A crise como oportunidade

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entrevista
Em entrevista exclusiva
para a Revista Gestão
Pública PE, a economista e
socióloga Tânia Bacelar de
Araújo analisa a conjuntura
econômica mundial. Ela
explica as causas da crise
que atinge o Brasil e
mostra preocupação com
o componente político que
agrava a situação no País.
Doutora em Economia
pela Universidade de Paris
I Panthéon-Sorbonne,
Tânia Bacelar possui vasta
experiência nas áreas de
planejamento, políticas
públicas e desenvolvimento
regional. Foi diretora
da Superintendência
do Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene) e da
Fundação Joaquim Nabuco
(Fundaj), secretária de
Planejamento e da Fazenda
do Estado de Pernambuco
e secretária de Políticas de
Desenvolvimento Regional
do Ministério da Integração
Nacional. Atualmente,
é professora da pósgraduação em Geografia
da Universidade Federal
de Pernambuco e sócia
da Ceplan - Consultoria
Econômica e Planejamento.
Na opinião de Tânia Bacelar,
o País precisa retomar o
crescimento estimulando
o investimento. Para a
economista, “já vivemos
momentos piores”, e o Brasil
tem muito potencial para
superar a crise.
Tânia Bacelar
Economista e socióloga
A crise como
oportunidade
Mariana Moreira
Atualmente, fala-se em crise
econômica, crise política, crise
ética. Qual sua opinião sobre o
assunto?
Há uma crise econômica, que
não é só brasileira, é mundial.
Na fase mais recente, essa crise atingiu os países emergentes, dentre os quais o Brasil. No
nosso caso, também é uma crise política. A correlação de forças políticas no País se alterou
no processo eleitoral recente
e o Governo Federal se fragilizou. A disputa política em curso
prejudica, pois a economia e a
política dialogam. A crise política gera uma maior dificuldade,
porque o Brasil precisa retomar
o crescimento estimulando o
investimento. Quando se trata
de estimular o investimento, o
ambiente político tem um peso
relativo maior. A gente construiu
um Poder Legislativo muito ruim
no último período. Todos os analistas mostram que a composição, tanto da Câmara quanto do
Senado, piorou. Hoje o Congresso Nacional é mais um lugar de
lobistas, que se colocam mais
como representantes de interesses que estão na sociedade
do que como representantes do
interesse geral da população
brasileira. Os presidentes da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal estão sendo acusados de corrupção. O Congresso Nacional vive uma situação
muito delicada e não consegue
dar apoio ao Executivo. Esse é
outro elemento da crise política: o Executivo não tem uma
base de sustentação firme. Isso
tem a ver com a fragilidade do
Executivo, mas tem a ver também com a fragmentação dos
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A crise é uma
oportunidade de
refletir sobre o
que se faz e tentar
fazer melhor”
partidos políticos. A situação na
área política é muito difícil. Portanto, quando faltam objetivos
comuns, a crise política termina
interferindo na economia.
Quais são as causas da crise
econômica do Brasil?
A crise brasileira tem causas
externas e internas. A externa
principal é a crise mundial, que
estourou em 2008 e 2009 e bateu
mais forte nas economias desenvolvidas. A trajetória da crise mundial tem dois momentos.
Um primeiro, onde o impacto é
mais forte no coração do mundo capitalista, que é os Estados
Unidos e a União Europeia. Nesse primeiro momento, os países emergentes, como o Brasil,
não são tão afetados. Até 2011,
o Brasil estava se saindo relativamente bem. Já no segundo
momento, a crise se desdobra
para os países emergentes.
Hoje não apenas o Brasil, mas
vários países da América Latina
estão com dificuldades. A Rússia, que é uma economia importante entre os emergentes, está
com dificuldade. Só quem está
escapando é a Índia. A China
merece uma análise específica.
Além da crise mundial, tem a
desaceleração da economia da
China. Exatamente nesse período, o plano estratégico da
China resolve frear a economia
chinesa. A China está baixando a
taxa de crescimento, planejando isso. Ela vinha de uma taxa
de crescimento de 10% e agora passa para um crescimento
de 7%. A economia mundial é
muito importante para a China,
porque ela virou uma grande exportadora de bens industriais.
A China se tornou a produtora
industrial do mundo. Quando a
economia mundial entra em crise, a China tenta, em seu plano
estratégico, combinar melhor a
presença dela no mundo com o
dinamismo da própria economia
chinesa. Então, está querendo
revalorizar o consumo interno
chinês, dentro de sua estratégia de crescimento. Não é uma
conversão simples, porque ela
está preparada para exportar.
Agora, a China quer exportar,
mas quer também usar um potencial que ela tem muito forte:
1,3 bilhão de pessoas para consumir e com a renda crescendo.
Fazer um crescimento também
voltado para o mercado interno
é hoje uma estratégia importante da China. Mas, um país que
é a segunda economia do mundo não faz uma mudança dessa
sem turbulências.
Por que a dinâmica da economia chinesa é tão importante
para o Brasil?
O Brasil atrelou-se muito à China. O Brasil hoje importa muito
da China e exporta muito para a
China. O Brasil é um grande produtor de commodities e a China
é uma grande demandadora
desses tipos de produtos. Com
a crise mundial e essa reestruturação da dinâmica chinesa, as
commodities perderam preço. O
petróleo caiu de 150 para 50, o
ferro despencou, alguns dólares
produtos alimentares perderam
preço. O Brasil vem com crise
na indústria desde os anos 1990
e foi se transformando gradualmente num País mais exportador de commodities do que de
produtos industriais. O mercado de commodities mundiais
mudou de rumo, vinha em um
pique de aumento de preços.
A demanda da China ajudava a
puxar isso. Quando a demanda
chinesa diminui, o preço das
commodities cai. Então, a gente vive hoje um ambiente onde
o preço das commodities está lá
embaixo. Isso está afetando diretamente o Brasil.
Qual sua análise sobre os fatores internos da crise brasileira?
O Brasil cresceu na década passada, como previa os dois primeiros planos do Governo Lula.
O Governo aumentou a renda
das famílias com políticas sociais e aumento do salário míni-
mo, combinou isso com expansão do crédito. A política social
dialogou com a política econômica e a oferta de crédito dobrou. O crédito era 25% do PIB
e pulou para 50%, em poucos
anos. Embora a taxa de juros
seja muito alta, isso estimulou
o consumo no Brasil, porque o
brasileiro não faz conta de taxa
de juros. O brasileiro faz conta
do tamanho da prestação. Então, o segredo foi manter a taxa
de juros alta, dobrar a oferta de
crédito e escalonar o crédito. A
população tinha uma demanda
insatisfeita que não se realizava
porque as pessoas não tinham
condições. Quando se melhorou
a renda e foi dada oportunidade
de dividir em prestações, 60 ou
70 vezes, isso acionou a demanda de bens modernos na sociedade brasileira. Foi possível
comprar TV de plasma, máquina
de lavar, moto, geladeira, micro
-ondas. Os bens que a classe
média tinha e as classes D e E
não tinham. Principalmente, a
classe C, bastante grande no
Brasil. Houve dinamismo. Isso é
a fase boa de onde a gente veio.
Só que isso teria limites. Um era
a taxa de juros, porque mesmo
que você divida e não pense nisso, daqui a pouco aquilo bateu
na sua capacidade de endividamento, porque a renda é baixa.
O primeiro determinante desse
limite é o próprio nível de renda
médio da sociedade brasileira
que é baixo. A grande maioria
tem um nível de renda baixo,
mesmo melhorando com políticas sociais, mesmo o salário
mínimo tendo passado de 200
para quase 800 reais. Outro fator é o próprio custo do dinheiro.
Mesmo você escalonando, você
compra uma máquina de lavar
pelo dobro do preço. Os preços
ficam muito caros no Brasil porque a taxa de juros é muito cara.
É preciso combinar crescimento do consumo com aumento do
investimento. E isso a gente não
está conseguindo fazer. Por que
a gente está em crise? Porque a
gente chegou a um certo patamar de capacidade de crescer
pelo consumo e não conseguiu
aumentar o investimento. É
complicado porque é mais fácil
aumentar a renda e acionar o
consumo. Mexer no investimento é mais difícil.
A crise é
estimulante
porque lhe
obriga a ficar
mais proativo”
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Governo brasileiro é endividado. Desde os anos 1980, que o
Governo brasileiro faliu. Até os
anos 1980, quando se fechava
as contas públicas, o Brasil era
superavitário. Depois da década de 1980, o Brasil passou a
ser deficitário. Como o Governo é muito endividado, gasta
muito com os serviços da dívida
dele. Analisando o orçamento
da União, em 2014, o Governo
gastou pagando serviços da dívida 45% do que ele recebeu.
Gastou com investimento 3,7%
do que ele recebeu. O Governo
tem três esferas, a esfera que
mais arrecada é a União, mas
a mais endividada é a União.
Então, quando ela procura recurso para investir, depois de
gastar com pessoal, previdência, transferência para estados
e municípios e a dívida, só sobra
3,7% para investir. Enquanto não
se mexer na taxa de juros para
fazer com que a despesa com o
serviço da dívida diminua, para
poder abrir espaço para gastar
mais com investimento, o Go-
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Por que, quais são os principais entraves?
Primeiro, a taxa de juros muito
alta. A taxa de juros de 14% é
um custo do dinheiro muito alto.
Quem vai investir pensa quanto
vai ganhar dobrando a capacidade de produção ou aplicando nos
títulos do Governo. Olhando a
taxa de juros, se fizer as contas,
vai aplicar. Enquanto o País tiver
uma taxa de juros muito alta, o
preço do dinheiro vai estar muito caro, o que desestimula o investimento na produção. Isso é
bom para aplicação no sistema
financeiro, mas é péssimo para
quem quer operar na esfera
produtiva. Só que emprego se
gera na esfera produtiva, renda
se gera na esfera produtiva. Eu
posso ganhar bilhões da noite para o dia, basta estar o dólar na hora certa, ou aplicando
num título do Governo, mas isso
não cria dinâmica na economia.
Ao contrário, trava. Então, essa
é a primeira razão. Segunda:
quem vai investir? Quem investe
é o Governo e o setor privado. O
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verno vai ficar travado na sua
capacidade de investimento. E,
quando vem a crise, onde o Governo corta? A primeira é em investimento, porque é a mais fácil. Cortar pessoal é mais difícil,
cortar custeio é mais difícil, porque você mexe no que se está
fazendo. O investimento é o que
se vai fazer. Aí é mais fácil cortar
na promessa do que na carne.
Como fica o setor privado nesse contexto?
O investimento privado tem dinheiro para investir, tanto que
aplica na esfera financeira. Mas,
para o setor privado investir é
preciso ter rumo, estabilidade,
precisa que os atores econômicos olhem para frente e veja
para onde se está indo. A presidenta Dilma lançou vários pacotes de investimento em infraestrutura e o investimento não
deslancha. Tem onde investir.
O Brasil passou duas décadas
sem investir em infraestrutura
praticamente. Então, qualquer
pessoa que olha a economia do
Enquanto o País
tiver uma taxa de
juros muito alta, o
preço do dinheiro
vai estar muito caro,
o que desestimula
o investimento na
produção”
Brasil hoje concorda que há um
potencial enorme. As estradas
estão muito ruins, então há novas estradas para fazer, os aeroportos podem melhorar. Tem
um pacote aqui de investimento
que dá para tirar a economia da
crise, investindo. O Governo não
pode investir, reconheceu e decidiu entregar isso para o setor
privado. Quem fez a infraestrutura do Brasil foi o setor público, nos anos 1970, 1980, tudo
era público, porque o Governo
era superavitário. Quando ele
entrou no negativo, deixou de fazer. Como não pode fazer a curto
prazo, quer parceria com o setor
privado. Faz o pacote e não deslancha. E aí a crise política tem
influência. O empresariado não
sente o ambiente estável para tomar uma decisão de médio e longo prazos. Quem está investindo
no Brasil é o capital externo, porque ficou barato. Os chineses estão vindo pra cá, mas quem está
aqui está com o pé no freio.
Tem outro componente do investimento que foi a Operação Lava
Jato, porque bateu nas maiores
empresas da construção civil.
Para puxar pelo investimento,
é importante a presença dessas
empresas. Elas estão fazendo
falta na conjuntura. Estão sub
judice, com os presidentes presos, tendo que se explicar ao
País. A leitura externa do risco
delas piorou. Estão enxugando
e vão sair dessa crise da Lava
Jato menores do que eram. Veja
que há componentes internos,
a Lava Jato é um componente
interno, ninguém criou isso lá
fora. A gente mesmo que criou.
Há desdobramento não só no
campo criminal, há também no
campo da economia, que pegou
um segmento onde o Brasil é
muito forte. Nossas empresas
são multinacionais, trabalham
na China, na África, na América
Latina. Para a média das empresas brasileiras, elas estão
dentre as maiores. O que mostra
que não é uma crise pequena, é
uma crise complexa, de várias
facetas. Embora eu ache que a
gente já viveu crises piores.
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O Brasil já
viveu períodos
bem piores. No
final do século
XX, as taxas de
desemprego eram
muito maiores,
mais elevadas”
Como avalia o impacto da crise
na sociedade brasileira?
A sensação de que a gente está
em crise hoje é muito forte. Tem
uma medida que é mais psicossocial. Existe uma crise real,
mas existe uma crise ampliada
pelo ambiente psicossocial que
está associado à conjugação
entre crise econômica e crise
política. Isso também tem a ver
com o fato de a gente estar vindo de um momento muito bom.
Quando você está acostumado
com um ambiente de crise, que
foi o caso do Brasil na década de
1980 e 1990, a crise faz parte do
seu dia a dia. A gente esqueceu
um pouco esse momento, pois,
na primeira década do século
XXI, o Brasil viveu um momento
muito favorável. Então, quando
você vem de um momento bom,
a sensação da crise, a percepção da crise é mais dolorosa.
Isso também está pesando na
sociedade para ela fazer uma
leitura mais pessimista da crise.
O fato de ter vindo de um momento bom, faz com que a gente
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tenha dificuldade de viver esse
momento de crise. O Brasil já
viveu períodos bem piores. No
final do século XX, as taxas de
desemprego eram muito maiores, mais elevadas. O período
da hiperinflação junto com recessão no Governo Collor foi
muito mais difícil. O Brasil já foi
muito mais vulnerável externamente. Hoje está ameaçado de
perder o grau de investimento,
mas o País já perdeu o grau de
investimento outras vezes, já
decretou moratória da dívida
externa. Houve momento nas
relações econômicas do Brasil
com o exterior muito mais difícil do que esse que a gente está
vivendo. Uma parte da sociedade não viveu esse momento. As
pessoas mais jovens não têm
ideia do que é a hiperinflação,
do que seja enfrentar uma inflação de 84% ao mês, que se
viveu no começo do Governo
Collor. A inflação está indo para
10% ao mês e todo mundo está
se apavorando. O lado psicossocial está dando esse impacto.
Destaco três componentes: a
crise real, a crise política e esse
componente psicossocial, que é
a leitura da crise que a sociedade faz. No longo prazo, o Brasil
melhorou. Já foi muito pior do
que é hoje. A minha leitura é de
que estou deixando para meus
netos um País melhor do que eu
recebi dos meus avós. Em vários aspectos, a gente melhorou
muito. Para as mulheres, por
exemplo. É inegável o avanço da
presença feminina na sociedade. Tem avanços importantes. A
gente escolheu entrar na esfera
pública pelo conhecimento. As
estatísticas sobre a participação
das mulheres na educação são
fantásticas. A geração da minha
avó era praticamente analfabeta. Hoje, nas universidades, a
maioria são mulheres, os cursos de doutorado têm muitas
mulheres. As mulheres resolveram que iriam participar se qualificando. Foram à luta e estão
conseguindo. Observando por
vários ângulos, o Brasil é uma
democracia frágil, mas é melhor
O fato de ter vindo
de um momento bom,
faz com que a gente
tenha dificuldade de
viver esse momento
de crise. O Brasil
já viveu períodos
bem piores”
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do que a ditadura. Com todos os
nossos problemas e defeitos, é
melhor do que a ditadura.
As projeções para 2016 não
são boas. Nesse cenário, o que
a União, estados e municípios
devem fazer?
É preciso melhorar o ambiente
político. Aproximar o empresariado, estimulá-lo a investir para
ver se começa a tirar a economia
da crise pelo investimento. A dinâmica do investimento é uma
boa dinâmica, gera emprego,
puxa a atividade industrial. Está
se dizendo que 2015 está perdido. Vamos trabalhar para sair
e levantar a cabeça em 2016. É
possível sair. Quando a gente
olha para o País, vê que o Brasil
tem onde investir, tem potencial.
Com relação ao Nordeste e Pernambuco, uma parte importante
do consumo insatisfeito estava
aqui. As cidades médias do Nordeste cresceram muito. Em paralelo, a gente ampliou a oferta
de universidade no Interior. Cidades como Caruaru, Serra Talhada, em Pernambuco, estão
pulsando. O Nordeste e, particularmente, Pernambuco foram
beneficiados. Pernambuco se
destaca, pois conseguiu aliar o
crescimento pelo consumo com
o investimento. Pernambuco
fez melhor do que o Brasil. O
Brasil teve dificuldade de fazer
e Pernambuco fez. O período
2007-2016 abarca um bloco de
investimentos de R$ 105 bilhões
para o Estado de Pernambuco.
Isso representa dois terços da
economia, quase 70%. Em 2012,
nosso estado tinha um PIB de
R$ 140 bilhões. Muito importante para Pernambuco o fato de
que quase 70% do investimento
ter sido em indústria. Trouxemos pra cá coisas que a gente
não tinha: fabricação de navio,
petroquímica, indústria automotiva, indústria pesada de fármacos. A gente refez nosso tecido
industrial. Aquilo que era nosso
problema, nosso calcanhar de
Aquiles, lá no final do século
XX, virou a nossa virtude nesse período recente. A presença
de Suape foi muito importante.
Houve grandes empreendimentos imobiliários e de infraestrutura. A construção civil aqui vem
de um período muito favorável.
Como a renda melhorou, a economia deslanchou. Assim, Pernambuco tem duas consequências. A primeira é que, no curto
prazo, está sofrendo mais com a
crise. O comércio em Pernambuco está pior do que a média
do Brasil. O varejo em Pernambuco tem uma desaceleração
nesse semestre acima da média
nacional. Ele cai 5,2 em Pernambuco e a média nacional é
-2,7. No comércio, que é o representante principal do consumo, o baque é mais forte em
Pernambuco. Tem a explicação
do final da construção da Refinaria. A gente sabia que 2014 e
2015 seriam anos difíceis para
Pernambuco. A refinaria foi uma
obra muito grande, trouxe 42
mil pessoas para seu canteiro.
Mas, opera com 1.500 pessoas.
Então, todo mundo já sabia que
em 2014/2015 Pernambuco iria
viver esse momento de desmobilização da obra da Refinaria,
com impacto muito pesado no
emprego e, portanto, na renda.
Só que coincidiu isso com a Lava
Jato e com a desaceleração da
As pessoas mais
jovens não têm
ideia do que é a
hiperinflação, do
que seja enfrentar
uma inflação de
84% ao mês”
economia nacional. Esses dois
fatores não estavam no script.
O primeiro estava. O baque em
Pernambuco foi grande. A receita do Governo do Estado sofreu
muito. A maioria dos municípios
está com grande dificuldade. No
curto prazo, Pernambuco está
sofrendo mais. Por outro lado,
ao ter vindo de um momento
bom, ao ter feito muito investimento, por ter trazido segmentos novos, hoje tem melhores
condições para sair da crise do
que antes. A gente não botou fora
isso que fez. Isso que fez agregou
à economia de Pernambuco e a
gente tem que olhar para frente.
Hoje Pernambuco está mais bem
preparado para o momento póscrise do que já esteve.
Em que sentido a crise pode ser
encarada como oportunidade?
A crise nos coloca para refletir.
Tem esse subproduto. Quando
estamos numa fase de euforia, numa fase de crescimento,
quando tudo vai bem, a tendên-
cia é repetir o que se faz. Quando
vem a dificuldade, paramos para
refletir. Muitas empresas hoje
estão enxugando custos. Alguns
necessários. Não estavam percebendo porque não estavam
precisando cortar. Agora a empresa para e refaz sua estrutura
de custos. Algumas empresas
vão aproveitar esse momento
para inovar. Vão perceber que
o que faziam e o mercado onde
atuavam mudou. No que parou
para se olhar, olhar para o seu
mercado, vai descobrir que pode
fazer melhor, pode fazer diferente, pode aproveitar uma coisa
nova. Parte desse enxugamento
que o poder público está fazendo,
dá pra viver sem ele. Estão cortando cargos comissionados? Dá
para trabalhar com menos cargo
comissionado. É nesse sentido
que a gente diz que a crise é uma
oportunidade. É uma oportunidade de refletir sobre o que se faz e
tentar fazer melhor. A crise é estimulante porque lhe obriga a ficar
mais proativo.
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