo que, quando danificados, muitos animais como formigas, vespas, besouros e 164 Projetos Finais (UFU) aranhas aproveitam esse período vulnerável para realizarem rápidos ataques e invasões. Pelas freqüências de ninhos danificados e não danificados encontradas nas duas áreas, pode-se observar que a presença de formigas não está associada com danos nos cupinzeiros, arranhões ou buracos, como seria de se prever, nem tampouco com o tipo de fisionomia. Os ambientes são relativamente iguais com ralação à freqüência total, presença de formigas nos ninhos, como mostra a tabela 1. Esta ausência de dependência entre os danos nos ninhos e a presença de formigas pode também estar relacionada com o fato de que, quando o ataque por mamíferos não chega a ser tão prejudicial, eliminando pequena porção da colônia e não matando a rainha, os operários podem reparar rapidamente o buraco ou arranhões, eliminando desta forma, os vestígios de danos. O resultado do Teste χ2 para avaliar a relação entre a porcentagem de ninhos danificados entre os dois ambientes também não foi significativo.(χ2 = 2,533; gl=1; P=0,112). A relação entre as formigas e os cupins pode ser apenas de inquilinismo, como também não harmônica como predação ou “roubo” de recurso alimentar ( Araújo 1970). Os Formicidae foram encontrados preferencialmente na porção lateral dos ninhos de térmitas, provavelmente em câmaras isoladas, e quando essas divisórias são destruídas pode haver ataque das formigas aos cupins. Em dois ninhos foram encontrados, no interior de buracos cavados por tatus, restos de frutos de Syagrus flexuosa . Tais frutos foram comidos e apresentavam marcas de mordidas que indicavam ser de roedores (J.Marinho com. pessoal), o que se supõe que estes mamíferos possivelmente utilizam esses ambientes como abrigo. AGRADECIMENTOS Agradeço aos professores da UNB e UFU que possibilitaram a realização deste curso, em especial a John Hay e Heraldo L. UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Vasconcelos pelas orientação no trabalho , aos funcionários e aos colegas de turma. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO R.L. 1970.Térmites of Neotropial Region.In Biology of Térmites. Vol.11:527-535. Academy Press.N.Y. CONSTANTINO R.& SCHLEMMEYER T. 2000. Fauna silvestre da região do Rio Manso-MT. Brasília: Ministério do Meio Ambiente: 268p. DEJEAN A. & DURAND J.L. 1996. Ants inhabitanting Cubitermes termitaries in African Rain Forests. Biotropica,28(4b): 701-713. DOMINGOS D.J. 1983. 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SANTOS P.S. & FERREIRA R.L. 2001.Fauna de artrópodes associada a ninhos de Constrictotermes cyphergaster (Isoptera, Termitidae) em área de cerrado no Estado de Minas Gerais,. Relatório de Campo-UFMG: 93-101. Tabela 1. Número de ninhos danificados (D) e não danificados (N), com presença (C) ou ausência de formigas (S) em seu interior. D/C D/S N/C N/S CAMPO SUJO 17 16 13 13 CERRADO 12 12 4 5 165 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 3% 3% Projetos Finais (UFU) 3% 7% 7% 44% 10% 10% 13% Hymenoptera Aranae Ortoptera Blattaria Opilione Chilopoda Diplopoda Diptera Coleoptera Figura 1. Abundância de espécies de invertebrados presentes em cada táxon encontrado nos ninhos. cerrado 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Ca m po no Ca tu s m po r no eng ge tu s ri cr Ca a m s s po no us Ca tu s m po sp no 1 Ca tu s m sp po 2 no Ca tu s m sp po 3 no Ca tu s m po sp no 4 Ca tu s m sp po Cr 5 em notu s at sp og 6 a Ce s ter ph sp al 1 ot Ps es eu sp do 1 m yr m ex 1 frequência absoluta campo sujo espécie Figura 2. Frequência de espécies de formigas nas áreas de cerrado sentido restrito e campo sujo. 166 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) UM TESTE DO MODELO DE JANZEN-CONNELL COM DUAS ESPÉCIES ARBÓREAS DO CERRADO Claudio Franco Muniz INTRODUÇÃO Vários modelos foram propostos para explicar a manutenção da alta diversidade nas florestas tropicais. O modelo mais conhecido é o de Janzen (1970) E Connell (1971), que assume que, devido à forte chuva de sementes embaixo das árvores frutificando, os predadores e patógenos tenderão a se concentrar mais próximos às plantas parentais, onde a mortalidade de plântulas é geralmente completa. Propágulos dispersos longe da planta-mãe escapam da predação mais facilmente e, com isso, apresentam maior taxa de sobrevivência. Um pico de recrutamento de plântulas pode ocorrer em alguma distância a partir dela, sendo geralmente, fora da área de abrangência da copa e das suas adjacências. Por outro lado, propágulos de outras espécies vegetais são capazes de colonizar o espaço vazio em torno da planta-mãe, mantendo assim a diversidade. Howe & Smallwood (1982) chamaram a isto de hipótese de fuga. Nas florestas tropicais, os predadores e patógenos são particularmente efetivos e abundantes, sendo assim, uma força significativa na manutenção da excepcional diversidade vegetal dessas comunidades (Clark & Clark, 1984). Embora os efeitos de densidade e distância sobre a sobrevivência de sementes e plântulas tenha sido o foco de vários estudos nos trópicos (Cintra, 1997), a importância relativa desses efeitos permanece controversa. Muitos estudos de campo têm mostrado evidências do modelo de Janzen-Connell (Leite & Rankin, 1981; Augspurger, 1983, 1984; Augspurger & Kelly, 1984; Howe et al., 1985; Clark & Clark, 1987; Forget, 1989; Kitajima & Augspurger, 1989; Schupp, 1992; Condit et al., 1992, 1994), embora uma grande variação tenha sido encontrada para a distância máxima em relação ao parental e para a densidade mínima de jovens coespecíficos, nos quais os efeitos dependentes de densidade podem ser detectados. Por outro lado, foram encontrados casos em que os efeitos da densidade e da distância não estão conforme esse modelo (Connell, 1971; Hubbell, 1979; Condit et al., 1992; Burkey, 1994). Hubbell (1979), publicou um extenso estudo de dispersão de árvores em uma mata seca na Costa Rica, mostrando que a ampla dispersão seria uma forma de diminuir a predação. Muitas espécies encontraram-se agregadas, ocorrendo uma alta densidade média de indivíduos coespecíficos nas proximidades da plantamãe. Sabendo-se que os mecanismos de manutenção da alta diversidade e complexidade das florestas tropicais variam com o tempo, local e espécie, espera-se que, da mesma forma, os padrões espaciais reflitam tais variabilidades. Neste sentido, Burkey (1994), testando as premissas do modelo de Janzen-Connell com sementes dispersas por uma espécie arbórea tropical, propôs que seriam necessários mais estudos para diferentes espécies e localidades, e em maiores escalas espaciais e temporais, para se obter resultados mais conclusivos sobre os mecanismos que controlam a distribuição espacial das espécies. A maioria dos trabalhos relacionados ao teste do modelo de JanzenConnell enfocaram espécies arbóreas de florestas tropicais úmidas. Apesar da importância do Cerrado, existe uma carência de informações fisiológicas, ecológicas, florísticas e fitossociológicas, 167 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 entre outras (Felfili et al., 1993), sobretudo sobre a manutenção da sua diversidade. Neste sentido, o presente trabalho teve por objetivo testar as predições e premissas do modelo de Janzen-Connell, por meio da distribuição espacial de sementes e de indivíduos jovens em torno de plantas adultas das espécies Aspidosperma macrocarpon e Hymenaea stigonocarpa. Segundo Eiten (1993) a flora do Bioma Cerrado brasileiro é composta de dois estratos: arbóreo-arbustivo e herbáceograminoso, apresentando elevada diversidade de espécies vasculares, inferior apenas à floresta tropical úmida. É considerado como a flora mais rica entre as savanas mundiais (Klink, 1996). Em uma recente compilação de sua flora, Mendonça et al. (1998) contabilizaram 6.429 espécies vasculares. Projetos Finais (UFU) comprimento, cinza-escuro. As sementes são em grande número, com comprimento variando de 6 a 9 cm, de cor creme, arredondadas, planas, aladas e onduladas (Almeida et al., 1998). Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne, 1830, conhecida como jatobá, também ocorre em áreas de cerrado sentido restrito e cerradão. O período de floração vai de outubro a abril com pico de dezembro a março. A frutificação ocorre de abril a julho. Árvore hermafrodita de até 10 m, com casca do tronco áspera. As folhas são alternas, compostas bifolioladas, pecioladas, com estípulas caducas. As flores variam de 2 a 3,5 cm, de corola alva e actinomorfa. O fruto é um legume indeiscente com cerca de 15 x 6 cm, breveestipitado, castanho-avermelhado, brilhante; endocarpo e mesocarpo creme, farináceo; sementes em pequeno número, com cerca de 1,5 x 2 cm (Almeida et al., 1998). MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área de estudo e das espécies O estudo foi conduzido em uma área de cerrado sentido restrito, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), Goiás, em Outubro de 2002. O Parque foi criado em 1970 e está localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, no Sudeste Goiano. Possui uma área de 123 km2 em formato elipse, sendo o topo constituído de um grande platô, as laterais com encostas que formam muralhas naturais, e o sopé da serra fazendo divisão com fazendas e loteamentos urbanos (Mariana Lima, dados não publicados). Aspidosperma macrocarpon Mart., 1824, também conhecida como guatambu, ocorre em áreas de cerrado sentido restrito e cerradão. A floração ocorre de agosto a outubro, e a frutificação principalmente entre março e junho (época seca), após longo período de maturação. As árvores são hermafroditas e atingem alturas de até 15 m, e os troncos e ramos são suberosos. As folhas são alternas, simples e pecioladas. Suas flores são actinomorfas, com cerca de 1,5 cm, corola branca e tubulosa. Os frutos são em forma de folículo, com até 18 cm de Metodologia Foram escolhidos aleatoriamente em uma área de cerrado sentido restrito, nove indivíduos adultos (plantas-mãe) de H. stigonocarpa e três de A. macrocarpon (em frutificação e dispersão), distantes pelo menos 50 m entre si. Foram medidas a altura, a circunferência ao nível do solo (CNS) e o raio da copa de cada indivíduo. Em torno dos indivíduos de H. stigonocarpa foram amostradas todas as plantas jovens da espécie nas proximidades, sendo medidas a altura, a CNS, a distância e a inclinação em relação à base do tronco da planta-mãe, por meio de vara graduada, fita métrica, trena e bússola, respectivamente. Essas plantas jovens foram consideradas como prováveis progênies do indivíduo adulto. Para A. macrocarpon foram amostradas todas as sementes dispersas nas proximidades dos indivíduos adultos, sendo verificadas as condições quanto à predação e medidas a distância e a inclinação dessas em relação às plantas-mãe, com auxílio de trena e bússola, respectivamente. Posteriormente, as medidas de distância e inclinação das plantas jovens e sementes 168 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 foram plotadas em relação às plantas-mãe por meio do programa Autocad versão 14, para confecção de mapas de distribuição espacial. Em laboratório, as sementes foram submetidas à medição de massa em balança de precisão. A área dessas também foi estimada por aproximação da área da elipse, segundo a seguinte fórmula: Área =π × (R2 + r2)-2 Projetos Finais (UFU) Para as duas espécies estudadas foi feito o mapeamento das sementes e dos indivíduos jovens distribuídos espacialmente em torno das plantas-mãe (Figs. 1 e 2). Apenas com os dados de distância e inclinação, e auxílio do programa Autocad, foi possível confeccionar mapas de maneira eficiente e satisfatória. Para os indivíduos de H. stigonocarpa estudados, a densidade de plantas jovens estava correlacionada significativamente com a distância das plantas-mãe (R = -0,94, N = 28, p = 0,0053). A circunferência ao nível do solo (CNS) dos jovens também estava correlacionada significativamente com a distância (R = 0,38, N = 28, p = 0,0469). Por outro lado, não houve correlação significativa entre a altura e a distância (R = 0,24, N = 28, p > 0,05). Tais resultados evidenciam que os efeitos dependentes da densidade e da distância estão operando e, que, com o aumento da distância, o porte dos jovens aumenta (considerando apenas o CNS), demonstrando que deve haver uma maior facilidade para o estabelecimento com o aumento da distância. Resultado semelhante foi obtido por Clark & Clark (1984) para Dipteryx panamensis, relativo aos efeitos dependentes da densidade e distância por meio do monitoramento da mortalidade e distribuição espacial de plântulas. Para os indivíduos de A. macrocarpon estudados, a densidade de sementes correlacionou significativamente com a distância (R = -0,92, N = 85, p = 0,0251). A massa e a área das sementes correlacionou significativamente com a distância (R = 0,26, N = 85, p = 0,0162 e R = -0,30, N = 85, p = 0,0056, respectivamente). Não houve correlação entre massa e área das sementes (R = -0,06, N = 85, p >0,05). A alta correlação entre densidade e distância permite concluir que, mesmo com a dispersão anemocórica, com sementes leves e aladas, a chuva de sementes está concentrada nas proximidades da planta-mãe. As baixas ; Onde: R = raio maior da elipse = raio menor da elipse Análise dos rdados H. stigonocarpa Para o cálculo da densidade de plantas jovens, foram determinados seis intervalos de distância de 6 em 6 m a partir do tronco das plantas-mãe, em que essas plantas foram contadas. As análises de regressão linear simples foram realizadas para densidade e distância da planta-mãe, CNS e distância, e para altura e distância, por meio do programa Prophet versão 5. A distância de 6 m para cada intervalo foi escolhida porque os raios das copas dos nove indivíduos adultos variou de 4 a 7 m. Desse modo, o primeiro intervalo de distância equivaleu ao raio médio de projeção das copas. A. macrocarpon Para o cálculo da densidade de sementes, foram determinados cinco intervalos de distância de 3 em 3 m a partir do tronco dos indivíduos adultos. Em cada um dessas faixas de distância foram feitas contagens e numerações de todas as sementes. Foram realizadas análises de regressão linear simples entre densidade e distância da planta-mãe, massa da semente e distância, e área da semente e distância, utilizando o programa Prophet versão 5. A distância de 3 m foi escolhida por se referir ao raio médio da projeção da copa dos três adultos analisados. RESULTADOS E DISCUSSÃO 169 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 correlações de massa e área das sementes com a distância, bem como a falta de correlação entre massa e área, demonstram que não existe relação entre a distância de dispersão e o tipo de semente, diferentemente do padrão encontrado por Muniz & Cardoso (dados não publicados) para sementes de Terminalia phaeocarpa. Não foram encontrados danos por predação e nem doenças nas sementes, indicando provavelmente, que a coleta das mesmas pode ter sido realizada recente à dispersão. Uma outra possível explicação, é que a região sofreu queimada alguns dias antes da coleta de dados, podendo, assim, ter sido o fator de desequilíbrio para as populações de predadores e patógenos específicos. Para ambas espécies a densidade de indivíduos jovens e sementes correlacionou negativa e significativamente com a distância. Para H. stigonocarpa, tal resultado permite concluir que os efeitos dependentes da densidade e da distância podem estar operando e que, o padrão atual de distribuição dos adultos é resultado do padrão de mortalidade das sementes e/ou plântulas no passado (Augspurger, 1984). Neste sentido, verifica-se que a hipótese de fuga (Howe & Smallwood, 1982) pode estar operando neste caso, uma vez que há poucos indivíduos jovens nas proximidades da planta-mãe. Para A. macrocarpon não se deve tirar as mesmas conclusões pelo fato de apenas sementes terem sido analisadas. As sementes dispersas não indicam que todas darão origem a indivíduos estabelecidos no futuro. Portanto, o padrão de distribuição encontrado para as sementes nesse estudo permite apenas deduzir que, os efeitos dependentes de densidade e da distância provavelmente são válidos para essa espécie. Desse modo, estudos futuros envolvendo indivíduos jovens em torno de plantas-mãe de A. macrocarpon poderiam ser mais eficientes para testar as predições do modelo de Janzen-Connell. Os resultados do presente estudo para H. stigonocarpa suportam o modelo de Janzen-Connell. Cintra (1997), porém, ressalta que o mapeamento estático de Projetos Finais (UFU) plântulas e indivíduos jovens em torno das plantas-mãe não provê um teste direto desse modelo, por ignorar as possibilidades de mudanças nos padrões espaciais de ambos devido a alterações temporais dos padrões de recrutamento e mortalidade. Contudo, o mapeamento realizado no presente estudo permitiu detectar de maneira rápida e eficiente os efeitos que operam sobre os indivíduos segundo a distribuição espacial. A manutenção da alta diversidade de espécies vegetais nas florestas tropicais úmidas e nos cerrados, provavelmente é regida pelas mesmas leis. O modelo de Janzen-Connell é uma tentativa de explicar esse fato e, dentre muitos (Burkey, 1994), é o mais conhecido. Sendo assim, há extrema necessidade de mais estudos para outras espécies, outras localidades, e em diferentes escalas temporais e espaciais sobre o teste desse modelo. AGRADECIMENTOS Agradeço ao nosso Coordenador do Programa de Pós-Graduação, Profº Dr. Paulo E. Oliveira, pelo fundamental apoio em todos os momentos do Curso; ao meu orientador, Profº Dr. Ivan Schiavini; aos Professores: Dr. Glein M. Araújo, Dr. Heraldo Vasconcelos, Dr. John Hay, Dr. Jader Marinho, Dr. Fernando Pedroni; aos colegas da UNB (Patrícia, Ernestino, Caio e Otacílio) e aos demais colegas do Mestrado em Ecologia da UFU. Agradeço ainda aos funcionários do PESCAN, aos motoristas da UFU e UNB, à cozinheira (D. Eunice); e à CAPES pelo auxílio. LITERATURA CITADA ALMEIDA, S.P., PROENÇA, C.E.B., SANO, S.M., RIBEIRO, J.F. 1998. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: Embrapa CPAC. 464 p. AUGSPURGER, C.K. 1983. Seed dispersal by the tropical tree, Platypodium elegans, and the escape of its seedlings from fungal pathogens. Journal of Ecology 71: 759-771. 170 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) animals and in rain forest tree. In: BOER, P.J. den & GRADWELL, G.R. (eds.) Dynamics of populatons. Centre for Agricultural Publishing and Documentation, Wageningen. 298 – 312 pp. AUGSPURGER, C.K. 1984. Seedling survival among tropical tree species: interactions of dispersal distance, light gaps and pathogens. Ecology 65: 17051712. AUGSPURGER, C.K. & KELLY, C.K. 1984. Pathogen mortality of tropical tree seedlings: experimental studies of the effects of dispersal distance, seedling density, and light conditions. Oecologia 61: 211-217. EITEN, G. 1993. Vegetação do Cerrado. In: Novaes Pinto, M. (org.). 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Flávio Rodrigues Oliveira INTRODUÇÃO Em ambientes tropicais, muito tem sido pesquisado sobre as interações herbívoro planta (Coley & Barone 1996). De uma maneira geral, insetos herbívoros podem utilizar-se de todos os tipos de tecidos vegetais, provocando vários danos às plantas (Crawley 1983). Herbívoros mastigadores causam elevados danos foliares, destruindo em grande parte a área fotossintética das folhas (Coley & Barone 1996; Edwards & Wratten 1981), comprometendo o desenvolvimento da espécie hospedeira. Os sugadores podem até mesmo matar a planta drenando seus carboidratos e, também, reduzindo o crescimento e produção de sementes. Em virtude dos danos causados pelos herbívoros às plantas, estas desenvolveram diferentes estratégias em resposta a ação desses consumidores primários (Begon et al., 1986; Crawley 1983; Gullan & Cranston 1994). Os mecanismos antiherbivoria compreendem as seguintes categorias: defesas mecânicas ou morfológicas (dureza da folha e presença de tricomas, espinhos e látex) (Davidson et al., 1989; Paleari & Santos 1998); defesas químicas (compostos secundários como alcalóides e taninos) (Edwards & Wratten 1981) e defesas bióticas (associação com organismos, principalmente interações homópteros/planta/formiga e planta/formiga) (Coley & Aide 1991 apud Price 1991; Del-claro et al, 1996; Del-Claro & Oliveira 1999; Oliveira et al, 1987). Um grande número de substâncias secundárias foi caracterizado em plantas (Bernays & Chapman 1994). É pensado que muitas destas substâncias possui relevante papel em defesa contra herbívoros e, para muitos isso foi experimentalmente confirmado (Agrawal 1998; Agrawal et al, 1999; Harbone 1987, Karban & Baldwin 1997). A produção e liberação de substâncias seguido de dano foliar são muito comuns na maioria das espécies vegetais (Agrawal 2000). Quando um herbívoro causa danos nas folhas, a planta induz respostas defensivas pela produção de compostos secundários (Dicke 2000; Karban & Baldwin 1997). Trabalhos realizados com Cecropia obtusifolia demonstraram que formigas do gênero Azteca são recrutadas com maior intensidade em folhas que apresentam maiores intensidades de herbivoria (Agrawal 1998). Este autor sugere que as formigas são capazes de reconhecer e responder a sinais químicos liberados pela planta quando esta é atacada, desta forma, um potencial herbívoro é facilmente encontrado pelas formigas. O objetivo deste estudo foi testar a hipótese de que plantas atacadas por herbívoros emitem substâncias voláteis de atratividade para insetos predadores. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo e espécie Este estudo foi realizado nos períodos matutino (08:00 – 12:30h) e vespertino (15:00 – 19:00h) de 29 de setembro a 02 de outubro de 2002, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCAN), GO, situado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente/GO. Curatela americana (Dilleniaceae) é uma planta arbustivoarbórea, possuindo folhas coreáceas. Experimentação 175 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) Formigas podem responder ao estímulo de um dano foliar causado por estímulos físicos, ou por reconhecimento de informações químicas provindas de voláteis emitidos pelas plantas. Para testar esta última hipótese, 120 plantas com mesmas condições fenológicas receberam discos de papel filtro auto-adesivo (2,5mm diam.), totalizando 60 pares experimentais (tratamento/controle). As plantas de cada par experimental distavam entre si de dois a cinco metros de distância, esta medida foi tomada para controlar todas as variáveis possíveis que viesse a interferir no experimento. Em ambas as plantas os discos foram postos na superfície adaxial de folhas jovens avermelhadas, distantes a 01cm do ápice foliar. As plantas tratamento receberam uma gota de solução de macerado (folhas jovens + água destilada) de Curatela americana. As plantas controle receberam apenas uma gota de água destilada. Foram feitas observações diretas durante 20 minutos por par experimental, 10 minutos por planta (primeiro tratamento, seguido por controle), totalizando 20 horas. Para identificação do estímulo químico por parte de insetos predadores, tomou-se como parâmetro um raio de 40cm à posição do disco, ou seja, qual quer predador que se aproximasse do raio de ação dos voláteis foi quantificado. Após cada observação, os discos eram retirados para se evitar interferências no próximo par experimental. em um único saco plástico, lavadas com água destilada para se retirar às impurezas, secas em temperatura ambiente por dois minutos. O material foi submetido à trituração manual com 30ml de água destilada por 15min, seguido de filtração em malha fina, e em um balão volumétrico completado até 50ml e guardado em frasco de vidro opaco previamente esterilizado. RESULTADOS Um total de 109 formigas, pertencentes a dez espécies foi encontradas (Tabela 1). As formigas foram mais abundantes nas plantas tratamento com 74,31% de patrulhamento. O gênero Camponotus foi o mais presente em ambas plantas (53,08% plantas tratamento e 60,71% em plantas controle). Embora as formigas tenham ocorrido e ambas as plantas, somente nas tratamento foi observado a presença de outros artrópodes predadores (Tabela 2). As plantas tratamento tiveram maior percentagem de predadores (77,34%) (Figura 1). Houve diferença significativa (P < 0,05, Wilcoxon para medidas pareadas) entre plantas tratamento (1,65 ± 1,76) e plantas controle (0,48 ± 0,85) (Figura 2). Obtenção do extrato de Curatela americana A solução com extrato de Curatela americana fora obtida por meio de um macerado de 5g de folhas jovens (peso fresco) mais 50ml de água destilada. Foram escolhidas folhas integras de cor avermelhada, sem sinais de herbivoria, com área foliar de até 5cm2 (medidos com area meter CI 205). Foram retiradas 12 folhas de 10 árvores, com mesmas condições fenológicas, de quatro quadrantes imaginários. Todas foram condicionadas DISCUSSÃO Segundo Oliveira & Brandão (1991), a presença marcante do gênero Camponotus é comum em plantas, tanto em regiões tropicais como temperadas. Camponotus encontra-se entre os gêneros mais prevalentes em escala mundial, porque possuem diferentes adaptações para vários tipos de ambientes (Höldobler & Wilson 1990; Del-Claro et al., 1996; Del-Claro 1998; Wilson 1971). Diferentes espécies de formigas podem conferir um benefício diferencial às plantas com as quais estão Análises estatísticas Todo o estudo foi conduzido com um desenho experimental pareado, sem sobreposição de réplicas (plantas) entre um tratamento e outro. Foi utilizado teste de Wilcoxon para medidas pareadas. 176 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) associadas na vegetação de cerrado. Esses resultados condicionais em associações interespecíficas ocorrem também em outros ecossistemas (Bronstein 1994, 1998). Este experimento que simula dano foliar com emissão de voláteis demonstrou, que as formigas são capazes de reconhecer odores liberados pelas plantas quando estas sofrem ataque. Agrawal (1998), estudando um sistema Azteca-Cecropia, demonstrou experimentalmente que formigas respondem mais rapidamente em folhas que foram danificadas do que aquelas que não sofreram danos. Embora tenha ocorrido um maior percentual de formigas sendo atraídas ao extrato de Curatela americana, outros predadores também foram observados, evidenciando que o sinal químico não é espécie-específica. Nos sete casos em que foram observados indivíduos da família Reduviidae sobrevoando o disco com emissão química, estas observações só ocorreram mediante ação eólica, visto que tais predadores se dirigiram às plantas no sentido contrário ao dos ventos, o que evidencia que a ação dos voláteis é condicionada por ações abióticas. Também foi observado que a variação de temperatura (horários mais quente do dia), a aproximação de possíveis predadores era reduzida. Este fato talvez se deva à rápida volatilização do extrato em decorrência do aumento da temperatura por incidência solar. Embora muito menor, a aproximação de formigas aos discos controles, pode ser interpretada pela orientação visual destes insetos, visto que a coloração branca de cada disco se sobressaiu sobre um fundo avermelhado. As plantas estão sujeitas a danos provocados por ações tanto bióticas como abióticas e, em ambos os casos são emitidos voláteis de sinalização. O que diferenciará a eficiência de um sinal do outro será a presença ou não de um potencial herbívoro. Sou muito grato aos funcionários do Parque Estadual Serra de Caldas Novas pela agradável acolhida, em principal a Alessandro Belisário, diretor do Parque. A todos os professores que passaram pelo curso de campo, em especial ao Prof. Dr. John Hay por ter nós acompanhado por quase todo o curso. Um agradecimento especial a Dona Eunice por ter “engordado” todos os alunos e professores. Também agradeço ao amigo Cláudio F. Muniz pela companhia no campo, pelas risadas e, principalmente, apoio estatístico. A todos os novos amigos de Brasília e a Pedro (Bob) e, aos amigos da UFU. A Glauco Machado e Jader Marinho pelas sugestões no experimento. AGRADECIMENTOS BROSTEIN J. L. 1998. The contribution of ant-plant protection studies to our LITERATURA CITADA AGRAWAL A. A. 2000. Mechanisms, ecological consequences and agricultural implications of tri-trophic interactions. Plant Biology, 3: 329-335. AGRAWAL A. A., LAFORSCH C; TOLLRLAN R. 1999. Transgenerational induction of defenses in animals and plants. Nature, 401 (2): 60-63. AGRAWAL A. A. 1998. Leaf damage and associated cues induce aggressive ant recruitment in a neotropical ant-plant. Ecology79: 2100-2112. BEGON M., HARPER J. L., TOWSEND C. R. 1986. Ecology; Individualis, populations and communities. London: Blacwell Science, 876 p. BERNAYS E. A., CHAPMAM R. L. Hostplant selection by phytophagous insects. Chapman and Hall: New York. BRONSTEIN J. L. 1994. Conditional outcomes in mutualistic interactions. Trends Ecol. 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Tabela 1 – Quantidade de formigas por espécie observadas nas plantas tratamento e controle, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de 2002. PLANTAS ESPÉCIES TRATAMENTO CONTROLE Camponotus crassus 27 10 Camponotus rufpes 11 07 Camponotus sp1 04 00 Camponotus sp2 01 00 Cephalotes sp 17 03 Crematogaster sp 07 07 Pheidole sp 03 00 Pseudomyrmex sp1 07 01 Pseudomyrmex sp2 03 00 Pseudomyrmex sp3 01 00 81 28 TOTAL Tabela 2 – Outros artrópodes observados próximos aos discos tratamento, no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de 2002. ARTRÓPODES OBSERVADOS PLANTAS TRATAMENTO Insecta Diptera Hemiptera (Reduviidae)* Hymenoptera (Vespidae)* Mantódea Arachinidae Salticidae** (*) Foram observados sobrevoando o disco tratamento. (**) Foram observados sobre o disco tratamento. 179 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 % Predadores Projetos Finais (UFU) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 TRATAMENTO CONTROLE Plantas Figura q. Porcentagem de predadores observados nas plantas de Curatella americana no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de 2002. 180 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) 4 3 2 1 0 ±Std. Dev. -1 ±Std. Err. TRATAMENTO CONTROLE Mean PLANTAS Figura 2. Wilcoxon para pareamento experimental entre plantas tratamento e controle no Parque Estadual Serra de Caldas Novas, GO, no período de 29 de setembro a 02 de outubro de 2002. 181 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) PREDAÇÃO DE SEMENTES DE JATOBÁ DO CERRADO, HYMENAEA STIGONOCARPA MART. EX HAYNE (LEGUMINOSAE – CAESALPINOIDEAE) Hélder Nagai Consolaro fauna local. Assim, o objetivo deste trabalho foi investigar a predação de sementes de frutos de jatobá em fase prédispersão. INTRODUÇÃO A estrutura das comunidades e suas populações são reguladas pela competição, predação, disponibilidade de recurso e fatores abióticos (Begon et al., 1996). Frutos, flores e sementes, por concentrarem nutrientes como carboidratos, proteínas, lipídeos e minerais são procurados por diversos animais, principalmente insetos (Lacerda et al., 2000, Fenner, 2002). Existem alguns insetos, principalmente besouros, que são capazes de aproveitar efetivamente os frutos e predar as sementes, tornado-as inviáveis (Lopes, 1997). A intensidade e o padrão deste tipo de predação podem afetar diretamente a biologia de populações de fanerógamas (Janzen, 1970). Dentre o enorme número de sementes que podem ser produzidas durante o ciclo de vida de uma planta, apenas uma pequena proporção sobrevive até o estabelecimento ao estágio adulto; a grande maioria sucumbe a predadores e/ou patógenos antes da germinação ou no estágio de plântula (Shepherd & Chapman, 1998). Os efeitos positivos e negativos proporcionados direta e indiretamente pela predação e competição são responsáveis por uma gama de situações com diferentes combinações entre predadores e presas (Etherington, 1976). Vários estudos discutem algumas possíveis respostas evolutivas de plantas contra predação (Wilson & Janzen, 1972; Center & Johnson, 1974; Fernandes & Whithan, 1989; apud Lomônaco, 1994). O jatobá do cerrado, Hymenaea stigonocarpa (Leguminosae – Caesalpinoideae), produz uma grande quantidade de frutos, servindo assim, como uma importante fonte de recurso para a MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no mês de setembro de 2002 no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN) localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente - GO, sendo a área caracterizada por um cerrado sentido restrito. Foram coletados frutos em pré-dispersão de cinco indivíduos adultos de Hymenaea stigonocarpa (jatobá do cerrado, Leguminosae – Caesalpinoideae). Em três indivíduos foram recolhidos todos os frutos, devido o pequeno número de frutos presentes, variando, assim o número de frutos analisados entre os indivíduos. Em laboratório foram coletados todos os invertebrados encontrados no interior dos frutos e das sementes e anotadas as seguintes medidas: peso e comprimento dos frutos, número de sementes por fruto e o número de predadores por semente. Utilizou-se o Índice de correlação de Pearson com o auxílio do programa BioEstat 2.0. RESULTADOS Foram coletados, em cinco indivíduos de jatobá do cerrado 47 frutos em pré-dispersão. O número total de sementes foi de 275, perfazendo uma média de 5.85 (± 2.53) sementes por fruto. O número de sementes por fruto apresentou uma correlação significativa com o tamanho do fruto (r=0.74; p=0.0000 - 182 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Figura 1). O tamanho médio dos frutos foi de 14.79cm (± 3.28). As sementes apresentaram tamanho relativamente grande com uma aparente recompensa energética. Não foi encontrada significância na correlação comprimento do fruto e número de predadores. Foram averiguados três espécies de possíveis predadores: Anthonomus biplagiatus (Curculionidae, Coleoptera), Pseudomyrmex sp. (Formicidae, Formicinae) e uma espécie de Blattaria. O número total de predadores foi de 256, perfazendo uma média de predadores por fruto de 5.44 (±7.16). A proporção número de sementes analisadas e número total de predadores encontrados aproxima-se da relação 1:1, entretanto eles foram responsáveis por apenas 40.36% das sementes predadas. Foi considerado como predador em potencial somente A. biplagiatus. Anthonomus biplagiatus foi encontrado em estágio larval (154), pupa (90) e adulto (12). Dentre as sementes, 164 (59.63%) não apresentaram nenhum tipo de predador (sementes viáveis), 50 (18.18) apresentaram um tipo, 18 (6.54) apresentaram dois, 21 (7.63) três, 8 (2.9) quatro, 9 (3.27) cinco, 4 (1.45) 6 e 1 (0.36) sete (Figura 2). O número de sementes por fruto não apresentou uma correlação significativa com o número de sementes predadas. Projetos Finais (UFU) dessecação, predadores e parasitas (Clark & Martíns, 1987). O jatobá é uma espécie que investe na produção de numerosos frutos grandes com poucas sementes e com recompensa aos seus dispersores (Lopes, 1997). Respostas evolutivas de plantas contra predação são discutidas em vários trabalhos. Apesar de H. stignocarpa produzir apenas sementes grandes e em pequena quantidade seu investimento na produção de numerosos frutos corroboram com uma das estratégias de defesas antipredação elaboradas por Janzen (1971); saciação do predador, na qual a produção de sementes é superior à capacidade de consumo dos predadores. Os numerosos frutos grandes, aliado com a alta resistência da casca à penetração, possivelmente aumenta e eficácia deste mecanismo de defesa. O tamanho dos frutos e o número de sementes, possivelmente não foram os atrativos aos Curculionídeos. A atração foi tida, provavelmente, pelo número de frutos por indivíduo (disponibilidade de recurso). O grande tamanho, consistência flexível e a alta oferta energética das sementes de H. stigonocarpa parece beneficiar a ação dos predadores, possibilitando a deposição de mais de uma larva por semente. A preferência por sementes grandes para predação é citada por Smith (1975) como um dos padrões pelos quais predadores interagem com sementes. Isso pode ter implicações na quantidade de recursos necessários e disponíveis à sobrevivência destes insetos (Lomônaco, 1994). Entretanto, a maioria das sementes predadas foi encontrado apenas um predador, devido, possivelmente o recurso não se tornar um fator limitante e conseqüentemente não ocorrer competição intraespecífica. Segundo Forget et al. 1994, besouros atacam sementes em diferentes proporções conforme o habitat e o período do ano. A consideração de Anthonomus biplagiatus. como o predador em potencial está relacionado a ele ser o único encontrado danificando e alocando as sementes em DISCUSSÃO Larvae de Anthonomus biplagiatus alimentam-se de sementes e botões florais de seus hospedeiros. Adultos também foram registrados em frutos de Kielmeyera nos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Outros estudos indicam forte grau de relação na especificidade de hospedagem de Coleopteras, incluindo trabalhos de Martíns (1971) para Cerambycidae e Lewinsohn (1980) para Cryptorrynchine (Curculionidae) associado com Hymenea (Leguminosae apud Clark & Martíns, 1987). Este comportamento, provavelmente garante proteção contra 183 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 todos os seus estágios do ciclo de vida. Os outros não foram considerados predadores, devido eles não estarem danificando nem utilizando nenhuma das sementes, além deles, possivelmente proporcionarem um benefício à planta quando ingerem a polpa do fruto e deixam as sementes limpas para germinação (Pedroni, F. com. pess.) A não significância entre o número de sementes por fruto e o número de sementes predadas mostra para a planta, uma vantagem em investir no aumento do número de sementes por fruto, já que elas não foram os atrativos para os predadores. A predação é um tipo de interação que pode influenciar a organização de uma comunidade, podendo restringir a distribuição e a abundância de uma população, sendo uma importante força seletiva (Janzen, 1970). Isso pode estar acontecendo com esta espécie, já que durante a coleta dos frutos não foram observadas plântulas, da mesma espécie, próximas aos indivíduos adultos. Projetos Finais (UFU) ETHERINGTON, J. R., 1976. Environment and Plant Ecology. Wiley Manchester 2° Ed. FENNER, M.; CRESSWELL, J. E., HURLEY, R. A. & BALDWIN T., 2002. Relationship between capitulum size and pre-dispersal seed predation by insect larvae in common Asteraceae. Oecologia 130: 72-77. FORGET, P. M., MUNHOZ, E. & LEIGHT, E. G., 1994. Predation by Rodents and Bruchid Beetles os Seed os Sheelea Palms on Barro Colorado Island, Panama. Biotropica 26: 420-427. JANZEN, D. H., 1970. Herbivores and the number of tree species in tropical forest. Am. Nat. 1047: 501-528. JANZEN, D. H., 1971. Seed predation by animals. 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Coevolution of animals and plants. Austin, Texas University Press. p. 53-77. AGRADECIMENTOS Agradeço aos integrantes do Curso de Campo por suportarem o odor super agradável do Jatobá, aos amigos Caio Rébula, Marcela Yamamoto e Carlos Henrique Angeluci pela identificação dos invertebrados, ao Prof° Dr° Jader MarinhoFilho e ao Prof° Dr° Fernando Pedroni pela orientação do projeto e ao amigo Pedro C. Estrela (Bob) pelas dicas no decorrer do trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEGON, M., MORTIMER, M. & THOMPSON, D. J., 1996. Population Ecology – A unified study of animals and plants. Blackwell Science 3° Ed. 247p. CLARK, W. E. & MARTÍNS, R. P., 1987. Anthonomus biplagiatus Redtenbacher (Coleoptera: Curculionidae), a brazilian weevil associated with Kielmeyera (Guttiferae). The Coleopterists Bulletin 41 (2): 157-164. 184 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) 14 12 10 8 no de se/es 6 4 2 0 0 5 10 15 20 25 comprimento do fruto (cm) Figura 1 - Relação entre comprimento do fruto e o número de sementes (r=0.74, p=0.0000) em frutos de Jatobá do cerrado (Hymenaea stigonocarpa) no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN). 185 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) 180 Número total de sementes 160 140 120 100 80 60 40 20 0 0 1 2 3 4 5 6 7 Número de predadores por semente Figura 2 - Número de predadores por semente pelo número total de sementes em frutos de Jatobá do cerrado (Hymenaea stigonocarpa) no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN). 186 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) COMPORTAMENTO TERRITORIAL DE EUPETOMENA MACROURA GMELIN (APODIFORME) EM NORANTEA ADAMANTIUM CAMB. (MARCGRAVIACEAE) Jania Cabrelli Salles (UFU) INTRODUÇÃO As Angiospermas parecem ter evoluído numa estreita dependência em relação a diversos grupos animais, para sua polinização e dispersão, o que caracteriza certo grau de adaptação mutualística. Enquanto que para as plantas, a polinização é uma maneira de aumentar o fluxo gênico, do ponto de vista animal, ela é apenas uma conseqüência da obtenção de um recurso. Dessa forma, as plantas precisam otimizar as visitas dos polinizadores. E, as adaptações necessárias para garantir o sucesso desse mutualismo requerem certos custos, como a produção de néctar (Oliveira 1998). A polinização por animais predomina em ambientes tropicais, sendo os invertebrados os principais polinizadores de plantas nesses ambientes. Dentre os vertebrados, flores polinizadas por beijaflores são importante componente das comunidades, compreendendo 2 – 15% das espécies em ambientes florestais do sudeste e do Cerrado brasileiro e na América Central (Araujo 2001). Os beija-flores são aves nectarívoras especializadas. Além de néctar, a dieta desses animais é complementada por pequenos invertebrados, que garantem o suprimento de aminoácidos e outros compostos necessários ao metabolismo (Baker &Baker 1980 apud Oliveira 1998). As plantas adaptadas à polinização por beija-flores apresentam características que as incluem na “síndrome de ornitofilia”, como flores tubulares, vistosas, inodoras e com alta concentração de néctar. Porém, existe um pequeno número de flores tipicamente ornitófilas nas formações de Cerrado (Oliveira 1998). Entretanto, de acordo com Oliveira (1991 apud Oliveira 1998), os beija-flores podem visitar várias espécies de plantas do Cerrado de maneira oportunística. A apresentação de recursos no espaço e no tempo influencia o comportamento dos visitantes, sua permanência na área e o tamanho da população que pode sobreviver daqueles recursos (Gass & Sutherland 1985). De forma específica, os beija-flores apresentam formas diferentes de utilização dos recursos de acordo com as diferentes estratégias reprodutivas apresentadas pelas espécies vegetais do Cerrado (Oliveira 1994). Além da disponibilidade de recursos, a evolução dos comportamentos de forrageamento da maioria dos beija-flores é também influenciada pela interação com outros beija-flores (Oliveira 1998). Existe um alto grau de interdependência entre as variáveis morfológicas, que determinam o comportamento de exploração dos recursos. O tamanho corporal afeta no requerimento total de energia de uma ave e, entretanto, influencia na escolha em relação aos tipos de flores. Onde a competição por interferência existe, o tamanho do corpo, por si, tem afetado a dominância em relação a outras espécies e, conseqüentemente, sua habilidade para obter néctar (Feinsinger & Colwell 1978). Decisões sobre os custos e benefícios são relevantes para animais que forrageiam individualmente, como os beijaflores, influenciando na escolha do tipo de exploração a ser realizado, seja defendendo um território ou seguindo um circuito de 187 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 forrageamento. De forma geral, os beijaflores são classificados como “trapliners”, territorialistas ou parasitas de território. Os “trapliners” são aqueles que seguem um circuito, forrageando entre flores dispersas e ricas em néctar, tendo, então, acesso à energia abundante. Os territorialistas dominam uma área de flores agrupadas e ricas em néctar, defendendo-a de competidores. Os parasitas de território, também chamados de pilhadores, exploram zonas inacessíveis ou invisíveis ao territorialista residente de uma área (Feinsinger & Colwell 1978). A defesa de recursos é um tipo de competição que aparece sob a denominação de interferência, quando a interação entre os competidores provoca a redução na eficiência de procura ou de consumo de recursos. Dessa forma, a defesa envolve custos, tais como gasto de energia e risco de injúria, bem como os benefícios da prioridade do acesso ao recurso (Krebs & Davies 1996). A evolução dos padrões de forrageamento provém uma oportunidade para estudos de como e porquê os animais se movimentam em relação à fonte de recursos (Baum & Grant 2001). Esta idéia fez com que os estudos de campo enfocassem com mais detalhes o balanço temporal dos animais territoriais, em particular os territórios de alimentação das aves nectarívoras (Krebs & Davies 1996). Com base nisso, o objetivo deste estudo foi determinar o tempo de exibição de comportamentos de forrageamento e de defesa de território do beija-flor Eupetomena macroura e, a partir da disponibilidade de néctar oferecida por um indivíduo de Norantea adamantium, verificar as vantagens destes comportamentos. Projetos Finais (UFU) Goiás. A coleta dos dados aconteceu no final do mês de setembro e início de outubro de 2002, por sete dias, sendo quatro manhãs (com duração de 240 minutos cada) e três tardes (com duração de 120, 75 e 105 minutos), totalizando1260 minutos (21 horas) de observação. Eupetomena macroura é um representante da família Trochilidae (subfamília Trochilinae), comum em regiões de campo e de mata da maior parte do Brasil. Apresenta grande porte, coloração escura brilhante e cauda fortemente bifurcada, mais comprida que o resto do corpo (Grantsau 1989). Norantea é um gênero de plantas arbóreas da família Marcgraviaceae, típico de áreas com solo raso, pedregoso. Apresenta grandes inflorescências do tipo cacho, sendo cada pedúnculo floral provido de uma bráctea altamente modificada, que tem a forma de uma pequena jarra, a qual produz néctar por ocasião da ântese (Joly 1976). Foram registrados horário, duração e freqüência de visitas aos nectários, caracterizadas como comportamento de forrageamento, e, também, dos comportamentos de defesa de território. Os atos comportamentais de defesa foram divididos em alerta (vigilância da mancha de recurso) e exclusão de competidores (outros beija-flores). Os tempos de forrageamento, alerta e exclusão foram quantificados em segundos, com a utilização de cronômetro, e, posteriormente, convertidos em minutos. Com relação à planta, foram realizadas medições de volume e concentração de néctar, com a utilização de uma seringa e de um refratômetro de bolso, respectivamente. Tais medidas foram tomadas sempre no início, meio e fim dos períodos de observações da parte da manhã e no início e fim dos períodos da parte da tarde. Foram, também, feitas estimativas do número de inflorescências e de flores abertas para todos os dias. A partir dessas medidas, foi calculado o conteúdo energético do néctar. METODOLOGIA O presente estudo foi realizado numa área de cerrado (sentido restrito), no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (PESCAN), localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, estado de 188 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 As médias de volume e concentração foram utilizadas para calcular a quantidade de recompensa em calorias por flor. Para o cálculo de calorias foi usada a tabela de conversão apresentada por Kearns & Inouye (1993), onde: % de açúcar (g açúcar / g solução) = g açúcar / l néctar Para transformar mg de açúcar em calorias, foi usada a relação apresentada por Dafni (1992): 1 mg açúcar = 4 calorias Estes valores foram multiplicados pelo número de flores abertas por dia de amostragem. Projetos Finais (UFU) período vespertino (7,5 visitas por hora). A Tabela 1 mostra o tempo médio gasto para cada visita em cada período de observação, sendo a média igual a 0,24 minuto (14,4 segundos). Considerou-se, porém, que uma visita incluía a exploração de um número variável de nectários. Machado & Sazima (1995) observaram que as visitas do E. macroura eram breves (cerca de 2 segundos) e que, em geral, visitava 20 flores em seqüência, pousando em seguida sobre ramos de plantas nas proximidades. Após períodos variáveis, retomava as visitas ou perseguia outras espécies de beija-flores que se aproximavam. Estudos de campo mostram que as aves territoriais precisam de menos tempo por dia na coleta de energia suficiente. Defendendo um território, uma ave exclui outros consumidores de néctar e, assim, promove o aumento da quantidade de néctar disponível em cada flor. Portanto, a ave economiza tempo de forrageio porque pode satisfazer suas demandas energéticas mais rapidamente. Ela gasta o tempo que sobra em um poleiro e, assim, usa menos energia do que no forrageio (Krebs & Davies 1996). Resultados e discussão O Eupetomena macroura gastou, em média, cerca de 96% do tempo em comportamento de alerta (Figura 1). Tal comportamento foi caracterizado, principalmente, pelo seu posicionamento sobre os ramos mais elevados da planta e sobre árvores circunvizinhas, de modo a estar atento ao aparecimento de invasores e imediata exclusão dos mesmos. Como também relatado por Machado & Sazima (1995), ele aparentemente “delimitava” uma área, visitando, principalmente, as flores localizadas nos ramos mais altos. A posição de guarda mudava constantemente ao longo do dia, sendo que nos períodos mais quentes (entre 10:00 e 16:00 h) o indivíduo se colocava sob a copa da árvore, mas não deixando de estar atento aos movimentos dos invasores. De acordo com Krebs & Davies (1996), é fato que os beija-flores gastam cerca de 75% de seu tempo empoleirados, e apenas 20% em forrageio, pelo fato da digestão da glicose nestes animais ser lenta. Outra explicação, é que, para o caso de indivíduos territorialistas, a defesa do território requer grande gasto de tempo para evitar a invasão de outras espécies nectarívoras (Feinsinger & Colwell 1978). Foi registrada uma média de 36 visitas do Eupetomena macroura aos nectários nas observações do período matutino (9 visitas por hora) e de 12 no Foram registradas 97 invasões no território do E. macroura durante o período total de observação (média de 13,86 por observação), sendo o tempo médio gasto em cada expulsão de 0,08 minuto (4,8 segundos) (Tabela 2). A rapidez com que os encontros agonísticos aconteceram dificultou a identificação dos invasores. Mas, com base em algumas características e no plano de manejo do Parque, foi possível inferir a presença de pelo menos 4 gêneros diferentes (Phaethornis, Colibri, Thalurania e Amazilia), além de indivíduos da própria espécie territorialista. É importante ressaltar, porém, a diferença entre os tempos de observação da manhã e da tarde. Assim, a média de invasões pela manhã foi de apenas 3,44 por hora, enquanto que à tarde foi de 8,17 invasores por hora. Essa diferença pode ser explicada pelo fato de que as observações 189 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 vespertinas aconteceram somente após as 16:00 h, quando a atividade dos beija-flores é mais intensa, devido à diminuição da temperatura ambiental. Além disso, a maior procura por recurso ao final do dia é garantia de reserva de energia suficiente para a noite, quando os beija-flores deixam de forragear e buscam um refúgio. O maior número de invasões após as 16:00 h confirma a afirmação de Siberbauer-Gottsberger & Gottsberger (1988 apud Oliveira 1998), os quais sugerem que os beija-flores seriam sensíveis às altas temperaturas e que o Cerrado impõe limitações às possibilidades de utilização dos recursos disponíveis, devido não terem constatado a presença destas aves em áreas abertas nos períodos mais quentes do dia. Durante os dias de observação, o número de inflorescências com flores abertas diminuiu de aproximadamente 50 para cerca de 20 e o número de flores abertas por inflorescência, de cerca de 15 para 5. Isso indica que a espécie Norantea adamantium tem período máximo de floração em meados do mês de setembro, estando no final quando da realização deste estudo, visto que foi observado maior número de infrutescências que de inflorescências. A quantidade e distribuição de recursos florais podem limitar a amplitude e dos beija-flores que exploram uma região (Carpenter 1978; Oliveira 1998). De forma geral, os recursos nas formações abertas do Cerrado encontram-se distribuídos esparsamente, gerando implicações nas distâncias de forrageamento (Oliveira 1998). Assim, os agrupamentos de flores produzidas estacionalmente permitem o estabelecimento de comportamentos territoriais (Gass & Sutherland 1985; Oliveira 1998), quando os animais são atraídos pela disponibilidade de alimento abundante. Entretanto, a quantidade de energia deve satisfazer as necessidades diárias do territorialista, de forma a garantir vantagem ao comportamento de defesa. Projetos Finais (UFU) A Tabela 3 mostra os valores médios de volume e concentração de néctar para os sete dias de observação. Apesar da diminuição do número de flores abertas no decorrer do período de observação, pôde-se observar que a produção de néctar mantevese mais ou menos constante, com exceção do primeiro dia, quando estava chovendo. A produção contínua de uma grande quantidade de néctar ao longo do período de floração confirma o favorecimento da estratégia de forrageamento territorial (Machado & Sazima 1995). Por outro lado, foram observadas variações do volume e da concentração ao longo do dia, o que pode estar relacionado às mudanças de temperatura (Baker & Baker 1983 apud Machado & Sazima 1995) e umidade relativa (Corbet et al 1979 apud Machado & Sazima 1995). Com relação ao conteúdo energético do néctar,estimou-se uma média de 18,21 Kcal por dia. Esta quantidade é, possivelmente, suficiente para atender às necessidades do indivíduo em questão, visto que, para Carpenter (1983 apud Oliveira 1998), um beija-flor precisa de 6 a 10 Kcal para suprir sua demanda energética. De acordo com Krebs & Davies (1996), quando os custos diários são comparados com a quantidade de néctar obtida com a defesa de um território e exclusão de competidores, fica evidente que as aves territoriais estariam obtendo um moderado lucro energético. A defesa de fonte alimentar já é conhecida para E. macroura, desde que o recurso seja economicamente defensável, como o oferecido pela N. adamantium. A interação entre plantas e seus polinizadores é um bom exemplo de como a pressão evolutiva pode coordenar eventos sazonais nas comunidades (Krebs 1994).O comportamento territorial dos polinizadores compromete o fluxo de pólen entre indivíduos diferentes, mas favorece a autopolinização (Machado & Sazima 1995). No caso de Norantea adamantium, considerando a ausência de outro exemplar nas proximidades, a defesa territorial 190 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) concepts and complex realities. In: Jones, E.C. & Little, J.R. (eds.). Handbook of Experimental Pollination Biology. Van Wostrand. Scientific and Academic Editions. p. 215 – 234. aumenta a probabilidade de visitas a uma dada flor, podendo-se inferir que a espécie é autocompatível ,uma vez que há uma grande taxa de formação de frutos. Dessa forma, a associação com o Eupetomena macroura é de grande importância no ciclo de vida desta espécie vegetal, especialmente nas áreas de Cerrado, onde sua distribuição é bastante reduzida. CORBET, S.A., UNWIN, D.M. & PRYSJONES, O.E. 1979. Humidity, nectar and insects visits to flowers, with special reference to Crataegus, Tilia and Echium. Ecol. Ent. 4: 9 – 22. Agradecimentos: À todos os companheiros (e amigos) dessa inesquecível e proveitosa jornada de trabalho; aos professores, sempre tão atenciosos, e ao amigo Rafael Soares Arruda pela ajuda na coleta e interpretação dos dados. DAFNI, A. 1992. Pollination Ecology: A Practical Approach. Oxford University Prees. New York. 247p. FEINSINGER, P. & COLWELL, R.K. 1978. Community organization among neotropical nectar-feeding birds. Amer. Zool. 18: 779 – 795. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, A.C. 2001. Flora, fenologia de floração e polinização em capões do Pantanal Sul Mato grossense. Tese de Doutorado. UNICAMP. 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Período / Tempo de observação Número de Tempo médio de cada exclusão (min.) observação (min.) invasões 1 240 13 0,14 2 240 16 0,04 3 240 15 0,07 4 240 11 0,15 5 120 22 0,10 6 75 9 0,06 7 105 11 0,06 TOTAL 1260 97 0,08 manhã tarde 193 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) Tabela 3 – Volume, concentração e conteúdo energético do néctar de Norantea adamantium, Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, setembro de 2002. Concentração de Conteúdo energético Volume de néctar (µ l) Período / açúcares (%) por dia * observação (Kcal) Média ± desvio padrão Média ± desvio padrão manhã 1 48,00 ± 0,00 8,25 ± 3,80 11,54 2 46,78 ± 29,51 22,18 ± 2,71 30,79 3 41,78 ± 33,11 22,25 ± 6,89 24,70 4 92,22 ± 23,89 14,60 ± 4,78 15,00 5 53,00 ± 24,04 19,60 ± 1,27 17,65 6 103,00 ± 9,90 20,44 ± 1,51 19,03 7 98,00 ± 22,63 18,95 ± 1,20 8,76 tarde *de acordo com valores estimados do número de flores abertas por inflorescência. alerta visita exclusão 100 90 80 Tempo (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 Observação Figura 1 – Porcentagem do tempo gasto em comportamento de alerta, visita e exclusão de competidores de Eupetomena macroura, em cada coleta (1 – 7), Parque Estadual Serra de Caldas Novas – GO, 2002. 194 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) INFLUÊNCIA DE BRUQUÍDEOS NA PRODUÇÃO DE SEMENTES DE SYAGRUS FLEXUOSA (ARECACEAE) EM UMA ÁREA DE CERRADO SENSU STRICTO Marcela Yamamoto, UFU INTRODUÇÃO Uma semente pode servir de alimento durante grande parte do ciclo de vida de uma espécie, como ocorre com alguns coleópteros que depositam seus ovos em frutos e as larvas se desenvolvem no interior das sementes até o estágio de pupa (Begon et al. 1996). Nestas circunstâncias, as sementes normalmente se tornam danificadas, a ponto de inviabilizar a germinação. Syagrus flexuosa é uma palmeira monóica, de inflorescências longopedunculadas com flores femininas basais e flores masculinas apicais. As flores femininas têm um ovário súpero com três lóculos, cada um com um óvulo. Após a polinização e fertilização , um dos óvulos se desenvolve para semente e os outros dois geralmente são abortados. Os frutos são elipsóides, de cor verde-amarelada quando maduro, exocarpo é fibroso e mucilaginoso, endocarpo ósseo contendo amêndoa com endosperma branco e oleaginoso. Ocorre no norte de Minas Gerais, da Bahia ao Piauí, Goiás, Tocantins, Distrito Federal e Mato Grosso em cerrados abertos e na caatinga. A floração ocorre de janeiro a abril e a frutificação entre outubro e dezembro (Almeida et al., 1998). Besouros Bruchidae são importantes predadores de sementes em grande variedade de plantas (Janzen, 1969). Os membros da subfamília Pachymerinae são predadores de sementes de representantes da família Arecaceae. As fêmeas depositam seus ovos na superfície do fruto e a larva que daí emerge penetra através do pericarpo. Durante o seu desenvolvimento até o estágio de pupa, a larva consome toda a semente (Silva, 1989). Alguns estudos discutem as possíveis respostas evolutivas de plantas contra predação (Wilson & Janzen, 1972; Center & Jonhson, 1974). Janzen (1971) separou as defesas de plantas em três tipos principais: defesas químicas; saciação do predador, onde a produção de sementes é superior ao consumo dos predadores; e a imprevisibilidade de recursos, em que a frutificação ocorre em intervalos irregulares. Smith (1975) sugeriu também que a variabilidade no número e no tamanho das sementes produzidas possa ser estratégias de antipredação. Entretanto, as defesas vegetais podem se tornar ineficazes, uma vez que possam ser contornáveis pelos predadores. Este estudo teve como objetivo avaliar o sucesso na produção de sementes de Syagrus flexuosa (Arecaceae) em uma área de cerrado sensu stricto, investigando a influência da predação de sementes pela larva de Coleoptera Bruchidae. METODOLOGIA O estudo foi conduzido em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, em Caldas Novas, GO (17046’37,4’’S; 14041’10,5’’O; altitude 1064m), em setembro de 2002. Foram feitos transectos de 50m e amostrados todos os indivíduos reprodutivos de Syagrus flexuosa em 10m de cada lado do transecto. Os indivíduos foram medidos quanto à altura, diâmetro basal e altura da infrutescência. De cada infrutescência foram contadas as cicatrizes 195 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) descendentes. Koslowski et al. (1983) verificaram que algumas espécies de bruquídeos regulam o número de ovos depositados em cada fruto, por meio de marcações químicas que evitam repetidas oviposições num mesmo local. Houve correlação significativa entre a altura da planta com a altura da infrutescência (r=0,83,p=0) e com o número de flores (r=0,32, p=0,02). A correlação foi significativa entre o número de flores com o número de frutos (r=0,87, p=0); com o número de sementes abortadas (r=0,79, p=0) e com o número de sementes viáveis (r=0,41, p=0,0017). Houve correlação significativa entre o número de sementes totais e o número de sementes viáveis (r=0,51, p=0,0001) (Figura 3). Não houve correlação significativa de predação com a altura da planta, a altura da infrutescência e o número de flores (veja os valores da correlação na Tabela 2). Não foi observada correlação significativa entre o comprimento e o diâmetro dos frutos com a presença da larva predadora (r=-0.1279, p=0.3612; r=0.1909, p=0.1708, respectivamente). A quantidade de frutos apresentou correlação significativa com o número de sementes predadas (r= 0,29; p=0,03) (ver Figura 4). Segundo Janzen (1969), os bruquídeos se alimentam de uma única semente, esperar-se-ia então que houvesse uma escolha de sementes maiores pelo coleóptero, com maior quantidade de recurso para a sobrevivência do inseto, o que não ocorreu na amostragem apresentada. Ramos (2001) em estudo de predação de sementes de palmeiras do gênero Syagrus por Bruchidae: Pachymerini observou que os ovos foram colocados independentemente do tamanho dos frutos. Pode-se inferir que o embora o predador aparentemente não escolha um fruto maior, há uma procura por manchas maiores de recursos, como o tamanho das infrutescências. Na área estudada foi observada a presença de manchas de indivíduos de Syagrus flexuosa, de um a sete indivíduos, porém, não foi constatada uma preferência das flores femininas e o número de frutos presentes, o total forneceu o número de flores femininas produzidas. Foram amostradas todas as infrutescências com até 20 frutos, e as com um número superior de frutos foram padronizadas em 20 unidades. Depois de coletado, o material foi levado ao laboratório, onde foi feita a mensura de comprimento(mm), diâmetro(mm) e procedida a abertura do fruto para a avaliação das sementes em viáveis, na ausência de larvas ou em não viáveis, as abortadas ou com a presença de larvas. Os dados foram analisados por meio de correlação simples (Correlação de Spearman). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram mensurados 46 indivíduos de Syagrus flexuosa e analisadas 57 infrutescências de uma área total amostrada de 7000 m2. A altura média e o desvio padrão dos indivíduos foram de 1,90m ± 0,40, o diâmetro basal médio de 75,9mm ± 13,23 e a altura média das infrutescências de 1,21m ± 0,39. O comprimento médio dos frutos foi de 33,15mm ± 3,66 e de diâmetro 18,53mm ± 2,75 Foram contados um total de 2193 flores, 1127 frutos e 761 sementes dentre as quais 598 viáveis e 163 predadas (Veja na Tabela 1). Da diferença das flores e frutos amostrados, juntamente com a análise dos frutos abertos foi obtido o número de sementes abortadas (Figura 1). Do total de frutos contados, apenas 786 exemplares foram abertos para análise de qualidade do endosperma devido ao limite de frutos estipulado por infrutescência. Dos 786 frutos analisados, 76.08% apresentaram sementes viáveis, 20.74% sementes predadas e 3.18% abortadas (Figura 2). Observou-se a presença de 2,6% de frutos biloculares ou triloculares no total de frutos analisados, sendo que a metade, 1,3% apresentou predação da semente em apenas um dos lóculos. Pode-se inferir que a fêmea do Bruchidae coloca apenas um ovo por fruto a fim de evitar a competição entre os 196 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 da larva predadora pelas manchas de indivíduos. Nos frutos abertos observou-se uma taxa de predação de 8,8% das sementes por infrutescência. A maior perda na produção de sementes é observada pela falta disponibilidade de recursos na polinização, como pólen e polinizadores justificando a grande porcentagem de sementes abortadas, além de ser normal o alto índice se sementes abortadas em Arecaceae. A predação analisada foi apenas do Coleoptera Bruchidae sem considerar outros predadores Os resultados mostram que a predação das sementes pelos bruquídeos tem correlação com o número de frutos presentes na infrutescência o que corrobora com Marquis & Braker (1994) e Janzen (1969), a existência de uma associação entre a taxa de herbivoria e a oferta de recurso. Pelos valores de viabilidade encontrados nas sementes de Syagrus flexuosa pode-se apontar como possível resposta evolutiva contra este predador, a defesa do tipo saciação com produção superior ao consumo, além das estratégias de antipredação com a variação do número e no tamanho dos frutos sugerido por Smith (1975). Projetos Finais (UFU) Communities. Third edition. Blackwell Science, London. CENTER, T. D. & JONHSON, C. D. 1974. Coevolution of some seed beetles (Coleoptera: Bruchidae) and their host. Ecology 55:1096-1103. JANZEN, D. H. 1969. Seed-eaters versus seed size, number, toxicity and dispersal. Evolution 23:1-27. JANZEN, D. H. 1971. Seed predation by animals. Na. Rev. Ecol. Syst. 2:465-492. KOSLOWSKI, M. W.; LUX, S. & DMOCH, J. 1983. Ovipositon behaviour and pod marking in the cabbage seed weevil Ceutorhynchus assimilis. Entomol. Exp. Appl. 34:277-282. MARQUIS, R. J. & BRAKER, H. E. 1994. Plant-herbivores interactions: Diversity, Specificity, and Impact. Pp. 261-281. In: L. A. MCDADE, K. S. BAWA, H. A.HESPENHEIDE & G.S. HARTSHORN (eds.), La Selva: Ecology and natural history of a Neotropical Rain Forest. The University of Chicago Press. RAMOS, F. 2001. Predação de sementes de palmeiras do gênero Syagrus (Arecaceae) por besouros Pachymerini (Coleoptera, bruchidae). Resumos V Congresso de Ecologia do Brasil. P.213. AGRADECIMENTO: Aos professores John Hay pela orientação inicial, Fernando Pedroni, Lucélia Nobre Carvalho e Jader Marinho pelas sugestões no projeto. Aos colegas Cláudio Franco Muniz e Helder Nagai Consolaro pela ajuda estatística e Carlos Henrique Angeluci pela abertura dos coquinhos. SILVA, P. 1989. Bruquídeos associados às sementes de palmeiras na Bahia, Brasil (Coleoptera, Bruchidae). An. Soc. Ent. Brasil 18:155-168. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M. & RIBEIRO, J. F. 1988. Cerrado: espécies vegetais úteis. Embrapa - CPAC, Planaltina, DF. SMITH, C. C. 1975. The coevolution of plants and seed predators. In: Gilbert, L. E. & Raven, P.H. (eds.) Coevolution of animals and plants. Austin, Texas University Press. P. 53-77. In: Lomônaco, C. 1994. Predação de sementes de leguminosas por bruquídeos (Insecta: Coleoptera) na Serra dos BEGON, M.; HARPER, J. L. & TOWNSEND, C. R. 1996. EcologyIndividuals, Populations and 197 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Carajás, Pará, Bras.8:121127. Brasil. Acta bot. Projetos Finais (UFU) bruchid beetles: seed density and distance from the parent palm. Ecology 53:954-959. WILSON, D. H. & JANZEN, D. H. 1972. Predation on Scheelea palm seeds by Tabela 1 – Número total de flores, frutos e sementes de Syagrus flexuosa por planta, a média e o desvio padrão por inflorescência. Amostragem Total Média por cacho Flores 2193 39±24.08 Frutos 1127 20±16.43 Sementes viáveis 598 11±7.13 Sementes predadas 163 3±4.99 Abortadas 1100 20±13.34 Tabela 2. Valores da Correlação de Spearman para altura da planta (ha), altura da infrutescência (hi), número de flores (fl), número de frutos (fr), número de sementes abortadas (ab), número de sementes viáveis (vi) e número de sementes predadas(pr). hp hi fl fr hp hi fl fr ab vi pr X r=0.7312 r=0.3170 r=0.3695 r=0.1400 r=0.0946 r=0.1762 p=0 p=0.0172 p=0.0046 p=0.2989 p=0.4881 p=0.1939 X r=0.1484 r=0.1115 r=0.1513 r=-0.0165 r=0.0661 p=0.2751 p=0.4089 p=0.2657 p=0.9038 p=0.6285 X r=0.8677 r=0.7916 r=0.4098 r=0.2015 p=0 p=0 p=0.0017 p=0.1363 X r=0.4583 r=0.5068 r=0.2896 p=0.0004 p=0.0002 p=0.0303 X r=0.1454 r=0.0427 p=0.2850 p=0.7548 X r=-0.2137 ab vi p=0.1137 198 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) 2500 2000 1500 N 1000 500 0 flores frutos sementes viáveis sementes predadas abortadas Figura 1 – Freqüência de flores, frutos e sementes viáveis, sementes predadas e abortadas em Syagrus flexuosa observada em setembro de 2002 em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO. N 800 600 400 200 0 sementes viáveis sementes predadas abortadas Figura 2 – Freqüência sementes viáveis, predadas e abortadas nos frutos abertos e analisados de Syagrus flexuosa observados em setembro de 2002 em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO. 199 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) Figura 3 – Relação entre o número de sementes totais e as sementes viáveis em Syagrus flexuosa em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO. Correlação de Spearman (r=0.34, p=0.01). Figura 4 – Relação entre o número de frutos e sementes predadas em Syagrus flexuosa em uma área de cerrado sensu stricto do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas, GO. Correlação de Spearman (r=0.29, p=0.03). 200 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) ANÁLISE DA MOTIVAÇÃO DE ESTUDANTES EM RELAÇÃO AO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS – GO. Marcelle Sabrina Carneiro Rodrigues parques, reservas e zoológicos. Visitas a áreas naturais como parques e reservas, proporciona estímulos a curiosidades dos alunos facilitando assim sua aprendizagem. Visitas às unidades de conservação (como reservas ecológicas, parques nacionais, áreas de proteção ambiental) são apontadas como vantajosas nos espaços informais em relação aos formais, pois apresentam características valiosas, como a riqueza de estímulos, a complexidade do ambiente, o caráter de novidade e imprevisibilidade das interações entre os alunos e objeto de estudo (Morais & Borges, 2000). O Parque Estadual da Serra de Caldas Novas-Goiás (PESCAN), uma área de unidade de conservação, representa uma grande fonte de informação e aprendizagem para os alunos da cidade de Caldas Novas, embora o parque não conte com um programa efetivo de educação ambiental. A implantação de programas de educação ambiental no parque podem ser instrumento para tornar as populações que vivem no seu entorno cientes sobre a importância de sua preservação (Padua, 1997). Em vista disso, faz-se necessário fazer uma análise da motivação dos alunos de Caldas Novas em relação ao parque, para que se possa viabilizar uma parceria entre a escola e o parque, visando desenvolver atividades de educação ambiental como trilhas interpretativas e visitas com roteiros estruturados, de forma sistemática e condizente com as necessidades e prioridades do parque e da comunidade. O objetivo deste trabalho foi levantar o nível de motivação de alunos do ensino fundamental e médio em uma escola pública e uma particular em visitar o PESCAN-GO. INTRODUÇÃO As mudanças que se operam em nossos conhecimentos e em nossa consciência, passando pela modificação de nossas atitudes, nos levam a transformar nossa maneira de ser em relação ao ambiente e temos a necessidade de adquirir novas habilidades para colocar em prática em casa, na rua, na escola, no lazer o que aprendemos nos mais variados espaços de educação formal e informal (Viezzer et al., 1994). Para Reigota (1998), a educação ambiental é uma proposta que altera profundamente a educação, não sendo necessariamente uma prática pedagógica voltada para a transmissão de conhecimentos sobre ecologia. A educação ambiental propõe soluções e uma mudança de postura perante a satisfação das necessidades humanas, tendo como objetivo formar cidadãos ativos que saibam identificar os problemas e participar efetivamente de sua solução e prevenção (Rodrigues, 1996). A educação ambiental pode ser inserida em diversos processos educativos e ambientes diversificados. Em salas de aula, a educação ambiental assume um caráter mais formal, enquanto que em ambientes de visitação esporádica como museus, jardins botânicos, zoológicos, parques e reservas, assume características mais informais (Padua, 1997). Entretanto, tais atividades educativas, devem ser empregadas em ambos os ambientes para que haja um resultado final positivo. Segundo Dias (1990), a educação ambiental informal contribui de forma expressiva para a formação de opinião pública, envolvendo os meios de comunicação de massa, comunidades participativas e instituições atuantes como 201 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 particular apresentam interesse em visitar o parque em busca de atividades ambientais, embora tais atividades não estejam sendo oferecidas de forma sistemática pelo PESCAN. Os resultados mostram que embora o PESCAN seja relativamente conhecido pelo público, a maioria dos alunos ainda não o tinha visitado. Contudo, os alunos da escola particular visitaram mais de uma vez o parque, o que pode ser devido a uma maior divulgação do parque pela escola ou mesmo em casa ou ainda a cobrança de uma taxa de entrada no parque, que embora seja irrisória, parece representar um empecilho para a visita dos alunos da escola pública. Quando perguntados sobre a vontade de visitar ou voltar ao parque 98% dos alunos responderam que sim, e dos 23 alunos que já haviam visitado o local pelo menos uma vez 97% se mostraram satisfeitos com a visita. O que confirma a idéia de Herman et al., (1992) que diz que locais informais tem um impacto maior sobre o lado afetivo, que é a base da formação de valores. Os alunos da escola pública apontam o turismo como a atividade principal do PESCAN. Esta resposta era esperada, visto Caldas Novas ser uma cidade turística. Já os alunos do ensino particular apontam a educação ambiental como uma atividade importante a ser desenvolvida pelo parque, o que pode talvez ser explicado por uma maior conscientização ambiental trabalhada na escola. Percebe-se assim, a necessidade de divulgação dos trabalhos científicos desenvolvidos no parque, mesmo que de forma resumida e simples, à comunidade. METODOLOGIA Amostra: • Nossa amostra constitui-se de 60 alunos entre 11 a 21 anos de idade, cursando os ensinos fundamental e médio. Sendo 30 alunos entrevistados em uma escola pública e 30 em uma escola particular. Coleta de Dados: • • Os dados foram coletados entre 30/09/2002 e 02/10/2002 na cidade de Caldas Novas-Go. Foram aplicados aos alunos questionários semi- estruturados (anexo), na presença do pesquisador, sem a utilização de um pré-teste. Análise de Dados: • • Projetos Finais (UFU) Foram feitas comparações entre as respostas dos alunos da escola pública com as respostas dos alunos da escola particular para verificar, num sentido geral, a motivação que leva os alunos a visitarem o parque. Conversas informais com os diretores e professores das escolas investigadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Grande parte dos alunos mostrou-se motivados a visitar o parque em busca de um contato maior com a natureza (flora e fauna), o que era esperado, pois segundo Mergulhão (1998), um dos fatores que levam as pessoas a visitarem áreas naturais é a vontade de se aproximar da natureza. Atividades como lazer (recreação e esporte), foram bastante lembradas pelos alunos, ocorrendo uma relação inversa com a atividade de pesquisa, o que demonstra que os alunos ainda não associam o parque a um local de estudo. Os dados mostram que tanto os alunos da escola pública quanto os da escola CONSIDERAÇÕES FINAIS Do contato direto com as escolas, através de conversas informais com diretores e professores, pudemos perceber que eles não contam com informações sobre o parque, ou as tem de forma inconsistentes. Sugerimos que sejam preparados folhetos informativos sobre o histórico do parque, bem com de sua diversidade biológica, e que estes sejam repassados às escolas. 202 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Embora os alunos tenham demonstrado interesse em participar de atividades de educação ambiental no PESCAN, muitos ainda tem pouco contato com o parque. Além disso, grande parte dos alunos mostrou-se motivado em visitar o parque em busca de contato com a natureza. Sabe-se que o envolvimento da comunidade em áreas naturais pode trazer muitas vantagens, pois ao mesmo tempo em que a população utiliza o parque como um local de aprendizagem, passa também a preservá-lo. Percebe-se que há um paradoxo em como os alunos vêem a importância do parque para a cidade, do mesmo modo que reconhecem o valor da educação ambiental, apontam o turismo como função importante do parque. Em vista disso, é necessário que as escolas trabalhem com os alunos, o conceito de unidade de conservação, pois apesar do parque ser aberto tanto à comunidade quanto aos turistas, trata-se em primeiro lugar de uma área de conservação da fauna e da flora do cerrado. Faz-se necessário à implantação de atividades educativas sistematizadas, como trilhas interpretativas ou visitas com roteiros estruturados, que vinculem a escola ao parque, de forma que as visitas dos alunos não sejam apenas atividades recreativas ou de mera observação, mas que possam ajudar a formar cidadãos conscientes e aptos a participarem das questões ambientais no local em que vivem. Projetos Finais (UFU) .Orientando a criança para amar a terra. Editora Augustus. São Paulo, SP. 137p. MERGULHÃO, M. C.; VASAKI, B. N. G. 1998. Educando para conservação da natureza: sugestões de atividades em educação ambiental. Editora Educadora. São Paulo, SP. 139p. MORAIS, M. B.; BORGES, A .T. Sobre as aulas na mata: o que dizem os professores de ciências. In: Coletânea do 7° Encontro “Perspectivas do Ensino de Biologia”. São Paulo: FEUSP, 2000. p. 732-734. PADUA, S. M.1997. Uma pesquisa em educação ambiental: a conservação do mico leão preto (Leonthopithecus chrysopygus). In: Valladares-Padua, C. E Bodmer, R. E. (Org.). Manejo e conservação da vida silvestre no Brasil. Instituto de Pesquisas Ecológicas. Editora. Brasília, DF. 296p. REIGOTA, M. 1998. Meio ambiente e representação social. 3° Edição. São Paulo. Editora: Cortez, 87p. RODRIGUES, V. R. 1996. Muda o mundo, Raimundo!: Educação ambiental no ensino básico do Brasil. WWF e Ministério do Meio Ambiente Editores. p.77-83. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIAS, G. F. 1998. Educação Ambiental: Princípios e práticas. Editora Gaia. 5° edição. São Paulo, SP. 400p. HERMAN, M. L.; PASSINEAU, J. F.; SCHIMPT, A.L.; TREVER, P 203 VIEZZER, M. L.; OVALLES, O. 1994. Considerações para uma pesquisa participante. In: Manual Latino Americano de Educação Ambiental. São Paulo: Goiás. p. 60-70. UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) 25 Frequência 20 15 Escola particular Escola pública 10 5 0 turismo lazer educação ambiental científica Importância Figura 1- Frequência de respostas em relação aos atrativos apresentados pelo parque. O que o motivou ou motivaria a visitar o parque? 204 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) 16 14 Escola pública Escola particular Frequência 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 Visitação Figura 2- Frequência de respostas em relação ao número de visitas ao parque. Quantas vezes já visitou o parque? 25 Escola particular Escola pública Frequência 20 15 10 5 0 turismo lazer educação ambiental científica Importância Figura 3- Frequência de respostas em relação à importância do parque para Caldas Novas. Qual a importância do parque para a cidade? 205 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) Questionário de Educação Ambiental (Público – alvo: Estudantes) Identificação do conhecimento da população de Caldas Novas em relação ao PESCAN (Marque apenas uma alternativa em cada pergunta) ( ) Escola pública 1- Faixa Etária: ( ) 0 a 10 anos ( ) 11 a 15 anos ( ) 15 a 18 anos ( ) Escola particular ( ) 18 a 21 anos ( ) acima de 21 anos 2- Grau de Escolaridade: ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Outros ______________ 3- Sexo: ( ) Masculino ( )Feminino 4- Há quanto tempo você mora na cidade? _________________________________ 5- Quantas vezes você já visitou o PESCAN? ( ) Nenhuma vez ( ) 3 a 5 vezes ( ) Uma vez ( ) Acima de 5 vezes ( ) Duas vezes 6- Qual seria o principal motivo que o faria visitar o PESCAN? ( ) Vegetação ( ) Fauna ( ) Recreação ( ) Esporte ( ) Atividades de educação ambiental ( ) Pesquisa escolar 7- Você gostaria de visitar (ou voltar a visitar) o PESCAN? ( ) Sim ( ) Não Por quê?____________________________________________ 8- A visita ao parque satisfez as suas expectativas? (Só responda se já visitou o parque) ( ) Sim ( ) Não Por quê?_____________________________________________ 9- Qual a importância do parque para a cidade? ( ) Econômica ( ) Científica ( ) Turística ( ) Não tem importância ( ) Lazer ( ) Educação Ambiental 206 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) EXISTE ESPECIFICIDADE DE HOSPEDEIROS POR Struthanthus sp. (LORANTHACEAE) EM UMA ÁREA DE CERRADO? Rafael Arruda (UFU) INTRODUÇÃO A família Loranthaceae compreende 70 gêneros e 1400 espécies que ocorrem predominantemente nas regiões tropicais (Ribeiro et al. 1999), sendo popularmente conhecidas como “erva-de-passarinho”. Vivem sobre os galhos das copas de árvores hospedeiras, sendo que a maioria das espécies de Loranthaceae é hemiparasita de outras espécies vegetais (Venturelli 1981, Abulfatih & Emara 1988, Overton 1994). Apesar de realizar fotossíntese, a sua presença pode causar uma drástica diminuição no crescimento da planta (Sinha & Bawa 2002), levando, em alguns casos, a morte de órgãos da planta hospedeira. Estes hemiparasitas podem também comprometer a reprodução das plantas hospedeiras, prejudicando a qualidade e quantidade de frutos produzidos (Venturelli 1981, Sinha & Bawa 2002). A distribuição dos hemiparasitas em suas plantas hospedeiras pode ser determinada por especificidade por hospedeiros, distância dos hospedeiros, condições ambientais (García-Franco & Rico-Gray 1996), arquitetura da planta hospedeira (Monteiro et al. 1992, Martínez del Rio et al. 1995), e comportamento alimentar e seleção de habitat pelo agente dispersor (Davidar 1983, Reid 1989, Monteiro et al. 1992, Murphy et al. 1993, Martínez del Rio et al. 1996). Entretanto, algumas espécies de hemiparasitas são sempre encontradas em poucas espécies de hospedeiros, outras apresentam pouca especificidade, ou ainda podem desenvolver raças que se associam a diferentes espécies de hospedeiros (GarcíaFranco & Rico-Gray 1996). Para verificar se havia especificidade por hospedeiros pelo hemiparasita em uma área de cerrado sentido restrito, registrou-se a ocorrência de Struthanthus sp. (Loranthaceae), e sua relação com as espécies hospedeiras. MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo foi um cerrado (sentido restrito), no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (17º46’03,6’’S, 48º39’30,8’’W). O Parque Estadual da Serra de Caldas Novas ocupa uma área de 12.315 ha, incluindo o platô, as encostas que formam muralhas naturais, e o sopé da serra. Tem um formato de elipse, sendo o diâmetro maior de 15 km e o menor de 9 km. A altitude da serra no seu ponto mais alto é de 1.043 metros em relação ao nível do mar. Considerado pequeno em termos de proteção do bioma Cerrado, possui contudo uma amostra bem conservada deste ecossistema. A área de cerrado sentido restrito de aproximadamente três ha foi percorrida aleatoriamente, buscando encontrar o maior número possível de espécies vegetais com a presença de Struthanthus. Struthanthus Mart. (Loranthaceae), tem ampla distribuição no Cerrado sentido amplo, estando presente nas áreas Leste, Centro-Oeste e Nordeste (Barboza 2000). Struthanthus são hemiparasitas dióicos, com folhas opostas, subopostas, subcoriáceas e lanceoladas; inflorescências axilares, flores alvas, e com frutos bacóides oblongos, ovóides, oblongo-obovados ou globosos, e lisos (Barboza 2000). Para cada indivíduo hospedeiro encontrado foi registrada sua altura, e a altura onde o hemiparasita estava fixado. Os galhos foram visualmente classificados quanto à inclinação, horizontal ou vertical. Foi feita uma categorização visual da casca no local de fixação do parasita, levando em conta a 207 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 suberosidade do galho, onde para a categoria 0, galho totalmente liso; categoria 1, pouco suberoso; categoria 2, suberoso; e categoria 3, totalmente suberoso. Estes valores foram estimados através de comparação visual antes de iniciar a coleta de dados. Os hospedeiros e Struthanthus foram identificados no campo, e por meio de literatura especializada. Material testemunho da espécie hemiparasita está depositado no Herbário da Universidade Federal de Uberlândia (HUFU). Foi utilizado o teste do Qui-Quadrado para testar se havia diferença com relação à presença dos hemiparasitas em galhos horizontais e verticais. Para verificar se havia relação entre a altura do hospedeiro e a altura de fixação do parasita, foi utilizada uma Análise de Correlação. Todos os testes tiveram o nível de significância de p<0,05. Projetos Finais (UFU) O estabelecimento dos indivíduos de Loranthaceae pode estar ocorrendo, provavelmente, em função de características morfológicas dos hospedeiros que estejam propiciando microhabitat adequado para germinação. Um fator que pode influenciar o sucesso da deposição de hemiparasitas em seus hospedeiros é o comportamento alimentar do seu agente dispersor. Monteiro et al. (1992) verificaram que o comportamento alimentar de Tersina viridis viridis (Thraupidae) o tornava o agente mais efetivo na dispersão de Psittacanthus robustus (Loranthaceae) na Fazenda Campininha, em Mogi Guaçú, estado de São Paulo. A eficiência de T. v. viridis como agente dispersor foi resultado de sua habilidade em manipular os frutos de P. robustus, através de regurgitação e pelo comportamento de limpar o bico nos galhos, associado a uma sincronia do seu período de frutificação com a presença das aves na área (Monteiro et al. 1992). Entretanto, Godschalk (1983) estudou três espécies simpátricas de hemiparasitas na África do Sul, e sugere que a deposição de sementes de hemiparasitas pelos seus dispersores sobre galhos do hospedeiro ocorre aleatoriamente. Neste caso, as três espécies de hemiparasitas dependem do mesmo agente dispersor, Pogoniulus chrysoconus, e ocorre sobreposição total dos seus períodos de frutificação (Godschalk 1983). Então, nossos resultados indicam que, além desta atividade dos dispersores, a arquitetura e a suberosidade dos sítios de deposição do hemiparasita nos hospedeiros podem também estar influenciando o seu padrão de distribuição, e consequentemente a relação de especificidade com os hospedeiros. O aumento significativo da altura de fixação do parasita em relação à do hospedeiro, pode estar ocorrendo pela necessidade que os hemiparasitas possuem de um local apropriado para germinar, e para desenvolverem suas folhas para realizar fotossíntese. Barboza (2000) sugere que além da necessidade fotossintética, as RESULTADOS Foram encontradas nove espécies parasitadas por Struthanthus, sendo Kielmeyera coriacea e Styrax ferrugineus as que apresentaram as maiores frequências de infestação (Tabela 1). Foram registrados um total de 67 hospedeiros com a presença de Struthanthus, variando de um a cinco hemiparasitas por hospedeiro (Tabela 1). A frequência de ocorrência de Struthanthus em galhos horizontais (65,79%; n = 25) foi significativamente maior do que em galhos verticais (34,21%; n = 13) (X2 = 5,378; p = 0,0204; GL = 1). Em galhos com casca mais lisa ocorreu uma melhor deposição do hemiparasita em galhos mais horizontais, correspondendo à categoria 1; já em galhos com casca mais suberosa ocorreu uma maior deposição do hemiparasita em galhos mais verticais, o que correspondeu à categoria 2 (Figura 1). Ocorreu uma correlação significativa entre a altura do hospedeiro e a altura de fixação do parasita nos hospedeiros (r = 0,6514; p = 0,0001) (Figura 2). DISCUSSÃO 208 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 espécies de Loranthaceae podem exibir “preferência” por hospedeiros de hábito arbóreo, pelo fato de serem melhor visualizadas pelos polinizadores. A autora sugere ainda que estas conclusões talvez reflitam uma pequena quantidade de pesquisas e de coletas botânicas para Loranthaceae, bem como dados relativos aos hospedeiros. No presente trabalho, aparentemente, pode não estar ocorrendo especificidade de Struthanthus sp. por um hospedeiro em particular, mas sim o hemiparasita parece estar encontrando facilidade em se estabelecer de acordo com a arquitetura e suberosidade do galho do hospedeiro. Em algumas espécies de Loranthaceae ocorre uma íntima relação com seu hospedeiro, que o torna dependente da sua distribuição; por outro lado, em outras espécies parece não ocorrer uma relação tão genérica. Porém, para P. robustus já foi verificada especificidade por espécies de Vochysiaceae no bioma Cerrado (Monteiro et al. 1992, Barboza 2000). E isto demonstra claramente que são necessários mais estudos envolvendo esta interação, para entendimento dos fatores que podem ou não estar desencadeando algum tipo de especificidade de hospedeiros por espécies de Loranthaceae. Projetos Finais (UFU) valiosa ajuda no campo e posteriores críticas na redação do trabalho final. E finalmente, à todos os companheiros e companheiras do Curso de Campo 2002, principalmente pelas novas amizades construídas ao longo do curso, parabéns a todos nós pelo sucesso do trabalho conjunto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABULFATIH, H.A. & EMARA, H.A. 1988. Altitudinal distribution of the hemiparasitic Loranthaceae in Southwestern Saudi Arábia. Biotropica 20: 1. BARBOZA, M.A. 2000. Loranthaceae e Viscaceae no bioma Cerrado. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília (UnB), Brasília-DF. 115p. DAVIDAR, P. 1983. Birds and neotropical mistletoes: effects on seedling recruitment. Oecologia 60: 271-273. GARCÍA-FRANCO, J.G. & RICO-GRAY, V. 1996. Distribution and host specificity in the holoparasite Bdallophyton bambusarum (Rafflesiaceae) in a tropical deciduous forest in Veracruz, Mexico. Biotropica 28(4b): 759-762. GODSCHALK, S.K.B. 1983. Mistletoe dispersal by birds in South Africa. p 117-128. In: CALDER, M. & BERNHARDT, P. (eds.). Biology of Mistletoe. Academic Press. Sydney. 348p. MARTÍNEZ DEL RIO, C.; HOURDEQUIN, M.; SILVA, A. & MEDEL, R. 1995. The influence of cactus size and previous infection on bird deposition of mistletoe seeds. Aus. J. Ecol. 20: 571-576. MARTÍNEZ DEL RIO, C.; SILVA, A.; MEDEL, R. & HOURDEQUIN, M. 1996. Seed dispersers as disease vectors: bird transmission of mistletoe seeds to plant hosts. Ecology 77(3): 912-921. MONTEIRO, R.F.; MARTINS, R.P. & YAMAMOTO, K. 1992. Host specificity and seed dispersal of Psittacanthus AGRADECIMENTOS Aos Programas de Pós-Graduação em Ecologia das Universidades de Uberlândia e de Brasília, pelo esforço conjunto em unir experiências diferenciadas com o objetivo de enriquecer nosso parco conhecimento da Ecologia, e principalmente pelo apoio logístico oferecido ao longo do Curso de Campo. À todos os professores que doaram um pouco do seu suor nas caminhadas pela Serra de Caldas Novas, em especial à Fernando Pedroni e Maryland Sanchez que me ajudaram na fecundação deste trabalho. À administração do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas pela oportunidade de conhecer e poder trabalhar numa bela região. À Lucélia Nobre Carvalho pela 209 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 robustus (Loranthaceae) in south-east Brazil. J. Trop. Ecol. 8: 307-314. MURPHY, S.R.; REID, N.; YAN, Z.; VENABLES, W.N. 1993. Differential passage time of mistletoe fruits through the gut of honeyeaters and flowerpeckers: effects on seedling establishment. Oecologia 93: 171-176. OVERTON, J.McC. 1994. Dispersal and infection in mistletoe metapopulations. J. Ecol. 82: 711-723. REID, N. 1989. Dispersal of mistletoe by honeyeaters and flowerpeckers: components of seed dispersal quality. Ecology 70(1): 137-145. RIBEIRO, J.E.L.S.; HOPKINS, M.J.G.; VINCENTINI, A.; SOTHERS, C.A.; COSTA, M.A.S.; BRITO, J.M.; SOUZA, M.A.D.; MARTINS, L.H.; Projetos Finais (UFU) LOHMANN, L.G.; ASSUNÇÃO, P.A.C.L.; PEREIRA, E.C.; SILVA, C.F.; MESQUITA, M.R. & PROCÓPIO, L.C. 1999. Flora da Reserva Ducke. Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. INPA – DFID. SINHA, A. & BAWA, K.S. 2002. Harvesting techniques, hemiparasites and fruit production in two non-timber forest tree species in south India. Forest Ecology and Management 168: 289-300. VENTURELLI, M. 1981. Estudos sobre Struthanthus vulgaris Mart.: Anatomia do fruto e semente e aspectos de germinação, crescimento e desenvolvimento. Rev. Brasil. Bot. 4: 131-147. 210 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) Tabela 1 – Lista das espécies encontradas com hemiparasitas, número de indivíduos de cada espécie e a freqüência de ocorrência de Struthanthus em cada espécie, em um cerrado (sentido restrito), no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. Número de Frequência de ocorrência Espécies indivíduos (%) Aegiphila sellowiana 4 5,55 Casearia sylvestris 3 3,33 Hymenaea stignocarpa 2 2,22 Kielmeyera coriacea 26 42,22 Piptocarpha rotundifolia 1 1,22 Pouteria ramiflora 8 14,44 polyphyllum 1 3,33 Styrax ferrugineus 18 24,44 Indet.1 3 3,33 TOTAL 66 100 Stryphnodendron 211 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Horizontal frequência indivíduos (%) 60 Projetos Finais (UFU) Vertical 50 40 30 20 10 0 0 1 2 3 tipo de casca Figura 1 – Freqüência de ocorrência de Struthanthus sp. em diferentes tipos de casca em espécies de cerrado (sentido restrito), em galhos com inclinação horizontal e vertical, no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. 0 = galho totalmente liso; 1 = pouco suberoso; 2 = suberoso; 3 = totalmente suberoso y = 0,5037x + 0,3814 R2 = 0,4244 6 altura parasita 5 4 3 2 1 0 0 2 4 6 8 10 altura hospedeiro Figura 2 – Regressão linear entre a altura do hospedeiro e a altura de fixação de Struthanthus sp., no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, GO. 212 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) RIQUEZA E ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES DE PEQUENOS MAMÍFEROS EM CERRADO sensu stricto QUEIMADO E NÃOQUEIMADO NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DE CALDAS NOVAS,GO Sérgio de Faria Lopes Jader Marinho-Filho (orientador) INTRODUÇÃO No Brasil, estudos ecológicos das comunidades de pequenos mamíferos vêm sendo realizados principalmente nas últimas duas décadas. Os estudos mais recentes foram feitos nos ecossistemas mais representativos do Brasil, como cerrado, caatinga, floresta Amazônica e mata Atlântica, fornecendo informações sobre ecologia de populações e zoogeografia de pequenos mamíferos não voadores (Talamoni & Dias, 1999). Para áreas de cerrado, alguns estudos podem ser citados, os quais enfocam diferentes abordagens para a comunidade de roedores, como Vieira & Baumgarten (1995), relatando os padrões diários de atividade de pequenos mamíferos, Alho (1979) e Vieira (1997), sobre densidade populacional de roedores, Alho (1980) e Vieira & Marinho-Filho (1998), que descrevem a utilização de habitat por roedores de cerrado, e Bergallo & Magnusson (1999) e Vieira (1999), sobre comunidades de pequenos mamíferos em áreas de cerrado. Como um todo, 194 espécies de mamíferos em 30 famílias e 9 ordens são reconhecidas do bioma cerrado (MarinhoFilho et al. 2002), fazendo deste bioma o terceiro maior em riqueza de espécie do Brasil, depois da Amazônia e do Pantanal (Fonseca et al, 1999). Os maiores grupos são os morcegos e os roedores, representados por 81 e 51 espécies, respectivamente (Marinho-Filho et al. 2002). Em geral, esta fauna é essencialmente composta por pequenos animais: 85% destas espécies pesam abaixo de 5kg, e apenas cinco espécies pesam mais do que 50 kg (Marinho-Filho et al. 2002). A análise comparativa de comunidades de pequenos mamíferos, não voadores, vindas de 11 áreas do cerrado, mostra a grande variação ao longo das áreas para a abundância de 39 espécies de marsupiais e roedores (Marinho-Filho et al, 1994). Uma das características mais marcantes da vegetação do cerrado é a sua exposição a incêndios regulares e, os danos causados pelo fogo na vegetação são conseqüências da permanência prolongada de altas temperaturas durante as queimadas (Wright & Bailey, 1982), podendo deplecionar algumas populações não tolerantes ao fogo. OBJETIVO O presente trabalho teve como objetivo testar a hipótese de que não haveria diferença na composição da fauna de pequenos mamíferos, não voadores, entre duas áreas de cerrado sensu stricto, uma recém queimada e a outra como controle. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O trabalho foi realizado no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), localizado entre os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, Go. As coletas foram realizadas de 29 de setembro a 04 de outubro de 2002. A área queimada 213 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 apresentava solo exposto e a vegetação praticamente nua. Na área não-queimada além do cerrado, havia arbustos e predominância de gramíneas. A área não queimada estava protegida do fogo a pelo menos quatro anos. A outra área, denominada queimada, foi submetida ao fogo a três semanas antes do início do estudo. Projetos Finais (UFU) Ratoeiras fora as armadilhas mais eficientes para o trabalho de coleta, com 3,97% de sucesso de captura (Tabela 3). DISCUSSÃO Apesar do esforço amostral relativamente pequeno (1104 armadilhasnoite), o sucesso de captura foi de 3,62%, semelhante ao obtido em outros estudos, como em Vieira (1997) cujo esforço amostral foi de 5.928 armadilhas-noite e sucesso de captura de 4%, isto pode indicar uma alta abundância de pequenos mamíferos nos cerrados amostrados. Embora os cerrados amostrados nunca tenham sido estudados, a diversidade de espécies encontrada nestes locais (Tabela 1), pode ser comparada com estudos de comunidades de pequenos mamíferos em outras áreas. Vieira & Baumgarten (1995) encontraram oito espécies de pequenos mamíferos em um cerrado de Brasília, Vieira & Marinho-Filho (1998) coletaram sete espécies de pequenos mamíferos no interior e borda de uma floresta de galeria, e Vieira (1999) capturou onze espécies em região de cerrado. A espécie mais abundante na área queimada está representada pelo roedor Calomys sp. Essa espécie costuma se tornar muito abundante após a passagem do fogo em áreas de cerrado (Marinho-Filho, comunicação pessoal). Na área não queimada, Bolomys lasiurus foi a espécie mais abundante, um padrão também verificado em outras áreas de cerrado s.sm (Marinho-Filho et al. 1994). As armadilhas com maior número de capturas foram as do tipo Snap-trap (Tabela 3), porém, apresentam algumas desvantagens, como impossibilidade de recaptura, devido à morte dos animais capturados. Além disso, os animais mortos nas ratoeiras são, freqüentemente atacados por formigas, o que dificulta sua identificação. Não foi encontrada diferença significativa na comparação da abundância total de indivíduos entre as áreas queimada e não queimada (χ2 = 0,9 ; p > 0,05), Levantamento das espécies Os indivíduos foram coletados em cada área (queimado e não-queimado), ao longo de oito transectos divididos em duas localidades distantes de 1km entre si (17o47’07,2’’ 48o40’04’’W e 17o47’34,7’’S 48o 40’24’’ W respectivamente). Os transectos estavam posicionados paralelamente e distantes 10 metros um do outro. Em cada transecto foram estabelecidas 12 estações de captura, com uma armadilha cada, distantes 10 metros entre elas. Em cada área foram colocadas 40 armadilhas tipo Sherman, 10 Young, 3 Tomahawk e 48 ratoeiras, utilizando como isca uma mistura de pasta de amendoim, sardinha e fubá. As armadilhas eram iscadas todas as manhãs e os animais coletados eram trazidos ao laboratório para identificação. Para a comparação da diversidade das comunidades estudadas nos dois ambientes (área queimada e não queimada) foi calculado o Índice de Shannon (H’). RESULTADOS Em seis noites de captura, 7 espécies foram coletadas nas duas áreas (Tabela 1), 23 indivíduos na área queimada e 17 na área não-queimada (Figura 1). Ao todo foram capturados 40 indivíduos e o sucesso de captura total foi de 3,62% para as áreas estudadas. O esforço de captura total foi de 1104 armadilhas-noite (Tabela 2). O roedor Calomys spp. foi a espécie mais abundante neste estudo com 14 indivíduos capturados nas seis noites, sendo que para área queimada Calomys spp também foi a espécie mais abundante (n=12) e Bolomys lasiurus.para área não-queimada (n=5). 214 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) M. N. PAES, 1994. Diversity standards, small mammal numbers and the conservation of the cerrado biodiversity. An. Acad. Brás. Ciênc. 66 (supp):149157. confirmando a hipótese levantada no presente estudo. No entanto, foi encontrada uma maior diversidade na área nãoqueimada (H’= 1,68) em comparação com a área queimada (H’=1,25). Apesar da menor abundância encontrada na área não queimada, esta apresentou duas espécies exclusivas (Tabela 1). MARINHO-FILHO, J., RODRIGUES, F.H.G. & JUAREZ, K.M. 2002. Ecology and natural history of cerrado mammals. Pp. ...... In: Oliveira, P.S. & Marquis, R. (eds). Brazilian Cerrados; Ecology and natural history of a neotropical savanna. Smithsonian Institution Press, Washington. AGRADECIMENTOS Agradeço ao Profº. Dr. Jader Marinho-Filho pela orientação e dedicação. Aos colegas de trabalho: Pedro, Cláudio, Janaína e Joaquim pela coleta de campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS WRIGHT, S. J. & BAILEY, ª W. 1982. Fier Ecology. Jhon Wiley & Sons, Nnew York. ALHO, C. J. R. 1979. Experimental Manipulations of the density of Peromyscus leucopus Populations. Revista Brasileira de Biologia, 39 (1): 205-208. TALAMOMI, S. A. & DIAS, M. M. 1999. Population and comunity ecology of small mammals Brazil. Mammalia 63: 167-181. ALHO, C. J. R. 1980. Homing Ability in the wild Rodent Proechnemys roberti Determinated by radiotelemetria. Revista Brasileira de Biologia, 40 (1): 91-94. VIEIRA, E. M. & BAUMGARTEN, L. C. 1995. Daily activity patterns of small mammals in cerrado área from central Brazil. Journal of Tropical ecology 11: 255-262. BERGALLO, H. G. & MAGNUSSON, W. E. 1999. Effects of climate and food availability on four rodent species in southeastern Brazil. Journal of Mammalogy 80: 472-486. VIEIRA, M. V. 1997. Dynamics of a Rodent Assemblage in a cerrado of Southesast Brazil. Revista Brasileira de Biologia 57: 99-107. VIEIRA, E. M. & MARINHO-FILHO, J. 1998. Pré- and Post-fire habitat utilization by rodents of cerrado from central Brazil. Biotropica 30: 491-496. FONSECA, G.A. B., G. HERMANN, & Y. L. LEITE. 1999. Macrogeography of brasilian mammals. In j. Eisenberg and K. H. Redford, eds., Mammals of the Neotropiccs: The Central Neotropics, Ecuador, Peru, Bolívia, Brazil, pp. 549563. Chicago: University of Chicago Press VIEIRA, E. M. 1999. Small mammal comunities and fire in the brazilian cerrado. Journal of Zoology of London 249: 75-81. MARINHO-FILHO, J., M. L. REIS, P. S. OLIVEIRA, E M. OLIVEIRA, AND 215 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) Tabela 1. Riqueza e abundância em duas áreas de cerrado, PESCAN. Área queimada Espécie Área não queimada Abundância Espécie Abundância Thalpomys lasiotis 2 Trichomys apereoides 2 Bolomys lasiurus 6 Clyomys laticeps 4 Clyomys laticeps 2 Oryzomys subflavus 3 Calomys spp. 12 Cavia apereia 1 Oryzomys subflavus 1 Calomys spp. 2 Bolomys lasiurus 5 TOTAL TOTAL 23 17 Tabela 2. Esforço amostral e sucesso de captura em duas áreas de cerrado, PESCAN. Cerrado Esforço amostral Indivíduos coletados Sucesso de captura Queimado 552 23 4,17 % Não-queimado 552 17 3,08% Total 1104 40 3,62% Tabela 3. Nº de armadilhas e sucesso de captura em duas áreas de cerrado, PESCAN. Armadilhas Sherman Young Tomahawk Ratoeira Esforço amostral 474 117 35 478 Indivíduos coletados 16 4 1 19 3,37% 3,42% 2,86% 3,97% Sucesso de captura 216 UnB - Métodos de Campo em Ecologia 2002 Projetos Finais (UFU) 25 Nº de indivíduos 20 15 Área queim ada Área não queim ada 10 5 0 1 2 3 4 5 6 dias Figura 1. Número acumulado de indivíduos coletados ao longo de seis dias em duas áreas de cerrado no PESCAN, Caldas Novas, GO em setembro de 2002 217